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CONSIDERAÇÕES SOBRE A RECUPERAÇÃO JUDICIAL COM BASE NO PLANO 
ESPECIAL PARA MICROEMPRESAS E EMPRESAS DE PEQUENO PORTE 
 
CONSIDERATIONS ABOUT JUDICIAL RECOVERY BASED ON THE SPECIAL 
PLAN FOR MICRO ENTERPRISES AND SMALL COMPANIES 
 
Vinícius Miranda Rocha* 
Ana Cláudia Redecker** 
 
RESUMO 
A presente pesquisa teve por objetivo o exame, do ponto de vista doutrinário, da Lei Federal n. 
11.101/2005, no que diz respeito à recuperação judicial especial voltada a microempresas e 
empresas de pequeno porte, iniciando-se por uma análise finalística do artigo 179 da 
Constituição Federal, passando por um estudo comparativo com a recuperação judicial 
ordinária e com a antiga concordata, para, por fim, discorrer acerca do atendimento do regime 
especial ao preceito constitucional de tratamento mais benéfico a empresas de menor potencial 
econômico. 
Palavras-chave: Recuperação de empresas. Recuperação judicial especial. Microempresas e 
empresas de pequeno porte. Princípio da preservação da empresa. Viabilidade econômica. 
 
ABSTRACT 
The present research aimed at examining, from a doctrinal point of view, the Brazillian Federal 
Law n. 11.101/2005, with regard to the special judicial recovery focused on micro-enterprises 
and small-sized companies, starting with a finalistic analysis of article 179 of the Federal 
Constitution, going through a comparative study with the ordinary judicial recovery and the old 
concordata, to finally expatiate about the compliance of the special regime to the constitutional 
precept of more beneficial treatment for companies with less economic potential. 
Keywords: Reorganization of companies. Special judicial reorganization (of companies). 
Micro and small-sized enterprise. Preservation of viable business principle. Economic viability. 
 
1 INTRODUÇÃO 
 
No Brasil, o instituto da recuperação judicial surgiu com a vigência da Lei n. 11.101, de 
9 de fevereiro de 2005, substituindo o regime de concordata. Tal procedimento tem por objetivo 
preservar a subsistência da empresa que se encontrar em crise financeira, bem como a satisfação 
das obrigações perante seus credores, permitindo a manutenção de suas atividades como fonte 
geradora de renda e emprego. 
No ramo empresarial, atualmente, as micro e pequenas empresas representam o maior 
percentual de empresas no Brasil, as quais possuem grande importância na economia do país. 
A Constituição Federal, em seu art. 179, impõe que seja dado tratamento diferenciado a esse 
 
*Acadêmico da Escola de Direito da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS). E-mail: 
v.rocha@edu.pucrs.br. 
**Orientadora: Professora de Direito Empresarial na graduação e na pós-graduação lato sensu da Escola de Direito 
da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS); e Advogada. E-mail: aredecker@pucrs.br. 
2 
 
grupo de empresas, para que consigam competir frente aos agentes econômicos de maior poder. 
Por esse motivo, originou-se o Estatuto da Microempresa e Empresa de Pequeno Porte (Lei 
Complementar n. 123/2006), o qual prevê benefícios exclusivos para esta parcela do setor 
econômico, baseado no princípio da isonomia. 
Do mesmo modo, se fez necessário o surgimento de um regime de recuperação judicial 
diferenciado, o que a Lei n. 11.101/2005 (LREF), por sua vez, dispõe. Além dos procedimentos 
ordinário e extrajudicial, a norma que rege as recuperações judiciais traz uma modalidade 
especial para as microempresas e empresas de pequeno porte, com requisitos e condições de 
concessão diversos dos demais meios de recuperação contemplados na LREF. 
Desde logo, vale ressaltar que o regime especial de recuperação possui uma importância 
relevante, vez que as empresas de menor potencial econômico encontram inúmeros empecilhos 
no cumprimento de suas obrigações trabalhistas, tributárias e previdenciárias. 
Acontece, porém, que na prática os pequenos empresários acabam não aderindo ao 
plano especial. Assim, o objeto de estudo da presente pesquisa irá abordar assuntos acerca da 
consonância da Lei de Recuperações e Falências ao preceito constitucional de tratamento 
favorecido às micro e pequenas empresas. Para isso, é necessária uma análise finalística do 
artigo 179 da Constituição Brasileira, sob a ótica da ordem econômica e financeira, bem como 
pontuar os princípios da função social, da viabilidade e da preservação da empresa (os quais 
são imprescindíveis para determinar-se a dissolução ou manutenção da pessoa jurídica) e, ainda, 
comparar os procedimentos ordinário e especial de recuperação judicial, relacionando este 
último ao antigo instituto da concordata. 
 
2 DA MICROEMPRESA E EMPRESA DE PEQUENO PORTE 
 
Inicialmente, adotamos como conceito de empresário o preconizado no art. 966 do 
Código Civil Brasileiro de 2002, cuja definição se dá por aquele que exerce profissionalmente 
uma atividade econômica organizada, de modo que implique na circulação de bens e serviços 
e que tenha por finalidade o lucro. 
Ocorre que, além das grandes empresas, existe um grupo de menor expressividade, mas 
não menos importante, que carece de proteção do Estado para garantir sua participação no 
mercado, diante das medidas abusivas dos agentes de maior poder econômico. Esta parcela é 
3 
 
integrada por microempresas e empresas de pequeno porte, cuja relevância se consolida no fato 
de serem “entidades concorrências empregadoras e geradoras de renda”, segundo Figueiredo1. 
No Brasil, há quase 9 milhões de micro e pequenas empresas, as quais são responsáveis 
por promover 27% do produto interno bruto do país, bem como 52% da mão de obra formal no 
Brasil, correspondendo por 40% da massa salarial, conforme pesquisa desenvolvida pelo 
Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas2 (SEBRAE). 
Nesse viés, Ramos3 ressalta: 
 
Não há dúvidas de que os pequenos empreendimentos sofrem bastante para se 
firmarem no mercado atual, dadas a extrema competitividade e a incrível dinâmica da 
atividade empresarial. É muito comum, pois, que esses pequenos empreendimentos 
venham a sucumbir diante das dificuldades inerentes ao exercício da empresa. 
 
Por essa razão, justifica-se a redação dada pelo constituinte ao artigo 1794 da Carta 
Magna, que determina expressamente um tratamento diversificado a esta classe de empresas, 
demonstrando a preocupação do Estado em oferecer as condições necessárias à sua 
sobrevivência econômica e ao seu desenvolvimento empresarial. Isso ocorre, pois, pela 
infringência dos princípios da ordem econômica, dispostos no art. 170 da Constituição, em 
especial, o inciso IX5. 
Assim, incontestável se mostra o entendimento de que as microempresas e as empresas 
de pequeno porte merecem um tratamento jurídico mais simplificado, pautado no princípio da 
igualdade, incentivando sua entidade, preservação e crescimento. 
Por essa lógica, Tavares6 salienta: 
 
 
1 FIGUEIREDO, Leonardo Vizeu. Lições de Direito Econômico. 7.ed. Rio de Janeiro: Forense, 2014, p. 103. 
2 SEBRAE (Brasil). Micro e pequenas empresas geram 27% do PIB do Brasil. [s.d.]. 
Disponível em: http://www.sebrae.com.br/sites/PortalSebrae/ufs/mt/noticias/micro-e-pequenas-empresas-geram-
27-do-pib-do-brasil,ad0fc70646467410VgnVCM2000003c74010aRCRD. Acesso em: 26 abr. 2020. 
3 RAMOS, André Luiz Santa Cruz. Direito Empresarial Esquematizado. 7. ed. São Paulo: Método, 2017, [s.n.]. 
Disponível em: https://www.academia.edu/36392693/_Direito_Empresarial_2017_-
_Andr%C3%A9_Luiz_Santa_Cruz_Ramos_1_. Acesso em: 10 jun. 2020. 
4 Art. 179. A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios dispensarão às microempresas e às empresas 
de pequeno porte, assim definidas em lei, tratamento jurídico diferenciado, visando a incentivá-las pela 
simplificação de suas obrigações administrativas, tributárias, previdenciárias e creditícias, ou pela eliminação ou 
redução destas por meio de lei. (BRASIL. [Constituição (1988)]. Constituição da RepúblicaFederativa do 
Brasil. Brasília, DF: Senado Federal, 1988. Disponível em: 
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm. Acesso em: 05 mai. 2020.) 
5 Art. 170. A ordem econômica, fundada na valorização do trabalho humano e na livre iniciativa, tem por fim 
assegurar a todos existência digna, conforme os ditames da justiça social, observados os seguintes princípios: [...] 
IX - tratamento favorecido para as empresas de pequeno porte constituídas sob as leis brasileiras e que tenham sua 
sede e administração no País. (Idem.) 
6 TAVARES, André Ramos. Direito constitucional econômico. 3. ed. São Paulo: Método, 2011, p. 211. 
4 
 
O tratamento favorecido para esse conjunto de empresas revela, contudo, a 
necessidade de proteger os organismos que possuem menores condições de 
competitividade em relação às grandes empresas e conglomerados, para que dessa 
forma efetivamente ocorra liberdade de concorrência (e de iniciativa). É uma medida 
tendente a assegurar a concorrência em condições justas entre micro e pequenos 
empresários, de uma parte, e de outra, os grandes empresários. 
 
Todavia, verifica-se que não há na Constituição da República a definição do que venha 
a ser uma microempresa ou empresa de pequeno porte. Portanto, é notória a intenção do Poder 
Constituinte em deixar a determinação deste conceito para a atribuição do legislador 
infraconstitucional, que assim o fez. A fim de assegurar o princípio da isonomia para os 
pequenos empresários, desenvolveu-se a Lei Complementar n. 123, de 14 de dezembro de 2006, 
estabelecendo o Estatuto Nacional da Microempresa e Empresa de Pequeno Porte, o qual 
confere uma abordagem atípica a esta parcela do ramo comercial, em face da União, dos 
Estados, do Distrito Federal e dos Municípios. 
Como prevê o art. 3º do mencionado Estatuto7, serão consideradas microempresas ou 
empresas de pequeno porte aquelas pessoas jurídicas que exerçam atividade empresária de 
natureza jurídica dos empresários individuais, dos microempreendedores individuais e das 
empresas individuais de responsabilidade limitada, assim como das sociedades empresárias. 
Cabe destacar que, embora o aludido artigo também enquadre nessa categoria as sociedades 
simples, neste trabalho serão enfocadas apenas aquelas enquadradas como empresárias. 
Além disso, este dispositivo apresenta a classificação de cada agente econômico de 
acordo com seu respectivo rendimento anual, nos seguintes termos: 
 
Art. 3º Para os efeitos desta Lei Complementar, consideram-se microempresas ou 
empresas de pequeno porte, a sociedade empresária, a sociedade simples, a empresa 
individual de responsabilidade limitada e o empresário a que se refere o art. 966 da 
Lei no 10.406, de 10 de janeiro de 2002 (Código Civil), devidamente registrados no 
Registro de Empresas Mercantis ou no Registro Civil de Pessoas Jurídicas, conforme 
o caso, desde que: 
I - no caso da microempresa, aufira, em cada ano-calendário, receita bruta igual ou 
inferior a R$ 360.000,00 (trezentos e sessenta mil reais); e 
II - no caso de empresa de pequeno porte, aufira, em cada ano-calendário, 
receita bruta superior a R$ 360.000,00 (trezentos e sessenta mil reais) e igual ou 
inferior a R$ 4.800.000,00 (quatro milhões e oitocentos mil reais). 
 
