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Denilson Duarte [SISTEMA ENDÓCRINO] | [UFCA] [INSULINA E GLUCAGON] 1 | P á g i n a Sumário A insulina e seus efeitos metabólicos ........................................................................................... 2 Química e síntese de insulina .................................................................................................... 2 Receptores tirosina-cinase de insulina ...................................................................................... 2 Ativação dos receptores e efeitos celulares ............................................................................. 3 Efeito da insulina sobre o metabolismo dos carboidratos ........................................................ 4 Metabolismo nos músculos .................................................................................................. 4 Metabolismo hepático .......................................................................................................... 4 Efeito da insulina sobre o metabolismo das gorduras .............................................................. 5 Síntese e armazenamento das gorduras ............................................................................... 5 Efeito da insulina sobre o metabolismo das proteínas ............................................................. 5 Mecanismos da secreção da insulina ........................................................................................ 6 O glucagon e suas funções ............................................................................................................ 6 Processo de glicogenólise ......................................................................................................... 7 Aumento da gliconeogênese ..................................................................................................... 7 Outros efeitos do glucagon ....................................................................................................... 7 2 | P á g i n a A insulina e seus efeitos metabólicos A insulina está associada à abundância de alimentos energéticos na dieta, em especial quantidades excessivas de carboidratos. A insulina desempenha papel importante no armazenamento do excesso de energia. No caso dos carboidratos, esse hormônio faz com que sejam armazenados sob a forma de glicogênio no fígado e nos músculos e, todo o excesso não armazenado como glicogênio, é convertido em gordura e armazenado no tecido adiposo. No caso das proteínas, a insulina promove a captação de AA pelas células e sua conversão em proteínas, além de inibir o catabolismo de proteínas dentro das células. Química e síntese de insulina A insulina possui duas cadeias de aminoácidos conectadas por meio de ligações dissulfeto. Ela é sintetizada nas células beta pelo modo usual. 1. Primeiro, ocorre a tradução do RNAm nos ribossomos do reticulo endoplasmático para formar a pré-pró-insulina; 2. Essa molécula é clivada no reticulo endoplasmático para formar a pró-insulina, que consiste em três cadeias de peptídeos: A, B e C; 3. A maior parte da pró-insulina é clivada no aparelho de Golgi, para formar insulina composta pelas cadeias A e B, ligadas por pontes dissulfeto e peptídeo C; 4. Na última etapa, a insulina e o peptídeo C são revestidos nos grânulos secretores e secretadas em quantidade equimolares. Receptores tirosina-cinase de insulina Para promover seus efeitos sobre as células-alvo, a insulina precisa se ligar e ativar receptores de tirosina-cinase nessas células. O receptor de insulina é a combinação de quatro subunidades que se mantêm unidas por pontes dissulfeto: duas subunidades alfa que se situam no lado externo da membrana e duas subunidades beta que se situam no lado interno da membrana. A insulina regula tanto enzimas do metabolismo quanto a expressão genica. Ela não entra nas células, mas inicia um sinal que viaja desde o receptor na membrana até as enzimas sensíveis à insulina no citosol e até o núcleo. Após a insulina se ligar as subunidades alfa do receptor e provocar a autofosforilação nas subunidades beta, essa autofosforilação expõe o sitio ativo da enzima, para que ela possa fosforilar os resíduos de Tyr em outras proteínas-alvo. O primeiro alvo a ser fosforilado é o Figura 1Regulação da expressão gênica pela insulina por meio de uma cascata de cinase. 3 | P á g i n a substrato 1 do receptor de insulina (IRS-1), uma vez fosforilado em alguns dos resíduos de Tyr, o IRS-1 torna-se o ponto de nucleação para um complexo de proteínas que leva a mensagem do receptor para outros alvos finais no citosol e no núcleo. A via de sinalização da insulina ramifica-se a partir da fosforilação de IRS-1. Uma rota de grande importância é que promove a redução na síntese de glicogênio. Logo após a fosforilação de IRS-1, a enzima fosfoinositídeo-3-cinase (PI3K) liga-se a ela. Assim, ativada, a PI3K converte o lipídeo de membrana PIP2 em PIP3 pela transferência de um grupo fosforila do ATP. A cabeça polar do PIP3, que se projeta da face citoplasmática da membrana, é o ponto inicial para uma segunda ramificação da sinalização. Quando ligada a PIP3, a proteína-cinase B (PKB ou Akt) é fosforilada e ativada por outra proteína-cinase, a PDK1. A PKB ativada fosforila a enzima