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13 M;cotox;coses Humanas e M;cet;smos Benedito Corrêa MICOTOXINAS E MICOTOXICOSES Introdução Micotoxina é palavra originária da língua gre- ga que se compõedos termos mikes (fungos) e toxikon (toxina ou veneno). Constitui, portan- to, metabólito secundário, tóxico, produzido por fungo filamentoso (bolor), por cuja inges- tão, contato ou inalação se contraem doenças ou mesmo se chega à morte. São produzidas por fungos passíveis de contaminar alimentos de origem vegetal, tais comogrãos de cereais, por exemplo, desde o cultivo, passando pela colheita, pelo transporte, até o armazena- mento, lembrando que devem ser satisfeitas as condições ideais de umidade e de tempe- ratura ambientes para a proliferação desses fungos. Estima-se a existência de 100.000 espécies fúngicas; considera-se que, dessas, somen- te 250 sejam capazes de produzir micotoxi- nas. Em geral, são fungos ubiquitários, e as doenças por eles produzidas são observadas em todas as partes do mundo. De tal infor- mação, pode-se inferir a presença de diversos fatores responsáveis pela presença de mico- toxinas, destacando-se os fatores climáticos, as técnicas agrícolas regionais e as práticas de armazenagem; essas últimas são as mais importantes. No Brasil, as micotoxinas mais detectadas em alimentos são as aflatoxinas, as fumonisinas, a zearalenona, as ocratoxinas e o deoxinivalenol. Existem várias espécies fúngicas associa- das à contaminação de produtos agrícolas; contudo, os gêneros Aspergillus, Penicillium, Fusarium e Alternaria são os de maior rele- vância. Dependendo dos teores de micotoxinas in- geridos, quatro tipos básicos de toxicidade são verificados: aguda, crônica, mutagênica ou teratogênica. O efeito agudo mais frequente é o da deterioração das funções hepáticas e renais, fatal em alguns casos. Algumas mico- toxinas agem primariamente, interferindo na síntese proteica, produzindo necrose dérmica e imunodeficiência extrema. O efeito crônico de muitas micotoxinas é o da indução de neo- plasias, principalmente no fígado. Algumas interferem na replicação do DNA, e, conse- quentemente, podem resultar em efeitos mu- tagênicos e teratogênicos. Os principais fungos toxigênicos associa- dos à produção de micotoxinas são: Alterna- ria, Aspergillus, Cladosporium, Claviceps, Fusarium, Myrothecium, Paecilomyces, Pe- nicillium, Phoma, Pithomyces, Stachybotrys, Trichoderma e Trichothecium. Entretanto, os gêneros Aspergillus, Fusarium, Penicillium e Alternaria são considerados os mais impor- tantes. Os quatro grandes grupos de micotoxinas e seus respectivos fungos produtores podem ser assim distribuídos: (1) aflatoxinas, meta- bólitos biossintetizados, principalmente por Aspergillus flavus, Aspergillus parasiticus e Aspergillus nomius; (2) ocratoxinas, produ- zidas por Aspergillus ochraceus (Aspergillus alutaceus) e algumas espécies do gênero Pe- nicillium; (3) fusariotoxinas, produzidas por Fusarium spp., tendo como principais repre- sentantes as fumonisinas, a zearalenona, a moniliformina e os tricotecenos; (4) alterna- riol e alternariol monometil éter, produzidos por Alternaria alternata. Todos esses fungos, bem como as micoto- xinas por eles produzidas, desenvolvem-se de maneira adequada, dependendo da presença de algumas condições, tais como: a) suscetibi- lidade do substrato (alimento); b) colonização do fungo produtor; c) existência de condições de temperatura apropriadas; d) umidade do substrato; e) umidade relativa do ar durante o armazenamento do alimento; f) capacidade do fungo produzir micotoxinas; e g) presença de insetos e ácaros. Dos aspectos enumera- dos, são apontados como os mais influentes na contaminação o substrato, a umidade e a temperatura. Em geral, os fungos começam a se proliferar em grãos de cereais armazena- dos à medida que os teores de umidade atin- gem níveis superiores a 13,5%, com atividade de água mínima para as principais espécies de fungos toxigênicos superior a 0,76. Tempe- raturas abaixo de 10°C inibem o crescimento Micotoxicoses Humanas e Micetismos de fungos toxigênicos. Para seu crescimento, as