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Quantas vezes no nosso dia a dia ouvimos ou usamos a expressão falta de ética se referindo à indignação com o comportamento alheio? Se ética era um campo de conhecimento de estudiosos especialistas como filósofos médicos e advogados parece que ultimamente esta palavra invadiu os noticiários e entrou no vocabulário do nosso cotidiano. Mas será que o seu significado sempre foi o mesmo ao longo da história será que ética é um conceito universal. Afinal o que é ética ? Ética não é um saber acabado, ética não é uma tabela pronta, uma tabela das condutas elencadas, todas as condutas humanas em duas colunas, pode, não pode, pode, não pode, o professor de ética aquele que talvez tenha decorado a tabela. Partimos da premissa de que essa tabela não existe e se existisse ela estaria caduca no dia seguinte, porque no dia seguinte estaríamos diante de situações inéditas que teriam tornado a tabela obsoleta, razão pela qual acreditamos que ética tem a ver com liberdade, a possibilidade que temos de escolher como queremos conviver, a ética parte de uma premissa, a nossa convivência pode ser diferente do que ela é, e portanto a nossa convivência pode ser melhor do que ela é. a ética é a inteligência compartilhada a serviço do aperfeiçoamento da convivência. As formigas por exemplo, também convivem mais intensamente do que nós talvez, e todos sabemos como as formigas convivem, quase todas elas trabalham 24 horas, duas ou três não fazem nada e ficam contudo, estranhíssima a convivência entre as formigas, só que no caso do formigueiro tem que ser assim, as formigas são regidas pela sua natureza, são escravas do seu instinto e não podem conviver diferentemente, um formigueiro na idade média funcionava como funciona um formigueiro hoje, mas no nosso caso por mais que não possamos nos orgulhar muito da nossa convivência temos um alento, ela pode ser diferente do que ela é e cabe a nós a tarefa de refletir, de pensar conjuntamente, de argumentar dentro de um grande espaço de diálogo para aperfeiçoá-la dia a dia, para que amanhã seja melhor do que hoje. Ética é porque há liberdade, se abrirmos mão da liberdade de fazer a sociedade que queremos teremos também aberto mão da ética. Afinal de contas nós somos um animal, aliás o único que é capaz de decidir e escolher julgar por si mesmo, isto é, nós somos portadores de liberdade. Há pessoas que dizem “eu gostaria de ser livre como um pássaro” cuidado porque pássaros não são livres, pássaros não podem não voar, pássaros não escolhem o que fazem, não adianta numa bela tarde por exemplo como hoje, às 17 horas um sabiá andando, ele de repente olha e “nossa acho que tá tão bonita a tarde, eu vou a pé pro ninho” e aí ele vai caminhando, é claro que ele não conseguirá fazê-lo, não é ele que decide, a decisão sobre a conduta dele não depende dele. Exemplo concreto, porque é que às vezes você ouve falar de ataques de cães pitbull ou rottweiler, porque é que o cão faz o que faz, por que ele não tem como não fazer, porque é que vez ou outra você tem a ação de um animal que nos parece agressiva e ela será olhada a violência da natureza, mas ela não pode ser eticamente analisada, um cão não é bom ou mau, não existe o mal cavalo, o mal cão, a má formiga, a menos que a gente vá usar padrões de reflexão nossos, em outras palavras, outros animais não decidem em relação aquilo que a sua conduta terá, nós somos capazes de colocar nossa vida em risco, nós somos capazes por exemplo de fazer coisas absolutamente inúteis pela sobrevivência, mas deliciosas como praticar esporte, que não serve para nada, não ter a menor finalidade por isso é belíssimo, de que adianta saltar de paraquedas, fazer né, stand up paddle, qual a finalidade de alguém correr de fórmula 1, girar de maneira insana, em alguma coisa que é absolutamente ameaçadora que pode conduzir à morte, e fazê lo como uma escolha, isto é, escolha, essa é a palavra-chave, se você observa eu não posso avaliar a conduta de um outro animal sob padrões éticos, é boa, não é, decente ou não é, a formiga como Clóvis lembrou ela é o que é, ela é o que é porque a natureza assim a fez, aliás me lembrei Karl Marx no século 19, grande filósofo alemão, dizia algo decisivo, ele dizia que o pior dos tecelões alguém como eu que não tece direito, o pior dos tecelões sempre será melhor do que a melhor das aranhas, que faz teias magníficas, porque embora o pior dos tecelões ele não consiga fazer uma teia como a aranha faz, a aranha só consegue fazer a teia daquele modo, ela só