glicogênio-sintase-cinase (GSK3). Na forma ativa, não fosforilada, a GSK3 fosforila a glicogênio- sintase, inativando-a, e, desse modo, contribuindo para a redução na síntese de glicogênio. Figura 2 Ação da insulina na síntese de glicogênio e no movimento de GLUT4 para a membrana plasmática. Ativação dos receptores e efeitos celulares 1. A insulina se acopla às subunidades alfa e provoca a autofosforilação nas subunidades beta; 2. A autofosforilação do receptor ativa enzimas tirosinocinase local, que causa fosforilação no grupo chama de substratos do receptor de insulina (IRS); 3. Por fim, dependendo do local onde a insulina esteja promovendo a ação, ela provoca a ativação de algumas enzimas e, ao mesmo tempo, inativação de outras. Poucos segundos depois da insulina se acoplar ao seu receptor, as membranas aumentam acentuadamente sua captação de glicose. Isso ocorre especialmente nas células musculares e adiposas. A membrana celular também fica mais permeável a muitos aminoácidos, a íons potássio e fosfato. 4 | P á g i n a Efeito da insulina sobre o metabolismo dos carboidratos Imediatamente após refeição rica em carboidratos, a glicose absorvida para o sangue causa secreção rápida de insulina. A insulina, por sua vez, causa a pronta captação, armazenamento e utilização da glicose por quase todos os tecidos do organismo, mas em especial pelos músculos, pelo tecido adiposo e pelo fígado. Metabolismo nos músculos Durante grande parte do dia o tecido muscular depende não somente da glicose como fonte de energia, mas também dos ácidos graxos. O principal motivo para isso acontecer é que a membrana muscular em repouso só é ligeiramente permeável à glicose. Entretanto, sob duas condições os músculos utilizam grande quantidade de glicose: 1. Uma delas é durante a realização de exercícios moderados ou intensos. Essa utilização não precisa de estímulos externo, pois as fibras musculares em exercício são permeáveis a glicose devido ao próprio processo da contração muscular que aumenta a translocação da molécula transportadora de glicose 4 (GLUT4). 2. A segunda condição para elevar a captação de glicose é que a insulina liberada pelo pâncreas logo após uma refeição promove maior permeabilidade de membrana para a glicose. Assim, a insulina provoca transporte rápido da glicose para as células musculares. Se os músculos não estiverem se exercitando depois da refeição e, ainda assim, a glicose for transportada em grande quantidade para as fibras musculares, então a maior parte é armazenada sob a forma deglicogênio muscular até o limite de 2% a 3%. Metabolismo hepático Um dos mais importantes de todos os efeitos da insulina é fazer com que a maioria da glicose absorvida após uma refeição seja armazenada rapidamente no fígado sob a forma de glicogênio. Entre refeições, quando o alimento não está disponível e a glicemia decai, a secreção de insulina diminui rapidamente, o glicogênio hepático é convertido em glicose. 1. A insulina inativa a fosforilase hepática, a principal enzima que leva à quebra do glicogênio hepático em glicose. Essa inativação impede a clivagem do glicogênio armazenado nas células hepáticas; 2. A insulina causa aumento da captação de glicose do sangue pelas células hepáticas mediante aumento da enzima glicocinase. Depois de fosforilada, a glicose é temporariamente retida nas células hepáticas; 3. A insulina também provoca o aumento da atividade das enzimas que promovem a síntese de glicogênio. O efeito de todas essas ações é aumentar a quantidade de glicogênio no fígado. Quando o nível de glicose no sangue começa a baixar entre as refeições, as ações promovidas pela insulina são desfeitas para que o fígado passe a liberar glicose de volta para o sangue circulante. Conversão do excesso de glicose em ácidos graxos e inibição da gliconeogênese no fígado Quando a quantidade de glicose que entra no fígado é maior do que a que pode ser armazenada sob a forma de glicogênio, a insulina promove a conversão de todo esse excesso 5 | P á g i n a em ácidos graxos. Esses ácidos graxos são empacotados sob a forma de triglicerídeos e lipoproteínas de densidade muito baixa e transportados para o tecido adiposo. A insulina também inibe a gliconeogênese. Isso ocorre por meio da redução das quantidades e atividades que as enzimas hepáticas precisam para a gliconeogênese. Efeito da insulina sobre o metabolismo das gorduras Apesar dos efeitos da insulina no metabolismo das gorduras não serem tão visíveis, eles apresentam, a logo prazo, grande importância. O efeito a longo prazo da falta de insulina é especialmente dramático porque provoca aterosclerose extrema, ataques cardíacos, acidentes vasculares cerebrais e a outros acidentes vasculares. Síntese e armazenamento das gorduras A insulina aumenta a utilização de glicose pela maioria dos tecidos do corpo, o que automaticamente reduz a utilização da gordura. Entretanto, a insulina também promove a síntese de ácidos graxos quando ocorre ingestão de mais carboidratos do que é possível utilizar. Quase toda essa síntese ocorre nas células hepáticas e os ácidos graxos são transportados do fígado para as células adiposas pelas lipoproteínas plasmáticas. A insulina tem dois outros efeitos essenciais que são requeridos para o armazenamento das gorduras nas células adiposas: 1. Inibe a ação da lipase hormônio-sensível. Essa enzima provoca a hidrolise dos triglicerídeos. 