 
 
7 BRASIL. Lei Complementar Nº 123, de 14 de dezembro de 2006. Institui o Estatuto Nacional da 
Microempresa e da Empresa de Pequeno Porte. Brasília, DF: Presidência da República, 2006. Disponível em: 
www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/lcp/lcp123.htm. Acesso em: 05 mai. 2020. 
5 
 
Conforme leciona Zanini8: 
 
Ambas encontram-se objetivamente conceituadas na Lei Complementar n. 123/2006, 
[...]. A mesma Lei que as define arrola, ainda, uma série de circunstâncias impeditivas 
de sua caracterização como microempresa ou empresa de pequeno porte, dentre as 
quais figura a participação no capital de sócio domiciliado no exterior ou de pessoa 
jurídica, ou de pessoa física sócia de empresa já beneficiada pela mesma Lei (art. 3.º, 
§ 4.º). 
 
Considerando que o levantamento do faturamento deve ser feito de forma anual, podem 
essas empresas escolherem pelo Simples Nacional, também abrangido pela Lei Complementar 
n. 123/2006, como um procedimento excepcional de arrecadamento de impostos e regimento 
de obrigações acessórias, voltadas unicamente para micro e pequenas empresas. 
Tomazette9, assim afirma: 
 
[...]. Esse tratamento diferenciado abrange uma tributação diferenciada, um 
tratamento tributário diferenciado, bem como regras diferenciadas sobre registro, 
protesto, acesso ao mercado e acesso aos juizados especiais. 
[...] 
Provavelmente, o aspecto mais relevante para o enquadramento como microempresa 
e empresa de pequeno porte é o tratamento tributário diferenciado, que envolve 
fundamentalmente um regime especial unificado de arrecadação de tributos e 
contribuições devidas pelos que se enquadrem como microempresa e empresa de 
pequeno porte. A ideia é simplificar o recolhimento tributário, fazendo-o de forma 
centralizada, e não de forma dividida entre os vários tributos. Essa ideia de 
simplificação é clara no próprio nome adotado pelo sistema, SIMPLES Nacional. 
 
Resumidamente, em atenção ao preceito constitucional, o Estatuto da Microempresa e 
Empresa de Pequeno Porte dispõe benefícios para estas classes, os quais poderão ter aplicação 
em diversas situações, dentre elas: nas áreas tributárias e fiscais, em contratações, desempates 
em licitações públicas, fiscalização orientadora. Também se pode afirmar que o procedimento 
de abertura (criação), alteração e baixa dessas empresas possuem menos complexidade. Tais 
privilégios existem em razão da necessidade de esses empresários trabalharem e se 
desenvolverem como as demais empresas, ao passo que cumprem com sua função social. 
In verbis, Alcantara10: 
 
 
8 ZANINI, Carlos Klein et al. Comentários à Lei de recuperação de empresas e falência: Lei 11.101/2005 
SOUZA JUNIOR, Francisco Satiro de; PITOMBO, Antônio Sérgio A. de Moraes (Coord.). São Paulo: Editora 
Revista dos Tribunais, 2007, p. 322. 
9 TOMAZETTE, Marlon. Curso de direito empresarial: Falência e recuperação de empresas. v. 1. 8. ed. São 
Paulo: Atlas, 2017, p. 656. 
10 ALCANTARA, Silvano Alves. Direito empresarial e direito do consumidor. Curitiba: InterSaberes, 2017, p. 
40. 
6 
 
E, sim, garante-se um tratamento diferenciado e favorecido a algumas empresas em 
detrimento de outras. Isso ocorre porque as micro e pequenas empresas, as quais são 
definidas por lei com base em seu faturamento bruto anual, necessitam de amparo do 
Poder Público – desde sua criação, durante toda a sua vigência e, até mesmo, no 
momento de seu encerramento – em todas as esferas (administrativas, tributárias, 
trabalhistas ou sociais), incluindo-se benefícios e incentivos, e assim, competir 
livremente no mercado. 
 
Cabe esclarecer que, muito embora haja diversos benefícios para este grupo, os micro e 
pequenos empresários continuam se deparando com inúmeras dificuldades ao executarem suas 
atividades (encargos fiscais e trabalhistas, empecilhos na obtenção de crédito para investimento, 
entre outras), o que, na maioria das vezes, acarreta fragilidade financeira dessa categoria.11 
 
3 DO PRINCÍPIO DA FUNÇÃO SOCIAL 
 
O princípio da função social da empresa, eternizado no art. 5º, inc. XXIII, no art. 182, 
§ 2º, e no art. 186, todos da Constituição da República, determina que os atos empresarias não 
devam visar somente o lucro, mas também o “bem-estar” da pessoa jurídica, por meio da 
tomada de decisões justas. 
Chagas12, assevera: 
 
A função social da empresa não protege somente a pessoa jurídica contra atos ruinosos 
de seus sócios (impondo-se como poder-dever uma condução dos objetivos sociais 
compatível com o interesse da coletividade), senão também impondo ao poder público 
a preservação da atividade empresarial, tão necessária ao desenvolvimentoeconômico. A função social da empresa busca assegurar ainda a utilização dos bens 
de produção segundo sua função social, de modo que deverá haver, sob pena de 
violação a esse princípio, responsabilidade social na atividade empresarial. 
 
Juntamente a esse princípio, deve ser observado o princípio da solidariedade, pois, uma 
empresa, ao cumprir com sua função social, presenteia o mercado com frutos – produtos ou 
serviços – qualificados, o que, por consequência, resulta em novas relações de emprego e 
movimenta a economia. 
Ainda que uma determinada empresa esteja em situação de crise, a atenção a estes 
princípios se faz imprescindível, sob pena de ocorrer sua extinção e/ou liquidação. 
 
11 SERASA EXPERIAN. 45% dos microempreendedores sentem dificuldades em controlar a saúde 
financeira dos negócios, revela pesquisa da Serasa. [s.l.], 2019. Disponível em: 
https://www.serasaexperian.com.br/sala-de-imprensa/45-dos-microempreendedores-sentem-dificuldades-em-
controlar-a-saude-financeira-dos-negocios-revela-pesquisa-da-serasa. Acesso em: 20 mai. 2020. 
12 CHAGAS, Edilson Enedino das. Direito empresarial esquematizado. 6. ed. São Paulo: Saraiva Educação, 
2019, p. 53. 
7 
 
Por essa razão, mostra-se necessária a recuperação judicial, a fim de que empresas em 
situação econômico-financeira frágil possam continuar exercendo sua função social. 
 
4 DA VIABILIDADE E PRESERVAÇÃO DA EMPRESA 
 
O empresário que se encontra em situação de crise, possui a faculdade de recorrer ao 
instituto da Recuperação Judicial, o qual é regulado pela Lei n. 11.101/2005. Todavia, é ruim 
para a imagem de uma empresa admitir que sua situação financeira está abalada e, em vista 
disso, acaba por retardar ao máximo o pedido de recuperação judicial. Na maioria das vezes, 
opta por não pagar impostos – haja vista que créditos dessa natureza demoram para serem 
executados -, fornecedores e até empregados. 
Para postular a recuperação judicial em juízo, não se faz necessário que o autor do 
pedido esteja inadimplente perante seus credores, bastando apenas que se encontre em situação 
de crise econômico-financeira, isto é, com ausência de lucratividade. Essa ausência, no entanto, 
deve ser limitada, uma vez que só se concederá o benefício da recuperação para aqueles que se 
mostrarem viáveis, isso porque empresas inviáveis devem se submeter à falência. 
Segundo Márcia Blanes13, Juíza de Direito do Estado de São Paulo, a Lei n. 11.101/2005 
não define o que é uma empresa em crise, vez que o termo é empregado tanto às pessoas 
jurídicas em recuperação, quanto àquelas que devem se subordinar ao processo de falência. 
Além do mais, a magistrada aponta que a expressão “em crise” é sinônimo de “devedora”, a 
exemplo do contido nos artigos 47 e 122 da LREF, ressaltando que o critério legal, utilizado 
para classificar uma empresa como viável ou não, mostra-se ineficiente: 
 
[...] a crise de uma empresa não decorre necessariamente da impontualidade, e nem a 
impontualidade necessariamente gera a crise. Um endividamento momentâneo pode 
decorrer do investimento da empresa com máquinas ou aquisição de novas fábricas, 
ou também pode decorrer da desorganização do setor de contabilidade. E não se 
pretende dizer, com isso, que a lei não deve ser aplicada, nem que o juiz não deve 
deixar de decretar a falência daquele que não paga a dívida, ainda que citado em um 
processo de falência. Mas não há como notar que o diagnóstico legal é consequência 
histórica e que nos parece arraigada, de que a sociedade inadimplente precisa ser 
suprimida do sistema, em prol da proteção da sociedade e do crédito. 
 
Por isso, a etapa de constatação da viabilidade de uma empresa tem por objetivo evitar 
frustrações judiciais, uma vez que, sendo a sociedade inviável, deverá ocorrer a falência, 
 
13 BLANES, Márcia. Aspectos legais da crise da empresa e sua viabilidade na lei de recuperação judicial. 
Cadernos Jurídicos da Escola Paulistana de Magistratura, São Paulo, ano 16, nº.39, p 79-90, jan./mar. 2015. 
8 
 
homenageando, inclusive, aqueles que seguem o melhor caminho no intuito de superar as 
dificuldades. 
Neste sentido, Coelho14 esclarece: 
 
Em outros termos, somente as empresas viáveis devem ser objeto de recuperação 
judicial (ou mesmo a extrajudicial). Para que se justifique o sacrifício da sociedade 
brasileira presente, em maior ou menor extensão, em qualquer recuperação de 
empresa não derivada de solução de mercado, o empresário que a postula deve se 
mostrar digno do benefício. Deve mostrar, em outras palavras, que tem condições de 
devolver à sociedade brasileira, se e quando recuperado, pelo menos em parte o 
sacrifício feito para salvá-la. 
O exame da viabilidade deve ser feito em função de vetores como a importância 
social, a mão de obra e tecnologia empregadas, o volume do ativo e passivo, o tempo 
de existência da empresa e seu porte econômico. 
 