consegue repetir, inclusive a aranha tem um defeito, ela nasceu sabendo, isto é, ela nasceu pronta, ela já faz a teia como a mãe fazia, a avó fazia, a bisavó fazia, isso é uma limitação, nós temos uma grande vantagem, nós não sabemos fazendo, nós não nascemos sabendo e não claro não nascemos prontos, desse ponto de vista nós somos capazes de fazer de outro modo, aliás uma aranha ela faz teias magníficas, mas ela só faz aquela teia, daquele jeito, a menos que uma força externa haja sobre ela, aquilo que Darwin chamou de mutação por ambiente ou por pressão, aí você tem uma mudança, nós não, nós somos capazes, e aí o Clóvis lembro bem, de fazer o mundo tal qual ele está, aliás nesse mundo que hoje temos resulta das nossas escolhas. Não há uma divindade ou divindades no meu entender, nem no dele, que vieram e disseram “assim será” , ao contrário, ele resulta desse mundo como ele é, a nossa conduta coletiva, nossa convivência, de escolhas que fizemos , desse ponto de vista se é se ele é, ele pode não ser do modo como é, que se nós assim o fizemos podemos fazê-lo de outro modo, nesta hora nós queremos retirar da reflexão sobre ética algo que é muito usual e eu vou passar pro Clovis já, para ele fazer essa reflexão num ponto, muita gente diz, que eu não tenho como não fazer assim ,é o sistema, eu faço assim porque a vida é assim, eu tô em vida social e é o sistema que faz assim, portanto eu só posso agir desse modo, para justificar inclusive a conduta que resulta de uma escolha pelo malévolo quando a possibilidade do benévolo existiria, o malefício é à escolha, o benefício também o é, no entanto o principal argumento que muita gente usa é que eu posso fazer a vida é assim, é o sistema, é isso. Denomina-se má-fé quando você nega a própria liberdade, quando você nega a própria condição de agente livre e capaz de fazer escolhas, sobretudo para justificar comportamentos que nos envergonham, que nos causam tristeza e que, sabidamente, não deveríamos ter tido. A verdade é que atribuir a razão das nossas causas há outras circunstâncias que não a nossa liberdade nos convém porque essa coisa de ser livre pode parecer um privilégio, mas não é sempre. O homem sempre ao se considerar livre, julgou-se superior ao resto da natureza, basta você vê as definições que ele dá de si mesmo, os gregos diziam que nós estamos a meio caminho entre os animais de Deus, os cristãos depois não economizaram elogios e disseram que nós somos feitos á imagem e semelhança Deus, mas até somos filhos de Deus, e tudo isso por causa da liberdade que a nós, por causa da capacidade que a nossa de fazer acontecer a vida de acordo com o nosso discernimento, mas esta possibilidade que pode ser entendida ingenuamente como um privilégio, muitas vezes quando observada de perto é fonte de sentimentos desagradáveis e a filosofia tem também um nome pra esses sentimentos, angústia. Angústia, Cortella, é o que você sente toda vez que percebe que é livre, que a vida depende da tua escolha e essa escolha não é tranquila, para escolher é preciso atribuir valor as possibilidades de escolha, aliás essa definição é de dicionário de papelaria, escolher é identificar a alternativa de maior valor, ora, sendo assim ,poderíamos pensar num exemplo, o professor preciso atribuir valor ao aluno, então ele aplica uma prova, ele conclui que o aluno vale 8,0 e qual foi oprotocolo que ele utilizou, ele comparou a prova do aluno a um gabarito, a uma prova nota 10, a uma referência, o que é que você aprende que não existe como atribuir valor sem ter uma referência de comparação, uma referência de contraste, então nesse momento você poderia ser levado a pensar assim “ótimo, nossos problemas acabaram” na hora das dúvidas existenciais basta ter um gabarito da vida, basta ter a vida nota 10, basta ter a referência. Qual é a má notícia? A má notícia é que diferentemente da prova do professor, a vida não tem uma única resposta certa, se você vai ao exército, o primeiro valor do banner é a disciplina e a melhor solução é sempre a mais disciplinada, e na hora da dúvida quando a corneta toca às cinco da manhã você levanta, a disciplina é a referência, mas se você sai do exército e vai para um asilo de idosos, o primeiro valor ali é o repouso, a melhor vida é a mais repousante, e se alguma corneta tocar cinco da manhã os velhinhos no máximo levantam pra fazer xixi e voltam para dormir porque aquilo foi um erro. Você percebe que a disciplina Cortella, é valor, à disciplina manda levantar, o repouso manda continuar dormindo e você está diante de uma