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Mineralogia Volume I Propriedades físicas e químicas de minerais Autor: Akihisa Motoki Colaboradores: Dean Pereira de Mello, Aline Freitas da Silva, Giannis Hans Petrakis, Kenji Freire Motoki Aurélio Kasakewitch Ribeiro Departamento de Mineralogia e Petrologia Ígnea Faculdade de Geologia Universidade do Estado do Rio de Janeiro Ver. 1.3, 01 de março de 2014. Prefácio Minerais são unidades básicas de materiais sólidos que constituem o Planeta Terra. O estudo de minerais é denominado mineralogia e, é uma matéria básica essencial de todos os campos de ciência da Terra. Dessa forma, a mineralogia é o primeiro degrau para conhecer o nosso planeta. É aconselhável que os alunos iniciantes de graduação dominem as matérias fundamentais, inclusive a mineralogia, até o ponto de decorar nos demais assuntos. Para isso, além das aulas, os estudos repetidos fora da sala de aula são importantes. Livros didáticos são de importância fundamental para os alunos leitores. É preferível que os alunos de graduação de cursos científicos e tecnológicos estudem as matérias fundamentais com base no idioma nacional, especialmente no caso dos calouros. Os livros e artigos escritos em idiomas estrangeiros são necessários a partir do curso de mestrado. Na década de 1970, foi traduzida a primeira edição do livro Manual de Mineralogia (Dana, J.D., 1863, T. Bales & Co. Filadélfia, Estados Unidos da América) em português pelos membros da Academia Brasileira de Letras. A edição em dois volumes abrange importantes matérias da mineralogia clássica e tem sido utilizada amplamente nas universidades brasileiras. A publicação continuou até 1986 pela Editora da Universidade de São Paulo, porém atualmente sua distribuição comercial está encerrada. O presente livro didático oferece matérias básicas de mineralogia para alunos de graduação de cursos científicos e tecnológicos em geral. Os alunos do curso de geologia precisam de estudos mais avançados. Portanto, este livro contribui para os estudos de matérias fundamentais. O autor deseja que, através dos estudos de mineralogia, os leitores desenvolvam o interesse em geologia, aprofundando a compreensão do Planeta Terra, a importância do meio ambiente e o significado dos seres vivos, inclusive o ser humano. Primeiro de março de 2014, Akihisa Motoki Sumário 1. Introdução - 1 2. Rochas e minerais - 2 3. Estrutura cristalina - 3 3.1. Sistemas cristalinos - 4 3.2. Hábitos cristalinos - 5 4. Forma de rompimento - 7 4.1. Clivagem - 7 4.2. Partição - 7 4.3. Fratura - 7 5. Tenacidade - 8 6. Dureza - 9 6.1. Dureza relativa de Mohs - 9 6.2. Outros padrões de dureza - 10 7. Peso específico - 11 8. Diafaneidade - 13 8.1. Diafaneidade macroscópica - 13 8.2. Diafaneidade microscópica - 13 9. Brilho - 14 9.1. Brilho metálico - 14 9.2. Brilho não metálico - 15 10. Cor de minerais - 16 10.1. Cor macroscópica - 16 10.2. Cor de traço - 17 10.3 Propriedades multicolores - 17 11. Refração - 19 11.1. Índice de refração - 19 11.2. Birrefringência - 20 12. Luminescência - 21 13. Propriedades eletromagnéticas - 23 13.1. Piezoeletricidade - 23 13.2. Magnetismo - 24 14. Classificações químicas de minerais - 25 15. Origem de elementos - 27 15.1 Síntese de elementos nas estrelas - 27 15.2. Abundância cósmica de elementos - 30 16. Elementos típicos e de transição - 34 17. Elementos incompatíveis e compatíveis - 35 18. Força de ligação dentro dos cristais - 38 18.1. Ligação iônica - 38 18.2. Ligação covalente - 41 18.3. Ligação metálica - 41 18.4. Ligação molecular - 41 18.5. Minerais com mais de uma ligação - 41 19. Coordenação - 41 20. Substituição iônica - 43 21. Polimorfismo - 44 22. Pseudomorfo - 45 23. Minerais amorfos - 46 24. Ensaios de análises qualitativas - 47 24.1. Cor de chama - 47 24.2. Redução com o auxílio de placa redutora - 49 24.3 Sublimação - 50 24.4. Ensaio de aquecimento em tubo aberto - 52 24.5. Ensaio de aquecimento em tubo fechado - 52 24.6. Temperatura de fusão - 53 25. Análises instrumentais por aparelhos - 54 25.1. Difratômetro de raios-X - 54 25.2. Fluorescência de raios-X - 55 25.3. Emissão atômica por plasma acoplado indutivamente - 56 25.4. Fotômetro de chama - 57 24.5. Microssonda eletrônica - 57 24.6. Espectrômetros de massa por plasma - 58 24.7. Espectrometria de absorção atômica - 59 Palavras-chave - 60 Mineralogia Volume 1: Propriedades físicas e químicas de minerais - 1 - 1. Introdução A Terra é o planeta em que os seres vivos habitam. Todas as vidas sobrevivem aproveitando materiais e energias existentes neste planeta (Figura 1.1). Os seres vivos surgiram da Terra utilizando-se os materiais constituintes neste planeta. Considera-se que a primeira vida surgiu na superfície da pirita, um mineral de sulfeto de ferro. Minerais são unidades fundamentais dos materiais constituintes de estado sólido da Terra. Neste sentido, estudos de minerais são fundamentais para conhecer a Terra. O estudo da Terra é chamado de geologia e o estudo de minerais, mineralogia. A mineralogia é um pilar essencial da geologia. Figura 1.1. O Planeta Terra e os materiais necessários para a civilização: A) Terra vista da nave espacial Apollo 17; B) Carvão mineral, um recurso energético; C) Minério de ferro, um recurso mineral. As fontes são originadas da NASA e Wikimedia Commons de licença livre. As indústrias modernas necessitam de materiais naturais que são pouco abundantes na superfície da Terra. Os materiais interessados são retirados a partir das localidades em que ocorre concentração anormalmente alta, denominadas depósitos minerais. Dentre esses, aqueles com viabilidade econômica para extração comercial são chamados de jazidas. A geologia moderna surgiu originalmente como uma ciência exata para contribuir à mineração, descobrindo depósitos minerais, mensurando reserva total e avaliando viabilidade econômica. Jornais e revistas em geral eventualmente utilizam o termo mineral para indicar recursos subterrâneos de estado sólido. Figura 1.2. Extração de recursos naturais subterrâneos: A) Mina Santa Rita de cobre em New Mexico, Estados Unidos da América; B) Pedreira Santa Rita de brita em Farroupilha, RS. A foto A é originada de Wikimedia Commons de licença livre. As fotos com a fonte não indicada são originais do autor. A geologia moderna possui uma outra contribuição relevante. Na medida em que estuda a dinâmica interna do Planeta Terra, visa esclarecer a importância do ser humano na busca da convivência entre a civilização e o meio ambiente. O ser humano é a primeira vida da Terra com a inteligência para considerar o significado da sua existência. No Século XXI, o Mineralogia Volume 1: Propriedades físicas e químicas de minerais - 2 - ser humano deve optar o caminho para desenvolvimento sustentável ou para extinção por esgotamento dos recursos. 2. Rochas e minerais A superfície da Terra é coberta geralmente por solo, chamado de regolito. Abaixo dessa, ocorre a parte composta de materiais silicáticos que constituem a crosta terrestre. Em determinadas localidades na superfície da Terra, esses materiais são expostos sem cobertura de regolito, chamadas de afloramentos. Geólogos estudam os afloramentos e seus materiais constituintes. De acordo com o tamanho e as propriedades físicas e químicas, as unidades da crosta são classificadas em corpos geológicos, rochas e minerais (Figura 2.1). Figura 2.1. Ilustrações esquemáticas e fotografias de: A) Corpo geológico, o dique de gabro em Cabo Frio, RJ; B)Rocha, a granada anfibolito de Aiuruoca, MG; C) Mineral, o hiperstênio do Vulcão Lautaro, Patagônia chilena. Todas as ilustrações e as fotos com a fonte não indicada são originais do autor. Os corpos geológicos são unidades que compõem a crosta terrestre. O tamanho é variável, desde centimétrica até quilométrica. Esses são estudados através de trabalhos de campo. As unidades observadas no campo, tais como fluxo de lava, dique, sill, batólito e stock, são exemplos (Figura 2.1A). O estudo de corpos geológicos é denominado geologia. Rochas são materiais constituintes de corpos geológicos, sendo tratadas em tamanho de amostras de mão, em torno de 10 cm. Granito, riolito, basalto, gabro, arenito, calcário, gnaisse e mármore são exemplos (Figura 2.1B). As rochas são estudadas em laboratórios e os estudos de rochas são chamados de petrologia. Existem corpos geológicos constituídos por uma rocha, porém existem também aqueles compostos de mais de uma rocha. Rochas são materiais heterogêneos, sendo compostas de várias fases. Cada fase é química e fisicamente homogênea, denominada mineral. Quartzo, ortoclásio, plagioclásio, biotita, hornblenda, topázio, rubi, turmalina, diamante, pirita, calcopirita, arsenopirita, molibdenita e esfalerita são exemplos (Figura 2.1C). O tamanho de minerais varia de micrométrico até centimétrico. O estudo de mineral é denominado mineralogia. Na maioria Mineralogia Volume 1: Propriedades físicas e químicas de minerais - 3 - dos casos, minerais são definidos pela estrutura cristalina. O estudo da forma e estrutura de cristais é chamado de cristalografia. Existem minerais com forma externa de cristal. Há os minerais sem forma externa de cristal, porém com estrutura cristalina. Existem também os que não possuem estrutura cristalina, sendo compostos de vidro ou agregado de colóide. Esses são denominados materiais amorfos, chamados de mineralóides. Opala é um exemplo. Minerais são identificados por meios físicos, químicos e cristalográficos. Os meios físicos são simples, rápidos e de baixo custo. Os meios químicos são de custo mais elevado, porém fornecem informações precisas, especialmente para os minerais com importância econômica. As análises cristalográficas por difratômetro de raios-X são mais precisas. Este estudo é útil especialmente para