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UNIVERSIDADE FUMEC IZABELLA DIEGUES LETRO RIBEIRO DIREITO DAS SUCESSÕES Inventário e Partilha Belo Horizonte – MG 2019 Introdução O Direito das Sucessões é o ramo do Direito formado pelo conjunto de normas que disciplinam a transmissão do patrimônio de uma pessoa que faleceu aos seus sucessores. O termo “patrimônio” não abrange somente bens, ele abarca também alguns direitos e algumas obrigações (com exceção daquelas que somente poderiam ser prestadas pelo próprio falecido, quando em vida. Encontra-se normatizado no Capítulo VI, por intermédio dos artigos 610 à 673 do CPC. O instituto do inventário e da partilha são instrumentos antigos, que sempre foram utilizados pela sociedade, como meio de inventariar e partilhar os bens deixados pelo de cujus. Com a morte tem-se o fim da personalidade e tem início a sucessão e ocorre a transmissão aos herdeiros dos bens. A transmissão acontece no momento do falecimento, mas mesmo assim é necessário fazer o inventário e a partilha para a regularização. Em termos gerais podemos entender por Inventário a listagem dos bens, direitos, dívidas e identificação dos herdeiros do falecido. Assim, ao final do inventário se dará a partilha que é a individualização da propriedade dos bens. Inventário Do ponto de vista do Direito Sucessório, o inventário pode ser conceituado como uma descrição detalhada do patrimônio do autor da herança, atividade está destinada à posterior partilha ou adjudicação dos bens. Sob o prisma processual, o inventário pode ser entendido como uma sequência ordenada de atos tendentes a um fim específico. A palavra “inventário” deriva do latim inventarium, de invenire, que significa achar, encontrar, sendo empregada no sentido de relacionar, descrever, enumerar, catalogar o que “for encontrado”, pertencente ao morto, para ser atribuído aos seus sucessores. Ocorre a abertura da sucessão com a morte. No inventário, apura-se o patrimônio do de cujus, cobram-se as dívidas ativas e pagam-se as passivas. Também avaliam-se os bens e pagam-se os legados e o imposto causa mortis. Após, procede-se à partilha. Inventário, pois, no sentido restrito, é o rol de todos os haveres e responsabilidades patrimoniais de um indivíduo; na acepção ampla e comum no foro, ou seja, no sentido sucessório, é o processo no qual se descrevem e avaliam os bens de pessoa falecida, e partilham entre os seus sucessores o que sobra, depois de pagos os impostos, as despesas judiciais e as dívidas passivas reconhecidas pelos herdeiros. Em resumo, inventário é o processo judicial tendente à relação, descrição, avaliação e liquidação de todos os bens pertencentes ao de cujus ao tempo de sua morte, para distribuí-los entre seus sucessores. Espécies de inventário Existem duas espécies previstas no CPC, judicial e extrajudicial. Será judicial quando houver testamento ou interessado incapaz. Poderá ser extrajudicial quando todos os herdeiros forem capazes. O CPC trouxe uma a inovação, que tornou a escritura pública um documento hábil para qualquer ato de registro, bem como para levantamento de quantia depositada em instituição financeira, porém, o tabelião só lavrará a escritura pública que se tornará documento hábil à partilha, se todos os herdeiros estiverem representados por advogado ou defensor público, devendo estes assinarem o ato notarial. Inventário negativo O inventário negativo não é previsto na legislação. Entretanto tem sido admitido pelos juízes em situações excepcionais, em que há necessidade de comprovar a inexistência de bens a inventariar. Essa modalidade torna-se necessária em alguns casos, especialmente para evitar imposição de certas sanções com que o Código Civil pune algumas infrações. Nos casos em que o passivo deixado pelo de cujos é maior que o ativo, esse inventário é de extrema importância, pois será através dele que os herdeiros comprovarão aos credores que não lhes foi deixado bem algum, já que apenas respondem pelas dividas até o limite das forças da herança. É admissível inventário negativo por escritura pública, como dispõe o art. 28 da Resolução n.35 do CNJ. Processo de inventário • Abertura