sinuca de bico, dependendo do valor que você escolher a solução será uma ou a sua contrária, e aí a pergunta que qualquer um fará, mas que valor vale mais? a disciplina ou repouso? e aí eu digo, esse abacaxi é você que tem que descascar, você que é livre para fazer suas escolhas, também terá que criar uma espécie de hierarquia de valores, e isso eu não poderei fazer por você. Posso dar um segundo exemplo, vamos pegar um valor da moda, a transparência, a transparência era até outro dia um conceito da ótica, atributo do vidro ideal, e foi importado para a ética recentemente, faça de tal maneira a que todos saibam de tudo sobre todos o tempo inteiro em qualquer lugar, a empresa se converte numa casa de vidro, a transparência ajuda a melhorar o cinismo, a hipocrisia, os privilégios, às primazia indevidas, com a transparência à vida e a convivência melhoram, um Comentado [ES1]: Grupos diferente éticas diferentes jogo de cartas o valor maior é o sigilo ou a confidencialidade ,e esse é o contrário da transparência, eu espero que você tenha percebido que no jogo de cartas a transparência não é bem-vinda, aliás em jogo nenhum e o mercado por exemplo é um jogo. Imagine se a sua empresa vai lançar um produto em outubro que vai quebrar as pernas do adversário, todas as esperanças estão ali, as empresas concorrem cabeça a cabeça e você em nome da transparência pega aquele projeto e leva para a empresa vizinha para que possa tomar ciência do projeto antes do projeto ser executado pois será demitido por justa causa, será demitido por quebra de sigilo, porque para que o projeto dê certo é preciso que a empresa concorrente tenha ciência do projeto o mais tardiamente possível, eu espero que você tenha percebido que qualquer valor que você pensar pode ser problematizado e esta complexidade de valores para usar o termo de Edgar Morin, esses valores complexos são a garantia da tua liberdade porque, porque se os valores, eles compusessem uma tabela fechada com um valendo mais do que o outro, se os valores indicassem uma verdade sobre a vida prática a consequência imediata disso seria o fim da liberdade, seria o fim da possibilidade de escolha, mas é porque os valores são complexos que continuamos vivendo a vida cercado de dilemas quando duas alternativas nos parecem igualmente ruins de tri lemas lembras de tetra alemãs exatamente por que por que diante da complexidade dos valores o abacaxi de escolher critérios a nós e dessa responsabilidade não podemos nos eximir. Quais são as referências e princípios que norteiam as nossas ações? No próximo bloco a difícil tarefa de colocar na balança as perdas e ganhos que acompanham cada escolha que fazemos. Se hoje temos mais liberdade de escolha por outro lado também vivemos a angústia que esta liberdade nos traz identificar as alternativas estabelecer uma hierarquia de valores e assumir a responsabilidade de nossa decisão, o que precisamos ter claro são os critérios que vão fundamentar as nossas escolhas. Eu sou responsável pela disciplina de ética na escola de comunicações e artes da USP, eu disse “a angústia te acompanhará” aí uma moça levantou a mão, professor eu tenho um namorado que faz engenharia aqui na frente, estuda na pole, mecatrônica, o senhor pode imaginar o tipinho, mas eu gosto dele, e agora em junho Corpus Christi tem semana do saco cheio, então a gente aproveita para fazer o JUCA - jogos universitários de comunicação, este ano foi em Guaxupé, eu falei com meu namorado, vem comigo, larga disso, descansa um pouco, vamos brincar, vamos divertir, ele não pôde, estava terminando um robô faltavam só duas antenas, assim, para o robô fica pronto, você sabe que tem robô que sem antena ele não fica feliz, então vá você, professor assim que eu desci do ônibus, um rapaz de sunga, só de sunga, musculatura saliente, muito diferente do meu mirrado mecatrônico, não perguntou nem meu nome já me propôs na lata uma cópula furtiva, e foi aí professor que eu lembrei do senhor, eu não entendi, eu não entendia onde Comentado [ES2]: Sigilo x transparencia é que eu entrei na história, ora não é o senhor que diz que a vida não tem fórmulas prontas, que a ética é um exercício de escolha permanente, que os valores são complexos, que a incerteza paira e a gente angustia, é sou eu, então de quem que eu ia lembrar professor, afinal dar ou não dar? Eu espero que você tenha percebido que dependendo do valor que você usa para resolver esse dilema a resposta será uma ou outra, há um valor extraordinário que é o prazer, ninguém pode abrir mão dele mas há por exemplo