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Info 636 STJ

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Informativo 636-STJ (23/11/2018) – Márcio André Lopes Cavalcante | 1 
 
Informativo comentado: 
Informativo 636-STJ 
Márcio André Lopes Cavalcante 
 
 
ÍNDICE 
 
DIREITO CIVIL 
DANOS MORAIS 
 É possível a indenização por danos morais em novo processo judicial em razão de descumprimento de ordem judicial 
em processo anterior, mesmo que tenha sido fixada multa cominatória. 
 
DIREITO DO CONSUMIDOR 
CONCEITO DE CONSUMIDOR 
 Contrato de conta-corrente mantida entre corretora de Bitcoin e instituição financeira: não se aplica o CDC. 
 
DIREITO EMPRESARIAL 
CONTRATO BANCÁRIO 
 Banco que, após notificar a corretora de Bitcoin, decide encerrar contrato de conta-corrente com a empresa não 
pratica ato que configure abuso de direito. 
 
DIREITO ECONÔMICO 
DIREITOS ANTIDUMPING 
 A retenção de mercadoria importada até o pagamento dos direitos antidumping não viola o enunciado da Súmula 
323 do STF 
 
ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE 
INFRAÇÕES ADMINISTRATIVAS 
 A hipossuficiência financeira ou a vulnerabilidade famíliar não é suficiente para afastar a multa pecuniária prevista 
no art. 249 do ECA. 
 
DIREITO PROCESSUAL CIVIL 
HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS 
 Os honorários advocatícios contratuais não se incluem nas despesas processuais do art. 82, § 2º do CPC/2015. 
 
CUMPRIMENTO DE SENTENÇA 
 A multa de 10% prevista no art. 523, § 1º, do CPC/2015 NÃO entra no cálculo dos honorários advocatícios. 
 
RECURSOS 
 Não se conta em dobro o prazo para recorrer, quando só um dos litisconsortes haja sucumbido. 
 
AGRAVO DE INSTRUMENTO 
 O rol do art. 1.015 do CPC/2015 é de taxatividade mitigada. 
 
AÇÃO DE CONSIGNAÇÃO EM PAGAMENTO 
 Se ficar comprovada a insuficiência do depósito, a ação deve ser julgada improcedente. 
 Legitimidade do banco de ajuizar ação de consignação em pagamento para pagar dívida que foi gerada contra 
cliente em virtude de falha bancária. 
 Informativo 
comentado 
 
 
Informativo 636-STJ (23/11/2018) – Márcio André Lopes Cavalcante | 2 
 
ARROLAMENTO SUMÁRIO 
 Para que ocorra a homologação da partilha no arrolamento sumário não se exige prova do cumprimento das 
obrigações tributárias principais ou acessórias relativas ao ITCMD. 
 
AÇÃO DE EXIGIR CONTAS 
 É cabível ação de prestação de contas proposta contra empresa administradora de consórcio caso a empresa que 
promoveu as vendas não tenha concordado com os números apresentados. 
 
DIREITO PENAL 
LEI DE DROGAS 
 A condenação pelo art. 28 da Lei 11.343/2006 (porte de droga para uso próprio) NÃO configura reincidência. 
 
DIREITO PROCESSUAL PENAL 
COMPETÊNCIA 
 Compete à Justiça Federal conceder medida protetiva em favor de mulher ameaçada por ex-namorado que mora 
nos EUA e faz as ameaças por meio do Facebook. 
 
DIREITO TRIBUTÁRIO 
IPI 
 Cessionário de crédito-prêmio de IPI não pode suceder o cedente em execução contra a União. 
 
 
DIREITO CIVIL 
 
DANOS MORAIS 
É possível a indenização por danos morais em novo processo judicial em razão de descumprimento 
de ordem judicial em processo anterior, mesmo que tenha sido fixada multa cominatória 
 
Importante!!! 
É cabível o pedido de indenização por danos morais em razão de descumprimento de ordem 
judicial em demanda pretérita envolvendo as mesmas partes, na qual foi fixada multa 
cominatória. 
A multa cominatória tem cabimento nas hipóteses de descumprimento de ordens judiciais, 
sendo fixada com o objetivo de compelir a parte ao cumprimento daquela obrigação. 
Por outro lado, a indenização visa a reparar o abalo moral sofrido em decorrência da 
verdadeira agressão ou atentado contra a dignidade da pessoa humana. Encontra justificativa 
no princípio da efetividade da tutela jurisdicional e na necessidade de se assegurar o pronto 
cumprimento das decisões judiciais cominatórias. 
Considerando, portanto, que os institutos em questão têm natureza jurídica e finalidades 
distintas, é possível a cumulação. 
STJ. 3ª Turma. REsp 1.689.074-RS, Rel. Min. Moura Ribeiro, julgado em 16/10/2018 (Info 636). 
 
Imagine a seguinte situação hipotética: 
Em 2016, João celebrou contrato de mútuo com o Banco “X”. 
Em março de 2017, o mutuário deixou de pagar as prestações e o banco o inscreveu no cadastro de 
inadimplentes (SERASA). 
Em maio de 2017, João ajuizou ação revisional de contrato contra o banco alegando que havia cláusulas 
abusivas no pacto. 
 Informativo 
comentado 
 
 
Informativo 636-STJ (23/11/2018) – Márcio André Lopes Cavalcante | 3 
Em junho de 2017, o juiz concedeu a liminar determinando a retirada do nome de João do cadastro de 
inadimplentes, sob pena de multa diária de R$ 250,00. 
Ocorre que, apesar de devidamente intimado, o banco não cumpriu a ordem judicial e não retirou o nome 
do autor do SERASA. 
 
Propositura de nova ação 
Diante disso, João ajuizou uma nova ação contra o banco, desta vez pedindo a indenização por danos 
morais em virtude do descumprimento da ordem judicial e não retirada de seu nome do cadastro de 
inadimplentes. 
O banco contestou a demanda afirmando que, havendo fixação de multa por descumprimento de ordem 
judicial em demanda pretérita envolvendo as partes, não há como prosperar a pretensão indenizatória 
em razão de descumprimento de tal provimento. Isso porque a multa fixada teria caráter compensatório 
e punitivo. 
 
O que decidiu o STJ? João terá direito à indenização? 
SIM. 
É cabível o pedido de indenização por danos morais em razão de descumprimento de ordem judicial em 
demanda pretérita envolvendo as mesmas partes, na qual foi fixada multa cominatória. 
STJ. 3ª Turma. REsp 1.689.074-RS, Rel. Min. Moura Ribeiro, julgado em 16/10/2018 (Info 636). 
 
Multa coercitiva 
A multa fixada no primeiro processo tinha por objetivo compelir a parte ao cumprimento da obrigação 
imposta. Encontra justificativa no princípio da efetividade da tutela jurisdicional e na necessidade de se 
assegurar o pronto cumprimento das decisões judiciais cominatórias. 
Não por outra razão, é comum encontrar, em doutrina, paralelos entre essa multa e a contempt of court 
do direito norte-americano. 
Confira a sua previsão no CPC: 
Art. 537. A multa independe de requerimento da parte e poderá ser aplicada na fase de 
conhecimento, em tutela provisória ou na sentença, ou na fase de execução, desde que seja 
suficiente e compatível com a obrigação e que se determine prazo razoável para cumprimento do 
preceito. 
 
Indenização extrapatrimonial 
A indenização extrapatrimonial, a seu turno, tem por objetivo reparar o abalo moral sofrido em 
decorrência da verdadeira agressão ou atentado contra a dignidade da pessoa humana. 
É a reparação da infinita tristeza injustamente imposta pela propositada omissão. 
 
Natureza jurídica diferente 
Os institutos têm natureza jurídica diversa. 
A multa tem finalidade exclusivamente coercitiva. 
A indenização por danos morais tem caráter reparatório de cunho eminentemente compensatório. 
Logo, são perfeitamente cumuláveis. 
Nesse sentido, veja o que diz o CPC sobre o tema: 
Art. 500. A indenização por perdas e danos dar-se-á sem prejuízo da multa fixada periodicamente 
para compelir o réu ao cumprimento específico da obrigação. 
 
 
 
 Informativo 
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Informativo 636-STJ (23/11/2018) – Márcio André Lopes Cavalcante | 4 
Dano moral in re ipsa 
A manutenção da negativação do nome do autor após a determinação judicial, por si só, traduz-se em 
prática atentatória aos direitos da sua personalidade, capaz de ensejar danos morais. 
Vale ressaltar, inclusive, que, em caso de inscrição indevida no cadastro de inadimplentes, o dano moral 
é presumido, salvoconstatada a existência de outras anotações preexistentes àquela que deu origem à 
ação reparatória. Nesse sentido: 
Súmula 385-STJ: Da anotação irregular em cadastro de proteção ao crédito, não cabe indenização por 
dano moral, quando preexistente legítima inscrição, ressalvado o direito ao cancelamento. 
 
Nos casos de inclusão indevida do nome do consumidor no cadastro de inadimplente o dano moral é 
presumido. 
STJ. 3ª Turma. AgRg no AgRg no AREsp 727.829/SC, Rel. Min. Marco Aurélio bellizze, julgado em 3/12/2015. 
 
 
 
DIREITO DO CONSUMIDOR 
 
CONCEITO DE CONSUMIDOR 
Contrato de conta-corrente mantida entre corretora de Bitcoin 
e instituição financeira: não se aplica o CDC 
 
Importante!!! 
Contrato de conta-corrente mantida entre corretora de Bitcoin e instituição financeira: não se 
aplica o CDC 
A empresa corretora de Bitcoin que celebra contrato de conta-corrente com o banco para o 
exercício de suas atividades não pode ser considerada consumidora. Não se trata de uma 
relação de consumo. 
A empresa desenvolve a atividade econômica de intermediação de compra e venda de 
Bitcoins. Para realizar essa atividade econômica, utiliza o serviço de conta-bancária oferecido 
pela instituição financeira. 
Desse modo, a utilização desse serviço bancário (abertura de conta-corrente) tem o propósito 
de incrementar sua atividade produtiva de intermediação, não se caracterizando, portanto, 
como relação jurídica de consumo, mas sim de insumo. 
Em outras palavras, o serviço bancário de conta-corrente é utilizado como implemento de sua 
atividade empresarial, não se destinando, pois, ao seu consumo final. 
Logo, não se aplicam as normas protetivas do Código de Defesa do Consumidor. 
STJ. 3ª Turma. REsp 1.696.214-SP, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 09/10/2018 (Info 636). 
 
