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RESPOSTA A ACUSAÇÃO - WILLIAM

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AO JUÍZO DE DIREITO DA 2ª VARA CRIMINAL DA CIRCUNSCRIÇÃO JUDICIÁRIA DE CEILÂNDIA-DF 
 Processo: 2019.07.01.02222-
PATRÍCIA DIANA, nascida em 01/12/1995, inscrita no RG xxxxx e no CPF xxxxxxxxxxx, residente e domiciliada na QNQ 15, Lote 15, Ceilândia-DF, já qualificada, nos autos da ação penal, em epígrafe, que lhe move a justiça pública desta circunscrição judiciária, via de seu advogado in fine assinado, permissa máxima vênia, vem perante a presença de Vossa Excelência, nos termos do artigos 396 caput e 396-A, do Código de Processo Penal, tempestivamente apresentar:
	
RESPOSTA à ACUSAÇÃO
contestando, peremptoriamente, a veracidade dos fatos contidos na denúncia de fls., nos termos a seguir aduzidos.
Meritíssimo Juiz:
O Ministério Público na condição de dominus litis, exibiu proposta acusatória em face da denunciada, o qual estaria, em tese, incursa nas sanções do caput do artigo 155, do Código penal.
DOS FATOS
Segundo consta da inaugural acusatória, em 03/01/2015, horário e local descritos na denúncia, o ré Patrícia Diana, de forma livre e consciente, teria, em tese, subtraído um vestido na cor vermelha, de sua patroa, vestido esse avaliado em R$ 30,00 (trinta reais).
Consta da denuncia que a Acusada teria subtraído o referido vestido e usado em um encontro, logo em seguida, no mesmo dia, restituiu o vestido, em tese, furtado.
No dia seguinte, a irmã de sua patroa, dona Cleuza, teria tomado conhecimento do fato e então registrado ocorrência junto à Delegacia de Polícia competente.
Em 02 de janeiro de 2019 o parquet ofereceu denúncia.
Em 08 de fevereiro de 2019 este Douto Juízo recebeu a denúncia.
Em 15 de fevereiro de 2019 (sexta-feira), a ré foi citada para apresentar defesa.
Eis o relato fático.
PRELIMINARES
DA EXTINÇÃO DA PUNIBILIDADE - PRESCRIÇÃO DA PRETENSÃO PUNITIVA ESTATAL
Excelência, inicialmente, importante destacar que na data do fato (03/01/2015), a denunciada contava com 19 (dezenove) anos. Nesse contexto, observa-se que a denúncia somente foi ofertada em 02/01/2019, tendo sido recebida apenas em 08/02/2019, sendo este último o marco interruptivo do lapso prescricional.
Com efeito, MM. Julgador(a), conforme se depreende dos autos Patrícia foi denunciada como incursa nas sanções penais do Art. 155, caput, do Código Penal, logo, a pena máxima a ser aplicada para o caso é de 04 anos. Portanto, Na forma do Art. 109, inciso IV, do Código Penal, sendo a pena máxima superior a 02 (dois) anos e não excedendo 04 anos, o prazo prescricional será de 08 (oito) anos.
Ocorre que, conforme já relatado, na data do fato a defendente possuía 19 (dezenove) anos de idade, pois nascida em 01/12/1995, nesse passo, impõe-se o Art. 115 do Código Penal que o prazo prescricional seja contado pela metade, ou seja, 04 (quatro) anos no caso concreto.
Observe, ainda, que o lapso prescricional se iniciou no dia seguinte ao fato, conforme prescreve ao art. 111, I, do CP, vejamos:
Art. 111 - A prescrição, antes de transitar em julgado a sentença final, começa a correr: 
 I - do dia em que o crime se consumou;
Nesse passo, tem-se que da data do fato (03/01/2015), há data em que foi recebida a denúncia (08/02/2019), o lapso temporal ultrapassa aos 04 (quatro) anos, devendo, portanto, que ser reconhecida a prescrição da pretensão punitiva estatal, nos termos do art. 107, IV do Código Penal.
DO MÉRITO
Caso ultrapassada a preliminar arguida, o que não se acredita nem se espera, passasse as questões de mérito.
a. Do Furto de Uso
Excelência! Não houve prática de crime de furto. Estamos diante do que a doutrina e a jurisprudência costumam chamar de “furto de uso”, que, na verdade, não configura crime de furto.