um outro valor o respeito quando você considera a alegria e a tristeza do outro na hora de decidir livremente a própria vida, e aí pelo respeito ao mecatrônico ela não deveria dar para o marombar do dunga, eu espero que você tenha percebido os dilemas fazem parte da nossa vida, a ética não é uma solução pronta e acabada não se trata de um protocolo simplificador da existência a ética não é autoajuda a ética não se confunde com dez lições para ser feliz, a ética não é o politicamente correto, a ética não é um conjunto de respostas prontas, porque? porque se assim fosse teriam nos escravizados, a ética é emancipadora, devolve para você a liberdade que a sua, contudo que a liberdade tem, angústia, não é professor? O Martin Heidger é um grande pensador como sabem do século 20 ele dizia que a angústia ela é a possibilidade plena, ele dizia que a angústia a sensação às vezes do nada, isto é, quando você sente que você precisa preencher algo que está tua frente, é interessante que o Clovis trouxe à tona é vários tipos de situações em que por trás está a idéia de escolha, isto é, que você precisa ter critérios para escolher, de maneira geral a ética é o conjunto de valores e princípios que você utiliza para a tua conduta, para as suas escolhas, faço ou não faço, vou ou não vou, abro ou não abro, pego ou não pego, transo ou não transo, toda esta lógica ela nos conduz à necessidade de entender a ética como sendo acima de tudo fruto dessa mesma liberdade, e portanto sendo ela resultante de escolha não há possibilidade de entender a ética como sendo algo, primeiro já pronto, como Clovis lembrou várias vezes, segundo que seja absolutamente fácil, não é, afinal de contas quando a gente imagina tanto o exemplo do sigilo quanto da transparência que o Clovis trouxe à tona cautela para não cair numa armadilha, que é imaginar então que a regra é vale tudo, se vale à transparência e vale o sigilo, depende da situação, essa lógica do depende ela é extremamente arriscada, uma coisa é entender a ética como resultante de algo que a relatividade, uma coisa é entender a relatividade das nossas escolhas,dependerá da circunstância do tempo, do momento, da ocasião, outra coisa transformar a relatividade em relativismo, qual é a diferença entre relatividade e relativismo, relatividade é quando eu percebo que a minha escolhas dependem das circunstâncias que eu estou vivendo, e é isso que vai orientar também a minha escolha, relativismo é achar que vale qualquer coisa, tanto faz vale qualquer coisa, vou dar um exemplo que é absolutamente direto nessa percepção quando a gente imagina por exemplo um código de conduta como os dez mandamentos de origem hebraica que depois tanto cristãos como islâmicos acabaram tendo como referência, um dos mandamentos ele hoje é traduzido do jeito que eu vou dizer “não cobiçar a mulher do próximo” se você pegar esse mandamento no original em hebraico, ele vai estar escrito do jeito que eu vou dizer agora, uma coisa é como ele está “não cobiçar a mulher do próximo” em hebraico, no original, quando ele foi produzido o mandamento diz “não cobiçar o boi, a terra e a mulher do próximo” que o mandamento se refere à propriedade e na fidelidade, afinal de contas ele inseria tanto a mulher, quanto o boi, quanto à terra como parte de uma propriedade, não é estranho que assim fosse afinal algumas pessoas assim entendem até hoje, e desse ponto de vista, se eu só vou compreender esse mandamento no modo como está colocado, se eu conseguir relaciona-lo, aí vem sua relatividade ao tempo em que ele foi produzido, e ele é uma obra do século 13 antes de cristo, numa sociedade semítica dentro de um mundo oriental, desse ponto de vista em relação àquele tempo faz sentido escrevendo daquele modo, quando eu atualizo, isto é, trago para agora, seria estranho um mandamento com essa opção “não cobiçar a mulher do próximo” afinal de contas, até algumas décadas a lógica seria essa, hoje eu teria que atualiza-lo e sem ser desrespeitoso as várias religiões que o tem como um dos seus mandamentos, a atualização hoje exigia que eu escrevesse em quatro partes e não mais em uma, isto é não cobiçar a mulher do próximo, não cobiçar a mulher do próximo ou da próxima, não cobiçar o homem da próxima, não cobiçar o homem do próximo. Insisto, sem ser desrespeitoso em quem tem nos mandamentos uma referência, à ideia de uma convivência hoje exige que este mandamento ganhe atualidade, nem sei disso é, então valeu e não vale mais, não, valeu naquele tempo daquele modo, quando o Clovis diz “esse é o nosso abacaxi