Veja comentários em Direito Empresarial. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 Informativo 
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Informativo 636-STJ (23/11/2018) – Márcio André Lopes Cavalcante | 5 
DIREITO EMPRESARIAL 
 
CONTRATOS BANCÁRIOS 
Banco que, após notificar a corretora de Bitcoin, decide encerrar contrato de conta-corrente 
com a empresa não pratica ato que configure abuso de direito 
 
Importante!!! 
Contrato de conta-corrente mantida entre corretora de Bitcoin e instituição financeira: não se 
aplica o CDC 
A empresa corretora de Bitcoin que celebra contrato de conta-corrente com o banco para o 
exercício de suas atividades não pode ser considerada consumidora. Não se trata de uma 
relação de consumo. 
A empresa desenvolve a atividade econômica de intermediação de compra e venda de 
Bitcoins. Para realizar essa atividade econômica, utiliza o serviço de conta-bancária oferecido 
pela instituição financeira. 
Desse modo, a utilização desse serviço bancário (abertura de conta-corrente) tem o propósito 
de incrementar sua atividade produtiva de intermediação, não se caracterizando, portanto, 
como relação jurídica de consumo, mas sim de insumo. 
Em outras palavras, o serviço bancário de conta-corrente é utilizado como implemento de sua 
atividade empresarial, não se destinando, pois, ao seu consumo final. 
Logo, não se aplicam as normas protetivas do Código de Defesa do Consumidor. 
 
Banco que, após notificar a corretora de Bitcoin, decide encerrar contrato de conta-corrente com 
a empresa não pratica ato que configure abuso de direito 
O encerramento de conta-corrente usada na comercialização de criptomoedas, observada a 
prévia e regular notificação, não configura prática comercial abusiva ou exercício abusivo do 
direito. 
STJ. 3ª Turma. REsp 1.696.214-SP, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 09/10/2018 (Info 636). 
 
Criptomoeda 
Em palavras muito simples (sem tanto rigor técnico, para facilitar o entendimento), criptomoedas 
(cryptocurrencies) são moedas “digitais” (também chamadas de “moedas virtuais” ou “moedas 
criptografárias”). É como se fosse um “dinheiro” que não existe fisicamente (só existe virtualmente), mas 
que, apesar disso, pode ser utilizado para comprar mercadorias ou remunerar serviços. 
Em uma frase: é um dinheiro virtual. 
Existem atualmente várias espécies de criptomoedas no mundo. Alguns exemplos: Bitcoin, Ether, Cardano, 
Litecoin, Stellar etc. 
Curiosidade: cripto é uma palavra originária do grego Kryptos e significa algo que é oculto, escondido. Daí 
vem a palavra criptografia, ou seja, que consiste na aplicação de técnicas para tornar a escrita codificada. 
Ex: o Whatsapp, ao transmitir uma mensagem de um usuário para outro, utiliza técnicas de criptografia, 
ou seja, durante a transmissão pela internet, a mensagem vai de forma codificada, de modo que, mesmo 
se alguém conseguir interceptá-la, irá ler apenas códigos (e não a mensagem propriamente). 
As criptomoedas também se utilizam de técnicas de criptografia. 
 
Bitcoin 
Bitcoin é considerada a primeira criptomoeda criada no mundo, sendo a mais famosa delas. 
Foi criada em 2008 por uma pessoa que utilizou o pseudônimo de Satoshi Nakamoto e até hoje não se 
sabe a sua real identidade. 
 Informativo 
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Informativo 636-STJ (23/11/2018) – Márcio André Lopes Cavalcante | 6 
Este é o símbolo do bitcoin: ₿ 
Sua abreviatura é: BTC ou XBT. 
Veja a definição dada por André Luiz Santa Cruz Ramos: 
“O bitcoin é uma criptomoeda que utiliza uma tecnologia ponto a ponto (peer-to-peer) para criar 
um sistema de pagamentos on-line que não depende de intermediários e não se submete a 
nenhuma autoridade regulatória centralizadora. O código do bitcoin é aberto, seu design é 
público, não há proprietários ou controladores centrais e qualquer pessoa pode participar do seu 
sistema de gerenciamento coletivo. Enfim, o bitcoin é uma inovação revolucionária porque é o 
primeiro sistema de pagamentos totalmente descentralizado.” (Ramos, André Luiz Santa Cruz. 
Direito Empresarial. 8ª ed., São Paulo: Método, 2018, p. 529) 
 
Vale ressaltar que os Bitcoins (e demais moedas virtuais) não são autorizados nem regulamentados pelo 
Banco Central. Não fazem parte do sistema bancário oficial. De igual forma, as empresas que negociam ou 
guardam moedas virtuais não são autorizadas nem reguladas pelo BACEN. 
 
Juridicamente, podemos dizer que Bitcoin é uma moeda eletrônica? 
NÃO. A legislação utiliza a nomenclatura “moeda eletrônica” para outra situação. 
Segundo a Lei nº 12.865/2013, “moeda eletrônica” são os “recursos armazenados em dispositivo ou 
sistema eletrônico que permitem ao usuário final efetuar transação de pagamento” (art. 6º, VI). 
Assim, “moeda eletrônica”, para a legislação brasileira, é o dinheiro, em Reais, mantido em meio 
eletrônico que permita ao usuário realizar pagamentos. 
Desse modo, as “moedas virtuais” (como é o caso do Bitcoin) não se confundem com a “moeda eletrônica” 
prevista na legislação. 
 
Quem controla e registra essas transações em bitcoin? Ex: João transfere 10 BTC para Pedro; onde essa 
operação fica registrada? Onde o saldo de bitcoins das pessoas fica registrado? 
As criptomoedas em geral e, especificamente o bitcoin, são consideradas moedas descentralizadas. Isso 
porque adotam um controle descentralizado baseado em uma tecnologia chamada de blockchain ou 
“protocolo da confiança”. 
Em uma definição muito rudimentar e simplificada, o blockchain é como se fosse um arquivo virtual (um 
banco de dados ou livro-registro virtual) onde são registradas todas as transações envolvendo os bitcoins. 
Existem cópias deste banco de dados em milhares de computadores espalhados pelo mundo, sendo isso 
distribuído por meio de uma rede virtual ponto-a-ponto (peer-to-peer). Assim, todos possuem uma cópia 
igual de todo o histórico de transações. Com isso, garante-se que as informações ali contidas não sejam 
perdidas nem adulteradas.Características principais 
A partir do que foi exposto, podemos apontar três importantes características das moedas virtuais: 
1) incorporeidade; 
2) desnecessidade de um terceiro intermediário para realização de transações e 
3) ausência de uma autoridade central emissora e controladora. 
 
1) Incorporeidade 
Trata-se de uma moeda “virtual” (incorpórea), ou seja, não existe lastro físico. 
 
2) Desnecessidade de intermediário 
Se a pessoa vai comprar um produto pela internet pagando com moeda tradicional (com “Real”), ela 
precisará de uma instituição financeira intermediária, ou seja, um banco ou operadora de cartão de crédito 
que irá intermediar essa transação entre o comprador e o vendedor. Funciona assim: o comprador 
transfere o dinheiro para a instituição financeira e esta repassa ao vendedor. Essa intermediação fica 
 Informativo 
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Informativo 636-STJ (23/11/2018) – Márcio André Lopes Cavalcante | 7 
registrada e o intermediário recebe por isso. Como essas operações ocorrem em frações de segundos, nós 
praticamente não percebemos. 
Com o Bitcoin, não existe essa intermediação. O comprador transfere diretamente o dinheiro virtual para 
o comprador. É como se o comprador tivesse encontrado fisicamente o vendedor e tivesse entregado a 
ele o dinheiro, porém feito virtualmente. Isso é chamado de “mercado P2P” (ou seja, entre pessoas, sem 
intermediários). 
 
3) Ausência de autoridade central 
O Bitcoin, e as demais criptomoedas, são chamadas de moedas descentralizadas, porque não são 
controladas por um Banco Central ou por algum órgão governamental, como as moedas tradicionais. 
O controle e o registro são feitos, em tese, por toda a comunidade, por intermédio da tecnologia de blockchain. 
 
Como comprar e vender moedas virtuais (ex: Bitcoins)? 
É possível comprar Bitcoins diretamente de alguém que possua (em um marketplace), no entanto, a forma 
mais comum é por meio de corretoras de Bitcoins (exchanges). 
Assim, existem corretoras, ou seja, empresas que fazem a atividade de compra e venda de criptomoedas. 
A pessoa interessada entra no site, faz uma conta gratuita e informa quantos Bitcoins deseja comprar. 
Depois disso, faz a transferência bancária do correspondente valor em reais. Ela, então, irá ter uma carteira 
digital de Bitcoins, que estará armazenada no blockchain e poderá utilizar livremente esse dinheiro virtual. 
Desse modo, a corretora é como se fosse uma “casa de câmbio”, onde você vai trocar seu dinheiro por 
uma moeda estrangeira. No caso, o Bitcoin (uma moeda universal). 
Atualmente (janeiro de 2019), 1 Bitcoin está valendo, aproximadamente, R$ 14.600,00. Vale ressaltar, no 
entanto, que é possível comprar menos que 1 Bitcoin. 
Obviamente, assim como funciona nas casas de câmbio, o valor do Bitcoin na corretora é, em geral, mais 
caro do que no livre comércio. 
Algumas pessoas ficaram ricas comprando Bitcoins. Isso porque em 2011, por exemplo, 1 Bitcoin valia R$ 
15,00. Se a pessoa acreditou e comprou a moeda naquela época guardando até hoje, terá realizado o lucro 
de uma grande valorização. 
 