Inventário • Nomeação inventariante • Prestação das primeiras declarações • Citação dos interessados • Avaliação dos bens • Cálculo e pagamento dos impostos • Ultimas declarações • Partilha e sua homologação Abertura do inventário Somente se pode falar em inventário a partir do momento em que este é formalizado, seja pela via extrajudicial, seja por meio do procedimento judicial adequado. A abertura do inventário deve ser requerida no prazo de sessenta dias, a contar do falecimento do de cujus, e estar encerrado dentro dos doze meses subsequentes. O art. 1.796 do Código Civil prevê apenas o prazo de abertura. Dispõe o art. 611 do Código de Processo Civil de 2015: “O processo de inventário e partilha deve ser instaurado dentro de 2 (dois) meses, a contar da abertura da sucessão, ultimando-se nos 12 (doze) meses subsequentes, podendo o juiz prorrogar esses prazos, de ofício ou a requerimento de parte”. Caso haja retardamento por motivo justo, o juiz poderá dilatar esses prazos. O inventariante somente será punido pelo atraso, com a remoção do cargo, a pedido de algum interessado e se demonstrada a sua culpa, pois não há remoção ex officio. O requerimento de abertura do inventário, feito fora do prazo legal, não implica, no entanto, indeferimento do pedido, pois os dispositivos legais que estabelecem o aludido prazo são desprovidos de qualquer sanção. Mas cada Estado pode instituir multa, como pena pela não observância desse prazo. Proclama a Súmula 542 do Supremo Tribunal Federal: “Não é inconstitucional a multa instituída pelo Estado membro, como sanção pelo retardamento do início ou da ultimação do inventário”. Dispõe ainda o art. 615, caput, do Código de Processo Civil de 2015: “O requerimento de inventário e de partilha incumbe a quem estiver na posse e na administração do espólio, no prazo estabelecido no art. 611”. Parágrafo único: “o requerimento será instruído com a certidão de óbito do autor da herança”. Deve ser juntada, também, procuração outorgada ao advogado, com poderes para prestar compromisso de inventariante. Incumbe, assim, prioritariamente, a quem estiver na posse e administração do espólio requerer o inventário e a partilha, no prazo de sessenta dias. Instaurado o processo, segue o inventário até final partilha, não podendo ser extinto por abandono ou inércia do inventariante. Nesse caso deve o juiz determinar o regular prosseguimento do feito, se necessário com remoção do inventariante e sua substituição por outro interessado na herança ou por inventariante dativo. Só se extingue o inventário se ficar comprovada a inexistência de bens a inventariar, uma vez que nessa hipótese a ação perderá seu objeto. Será distribuído por dependência o inventário do cônjuge que vier a falecer antes da partilha do consorte premorto. As duas heranças serão inventariadas e partilhadas em conjunto, com a nomeação de um só inventariante, desde que comuns os herdeiros, conforme disposto no art. 672 do CPC: “É lícita a cumulação de inventários para a partilha de heranças de pessoas diversas quando houver: I - identidade de pessoas entre as quais devam ser repartidos os bens; II - heranças deixadas pelos dois cônjuges ou companheiros; III - dependência de uma das partilhas em relação à outra. Parágrafo único. No caso previsto no inciso III, se a dependência for parcial, por haver outros bens, o juiz pode ordenar a tramitação separada, se melhor convier ao interesse das partes ou à celeridade processual.” Inventariança Ao despachar a inicial deabertura de inventário pelo rito tradicional e solene o juiz nomeará o inventariante, a quem caberá a administração e a representação ativa e passiva da herança até que se ultime a partilha. A nomeação é feita segundo a ordem preferencial estabelecida no art. 617, salvo casos especiais. O inventariante é o representante oficial do espólio, como descrito no art. 75, VII, do CPC. Só podem exercer esse cargo pessoas capazes, que não tenham, de algum modo, interesses contrários aos do espólio. Herdeiro menor não pode, assim, ser inventariante. Eventualmente, à falta de outros interessa dos na herança, pode ser investido no cargo, como dativo, o representante legal