para ser descascado” é a coisa que não adianta, quando eu penso nas redes sociais, na capacidade de igualdade de gênero, no respeito às relações homoafetivas, não adianta buscar amparo para refletir eticamente em Aristóteles, em Platão, em Descartes, em Heidegger, em Kant, eles podem dar alguma iluminação para algumas questões mais gerais, mais coisas do nosso mundo de agora, são de agora, vou dizer o que pode parecer absolutamente óbvio, mas todo ser humano sempre viveu na era contemporânea sem exceção, todo ser humano sempre viveu na era contemporânea sem exceção, e a ética é uma questão contemporânea, isto é, é uma questão de cada tempo, por isso há algo que nos ajuda a pensar, não existe uma ética universal, ainda não existe, o que mais se aproximou disso como valores gerais é a declaração dos direitos humanos de 1948 mas não existe ética individual, muita gente diz, não, mas na minha ética não há possibilidade de ética individual, a ética é sempre de um grupo, de uma comunidade de uma sociedade. Dizem que a ocasião faz o ladrão, e que todo homem tem seu preço, você concorda com estas máximas no próximo bloco, o que pensam os nossos filósofo sobre isto. Será que existe a possibilidade de não aceitar o que por princípio discordamos, parece que para muitos não, e justificam dizendo por exemplo “a culpa do sistema” não seria esta uma forma de se eximir da responsabilidade pelas escolhas que fazemos? A liberdade que conquistamos implica Comentado [ES3]: Ética – é de cada tempo – é de cada cultura – não é universal – não é individual – é de um grupo em ter sempre a opção de escolher, assim os dilemas se colocam nas mínimas ações de nosso dia a dia. Uma pessoa que vive situações sem ter dilemas, ela está distraída em relação a quais são os valores pelos quais ela faz, e eu tenho muito, muito, mencionei a pouco há questão do mundo hebraico judaico cristão, eu tenho muita cautela quando penso naquilo que tanto judeus, quanto cristãos, quanto muçulmanos, por exemplo, chamam de juízo final, é o juízo final, claro que pode ser uma questão de religião ou não, e eu não quero trata-la como campo da religiosidade, mas quero trazer aqui algo que tem a ver com ética, na crença de algumas religiões o juízo final é quando você vai prestar contas, a prestar contas do que, provavelmente fosse eu a divindade ou as divindades, no juízo final sentaria ao teu lado e disse, na tua vida fez o que fez por que? e por que é que não fez o que deveria ter feito? e aquilo que fez que fez como fez porque não fez de outro modo? aquilo que fez qual é a causa de ter feito? isto é, o juízo não em relação às suas ações boas ou más, é em relação à tua escolha pelas ações boas ou más, há uma frase que ficou por aí que eu acho absurda que diz que a ocasião faz o ladrão, eu não acredito nisso de modo algum, eu acho que a ocasião revela o ladrão, o ladrão ele fez a escolha de sê-lo antes que a ocasião aparecesse, milhões de pessoas têm a ocasião à sua frente e não escolhem serem ladrões, a escolha ela antecede a ocasião, ser ou não? agora tem outra coisa que complica, primeiro, valores são relativos mas não são relativistas, não é que vale qualquer coisa em qualquer lugar, há coisas que nós não queremos que tenham validade, por exemplo, a diminuição da dignidade humana, a diminuição da honra da capacidade vida coletiva, a destruição daquilo que dá sustentação à nossa existência, eu não quero que isso seja relativizado, no entanto, há algo que a gente claro tem que trazer para o nosso território, nós temos dilemas, e esses dilemas eles são a fonte dessa liberdade e essa liberdade nos leva a sofrer, a angústia é um sofrimento, seria bom não ter de escolher em vários momentos, mas não significa que não tenha balançado na situação, nenhuma de nós é imune à fratura ética e eu venho dizendo, e aí passa de novo Clóvis algo em vários lugares. Uma das pessoas que eu mais admiro na minha história é um ex prefeito da cidade de São Borja, vocês sabem que São Borja no rio grande do sul é uma cidade de fronteira e durante as ditaduras do brasil especialmente a ditadura Vargas de 37 a 45, depois a militar de 64 a 84, cidades que são considerados segurança nacional como capitais, fronteira, mananciais, a área de porto, o prefeito ele não era eleito era escolhido pelo ditador ou pela estrutura de direção ditatorial, é há um prefeito de São Borja, aliás São Borja é a cidade de Getúlio, João Goulart e etc, que um dia nomeado pelo Getúlio mandou um telegrama para o rio de janeiro onde era a capital federal na época, que