Bitcoins e criminalidade 
As criptomoedas foram uma invenção espetacular e representarão, sem dúvidas, o futuro das transações 
monetárias no mundo. 
Ocorre que tudo na vida pode ser utilizado para o bem ou para o mal. 
Nos pagamentos feitos com Bitcoins, é possível que o comprador permaneça anônimo. Com isso, em tese, 
a moeda pode ser utilizada para pagamento de crimes e também para lavagem de dinheiro, tendo em 
vista seu potencial de irrastreabilidade. 
Desse modo, em tese, seria possível, por exemplo, comprar armamentos, drogas e outros produtos ilícitos 
por meio de operações feitas na deepweb e com pagamento em Bitcoins. 
Também seria possível pagar propinas a agentes públicos por meio de Bitcoins. 
Por essas razões, algumas pessoas, de forma injusta, associam as criptomoedas à criminalidade. No 
entanto, conforme já explicado, o Bitcoin e as demais moedas não têm, em si, nada de ilegal. A utilização 
irregular desses instrumentos é que pode vir a ser criminosa. 
Alguns criminosos utilizam os Bitcoins para praticar delitos assim como utilizam dinheiro real, 
computadores, celulares, carros etc. 
 
Feita esta breve e rudimentar explicação, imagine a seguinte situação enfrentada pelo STJ (com algumas 
adaptações): 
Mercado Bitcoin Serviços Digitais Ltda. é uma das principais empresas que oferece o serviço de compra e 
venda de Bitcoins. Podemos dizer que ela é uma corretora de criptomoedas. Isso porque ela é responsável 
por intermediar a comercialização de Bitcoin. 
 Informativo 
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Informativo 636-STJ (23/11/2018) – Márcio André Lopes Cavalcante | 8 
Conforme já explicado acima, a pessoa interessada em Bitcoins faz um depósito na conta bancária da 
“Mercado Bitcoin” e esta vende o Bitcoin para o usuário. Ex: Felipe deseja comprar 10 Bitcoins. Para tanto, 
deposita R$ 146.000,00 na conta da “Mercado Bitcoin”. Em compensação, esta empresa irá depositar 10 
Bitcoins na conta virtual de Felipe. 
Desse modo, a empresa “Mercado Bitcoin” precisa, obrigatoriamente, de um conta bancária tradicional 
para realizar sua atividade econômica, tendo em vista que recebe dinheiro em moeda tradicional em troca 
de Bitcoins. 
Durante meses, a empresa utilizou para isso uma conta bancária no Itaú. 
Ocorre que, determinado dia, o Banco Itaú enviou uma notificação extrajudicial para a “Mercado Bitcoin” 
informando que sua conta bancária seria encerrada dentro de 30 dias em razão de “desinteresse 
comercial”, ou seja, a instituição financeira comunicou que não mais tinha interesse comercial em ter a 
empresa como cliente. 
 
Ação de obrigação de fazer 
Diante disso, a “Mercado Bitcoins” ingressou contra o Banco Itaú S.A. com ação de obrigação de fazer 
pedindo para que o banco mantenha a conta-corrente encerrada. 
A autora argumentou que o encerramento da conta configurou prática abusiva e ato ilícito por parte do 
banco, violando o art. 39, IX, do Código de Defesa do Consumidor, além do configurar abuso de direito 
(art. 187 do Código Civil): 
CDC 
Art. 39. É vedado ao fornecedor de produtos ou serviços, dentre outras práticas abusivas: 
(...) 
IX - recusar a venda de bens ou a prestação de serviços, diretamente a quem se disponha a adquiri-
los mediante pronto pagamento, ressalvados os casos de intermediação regulados em leis 
especiais; 
 
Código Civil 
Art. 187. Também comete ato ilícito o titular de um direito que, ao exercê-lo, excede 
manifestamente os limites impostos pelo seu fim econômico ou social, pela boa-fé ou pelos bons 
costumes. 
 
Primeira pergunta: pode ser aplicado, no caso, o Código de Defesa do Consumidor para esta relação jurídica? 
NÃO. 
A empresa corretora de Bitcoin que celebra contrato de conta-corrente com o banco para o exercício de 
suas atividades não pode ser considerada consumidora. Não se trata de uma relação de consumo. 
A empresa desenvolve a atividade econômica de intermediação de compra e venda de Bitcoins. Para realizar 
essa atividade econômica, utiliza o serviço de conta-bancária oferecido pela instituição financeira. 
Desse modo, a utilização desse serviço bancário (abertura de conta-corrente) tem o propósito de 
incrementar sua atividade produtiva de intermediação, não se caracterizando, portanto, como relação 
jurídica de consumo, mas sim de insumo. 
Em outras palavras, o serviço bancário de conta-corrente é utilizado como implemento de sua atividade 
empresarial, não se destinando, pois, ao seu consumo final. 
Logo, não se aplicam as normas protetivas do Código de Defesa do Consumidor. 
STJ. 3ª Turma. REsp 1.696.214-SP, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 09/10/2018 (Info 636). 
 
Existem outros precedentes em situaçõessemelhantes: 
(...) 3. Consumidor é toda pessoa física ou jurídica que adquire ou utiliza, como destinatário final, produto 
ou serviço oriundo de um fornecedor. Por sua vez, destinatário final, segundo a teoria subjetiva ou 
finalista, adotada pela Segunda Seção desta Corte Superior, é aquele que ultima a atividade econômica, 
 Informativo 
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Informativo 636-STJ (23/11/2018) – Márcio André Lopes Cavalcante | 9 
ou seja, que retira de circulação do mercado o bem ou o serviço para consumi-lo, suprindo uma 
necessidade ou satisfação própria, não havendo, portanto, a reutilização ou o reingresso dele no processo 
produtivo. 
Logo, a relação de consumo (consumidor final) não pode ser confundida com relação de insumo 
(consumidor intermediário). 
Inaplicabilidade das regras protetivas do Código de Defesa do Consumidor. (...) 
STJ. 4ª Turma. REsp 1599042/SP, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 14/03/2017. 
 
Ok. Não se aplica o CDC. Vamos, então, analisar o tema sob o prisma do Código Civil. 
 
Vários bancos têm se negado a fornecer serviço de conta-corrente para as corretoras de Bitcoins. São 
acusadas de fazer isso para evitar o crescimento das criptomoedas, o que poderia produzir impacto no 
faturamento das instituições financeiras. Os bancos, ao negarem esse serviço, praticam ato ilícito? A 
conduta do Banco Itaú, que encerrou a conta-bancária da “Mercado Bitcoin”, foi considerada, pelo STJ, 
como prática comercial abusiva? 
NÃO. 
O encerramento de conta-corrente usada na comercialização de criptomoedas, observada a prévia e 
regular notificação, não configura prática comercial abusiva ou exercício abusivo do direito. 
STJ. 3ª Turma. REsp 1.696.214-SP, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 09/10/2018 (Info 636). 
 
Direito subjetivo 
O encerramento do contrato de conta-corrente é corolário (uma consequência) da autonomia privada. 
Trata-se de um direito subjetivo exercitável por qualquer das partes contratantes, desde que observada a 
prévia e regular notificação. 
O Conselho Monetário Nacional, conforme prevê a Lei nº 4.595/64, possui a competência para 
regulamentar o funcionamento dos serviços bancários. 
O art. 12 da Resolução BACEN/CMN 2.025/1993 permite que o banco ou o cliente, livremente, encerrem o 
contrato de conta-corrente, observada apenas a necessidade de, previamente, fazer a comunicação do outro. 
Vale ressaltar que, mesmo em se tratando de relação de consumo, o STJ possui precedentes dizendo que 
o banco pode encerrar a conta-bancária do cliente sem que isso configure prática abusiva, não se 
aplicando a regra do art. 39, IX, do CDC aos bancos: 
Os contratos bancários envolvem análise de riscos, entre outras peculiaridades, de modo que não há como 
se impor aos bancos a obrigação de contratar prevista no inciso IX do art. 39 do CDC. 
Conforme a Resolução BACEN/CMN nº 2.025/1993, com a redação dada pela Resolução BACEN/CMN nº 
2.747/2000, podem as partes contratantes rescindir unilateralmente os contratos de conta-corrente e de 
outros serviços bancários. 
STJ. 4ª Turma. REsp 1538831/DF, Rel. Min. Raul Araújo, julgado em 04/08/2015. 
 
A recusa é legítima sob o aspecto institucional 
Desse modo, é legítima, sob o aspecto institucional, a recusa da instituição financeira em manter o 
contrato de conta-corrente, utilizado como insumo pela corretora de Bitcoins, no desenvolvimento da 
atividade empresarial. 
 
A recusa também é legítima sob o aspecto mercadológico 
De igual modo, sob o aspecto mercadológico, também se afigura legítima a recusa em manter a 
contratação. 
Como a atividade empresarial da corretora de Bitcoins concorre com as atividades da instituição 
financeira, não se pode dizer que a recusa do banco em fornecer o serviço a ela seja abusiva. Não há, em 
princípio, abuso de direito porque se trata de proteção dos interesses comerciais da instituição. 
 Informativo 
comentado 
 
 
Informativo 636-STJ (23/11/2018) – Márcio André Lopes Cavalcante | 10 
 
Infração à ordem econômica 
Vale ressaltar que, durante os debates, surgiu a discussão sobre a possiblidade de a conduta do banco se 
enquadrar em infração à ordem econômica, nos termos da Lei nº 12.529/2011. 
Ocorre que essa Lei não foi prequestionada, de forma que o STJ não poderia fazer a análise do caso com 
base nela sem que tivesse tido seu enfrentamento pelas instâncias ordinárias. 
 
 
 
DIREITO ECONÔMICO 
 
DIREITOS ANTIDUMPING 
A retenção de mercadoria importada até o pagamento dos direitos antidumping 
não viola o enunciado da Súmula 323 do STF 
 
Atenção! Juiz Federal, em especial TRF4 
A retenção de mercadoria importada até o pagamento dos direitos antidumping não viola o 
enunciado da Súmula 323 do STF. 
Súmula 323-STF: É inadmissível a apreensão de mercadorias como meio coercitivo para 
pagamento de tributos. 
A exigência do pagamento dos direitos antidumping como condição para a liberação das 
mercadorias importadas não significa apreensão, mas tão somente a sua retenção enquanto 
se aguarda o desembaraço aduaneiro. 
A retenção das mercadorias trazidas para o Brasil e a exigência de recolhimento dos tributos 
e multa é um procedimento que integra a operação de importação. 
STJ. 1ª Turma. REsp 1.728.921-SC, Rel. Min. Regina Helena Costa, julgado em 16/10/2018 (Info 636). 
 