do incapaz. Com efeito, o espólio é representado em juízo, ativa e passivamente, pelo inventariante (sucedendo o administrador provisório, que, como o próprio nome infere, é um sujeito com uma função potencialmente temporária), cabendo-lhe a zelosa administração dos bens e a prudente condução do inventário. Em primeiro lugar, de acordo com a ordem, figuram o cônjuge ou companheiro sobrevivente, desde que estivesse convivendo com o outro ao tempo da morte deste. Admite-se a preferência do cônjuge supérstite ainda que a união tenha se realizado no regime da separação convencional de bens, em que não existe meação, uma vez que poderá ele ser herdeiro em concorrência com os descendentes, como prevê o art. 1.829, I, do Código Civil. O múnus ou encargo é pessoal, sendo incabível a nomeação de ambos os cônjuges, ao mesmo tempo, como inventariantes. Se não houver cônjuge, mas companheiro, este desfrutará da mesma preferência, inclusive em face da Constituição Federal (art. 226, § 3o). A demonstração dessa condição pode ser feita nos autos do inventário com a juntada de documentos, a comprovação da existência de filho comum, o convívio no mesmo endereço etc. Na falta ou impedimento do cônjuge ou companheiro supérstite, será nomeado o herdeiro que se achar na posse e administração dos bens do espólio (CPC/2015, art. 617, II). Se nenhum preencher esse requisito, atribuirse-á a inventariança a qualquer herdeiro, legítimo ou testamentário, a critério do juiz. Quando concorrem pessoas mencionadas no mesmo inciso, o juiz optará por uma delas, de acordo com o seu prudente arbítrio. Em seguida, consta o herdeiro menor, por seu representante legal. Em quinto lugar figura o testamenteiro, se lhe foram atribuídas a posse e a administração dos bens, nos termos do art. 1.977 do Código Civil (testamenteiro universal), bem como se toda a herança estiver distribuída em legados. A posse e a administração da herança cabem, preferencialmente, ao cônjuge e aos herdeiros necessários. Só podem ser conferidas ao testamenteiro, pelo testador, se aqueles não existirem, não quiserem ou não puderem exerce-las. O testamenteiro só prefere aos colaterais. Em sexto lugar aparece “o cessionário do herdeiro ou do legatário”. Vem, em seguida, o inventariante judicial, que é figura em desuso, “se houver”, ou seja, se tal cargo estiver previsto na lei de organização judiciária local. Não o havendo, o juiz nomeará pessoa estranha idônea (inventariante dativo), que desempenhará todas as funções inerentes à inventariança, mas não poderá representar ativa e passivamente a herança. Dispõe, com efeito, o art. 75, § 1o, do estatuto processual civil que, nesse caso, todos os herdeiros e sucessores do falecido participarão, como autores ou réus, nas ações em que o espólio for parte. O inventariante não tem direito à remuneração pelos encargos da herança, a não ser se for dativo. Depois de nomeado, o inventariante será intimado e prestará, dentro de cinco dias, o compromisso de bem e fielmente desempenhar o cargo (CPC, art. 617, parágrafo único). Objetivando, porém, simplificar o processamento de inventários sob o rito de arrolamento, o estatuto processual, em boa hora, eliminou a necessidade de o inventariante assinar termo de compromisso, estando ele investido no cargo apenas com a nomeação. Certas situações incompatibilizam a pessoa para o exercício do cargo, como a posição de credor ou de devedor do espólio, de titular de interesse contrário a este, de excluído do rol de herdeiros etc. O papel do inventariante é similar ao do depositário, representará o espólio ativa e passivamente, em juízo ou fora dele, incube ao inventariante ainda administrar o espólio, velando-lei os bens com a mesma diligencia como se fossem seus. Além das tarefas próprias da função de administrador e representante do espólio o art. 618 do CPC, nos traz outras atribuições: Incumbe ao inventariante: I - representar o espólio ativa e passivamente, em juízo ou fora dele, observando-se, quanto ao dativo, o disposto no art. 75, § 1o; II - administrar o espólio, velando-lhe os bens com a mesma diligência que teria se seus fossem; III - prestar as primeiras e as últimas