Extrai-se claramente da peça acusatória que em 03/01/2015, a Ré teria subtraído o vestido vermelho de sua patroa para ir há um encontro, consta, ainda, que no mesmo dia a Ré devolveu o referido vestido.
Prevê o Art. 155 do Código Penal que é crime subtrair, para si ou para outrem, coisa alheia móvel. Uma das elementares do crime é a intenção de subtrair a coisa para si, chamado pela doutrina de animus furandi ou animus rem sibi habendi. No caso, está narrado de maneira clara que Patrícia não tinha o dolo de ter a coisa para si ou para outrem, ela não tinha a vontade de se assenhorar do bem subtraído. 
Veja Exa., o interesse era, apenas, de usar a coisa alheia e devolvê-la sem qualquer prejuízo à proprietária, sendo certo que até mesmo se preocupou em devolvê-lo no mesmo dia para que não fosse percebida a falta do mesmo.
Ademais, quando do Registro de Ocorrência feito por Cleuza, o vestido, inclusive, já havia sido restituído nas mesmas condições e no mesmo lugar em que fora subtraída, preenchendo, assim, todas os requisitos para que sua conduta possa ser considerada um indiferente penal.
Com efeito, como esclarece a doutrina, para o reconhecimento da atipicidade da conduta sob a tese de furto de uso, deve ser demonstrada a ausência de ânimo de assenhoreamento por parte do agente, por meio dos seguintes critérios: rápida devolução do bem subtraído; restituição da “res” sem nenhum dano; e ausência de percepção, pela vítima, do desfalque do seu patrimônio. Nesse sentido:
“Furto de uso: não se trata de crime, pois, como mencionado nos comentários feitos na análise do núcleo do tipo e do elemento subjetivo, há necessidade do ânimo de assenhoreamento. Se o agente retirar a coisa da posse da vítima apenas para usar por pouco tempo, devolvendo-a intacta, é de se considerar não ter havido crime. Cremos ser indispensável, entretanto, para a caracterização do furto de uso, a devolução da coisa no estado original, sem perda ou destruição do todo ou de parte. Se houver a retirada de um veículo para dar uma volta, por exemplo, devolvendo-o com o para-lama batido, entendemos haver furto, pois houve perda patrimonial para a vítima. De um modo indireto, o sujeito apropriou-se do bem de terceiro causando-lhe prejuízo. Lembremos que a intenção de se apoderar implica, também, na possibilidade de dispor do que é do outro, justamente o que ocorre quando o agente trata a coisa como se sua fosse. Utilizar um automóvel para dar uma volta, provocando uma colisão e devolvendo-o danificado, é o modo que o autor possui de demonstrar a sua franca intenção de dispor da coisa como se não pertencesse a outrem. Além disso, é preciso haver imediata restituição, não se podendo aceitar lapsos temporais exagerados. E, por fim, torna-se indispensável que a vítima não descubra a subtração antes da devolução do bem. Se constatou que o bem de sua propriedade foi levado, registrando-se a ocorrência, dá-se o furto por consumado. É que, nesse cenário, novamente o agente desprezou por completo a livre disposição da coisa pelo seu dono, estando a demonstrar o seu ânimo de apossamento ilegítimo. Em síntese: admitimos o furto de uso desde que presentes os seguintes requisitos, demonstrativos da total ausência do ânimo de assenhoreamento: 1º) rápida devolução da coisa; 2º) restituição integral e sem qualquer dano do objeto subtraído; 3º) devolução antes que a vítima perceba a subtração, dando falta do bem”. (NUCCI, Guilherme de Souza. Código Penal Comentado. 12. ed. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2012, p. 778)”
Os doutrinadores que defendem que o furto de uso não é crime sustentam que não há a tipicidade formal do fato ao tipo penal do art. 155 do Código Penal, uma vez que, a lei penal ao descrever o furto exige a subtração por parte do agente com a intenção de integrá-lo ao seu patrimônio ou de outrem. Ocorre que no furto de uso não há o animus de apoderar-se da coisa, mas tão somente de usá-lo. Neste sentido leciona Capez (2011, p. 439):