2. Promove o transporte da glicose para as células adiposas. Parte dessa glicose é utilizada para sintetizar quantidades mínimas de ácidos graxos. Porém, também forma α-glicerol fosfato, que produz o glicerol e se associa aos ácidos graxos para formar triglicerídeos. Quando ocorre deficiência de insulina, a enzima lipase hormônio-sensível nas células adiposas ficam intensamente ativadas, levando à hidrólise dos triglicerídeos armazenados. O excesso de ácidos graxos no plasma, associado a deficiência de insulina, também promove a conversão hepática de alguns ácidos graxos em fosfolipídios e colesterol. Essa grande quantidade de ácidos graxos produzidos faz com que aumente o transporte para dentro da mitocôndria e ocorra a betaoxidação dos ácidos graxos, liberando grandes quantidades de Acetil-Coa de modo a formar o ácido acetoacético. Efeito da insulina sobre o metabolismo das proteínas Durante as poucas horas depois da refeição, quando existem quantidades excessivas de nutrientes no sangue circulante. 1. A insulina estimula o transporte de muitos dos aminoácidos para as células. Assim, a insulina divide com o hormônio do crescimento a capacidade de aumentar a captação de aminoácidos nas células; 2. A insulina aumenta os processos de tradução do RNA mensageiro, formando, dessa maneira, novas proteínas; 3. Em intervalo maior de tempo, a insulina também aumenta a transcrição de sequências genéticas selecionadas de DNA no núcleo celular, formando, assim, quantidade aumentada de RNA e síntese ainda maior de proteínas; 6 | P á g i n a 4. A insulina inibe o catabolismo das proteínas, reduzindo, dessa forma, a liberação de aminoácidos das células, em especial das células musculares. 5. No fígado, a insulina deprime a gliconeogênese. Isso ocorre por meio da redução da atividade das enzimas que promovem a gliconeogênese. Mecanismos da secreção da insulina As células beta contêm um grande número de transportadores de glicose, que permitem influxo de glicose proporcional à concentração plasmática na faixa fisiológica. Uma vez nas células, a glicose é fosforilada pela glicocinase em glicose-6-fosfato. Essa fosforilação parece ser a etapa limitante para o metabolismo da glicose nas células beta e é considerada como o principal mecanismo sensor de glicose e de ajuste da quantidade de insulina secretada, em relação aos níveis de glicose plasmática. A glicose-6-fosfato é, subsequentemente, oxidada, de modo a formar trifosfato de adenosina (ATP), que inibe os canais de potássio sensíveis ao ATP da célula. O fechamento dos canais de potássio despolariza a membrana celular, abrindo consequentemente os canais de cálcio dependentes de voltagem, que são sensíveis às alterações da voltagem da membrana. Isso produz influxo de cálcio, que estimula a fusão das vesículas que contêm insulina, com a membrana celular e a secreção da insulina, no líquido extracelular por meio de exocitose. Os fármacos do tipo sulfonilureia estimulam a secreção da insulina por meio da ligação com os canais de potássio sensíveis ao ATP, bloqueando sua atividade. Isso resulta em efeito despolarizante que desencadeia a secreção da insulina, o que torna esses fármacos úteis no estímulo da secreção de insulina em pacientes portadores de diabetes tipo 2. Figura 3 Fatores e condições que aumentam ou diminuem a secreção de insulina. O glucagon e suas funções O glucagon, que é hormônio secretado pelas células alfa das ilhotas de Langerhans quando a concentração da glicose sanguínea cai, tem diversas funções que são diametralmente opostas às da insulina. A mais importante dessas funções é aumentar a concentração da glicose sanguínea, efeito que é oposto ao da insulina. Os principais efeitos do glucagon no metabolismo da glicose são: 1. Glicogenólise; 7 | P á g i n a 2. Aumento da gliconeogênese no fígado. Processo de glicogenólise O efeito mais dramático do glucagon é sua capacidade de provocar a glicogenólise no fígado. Isso ocorre pela seguinte complexa cascata de eventos: 1. Glucagon ativa a adenilil ciclase na membrana da célula hepática; 2. Essa ativação leva à formação de monofosfato cíclico de adenosina; 3. Que ativa a proteína reguladora da proteína cinase; 4. Que ativa a proteína cinase; 5. Que ativa a fosforilase cinase b; 6. Que converte a fosforilase b em fosforilase a; 7. Que promove a degradação do glicogênio em glicose-1-fosfato; 8. Que é, então, desfosforilada, e a glicose é liberada das células hepáticas. Aumento da gliconeogênese Mesmo depois do consumo de todo o glicogênio hepático, a continuação da infusão desse hormônio ainda causa hiperglicemia continuada. Isso resulta do efeito do glucagon para aumentar a captação de aminoácidos, pelas células hepáticas, para converter muitos dos aminoácidos em glicose por gliconeogênese. Outros efeitos do glucagon O glucagon ativa a lipase das células adiposas, disponibilizando quantidade aumentadas de ácidos graxospara os sistemas de energia do organismo. Esse hormônio também inibe o armazenamento de triglicerídeos no fígado, o que impede a captação de ácidos graxos do sangue, além de ajudar na disponibilização de quantidades adicionais de ácidos graxos para outros tecidos do organismo.
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