declarações pessoalmente ou por procurador com poderes especiais; IV - exibir em cartório, a qualquer tempo, para exame das partes, os documentos relativos ao espólio; V - juntar aos autos certidão do testamento, se houver; VI - trazer à colação os bens recebidos pelo herdeiro ausente, renunciante ou excluído; VII - prestar contas de sua gestão ao deixar o cargo ou sempre que o juiz lhe determinar; VIII - requerer a declaração de insolvência. Art. 619. Incumbe ainda ao inventariante, ouvidos os interessados e com autorização do juiz: I - alienar bens de qualquer espécie; II - transigir em juízo ou fora dele; III - pagar dívidas do espólio; IV - fazer as despesas necessárias para a conservação e o melhoramento dos bens do espólio. Prestações das primeiras declarações Segundo o art. 620. Dentro de 20 (vinte) dias contados da data em que prestou o compromisso, o inventariante fará as primeiras declarações, das quais se lavrará termo circunstanciado, assinado pelo juiz, pelo escrivão e pelo inventariante, no qual serão exarados: I – o nome, o estado, a idade e o domicílio do autor da herança, o dia e o lugar em que faleceu e se deixou testamento; II – o nome, o estado, a idade, o endereço eletrônico e a residência dos herdeiros e, havendo cônjuge ou companheiro supérstite, além dos respectivos dados pessoais, o regime de bens do casamento ou da união estável; III – a qualidade dos herdeiros e o grau de parentesco com o inventariado; IV – a relação completa e individualizada de todos os bens do espólio, inclusive aqueles que devem ser conferidos à colação, e dos bens alheios que nele forem encontrados, descrevendo-se: a) os imóveis, com as suas especificações, nomeadamente local em que se encontram, extensão da área, limites, confrontações, benfeitorias, origem dos títulos, números das matrículas e ônus que os gravam; b) os móveis, com os sinais característicos; c) os semoventes, seu número, suas espécies, suas marcas e seus sinais distintivos; d) o dinheiro, as joias, os objetos de ouro e prata e as pedras preciosas, declarando-se- lhes especificadamente a qualidade, o peso e a importância; e) os títulos da dívida pública, bem como as ações, as quotas e os títulos de sociedade, mencionando-se-lhes o número, o valor e a data; f) as dívidas ativas e passivas, indicando-se-lhes as datas, os títulos, a origem da obrigação e os nomes dos credores e dos devedores; g) direitos e ações; h) o valor corrente de cada um dos bens do espólio. § 1o O juiz determinará que se proceda: I – ao balanço do estabelecimento, se o autor da herança era empresário individual; II – à apuração de haveres, se o autor da herança era sócio de sociedade que não anônima. § 2o As declarações podem ser prestadas mediante petição, firmada por procurador com poderes especiais, à qual o termo se reportará. Como se verifica, o diploma processual é bastante explícito e detalhado quanto às declarações exigidas e sobre o seu conteúdo, objetivando, assim, uma perfeita individualização e caracterização dos bens, bem como a correta e completa indicação dos herdeiros,demais sucessores, credores e devedores. Citação dos interessados Reduzidas a termo as primeiras declarações, com observância do disposto no art. 620 do CPC, o juiz mandará citar os interessados no inventário e partilha, quais sejam, o cônjuge, o companheiro, os herdeiros e os legatários e intimar a Fazenda Pública, o Ministério Público, se houver herdeiro incapaz ou ausente, e o testamenteiro, se houver testamento (CPC/2015, art. 626). Serão citados por mandado, “conforme o disposto nos arts. 224 a 230, somente as pessoas domiciliadas na comarca por onde corre o inventário ou que aí forem encontradas, e por edital, com o prazo de vinte a sessenta dias, os residentes foram dela”, no Brasil e no estrangeiro (CPC/2015, art. 626, § 1o). A carta precatória é, portanto, substituída pelo edital. Será dispensada a citação se os interessados já estiverem representados nos autos ou se comparecerem espontaneamente, uma vez que tal fato supre a citação, como acontece no processo comum. Dispõe o art. 671 do estatuto processual de 2015 que o juiz nomeará curador especial ao ausente, se