Dumping 
“O dumping consiste na conduta dos agentes econômicos que vendem os seus produtos fora do país 
abaixo do custo de produção e também por preço inferior aos cobrados no país de origem.” (MASSO, 
Fabiano Del. Direito Econômico esquematizado. São Paulo: Método, 2ª ed., p. 283). 
Nas palavras da Min. Regina Helena Costa: 
“O termo dumping origina-se do verbo to dump, que significa jogar, desfazer, esvaziar-se. Consiste 
na prática de medidas com o fim de possibilitar que mercadorias ou produtos possam ser 
oferecidos em um mercado estrangeiro a preço inferior ao vigente no mercado interno.” 
 
Trata-se, portanto, de uma prática comercial predatória, por meio da qual uma empresa exporta seus 
produtos por preços inferiores ao custo com o objetivo de fazer com que as indústrias do país importador 
não consigam competir e, assim, quebrem. Durante um tempo, a empresa exportadora fica suportando o 
prejuízo de vender suas mercadorias abaixo do custo. No entanto, depois de não ter mais concorrentes 
no mercado (já que eles faliram por não acompanharem os preços), a empresa que praticou o dumping 
aumenta absurdamente os preços de seus produtos, considerando que o público consumidor não terá 
mais opções de outras empresas. 
É uma forma, portanto, de eliminar a concorrência. 
 
Direitos antidumping 
O dumping é condenado pelos organismos de comércio internacional, como a Organização Mundial do 
Comércio (OMC), que possui medidas de combate a essa prática. 
 Informativo 
comentado 
 
 
Informativo 636-STJ (23/11/2018) – Márcio André Lopes Cavalcante | 11 
O artigo VI do GATT 47 (Acordo Geral sobre Tarifas Aduaneiras e Comércio) prevê que os países deverão 
disciplinar medidas para se proteger do dumping. São os chamados direitos antidumping e de 
compensação. 
No Brasil, foi editada a Lei nº 9.019/95, que dispõe sobre a aplicação em nosso país dos direitos previstos 
no Acordo Antidumping e no Acordo de Subsídios e Direitos Compensatórios. Esta Lei prevê que o Governo 
brasileiro, ao perceber que determinada mercadoria está entrando em nosso país com o objetivo de fazer 
dumping, deverá exigir, para que haja o desembaraço aduaneiro, o pagamento de um valor que 
corresponda ao percentual da margem de dumping que está sendo praticado ou dos incentivos que oGoverno estrangeiro está dando para aquele exportador. 
Assim, a Secretaria de Comércio Exterior (SECEX) investiga possíveis dumpings e, se constatar que está 
ocorrendo, instaura um processo administrativo e calcula o quanto de “desconto” artificial a empresa 
estrangeira está fornecendo. Veja o texto da Lei: 
Art. 5º Compete à SECEX, mediante processo administrativo, apurar a margem de dumping ou o 
montante de subsídio, a existência de dano e a relação causal entre esses. 
 
Depois disso, a Câmara de Comércio Exterior (CAMEX) se reúne e pode decidir que o Brasil irá cobrar essa 
diferença para que a mercadoria entre em nosso país. Com isso, a CAMEX garante que o preço praticado 
seja justo, evitando que a indústria nacional quebre e que, em médio ou longo prazo, o próprio 
consumidor brasileiro seja prejudicado. Confira: 
Art. 6º Compete à CAMEX fixar os direitos provisórios ou definitivos, bem como decidir sobre a 
suspensão da exigibilidade dos direitos provisórios, a que se refere o art. 3º desta Lei. 
Parágrafo único. O ato de imposição de direitos antidumping ou Compensatórios, provisórios ou 
definitivos, deverá indicar o prazo de vigência, o produto atingido, o valor da obrigação, o país de 
origem ou de exportação, as razões pelas quais a decisão foi tomada, e, quando couber, o nome 
dos exportadores. 
 
Esse valor que é exigido como direito antidumping é autorizado pelo art. 1º da Lei nº 9.019/95 e é fixado 
pela CAMEX por meio de Resoluções. 
Veja o que diz o art. 1º da Lei nº 9.019/95 em suas partes mais importantes: 
Art. 1º Os direitos antidumping e os direitos compensatórios, provisórios ou definitivos, (...) serão 
aplicados mediante a cobrança de importância, em moeda corrente do País, que corresponderá a 
percentual da margem de dumping ou do montante de subsídios, apurados em processo 
administrativo, (...) suficientes para sanar dano ou ameaça de dano à indústria doméstica. 
 
Segundo o parágrafo único do art. 1º, “os direitos antidumping e os direitos compensatórios serão 
cobrados independentemente de quaisquer obrigações de natureza tributária relativas à importação dos 
produtos afetados.” Assim, o importador pagará o imposto de importação, o imposto sobre produtos 
industrializados (se for o caso) e mais os direitos antidumping. 
Em outras palavras, os direitos antidumping consistem em um valor a mais (fora os tributos) que terá que 
ser pago pelo importador em virtude de estar trazendo para o país uma mercadoria que está sendo 
vendida pela empresa no exterior abaixo do preço de custo. 
 
Se os direitos antidumping não forem pagos, o importador ficará impedido de realizar o desembaraço 
aduaneiro e retirar as mercadorias? 
SIM, isso mesmo. É o que preconiza o art. 7º da Lei nº 9.019/95: 
Art. 7º O cumprimento das obrigações resultantes da aplicação dos direitos antidumping e dos 
direitos compensatórios, sejam definitivos ou provisórios, será condição para a introdução no 
comércio do País de produtos objeto de dumping ou subsídio. 
 Informativo 
comentado 
 
 
Informativo 636-STJ (23/11/2018) – Márcio André Lopes Cavalcante | 12 
 
Feitos os devidos esclarecimentos, imagine a seguinte situação hipotética: 
A empresa “XXX” importou produtos químicos da China. 
Ocorre que o Governo brasileiro aplicou direito antidumping para esses produtos importados da China. 
Isso significa que a empresa, além dos tributos decorrentes da importação, terá que pagar os direitos 
antidumping. 
Como as mercadorias já estavam no Brasil, elas ficaram retidas pela Receita Federal, que não concluiu o 
desembaraço aduaneiro. 
Diante disso, a empresa impetrou mandado de segurança pedindo a liberação das mercadorias sob o 
argumento de que esta retenção representaria “sanção política”, o que é vedado pela Súmula 323 do STF: 
Súmula 323-STF: É inadmissível a apreensão de mercadorias como meio coercitivo para pagamento de 
tributos. 
 
Vamos relembrar o que são sanções políticas (cobrança do tributo por vias oblíquas)? 
A Fazenda Pública deverá cobrar os tributos em débito mediante os meios judiciais (execução fiscal) ou 
extrajudiciais (lançamento tributário, protesto de CDA) legalmente previstos. O Fisco possui, portanto, 
instrumentos legais para satisfazer seus créditos. 
Justamente por isso, a Administração Pública não pode proceder à cobrança do tributo por meios 
indiretos, impedindo, cerceando ou dificultando a atividade econômica desenvolvida pelo contribuinte 
devedor. Quando isso ocorre, a jurisprudência afirma que o Poder Público aplicou “sanções políticas”, ou 
seja, formas “enviesadas de constranger o contribuinte, por vias oblíquas, ao recolhimento do crédito 
tributário” (STF ADI 173). Exs.: apreensão de mercadorias, não liberação de documentos, interdição de 
estabelecimentos. 
A cobrança do tributo por vias oblíquas (sanções políticas) é rechaçada por quatro súmulas do STF e STJ: 
Súmula 70-STF: É inadmissível a interdição de estabelecimento como meio coercitivo para cobrança de 
tributo. 
Súmula 323-STF: É inadmissível a apreensão de mercadorias como meio coercitivo para pagamento de 
tributos. 
Súmula 547-STF: Não é lícito à autoridade proibir que o contribuinte em débito adquira estampilhas, 
despache mercadorias nas alfândegas e exerça suas atividades profissionais. 
Súmula 127-STJ: É ilegal condicionar a renovação da licença de veículo ao pagamento de multa, da qual o 
infrator não foi notificado. 
 
Desse modo, a orientação jurisprudencial do STF e do STJ é a de que o Estado não pode adotar sanções 
políticas, que se caracterizam pela utilização de meios de coerção indireta que impeçam ou dificultem o 
exercício da atividade econômica, para constranger o contribuinte ao pagamento de tributos em atraso, 
estando o ente público vinculado ao procedimento de execução fiscal para a cobrança de seus créditos, 
no qual é assegurado ao devedor o devido processo legal. 
 
Voltando ao caso concreto? O pedido da empresa poderá ser aceito? Houve violação à Súmula 323 do STF? 
NÃO. 
A retenção de mercadoria importada até o pagamento dos direitos antidumping não viola o enunciado 
da Súmula 323 do STF. 
STJ. 1ª Turma. REsp 1.728.921-SC, Rel. Min. Regina Helena Costa, julgado em 16/10/2018 (Info 636). 
 
O pagamento dos direitos antidumping representa condição para a importação dos produtos. 
Logo, a não liberação da mercadoria em caso de não pagamento dos direitos de antidumping não 
representa sanção política e não viola a súmula 323 do STF. Isso porque, neste caso, não há apreensão das 
mercadorias, mas tão somente a sua retenção enquanto se aguarda o desembaraço aduaneiro. 
 Informativo 
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Informativo 636-STJ (23/11/2018) – Márcio André Lopes Cavalcante | 13 
A retenção das mercadorias trazidas para o Brasil e a exigência de recolhimento dos tributos e multa é um 
procedimento que integra a operação de importação. 
Assim, a quitação dos direitos antidumping é requisito para a perfectibilização do processo de importação, 
sem o qual não pode ser autorizado o despacho aduaneiro. 
Não houve, portanto, no presente caso, apreensão de mercadorias por parte da autoridade alfandegária. 
O que ocorreu foi a recusa de se fazer o desembaraço aduaneiro dos produtos advindos da República 
Popular da China pela falta de pagamento dos direitos antidumping. 
Não há como liberar pura e simplesmente as mercadorias sem qualquer garantia. 
 