temperaturas ideais são em torno dos 25 a 30°C, ainda que algumas espécies de Asper- gillus se desenvolvam melhor em temperatu- ras acima dos 30°C. De modo geral, os produtos passíveis de veicular micotoxinas aos animais e ao homem são: produtos agrícolas, como cereais semen- tes oleaginosas, frutas e vegetais; produtos de origem animal (leite e seus derivados, carnes, embutidos e queijos curados por fungos); ali- mentos orientais fermentados; produtos fer- mentados, tais como cervejas e vinhos; além das rações animais industrializadas. ASPECTOS HISTÓRICOS E CONTEMPORÂNEOS Desde a remota era cristã, tem-se conheci- mento das micotoxinas e micotoxicoses, en- contrando-se citações no Antigo Testamento relacionadas às 10 pragas do Egito, descritas nos livros do Êxodo e de Jó. Segundo Schoen- tal (1980/1984), em seus artigos "Moses and mycotoxins" e "Mycotoxins and the Bible", há indícios da presença de micotoxinas na peste que exterminou os rebanhos, provocou tumo- res e úlceras nos animais e no povo do Egito, na época em que Moisés lutava para libertar os hebreus da escravidão e do poder do Faraó. Sobre as micotoxicoses que acometem os seres humanos, a mais antiga e mais conhe- cida é o ergotismo, ou "fogo de santo antão", cujos sintomas típicos datam de centenas de anos (mais precisamente do ano 900). Sensa- ções como extremidades do corpo frias, quei- mação, necrose e gangrena caracterizavam os episódios de ergotismo daquela ocasião. Na Idade Média, a doença chegou a atingir proporções endêmicas, quando provocou mais de 40.000 mortes. Nesse tempo eram comuns as promessas buscando os milagres da cura, nas romarias que se destinavam ao túmulo de Santo Antão. Daí a razão de a moléstia de- nominar-se "fogo de santo antão", relação po- pularizada talvez porque os efeitos curativos das viagens resultassem em afastamento do Micotoxicoses Humanas e Micetismos paciente das áreas sujeitas a contaminação. O ergotismo foi então associado ao consumo de pão preparado com farinha de centeio e de outros grãos contaminados com Claviceps purpurea e Claviceps paspalii; nesses alimen- tos, o fungo desenvolvia-se nas partes femini- nas das plantas sob a forma de ergot (massas endurecidas de filamentos micelianos de cor negra a avermelhada). No século XX, surtos de ergotismo foram descritos na Rússia (1926), na Irlanda (1929), na França (1953) e na Etiópia (1978); nesse último país, mais de 140 pessoas foram afeta- das por ergotismo gangrenoso relacionado ao consumo de aveia. Em 1930, foram isoladas as substâncias responsáveis pelo envenenamento pelo ergot, alcaloides derivados do ácido D-lisérgico, como a ergotamina, a ergocriptina e a ergocristina. Essas estimulam a musculatura lisa e cau- sam vasoconstrição e contrações uterinas. No transcorrer da Segunda Guerra Mundial, epi- sódios de intoxicações se fizeram presentes na população de determinadas regiões da Rús- sia. Na época, os cereais, cobertos por espes- sa camada de gelo, eram atacados por fungos (Fusarium sporotrichioides e Fusarium poae), que, por sua vez, deram origem a metabólitos tóxicos causadores da chamada aleucia tóxica alimentar (ATA), cujos efeitos primários ma- nifestavam-se sob a forma de inflamação das mucosas (oral e gastrointestinal) e gastroen- terite aguda. A moléstia evoluía com altera- ções do quadro sanguíneo, como diminuição do número de leucócitos, alterações da me- dula óssea e petéquias hemorrágicas na pele, culminando com síndrome hemorrágica dos genitais. Paralelamente, foram observados distúrbios dos sistemas nervoso, autônomo e central. Na dependência da resistência indi- vidual, das condições gerais de nutrição e da concentração de micotoxina ingerida, inúme- ros óbitos foram assinalados. Vale ressaltar que os tricotecenos são também produzidos por outras espécies de fungos, como Cepha- losporium, Myrothecium, Trichoderma e Sta- chybotrys. São grupo de substâncias que apre- sentam alto grau de toxicidade, e, por isso,é 143 empregado na guerra química como produtor de hemorragias difusas e lesões disseminadas que levam o indivíduo rapidamente à morte. Recentemente, soube-se