absolutamente genial, este telegrama está no museu nacional no rio de janeiro, o telegrama diz algo que eu acho que é a melhor compreensão sobre ética em relação a dilemas que eu já vi, e que tem a ver claro com a questão central de eu ter de abdicar ou não, o telegrama diz o seguinte, presidente preciso da vossa ajuda, cada homem tem seu preço e eles estão chegando no meu. você tem um preço e eu tenho o um preço, aceitar que paguem é uma escolha, há milhares e milhares e milhares de pessoas no dia-a-dia que se levantam e vão trabalhar se deparam com situações poderiam ser indecentes, nojentas, corruptas, violentas, e não o são, a ocasião não faz o ladrão, ela apenas revela a escolha que ele fez antes que a ocasião viesse à tona e nesta hora nenhuma de nós é imune, porque pra fazer boas escolhas éticas é preciso como diz o Clovis e por favor queria que falasseum pouco agora, é preciso abdicar de alguns apetites. Claro, a ética é um zelo coletivo pela convivência, a ética é um zelo, um zelo que todos temos que ter com esse patrimônio de convivência coletiva, ora é perfeitamente normal que nós individualmente tenhamos pretensões, apetites, desejos, que possam colocar em risco a melhor convivência possível, portanto, a ética é essa disposição inicial que temos para submeter os nossos apetites ao crivo da convivência e satisfaze-los se e somente se esses apetites não forem lesivos a esse patrimônio coletivo, uma sociedade eticamente desenvolvida é uma sociedade em que todos por educação, por cultura, consideramos absolutamente normal abrir mão de parte das nossas pretensões em nome desse zelo coletivo pela convivência, a ética é necessariamente intersubjetiva, a ética é necessariamente social, a ética em inteligência coletiva que busca a melhor convivência possível, porém, como somos todos sociais, como a nossa vida e os nossos corpos são ortopedizados, são estiletadados, são esculpidos pelas nossas relações sociais, é evidente que a nossa vida ética tem consequências afetivas importantes, se eu porventura me agachar e minhas calças se rasgassem, eu ruboresceria porquê? porque a heresia de uma regra social, a ruptura de uma regra social, incorporada, feita corpo determinará no meu corpo uma reação imediata, assim, nossos corpos desde Bordieu e Focault são corpos socialmente construídos, e nossos afetos são inseparáveis das regras e princípios sociais que decidimos respeitar e por isso a ética também é questão de afetos e é por isso que temos vergonha na cara, porque na verdade a vergonha é um afeto especial, a vergonha é uma tristeza particular, todos nós somos essencialmente uma certa quantidade de energia que oscila na hora de viver, o mundo não sai da frente, o mundo não para de se relacionar com o nosso corpo, e alguns mundos em relação com o nosso corpo caem bem e alavancam a nossa energia vital, aquilo que Espinoza chamará de potência de agir, e assim quando nós ganhamos em potência de agir, a isso damos o nome de alegria, passagem para um estado mais potente e perfeito do nosso próprio ser, isto se dá nas relações com o mundo, nas experiências com o mundo, muito bem, os exemplos de alegria vão ao infinito, mas não é todo dia que tem pão quente, às vezes o mundo entristece, é quando você se apequena ,quando você se acanha, quando você brocha, quando você perde a libido, perde tesão e etc, assim o mundo tem uma capacidade infinita para entristecer, desde o semáforo que fecha na hora que você vai passar, até alguém que ocupa o único lugar vago no banco de ônibus, até enfim algum discurso cínico que você ouve na televisão, o mundo é super variado na hora de entristecer, mas existe e você que tá me ouvindo agora pediria que me acompanhasse, existe uma tristeza especial, é uma tristeza que tem uma causa especial e essa causa é o próprio comportamento, a vergonha é uma tristeza determinada por um atributo flagrado em si mesmo, a vergonha é uma tristeza que tem como causa o próprio eu, aliás, a vergonha é uma fé tumoral por excelência, e por quê? porque a moral é isso, é uma reflexão do eu com o eu sobre como é que o eu deve fazer, deve agir, deve proceder, à moral e quando não tem ninguém olhando, a moral e você com você mesmo, a moral independe de castigo, a moral independe de repressão, a moral independe de radares fiscalizadores, a moral independe de câmeras que flagram e registram, a moral é aquilo que você não faria por que você não faz isso por princípio, e é claro tem horas que você age e não fica contente com o que fez, tem horas que você age e lamenta por ter