É indispensável que a subtração seja efetuada com ânimo definitivo, sendo necessária a intenção de não devolver o bem. É que o tipo do furto exige a elementar de natureza subjetiva „para si ou para outrem‟, que significa „finalidade de assenhoreamento permanente‟. Na hipótese em que o agente retira o bem da esfera de disponibilidade da vítima apenas para o seu uso transitório, passageiro, edepois o devolve no mesmo estado e local em que se encontrava, não há que se falar em realização da conduta tipificada no art. 155 do CP. Trata-se de mero furto de uso, fato atípico dada a ausência do elemento subjetivo do tipo exigido (ficar definitivamente com ou o bem ou entregá-lo a terceiro
No mesmo sentido é a Jurisprudência dessa Egrégia Corte de Justiça, vejamos:
2. Para a caracterização do "furto de uso", necessário se faz que a subtração da coisa ocorra de forma momentânea, breve e com o intuito de devolvê-la logo em seguida ao real proprietário. Na ausência doanimus furandi, configurado o indiferente penal, o que não é o caso. (Acórdão 1248112, 07107871420198070001, Relator: J.J. COSTA CARVALHO, 1ª Turma Criminal, data de julgamento: 7/5/2020, publicado no PJe: 16/6/2020. Pág.: Sem Página Cadastrada.)”
“Furto qualificado. Pretensão de se desclassificar para furto de uso. Requisitos. Para caracterizar o furto de uso, além da inexistência do ânimo de assenhoramento, é necessário que o bem seja devolvido espontaneamente e sem perda ou dano. Apelação não provida. (Acórdão 1184011, 20181510011362APR, Relator: JAIR SOARES, Revisor: MARIA IVATÔNIA, 2ª TURMA CRIMINAL, data de julgamento: 4/7/2019, publicado no DJE: 10/7/2019. Pág.: 186-214)”
“1. Inviável o acolhimento da tese do furto de uso, quando evidenciado o apossamento com ânimo definitivo, pela não devolução voluntária do bem subtraído, o qual somente foi recuperado em razão da atuação da polícia. (Acórdão 1198932, 20190310026435APR, Relator: JESUINO RISSATO, Revisor: WALDIR LEÔNCIO LOPES JÚNIOR, 3ª TURMA CRIMINAL, data de julgamento: 5/9/2019, publicado no DJE: 11/9/2019. Pág.: 127/135)”
Na hipótese dos autos, se extrai do acervo probatório que a Ré não detinha ânimo de assenhoreamento do bem subtraído.
Portanto, impõe-se sua absolvição nos termos do art. 397, III, do CPP, uma vez que atípica sua conduta.
b. Aplicação do Princípio da Insignificância
O princípio da insignificância surgiu na doutrina como manifestação contrária ao uso excessivo da sanção, quando a conduta do agente não afeta de forma relevante o bem tutelado, não se justificando a atuação do Direito Penal nesses casos (SOBRINHO, 2014, p.375).
El principio de insignificancia, entonces nos trae una palabra clave en el análisis, la lesividad. De modo que la acción cometida por el sujeto activo debe tener consecuencias que se traduzcan en una lesión a un bien jurídico, para que se ponga en marcha el aparato judicial. Ahora bien, cuando esa afectación es mínima o insignificante y, por consiguiente, no alcanza un dano relevante, no debería ser captado por las agencias penales (MESTRES, 2015, p.175).
Observa-se, ainda, que a coisa tida por subtraída foi um vestido no valor de R$ 30,00 (trinta reais).
O princípio da insignificância, ou também conhecido por princípio da bagatela, embora não previsto em lei, tem aplicação prevista pela doutrina e jurisprudência pátrias. Objetiva excluir a tipicidade penal nos casos em que a ofensividade da conduta, de tão ínfima, resulte em diminuta lesão ao bem jurídico tutelado, tornando-se penalmente irrelevante. Decorre da premissa de que o direito penal não deve se ocupar de condutas que produzam resultado cujo desvalor - por não importar em lesão significativa a bens jurídicos relevantes - não represente, por isso mesmo, prejuízo importante, seja ao titular do bem jurídico tutelado, seja à integridade da própria ordem social.