do uso de chuva ama- rela (yellow rain) por tricotecenos provenien- tes de fungos, no Sudeste da Ásia. Contudo, o ano de 1960, inegavelmente, representa um marco histórico em relação ao conhecimento das micotoxinas, que até então pouca atenção despertavam, através do episó- dio que revelou as aflatoxinas. Naquele ano, aproximadamente 100.000 pequenos perus em diversas regiões da Inglaterra morreram após a ingestão de torta de amendoim mofada, importada do Brasil. O mesmo extrato, obtido da ração envolvida com o surto, inoculado ex- perimentalmente em marrecos jovens, repro- duziu lesões hepáticas semelhantes à doença natural. Essas substâncias isoladas, que de- monstraram ser extremamente tóxicas, foram apontadas como responsáveis pelo episódio e denominadas aflatoxinas. Constatou-se que Aspergillus flavus e As- pergillus parasiticus são produtores dessas micotoxinas, cujas variações moleculares per- mitem caracterizar uma dezena de compos- tos. Os principais são as aflatoxinas Bj, B2, G1 e G2 (segundo as fluorescências emitidas: B = blue e G = green). O fígado é o maior sí- tio de biotransformação das aflatoxinas em vários outros metabólitos, ressaltando-se as aflatoxinas M, e M2 (produtos de biotransfor- mação das aflatoxinas Bl e B2),que aparecem no leite de vacas alimentadas com rações con- taminadas, a aflatoxina 8,9 epóxido, que se une com DNA e RNA, e o aflatoxicol, que pode servir como reservatório de toxicidade para aflatoxina Bl no espaço intracelular. Tais al- terações moleculares ocorrem no sistema en- zimático citocromo P450. Das quatro principais aflatoxinas, a afla- toxina B, é a mais tóxica do grupo, tendo o fígado como principal órgão-alvo. Por sua alta toxicidade, as aflatoxinas foram incluídas na classe 1 dos carcinógenos humanos pela In- ternational Agency for Research on Cancer (IARC).Além de serem hepatotóxicas, as afla- toxinas são também altamente mutagênicas 144 carcinogemcas e, possivelmente, teratogê- nicas para os animais. Podem causar danos como hemorragias, edemas, imunossupressão e carcinoma celular. A exposição humana em relação à afla- toxina pode ocorrer através da ingestão de alimentos diretamente contaminados, princi- palmente com AFBl; ou também através de outros produtos como leite e carne, originá- rios de animais que tenham consumido ração contaminada. Apesar da baixa incidência, alguns traba- lhos têm demonstrado a presença de aflatoxi- na Ml no leite humano. No Brasil, o Ministério da Saúde e oMinis- tério da Agricultura estabeleceram o limite de 20 ug/kg para a soma das aflatoxinas Bl, B2, G1 e G2.Em relação ao leite, o limite máximo tolerado é de 0,5 ug/L (ppb) para leite líquido e de 5,0 IlglL (ppb) para leite em pó. A partir da verificação da atividade cance- rígena da aflatoxina B, em primatas (macacos Cinomolgus e Rhesus), procurou-se correla- cionar a contaminação de alimentos por essa micotoxina à frequência de hepatomas primá- rios em habitantes de determinadas regiões. Verificou-se que em Uganda, no Quênia, em Moçambique e na Tailândia havia frequên- cias consideradas elevadas (até 25,4 casos por 100.000 habitantes por ano). Nesses locais, a ingestão de alimentos embolorados é uma constante (milho, arroz, etc.), justificando-se as especulações feitas e que levantam a pos- sibilidade de a aflatoxina ser um dos agentes responsáveis. Já em 1963, na Austrália, Reye relatou 21 casos de uma moléstia infantil, geralmente fatal, com sintomas de febre, convulsões, vô- mitos, alterações na frequência respiratória e tônus muscular, com modificações nos refle- xos, tudo acompanhado por hipoglicemia, diminuição da taxa de glicose no líquido ce- falorraquidiano, acrescida de transaminases séricas. Desse relato, ocorreram 17 autópsias, nas quais se constataram degeneração ma- ciça do fígado e dos rins e edema cerebral. Posteriormente, também foram observadas ocorrências semelhantes em que a aflatoxina Micotoxicoses Humanas e Micetismos teria funcionado como principal agente conta- minante (Nova Zelândia, Inglaterra, Escócia, África do-Sul, antiga Tchecoslováquia, Cana- dá e Tailândia). Autores