argilo-minerais e zeólitas, que são difíceis a ser identificados através de observações ao microscópio óptico. Em idioma português, nomes de rochas tendem a ser expressos na forma masculina, tais como granito, andesito, basalto, e nomes de minerais na forma feminina, como muscovita, magnetita e pirita. Alguns minerais têm nomes masculinos, como quartzo, feldspato alcalino e plagioclásio. Certos minerais têm mais de um nome devido às traduções não unificadas, tais como, microclínio e microclina, glaucofânio e glaucofana, coríndom, corindom, coríndon, corindon, coríndo e corindo, caulim, caulin, caolim, caolin e cauli, etc. 3. Estrutura cristalina Cada mineral tem suas propriedades físicas específicas, tais como forma, cor, brilho, fratura, dureza, etc. Essas podem ser examinadas com instrumentos simples de baixo custo, como lupa, canivete, agulha para costura, etc. A estrutura cristalina é originada do arranjo tridimensional ordenado e regular dos átomos, íons ou moléculas constituintes. Mesmo que sejam constituídos por elementos idênticos, quando as estruturas cristalinas são diferentes esses são classificados como minerais diferentes. Como por exemplo, diamante e grafita são constituídos por carbono puro, tendo a mesma composição química. Porém, suas estruturas cristalinas são diferentes (Figura 3.1, 3.2) e possuem propriedades físicas muito diferentes. Grafita tem muito baixa dureza e diamante possui muito alta dureza. Junto com a argila, a grafita é utilizada para fabricação de ponta de lápis e lapiseira, com nome comercial grafite. Figura 3.1. Ilustração esquemática das estruturas cristalinas de: A) Diamante; B) Grafita. As distâncias entre os átomos desenhadas nas ilustrações são exageradas em relação ao raio atômico. As ilustrações deste livro são originais do autor. Mineralogia Volume 1: Propriedades físicas e químicas de minerais - 4 - Figura 3.2. Ginástica montada, um exemplo similar às estruturas de rede cristalina de minerais: A) Pirâmide da Catalunha; B) Pilar de Poseidon. As montagens são constituídas pelos mesmos membros componentes, porém as estruturas são diferentes. Fotos obtidas em primeiro de dezembro de 2013 no CCRJ da BSGI. 3.1. Sistemas cristalinos O mineral que tem sua forma externa definida pelos planos de cristalização é chamado de mineral idiomórfico. Conforme a lei da constância de ângulos interfaciais, pode-se especificar a estrutura cristalina do mineral através da medida dos ângulos interfaciais. Nos séculos retrasados, os estudos cristalográficos eram baseados nos métodos macroscópicos de goniômetro de contato e de reflexão. O goniômetro é o instrumento que mede o ângulo entre as faces cristalinas. Cada cristal tem intervalos atômicos ou iônicos específicos. Em 1912, W.H. Bragg e W.L. Bragg (pai e filho) descobriram a difração de raios-X. Por outro lado, em 1912 Laue descobriu a interferência de raios-X. Os estudos de Bragg se desenvolveram, resultando hoje em dia em difratometria de raios-X pelo método de pó e, os de Laue na câmera de Laue pelo método monocristal. Estes aparelhos determinam comprimentos das arestas representados por a0, b0, c0, e os ângulos entre essas, α, β, γ. O ângulo entre as a0 e b0 é chamado de γ; o ângulo entre b0 e c0, de α e, o ângulo entre c0 e a0, de β. Estes parâmetros são chamados de índices cristalográficos (Figura 3.3). O difratômetro de raios-X é diferente da fluorescência de raios- X. O difratômetro analisa a estrutura cristalina e a fluorescência, a composição química. Figura 3.3. Ilustração esquemática dos seis sistemas cristalinos: A) Isotrópico; B) Tetragonal; C) Ortorrômbico; D) Monoclínico; E) Triclínico; F) Hexagonal. Mineralogia Volume 1: Propriedades físicas e químicas de minerais - 5 - Conforme o grau da simetria da estrutura cristalina, os minerais são classificados em 6 sistemas cristalográficos: 1) Isotrópico; 2) Tetragonal; 3) Ortorrômbico; 4) Monoclínico; 5) Triclínico; 6) Hexagonal (Tabela 3.1). Tabela 3.1. Diferenças entre os seis sistemas cristalinos. Sistema Simetria Forma exemplar Exemplos isotrópico A0=b0=c0, α=β=γ=90°, cúbica pirita, diamante, granada tetragonal A0=b0≠c0, α=β=γ=90° coluna quadrada zircão, rutilo ortorrômbico A0≠b0≠c0, α=β=γ=90° paralelepípedo olivina, ortopiroxênio monoclínico A0≠b0≠c0, α=γ=90°≠β paralelepípedo inclinado clinopiroxênio, ortoclásio triclínico a≠b≠c, α≠β≠γ paralelepípedo paralelogonal plagioclásio, calcita hexagonal a0≠c0, α=β=90°, γ=120°, coluna hexagonal quartzo, coríndon, biotita O sistema isotrópico, chamado também de sistema cúbico ou isométrico, possui a maior simetria. Os eixos têm comprimentos iguais e se cruzam em 90° (Figura 3.3A, 3.4A). Os minerais apresentam forma cúbica ou octaédrica. Diamante e pirita são exemplos. O sistema tetragonal tem um eixo com comprimento diferente, denominado eixo C. Os três eixos se cruzam em 90°, Os minerais têm forma de coluna tetragonal (Figura 3.3B, 3.4B). Zircão e rutilo são exemplos. O sistema ortorrômbico possui três eixos com comprimentos diferentes, que se cruzam em 90° (Figura 3.3C, 3.4C). Olivina, ortopiroxênio são exemplos. O sistema monoclínico possui um eixo que não se cruzam com 90°. Os comprimentos dos três eixos são diferentes (Figura 3.3D, 3.4D). Clinopiroxênio e ortoclásio são exemplos. O sistema triclínico tem comprimentos dos eixos diferentes e não são 90°. Além disso, todos os três ângulos também são diferentes. Esse possui a maior assimetria nos seis sistemas cristalinos (Figura 3.3E, 3.4E). Plagioclásio e calcita são exemplos. O sistema hexagonal possui forma de coluna reta com base hexagonal,sendo de forma diferente dos outros sistemas (Figura 3.3F, 3.4F). Quartzo e coríndon são exemplos. Figura 3.4. Minerais exemplares dos seis sistemas cristalinos: A) Isotrópico, pirita; B) Tetragonal, zircão; C) Ortorrômbico, olivina; D) Monoclínico, augita; E) Triclínico, plagioclásio; F) Hexagonal, berilo. A foto B é uma imagem fotomicrografia. Fotos originadas de Wikimedia Commons de licença livre. 3.2. Hábitos cristalinos Hábito cristalino é uma expressão descritiva de forma externa de minerais ou forma coletiva de agregado de minerais. As seguintes expressões são freqüentemente utilizadas na literatura (Figura 3.5, 3.6). Mineralogia Volume 1: Propriedades físicas e químicas de minerais - 6 - A. Amigdaloidal: Forma amendoada, como heulandita, um tipo zeólita. B. Equidimensional: Mesmo comprimento em qualquer direção, como pirita. C. Colunar: Forma ligeiramente comprida, como calcita. D. Prismático: Forma comprida, como augita, um clinopiroxênio. E. Acicular: Forma muito comprida, turmalina. F. Fibroso: Forma extremamente comprida, como tremolita. G. Laminar: Forma delgada e comprida, como cianita. H. Tabular: Forma de tabua, como monazita. I. Botrioidal: Agregados de forma de uva, como goetita. J. Dendrítico: Agregados com ramificação bem desenvolvida, como pirolusita. Figura 3.5. Ilustração esquemática de principais hábitos cristalinos de minerais. Figura 3.6. Hábitos cristalinos peculiares: A) Heulandita com hábito amigdaloidal; B) Goetita com hábito botrioidal; C) Pirolusita com hábito dendrítico. A foto C é pseudofóssil encontrado em Basalto da Serra Gaúcha (nome comercial), que é um tipo de tufo soldado de composição de riolito. As fotos A e B são originadas de Wikimedia Commons. 4. Forma de rompimento Quando minerais são submetidos a uma força externa destrutiva, como impacto por martelo, esses se rompem. Existem várias formas de rompimento, ou seja, desintegração mecânica. São conhecidas as seguintes formas: 1) Clivagem; 2) Partição; 3) Fratura. 4.1. Clivagem Certos minerais se rompem sempre ao longo de determinados planos paralelos. Tal tipo é denominado clivagem (Figura 4.1). Minerais da família de mica possuem plano desenvolvido de clivagem em uma direção, rompendo-se na forma de placas. Piroxênios e anfibólios possuem clivagem desenvolvida em duas direções, rompendo-se na forma colunar. Halita (NaCl, sal comum) e calcita possuem clivagem destacada em três direções, rompendo- se na forma cúbica. Berilo e apatita também têm clivagem, porém, são menos desenvolvidas. Mineralogia Volume 1: Propriedades físicas e químicas de minerais - 7 - Figura 4.1. Formas de clivagem de clivagem desenvolvida em: A) Uma direção de biotita (mica preta de ferro); B) Uma direção de muscovita (mica branca de alumínio); C) Duas direções de anfibólio; D) Três direções de calcita. De acordo com grau de desenvolvimento, as clivagens são classificadas descritivamente em: 1) Perfeita, 2) Muito desenvolvida, 3) Desenvolvida e 4) Pouco desenvolvida. Clivagem é originada da estrutura cristalina do mineral, ou seja, configuração tridimensional de átomos ou íons. Portanto, ocorre sempre em direções paralelas aos planos do arranjo atômico, sendo paralelas aos planos de cristalização. Na direção paralela aos planos de clivagem, existe uma forte ligação entre os átomos constituintes. Porém, na direção perpendicular, a ligação é fraca. Tal diferença origina a clivagem. Obviamente, os planos de clivagem são intimamente relacionados às direções cristalográficas. 4.2. Partição Determinados minerais possuem planos paralelos com menor resistência mecânica, e se rompem ao longo desses, o fenômeno denominado partição. Essa é similar à clivagem, mas se observa apenas nos minerais de determinadas formas de ocorrência ou hábito. Sendo diferente da clivagem, a partição é gerada durante crescimento do cristal e, portanto é chamada também de falsa clivagem. A partição é originada geralmente de geminação polissintética ou concentração de impurezas ao longo dos planos. Partição octaédrica de magnetita, a basal de piroxênio, e a hexagonal de coríndon são exemplos (Figura 4.2). Figura 4.2. Partição basal de coríndon vermelho, conhecido como rubi (A), e de magnetita (B). Fotos originadas de Wikimedia Commons. 