Na mesma concepção, Fázzio Junior15 aduz: 
 
A atividade empresarial afeta o mercado e a sociedade. O modo de produção 
econômica, no sistema capitalista, é determinante das demais instâncias sociais. Por 
isso, o interesse de agir nos processos regidos pela LRE reside na necessidade de um 
provimento judiciário para deslindar não só a crise econômico-financeira de um 
empresário, mas toda a espécie de relação daí decorrentes e suas repercussões sociais. 
A preservação da atividade negocial é o ponto mais delicado do regime jurídico de 
insolvência. Só deve ser liquidada a empresa inviável, ou seja, aquela que não 
comporta uma reorganização eficiente ou não justifica o desejável resgate. 
 
Em suma, é sempre árduo para um empresário estar em uma recuperação ou numa 
falência. Na primeira, acredita-se que a empresa, embora esteja em crise, possa ser salva. Ao 
passo que na segunda, entende-se que a pessoa jurídica não mais possui condições de cumprir 
com sua função social, sendo, portanto, inviável. 
Comprovada a viabilidade de uma empresa, essa deverá instruir o pedido de recuperação 
acompanhado da exposição dos motivos que fundamentam o pleito (causas que originaram a 
crise e vantagens que surgirão com a aprovação do plano). Para isso, observa-se o disposto no 
art. 5116 da Lei n. 11.101/2005, cuja avaliação não deve ser feita de forma superficial, mas sim 
rigorosa. 
Art. 51. A petição inicial de recuperação judicial será instruída com: 
I – a exposição das causas concretas da situação patrimonial do devedor e das razões 
da crise econômico-financeira; 
 
14 COELHO, Fábio Ulhoa. Manual de direito comercial: direito de empresa. 28. ed. São Paulo: Editora Revista 
dos Tribunais, 2016, p. 319. 
15 FÁZZIO JUNIOR, Waldo. Manual de direito comercial. 21. ed. São Paulo: Atlas, 2020, [s.n.]. Disponível em: 
https://integrada.minhabiblioteca.com.br. Acesso em: 15 jun. 2020. 
16 BRASIL. Lei Nº 11.101, de 9 de fevereiro de 2005. Regula a recuperação judicial, a extrajudicial e a falência 
do empresário e da sociedade empresária. Brasília, DF: Presidência da República, 2005. Disponível em: 
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2005/lei/l11101.htm. Acesso em: 07 mai. 2020. 
9 
 
II – as demonstrações contábeis relativas aos 3 (três) últimos exercícios sociais e as 
levantadas especialmente para instruir o pedido, confeccionadas com estrita 
observância da legislação societária aplicável e compostas obrigatoriamente de: a) 
balanço patrimonial; b) demonstração de resultados acumulados; c) demonstração do 
resultado desde o último exercício social; d) relatório gerencial de fluxo de caixa e de 
sua projeção; 
III – a relação nominal completa dos credores, inclusive aqueles por obrigação de 
fazer ou de dar, com a indicação do endereço de cada um, a natureza, a classificação 
e o valor atualizado do crédito, discriminando sua origem, o regime dos respectivos 
vencimentos e a indicação dos registros contábeis de cada transação pendente; 
IV – a relação integral dos empregados,em que constem as respectivas funções, 
salários, indenizações e outras parcelas a que têm direito, com o correspondente mês 
de competência, e a discriminação dos valores pendentes de pagamento; 
V – certidão de regularidade do devedor no Registro Público de Empresas, o ato 
constitutivo atualizado e as atas de nomeação dos atuais administradores; 
VI – a relação dos bens particulares dos sócios controladores e dos administradores 
do devedor; 
VII – os extratos atualizados das contas bancárias do devedor e de suas eventuais 
aplicações financeiras de qualquer modalidade, inclusive em fundos de investimento 
ou em bolsas de valores, emitidos pelas respectivas instituições financeiras; 
VIII – certidões dos cartórios de protestos situados na comarca do domicílio ou sede 
do devedor e naquelas onde possui filial; 
IX – a relação, subscrita pelo devedor, de todas as ações judiciais em que este figure 
como parte, inclusive as de natureza trabalhista, com a estimativa dos respectivos 
valores demandados. 
 
Ressalta-se, outrossim, quanto à legitimidade para ajuizar este tipo de ação. Nos termos 
do art. 48 da LREF, poderá requerer recuperação judicial o devedor que exerce regularmente 
suas atividades há mais de 2 anos, bem como atenda todos os requisitos a seguir: a) não ser 
falido ou, caso tenha sido, estejam declaradas judicialmente extintas as responsabilidades daí 
decorrentes; b) não tenha gozado de recuperação judicial (tanto a ordinária, quanto a especial) 
há menos de 5 anos; e c) não ter sido condenado ou não ter, como administrador ou sócio 
controlador, pessoa condenada por crime falimentar. 
Além disso, para que se tenha êxito ao pleitear uma recuperação judicial, é preciso 
atentar-se à relevância da atividade para a economia da região (localidade), ao ativo e ao passivo 
do agente empresarial, ao seu faturamento e, essencialmente, às suas dívidas. 
Assim, o princípio da preservação da empresa, implícito no inciso II do art. 52 da Lei n. 
11.101/2005, visa preservar a atividade econômica, em razão da função social, do interesse dos 
credores e da maximização econômica. Dado início ao processo de recuperação, deve-se 
suspender o curso das ações de execução, o que consiste no chamado stay period. De acordo 
com o art. 6º, § 4º, da Lei n. 11.101/2005, o prazo dessa suspensão é de 180 (cento e oitenta) 
dias, não podendo ser prorrogado. Todavia, a jurisprudência tem relativizado o texto legislativo 
em razão do princípio da preservação da empresa, senão vejamos: 
SUSPENSÃO. PRAZO. 180 (CENTO E OITENTA) DIAS. PLANO. 
APROVAÇÃO. IMPROVIMENTO. I. Salvo exceções legais, o deferimento do 
pedido de recuperação judicial suspende as execuções individuais, ainda que 
10 
 
manejadas anteriormente ao advento da Lei 11.101/05. II. Em homenagem ao 
princípio da continuidade da sociedade empresarial, o simples decurso do prazo 
de 180 (cento e oitenta) dias entre o deferimento e a aprovação do plano de 
recuperação judicial não enseja retomada das execuções individuais quando à 
pessoa jurídica, ou seus sócios e administradores, não se atribui a causa da 
demora. III. Recurso especial improvido.17 (grifos do autor) 
 
PROCESSUAL CIVIL. CONFLITO POSITIVO DE COMPETÊNCIA. JUÍZO DE 
DIREITO E JUÍZO DO TRABALHO. RECUPERAÇÃO JUDICIAL. 
PROCESSAMENTO DEFERIDO. NECESSIDADE DE SUSPENSÃO DAS 
AÇÕES E PROCESSUAL CIVIL. CONFLITO POSITIVO DE COMPETÊNCIA. 
JUÍZO DE DIREITO E JUÍZO DO TRABALHO. RECUPERAÇÃO JUDICIAL. 
PROCESSAMENTO DEFERIDO. NECESSIDADE DE SUSPENSÃO DAS 
AÇÕES E EXECUÇÕES. COMPETÊNCIA DO JUÍZO DA RECUPERAÇÃO 
JUDICIAL. PRECEDENTES. 1. Uma vez deferido o processamento da recuperação 
judicial, ao Juízo Laboral compete tão-somente a análise da matéria referente à relação 
de trabalho, vedada a alienação ou disponibilização do ativo em ação cautelar ou 
reclamação trabalhista. 2. É que são dois valores a serem ponderados, a manutenção 
ou tentativa de soerguimento da empresa em recuperação, com todas as conseqüências 
sociais e econômicas dai decorrentes - como, por exemplo, a preservação de 
empregos, o giro comercial da recuperanda e o tratamento igual aos credores da 
mesma classe, na busca da "melhor solução para todos" -, e, de outro lado, o 
pagamento dos créditos trabalhistas reconhecidos perante a justiça laboral. 3. Em 
regra, uma vez deferido o processamento ou, a fortiori, aprovado o plano de 
recuperação judicial, revela-se incabível o prosseguimento automático das 
execuções individuais, mesmo após decorrido o prazo de 180 dias previsto no art. 
6º, § 4, da Lei 11.101/2005. 4. Conflito conhecido para declarar a competência do 
Juízo de Direito da Vara de Falências e Recuperações Judiciais do Distrito Federal.18 
(grifos do autor) 
 
PROCESSUAL CIVIL. CONFLITO DE COMPETÊNCIA. AGRAVO 
REGIMENTAL. JUÍZO DE DIREITO E JUÍZO DO TRABALHO. 
RECUPERAÇÃO JUDICIAL. RECLAMAÇÃO TRABALHISTA. ATOS DE 
EXECUÇÃO. MONTANTE APURADO. SUJEIÇÃO AO JUÍZO RECUPERAÇÃO 
JUDICIAL. ART. 6º, § 4º, DA LEI N. 11.101/05. RETOMADA DAS EXECUÇÕES 
INDIVIDUAIS. AUSÊNCIA DE RAZOABILIDADE. COMPETÊNCIA DA 
JUSTIÇA ESTADUAL. DECISÃO AGRAVADA MANTIDA. 1. Com a edição da 
Lei n. 11.101, de 2005, respeitadas as especificidades da falência e da recuperação 
judicial, é competente o respectivo Juízo para prosseguimento dos atos de execução, 
tais como alienação de ativos e pagamento de credores, que envolvam créditos 
apurados em outros órgãos judiciais, inclusive trabalhistas, ainda que tenha ocorrido 
a constrição de bens do devedor. 2. Se, de um lado, há de se respeitar a exclusiva 
competência da Justiça laboral para solucionar questões atinentes à relação do 
trabalho (art. 114 da CF); por outro, não se pode perder de vista que, após a apuração 
do montante devido ao reclamante, processar-se-á no juízo da recuperação judicial a 
correspondente habilitação, ex vi dos princípios e normas legais que regem o plano de 
reorganização da empresa recuperanda. 3. A Segunda Seção do STJ tem 
entendimento jurisprudencial firmado no sentido de que, no estágio de 
recuperação judicial, não é razoável a retomada das execuções individuais após 
o simples decurso do prazo legal de 180 dias de que trata o art. 6º, § 4º, da Lei n. 
 