ingleses trabalhando no Sudão estudaram amostras de sangue e urina de 252 crianças portadoras de quadros graves de desnutrição (kwashiorkor), tendo encontrado teores 10 vezes mais altos de aflatoxina no soro do que nos grupos-controle. Esse quadro clínico, devido à fome crônica, predomina em zonas úmidas e quentes, mas nunca em re- giões quentes e secas. Com a umidade ambien- tal elevada, há maior contaminação fúngica dos alimentos. Esse fato foi assinalado pelos autores, que evidenciaram aflatoxina em 40% dos alimentos, bem como no fígado autopsiado de crianças doentes. Fato que à primeira vis- ta parece paradoxal é que, no transcorrer da dieta hiperproteica ministrada aos doentes, houve piora das condições. Como a aflatoxina lesa a ':2lula hepática, o fígado é incapaz de metabolizar a suplementação proteica maci- ça. Portanto, ao que tudo indica, as aflatoxi- nas estão diretamente relacionadas à existên- cia do kwashiorkor nas regiões tropicais, onde impera o subdesenvolvimento. A nefropatia endêmica dos Bálcãs é uma moléstia renal crônica de etiologia desco- nhecida, observada nas populações rurais da Bulgária, Romênia e Iugoslávia. Os sintomas iniciais são anemia e edema, seguidos por da- nos progressivos das funções glomerulares e tubulares renais. Devido à semelhança entre a nefropatia endêmica e a nefropatia em suí- nos induzida por ocratoxina A, essa toxina foi citada como possível determinante da doença no homem. Estudos preliminares realizados em regiões endêmicas também revelaram a contaminação de alimentos por ocratoxina A. Beribéri é uma doença causada por defi- ciência de tiamina (vitamina B1) que afeta muitos sistemas do corpo humano, incluindo os músculos, coração, nervos e sistema digesti- vo.É doença comum no Sudeste da Ásia, onde o arroz é o principal alimento. A substância capaz de produzir doença similar ao beribéri Micotoxicoses Humanas e Micetismos 145 Tabela 13.1 Algumas doenças humanas cuJos dados analíticos e epidemiológicos são sugestivos de micotoxicoses Doença Substrato Fungo Toxina Aflatoxicoses aguda e Grãos de cereais A. flavus Aflatoxinas crônica Amendoim A. parasiticus Aleucia tóxica alimentar Grãos de cereais F.sporotrichioides Toxina T2 (ATA) F.poae Beribéri cardíaco Arroz P.citreonigrum Citreoviridina Ergotismo Grãos de cereais Claviceps purpurea Alcaloides do ergot Claviceps paspalii Kwashiorkor Grãos de cereais A. flavus Aflatoxinas Amendoim A. parasiticus Nefropatia balcânica Cereais A. ochraceus Ocratoxina A Síndrome de Reye Grãos de cereais A. flavus Aflatoxinas A. parasiticus Estaquibotriotoxicose Grãos de cereais Stachybotrys atra Tricotecenos é a citreoviridina, metabólito produzido por Penicillium citeonigrum (= P. citreoiride). Mais recentemente, em 1988, ocorreram o isolamento e a caracterização das fumonisi- nas Bl e B2, metabólitos produzidos, princi- palmente, por Fusarium verticillioides e Fu- sarium proliferatum, fungos contaminantes de cereais, em particular o milho. Embora não haja ainda uma constatação, alguns au- tores associam a elevada incidência de câncer de esôfago em algumas regiões da África do Sul, China e Itália ao consumo de alimen- tos que contêm elevados níveis de fumonisi- nas. Com base nas evidências toxicológicas, a IARC tem declarado a citada toxina como potencialmente carcinogênica para humanos (Classe 2B). Embora a estaquibotriotoxicose seja uma doença conhecida por causar sintomas neuro- lógicosem equinos e bovinos alimentados com fenocontaminado por Stachybotrys chartarum (= S. atra), mais recentemente uma micotoxi- na (tricotecenos macrocíclicos)produzida pelo mesmo fungo foi associada à chamada síndro- me do edifício doente. Nesse sentido, muitos estudos têm relacionado a contaminação de ambientes internospor Stachybotrys charta- rum a sintomas de fadiga, dor de cabeça, náu- sea, vômitos, hemorragia, depressão, distúr- bio do sono e perda de memória. O fungo pode crescer e produzir micotoxinas em materiais que contêm celulose úmida, tais como papel de parede ou gesso, com níveis elevados de umidade (atividade de água de 0,98). Por serem os achados clinicopatológicos apenas sugestivos de micotoxicoses, são fun- damentais a detecção e a quantificação da to- xina no alimento suspeito e, quando possível, a detecção de resíduos nos tecidos, leite, uri- na, soro, fezes e sangue através de métodos cromatográficos e imunoensaios (ELISA e ra- dioimunoensaio). MICETISMOS As intoxicações por cogumelos, conhecidas como micetismos, podem ser agrupadas da seguinte forma: Micetismo faloidiano Ocasionado pelas toxinas faloidianas, ciclo- peptídeos tóxicos encontrados nas espécies Amanita phalloides, Amanita uerna, Amanita bisporigena e Amanita virosa. 