4.3. Fratura Existem minerais que não possuem clivagem nem partição, rompendo-se nas direções não paralelas aos planos do cristal. Normalmente, o plano de rompimento não é reto. Tal forma é denominada fratura. Quartzo possui planos bem desenvolvidos de cristalização na forma de coluna hexagonal mas, mesmo assim, não demonstra plano de clivagem. A superfície do rompimento tem aspectos similares aos de fragmentos de vidro. São conhecidas descritivamente algumas formas de fratura. Mineralogia Volume 1: Propriedades físicas e químicas de minerais - 8 - 1) Fratura conchoidal: Fratura com superfícies lisas e curvadas de modo semelhante à superfície interna de uma concha. Este tipo é observado comumente em quartzo e vidro. Encontra-se, também, no modo de rompimento de uma gelatina. Quartzo e obsidiana apresentam relevante fratura conchoidal (Figura 4.3). 2) Fratura acicular: Rompimento na forma de agulhas ou fibras finas. Certas ocorrências conhecidas como fraturas aciculares correspondem, na verdade, às clivagens ultrafinas e bem desenvolvidas em duas direções. Amianto e olho de tigre, nomes comerciais de determinados tipos de anfibólio e de jaspe, são exemplos. 3) Fratura serrilhada: Rompimento segundo uma superfície de forma dentada, irregular, com bordas angulosas. É encontrada eventualmente em ouro nativo, prata nativa e cobre nativo. 4) Fratura irregular: Rompimento formado por superfícies rugosas e irregulares. Figura 4.3. Fratura conchoidal de quartzo: A) Ilustração; B) Foto. 5. Tenacidade Tenacidade corresponde ao comportamento de deformação de minerais diante de forças externas. O exame é feito com o auxilio de uma agulha para costura. Ouro (Au), pirita (FeS2) e calcopirita (CuFeS2) possuem cor amarela e brilho metálico. Esses são identificados por meio do exame de tenacidade. Ouro se deforma plasticamente devido à tenacidade maleável, calcopirita quebra com facilidade por causa da propriedade frágil e, a pirita não se deforma nem quebra. São utilizadas as seguintes expressões descritivas (Figura 5.1). Dentre esses, as propriedades maleável, dúctil e flexível representam deformação plástica. 1) Frágil: O mineral é rompido ou pulverizado facilmente por pequenos esforços. Calcopirita e minerais de argila são exemplos (Figura 5.1A). 2) Maleável: O mineral é estendido por uma força compressiva, transformando-se em uma folha por deformação plástica (Figura 5.1B). Elementos nativos do grupo do cobre, platina, ouro, prata, cobre, etc., possuem esta propriedade. 3) Séctil: O mineral é cortado por faca ou canivete em folhas finas. Os elementos nativos do grupo do cobre têm esta propriedade. 4) Dúctil: O mineral é extraído e alongado por uma força distensional formando fios. Elementos nativos do grupo do cobre têm esta propriedade. 5) Flexível: Diante de um esforço, o mineral se deforma plasticamente. Mesmo após a retirada do esforço, não retoma a sua forma original. Clorita e talco são os exemplos (Figura 5.1C). 6) Elástica: Diante de um esforço, o mineral se deforma, porém após a retirada do esforço, o mineral retoma à forma original. Muscovita apresenta notável característica elástica. Quase todos os minerais demonstram esta propriedade diante de pequeno esforço (Figura 5.1D). Mineralogia Volume 1: Propriedades físicas e químicas de minerais - 9 - Figura 5.1. Ilustração esquemática de tenacidades de minerais: A) Frágil; B) Maleável; C) Flexível; D) Elástico. 6. Dureza Na mineralogia, dureza corresponde a um parâmetro de resistência mecânica da superfície de minerais. Quanto maior for a força de interligação,tanto maior será a dureza. A dureza é definida através de ensaios de risco entre dois minerais. A determinação de dureza relativa de risco deve ser feita alternadamente. Isto é, examina-se em primeiro se o mineral A é riscado pelo mineral B, e em seguida, se o B é riscado pelo A (Figura 6.1). O exame da dureza deve ser feito utilizando-se minerais não alterados por intemperismo. Um mineral alterado é facilmente riscado por outros minerais não alterados de dureza menor. Figura 6.1. Exame de dureza relativa de risco: A) Riscando calcita por quartzo, resultado positivo; B) Tentando riscar quartzo por gipsita, resultado negativo. 6.1. Dureza relativa de Mohs Em 1832, F. Mohs apresentou uma escala com 10 minerais padrões de dureza, denominada escala de dureza relativa de Mohs. Os minerais são talco, gipsita, calcita, fluorita, apatita, ortoclásio, quartzo, topázio, coríndon e diamante. Até o presente, esta escala é utilizada. A Tabela 6.1. apresenta os minerais padrão. Tabela 6.1. Minerais padrão da escala de dureza relativa de Mohs. Dureza Padrão Composição química Observações 1 talco Mg3Si4O10(OH)2 Risca-se com unha. 2 gipsita CaSO4⋅2H2O Risca-se com plástico comum e prego. 3 calcita CaCO3 Risca-se com prego e canivete de aço. 4 fluorita CaF2 Risca-se com lima de aço e vidro de quartzo. 5 apatita Ca5(PO4)3(OH,F,Cl) Material constituinte de ossos de animais. 6 ortoclásio KAlSi3O8 Não se risca com prego. Dureza próxima à do vidro comum. 7 quartzo SiO2 Não se risca com canivete de aço e vidro comum. 8 topázio Al2SiO4(OH,F) 2 Não se risca com lima de aço. 9 coríndon Al2O3 Material correspondente a abrasivo Alundum. 10 diamante C Nenhum material pode riscar o diamante. O talco, que é o mineral padrão da dureza 1, é facilmente riscado pela unha. Desta forma, a dureza da unha humana é superior a 1. A calcita, o mineral padrão da dureza 3, é riscada por prego porém, o ortoclásio, com dureza 6, não é riscado. O quartzo, o mineral padrão de dureza 7, não é riscado mesmo por canivete de aço. Calcário e mármore são compostos quase totalmente de minerais carbonatos, cuja dureza é 3, sendo mais baixa do que Mineralogia Volume 1: Propriedades físicas e químicas de minerais - 10 - aço. Portanto, essas podem ser cortadas por serras de aço comum. Por outro lado, rochas graníticas contêm minerais de alta dureza, como feldspato alcalino e quartzo, cujas durezas são respectivamente 6 e 7. Portanto, essas podem ser cortadas somente por serras diamantadas. Devido à alta dureza, os granitos possuem alta durabilidade, sendo comercializados como materiais de luxo de para usos ornamentais. Rubi e safira são variações coloridas de coríndon. Por causa da sua alta dureza 9, o custo de lapidação é alto. O diamante é o mineral com dureza 10 e é constituído por firme rede cristalina de carbono. Devido à dureza máxima, este mineral não pode ser riscado por nenhum outro mineral. O único material que pode lapidar diamante é o próprio diamante. A Figura 6.1 apresenta os minerais do padrão de dureza. Figura 6.2. Minerais de padrão da dureza relativa de Mohs. O topázio na foto tem cor amarela, denominado topázio imperial e o coríndon possui cor vermelha, chamado de rubi. Com a exceção do diamante de Minas Gerais, as fotos são originadas de Wikimedia Commons. A dureza de cobre metálico tem dureza em torno de 3, a canivete de aço, pouco acima de 5 e o vidro cristalino (nome comercial, o material é amorfo), na faixa de 5 a 6 e, a lima de aço, 6 a 7. Através do risco de canivete de aço, podem-se determinar os minerais com dureza inferior a 5. Muitos minerais com metais pesados não ferrosos têm sua dureza abaixo de 5. A dureza dos minerais geralmente não depende da direção da força externa, porém existem certos minerais que demonstram diferença no comportamento mecânico de acordo com a direção, denominada anisotropia. Como por exemplo, a cianita tem dureza 5 na direção paralela ao comprimento, porém tem 7 na direção perpendicular. 6.2. Outros padrões de dureza A escala de dureza relativa de Woodell adota os mesmos padrões de Mohs para dureza 1 a 9. Para dureza acima de 9, utiliza-se carbeto de silício (SiC) como de dureza 14, e carbeto de boro (BC) como de 19.7. O carbeto de silício de fabricação artificial é utilizado como abrasivo com nome comercial de Carborundum. A dureza de diamante situa-se na faixa de Mineralogia Volume 1: Propriedades físicas e químicas de minerais - 11 - 36.4 a 42.4. Foram apresentadas até o presente, algumas escalas absolutas de dureza, porém existem divergências quantitativas entre as propostas (Tabela 6.2). A escala absoluta de dureza mais comumente utilizada no campo da engenharia é a medida de sclerômetro, um aparelho feito para este objetivo. Tabela 6.2. Comparação das escalas de dureza de minerais. Minerais Mohs Pfaff Rosiwal Jaggar coríndon 9 1000 1000 1000 topázio 8 459 138 152 quartzo 7 254 149 49 ortoclásio 6 191 28.7 25 apatita 5 53.5 6.20 1.23 fluorita 4 37.3 4.7 0.75 calcita 3 15.3 2.68 0.26 gipsita 2 12.3 0.34 0.04 Lonsdaleita é um mineral composto de carbono puro e possui sistema cristalino hexagonal mais compacto do que de diamante, sendo chamada também de diamante hexagonal. Este ocorre como micro cristais encontrados nas crateras de impacto de meteorito. Os estudos teóricos sugerem que a lonsdaleita com estrutura cristalina perfeita pode ter dureza 58% mais alta do que diamante. Entretanto, os mineral coletados do local de impacto têm estrutura cristalina imperfeita e, portanto a dureza medida é inferior entre 7 a 8. 