17 BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Recurso Especial nº 1.193.480/SP. Relator: Min. Aldir Passarinho 
Junior. DJe: 18 out. 2010. Disponível em: 
https://scon.stj.jus.br/SCON/jurisprudencia/toc.jsp?livre=201000853991.REG. Acesso em: 07 mai. 2020. 
18 Id. Conflito de Competência nº 112.799/DF. Relator: Min. Luis Felipe Salomão. DJe: 22 mar. 2011. Disponível 
em: https://scon.stj.jus.br/SCON/jurisprudencia/toc.jsp?livre=201001179288.REG. Acesso em: 07 mai. 2020. 
11 
 
11.101/05. 4. Decisão agravada mantida por seus próprios fundamentos. 5. Agravo 
regimental desprovido.19 (grifos do autor) 
 
Cumpre referir que, no entendimento de Chagas20, o princípio da preservação consiste, 
inclusive, na primazia da empresa sobre o empresário, in verbis: 
 
Cabe, porém, ressaltar que a preservação da atividade empresarial não se confunde 
com a preservação da sociedade empresária. É que a teoria da empresa consagrou a 
distinção estanque entre empresa e empresário. E é a atividade desenvolvida 
(empresa) que merece proteção especial do Estado em razão de todos os benefícios 
que produz. Logo, há inequívoca primazia da empresa sobre o empresário, que poderá, 
inclusive, ser afastado se restarem provados malversação, fraude ou desvio 
patrimonial. 
[...] 
A extinção da empresa deve ser vista como última ratio [...]. 
 
Portanto, no âmbito de uma recuperação judicial, o fim das atividades da pessoa jurídica 
é considerado como última alternativa, tendo em vista que a recuperação tem por objeto auxiliar 
empresas a superarem o período de crise em que se encontram, evitando, assim, maiores 
prejuízos à economia. 
 
5 DA RECUPERAÇÃO JUDICIAL ORDINÁRIA 
 
Em substituição a antiga concordata, criou-se o institutoda Recuperação Judicial, o qual 
trata-se de ferramenta utilizada para proteção do crédito do devedor empresário e a recuperação 
da situação econômica em que se encontra temporariamente. Desta forma, podemos dizer que 
consiste num instrumento processual que visa auxiliar a recuperação econômico-financeira do 
agente. Para tanto, a Lei n. 11.101/2005, assim dispõe: 
 
Art. 47. A recuperação judicial tem por objetivo viabilizar a superação da situação de 
crise econômico-financeira do devedor, a fim de permitir a manutenção da fonte 
produtora, do emprego dos trabalhadores e dos interesses dos credores, promovendo, 
assim, a preservação da empresa, sua função social e o estímulo à atividade 
econômica. 
 
 
19 BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Agravo Regimental no Conflito de Competência nº 110.287/SP. 
Relator: Min. João Otávio de Noronha. DJe: 29 mar. 2010. Disponível em: 
https://scon.stj.jus.br/SCON/jurisprudencia/toc.jsp?livre=%28%22JO%C3O+OT%C1VIO+DE+NORONHA%2
2%29.MIN.&processo=2010%2F0018634-9+OU+201000186349&b=ACOR&thesaurus=JURIDICO&p=tru>. 
Acesso em: 07 mai. 2020. 
20 CHAGAS, 2019, p. 55. 
12 
 
Dentre as perspectivas de uma recuperação judicial, a recuperanda, para prevalecer à 
crise, deve manter sua produção, aliada à sua função social, conforme Chagas21: 
 
Pode-se dizer, então, que são sete os objetivos, pois todos os comandos do art. 47 
estão relacionados à oportunidade que se confere ao empresário de manter-se no 
mercado, superando a crise econômico-financeira pela qual está passando. Todavia, 
existem etapas do procedimento necessárias à superação da crise. Por isso, a análise 
em três grupos: primeiro, o objetivo genérico (superar a crise); depois, os objetivos 
específicos (manter produção, empregos e interesses dos credores); por último, os 
resultados desejados (preservar: empresa, função social e estímulo à economia) 
 
Além disso, a Lei de Recuperação Judicial e Falências prevê uma série de condições e 
prazos a serem cumpridos para que a empresa se mantenha ativa, isto é, exercendo a produção 
de seus serviços. Em suma, a recuperação judicial, bem como a extrajudicial, tem por principal 
objetivo evitar a falência do devedor. Desse modo, a matéria em questão, na visão de 
Tomazette22, tem sido interpretada: 
 
Pelos contornos da recuperação judicial, fica claro que seu objetivo final é a superação 
da crise econômico financeira pela qual passa o devedor empresário. A finalidade 
imediata é, portanto, afastar a crise, contudo, nada impede que o instituto seja utilizado 
para prevenir uma crise que se mostre iminente. Embora o texto da Lei não pareça ter 
esse objetivo, a lógica impõe que se reconheça essa possibilidade, pois não há dúvida 
de que se a crise é evitável, é muito melhor impedi-la de começar do que deixá-la 
acontecer, para só então solucioná-la. Portanto, o objetivo mais amplo da recuperação 
é a superação ou a prevenção das crises da empresa. 
Dentro desse objetivo mais amplo, se inserem os objetivos mais específicos indicados 
no artigo 47 da Lei n o 11.101/2005, quais sejam: (a) a manutenção da fonte produtora; 
(b) a manutenção dos empregos dos trabalhadores; e (c) a preservação dos interesses 
dos credores. [...]. 
 
Para requerer a recuperação judicial de uma determinada sociedade, destaca-se a 
legitimidade do próprio empresário, do cônjuge sobrevivente, dos herdeiros, do inventariante e 
do sócio remanescente em caso de falecimento do empresário. Contudo, o art. 2º da Lei n. 
11.101/2005 preconiza que não poderão optar por esse instituto as empresas públicas, as 
sociedades de economia mista, instituições financeiras públicas ou privadas, cooperativas de 
crédito, consórcios, entidades de previdência complementar, operadoras de planos de 
assistência à saúde, sociedades seguradoras, de capitalização e equiparadas. 
O empresário que se encontra em recuperação almeja o menor prejuízo para seus 
credores, uma vez que conclui que seu estado econômico frágil é passageiro, pedindo, assim, 
 
21 CHAGAS, 2019, p. 1095. 
22 TOMAZETTE, Marlon. Curso de direito empresarial: Falência e recuperação de empresas. v. 3. 5. ed. São 
Paulo: Atlas, 2017, p. 91. 
13 
 
auxílio para continuar com seu negócio. Para isto, se faz necessário a apresentação de um plano 
de recuperação judicial que, havendo a apresentação de objeção(ões) (discordância) de um ou 
mais credores, deverá ser submetido à aprovação em assembleia geral de credores. 
Somado aos supracitados requisitos, a lei também exige que a empresa esteja em 
regularidade há mais de dois anos e que não tenha se beneficiado de recuperação judicial nos 
últimos 5 anos, bem como que não possua, no seu quadro social, membro falido. Também não 
é possível efetuar o pedido a pessoa jurídica condenada por crime falimentar, sendo essa 
restrição estendida aos seus sócios e administradores. 
Conforme preceitua o art. 49 da Lei n. 11.101/2005, estão incluídos na recuperação 
todos os créditos existentes na data do pedido, ainda que não vencidos, excetuados os 
formulados em período posterior ao protocolo da ação, assim como adiantamento de contrato 
de câmbio para exportação e créditos tributários, contratos com cláusulas de irrevogabilidade 
ou irretratabilidade em incorporações imobiliárias, contratos de arrendamento mercantil e 
créditos tributários. 
O art. 50 contempla os meios exemplificativos, e não taxativos, que o devedor pode 
inserir no plano de recuperação (art. 53, LREF) que pretende implementar para sair da crise 
econômico-financeira. 
O instituto em comento, por trata-se de rito especial previsto em lei própria, divide-se 
em: processamento da recuperação judicial; apresentação do plano; e aprovação do mesmo 
pelos credores com a ulterior execução. 
No que diz respeito à apresentação do plano, a lei prevê que deverá ser efetuada no 
período máximo de 60 dias a contar da publicação do despacho de processamento (art. 52, 
LREF). Os credores, por sua vez, terão o prazo de 30 dias para manifestar objeção, contado da 
publicação da relação de credores, nos termos do art. 55 da LREF: “Art. 55. Qualquer credor 
poderá manifestar ao juiz sua objeção ao plano de recuperação judicial no prazo de 30 (trinta) 
dias contado da publicação da relação de credores de que trata o § 2º do art. 7º desta Lei.” 
 Havendo uma ou mais objeções, será aprazada a realização de assembleia geral de 
credores, na qual serão discutidas eventuais alterações ao plano, bem como será feita a 
deliberação para aprovação ou não do mesmo. Eventuais modificações, conquanto, só serão 
válidas mediante expressa anuência do devedor, consoante § 3º do art. 56 do mencionado 
diploma legal. 
Em atenção ao princípio da publicidade, surge a necessidade de que seja noticiada a 
atual situação econômica da sociedade empresária para aqueles que futuramente negociem com 
14 
 
ela. Na visão de Coelho23, é imprescindível a inserção da expressão “em recuperação judicial” 
no nome da empresa: 
 
Durante toda a fase de execução, a sociedade empresária agregará ao seu nome a 
expressão “em recuperação judicial”, para conhecimento de todos que com ela se 
relacionam negocial e juridicamente. A omissão dessas expressões implica 
responsabilidade civil direta e pessoal do administrador que tiver representado a 
sociedade em recuperação no ato em que ela se verificou. Será, outrossim, levado à 
inscrição na Junta Comercial o deferimento do benefício. (grifos do autor) 
 
Aprovado o plano e concedida a recuperação judicial, se houver o descumprimento de 
alguma obrigação, o juiz poderá, ex officio, convolar a recuperação em falência, nos termos do 
§ 1º do art. 61 da Lei n. 11.101/2005. Entretanto, devidamente cumpridas as obrigações 
constantes no plano, e transcorrido mais de dois anos da concessão, se encerrará a recuperação 
judicial, com a consequente supressão da expressão “em recuperação” do nome da empresa, 
consoante art. 6324 da lei.6 A FIGURA DO ADMINISTRADOR JUDICIAL 
 