TRF4 
Fique muito atenta(o) se você estuda para o concurso de Juiz Federal do TRF4. Isso porque esse tema é 
constantemente apreciado por aquele Tribunal. 
 
 
 
ECA 
 
INFRAÇÕES ADMINISTRATIVAS 
A hipossuficiência financeira ou a vulnerabilidade famíliar não é 
suficiente para afastar a multa pecuniária prevista no art. 249 do ECA 
 
O art.249 do ECA prevê, como infração administrativa: 
Art. 249. Descumprir, dolosa ou culposamente, os deveres inerentes ao poder familiar ou 
decorrente de tutela ou guarda, bem assim determinação da autoridade judiciária ou 
Conselho Tutelar: 
Pena - multa de três a vinte salários de referência, aplicando-se o dobro em caso de reincidência. 
Até se admite que, por meio de decisão judicial fundamentada, o magistrado deixe de aplicar 
a sanção pecuniária do art. 249 e, em seu lugar, faça incidir outras medidas mais adequadas e 
eficazes para a situação específica. 
No entanto, a hipossuficiência financeira ou a vulnerabilidade familiar não é suficiente, por si 
só, para afastar a multa prevista no art. 249 do ECA. 
STJ. 3ª Turma. REsp 1.658.508-RJ, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 23/10/2018 (Info 636). 
 
Apuração das infrações administrativas 
O ECA prevê, em seus arts. 245 a 258-C, infrações administrativas. 
Interessante explicar que, apesar de serem infrações administrativas, elas são apuradas por meio de 
procedimento conduzido pelo Juiz da Vara da Infância e Juventude, na forma do art. 194 do ECA. 
 
Início do procedimento 
O procedimento para apuração da infração administrativa pode ser início de três modos: 
1) por representação do Ministério Público; 
2) por representação do Conselho Tutelar; 
3) por auto de infração elaborado por servidor ou voluntário credenciado e assinado por duas 
testemunhas, se possível. 
 
Intimação 
A intimação do requerido será feita: 
I - pelo autuante (servidor ou voluntário credenciado), no próprio auto, quando o auto de infração for 
lavrado na presença do requerido; 
 Informativo 
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Informativo 636-STJ (23/11/2018) – Márcio André Lopes Cavalcante | 14 
II - por oficial de justiça ou funcionário legalmente habilitado, que entregará cópia do auto ou da 
representação ao requerido, ou a seu representante legal, lavrando certidão; 
III - por via postal, com aviso de recebimento, se não for encontrado o requerido ou seu representante 
legal; 
IV - por edital, com prazo de 30 dias, se incerto ou não sabido o paradeiro do requerido ou de seu 
representante legal. 
 
Defesa 
O requerido terá prazo de 10 dias para apresentação de defesa, contado da data da intimação. 
 
Se não for caso de audiência 
Se o requerido não apresentar defesa ou mesmo que ele apresente, o juiz poderá entender que não é 
necessário designar audiência para julgar o caso. 
Assim, se o juiz entender que não é preciso realizar audiência, ele dará vista dos autos ao MP para que 
este se manifeste no prazo de 5 dias. 
Em seguida, o magistrado, também no prazo de 5 dias, profere sentença. 
 
Audiência de instrução 
O juiz pode decidir que é necessária a realização de audiência de instrução. 
Na audiência, será colhida a prova oral (testemunhas, psicólogas, assistentes sociais, requerido etc.). 
Após as oitivas, o MP se manifesta por 20 minutos. Em seguida, o procurador do requerido (ou seja, seu 
advogado ou defensor público) também se manifesta por 20 minutos. 
Esse prazo pode ser prorrogado por mais 10 minutos, a critério da autoridade judiciária. 
Em seguida, o juiz profere a sentença. 
 
Imagine agora a seguinte situação hipotética: 
O Conselho Tutelar encontrou uma criança de 5 anos em estado de absoluta desnutrição e abanono. 
A menina estava sozinha em casa porque a mãe havia saído. 
Essa situação foi relatada ao Ministério Público. 
O Promotor de Justiça ingressou, então, na vara da infância e juventude, com “representação civil por 
infração administrativa” afirmando que a mãe da criança praticou a conduta descrita no art. 249 do ECA e 
pedindo a sua condenação: 
Art. 249. Descumprir, dolosa ou culposamente, os deveres inerentes ao poder familiar ou 
decorrente de tutela ou guarda, bem assim determinação da autoridade judiciária ou Conselho 
Tutelar: 
Pena - multa de três a vinte salários de referência, aplicando-se o dobro em caso de reincidência. 
 
A Defensoria Pública, que fez a assistência jurídica da mãe, alegou que não se deve aplicar a multa 
pecuniária, tendo em vista que ficou comprovado que esta família vive em situação de extrema 
hipossuficiência financeira e vulnerabilidade familiar. Assim, de nada adiantaria a aplicação da sanção. 
 
A tese da defesa foi acolhida pelo STJ? 
NÃO. 
A hipossuficiência financeira ou a vulnerabilidade familiar não é suficiente para afastar a multa 
pecuniária prevista no art. 249 do ECA. 
STJ. 3ª Turma. REsp 1.658.508-RJ, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 23/10/2018 (Info 636). 
 
A sanção pecuniária prevista no art. 249 do ECA, embora topologicamente distante do art. 129, deve ser 
interpretada em conjunto com aquele rol. 
 Informativo 
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Informativo 636-STJ (23/11/2018) – Márcio André Lopes Cavalcante | 15 
A infração do art. 249, além de um cunho essencialmente sancionatório, possui também caráter 
preventivo, coercitivo e disciplinador. Em última análise, o objetivo é que tais condutas não mais se 
repitam, a bem dos filhos. 
Diante disso, em prol do melhor interesse da criança ou do adolescente, a jurisprudência até admite que, 
por meio de decisão judicial fundamentada, o magistrado deixe de aplicar a sanção pecuniária do art. 249 
e, em seu lugar, faça incidir outras medidas mais adequadas e eficazes para a situação específica. Nesse 
sentido: 
(...) 2. Necessidade, na hipótese ora sob julgamento, do afastamento da multa imposta no art. 249 do ECA, 
porquanto no caso, conforme reconhecido pelo Tribunal de origem, devido as condições econômicas dos 
pais, a cominação pecuniária apenas agravaria ainda mais a situação material dos interessados, sendo 
suficiente as demais medidas concomitantemente aplicadas em primeiro grau, e assim, entende-se ser 
mais eficaz, para o fim que se espera, a aplicação de medida de advertência e de encaminhamento dos 
pais para tratamento psicológico e programas de orientação, com uma efetiva supervisão, voltada a 
conscientização de suas responsabilidades inerentes ao poder familiar, sendo inócua a aplicação de 
qualquer outra penalidade, mormente a financeira, que prejudicará indiretamente a família como um 
todo. Destacadamente na hipótese de célula que, segundo os autos, detém parcos recursos materiais. 
2.1. A sanção, no caso concreto, não surtirá o efeito pretendido, tornando-se apenas uma penalidade 
gravosa, uma vez improvável a família lograr êxito em realizar o pagamento da multa convencionada sem 
comprometer o próprio sustento e, se cumprida, provavelmente acarretará o agravamento do seu estado 
de pobreza. (...) 
STJ. 4ª Turma. REsp 1584840/RJ, Rel. Min. Marco Buzzi, julgado em 23/08/2016. 
 
Isso não significa, contudo, que a multa deverá ser sempre excluída em caso de hipossuficiência financeira 
ou vulnerabilidade familiar. 
Em outras palavras, a situação econômica não deve ser o parâmetro determinante para eventual exclusão 
da multa, devendo-se analisar principalmente se a medida aplicada servirá efetivamente para prevenir e 
inibir a repetição das condutas censuradas. 
Daí porque, embora se reconheça que a regra do art. 249 do ECA não possui incidência e aplicabilidade 
absoluta, podendo ser sopesada com as demais medidas previstas no art. 129 do mesmo Estatuto, é 
preciso concluir que a simples exclusão da multa, pelo simples fato de haver pobreza, não é a providência 
mais adequada. 
Assim, no caso concreto, o STJ determinou a incidência da multa. No entanto, fixou-a em apenas 1 salário-
mínimo, ou seja, abaixo do limite previsto no art. 249 do ECA. 
 
 
 
DIREITO PROCESSUAL CIVIL 
 
HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS 
Os honorários advocatícios contratuais não se incluem nas 
despesas processuais do art. 82, § 2º, do CPC/2015 
 
O § 2º do art. 82 do CPC/2015prevê que: “a sentença condenará o vencido a pagar ao vencedor 
as despesas que antecipou.” 
O sucumbente deve arcar também com os honorários contratuais que foram pagos pela parte 
vencedora? Não. O vencido deverá pagar apenas os honorários sucumbenciais. 
Os honorários advocatícios contratuais não se incluem nas despesas processuais do art. 82, § 
2º, do CPC/2015 (art. 20 do CPC/1973). 
STJ. 3ª Turma. REsp 1.571.818-MG, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 09/10/2018 (Info 636). 
 Informativo 
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Informativo 636-STJ (23/11/2018) – Márcio André Lopes Cavalcante | 16 
 
Imagine a seguinte situação hipotética: 
João ingressou com execução de título extrajudicial contra Pedro. 
Depois de citado, Pedro procurou um escritório de advocacia e contratou um advogado (Dr. Bruno) para 
fazer a sua defesa, combinando de pagar a ele honorários contratuais no valor de R$ 5 mil. 
Bruno preparou embargos à execução e deu entrada na defesa. 
O juiz acolheu os embargos à execução e declarou a dívida extinta, condenando o exequente ao 
pagamento das custas processuais e honorários advocatícios, fixados estes em 20% sobre o valor da causa 
estipulado na execução. 
Pedro recorreu contra a sentença pedindo que o valor dos honorários contratuais também fosse incluído 
na condenação. Em outras palavras, pediu que o sucumbente também fosse condenado a pagar os 
honorários contratuais. 
Segundo Pedro argumentou, o valor de R$ 5 mil referentes aos honorários advocatícios contratuais faz 
parte do conceito de “despesas processuais” de que trata os arts. 82, § 2º, e 85 do CPC/2015 (art. 20 do 
CPC/1973): 
Art. 82 (...) 
§ 2º A sentença condenará o vencido a pagar ao vencedor as despesas que antecipou. 
 