7. Peso específico Peso específico, ou seja, densidade relativa de minerais depende da composição química e da estrutura cristalina. Elementos nativos metálicos, como ouro nativo (Au) e prata nativa (Ag) têm muito alta densidade. O ouro puro e a prata pura têm peso específico respectivos de 19.3 e 11.1 (ρ, g/cm3). Porém, os minerais de metais nativos têm densidade menor devido às impurezas. Minerais de metais pesados de óxidos e sulfetos, tais como hematita (Fe2O3, ρ=5.25), calcopirita (FeCuS2, ρ=4.30), pirita (FeS2, ρ=5.1) e galena (PbS, ρ=7.60), apresentam densidade alta, porém, inferiores aos elementos de metais nativos. Minerais não metálicos, como quartzo (SiO2, ρ=2.65), possuem peso específico baixo. O diamante e a grafita possuem a mesma composição química porém, sua estrutura cristalina é diferente (Figura 3.1). Devido à estrutura cristalina compacta, o peso específico de diamante, ρ=3.515, é muito maior da que de grafita, ρ=2.23. De acordo com as densidades, minerais são classificados em mineral leve, pouco pesado, pesado e muito pesado (Tabela 7.1). Tabela 7.1. Relação geral entre peso específico e composição de minerais. Grupo Densidade Composição química Exemplos leve < 2.9 silicatos félsicos quartzo, ortoclásio, plagioclásio pouco pesado 2.9~3.4 silicatos máficos anfibólios, ortopiroxênio, clinopiroxênio Pesado 4~ 8 óxidos e sulfetos de metal magnetita, ilmenita, pirita, calcopirita muito pesado >8 elementos nativos metálicos ouro nativo, prata nativa, platina nativa Minerais de silicato são comuns na crosta terrestre. Esses são subdivididos em duas categorias químicas: Minerais félsicos, com baixo teor de ferro e magnésio; Minerais máficos, com alto teor desses. Minerais félsicos têm densidade menor, entre 2.65 e 2.75, sendo classificados como minerais leves. Minerais máficos possuem densidade maior, entre 2.9 e 3.4, sendo classificados como minerais pouco pesados (Figura 7.1). Os minerais que possuem densidade na faixa de 3.4 a 5.0, como fayalita (Fe2SiO4, ρ=4.39), são poucos. Mineralogia Volume 1: Propriedades físicas e químicas de minerais - 12 - Figura 7.1. Minerais leves e pesados que constituem cinza vulcânica do Vulcão Lautaro, Chile: A) Quartzo; B) Plagioclásio;C) Hornblenda; D) Hiperstênio. Quartzo e plagioclásio são minerais leves e hornblenda e hiperstênio são minerais pesados. A maioria dos minerais de óxidos e sulfetos de metais pesados, como magnetita (Fe2O3, ρ=5.15), ilmenita (FeTiO3, ρ=4.75), pirita (FeS2, ρ=5.1) e galena (PbS, ρ=7.60), possui densidade na faixa de 4.7 a 8.0, sendo classificados como minerais pesados. Esses minerais têm uma certa variação em composição química e densidade. Os minerais com densidade maior do que 8.0 são geralmente elementos nativos de metais pesados, tais como ouro nativo, prata nativa e platina nativa, sendo minerais muito pesados. Os minerais dessas categorias possuem brilho metálico. Columbita e tantalita possuem a mesma estrutura cristalina e formam um sistema de solução-sólida, (Fe,Mg)(Ta,Nb)2O6. O mineral com alto teor de nióbio é chamado de columbita e aquele com alto tântalo, de tantalita. O peso específico varia muito, desde 5.20 (columbita) até 7.95 (tantalita). No mercado, o preço do tântalo é mais alto do que o de nióbio e, portanto o peso específico é um importante parâmetro. Os minerais com alto valor comercial tendem a ser densos. Aproveitando a alta densidade, podem-se concentrar minerais economicamente interessantes por seleção gravitacional. As concentrações por batéia manual e por líquido pesado são os métodos mais utilizados (Figura 7.2). Geralmente, os minerais com densidade inferior a bromofórmio (CHBr3, ρ=2.89) são chamados como minerais leves e, os minerais mais densos do que bromofórmio são tratados como minerais pesados. Existem outros líquidos pesados com densidades maiores, como iodeto de metileno (CH2I2, ρ=3.33), e solução de Clerici, ρ=4.2. Entretanto, esses são altamente tóxicos e de preço elevado. Os líquidos pesados podem ser diluídos por acetona (ρ=0.79) para regular sua densidade. Batéia manual é o primeiro passo para a concentração de minerais pesados pelo método gravitacional. A foto B da Figura 7.2 apresenta areia natural do Rio São Francisco, PE, constituída principalmente por quartzo. A foto C mostra os minerais pesados concentrados constituídos principalmente por ilmenita. Este método é eficiente nos trabalhos de campo de prospecção mineral. Figura 7.2. Concentração de minerais pesados por bateia manual. Mineralogia Volume 1: Propriedades físicas e químicas de minerais - 13 - 8. Diafaneidade Cada mineral têm aspectos visuais diferentes, ou seja, propriedades específicas que dependem da luz. As propriedades ópticas são ferramentas básicas e simples, mas altamente eficazes para identificação de minerais de maneira rápida. 8.1. Diafaneidade macroscópica A diafaneidade é o grau de transmissão de luz dentro do mineral, ou seja, o grau de transparência. De acordo com a diafaneidade macroscópica, minerais são divididos em três categorias: 1) Transparente; 2) Translúcido; 3) Opaco (Tabela 8.1). Os minerais transparentes transmitem os raios de luz, como o quartzo. Os objetos colocados atrás de minerais transparentes são vistos a olho nu através deles. Os minerais translúcidos também transmitem parcialmente a luz, como os feldspatos. Desta forma, os objetos colocados atrás deles não podem ser vistos. Os minerais opacos não transmitem a luz, como magnetita. Tabela 8.1. Diafaneidade macroscópica e microscópica de minerais. Diafaneidade macroscópica categoria composição química típica exemplos transparente silicatos félsicos quartzo translúcido silicatos félsicos feldspatos opaco silicatos máficos, óxidos e opacos magnetita, ilmenita, pirita Diafaneidade microscópica categoria Composição química típica exemplos incolor silicatos félsicos quartzo, ortoclásio, plagioclásio colorido silicatos máficos biotita, anfibólios, piroxênios, olivina opaco óxidos e sulfetos magnetita, ilmenita, pirita Figura 8.1. Diafaneidade macroscópica de minerais: A) Mineral transparente, diamante; B) Mineral translúcida, plagioclásio; C) Mineral opaco, pirita. As fotos B e C são originadas de Wikimedia Commons. 8.2. Diafaneidade microscópica No sentido clássico da mineralogia, a diafaneidade corresponde à visão macroscópica. Entretanto, a diafaneidade às lâminas delgadas tem importância científica maior, chamada de diafaneidade microscópica. A lâmina delgada é um filme fino de rocha ou mineral com 30 micrômetros de espessura (Figura 8.2). De acordo com a diafaneidade microscópica, minerais são classificados em: A) Incolor; B) Colorido; C) Opaco. As propriedades ópticas a lâminas delgadas têm relação geral com a composição química e densidade de minerais. Minerais incolores são transparentes às lâminas delgadas. Os minerais transparentes e translúcidos da classificação macroscópica se encaixam geralmente nesta categoria. A maioria dos minerais silicatos félsicos, tais como quartzo (SiO2) e feldspatos (KAlSi3O8-NaAlSi3O8- CaAl2Si2O8), é mineral incolor e mineral leve. Minerais coloridos possuem cor nas lâminas delgadas. A maioria é silicato máfico e mineral pouco pesado, como olivina ((Mg,Fe)2SiO4) e piroxênios (Mg2Si2O6, Ca(Mg, Fe)Si2O6, etc.). Minerais opacos de diafaneidade microscópica não transmitem a luz mesmo nas lâminas delgadas (Figura 8.3). Esses são óxidos e sulfetos de metais pesados ou elementos metálicos nativos, como magnetita (Fe3O4), ilmenita (FeTiO3) e pirita (FeS2) e são minerais pesados ou muito pesados. Mineralogia Volume 1: Propriedades físicas e químicas de minerais - 14 - Figura 8.2. Microscópio petrográfico e estrutura de lâmina delgada. Fotos obtidas em 2002. Figura 8.3. Diafaneidade microscópica de minerais a lâminas delgadas: A) Nefelina sienito do Pico de Marapicu, Nova Iguaçu, RJ; B) Monzonito do Morro dos Gatos, Silva Jardim, RJ. 9. Brilho Na mineralogia, brilho corresponde à aparência geral na superfície à luz refletida. Esta propriedade é fácil de ser observada a olho nu ou à lupa. As expressões mais utilizadas são brilho metálico e não metálico (Tabela 9). Tabela 9. Tipos de brilho e suas características Tipo Diafaneidade Reflexão Transmissão Característica Exemplos metálico Opaca muito forte não há forte reflexão galena, pirita, calcopirita submetálico Opaca forte não há columbita, wolframita adamantino Transparente não há Alta jogo de cores diamante, zircão, coríndon vítreo Transparente não há Alta quartzo, calcita resinoso Translúcida fraca relativamente alta esfalerita, opala gorduroso Translúcida forte relativamente baixa nefelina nacarado quase opaca muito fraca baixa clivagem talco, apofilita, brucita sedoso quase opaca muito fraca baixa hábito fibroso malaquita, serpentina 9.1. Brilho metálico O brilho metálico corresponde à aparência brilhante similar a metal na superfície do mineral. Os minerais que possuem brilho metálico são opacos e geralmente sulfetos ou óxidos ou elementos nativos de metais pesados. Galena (PbS), pirita (FeS), calcopirita (CuFeS2), molibdenita (MoS2), hematita (Fe2O3), magnetita (Fe3O4), ouro nativo (Au) e prata nativa (Ag) são os exemplos (Figura 9.1A, B). O brilho metálico imperfeito, denominado brilho submetálico, é observado em óxidos e hidróxidos. Columbita-tantalina ((Fe,Mn)(Nb,Tn)2O6) e wolframita (Ca2Fe4(WO4)7·9H2O) são os exemplos (Figura 9.1C). Mineralogia Volume 1: Propriedades físicas e químicas de minerais - 15 - Figura 9.1. Brilhos metálicos e submetálico: A) Brilho metálico de galena; B) Brilho metálico de ouro nativo cristalizado; C) Brilho submetálico de tantalita. Gal - galena; Flu - fluorita. Fotos originadas de Wikimedia Commons. 9.2. Brilho não metálico Todos os outros brilhos são chamados de brilho não metálico. Esses transmitem a luz, pelo menos parcialmente. Muitos minerais com brilho não metálico são silicatos, como quartzo, feldspato potássico e plagioclásio. Às lâminas delgadas, os minerais com brilho metálico são opacos, porém, aqueles com brilho não metálico são incolores ou coloridos. São utilizadas as seguintesexpressões descritivas. 1) Adamantino: Brilho característico de minerais transparentes com alto índice de refração, que demonstra relevante jogo de cores, ou seja, cores de arco-íris da luz transmitida, nos vértices e arestas. Os exemplos são diamante, coríndon e zircão (Figura 9.2A). Os minerais com brilho adamantino possuem excelente efeito de lapidação. 