agido como agiu, tem horas que você é causa da tua própria tristeza, pois muito bem, tem horas que você se envergonha, o risco maior é perder a capacidade de se entristecer consigo mesmo, o risco maior é o de perder a vergonha na cara, o risco maior é o risco de não perder a face, tornar- se blindado, autista moral, imune, e você age mal e já não se incomoda mais com isso, e você se flagra canalha, e não se apequena com isso, e aí você tornou-se sem vergonha, e o sem vergonha é uma crosta afetiva e um enorme risco social. Ética é uma questão de prática de reflexão? Ética depende do caráter? no próximo bloco. não existe ética universal nem individual ela é sempre de um grupo, de uma comunidade como dizem nossos convidados de hoje, a ética é uma inteligência coletiva que estabelece os princípios para a boa convivência de uma sociedade, por isso ética é uma questão de cada tempo, de cada cultura. A Luzia pergunta se a falta de ética reflete a ausência de bom caráter. Aristóteles tinham um entendimento sobre ética que não coincide rigorosamente com o nosso, Aristóteles acreditava que ética fosse uma reflexão sobre a vida como um todo e até o fim da vida é possível dar a ela um encaminhamento nobre, ora, o que a vida tem que ter pra valer a pena? segundo Aristóteles, Aristóteles que era biólogo, que era botânico, comparava a nossa vida a muda de uma planta, a planta enquanto muda é uma grande possibilidade de tornar-se uma grande árvore, e dependendo da vida que a planta levar ela vai vingar, ora, nós também, nascemos muda, nascemos potência, nascemos com recursos naturais, e talentos e habilidades aquilo que Aristóteles chamava de virtudes, e esses nossos recursos naturais poderão ser atualizados, transformados em performance e assim aos poucos vamos nos tornando uma grande árvore, vamos portanto buscando a excelência da nossa vida, para Aristóteles a ética está diretamente ligada a uma certa prática que se repete, como se a vida fora um treinamento mesmo, um aperfeiçoamento progressivo dos próprios talentos, a idéia de caráter é a ideia de repetição de comportamento digno, Aristóteles estava convencido de que quanto mais nós agirmos dignamente por costume, por hábito, mais teremos chance de ser excelentes, não é bem essa a nossa proposta, sabe por quê, porque no fundo no fundo, Aristóteles entendia a ética como os personais entendem a ginástica, vá fazer ginástica todo dia no mesmo horário, assim você nem pensa, você acorda e já vai fazer, você percebe que a idéia de caráter, a ideia de hábito e de costume para Aristóteles tem muito a ver com o comportamento digno que decorre de um hábito que dispensa a articulação intelectiva o tempo inteiro, ora, nós aqui temos em relação à ética um olhar um pouco diferente, sabe por quê, porque acreditamos mesmo que pode até ser arriscado, talvez a dignidade por hábito seja mais garantida, acreditamos que a ética depende mesmo dessa capacidade que é a nossa de pensar, deliberar, decidir e escolher a cada momento da nossa vida, portanto veja Luzia, a nossa dignidade decorre da audacia, da coragem de enfrentar as dificuldades da decisão livre, procurando até mesmo não aceitar a habitualidade impensada, mas pelo contrário em dar a deliberação diária em nome de um aperfeiçoamento progressivo da convivência porque se nos filiarmos no hábito, se nos filiarmos na cotidianidade, se nos filiarmos na repetição, teremos menos capacidade para subverter, para revolucionar , para fazer diferente e para encarar um mundo cada vez mais desafiador que condena nossos hábitos e nossos costumes a uma inadequação segundo a segundo. E aí é algo que eu acho que é forte, e eu não queria não palpitar sobre isso, a idéia de caráter ela tem uma percepção etmologica que aquilo que te marca, em português lusitano ficaria mais claro que seria caracter, de onde vem característica, isto é, aquilo que te marca, aquilo que dá a tua identidade, aquilo que fica em você, é resignado no sentido de algo que está estruturante, nesta hora acho que caráter e ética estão ligados a uma coisa decisiva, aquilo que é tua característica, isto é, o teu modo de ser, tem valores e princípios que o levam a uma açãoe essa ação como lembrou Clovis agora, resulta de uma escolha, de uma decisão, diferentemente de Aristóteles não é uma característica que já está pronta desde sempre, e que você só atualiza, é uma potência que virá ato, é uma virtude que se torna real, é uma escolha no caminho, e por isso o caráter ele é uma construção, ele não é um fato de nascimento que vai contígo até o