Art. 85. A sentença condenará o vencido a pagar honorários ao advogado do vencedor. 
 
A tese de Pedro é aceita pela jurisprudência? O sucumbente deve arcar também com os honorários 
contratuais que foram pagos pela parte vencedora? 
NÃO. Vamos entender com calma. 
 
Espécies de honorários advocatícios 
Os honorários advocatícios dividem-se em: 
a) Contratuais (convencionados): ajustados entre a parte e o advogado por meio de um contrato. Ex: a 
União ajuizou ação de desapropriação contra Ricardo. Este procura, então, um advogado e faz com ele um 
contrato para que o causídico prepare sua defesa e acompanhe a demanda. Ricardo combina de pagar R$ 
20 mil reais para Dr. Rui (seu advogado). 
b) Sucumbenciais: são arbitrados pelo juiz e pagos, em regra, pela parte vencida na demanda ao advogado 
da parte vencedora, na forma do art. 85 do CPC/2015 (art. 20 do CPC/1973). Ex: Ricardo foi a parte vencedora 
na ação de desapropriação e, a União, a parte vencida. A sentença que condenou a União a pagar a 
indenização a Ricardo também deve determinar que a União pague os honorários ao advogado de Ricardo. 
 
Quando o dispositivo legal fala que o vencido deverá pagar as despesas que o vencedor antecipou, de 
que despesas ele está tratando? 
São as chamadas “despesas processuais”. Trata-se de expressão genérica, que abrange três espécies: 
a) custas: taxa paga como forma de contraprestação pelo serviço jurisdicional que é prestado pelo Estado-
juiz; 
b) emolumentos: taxa paga pelo usuário do serviço como contraprestação pelos atos praticados pela 
serventia (“cartório”) não estatizada (as serventias não estatizadas não são remuneradas pelos cofres 
públicos, mas sim pelas partes); 
c) despesas em sentido estrito: valor pago para remunerar profissionais que são convocados pela Justiça 
para auxiliar nas atividades inerentes à prestação jurisdicional. Exs: honorários do perito, despesas com o 
transporte do Oficial de justiça prestado por terceiros (ex: empresa de ônibus, táxi etc.). 
 
Fundamento 
O fundamento para a condenação do vencido ao pagamento dessas despesas está em evitar que o 
vencedor seja compelido a arcar com os gastos de um processo para cuja formação não deu causa. 
 Informativo 
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Informativo 636-STJ (23/11/2018) – Márcio André Lopes Cavalcante | 17 
Em poucas palavras: aquele que vence não deve sofrer prejuízo por causa do processo. 
Tal fundamento está umbilicalmente ligado ao princípio da sucumbência. 
 
Gastos endoprocessuais 
A jurisprudência interpreta que tais despesas se limitam aos gastos endoprocessuais, ou seja, aqueles 
necessários à formação, desenvolvimento e extinção do processo. 
Os gastos extraprocessuais – aqueles realizados fora do processo –, ainda que assumidos em razão dele, 
não se incluem dentre aquelas despesas às quais faz alusão o art. 82, § 2º, do CPC/2015 (art. 20 do 
CPC/1973), motivo pelo qual nelas não estão contidos os honorários contratuais, convencionados entre o 
advogado e o seu cliente, mesmo quando este vence a demanda. 
 
Em suma: 
Os honorários advocatícios contratuais não se incluem nas despesas processuais do art. 82, § 2º, do 
CPC/2015 (art. 20 do CPC/1973). 
STJ. 3ª Turma. REsp 1.571.818-MG, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 09/10/2018 (Info 636). 
 
 
RECURSOS EM GERAL 
Não se conta em dobro o prazo para recorrer, quando só um dos litisconsortes haja sucumbido 
 
Importante!!! 
É inaplicável a contagem do prazo recursal em dobro quando apenas um dos litisconsortes 
com procuradores distintos sucumbe. 
Nesse sentido existe, inclusive, uma súmula do STF, cujo entendimento continua válido com o 
CPC/2015: 
Súmula 641-STF: Não se conta em dobro o prazo para recorrer, quando só um dos 
litisconsortes haja sucumbido. 
Ex: ação de cobrança proposta contra Pedro e Tiago. Na sentença, o juiz julga procedente 
quanto a Pedro e improcedente no que tange a Tiago. Pedro, única parte sucumbente, não terá 
direito a prazo em dobro. 
STJ. 3ª Turma. REsp 1.709.562-RS, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 16/10/2018 (Info 636). 
 
BENEFÍCIO DO PRAZO EM DOBRO 
Em que consiste o chamado benefício do prazo em dobro? 
Quando houver litisconsórcio, seja ele ativo (dois ou mais autores) ou passivo (dois ou mais réus), caso os 
litisconsortes tenham advogados diferentes, de escritórios diferentes, os seus prazos serão contados em 
dobro. É o que determina o art. 229 do CPC/2015: 
Art. 229. Os litisconsortes que tiverem diferentes procuradores, de escritórios de advocacia 
distintos, terão prazos contados em dobro para todas as suas manifestações, em qualquer juízo 
ou tribunal, independentemente de requerimento. 
 
Chamo a atenção para essas partes acima grifadas porque elas são cobradas em provas objetivas. Veja: 
(PGE/AP 2018 FCC) Os litisconsortes que tiverem diferentes procuradores, de escritórios de advocacia 
distintos, terão prazos contados em dobro para todas as suas manifestações, em qualquer juízo ou 
tribunal, desde que requeiram o benefício tempestivamente. (errado) 
 
 
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Informativo 636-STJ (23/11/2018) – Márcio André Lopes Cavalcante | 18 
Por que existe esse benefício? 
Essa regra justifica-se pela dificuldade maior que os advogados dos litisconsortes encontram em cumprir 
os prazos processuais e, principalmente, em consultar os autos do processo (STJ AgRg no Ag 963.283/MG). 
Em outras palavras, havendo mais de uma parte e, sendo estas representadas por advogados diferentes, 
fica mais difícil para os advogados prepararem as peças processuais, já que eles não poderão, em tese, 
retirar os autos do cartório, considerando que a outra parte pode também querer vê-los. 
 
Se os advogados dos litisconsortes forem diferentes, mas pertencerem ao mesmo escritório de 
advocacia, ainda assim eles terão direito ao prazo em dobro? 
NÃO. O art. 229 do CPC exige, expressamente, paraa concessão do prazo em dobro, que os advogados 
sejam de escritórios diferentes. Assim, se os litisconsortes tiverem advogados diferentes, mas estes 
fizerem parte do mesmo escritório, o prazo será simples (não em dobro). Trata-se de uma novidade do 
CPC/2015. 
 
Persiste o prazo em dobro mesmo na hipótese de os litisconsortes serem marido e mulher? 
SIM, considerando que a Lei não faz qualquer ressalva quanto a isso, exigindo apenas que tenham 
diferentes procuradores (STJ REsp 973.465-SP). 
 
Esse prazo em dobro vale apenas na 1ª instância? 
NÃO. O benefício abrange também as instâncias recursais. 
 
Imagine que são dois réus em litisconsórcio (João e Pedro), representados por advogados diferentes, de 
escritórios distintos. Ocorre que apenas um deles (João) apresentou defesa, sendo Pedro revel. João 
continuará tendo prazo em dobro para as demais manifestações nos autos? 
NÃO. Cessa a contagem do prazo em dobro se, havendo apenas 2 réus, é oferecida defesa por apenas um 
deles (art. 229, § 1º do CPC 2015). 
 
O benefício do prazo em dobro para os litisconsortes vale para processos eletrônicos? 
NÃO. O § 2º do art. 229 do CPC/2015 determina, expressamente, que não se aplica o prazo em dobro para 
litisconsortes diferentes se o processo for em autos eletrônicos. Trata-se de novidade do CPC/2015: 
O art. 229 do CPC de 2015, aprimorando a norma disposta no artigo 191 do código revogado, determina 
que, apenas nos processos físicos, os litisconsortes que tiverem diferentes procuradores, de escritórios de 
advocacia distintos, terão prazos contados em dobro para todas as suas manifestações, em qualquer juízo 
ou tribunal, independentemente de requerimento. 
STJ. 4ª Turma. REsp 1693784/DF, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 28/11/2017. 
 
COMO FICA O PRAZO RECURSAL SE APENAS UM DOS LITISCONSORTES SUCUMBE 
Imagine a seguinte situação hipotética 
João ajuizou ação contra Pedro e Tiago. 
Vale ressaltar que Pedro e Tiago possuíam advogados distintos, de escritórios de advocacia diferentes. 
Importante também esclarecer que os autos eram físicos (processo físico). 
Durante a tramitação, o juiz reconheceu que Pedro e Tiago tinham prazo em dobro, nos termos do art. 
229 do CPC/2015. 
Na sentença, o juiz julgou o pedido procedente quanto a Pedro, condenando-o a pagar determinada 
quantia ao autor. Por outro lado, o magistrado julgado a demanda improcedente quanto a Tiago. 
Desse modo, dos dois litisconsortes passivos, apenas um foi sucumbente. 
Tiago, obviamente, ficou satisfeito e não recorreu. 
Pedro interpôs apelação. Ocorre que o advogado de Pedro já estava acostumado a ter prazo em dobro e, 
por isso, imaginou que o prazo da apelação seria também em dobro (ou seja, 30 dias = 15 + 15). Diante 
disso, o recurso foi interposto no 20º dia do prazo. 
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Agiu corretamente o advogado de Pedro? Esta apelação será conhecida? Continua existindo prazo em 
dobro quando apenas um dos litisconsortes sucumbe? 
NÃO. 
É inaplicável a contagem do prazo recursal em dobro quando apenas um dos litisconsortes com 
procuradores distintos sucumbe. 
STJ. 3ª Turma. REsp 1.709.562-RS, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 16/10/2018 (Info 636). 
 