Dentre os agentes da recuperação judicial abrangidos pelas LREF, se encontra presente 
o chamado administrador judicial. Conforme disposto no art. 21, o administrador será 
profissional idôneo, preferencialmente advogado, economista, administrador de empresas, 
contador, ou pessoa jurídica especializada. 
No mais, Tomazette25 complementa: 
 
Para garantir o bom exercício das suas funções, a lei impõe certo grau de 
imparcialidade na sua escolha, isto é, proíbe também a nomeação como administrador 
judicial de pessoas que tenham relação de parentesco ou afinidade até o 3º (terceiro) 
grau com o devedor, seus administradores, controladores ou representantes legais ou 
deles for amigo, inimigo ou dependente. Também se trata de impedimento similar ao 
que havia na Lei anterior, contudo, melhor detalhado, na medida em que agora se 
 
23 COELHO, 2016, p. 328. 
24 Art. 63. Cumpridas as obrigações vencidas no prazo previsto no caput do art. 61 desta Lei, o juiz decretará por 
sentença o encerramento da recuperação judicial e determinará: I – o pagamento do saldo de honorários ao 
administrador judicial, somente podendo efetuar a quitação dessas obrigações mediante prestação de contas, no 
prazo de 30 (trinta) dias, e aprovação do relatório previsto no inciso III do caput deste artigo; II – a apuração do 
saldo das custas judiciais a serem recolhidas; III – a apresentação de relatório circunstanciado do administrador 
judicial, no prazo máximo de 15 (quinze) dias, versando sobre a execução do plano de recuperação pelo devedor; 
IV – a dissolução do Comitê de Credores e a exoneração do administrador judicial; V – a comunicação ao Registro 
Público de Empresas para as providências cabíveis. (BRASIL. Lei Nº 11.101, de 9 de fevereiro de 2005. Regula 
a recuperação judicial, a extrajudicial e a falência do empresário e da sociedade empresária. Brasília, DF: 
Presidência da República, 2005. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-
2006/2005/lei/l11101.htm. Acesso em: 07 mai. 2020.) 
25 TOMAZETTE, v. 3, 2017, p. 170. 
15 
 
refere expressamente também aos administradores e controladores da sociedade, além 
do próprio devedor e dos seus representantes legais. [...]. 
 
Tanto no processo de recuperação judicial quanto no processo de falência, cabe ao juiz 
a escolha desse profissional, pois o administrador atuará como seu auxiliar nas questões 
procedimentais da ação, agindo de forma imparcial, sem favorecimento ou prejuízo às partes. 
Outrossim, prevê o art. 6426 da Lei 11.101/2005 que o administrador judicial possui a 
função de fiscalizar a execução do plano de recuperação, bem como os administradores da 
pessoa jurídica, que continuarão gerenciando o negócio. Assim, entende Negrão27: 
 
O magistrado, ao determinar o processamento da recuperação judicial (art. 52, I) ou 
ao decretar a falência (art. 99, IX) deve nomear um administrador judicial, fazendo 
recair sua escolha em um dos seguintes profissionais: advogado, economista, 
administrador de empresas ou contador, encontrados, de preferência, na comarca ou 
proximidades, tendo em vista a extensão dos trabalhos e a necessidade de intensa 
fiscalização sobre os atos do devedor. Nas comarcas com mais recursos, o juiz pode 
preferir a nomeação de pessoa jurídica especializada, isto é, sociedades que prestam 
serviços de auditoria ou contabilidade e que, ao assumirem o encargo, deverão indicar 
o nome de um dos profissionais de seu quadro para a função de responsável pela 
condução dos trabalhos em Juízo, não podendo ser substituído sem autorização 
judicial (art. 21). 
Percebe-se aqui o cuidado do legislador em profissionalizar as funções, determinando 
que a escolha se faça por critério de competência técnica, segundo as circunstâncias 
que o processo em Juízo exigir. 
 
De acordo com o art. 30, caput, da LREF, não poderá exercer o cargo de administrador 
judicial quem, nos últimos cinco anos, “no exercício do cargo de administrador judicial ou de 
membro do Comitê em falência ou recuperação judicial anterior, foi destituído, deixou de 
prestar contas dentro dos prazos legais ou teve a prestação de contas desaprovada”. Do mesmo 
modo, conforme § 1º desse dispositivo, fica impedido de assumir tal função aquele que tiver 
 
26 Art. 64. Durante o procedimento de recuperação judicial, o devedor ou seus administradores serão mantidos na 
condução da atividade empresarial, sob fiscalização do Comitê, se houver, e do administrador judicial, salvo se 
qualquer deles: I – houver sido condenado em sentença penal transitada em julgado por crime cometido em 
recuperação judicial ou falência anteriores ou por crime contra o patrimônio, a economia popular ou a ordem 
econômica previstos na legislação vigente; II – houver indícios veementes de ter cometido crime previsto nesta 
Lei; III – houver agido com dolo, simulação ou fraude contra os interesses de seus credores; IV – houver praticado 
qualquer das seguintes condutas: a) efetuar gastos pessoais manifestamente excessivos em relação a sua situação 
patrimonial; b) efetuar despesas injustificáveis por sua natureza ou vulto, em relação ao capital ou gênero do 
negócio, ao movimento das operações e a outras circunstâncias análogas; c) descapitalizar injustificadamente a 
empresa ou realizar operações prejudiciais ao seu funcionamento regular; d) simular ou omitir créditos ao 
apresentar a relação de que trata o inciso III do caput do art. 51 desta Lei, sem relevante razão de direito ou amparo 
de decisão judicial; V – negar-se a prestar informações solicitadas pelo administrador judicial ou pelos demais 
membros do Comitê; VI – tiver seu afastamento previsto no plano de recuperação judicial. (BRASIL. Lei Nº 
11.101, de 9 de fevereiro de 2005. Regula a recuperação judicial, a extrajudicial e a falência do empresário e da 
sociedade empresária. Brasília, DF: Presidência da República, 2005. Disponível em: 
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2005/lei/l11101.htm. Acesso em: 07 mai. 2020.) 
27 NEGRÃO, Ricardo. Curso de direito comercial e de empresa: recuperação judicial de empresa, falência e 
procedimentos concursais administrativos. v. 3. 11. Ed. São Paulo: Saraiva, 2017, p. 111. 
16 
 
parentesco ou afinidade até o terceiro grau com o devedor, seus administradores, controladores 
e/ou representantes legais ou deles for amigo, inimigo ou dependente. 
Salienta-se, então, que o Ministério Público poderá intervir na escolha do administrador 
judicial, caso haja alguma irregularidade ou ilegalidade (art. 30, § 2º), o que deverá ser julgado 
pelo magistrado em até 24 horas (art. 30, § 3º). 
 
7 DA RECUPERAÇÃO JUDICIAL ESPECIAL PARA MICROEMPRESAS E 
EMPRESAS DE PEQUENO PORTE 
 
Como anteriormente mencionado, a recuperação judicial é um conjunto de 
procedimentos que visam reestabelecer a saúde financeira de uma empresa. Esse conjunto, no 
entanto, acarreta num elevado custo processual que, não raras vezes, acaba por prejudicar o 
reestabelecimento do pequeno empreendedor. 
Diante disso, a Lei 11.101/2005 prevê uma recuperação judicial baseada em um plano 
especial voltado às pessoas jurídicas mais frágeis do mercado, quais sejam, as microempresas 
e empresas de pequeno porte. Esta modalidade de recuperação possui o mesmo propósito do 
regime ordinário, porém, contém procedimento mais simplificado. 
Chagas28, assim afirma: 
 
Considerando essas dificuldades dos pequenos empresários, a Lei n. 11.101/2005, em 
seus arts. 70, 71 e 72, criou uma forma especial de recuperação judicial. A recuperação 
judicial para microempresas e empresas de pequeno porte visa dar aos pequenos 
empresários uma alternativa mais viável para o resgate do pequeno negócio. Como 
dito, a finalidade é promover a recuperação judicial dos pequenos, com base em uma 
fórmula menos burocrática, incondicionada e preestabelecida. 
 
De certo, a ação deve ser ajuizada no local em que seencontra o principal 
estabelecimento do devedor, consoante art. 3º da Lei n. 11.101/2005. No entanto, para alguns 
doutrinadores, entende-se como principal estabelecimento aquele com maior volume de 
negócios, ou seja, que detém maior faturamento e o maior número de funcionários. Em 
contrapartida, o Conselho de Justiça Federal, no Enunciado n. 466, compreende: “[...] para fins 
do Direito Falimentar, o local do principal estabelecimento é aquele de onde partem as 
decisões empresariais, e não necessariamente a sede indicada no registro público.” 
Ainda, a matéria quanto à competência para ajuizamento da ação, tem sido interpretada 
pela jurisprudência da seguinte forma: 
 
28 CHAGAS, 2019, p. 1153. 
17 
 
AGRAVO DE INSTRUMENTO. RECUPERAÇÃO JUDICIAL E FALÊNCIA. 
FIXAÇÃO DO JUÍZO UNIVERSAL. PRINCIPAL ESTABELECIMENTO. 
DEFINIÇÃO DA COMPETÊNCIA. DECLARADA A INCOMPETÊNCIA DESTE 
JUÍZO. RECURSO PREJUDICADO. 1. A parte agravante suscitou conflito de 
competência perante o Superior Tribunal de Justiça, tombado sob o nº 154.788/RJ, a 
fim de que fosse determinado o principal estabelecimento da empresa para estabelecer 
o Juízo competente para processual a Recuperação Judicial, tendo aquela Corte fixado 
a competência da 7ª Vara Empresarial do Rio de Janeiro para apreciar as questões 
atinentes a reestruturação judicial e, consequentemente, a matéria tratada no presente 
feito. 2. O Princípio da indivisibilidade do Juízo concursal está inserido no art. 
76 da LRF que estabelece que o juízo da falência e da recuperação é indivisível e 
competente para todas as ações e reclamações sobre os bens, interesses e negócios do 
devedor. 3. A respeito da definição do juízo competente para processar e 
julgar os processos de recuperação judicial e falência, o art. 3º da Lei n.º 
11.101/05 define que será aquele do local do principal estabelecimento do 
devedor ou da filial da empresa que não tenha sede no Brasil. 4. Cumpre 
ressaltar que o principal estabelecimento é indicado no estatuto social, não 
havendo esta é aquele onde se encontra o poder de mando, principais operações 
econômicas e financeiras, bem como a contabilidade geral, devendo ser 
analisados estes pontos de acordo com as peculiaridades de cada caso para 
definição a competência, a qual é absoluta em razão da matéria. 5. Dessa 
forma, fixado o local do principal estabelecimento, onde se encontra o poder de 
mando e as principais atividades econômico-financeiras, aquele é o Juízo 
competente para decidir as questões que versem sobre a recuperação judicial, 
sendo esta Corte incompetente para decidir quanto a matéria em análise, 
prejudicado o presente recurso, devendo ser comunicada esta decisão a origem. 
Recurso julgado prejudicado.29 (grifos do autor) 
 