2) Vítreo: Brilho que se observa em fragmentos de vidro quebrado, sendo característico em minerais transparentes com índice de refração relativamente baixo. Quartzo é um exemplo (Figura 9.2B). O brilho deste tipo pouco expressivo é denominado brilho subvítreo. Calcita é um exemplo com brilho subvítreo. 3) Resinoso: Aspecto da superfície que se lembra a resina, sobretudo de cor amarelo claro, sendo característico de minerais translúcidos ou com reflexão na superfície relativamente alta. Esfalerita e opala são exemplos (Figura 9.2B). 4) Gorduroso: Aspecto da superfície parecido com gordura, sendo característico de minerais translúcidos com transmissão de luz relativamente alta ou com reflexão na superfície relativamente baixa. Nefelina, que é um feldspatóide, é um exemplo. 5) Nacarado: Aspecto parecido com a superfície de pérola com reflexão interna, devido à presença de planos de clivagem desenvolvidos. Talco e brucita são os exemplos. Olho de gato (Figura 9.2C) é um tipo de crisoberilo. 6) Sedoso: Aspecto similar à seda com reflexão interna que ocorre caracteristicamente em minerais de hábito cristalino fibroso, como gipsita, malaquita e serpentina. Figura 9.2. Brilhos não metálicos: A) Brilho adamantino de diamante; B) Brilho vítreo de quartzo e brilho resinoso de esfalerita; C) Brilho nacarado de olhos de gato. Sph - esfalerita; Q - quartzo; Cat - Olho de Gato. Fotos originadas de Wikimedia Commons. Mineralogia Volume 1: Propriedades físicas e químicas de minerais - 16 - 10. Cor de minerais A cor de mineral é um importante meio para identificação. Os minerais com cor destacada podem ter alto valor comercial. Como por exemplo, na época da renascença, rubi era avaliada como 8 vezes mais valiosa do que o diamante. O valor do diamante surgiu depois da invenção tecnológica de lapidação. As rochas naturais para usos ornamentais com o feldspato alcalino de cor vermelho, rosa e verde e a sodalita de cor azul são de alta avaliação no mercado. 10.1. Cor macroscópica A cor macroscópica de um mineral é relacionada geralmente a sua composição química. A definição da cor microscópica por elementos constituintes principais é denominada ideocrismo. A esfalerita (ZnS) de zinco puro sem ferro é transparente. De acordo com a elevação do teor de ferro, a cor muda de amarela, laranja, vermelha, vermelha escura e preta. A cor cinza de galena (PbS), verde de malaquita (Cu2CO3(OH)2), preta de magnetita (Fe3O4) e rosa de rodonita (MnSiO3) representam respectivamente as cores de íon de chumbo (Pb2+), cobre (Cu2+), ferro (Fe2+) e manganês (Mn2+). Os elementos não metálicos constituintes de minerais, tais como silício, alumínio, cálcio, sódio e potássio, não possuem cor. Como por exemplo, coríndon puro (Al2O3) é transparente. Entretanto, safira e rubi são diferenciados respectivamente pela cor macroscópica azul e vermelha (Figura 10.1A). A cor vermelha de rubi é devida a pequena quantidade de cromo (Cr2+) e a cor azul de safira é acreditada como devido à impureza de titânio (Ti4+), cobre (Cu2+) ou ferro (Fe2+). Fluorita também apresenta várias cores conforme impurezas metálicas (Figura 10.1B). Quartzo puro (SiO2) é transparente, porém ametista é roxa e citrino é amarelo, devido respectivamente à impureza de Fe2+ e Fe3+. A definição da cor macroscópica originada de impureza metálica de elementos transicionais é chamada de alocroismo. Figura 10.1. Variação de cor macroscópica por alocroismo: A) Coríndon; B) Fluorita. Fotos originadas de Wikimedia Commons. De acordo com substituição progressiva de zinco (Zn2+) por ferro (Fe2+), a esfalerita (ZnS) muda de cor variando de branco, amarelo, castanho e preto. Conforme a substituição progressiva de Mg2+ por Fe2+, a magnesita (MgCO3) muda de cor de branco, amarelo e vermelho escuro. Em vários minerais, ferro (Fe2+ e Fe3+) é um forte corante. Tremolita (Ca2Mg5Si8O22) é um anfibólio de cor clara, caracterizada por alto teor de CaO e MgO e muito baixo teor de Al2O3 e Na2O. De acordo com a substituição de Mg2+ por Fe2+ e de (Mg2+,Fe2+)Si por Al3+Al3+, o anfibólio muda de cor macroscópica para verde de actinolita até o preto de hornblenda. A fluorita é um mineral de cores macroscópicas muito diversas, variando de branco, rosa, amarelo, verde e violeta. De acordo com as impurezas metálicas, a turmalina apresenta várias cores como preto de ferro, chamada de afrezita, e rosa de lítio. A jaspe é uma variedade criptocristalina de quartzo e a sua cor vermelha é originada da pequena quantidade de hematita incluída. Em muitos casos, os minerais de composição ideal, sem Mineralogia Volume 1: Propriedades físicas e químicas de minerais - 17 - impurezas, são transparentes ou de cor branca e as impurezas, sobretudo de metais pesados, originam a cor. Existem certos minerais cuja origem da cor não é bem esclarecida. A imperfeição na estrutura cristalina é uma causa da coloração. Radioatividade pode criar imperfeição cristalográfica gerando artificialmente a cor, como no caso de certos tipos de safira e aguamarinha. Ametista natural tem a cor violeta a púrpura, porém essa muda para amarelo por aquecimento em cerca de 500°C e a conseqüente oxidação, através da transformação de Fe2+ em Fe3+. A ametista dessa cor é chamada comercialmente de ametista queimada. 10.2. Cor de traço A cor de traço aparece quando o mineral a ser examinado é esfregado sobre a superfície bruta de uma placa de porcelana, cuja dureza está entre 6 e 7. Desta forma, é aplicável apenas para minerais de baixa dureza, porém é útil para minerais metálicos. A cor de traço é a cor do pó do mineral oxidado. Magnetita (Fe3O4), ilmenita (FeTiO3), especularita (Fe2O3) e galena (PbS) têm cor de traço similar à cor macroscópica (Figura 10.2A). Entretanto, existem minerais cuja cor de traço é diferente da cor macroscópica. Como por exemplo, rodocrosita (MnCO3) tem cor macroscópica rosa, porém sua cor de traço é branca (Figura 10.2B). Pirita (FeS2), calcopirita (CuFeS2) e ouro nativo (Au,Ag,Cu) possuem cor macroscópica amarela, porém, sua cor de traço é, respectivamente, preto, verde escuro e amarelo. Esses minerais freqüentemente ocorrem juntos e possuem aparências similares. Entretanto, as cores de traço possibilitam a identificação. O exame de tenacidade (Figura 5.1) e o ataque químico por ácido nítrico diluído também são métodos práticos e eficientes. Com o ataque químico, a cor de pirita transforma- se em preta e da calcopirita, em verde. Figura 10.2. Cor de traço: A) Galena tem cor de traço igual à macroscópica; B) Pirita e Rodocrosita têm cor de traço diferente. Fotos originadas de Wikimedia Commons. 10.3 Propriedades multicolores Determinados minerais mostram propriedades multicolores tanto à luz refletida quanto à luz transmitida. O jogo de cores é uma manifestação das cores do arco-íris da luz transmitida de minerais transparentes de alto índice de refração. Os vértices e as arestas desses minerais funcionam como um prisma fotoespectrométrico (Figura 9.1A). Diamante, zircão e coríndon são exemplos. Jogo de cores é a principal característica do brilho adamantino. Alguns minerais apresentam reflexão multicolor de acordo com o ângulo de direção da luz. Essa propriedade anisotrópica é denominada mudança de cor. No caso do plagioclásio, o fenômeno é chamado de labradorescência (Figura 10.3A). As chapas polidas de anortosito com plagioclásio labradorescente são utilizadas para usos ornamentais de alto luxo. Mineralogia Volume 1: Propriedades físicas e químicas de minerais - 18 - Molibdenita (MoS2) apresentaforte mudança de cor, com o brilho metálico destacado de cores de arco-íris. Figura 10.3. Reflexão multicolor: A) Labradorescência de plagioclásio cálcico; B) Brilho metálico com mudança de cor de molibdenita. Fotos originadas de Wikimedia Commons. Iridescência é a reflexão multicolor no interior do mineral, que ocorre em fraturas, partições ou clivagens. As cores de arco-íris são originadas da ressonância no princípio do anel de Newton (Figura 10.4A). O fenômeno é observado em calcita (CaCO3), bornita (Cu5FeS4), barita (BaSO4), etc. Iridescência é observada também em outros materiais tais como CDs, DVDs e asas de certas borboletas azuis. Certas rochas com abundantes cristais grandes de plagioclásio possuem brilho subsuperficial iridescente. A opalescência é a reflexão multicolor leitosa ou nacarada que se observa no interior de minerais (Figura 10.4B, C). Algumas variedades de opala, olho de gato e pedra da lua, que é um tipo de feldspato alcalino, apresentam opalescência (Figura 9.1C). Figura 10.4. Reflexão interna multicolor com cores de arco-íris: A) Iridescência de calcita (seta); B) Opalescência de opala; C) Opalescência de opala negra. Fotos originadas de Wikimedia Commons. Quando a cor de reflexão na superfície de mineral, geralmente aqueles com brilho submetálico, é diferente da cor da luz refletida do interior do mineral, o fenômeno é chamado de embaçamento. A reflexão interna é originada de pequenas fraturas presentes dentro do mineral. Observa-se, comumente, em minérios de cobre, tais como bornita (Cu5FeS4), calcopirita (CuFeS2) e calcocita (CuS2). Molibdenita também demonstra essa propriedade (Figura 10.3B). Quando a cor da superfície é azul, o fenômeno é chamado de embaçamento de aço, que é observado em columbita. Determinados minerais de agregação fibrosa apresentam faixas brilhantes finas na direção paralela à agregação dos cristais, o fenômeno denominado de acatassolamento. Os aspectos visuais do olho de gato (Figura 9.1C), uma variedade gemológica de crisoberilo (BeAl2O4) e o olho de tigre, uma variedade de quartzo (SiO2), são exemplos. Certos tipos de ametista, safira e rubi apresentam faixas brilhantes em seis direções, o fenômeno denominado asterismo (Figura 10.5). No caso de safira e rubi astéricos, o fenômeno é atribuído à presença de pequenas inclusões orientadas de rutilo (TiO2). Mineralogia Volume 1: Propriedades físicas e químicas de minerais - 19 - Figura 10.5. Pedras lapidadas de minerais com asterismo: A) Quartzo astérico de cor de rosa; B) Safira astérica de cor azul. Fotos originadas de Wikimedia Commons. Existem os minerais que demonstram propriedade multicolor à luz transmitida. De acordo com a direção do raio de luz natural relativa ao eixo óptico do cristal, esses denominam cores diferentes, este fenômeno denominado pleocroísmo. Cordierita apresenta cor roxa escura ou preta na vista de uma direção porém, torna-se translúcido incolor na vista de outra direção. Certas variedades de turmalina e espodumênio apresentam pleocroísmo macroscópico. O pleocroísmo macroscópico de duas cores é chamado de dicroísmo. Figura 10.6. Pleocroísmo macroscópico de duas cores: A) Cordierita, chamada gemologicamente de iolita; B) Turmalina. Fotos originadas de Wikimedia Commons. 