teu final, portanto caráter também é escolha. Em 2012 durante uma maratona na Espanha Fernández Anaya surpreendeu o público, ele era o segundo colocado da prova quando viu o queniano Abel Mutai que liderava com folga diminuir o ritmo a poucos metros da vitória, por achar que já havia cruzado a linha de chegada, o que fez o espanhol, ao invés de aproveitar a oportunidade para vencer a corrida alertou o concorrente e o empurrou até à vitória. O jornalista veio com o microfone e disse assim “porque você fez o que fez” e o menino espanhol disse “fiz o que” ele não compreendeu a pergunta, ele tem valores de conduta em que essa pergunta não faz sentido, o jornalista insistiu disse mas por que o senhor fez isso, ele disse isso que, ele não compreendeu, ele não achou que houvesse outra coisa a fazer do que aquilo que ele houvera feito, o jornalista insistiu, o senhor deixou ele, ele disse eu não deixei ele ganhar, ele ia ganhar, então mas ele estava distraído, então se eu ganhasse desse modo qual seria o mérito da minha vitória, o que é que eu ia pensar de mim mesmo, certo, sem câmeras, aliás ele disse uma coisa mais interessante, se eu subisse no pódio no lugar de número 1 qual seria a honra da minha vitória, qual seria a dignidade do meu sucesso, mas aí disse a coisa mais bonita que eu vi em 2012 ele disse, se eu fizesse isso o que eu ia falar pra minha mãe, sabe porque, é que a mãe é o último reduto só não quero envergonhar seja sua mãe quem for ou quem foi, se aquela pessoa que te deu à luz isto é que trouxe ao mundo, se ela ficar com vergonha de ter te parido é porque você não presta, não presta pra que, pra conviver, para estar junto, para ser gestor público ou privado, para ser professor, pra ser marido ou esposa, para ser amigo ou amiga, a mãe é o último reduto pode parecer romântico, mas a vergonha ela tem uma fonte matricial, que é o mais fundo do teu eu, que aquilo que te gerou, não quero fazer aqui um tolo elogio a questão da maternidade em si eu tô falando de outra coisa, aquilo que você não quer envergonhar. Immanuel Kant grande filósofo alemão do século 18 tem uma frase que é estupenda, ele dizia, isso é um princípio que vale para qualquer lugar, ele dizia, tudo o que não puder contar como fez, não faço, tudo o que não puder contar como fez não faça, que se há razões para não contar essas são as razões para não fazer, claro que ele não está falando contra o sigilo e a privacidade, ele está dizendo tudo o que não puder contar como fez, que se alguém ficar sabendo que vai ficar com vergonha de ter feito, então nem faça. Nesta hora eu citei várias vezes algumas regiões, me lembro talvez daquela que para mim é a mais forte expressão ética que já vi, que aparece numa das cartas do apóstolo Paulo dos cristãos , esta la no capítulo 6 versículo 12 o apóstolo dos cristãos escreveu, tudo me é lícito mas nem tudo me convém, isto é, eu posso fazer qualquer coisa por que sou livre, mas não devo fazer qualquer coisa, que naõ devo fazer o que torna imunda minha história, o que mancha a minha trajetória, o que agride a minha comunidade, o que envergonha a mim mesmo, o que entristece minha mãe. meu coração está no escuro, a luz é simples regada ao conselho simples do meu pai, minha mãe, minha avó e os justos que os precederam, não roubarás devolva o lápis do coleguinha, esse apontador não é seu filho, ao invés disso tanta coisa nojenta e torpe eu tive que escutar, até habeas corpus preventivo, coisa da qual nunca tinha visto falar e sobre o qual minha pobre lógica ainda insiste, esse é o tipo de benefício que só ocupado interessará, pois bem, se mexeram comigo uma velha e fiel fé do meu povo sofrido, então agora vou sacanear, mais honesto ainda vou ficar só de sacanagem, dirão deixa de ser bobo desde Cabral que aqui todo mundo rouba, e eu direi, não importa esse será meu carnaval, vou confiar mais e outra vez, eu e meu filho e meu irmão e meus amigos, vamos pagar limpo a quem a gente deve, e vamos receber limpo do nosso freguês, com o tempo a gente consegue ser livre, ético e escambau, dirão é inútil, todo mundo aqui é corrupto desde o primeiro homem que veio de Portugal, eu direi, eu não admito, a minha esperança é imortal, e eu repito, ouviram, imortal, sei que não dá para mudar o começo mas se a gente quiser vai dar para mudar o final. Numa sociedade em que a degradação em várias circunstâncias se omitir é ser cumplice. A escola não nos proporciona condições para uma reflexão analítica sobre o nosso comportamento moral.
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