EMENTA. AGRAVO DE INSTRUMENTO. PEDIDO DE FALÊNCIA. 
COMPETÊNCIA ABSOLUTA DO JUÍZO FALIMENTAR. PRINCIPAL 
ESTABELECIMENTO DO DEVEDOR. REMESSA DOS AUTOS AO JUÍZO 
COMPETENTE 1. A falência deve ser requerida no foro do local onde a empresa 
devedora mantém o seu estabelecimento principal, sendo a competência do juízo 
falimentar absoluta. 2. O principal estabelecimento corresponde ao centro gerador 
das decisões negociais, que deve ser buscado do ponto de vista econômico, 
justamente por ser o local em que se encontra o maior número de bens da 
empresa e de seus credores.30 (grifos do autor) 
 
PROCESSUAL CIVIL. RECURSO ESPECIAL. PEDIDO DE RECUPERAÇÃO 
JUDICIAL AJUIZADO NO DISTRITO FEDERAL. DECLINAÇÃO DA 
COMPETÊNCIA PARA O RIO DE JANEIRO - RJ. PRINCIPAL 
ESTABELECIMENTO. ARTS. 3º E 6º, § 8º, DA LEI N. 11.101/2005. VIOLAÇÃO 
NÃO CARACTERIZADA. INDISPONIBILIDADE DE BENS E INATIVIDADE 
DA EMPRESA. POSTERIOR MODIFICAÇÃO DA SEDE NO CONTRATO 
SOCIAL. QUADRO FÁTICO IMUTÁVEL NA INSTÂNCIA ESPECIAL. 
ENUNCIADO N. 7 DA SÚMULA DO STJ. 1. O quadro fático-probatório descrito 
no acórdão recorrido não pode ser modificado em recurso especial, esbarrando na 
vedação contida no Enunciado n. 7 da Súmula do STJ. Em tal circunstância, não 
produzem efeito algum neste julgamento as alegações recursais a respeito da suposta 
atividade econômica exercida nesta Capital e da eventual ausência de citação nos 
 
29 RIO GRANDE DO SUL. Tribunal de Justiça. Agravo de Instrumento 70073855884. Relator: Des. Jorge Luiz 
Lopes do Canto. DJe: 05 jun. 2018. Disponível em: 
https://www.tjrs.jus.br/novo/busca/?return=proc&client=wp_index&combo_comarca=&comarca=&numero_pro
cesso=&numero_processo_desktop=70073855884&CNJ=N&comarca=&nome_comarca=&uf_OAB=&OAB=&
comarca=&nome_comarca=&nome_parte=. Acesso em: 07 mai. 2020. 
30 MINAS GERAIS. Tribunal de Justiça. Agravo de Instrumento 1.0521.12.017298-1/001. Relator: Des. 
Edilson Olímpio Fernandes. DJe: 08 jul. 2016. Disponível em: 
https://www4.tjmg.jus.br/juridico/sf/proc_resultado2.jsp?listaProcessos=10521120172981001. Acesso em: 07 
mai. 2020. 
18 
 
autos do pedido de falência referido pela recorrente, aspectos que nem mesmo foram 
enfrentados pelo Tribunal de origem. 2. A qualificação de principal 
estabelecimento, referido no art. 3º da Lei n. 11.101/2005, revela uma situação 
fática vinculada à apuração do local onde exercidas as atividades mais 
importantes da empresa, não se confundindo, necessariamente, com o endereço 
da sede, formalmente constante do estatuto social e objeto de alteração no 
presente caso. 3. Tornados os bens indisponíveis e encerradas as atividades da 
empresa cuja recuperação é postulada, firma-se como competente o juízo do último 
local em que se situava o principal estabelecimento, de forma a proteger o direito 
dos credores e a tornar menos complexa a atividade do Poder Judiciário, 
orientação que se concilia com o espírito da norma legal. 4. Concretamente, 
conforme apurado nas instâncias ordinárias, o principal estabelecimento da 
recorrente, antes da inatividade, localizava-se no Rio de Janeiro - RJ, onde foram 
propostas inúmeras ações na Justiça comum e na Justiça Federal, entre elas até 
mesmo um pedido de falência, segundo a recorrente, em 2004, razão pela qual a 
prevenção do referido foro permanece intacta. 5. Recurso especial improvido.31 
(grifos do autor) 
 
Considerando que a utilização do plano especial é opcional, a petição inicial deverá 
preencher os requisitos estabelecidos no art. 48 da LREF, sendo necessário que se indique 
expressamente a escolha pela recuperação judicial especial, sob pena de ser instaurada uma 
recuperação judicial ordinária. 
Teixeira32, complementa: 
 
É bom salientar que na petição inicial deve ficar claro que o empresário pleiteia a 
recuperação especial para ME ou EPP, pois do contrário, poderá o juiz entender que 
ele deseja a recuperação judicial ordinária, uma vez que esta, em tese, é possível 
também à ME ou EPP. Mas nesse caso, precisará atender aos requisitos que são 
próprios da recuperação ordinária/convencional. 
 
Sendo assim, a microempresa ou empresa de pequeno porte que se encontra em 
dificuldades financeiras, mas com possibilidade de recuperação, poderá optar tanto pela 
recuperação judicial comum, quanto pela recuperação especial. Para esta última, também é de 
caráter obrigatório que a petição inicial seja acompanhada dos documentos elencados no art. 51 
da Lei 11.101/2005, salientando que o seu § 2º permite a apresentação de documentação e 
escrituração de maneira simplificada. 
Observados todos os pressupostos, o juiz irá deferir a recuperação. A decisão do 
processamento possuirá efeitos a todos os credores existentes na data do pedido, excluindo-se 
 
31 BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Recurso Especial nº 1.006.093/DF. Relator: Min. Antonio Carlos 
Ferreira. DJe: 16 out. 2014. Disponível em: 
https://scon.stj.jus.br/SCON/jurisprudencia/toc.jsp?livre=%28%22ANTONIO+CARLOS+FERREIRA%22%29.
MIN.&processo=1006093&b=ACOR&thesaurus=JURIDICO&p=true. Acesso em: 07 mai. 2020. 
32 TEIXEIRA, Tarcisio. Direito empresarial sistematizado: doutrina, jurisprudência e prática. 5. ed. São Paulo:Saraiva, 2016, [s.n.]. Disponível em: https://www.academia.edu/37198686/Direito_Empresarial_Sistematizado_-
_Tarc%C3%ADsio_Teixeira_-_2016.pdf. Acesso em: 10 jun. 2020. 
19 
 
somente créditos fiscais e recursos oficiais, de acordo com as alterações trazidas pela Lei 
Completar n. 147/2014, a qual permitiu um aumento no número de credores a serem abrangidos. 
Anteriormente à Lei Complementar n. 147/2014, o plano especial englobava somente 
os créditos quirografários (excetuando-se aqueles indicados nos §§ 3º e 4º do art. 49 e no inc. I 
do art. 71 da LREF), aos quais era permitido o parcelamento em até trinta e seis meses, mediante 
correção monetária e juros de acréscimo de 12% ao ano, podendo, ainda, ser paga a primeira 
parcela em até cento e oitenta dias contados do ajuizamento da ação. Além disso, antes da 
alteração legislativa o devedor não poderia requerer a recuperação especial se dela já tivesse se 
utilizado nos últimos 8 anos, ao passo que, para a recuperação ordinária, este prazo sempre foi 
de 5 anos. 
Neste contexto, Tomazette33 afirma: 
 
No regime original, o devedor empresário que se enquadre como microempresa ou 
empresa de pequeno porte só podia requerer a recuperação especial em face dos seus 
credores quirografários, excetuados aqueles decorrentes do repasse de verbas oficiais 
e os credores proprietários referidos nos artigos 49, § 3o, e 86, II, da Lei no 
11.101/2005. Atualmente, com a Lei Complementar no 147, a amplitude é maior, 
podendo ser abrangidos na recuperação judicial todos os créditos existentes na data 
do pedido, ainda que não vencidos, excetuados os decorrentes de repasse de recursos 
oficiais, os fiscais e os previstos nos §§ 3o e 4o do artigo 49. Abrangem-se 
praticamente todos os créditos, excetuados apenas os créditos fiscais, os decorrentes 
de repasse de recursos oficiais e os chamados credores proprietários previstos nos §§ 
3o e 4o do art. 49. 
A abrangência de mais tipos de credores dá uma chance maior de recuperação ao 
devedor. A limitação aos credores quirografários, era uma repetição da antiga 
concordata que restringia demasiadamente a chance de recuperação, na medida em 
que é muito difícil ter apenas credores quirografários no quadro de credores. Dessa 
forma, tal iniciativa tende a permitir que a recuperação judicial seja mais efetiva. 
 
Contudo, cabe destacar que, diferentemente da recuperação judicial comum, a 
recuperação com base no plano especial, por força do parágrafo único do art. 71, não importa 
na suspensão do prazo prescricional das ações e execuções dos créditos não incluídos no plano, 
o que contraria a ideia de um tratamento favorecido aos micro e pequenos empresários. 
Mamede34, assim assevera: “O pedido de recuperação judicial com base em plano 
especial formulado por microempresa ou empresa de pequeno porte não acarreta a suspensão 
do curso da prescrição nem das ações e execuções por créditos não abrangidos pelo plano.” 
Com o deferimento do processamento, inicia-se o prazo de 60 dias para o devedor 
apresentar o plano especial de recuperação, momento em que o juiz nomeará um administrador 
judicial, nos termos do art. 52 da Lei de Recuperações e Falências. 
 