146 Os três grupos de toxinas faloidianas po- dem ser assim distribuídos: 1) amatoxinas - composto de a, ~,y, c ama- nitinas, amanina, amaninamida, ama- nulina, ácido amanulínico e proamanu- lina; 2) falotoxinas - composto de faloidina, fa- loína, profaloína, falisina, falacina, fala- cidina e falisanina; 3) virotoxinas - composto de viroidina, alo- viroidina, desoxiviroidina, viroisina O micetismo faloidiano é de fundamental importância, pois representa aproximada- mente 90% dos casos fatais de intoxicação por cogumelos. O período de latência é longo, po- dendo variar de 6 a 48 horas, mas usualmente é de 8 a 12 horas. O quadro clínico envolve distúrbios gastrointestinais, disfunção hepá- tica progressiva, perturbações neuropsíqui- cas, distúrbios eletrolíticos e morte. O tratamento do micetismo faloidiano con- siste, essencialmente, em três aspectos: 1) re- moção da toxina do trato gastrointestinal; 2) prevenção da absorção da toxina pelas células do fígado (quimioterapia); e 3) tratamento sin- tomático da perda de água e eletrólitos, assim como dos consequentes danos hepáticos. Micetismo orelano Ocasionado pela ingestão do fungo Cortina- rius orellanus, que apresenta a orelanina como princípio tóxico. É uma intoxicação que se caracteriza por apresentar um período de latência extremamente longo (2 a 17 dias). O quadro clínico consiste em lesões renais que conduzem a glomerulonefrite de evolução crô- nica, que pode levar ao óbito. O tratamento obedece à mesma conduta nos casos de insufi- ciência renal crônica. Micetismo nervoso ou micetismo muscarínico Produzido por toxinas muscarimcas, encon- tradas nas espécies de lnocybe e pequenas Micotoxicoses Humanas e Micetismos espécies brancas do gênero Clitocybe. Os sin- tomas típicos do micetismo muscarínico são: curto período de latência (frequentemente 14 a 30 minutos após a ingestão do cogumelo), sa- livação, lacrimejamento, distúrbios de visão, vômitos, diarreia, cólicas intestinais, sudore- se intensa, dispneia e convulsão. Geralmente, esse tipo de intoxicação não é muito grave e raramente leva ao óbito, exceto nos casos de ingestão excessiva dos cogumelos menciona- dos. O tratamento é feito com atropina, que funciona como antídoto da muscarina. Micetismo gastrointestinal Bastante frequente (40% dos casos), inclui todas as intoxicações por cogumelos, cujos distúrbios predominantes são os do trato gas- trointestinal. Apresenta três modalidades de distúrbios: benigno, mais ou menos grave e mortal. Vários são os fungos causadores dessa intoxicação. Micetismo cerebral Desencadeado por fungos que afetam o siste- ma nervoso central, pertencentes, principal- mente, aos gêneros Psilocibe (Psilocibe mexi- cana) e Amanita (A. muscaria). Geralmente, os fungos causadores de micetismo cerebral são denominados alucinógenos, pois apresen- tam como principal característica quadros de alucinações. BIBLIOGRAFIA Beardall JM, Miller JD. Diseases in humans with mycotoxins as possible causes. In: Miller JD, Tren- holm HL (eds.), Mycotoxins in Grain Compounds other than Aflatoxin. Minnesota; Eagan Press, 1994. p. 487-539. Brasil. Ministério da Agricultura. Portaria MAA- RA n? 183 de 21 de março de 1996, publicada no Diário Oficial da União de 25 de março de 1996. Seção I, página 4929. Brasil. Ministério da Saúde. Resolução RDC n? 274, da Anvisa, de 15 de outubro de 2002, publicada no Diário Oficial da União, de 16/10/2002. Micotoxicoses Humanas e Micetismos Bresinski A, Besl H. 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