11. Refração A velocidade de luz no vácuo é cerca de 300 mil km/seg. Entretanto, dentro de minerais, a velocidade é mais baixa. Quando o raio de luz entra a partir de um meio de alta velocidade para outro meio de baixa velocidade, como por exemplo, a partir da atmosfera para um mineral, a direção da transmissão muda para mais próxima à direção perpendicular ao plano de limite. Este fenômeno é denominado refração (Figura 11.1). Figura 11.1. Princípio físico de refração. 11.1. Índice de refração O índice de refração é um importante parâmetro para identificação de minerais. Esse corresponde à proporção entre a velocidade no vácuo e no mineral, sendo expresso com a letra n. Como por exemplo, o índice de refração do quartzo é 1.544 (n=1.544) e, portanto a velocidade da luz dentro do quartzo é 1/1.544 do vácuo. A maioria dos minerais transparentes e translúcidos apresenta o índice de refração em torno de 1.5. A fluorita é um mineral de Mineralogia Volume 1: Propriedades físicas e químicas de minerais - 20 - baixo índice, n=1.43, topázio tem alto índice, n=1.610 a 1.617 e o diamante é de muito alto índice, n=2.417. Existe uma tendência geral de que quanto maior for o peso específico do mineral, tanto maior será o índice de refração. Minerais máficos têm uma tendência de elevar o índice de refração de acordo com a elevação no grau de substituição de Mg2+ por Fe2+. Os minerais transparentes são visíveis, graças ao índice de refração do mineral maior do que da atmosfera. Quando os índices dos dois são próximos, o mineral é pouco visível. Por exemplo, dentro da água (n=1.335), os minerais com baixo índice refração, ou seja, aqueles com índice próximo da água, como fluorita (n=1.434), se tornam difíceis de serem observados. Ao contrário, minerais com alto índice, como diamante (n=2.417), permanecem destacados na água. Os minerais com alto índice de refração demonstram relevantes fenômenos ópticos na sua superfície (Figura 11.2). Quanto mais alto for o índice de refração, tanto melhor será o brilho adamantino e o efeito de lapidação. Este fator é o motivo principal para da alta variação comercial de diamante. Figura 11.2. Aspectos visuais de minerais transparentes com índice de refração diferente: A) Fluorita, n=1.486 a 1.658, baixo índice; C) Topázio, n= 1.610 a 1.617, alto índice; D) Diamante, n= 2.417, muito alto índice. As imagens são originadas de Wikimedia Commons O índice de refração de minerais é medido com o auxílio de líquido de imersão. O mineral a ser examinado é pulverizado e o pó do mineral é colocado em uma gota de líquidos de imersão sobreposta em uma placa de lâmina para observação microscópica. O líquido de imersão é o material cujo índice de refração é ajustado a um valor desejado. Ao microscópio petrográfico, observa-se, através do método de Becke, se o índice de refração do mineral é superior, inferior ou quase igual ao líquido de imersão. Na observação microscópica, deseja- se utilizar a iluminação do raio D de lâmpada de sódio. Os minerais de alto índice de refração, tais como topázio, zircão e diamante, apresentam o contorno bem marcado. Tal aspecto visual é denominado relevo alto. Ao contrário, o aspecto de minerais de baixo índice de refração é chamado de relevo baixo. Esses são apenas expressões visuais descritivos, e não indicam real existência da irregularidade na superfície do mineral. 11.2. Birrefringência Em muitos minerais, quando um raio de luz entra no mineral ele se separa em dois raios, raio normal e raio anormal. O raio normal é mais rápido e o raio anormal é mais lento. Isto é, o mineral tem dois índices de refração. Este fenômeno é denominado birrefringência. O índice de birrefringência é expresso pela diferença entre os dois índices de refração. O grau de birrefringência de minerais é muito variável (Tabela 11.1). Os minerais opticamente isotrópicos, tais como granada, analcima e sodalita, são fisiometricamente isométricos. Nesses minerais, os raios normal e anormal possuem a mesma velocidade e a birrefringência é zero. Quartzo tem baixa birrefringência, em torno de 0.009, e augita possui alta birrefringência, de 0.021 a 0.033. Calcita tem birrefringência extremamente alta, com o índice de 0.172. Portanto, os raios normal e anormal são distinguíveis a olho nu. A Mineralogia Volume 1: Propriedades físicas e químicas de minerais - 21 - imagem dupla dos objetos colocados atrás de calcita transparente bem cristalizada, chamada gemologicamente de espada de Islândia, é um exemplo (Figura 11.3A). Tabela 11.1. Grau de birrefringência. Grau Birrefringência Cor de interferência Exemplo isotrópicoPróxima a 0 Preta vidro, granada, zeólitas, serpentina baixo 0 a 0.005 cinza escura clorita, nefelina médio 0.006 a 0.010 Branca Quartzo feldspatos alto 0.010 a 0.015 cores de primeiro grau cordierita, hiperstênio muito alto 0.015 a 0.045 segundo e terceiro graus Hornblenda, augita, epidoto extremamente alto 0.045 a 0.060 acima de terceiro grau Olivina muscovita biotita, zircão excepcionalmente alto 0.172 grau muito alto Calcita Figura 11.3. Foto e ilustração da birrefringência de calcita. A foto é originada de Wikimedia Commons Em polarizadores cruzados, os minerais na lâmina delgada sem birrefringência, como granada e sodalita, apresentam cor preta em qualquer posição. Entretanto, outros minerais mostram cor de interferência conforme a birrefringência, espessura da lâmina e o ângulo entre a direção dos polarizadores e eixo óptica do mineral. A cor de interferência é mais relevante na posição diagonal, em que o mineral apresenta a tonalidade mais clara. Nefelina tem cor de interferência cinza escura, quartzo é de cinza clara, hiperstênio é vermelha a amarela e augita é verde a azul. Junto com o índice de refração, a birrefringência é útil para identificação de minerais incolores e coloridos (Figura 11.4). Figura 11.4. Fotomicrografia da lâmina delgada do monzonito de Morro dos Gatos, RJ, em polarizadores cruzados, demonstrando as cores de interferência branca e cinza clara dos minerais de baixa birrefringência, como feldspato alcalino e plagioclásio, e as cores amarela e verde dos minerais de alta birrefringência, augita e biotita. 12. Luminescência Luminescência corresponde a todos os tipos de emissão de luz que não é originada da incandescência. A luminescência de minerais é geralmente de baixa intensidade e é observada apenas no ambiente escuro. Os minerais luminescentes contêm pequena quantidade de íons ativadores, tais como de cobre (Cu), chumbo (Pb), manganês (Mn), európio bivalente (Eu2+), Mineralogia Volume 1: Propriedades físicas e químicas de minerais - 22 - cério (Ce), tálio (Ta) e molibdênio (Mo). Manganês substitui uma parte de cálcio (Ca) e zinco (Zn), európio bivalente substitui cálcio, chumbo substitui cálcio e molibdênio substitui tungstênio (W). São conhecidos quatro tipos de luminescência, triboluminescência, termoluminescência, fluorescência e fosforescência. Triboluminescência corresponde à iluminação do mineral através da fricção ou deformação mecânica, sendo uma forma de transformação de energia mecânica em luz. Os minerais com triboluminescência são normalmente não metálicos e anidros com clivagens. Fluorita (CaF2), esfalerita (ZnS) e lepidolita (K2Li3Al5Si6O22) têm triboluminescência expressiva. Pectolita (CaNaH(SiO3)3), ambligonita (LiAl(F,OH)PO4), feldspatos (KAlSi3O8 - NaAlSi3O8 - CaAl2Si2O8), quartzo (SiO2), calcita (CaCO3) e diamante (C) possuem triboluminescência pouco relevante. Termoluminescência é a emissão de luz através de aquecimento em temperatura de 50 a 475°C. Certos minerais não metálicos e anidros com elementos alcalinos terrosos, mostram esta propriedade. Termoluminescência é observada apenas no primeiro aquecimento. Este fato indica que a termoluminescência não é a transformação de calor em luz. A energia para a luminescência já está carregada no mineral e é liberada através do aquecimento. A termoluminescência extinta pode ser reativada quando o mineral é exposto ao raio excitante de alta energia, como radiação nuclear, raios-X e raio ultravioleta. Fluorita (CaF2) é um típico mineral com termofluorescência. Calcita (CaCO3), apatita (Ca(PO4)3(OH,F,Cl)), escapolita (Na4Al3Si9O24Cl-Ca4Al6Si6O24CO2), lepidolita (K2Li3Al5Si6O22), feldspatos (KAlSi3O8- NaAlSi3O8-CaAl2Si2O8) e quartzo (SiO2) apresentam leve termofluorescência. Figura 12.1. Termoluminescência de fluorita: A) Luz natural; B) Termoluminescência. As fotografias originadas de Wikimedia Commons. Figura 12.2. Fluorescência de fluorita por raio ultravioleta: A) Imagem por luz natural; B) Imagem da fluorescência por raio ultravioleta. As fotografias originadas de Wikimedia Commons. Fluorescência é a emissão de luz a partir do mineral exposto aos raios de alta energia, denominados raios