33 TOMAZETTE, v. 3, 2017, p. 343-344. 
34 MAMEDE, Gladston. Manual de direito empresarial. 8. ed. São Paulo: Atlas, 2013, p. 452. 
20 
 
Todavia, ao contrário do plano de recuperação ordinário, o plano especial possui forma 
pré-fixada na Lei, prevista no art. 7135. Nesta modalidade de recuperação, não cabe a 
convocação de assembleia geral de credores para deliberarem sobre o plano, sendo competência 
exclusiva do juiz observar os parâmetros fixados na LREF. No entendimento de Mamede36, o 
não preenchimento de todos os pressupostos legais obriga o magistrado a decidir pela 
improcedência do pleito, com a consequente decretação da falência, nos termos do parágrafo 
único do art. 7237: 
 
Se não atender a tais requisitos, o juiz julgará improcedente o pedido e, em 
consequência, decretará a falência do devedor; é o que se extrai do parágrafo único 
do artigo 72 que, embora se refira a uma outra situação, a ser estudada a seguir, utiliza-
se da frase o juiz também julgará improcedente o pedido de recuperação judicial e 
decretará a falência do devedor. Ora, (1) por técnica legislativa, cabe ao caput a regra 
e ao parágrafo os esclarecimentos ou ressalvas. No caso, colocou--se a procedência 
do pedido no caput e, em oposição, a improcedência do pedido no parágrafo único, 
que se interpreta, portanto, como uma só solução, uma só consequência para a hipótese 
versada, qual seja, a improcedência do pedido de recuperação: a decretação da 
falência. (2) Por interpretação gramatical, vê-se que o advérbio também e a 
conjunção e estão diretamente relacionados, a significar que se previu, para as duas 
hipóteses, o mesmo tratamento: a improcedência do pedido e a decretação da falência. 
(3) Por interpretação estrutural – e, mesmo, por estilística –, sabe-se que, se 
estivéssemos diante de duas consequências diversas para a mesma hipótese (a 
improcedência do pedido), tal ressalva deveria resultar clara do texto normativo, o que 
não ocorre. Não se veem no conjunto do artigo (caput e parágrafo único) duas 
consequências diversas, mas apenas uma: a falência. 
 
Entretanto, o posicionamento de Tomazette38 é divergente quanto a este ponto, pois, 
para o autor, as hipóteses de falência devem sempre ser interpretadas em favorecimento da 
empresa, haja vista a gravidade das consequências que a decretação da quebra acarretará: 
 
Gladston Mamede entende que também será decretada a falência se não houver o 
atendimento aos requisitos legais, pois haveria uma análise do mérito do pedido e não 
apenas questões processuais. A nosso ver, porém, a decretação da falência só seria 
possível nas hipóteses previstas expressamente no artigo 73 da Lei nº 11.101/2005, 
dentre as quais não se encontra a falta de requisitos. O uso do aditivo também no artigo 
72 se refere às demais hipóteses de convolação em falência, como a não apresentação 
 
35 Art. 71. O plano especial de recuperação judicial será apresentado no prazo previsto no art. 53 desta Lei e limitar-
se á às seguintes condições: I - abrangerá todos os créditos existentes na data do pedido, ainda que não vencidos, 
excetuados os decorrentes de repasse de recursos oficiais, os fiscais e os previstos nos §§ 3º e 4º do art. 49 II - 
preverá parcelamento em até 36 (trinta e seis) parcelas mensais, iguais e sucessivas, acrescidas de juros 
equivalentes à taxa Sistema Especial de Liquidação e de Custódia - SELIC, podendo conter ainda a proposta de 
abatimento do valor das dívidas; III – preverá o pagamento da 1a (primeira) parcela no prazo máximo de 180 
(cento e oitenta) dias, contado da distribuição do pedido de recuperação judicial; IV – estabelecerá a necessidade 
de autorização do juiz, após ouvido o administrador judicial e o Comitê de Credores, para o devedor aumentar 
despesas ou contratar empregados. (BRASIL. Lei Nº 11.101, de 9 de fevereiro de 2005. Regula a recuperação 
judicial, a extrajudicial e a falência do empresário e da sociedade empresária. Brasília, DF: Presidência da 
República, 2005. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2005/lei/l11101.htm. 
Acesso em: 07 mai. 2020.) 
36 MAMEDE, Gladston. Direito empresarial brasileiro: falência e recuperação de empresas. 10. ed. São Paulo: 
Atlas, 2019, p. 178. Disponível em: https://integrada.minhabiblioteca.com.br. Acesso em: 15 jun. 2020. 
37 BRASIL. Op. Cit. 
38 TOMAZETTE, v. 3, 2017, p. 347-348. 
21 
 
do plano de recuperação no prazo legal. Ademais, permitir a decretação da falência 
em mais casos não se coaduna com a ideia do tratamento privilegiado às 
microempresas e empresas de pequeno porte. 
 
Neste caso, a falência apenas deve ser decretada diante das circunstâncias preconizadas 
em lei, não sendo permitida interpretação extensiva. 
Outradissemelhança é o fato de que, ao optar pela recuperação especial, fica 
condicionado à autorização judicial, após ouvido o administrador judicial e o comitê de credores 
(que, em tese, somente pode ser constituído em assembleia geral de credores, a qual é 
dispensada aos optantes desta modalidade), o aumento do número de empregados e de outras 
despesas. Nesse sentido, Zanini39 menciona: 
 
Dentre as condições estabelecidas pela Lei para o Plano Especial, encontra-se a da 
necessidade de prévia autorização judicial para o devedor aumentar despesas ou 
contratar empregados (art. 71, IV); decisão essa que deve ser proferida após ouvidos 
o administrador judicial e o Comitê de Credores. Embora possa-se nele divisar a boa 
intenção do legislador, o dispositivo não nos parece dos mais felizes. [...]. Neste 
contexto, aliás, a Lei inclusive dispensa a convocação da Assembléia-Geral de 
Credores, com o que dificilmente terá sido instaurado o Comitê de Credores, cuja 
oitiva prévia – juntamente com a do administrador judicial – é exigida pela Lei para a 
tomada da decisão judicial. 
Peca também por empregar uma redação vaga e imprecisa, podendo oferecer, na 
prática, um empecilho à gestão da atividade empresária em crise. Observe-se, nesse 
sentido, que o dispositivo em questão condiciona à prévia decisão judicial o ato de 
contratar empregados. Não diz, contudo, se é qualquer contratação, ainda que efetuada 
para preencher vaga deixada por empregado previamente demitido ou 
temporariamente afastado. Ademais, a contratação de empregados denota expansão 
das atividades, vindo, portanto, em favor da recuperação, e não o contrário. 
Condicioná-la à prévia autorização judicial – precedida da opinião prévia exarada pelo 
administrador judicial – pode, por conseguinte, muito bem constituir-se em entrave à 
recuperação, acarretando um engessamento da gestão incompatível com a celeridade 
exigida pela boa prática da atividade empresária. Os mesmos argumentos podem ser 
aplicados à restrição posta ao aumento de despesas. Aliás, é praticamente impossível 
– e absolutamente desaconselhável – proceder-se a uma análise pontual e isolada das 
despesas incorridas por uma empresa. Só se pode falar em aumento ou diminuição de 
despesas relativamente a um dado período de tempo, que, no entanto, não vem 
indicado na Lei. 
 
Portanto, neste ponto, o legislador, ao invés de facilitar a administração das empresas 
hipossuficientes, acabou por aumentar a quantidade de restrições. 
Com a apresentação do plano, será publicado edital para que se cientifique os credores 
da proposta. Ato contínuo, iniciará o prazo de 30 dias para apresentação das objeções, as quais 
deverão estar acompanhadas das razões de motivação para tanto (art. 55, LREF). Há, também, 
a possibilidade de os credores requerem perante o juiz a improcedência do pedido, mas para 
isso é necessário que se tenha a concordância de mais da metade dos credores. 
 
39 ZANINI, 2007, p. 326-327. 
22 
 
Ressalta-se, ainda, que a objeção ao plano de recuperação deve ser fundamentada. Nesta 
esteira, Restiffe40 afirma: 
 
A exceção ao plano especial de recuperação judicial apresentado pelo devedor, que 
deve ser apresentado no trintídio seguinte à publicação do aviso aos credores sobre o 
recebimento do plano de recuperação apresentado pelo devedor, deve ser 
fundamentada, devendo o credor excipiente indicar, justificadamente, as razões de sua 
impugnação. 
 
Como já abordado no âmbito da recuperação judicial ordinária, em caso de não haver 
objeções, o plano será aprovado tacitamente. Todavia, o que se difere no plano de recuperação 
especial é que, caso haja uma ou mais objeções, não será convocada assembleia geral, conforme 
vedação expressa no art. 7241 da Lei 11.101/2005. Quanto a esse ponto, Bezerra Filho42 leciona: 
 
Nesse aspecto, há desvantagens para o pequeno empresário, pois, para outros casos 
de recuperação judicial normal, se houver objeção dos credores, esta sempre poderá 
ser afastada pela assembleia geral (art. 56), que, no presente caso, não será convocada. 
(grifos do autor) 
 
Cumpre destacar que, se as impugnações ao plano, apresentadas dentro do prazo legal 
de 30 dias a contar da publicação do 1º edital, totalizarem mais da metade do crédito de uma 
das classes, o juiz decretará a quebra da empresa, convalidando a recuperação em falência (art. 
72, parágrafo único, LREF). 
Tomazette43, assim assevera: 
 
O juiz decretará a falência, automaticamente, se houver objeção de credores que 
representam mais da metade de qualquer uma das classes dos créditos abrangidos (Lei 
no 11.101/2005 – art. 72, parágrafo único). Neste particular, a recuperação especial 
é pior do que a recuperação judicial ordinária, na medida em que nesta a rejeição 
por uma das classes do artigo 41 não importa a automática rejeição do acordo. Assim, 
o melhor seria afastar esta decretação automática da falência, fazendo uma 
interpretação teleológica, para considerar que o plano só será rejeitado se for rejeitado 
pela maioria das classes abrangidas (objeção de mais da metade dos créditos), 
aplicando-se neste caso a mesma divisão de classes do artigo 41. Em todos os casos, 
 
40 RESTIFFE, Paulo Sérgio. Recuperação de empresas: de acordo com a Lei 11.101, de 09-02-2005. Barueri-
SP: Manole, 2008, p. 254. 
41 Art. 72. Caso o devedor de que trata o art. 70 desta Lei opte pelo pedido de recuperação judicial com base no 
plano especial disciplinado nesta Seção, não será convocada assembleia-geral de credores para deliberar sobre o 
plano, e o juiz concederá a recuperação judicial se atendidas as demais exigências desta Lei. (BRASIL. Lei Nº 
11.101, de 9 de fevereiro de 2005. Regula a recuperação judicial, a extrajudicial e a falência do empresário e da 
sociedade empresária. Brasília, DF: Presidência da República, 2005. Disponível em: 
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2005/lei/l11101.htm. Acesso em: 07 mai. 2020.) 
42 BEZERRA FILHO, Manoel Justino. Lei de recuperação de empresas e falência: Lei 11.101/2005: comentada 
artigo por artigo. 10. ed. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2014, p. 196. 
43 TOMAZETTE, v. 3, 2017, p. 347. 
23 
 
a contagem dos votos deverá obedecer ao disposto no artigo 45 da Lei no 11.101/2005. 
(grifos do autor) 
 
Outrossim, registra-se que o legislador foi omisso quanto aos prazos de manutenção dos 
bens alienados e/ou arrendados, como abordado por Bezerra Filho 44, nos seguintes termos: 
 
Em consequência, também não se concede ao pequeno empresário a manutenção em 
suas mãos, pelo prazo de 180 dias, de máquinas, equipamentos e veículos que estejam 
alienados fiduciariamente ou arrendados, enfim, quaisquer bens que estejam nas 
situações previstas no § 3° do art. 49. 
 