Conforme sedimentado no Supremo Tribunal Federal, são requisitos para a aplicação da benesse: a mínima ofensividade da conduta, a ausência de periculosidade social da ação, o reduzido grau de reprovabilidade do comportamento e a inexpressividade da lesão jurídica.
In casu, analisando detidamente os autos, observa-se que os requisitos para a aplicação do citado princípio - ausência de periculosidade social da ação, mínima ofensividade da conduta, reduzido grau de reprovabilidade e inexpressividade da lesão - encontram-se presentes. 
Como se percebe, ficou nítido que a coisa furtada possui baixo valor, a saber, R$ 30,00 (trinta reais). Sabe-se que o Direito Penal é a ultima ratio e só deve ser invocado quando for alcançar fatos nos quais comprovados prejuízos efetivos ao titular do bem jurídico ou à sociedade.
Um dos critérios para se verificar se é o caso de aplicação do Direito Penal é o Princípio da Lesividade, segundo o qual não há crime se não houve lesão a um bem jurídico juridicamente tutelado.
Essa existência de lesividade a um bem jurídico tutelado é o que a Doutrina chama de tipicidade material do crime. E inexistindo tipicidade material, inexistente é também o crime. É o que se conhece por Princípio da Insignificância ou Bagatela.
Nesse passo, ainda que o bem furtado não tivesse sido restituído, o seu valor é muito baixo (R$30,00), não havendo, na hipótese em comento, dano concreto na conduta delitiva da ré, ante a mínima ofensividade e/ou a inexpressividade da lesão, sendo a hipótese insuficiente para justificar a atuação do Direito Penal.
Ademais, a ausência de periculosidade social da ação e o reduzido grau de reprovabilidade do comportamento são extraídos do modo de agir da ré, que não empregou qualquer violência ou ameaça durante a consecução do crime.
Entendimento contrário, aliás, implicaria em retrocesso à teoria do direto penal do autor, que não prevalece em nosso ordenamento pátrio.
Nesse contexto, se a aplicação da lei penal mostra-se desproporcional e desnecessária, impondo-se, no caso, o reconhecimento da atipicidade da conduta.
Outro não é o entendimento do Supremo Tribunal Federal e do Superior Tribunal de Justiça, senão vejamos:
"PENAL. HABEAS CORPUS.PACIENTE DENUNCIADO PELO CRIME PREVISTO NO ART. 155, CAPUT, COMBINADO COM O ART. 14, II, AMBOS DO CÓDIGO PENAL. PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA. REITERAÇÃO DELITIVA. APLICAÇÃO. POSSIBILIDADE.ORDEM CONCEDIDA. I - O paciente foi denunciado pela prática do crime descrito no art. 155, § 4°, II, combinado com o art. 14, II, ambos do Código Penal, pela tentativa de subtrair 12 barras de chocolate de um supermercado, avaliadas num total de R$54,28 (cinquenta e quatro reais e vinte e oito centavos). II - Nos termos da jurisprudência deste Tribunal, a aplicação do princípio da insignificância, de modo a tornar a ação atípica, exige a satisfação de certos requisitos de forma concomitante: a conduta minimamente ofensiva, a ausência de periculosidade social da ação, o reduzido grau de reprovabilidade do comportamento e a lesão jurídicainexpressiva. III - Assim, ainda que constem nos autos registros anteriores da prática de delitos, ante inexpressiva ofensa ao bem jurídico protegido e a desproporcionalidade da aplicação da lei penal ao caso concreto, deve ser reconhecida a atipicidade da conduta. Possibilidade da aplicação do princípio da insignificância. Precedente. IV - Ordem concedida, para trancar a açãopenal." (HC 137422, Relator Min. RICARDO LEWANDOWSKI, Segunda Turma, julgado em 28/03/2017, PROCESSO ELETRÔNICO DJe-069 DIVULG 05- 04-2017 PUBLIC 06-04-2017)