Nesse sentido existe, inclusive, uma súmula do STF, cujo entendimento continua válido com o CPC/2015: 
Súmula 641-STF: Não se conta em dobro o prazo para recorrer, quando só um dos litisconsortes haja 
sucumbido. 
 
É o que também ensina André Roque: 
“Para que exista direito ao prazo em dobro, há que se observarem dois requisitos cumulativos: 
existência de litisconsórcio e de prazo comum para os litisconsortes praticarem o ato processual. 
(...) Por esse motivo, se na sentença, por exemplo, apenas um dos litisconsortes sucumbir, o prazo 
será contado de forma simples para a apelação, nos termos da Súmula nº 641 do STF”. (ROQUE, 
André. et al. Teoria Geral do Processo: Comentários ao CPC de 2015. Parte Geral. São Paulo: 
Forense, 2015. p. 709). 
 
A norma que prevê o prazo em dobro existe para garantir a paridade de armas no processo, considerando 
a inevitável dificuldade de acesso aos autos físicos para o pleno exercício do direito de defesa, quando 
existe mais de um litisconsorte com diferentes escritórios de advocacia. 
Se apenas um dos litisconsortes é prejudicado e tem interesse de recorrer, não há motivo para se garantir 
o prazo em dobro. 
 
 
AGRAVO DE INSTRUMENTO 
O rol do art. 1.015 do CPC/2015 é de taxatividade mitigada 
 
Importante!!! 
O rol do art. 1.015 do CPC/2015 é de taxatividade mitigada 
O rol do art. 1.015 do CPC é de taxatividade mitigada, por isso admite a interposição de agravo 
de instrumento quando verificada a urgência decorrente da inutilidade do julgamento da 
questão no recurso de apelação. 
STJ. Corte Especial. REsp 1704520/MT, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 05/12/2018 (recurso 
repetitivo). 
Obs: a tese jurídica fixada e acima explicada somente se aplica às decisões interlocutórias proferidas 
após a publicação do REsp 1704520/MT, o que ocorreu no DJe 19/12/2018. 
 
Antes da decisão acima, o STJ chegou a admitir o cabimento de mandado de segurança 
Com a entrada em vigor do CPC/2015, e antes da decisão do STJ no REsp 1704520/MT, havia 
dúvida razoável na doutrina e na jurisprudência sobre o cabimento ou não de agravo de 
instrumento contra a decisão interlocutória que examinava competência. 
Diante disso, era possível a impetração de mandado de segurança contra decisão 
interlocutória que examinava competência. 
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Vale ressaltar, contudo, que essa possibilidade de impetração de MS deixou de existir com a 
publicação do REsp 1704520/MT (DJe 19/12/2018). 
STJ. 4ª Turma. RMS 58.578-SP, Rel. Min. Raul Araújo, julgado em 18/10/2018 (Info 636). 
 
Imagine a seguinte situação hipotética: 
A sociedade empresária “Aqua Modas” celebrou contrato com a empresa “Terra Confecções”. 
No pacto, havia a previsão de uma cláusula de eleição de foro: 
“8.1. Fica eleito o foro da cidade de São Paulo/SP em detrimento de qualquer outro, por mais privilegiado 
que seja, para dirimir quaisquer dúvidas ou controvérsias oriundas do presente instrumento.” 
Houve uma divergência entre os contratantes e a empresa “Terra” ajuizou ação de rescisão contratual 
contra a “Aqua” na comarca de Porto Alegre (RS), sede da autora. 
 
Arguição de incompetência 
A empresa “Aqua” contestou a ação e arguiu a incompetência relativa do foro de Porto Alegre 
(incompetência territorial) argumentando que a referida cláusula de eleição de foro é válida e não tem 
nada de abusiva. 
Vale lembrar que, com o CPC/2015, a incompetência relativa não é mais alegada por meio de “exceção de 
incompetência”, mas sim como um mero tópico da contestação: 
Art. 64. A incompetência, absoluta ou relativa, será alegada como questão preliminar de 
contestação. 
 
Decisão interlocutória examinando a competência 
O juiz deferiu o pedido da empresa “Aqua”, por entender que a cláusula de eleição de foro é válida. 
Com isso, o magistrado determinou a remessa dos autos para o juízo de São Paulo (SP). 
Contra esta decisão, a autora “Terra” interpôs agravo de instrumento. 
O Tribunal de Justiça não conheceu do recurso afirmando que as hipóteses de cabimento do agravo de 
instrumento estão previstas taxativamente (exaustivamente) no art. 1.015 do CPC/2015 e que neste rol não 
existe a previsão de agravo de instrumento contra a decisão relacionada com definição de competência. 
Veja a lista do art. 1.015 do CPC/2015: 
Art. 1.015. Cabe agravo de instrumento contra as decisões interlocutórias que versarem sobre:I - tutelas provisórias; 
II - mérito do processo; 
III - rejeição da alegação de convenção de arbitragem; 
IV - incidente de desconsideração da personalidade jurídica; 
V - rejeição do pedido de gratuidade da justiça ou acolhimento do pedido de sua revogação; 
VI - exibição ou posse de documento ou coisa; 
VII - exclusão de litisconsorte; 
VIII - rejeição do pedido de limitação do litisconsórcio; 
IX - admissão ou inadmissão de intervenção de terceiros; 
X - concessão, modificação ou revogação do efeito suspensivo aos embargos à execução; 
XI - redistribuição do ônus da prova nos termos do art. 373, § 1º; 
XII - (VETADO); 
XIII - outros casos expressamente referidos em lei. 
Parágrafo único. Também caberá agravo de instrumento contra decisões interlocutórias 
proferidas na fase de liquidação de sentença ou de cumprimento de sentença, no processo de 
execução e no processo de inventário. 
 
 
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Cabe agravo de instrumento neste caso? Na vigência do CPC/2015 cabe agravo de instrumento contra 
a decisão que examina competência ou se trata de decisão irrecorrível de imediato? 
Essa questão já foi pacificada, conforme veremos mais à frente. 
No entanto, durante mais de dois anos houve um intenso debate na doutrina e jurisprudência sobre o 
tema, tendo surgido duas correntes principais: 
1ª) Não cabe agravo de instrumento. Vários Tribunais de Justiça adotaram a tese de que o rol do art. 1.015 
do CPC seria, realmente, exaustivo. Logo, a decisão interlocutória que examinasse competência seria 
irrecorrível de imediato porque esta hipótese não foi prevista expressamente no art. 1.015. 
2ª) Cabe agravo de instrumento. Nomes de peso na doutrina e precedentes judiciais sustentaram que, 
apesar de o rol do art. 1.015 do CPC ser taxativo, seria cabível agravo de instrumento contra a decisão 
interlocutória que examinasse competência. A fundamentação para isso variava um pouco de acordo com 
o doutrinador ou julgado. 
 
Enfim, havia uma dúvida razoável acerca da existência de recurso cabível. 
 
Imagine agora a seguinte situação que decorreu desta dúvida: 
O juiz reconheceu, por meio de decisão interlocutória, que era incompetente e remeteu o processo para 
outra comarca. 
O autor da ação, que havia proposto a demanda naquele juízo, foi prejudicado pela decisão interlocutória 
do juiz que reconheceu a incompetência. 
O advogado do autor, a fim de decidir como iria defender processualmente os interesses de seu cliente, 
estudou o que fazer pela doutrina, pesquisou a jurisprudência e verificou que havia a polêmica acima exposta. 
A partir das pesquisas que fez, ele entendeu que a 1ª corrente seria majoritária, ou seja, ele avaliou que a 
decisão seria realmente irrecorrível, já que não constava no art. 1.015 do CPC. 
Diante disse cenário, ele pensou: ora, se não cabe agravo e nenhum outro recurso, ou seja, se a decisão é 
irrecorrível, o único instrumento que me resta para defender os interesses do meu cliente é impetrar um 
mandado de segurança, conforme autoriza o art. 5º, II, da Lei nº 12.016/2009: 
Art. 5º Não se concederá mandado de segurança quando se tratar: 
(...) 
II - de decisão judicial da qual caiba recurso com efeito suspensivo; 
 
No mesmo sentido: 
Súmula 267-STF: Não cabe mandado de segurança contra ato judicial passível de recurso ou correição. 
 
Pergunta: é possível aceitar o mandado de segurança neste caso? 
SIM. O mandado de segurança é uma ação constitucional voltada para a proteção de direito líquido e certo 
contra ato abusivo ou ilegal de autoridade pública ou de agente de pessoa jurídica no exercício de 
atribuições do Poder Público (art. 5º, LXIX, da CF/88). 
Assim, como regra, o mandado de segurança não pode ser utilizado como sucedâneo recursal (ou seja, 
como substituto de recurso). 
Exceções. A doutrina e a jurisprudência admitem o manejo do mandado de segurança contra atos judiciais, 
excepcionalmente, nas seguintes hipóteses: 
a) contra decisão judicial teratológica; 
b) contra decisão judicial contra a qual não caiba recurso; 
c) para imprimir efeito suspensivo a recurso desprovido de tal efeito; e 
d) quando impetrado por terceiro prejudicado por decisão judicial. 
 
No caso em tela, conforme já explicado, havia dúvida razoável acerca da existência de recurso cabível. 
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Assim, diante da existência de dúvida razoável sobre o cabimento de agravo de instrumento, o STJ 
entendeu que foi justificada a conduta da parte que impetrou mandado de segurança contra o ato judicial 
que afastou a competência. 
 
Em suma: 
Com a entrada em vigor do CPC/2015, e antes da decisão do STJ no REsp 1704520/MT, havia dúvida 
razoável na doutrina e na jurisprudência sobre o cabimento ou não de agravo de instrumento contra a 
decisão interlocutória que examinava competência. 
Diante disso, era possível a impetração de mandado de segurança contra decisão interlocutória que 
examina competência. 
Vale ressaltar, contudo, que essa possibilidade de impetração de MS deixou de existir com a publicação 
do REsp 1704520/MT (DJe 19/12/2018). 
STJ. 4ª Turma. RMS 58.578-SP, Rel. Min. Raul Araújo, julgado em 18/10/2018 (Info 636). 
 