Em análise do regramento anterior, Decreto-lei n. 7661/45, percebe-se a relevância da 
concordata preventiva, antigo instituto judicial que tinha por objetivo evitar a falência do 
comerciante, possibilitando sua recuperação por meio da prorrogação de prazo para 
adimplemento dos créditos quirografários, somente. Ocorre que este velho mecanismo era 
bastante similar à forma originalmente dada à modalidade de recuperação voltada para as micro 
e pequenas empresas, pois também apresentava as seguintes características: abrangência de 
créditos quirografários, somente (na recuperação judicial especial, esta limitação deixou de 
existir com a vigência da LC n. 147/2014); pagamento de forma parcelada; previsão de prazo 
máximo para quitação da dívida; e correção do débito à recuperação acrescida com juros de 
12% ao ano (a partir da LC n. 147/2014, esse acréscimo passou a ser calculado com base na 
taxa Sistema Especial de Liquidação e de Custódia – SELIC).45 
Neste ponto, mostra-se contraditório a conduta do legislador na elaboração da Lei n. 
11.101/2005, vez que a recuperação judicial surgiu para melhor atender à finalidade social da 
empresa, permitindo suamanutenção, o que dificilmente se conseguia no antigo regime. No 
atual instituto, exclusivamente para microempresas e empresas de pequeno porte, manteve-se 
uma sistemática semelhante, contrariando a ideia de melhor tratamento para estas classes. 
Considerando o mandamento constitucional já analisado neste trabalho, a Lei 
11.101/2005 não poderia ter atribuído, a essa parcela fragilizada do ramo empresarial, um 
regramento tão aproximado ao regramento anterior, inclusive, porque a mudança legislativa se 
deu em razão da ineficácia da antiga concordata na conservação de empresas. 
Em vista disso, as empresas pormenorizadas se veem diante de duas opções: i) ajuizar 
uma recuperação ordinária, o que acaba sendo prejudicial devido ao elevado custo 
 
44 BEZERRA FILHO, 2014, p. 196. 
45 Id. Recuperação de microempresas e empresas de pequeno porte: Modificações introduzidas pela Lei 
Complementar nº 147, de 7 de agosto de 2014. Cadernos Jurídicos da Escola Paulistana de Magistratura, São 
Paulo, ano 16, n. 39, p. 21-31, jan./mar. 2015. 
24 
 
procedimental, e ii) optar por um plano especial, cujas características se assemelham às da 
antiga concordata, que restringia a recuperação apenas ao parcelamento da dívida e à limitação 
dos juros, medidas essas que muitas vezes se revelavam inexpressivas para o saneamento da 
crise. 
Nessa acepção, Bezerra Filho46 adverte: 
 
A Lei 11.101, na redação original do art. 71, chegava a ser contraditória. Se a 
afirmação era de que a lei de 1945 precisaria ser mudada, porque a concordata não 
propiciava qualquer condição de recuperação à empresa, parecia não haver 
justificativa para que se concedesse à pequena empresa um sistema tão semelhante à 
concordata anterior. 
 
Assim sendo, ainda que a norma almeje tornar o procedimento mais simplificado e 
menos oneroso para as microempresas e empresas de pequeno porte, sendo o plano previamente 
fixado em lei e sem carecer de aprovação dos credores, acaba por ser ineficaz, resultando, por 
consequência, na sua inaplicabilidade, uma vez que se esgotam as hipóteses de recuperação. 
Nas palavras, Martins47 ilustra: 
 
Balizada a matéria, quando o legislador ordinário cuidou da recuperação de pequenas 
empresas, também de modo pouco animador, deu-lhe tratamento no mínimo 
insustentável, qual seja, sem qualquer privilégio, concedendo prazo de três anos para 
soerguimento da atividade, impondo juros de 12% ao ano, em resumo, nada de 
especial para arrebanhar o grande volume de negócios centrados em atividades dessa 
natureza. 
Com efeito, a disciplina tocante à recuperação de pequenas e microempresas, sem 
sombra de dúvida, veio tratada do art. 70 até o art. 72 da Lei nº 11.101/05, mais grave 
ainda, resvalando apenas e tão somente nos credores quirografários, quando na 
maioria das vezes as dívidas tributárias e fiscais representam a grande massa 
prejudicial ao pequeno empreendedor. 
 
Estudos efetuados pela Fundação Getúlio Vargas, em solicitação do Ministério da 
Justiça, apontam que a recuperação judicial com base no plano especial acaba por não ter efeito 
prático. Em que pese as alterações trazidas posteriormente pela Lei Complementar n. 147/2014, 
a Lei n. 11.101/2005 não abrange uma normativa que atenda integralmente a imposição 
constitucional de tratamento favorecido às microempresas e empresas de pequeno porte, visto 
que pré-determinou os moldes dessa modalidade de recuperação, restringindo o plano ao 
parcelamento limitado e a não dilação do prazo para início do pagamento do débito, ao passo 
 
46 BEZERRA FILHO, 2014, p. 193. 
47 MARTINS, Fran. Curso de direito comercial: empresa, empresários e sociedades. v. 1. 42. ed. rev. atual. e 
ampl. por Carlos Henrique Abrão. Rio de Janeiro: Forense, 2019, p. 124. Disponível em: 
https://integrada.minhabiblioteca.com.br. Acesso em: 15 jun. 2020. 
25 
 
que na modalidade ordinária há possibilidade de escolha do modo mais satisfatório para o 
reestabelecimento da empresa.48 
Como já vimos, essa limitação, aferida à recuperação judicial especial, é criticada pela 
doutrina jurídica, tendo em vista que, não raras vezes, o parcelamento se mostra como forma 
menos eficiente a sanar a crise. 
Na visão de Ramos49, “o plano especial disciplinado pela LRE não atendeu às 
expectativas, uma vez que se resume, basicamente, a um curto parcelamento de seus débitos”. 
Antes da reforma trazida pela LC n. 147/2014, Ramez Tebet50, Senador que participou 
da elaboração da Lei de Recuperação e Falências, justificou a limitação imposta a abrangência 
do plano especial, que à época permitia apenas a inclusão de créditos quirografários, nos 
seguintes termos: 
 
Saliente-se, ainda, que a inclusão de créditos não quirografários e a maior flexibilidade 
nos termos do plano especial – ao contrário do que pode parecer em um exame 
desatento e ingênuo do assunto – traria prejuízo, e não benefício, às micro e pequenas 
empresas, pois o risco envolvido em qualquer negócio realizado com elas seria 
sobremaneira agravado na avaliação do mercado. Dessa forma, os pequenos teriam o 
custo do seu crédito aumentado significativamente ou simplesmente perderiam acesso 
ao financiamento de sua atividade. 
 
Destarte, é notária a preocupação do legislador em fornecer condições mais benéficas 
às microempresas e empresas de pequeno porte. Apesar disso, a bem da verdade é que a lei 
acabou por dificultar o acesso desta classe de empresas à recuperação mais adequada. O micro 
e o pequeno empresário, então, se veem impelidos a optarem por um procedimento de 
recuperação mais amplo, diferente daquele que, teoricamente, deveria ser mais benéfico, 
propiciando o exercício de sua atividade, porém de forma dificultosa devido ao elevado custo 
processual. 
 
8 CONCLUSÃO 
 
Considerando o estudo aqui exposado, iniciando por uma interpretação finalística da 
Constituição da República e transitando pela comparação entre os regimes ordinário e especial 
 
48 BRASIL. Ministério da Justiça (Secretaria de Assuntos Legislativos). Análise da nova lei de falências. Brasília, 
DF: 2010, p. 75-76. Disponível em: http://pensando.mj.gov.br/wp-content/uploads/2016/10/22pensando_direito-
1.pdf. Acesso em: 26 abr. 2020. 
49 RAMOS, 2017, [s.n.]. 
50 TEBET, Ramez. Parecer 534: Lei 11.101/2005. Brasília, 2005. 
Disponível em: http://redir.stf.jus.br/paginadorpub/paginador.jsp?docTP=TP&docID=580933. Acesso em: 26 
abr. 2020. 
26 
 
de recuperação judicial, é possível concluir que, em que pese a atenção dada pela Lei n. 
11.101/2005 em instituir um regime próprio de recuperação judicial para microempresas e 
empresas de pequeno porte, terminou por não satisfazer o mandamento constitucional de 
tratamento distinto e privilegiado, com o propósito de propiciar melhores oportunidades para 
essas pessoas jurídicas. Não é por menos que parte da doutrina manifesta o mesmo 
entendimento. 
Sendo assim, grande parcela dessas empresas, quando se encontram em dificuldades 
financeiras, não desfrutam de um método de recuperação judicial efetivo e menos oneroso e, 
consequentemente, acabam falindo, vez que se deparam com diversas limitações do plano 
especial (seja por não abarcar créditos que eventualmente são a maior parte de seu débito, seja 
por limitar o parcelamento do passivo em até 36 prestações, com a possibilidade de abatimento 
do valor das dívidas e a obrigação de pagar a primeira parcela no prazo de 180 dias após o 
ajuizamento da ação), assim como com dificuldades quanto ao cumprimento dos requisitos à 
concessão da recuperação ordinária, em que o custo se mostra elevado. 
Ainda, a adoção do plano especial não confere ao postulante a benesse do stay period 
para os créditos não atingidos na recuperação. Sem contar que a objeção ao plano apresentado, 
manifestada por mais da metade de qualquer das classes de credores, resulta na falência 
imediata, pois a lei veda a realização de assembleia (a qual é prevista na recuperação ordinária),

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