"PENAL E PROCESSO PENAL. HABEAS CORPUS SUBSTITUTIVO DE RECURSO PRÓPRIO. DESCABIMENTO. TENTATIVA DE FURTO DE 4 (QUATRO) BARRAS DE CHOCOLATE, NO VALOR TOTAL DE R$ 19,96, (DEZENOVE REAIS E NOVENTA E SEIS CENTAVOS). RESTITUIÇÃO DOS BENS À VÍTIMA. REINCIDÊNCIA X APLICAÇÃO DO PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA. EXCEPCIONALIDADE DO CASO CONCRETO. ATIPICIDADE MATERIAL DA CONDUTA. ORDEM CONCEDIDA DE OFÍCIO. [...] 2. De acordo com a orientação traçada pelo Supremo Tribunal Federal, a aplicação do princípio da insignificância demanda a verificação da presença concomitante dos seguintes vetores (a) a mínima ofensividade da conduta do agente, (b) a nenhuma periculosidade social da ação, (c) o reduzidíssimo grau de reprovabilidade do comportamento e (d) a inexpressividade da lesão jurídicaprovocada. 3. O princípio da insignificância é verdadeiro benefício na esfera penal, razão pela qual não há como deixar de se analisar o passado criminoso do agente, sob pena de se instigar a multiplicação de pequenos crimes pelo mesmoautor, os quais se tornariam inatingíveis pelo ordenamentopenal. 4. Imprescindível, no caso concreto, porquanto, de plano, aquele que é reincidente e possui maus antecedentes não faz jus a benesses jurídicas. 5. Posta novamente em discussão a questão da possibilidade de aplicação do princípio da insignificância, mesmo diante da reincidência do réu, a Terceira Seção desta Corte, no julgamento do EREsp n. 221.999/RS (Rel. Ministro Reynaldo Soares da Fonseca, julgado em 11/11/2015, DJe 10/12/2015), estabeleceu a tese de que a reiteração criminosa inviabiliza a aplicação do princípio da insignificância, ressalvada a possibilidade de, no casoconcreto,averificaçãoqueamedidaésocialmenterecomendável. 6. Situação em que a tentativa de furto recaiu sobre 4 barras de chocolate, avaliadas em R$ 19,96 (dezenove reais e noventa e nove centavos), bem como os produtos foram devolvidos àvítima. 7. Assim, na espécie, a situação enquadra-se dentre as hipóteses excepcionais em que é recomendável a aplicação do princípio da insignificância a despeito da existência de reincidência, reconhecendose a atipicidade material da conduta. Precedentes análogos: AgRg no REsp 1415978/MG, Rel. Ministro FELIX FISCHER, QUINTA TURMA, julgado em 02/02/2016, DJe 15/02/2016 e AgRg no AREsp 633.190/SP, Rel. Ministro SEBASTIÃO REIS JÚNIOR, Sexta Turma, julgado em 14/4/2015, DJe23/4/2015. 8. Habeas corpus não conhecido. Ordem concedida de ofício para trancar a ação penal, diante da atipicidade material daconduta." (HC 370.101/SC, Rel. Ministro REYNALDO SOARES DA FONSECA, QUINTA TURMA, julgado em 17/11/2016, DJe 25/11/2016).
Assim, no caso em testilha, as circunstâncias concretas realmente recomendam a incidência do princípio da insignificância e, consequentemente, a absolvição da ré.
DOS PEDIDOS
Ante o exposto, requer a Vossa Excelência que se digne a:
a) Preliminarmente, o reconhecimento da extinção de punibilidade com base na prescrição da pretensão punitiva do Estado, quanto à imputação das condutas previstas no art. 155, caput, do CP, nos termos do Art. 107, inciso IV, do CP e, no Art. 109, inciso IV, c/c o Art. 115, ambos também do CP, absolvendo sumariamente a Ré nos termos do art. 397, Inc. IV do CPP;
b) no mérito: a absolvição sumária da Ré pela atipicidade de sua conduta, com fulcro no Art. 397, inciso III, do CPP, uma vez que o FURTO DE USO constitui-se conduta atípica, nos termos da fundamentação descrita em linhas volvidas;
c) ainda no mérito: a absolvição sumária da Ré pela atipicidade de sua conduta, com fulcro no Art. 397, inciso III, do CPP, uma vez que no caso em testilha, as circunstâncias concretas realmente recomendam a incidência do princípio da insignificância, tornando, desta forma a conduta atípica;
Termos em que,
Pede e espera deferimento.
Ceilândia-DF, 27 de fevereiro de 2019
Advogado
OAB/DF

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