excitantes primários, tais como raio ultravioleta, raios-X, feixe eletrônico e radiação nuclear (Figura 12.2). O raio excitante primário expulsa um elétron na órbita de nível eletrônico inferior e, o espaço liberado é preenchido por um elétron de nível eletrônico superior. A queda do elétron faz emissão da luz fluorescente. O fenômeno corresponde à transformação da energia dos raios excitantes em luz visível. A fluorescência desaparece junto Mineralogia Volume 1: Propriedades físicas e químicas de minerais - 23 - com a interrupção dos raios excitantes. Lâmpada fluorescente para usos domésticos e lâmpada de xenônio para iluminação frontal de automóveis aproveitam este fenômeno. O aparelho emissor de ultravioleta, chamado comercialmente de UV Mineral Light, é útil para detectar minerais fluorescentes e observar sua cor. Certos minerais mostram notável fluorescência, como fluorita (CaF2), zircão (ZrSiO4), scheelita (CaWO4), e autunita (Ca(UO4)2(PO4)2·10H2O). A cor da fluorescência depende do mineral. Diamante, rubi e calcita apresentam brilhante fluorescência quando expostos ao feixe eletrônico no alto vácuo, o fenômeno denominado luminescência de cátodo. O comprimento da onda eletromagnética da fluorescência gerada por raios-X está de acordo com os elementos constituintes do mineral, e a intensidade é proporcional ao teor. O aparelho fluorescência de raios-X utiliza esta propriedade física para análises químicas de rochas. Fosforescência corresponde à luminescência que continua após a interrupção dos raios excitantes. Junto com fluorescência, são chamadas coletivamente de fotoluminescência. A permanência da luminescência após a interrupção do raio excitante é devida ao fato de que a queda do elétron para a órbita do nível eletrônico inferior ocorre gradativamente. Fluorita se torna altamente fosforescente com o aquecimento em cerca de 150 °C. A cor da fosforescência é variável de acordo com o mineral. Fluorita (CaF2) com fosforescência verde esmeralda é denominada de clorofana. Certos minerais de carbonato demonstram fosforescência amarela após aquecimento leve. Willemita (Zn2SiO4), diamante (C) e kunzita, que é uma variedade gemológica do espodumênio (LiAlSi2O6), apresentam fosforescência através de exposição a raios-X e radiação nuclear. O diamante mostra fosforescência pela exposição ao raio solar. A fosforescência do diamante abaixa rapidamente e se torna azul. 13. Propriedades elétrica e magnética As propriedades elétricas e magnéticas de minerais são insensíveis diretamente ao corpo humano. Portanto, os estudos precisam de instrumentos adequados. Essas propriedades possibilitam classificação e separação de minerais em grão, que é um importante método tanto para pesquisas científicas quanto para processos industriais. Determinadas propriedades elétricas e magnéticas são fatores fundamentais para a tecnologia de ponta. 13.1. Piezoeletricidade Piezoeletricidade corresponde ao fenômeno da geração de carga elétrica na superfície do mineral através do esforço. Em condição normal, os minerais constituídos por íons estão em equilíbrio de carga elétrica. Quando o mineral é submetido a um esforço, a deformação mecânica desloca a posição dos íons, o que quebra o equilíbrio elétrico e gera carga elétrica na sua superfície (Figura 13.1). Este fenômeno corresponde à transformação da energia mecânica em energia elétrica. Ocorre também o fenômeno físico do sentido oposto, a transformação da energia elétrica em mecânica. Figura 13.1. Piezoeletricidade de quartzo utilizada com unidade de oscilador de relógio eletrônico: A) Princípio físico de piezoeletricidade; B) Cristal de quartzo para oscilador na placa mãe de computador (seta). A foto B foi obtida em 2013.Mineralogia Volume 1: Propriedades físicas e químicas de minerais - 24 - A propriedade piezoelétrica é amplamente aplicada na indústria eletrônica. Turmalina é utilizada como sensor de pressão. Quartzo é mineral piezoelétrico, o mais importante para a indústria eletrônica moderna. A placa de quartzo adequadamente orientada é utilizada como o padrão de freqüência de oscilações. A ressonância mecânica das placas de quartzo é muito estável, inclusive à variação de temperatura, devido à propriedade elástica quase perfeita. O produto mais popular é o relógio de quartzo. Para computadores, telefone celular e GPS, o componente de quartzo, denominado industrialmente de oscilador de cristal ou clock, é fundamental como gerador da unidade de tempo. 13.2. Magnetismo Existem os minerais que são atraídos pela força magnética. Muitos desses contêm ferro na sua estrutura cristalina. De acordo com o grau de atração, minerais são classificados em seguintes categorias. 1) Minerais fortemente magnéticos, como magnetita (Fe3O4) e pirrotita (Fe(1-X)S). Esses são, respectivamente, óxido de ferro e sulfeto de ferro de baixo enxofre e atraídos fortemente por ímã comum de ferrite (hematita γ, Fe2O3). 2) Minerais magnéticos, como ilmenita (FeTiO3), cromita (FeCr2O4), almandina (granada de ferro, Fe3Al2(SiO4)3) e estaurolita (Fe2Al9Si4O23(OH)). Esses são óxidos, sulfetos e silicatos de ferro e, sua propriedade magnética é menor. Desta forma, são atraídos apenas por ímã do tipo ventosa, tal como ímã alnico (Al-Ni-Co). 3) Minerais ligeiramente magnéticos, como monazita ((Ce,La,Nb)PO4), zircão (ZrSiO4), xenotima (YPO4) e minerais silicatos máficos. Esses podem ser separados somente pelo separador eletromagnético isodinâmico, chamado comercialmente de Frantz. A maioria desses minerais é silicatos e fosfatos com metais pesados, sobretudo ferro. 4) Minerais amagnéticos, como scheelita (CaWO4), cassiterita (SnO2), rutilo (TiO2), anatásio (TiO2), quartzo, minerais félsicos, zircão e diamante. Esses são óxidos, silicatos, fosfatos, sulfetos, tungustatos e elementos nativos, que não contêm ferro. A separação magnética é um importante instrumento para a prospecção mineral. A pesquisa de depósitos minerais por materiais coletados no campo, denominado prospecção mineral, é um método direto com alta exatidão. Na prospecção, coleta-se o cascalho a parir do leito do rio para análises de minerais pesados. A amostra bruta é peneirada e submetida para seleção de minerais em grão e à batéia manual para concentração de minerais pesados. O tamanho dos grãos preferível é na faixa na malha de 30 a 60, isto é, de 0.8 mm a 0.4 mm. Os minerais concentrados são de alta densidade, sendo compostos principalmente de óxidos de metais pesados de cor escura, tais como ilmenita e magnetita. Os minerais leves que permanecem ainda na fração pesada são eliminados por separação densimétrica com o auxílio de líquido pesado de bromofórmio (Figura 13.2). Figura 13.2. Seqüência de prospecção mineral: A) Amostragem do cascalho no rio; B) Peneiramento para seleção de grãos de mineral; C) Bateia manual para concentração de minerais pesados; D) Separação densimétrica por líquido pesado; E) Separação magnética. A magnetita (Fe2O3) e pirrotita (Fe(1-X)S) são facilmente separadas por ímã comum e ilmenita (FeTiO3), cromita (FeCr2O4) e almandina são separados por imã ventosa. O material Mineralogia Volume 1: Propriedades físicas e químicas de minerais - 25 - restante contém minerais pesados ligeiramente magnéticos e amagnéticos. Esses são separados com o auxílio de separador Frantz. Este aparelho possui um eletroímã forte (Figura 13.3). Conforme a intensidade das correntes elétricas, os minerais são separados em frações de 0.2, 0.3, 0.4, 0.6, 0.8, 1.0, e 1.8A (amperes), e os não atraíveis (Tabela 13.1). Figura 13.3. Separador eletromagnético isodinâmico de fabricação de Frantz para classificação magnética de minerais em grão. A foto foi obtida em 2005. Tabela 13.1. Classificação de minerais pesados ligeiramente magnéticos por meio de separador eletromagnético isodinâmico de Frantz. Corrente elétrico (A) Principais minerais separados Minerais acessórios 0.1, 0.2 ilmenita hematita, almandina 0.3 ilmenita, almandina limonita, hematite 0.4 ilmenita, almandina limonita, hematita, epidoto 0.6 epidoto almandina, monazita, hematita, ilmenita 0.8 epidoto, monazita Ilmenita 1.0 monazita Epidoto 1.8 monazita rutilo, zircão minerais não atraíveis rutilo, zircão As amostras de minerais em grão processadas pelo ímã comum e ímã do tipo ventosa são submetidas à separação eletromagnética com a corrente de 0.1A. Os minerais atraídos são separados, enquanto que os não atraídos são submetidos à outra etapa com corrente de 0.2A. Na fração entre 0.1 e 0.2A, chamada convencionalmente como a fração de 0.2A, ilmenita é o mineral principal e hematita e almandina são os acessórios. Na fração de 0.3A, ilmenita e almandina são os principais e limonita e hematita são os acessórios. Na fração 0.4A, ilmenita e almandina são os principais, e limonita, hematita e epidoto são acessórios. Na fração de 0.6A, epidoto é o principal e almandina, monazita, hematita e ilmenita são os acessórios. Na fração de 0.8A, epidoto e monazita são os principais e, a limonita é um acessório desta fração. Na fração de 1.0 A, monazita é o principal e epidoto é acessório. O epidoto e a monazita são minerais ligeiramente magnéticos. Na fração de 1.8 A, monazita é o principal e rutilo e zircão são os acessórios. A ligeira atração magnética de monazita, rutilo e zircão é devida possivelmente à presença de pequenas inclusões de minerais magneticamente atraíveis. No século XXI, os ímãs permanentes de elementos terras raras, tais como imã de neodímio (NdFeB) e de samário-cobalto (SamCo), para a separação dos minerais amagnéticas. Os trabalhos com o auxílio desses imãs são mais rápidos e eficientes do que do separador eletromagnética de Frantz. Os minerais pesados não atraíveis são rutilo, zircão e monazita. Sulfetos metálicos, tais como pirita (FeS2), calcopirita (CuFeS2) e arsenopirita (FeAsS), que são importantes para prospecção mineral, encontram-se nesta fração caso existam. Os minerais separados em cada fração eletromagnética são identificados e observados pela lupa binocular. Mineralogia Volume 1: Propriedades físicas e químicas de minerais - 26 - 14. Classificações químicas de minerais O primeiro fator importante para classificação de minerais é estrutura cristalina e, o segundo fator, é composição química. Sob o ponto de vista de importância econômica de minerais, composição química é de grande relevância. A classificação química de minerais é baseada nos ânions constituintes, especialmente aqueles com baixa tendência iônica. Existem os seguintes grupos composicionais (Tabela 14.1): Elemento nativo (ouro nativo, Au; platina nativa, Ag; enxofre nativo, S); Sulfeto (pirita, FeS2; calcopirita, FeCuS2; galena, PbS; esfalerita, ZnS); Óxido (magnetita, Fe3O4; hematita, Fe2O3; ilmenita, FeTiO3; cromita, CrFe2O4); Hidróxido (goetita, Fe(OH)3; gibbsita, Al(OH)3); Halóide (halita, NaCl; silvita, KCl); Carbonato (calcita, CaCO3; dolomita (Ca,Mg)CO3, magnesita, MgCO3; especularita, FeCO3); Fosfato (apatita, Ca5(PO4)3(OH,F,Cl)); monazita; ((Ce,La,Nb)PO4); turquesa (CuAl6(PO4)4(OH)8·2H2O); sulfato (anidrita, CaSO4; gipsita, CaSO4⋅2H2O; barita, BaSO4; celestita, SrSO4); Tungustato (wolframita, Ca2Fe4(WO4)7·9H2O; scheelita, CaWO4); Nitrato (salitre, KNO3; salitre do Chile, NaNO3); Borato (bórax, Na2B4O7); Silicato (quartzo, SiO2; feldspatos, KAlSi3O8-NaAlSi3O8-CaAl2Si2O8). Deve-se tomar um cuidado na diferença química entre sulfeto, com S, e sulfato, com SO4. Tabela 14.1. Categorias químicas de minerais baseadas em ânions. Categoria Íon caracterizaste Exemplos elementos nativos sem ânion ouro, prata, arsênio, enxofre sulfetos S pirita, calcopirita, galena, esfalerita,molibdenita óxidos O magnetita, hematita, ilmenita, cromita hidróxidos OH- goetita, gibbsita halóides F-, Cl-, etc. halita, silvita carbonatos CO32- calcita, dolomita, magnesita, especularita fosfatos PO43- apatita, monazita, turquesa, autunita sulfatos SO42- anidrita, gipsita, barita, celestita, anglesita, tungustatos WO32- wolframita, scheelita nitratos NO3- salitre, salitre do Chile boratos B2O3- bórax silicatos SiO32- quartzo, feldspatos, micas, anfibólios, piroxênios, olivina Os elementos metálicos da família de ferro, como ferro (Fe), níquel (Ni), cromo (Cr) e cobalto (Co), ocorrem como óxidos e hidróxidos. Outros grupos de metais, como cobre (Cu), zinco (Zn), chumbo (Pb), arsênio (As), molibdênio (Mo), etc., ocorrem freqüentemente na forma de sulfetos. Na crosta terrestre, silicatos têm abundância predominante e óxidos, hidróxidos e sulfetos são de quantidade secundária. Desta forma, os minerais com metais interessantes para indústrias ocorrem em pequena quantidade na crosta. Os minerais com base no mesmo ânion possuem propriedades químicas, cristalográficas e físicas similares. Esses tendem a ocorrerem juntos formando soluções-sólidas. Os exemplos são: Magnetita (Fe3O4)- cromita (CrFeO4); Esfalerita (ZnS) - ferroesfalerita (Fe,Zn)S; Halita (NaCl) - silvita (KCl); Calcita (CaCO3) - dolomita ((Ca,Mg)CO3) - magnesita (MgCO3), Ortoclásio (KAlSi3O8) - albita (NaAlSi3O8) - anortita (CaAl2Si2O8). Outra classificação química freqüentemente utilizada é minerais metálicos e não metálicos, que é baseada em cátions. Minerais de óxidos e sulfetos que contêm elementos de metais pesados, tais como hematita (Fe2O3), calcopirita (FeCuS2) e galena (PbS), pertencem aos minerais metálicos. Matais nativos, como ouro nativo (Au), também fazem parte de minerais metálicos. Entretanto, os minerais com base nos metais leves, tal como gibbsita (Al(OH)3), e os silicatos com metais pesados, como forsterita (Mg2SiO4) e enstatita (Mg2Al2SiO6), não são considerados como minerais metálicos. Geralmente, minerais metálicos são opacos e caracterizados por brilho metálico (Figura 14.1). Mineralogia Volume 1: Propriedades físicas e químicas de minerais - 27 - Figura 14.1. Minerais de principais grupos composicionais: A) Elemento nativo, meteorito de ferro (Fe-Ni); B) Óxido, hematita de hábito botrioidal (Fe3O4); C) Sulfeto, calcopirita (FeCuS2); D) Fosfato, titanita (CaTiSiO5); E) Cloreto, halita, (NaCl); F) Carbonato, dolomita ((Ca,Mg)CO3, seta). As fotografias são originadas de Wikimedia Commons. Silicatos são subclassificados em minerais félsicos e máficos. Os minerais félsicos contêm muito baixo teor de magnésio e ferro, tais como quartzo (SiO2), feldspatos (KAlSi3O8-NaAlSi3O8-CaAl2Si2O8) e muscovita (mica branca, K2Al4Si6Al2O20(OH,F)4). Os máficos contêm alto teor de magnésio e ferro, como biotita (mica preta, K2Fe3Al2O20(OH,F)4), clinopiroxênio (Ca(Mg,Fe)Si2O6), ortopiroxênio ((Mg,Fe)2Si2O6) e olivina ((Mg,Fe)2SiO4). Às lâminas delgadas, os minerais félsicos são incolores, e os máficos são coloridos. 15. Origem de elementos Abundância de elementos é relacionada intimamente à origem do Universo e evolução de estrelas. O Universo originou a partir de uma grande explosão que ocorreu há cerca de 13.8 bilhões de anos, denominada Big-Bang. As sínteses de elementos ocorreram durante o período de 3 a 20 minutos após a explosão inicial. Os elementos iniciais eram hidrogênio (1H) em 75%, hélio (4He) em 25%, hidrogênio pesado (2H) em 0.01% e uma quantidade traço de (7Li) e berílio (9Be), 10-10 em proporção de massa. Não existiram outros elementos. Em número de átomos, o hidrogênio era 92% e o hélio era 8%. Demais elementos atualmente presentes foram sintetizados por reações nucleares que ocorreram nas estrelas. 15.1 Síntese de elementos nas estrelas Os elementos originados da Big-Bang se atraíram pela força gravitacional, formando grandes massas, denominadas protoestrelas. Devido à contração gravitacional e a conseqüente acumulação dos materiais, o centro das proto-estrelas foi aquecido em alta temperatura. Quando a temperatura ultrapassa 10 milhões de °K, ocorreu a fusão nuclear de que quatro núcleos de hidrogênio (1H) em plasma formam um núcleo de hélio (4He). A energia gerada pela fusão nuclear e a conseqüente dilatação térmica sustentaram o peso da estrela e a contração gravitacional foi suspensa. Dessa forma, a proto-estrela entrou em estabilidade como um reator nuclear controlado. Esse foi o nascimento de uma estrela. O hidrogênio é o combustível e o hélio é a cinza do reator. As primeiras estrelas do Universo surgiram em cerca de 3 milhões de anos após à Big-Bang. As estrelas deste estágio são constituídas apenas por hidrogênio e hélio, denominadas estrelas da primeira geração. Mineralogia Volume 1: Propriedades físicas e químicas de minerais - 28 - No estágio inicial de uma estrela, a fusão nuclear ocorre somente no centro (Figura 15.1A). O hélio sintetizado é acumulado no centro formando o núcleo da estrela. A reação nuclear ocorre na superfície do núcleo esférico (Figura 15.1B). Com a passagem do tempo, o núcleo de hélio cresce e a reação nuclear se intensifica devido ao aumento da área superficial do núcleo. Dessa forma, a estrela aumenta gradativamente sua luminosidade, temperatura e diâmetro, mantendo a estabilidade da reação nuclear. Desde a sua formação até o presente, a luminosidade do Sol tem sido elevado em cerca de 30%. A maioria das estrelas observadas no espaço, inclusive o Sol, está neste estágio, denominado a seqüência principal. Estrelas permanecem na seqüência principal durante o período de mais de 90% da vida. Figura 15.1. Evolução de estrelas e a síntese de elementos pelas fusões nucleares exotérmicas: A) Estágio inicial da seqüência principal; B) Estágio avançado da seqüência principal; C) Estágio inicial de uma gigante vermelha; D) Estágio final de uma gigante vermelha. O diâmetro da estrela aumenta significativamente a partir do estágio B para D. O diâmetro relativo do núcleo da estrela composto de hélio e de outros elementos está exagerado. O núcleo da estrela é feito da cinza e não gera mais a energia e, portanto não ocorre a dilatação térmica que sustenta o peso da estrela. Portanto, no final da vida de da estrela o núcleo entra em rápida contração gravitacional. O calor gerado pela contração acelera a fusão nuclear do hidrogeno que está no manto da estrela, o que expande drasticamente o diâmetro e abaixa temperatura de superfície da estrela, a fase denominada gigante vermelha. Uma gigante vermelha de massa equivalente ao Sol expande até a órbita do Marte. O manto de gigante vermelha tem baixa densidade e é fisicamente instável. A expansão volumétrica contínua de forma descontrolada e o material constituinte do manto são dispersos ao espaço, terminando a vida da estrela como um reator nuclear. Os materiais dispersos têm composição similar aos materiais originados da estrela, sendo ricos em hidrogênio. O núcleo da estrela sem combustível de hidrogênio permanece. A evolução de reações nucleares no centro de uma gigante vermelha varia em função da massa da estrela. Uma estrela com massa menor do que 0.46 vezes do Sol, denominada anã vermelha, terminará sua evolução nuclear no estágio com o núcleo de hélio. Entretanto, o período de vida de anãs vermelhas é mais longo do que a idade do Universo e, portanto não há ainda um exemplo de caso. No caso de uma estrela de 0.46 a 3 vezes da massa solar, a temperatura do centro da estrela ultrapassa 100 milhões de °K e ocorre a fusão nuclear de hélio sintetizando carbono (12C) e oxigênio (16O). A energia gerada suspende temporariamente a contração gravitacional do núcleo da estrela e, os elementos sintetizados formam uma estrutura concêntrica (Figura 15.1C). Após a combustão de hélio, o núcleo da estrela sem combustível entra em colapso gravitacional até que os materiais constituintes entram no estado de gás degenerado
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