Essa dúvida não existe mais, considerando que o STJ pacificou o tema em recurso especial repetitivo. 
Diante disso, indaga-se: cabe ou não agravo de instrumento neste caso? Na vigência do CPC/2015, cabe 
agravo de instrumento contra a decisão que examina competência? 
Cabe agravo de instrumento. Prevaleceu no STJ o seguinte entendimento: 
É cabível a interposição de agravo de instrumento contra decisão relacionada à definição de competência, 
a despeito de não previsto expressamente no rol do art. 1.015 do CPC/2015. 
Apesar de não previsto expressamente no rol do art. 1.015 do CPC/2015, a decisão interlocutória que 
acolhe ou rejeita a alegação de incompetência desafia recurso de agravo de instrumento. 
 
Vamos entender com calma os motivos. 
 
Correntes de interpretação 
Veja novamente o caput do art. 1.015 do CPC/2015: 
Art. 1.015. Cabe agravo de instrumento contra as decisões interlocutórias que versarem sobre: 
(...) 
 
Surgiram três principais correntes de interpretação a respeito do rol previsto neste artigo: 
CORRENTES DE INTERPRETAÇÃO SOBRE O ROL DO ART. 1.015 DO CPC/2015 
1) o rol é absolutamente taxativo 
(deve ser interpretado 
restritivamente) 
2) o rol é taxativo, 
mas admite interpretação 
extensiva ou analogia 
3) o rol é exemplificativo 
Houve uma opção consciente do 
legislador pela enumeração 
taxativa das hipóteses. 
Não se pode ampliar o rol do art. 
1.015, sob pena, inclusive, de 
comprometer todo o sistema 
preclusivo eleito pelo CPC/2015. 
Os incisos do art. 1.015 não 
podem ser interpretados de 
forma literal. 
Os incisos devem ser 
interpretados de forma 
extensiva para admitir situações 
parecidas. 
O rol é exemplificativo, de modo 
que a recorribilidade da decisão 
interlocutória deve ser imediata, 
ainda que a situação não conste 
no art. 1.015 do CPC. 
 
Fernando Gajardoni, Luiz 
Dellore, André Roque, Zulmar 
Oliveira Jr. 
Fredie Didier Jr., Leonardo da 
Cunha, Teresa Arruda Alvim, 
Cássio Scarpinella. 
William Santos Ferreira e José 
Rogério Cruz e Tucci. 
 
 
 
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Critério adotado pelo legislador foi insuficiente 
A maioria da doutrina se posicionou no sentido de que o legisladorfoi infeliz ao tentar criar um rol 
exaustivo das hipóteses de cabimento do agravo de instrumento na fase de conhecimento. Isso porque o 
rol do art. 1.015 do CPC, como aprovado e em vigor, é insuficiente, pois deixa de abarcar uma série de 
questões urgentes e que demandariam reexame imediato pelo Tribunal. 
O sistema precisa que exista uma via processual sempre aberta para que tais questões urgentes sejam 
desde logo reexaminadas, considerando que se a sua apreciação for adiada (diferida), isso poderá causar 
prejuízo às partes e até mesmo a inutilidade de que o tema seja apreciado no futuro. Em outras palavras, 
existem questões que não podem esperar e que não estão no rol do art. 1.015 do CPC. 
A experiência mostra que o mandado de segurança, que era muito utilizado na vigência do CPC/1939 como 
sucedâneo recursal e que foi paulatinamente reduzido pelo CPC/1973, não é o meio processual mais 
adequado para se rediscutir a decisão interlocutória. 
 
Legislador não consegue prever, com rol fechado, todas as hipóteses possíveis 
O objetivo do legislador ao criar o rol do art. 1.015 foi o de prever ali situações urgentes, ou seja, que não 
poderiam aguardar para que fossem decididas em eventual recurso de apelação. 
Ocorre que o estudo da história do direito demonstra que um rol taxativo não consegue prever todas as 
hipóteses possíveis e, situações que têm a mesma razão de existir acabam ficando de fora, gerando 
inúmeros problemas. 
O que se percebe em vários países do mundo é que se adota o critério da urgência para a recorribilidade 
das decisões interlocutórias. Assim, em países como EUA, França, Alemanha, Argentina, com algumas 
variações, em regra, não se admite recurso contra decisões interlocutórias, salvo quando a espera da 
decisão final puder causar dano irreparável às partes. 
Se uma decisão interlocutória precisa ser enfrentada imediatamente, sob pena de a sua espera gerar dano 
irreparável às partes, deve-se permitir o recurso imediato contra esta decisão, considerando que isso atende 
o direito à tutela jurisdicional e de efetivo acesso à justiça (princípio da inafastabilidade da jurisdição). 
Dois exemplos de situações urgentes não contempladas no art. 1.015 e que, se examinadas apenas no 
recurso de apelação, gerarão prejuízo irreparável às partes: 
• decisão que decide sobre competência: não é razoável que o processo tramite perante um juízo 
incompetente por um longo período e, somente por ocasião do julgamento da apelação, seja reconhecida 
a incompetência e determinado o retorno ao juízo competente. 
• decisão que indefere o pedido de segredo de justiça: se o juiz indefere o pedido de segredo de justiça e 
a parte prejudicada não pode recorrer de imediato, significa que não mais adiantará nada rediscutir o 
assunto na apelação, considerando que todos os detalhes da intimidade do jurisdicionado já foram 
expostos pela publicidade. 
 
Diante dessa inadequação, qual das três correntes acima expostas foi adotada pelo STJ? 
Nenhuma. O STJ entendeu que nenhuma das três correntes acima expostas soluciona adequadamente a 
situação, senão vejamos: 
A 1ª corrente (taxatividade com interpretação restritiva) é incapaz de tutelar adequadamente todas as 
questões. Isso porque, como vimos, existem decisões interlocutórias que, se não forem reexaminadas 
imediatamente pelo Tribunal, poderão causar sérios prejuízos às partes. 
A 2ª corrente (interpretação extensiva ou analógica) também deve ser afastada. Isso porque não há 
parâmetro minimamente seguro e isonômico quanto aos limites que deverão ser observados na 
interpretação de cada conceito, texto ou palavra. Além disso, o uso dessas técnicas hermenêuticas não 
será suficiente para abarcar todas as situações em que a questão deverá ser reexaminada de imediato. 
Um exemplo é a decisão que indefere o segredo de justiça. Não há nenhum outro inciso do art. 1.015 no 
qual se possa aplicar essa hipótese por analogia. 
Por fim, a 3ª corrente (meramente exemplificativo) não pode ser adotada porque ignora absolutamente 
a vontade do legislador que tentou, de algum modo, limitar o cabimento do agravo de instrumento. 
 
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Qual foi, então, o critério adotado pelo STJ? 
O STJ construiu a ideia de que o rol do art. 1.015 do CPC/2015 é de taxatividade mitigada. 
 
O que significa isso? 
Em regra, somente cabe agravo de instrumento nas hipóteses listadas no art. 1.015 do CPC/2015. 
Excepcionalmente, é possível a interposição de agravo de instrumento fora da lista do art. 1.015, desde 
que preenchido um requisito objetivo: a urgência. 
 
O que é urgência? 
Urgência, para os fins de cabimento de agravo de instrumento, significa que a decisão interlocutória 
proferida trouxe, para a parte, uma situação na qual ela não pode aguardar para rediscutir futuramente 
no recurso de apelação. 
Assim, a urgência decorre da inutilidade do julgamento da questão no recurso de apelação. 
Em outras palavras, aquilo que foi definido na decisão interlocutória deverá ser examinado pelo Tribunal 
imediatamente porque se for esperar para rediscutir na apelação, o tempo de espera tornará a decisão 
inútil para a parte. Ela não terá mais nenhum (ou pouquíssimo) proveito. 
 
Por que esse nome “taxatividade mitigada”? 
Foi uma expressão cunhada pela Min. Nancy Andrighi. 
O objetivo da Ministra foi o de dizer o seguinte: o objetivo do legislador foi o de prever um rol taxativo e 
isso deve ser, na medida do possível, respeitado. No entanto, trata-se de uma taxatividade mitigada 
(suavizada, abrandada, relativizada) por uma “cláusula adicional de cabimento”. 
Que cláusula (norma, preceito) é essa? Deve-se também admitir o cabimento do recurso em caso de 
urgência. 
E por que se deve colocar essa “cláusula adicional de cabimento”? Por que se deve adicionar essa regra 
extra de cabimento? Porque, se houvesse uma taxatividade absoluta, isso significaria um desrespeito às 
normas fundamentais do próprio CPC e geraria grave prejuízo às partes ou ao próprio processo. 
Logo, tem-se uma taxatividade mitigada pelo requisito da urgência. 
 
Tese fixada pelo STJ: 
Como o tema foi apreciado pela Corte Especial em sede de recurso repetitivo, o STJ fixou a seguinte tese: 
O rol do art. 1.015 do CPC é de taxatividade mitigada, por isso admite a interposição de agravo de 
instrumento quando verificada a urgência decorrente da inutilidade do julgamento da questão no 
recurso de apelação. 
STJ. Corte Especial. REsp 1704520/MT, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 05/12/2018. 
 
Vale ressaltar, mais uma vez, que não é necessário recorrer à analogia ou intepretação extensiva. 
 
O agravo de instrumento será cabível: 
1) nos casos previstos expressamente no art. 1.105 do CPC (aqui a urgência foi presumida pelo legislador); 
2) mesmo que a situação esteja fora da lista do art. 1.015, desde que verificada a urgência decorrente da 
inutilidade do julgamento da questão no recurso de apelação (o Tribunal irá analisar se existe urgência ou 
não para admitir o conhecimento do agravo). 
 
Como fica a questão da preclusão? 
Se o juiz profere uma decisão interlocutória que se enquadra em um dos incisos do art. 1.015 do CPC, a 
parte prejudicada poderia interpor agravo de instrumento. Imagine que ela o faz. Isso significa que houve 
preclusão e ela não poderá mais rediscutir essa decisão em sede de apelação. 
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Por outro lado, se o juiz profere uma decisão interlocutória que não se amolda em um dos incisos do art. 
1.015, o CPC afirma que, neste caso, como a parte não pode recorrer de imediato, ela deverá sofrer

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