o não tiver, e ao incapaz, se concorrer na partilha com o seu representante, desde que exista colisão de interesses. A Fazenda Pública a ser citada é a Fazenda Estadual, por seu interesse no recolhimento do imposto de transmissão causa mortis. Será, todavia, também citada a Fazenda Municipal, se houver renúncia translativa onerosa, ou partilha com quinhões diferenciados, com reposição em dinheiro, devido à incidência do imposto de transmissão inter vivos. Em regra, é dispensada a citação do cônjuge do herdeiro, assim como é considerada suficiente a outorga unilateral de procuração pelo herdeiro, tendo em vista ser o objeto do inventário o recebimento de bens por sucessão mortis causa, máxime se o regime de bens no casamento exclui a comunicação da herança. A participação do cônjuge é facultativa, por lhe faltar título hereditário. Se houver comunicação dos bens herdados, tratará de relação não hereditária, mas concernente ao regime de bens no casamento. Haverá, no entanto, necessidade de citação do cônjuge, ou de sua representação no processo, em caso de disposição de bens, tais como renúncia, partilha diferenciada e quaisquer atos que dependam de outorga uxória. Avaliação dos bens Os bens terão seus valores avaliados de forma individual, esse ato poderá ser feito pelo inventariante ou pelo conjunto de herdeiros, cabe ressaltar que o avaliador do judiciário poderá ser acionado, já o da fazenda pública deverá ser intimado para se manifestar. Houve a alteração do prazo de manifestação de 10 (dez) para 15 (quinze) dias para as partes se manifestarem em relação a avaliação. A avaliação se justifica sempre que haja discordância entre os herdeiros ou em caso de partilha diferenciada envolvendo incapazes. O seu escopo principal é alcançar, na partilha a igualdade dos quinhões. Para efeito de partilha, deve ser renovada se, pelo decurso do tempo, tiver corrido grande alteração de valores atribuídos inicialmente aos bens. Ultimas declarações do inventariante Aceito o laudo, ou resolvidas as impugnações suscitadas a seu respeito, lavrar-se-á em seguida o termo de últimas declarações, no qual o inventariante poderá emendar, aditar ou complementar as primeiras (CPC/2015, art. 636). É a oportunidade para a descrição de bens que foram esquecidos ou omitidos por alguma falha ou até mesmo desconhecimento, para retificar as primeiras declarações e fornecer elementos que possam facilitar a parti lha dos bens. As últimas declarações devem ser prestadas, ainda que para apenas informar que nada há a acrescentar ou corrigir. As partes serão ouvidas sobre as últimas declarações no prazo comum de quinze dias (CPC/ 2015, art. 637), podendo arguir a sonegação de bens, pelo inventariante, somente após a declaração por ele feita de não existirem outros a inventariar (CPC, art. 621), ou por algum herdeiro, depois de declarar que não os possui (CC, art. 1.996). Por essa razão, é recomendável que o inventariante, ad cautelam, proteste por trazer ao inventário, a qualquer tempo, declaração da existência de outros bens eventualmente omitidos sem sua culpa, ou qualquer outro esclarecimento destinado a possibilitar e facilitar a atribuição dos bens inventariados Liquidação dos impostos Após a manifestação das partes sobre as últimas declarações, procede se ao cálculo do imposto causa mortis (CPC/2015, art. 637), sobre o qual serão ouvidas todas as partes, inclusive o representante do Ministério Público, se houver interesse de menores ou incapazes, e a Fazenda Pública. Homologado por sentença, são expedidas guias para o pagamento, encerando-se o inventário. O imposto causa mortis tem incidência específica sobre a herança. Segundo proclama a Súmula 112 do Supremo Tribunal Federal, “o imposto de transmissão causa mortis é devido pela alíquota vigente ao tem po da abertura da sucessão”. Por outro lado, o aludido imposto, calculado sobre o valor encontrado na avaliação, deve ser corrigido monetariamente55 . Se a Fazenda do Estado e todos os interessados concordarem com o cálculo do imposto, não há necessidade de ser feito outro pelo contador do juízo, ainda que haja herdeiro menor. Incide o imposto de transmissão inter vivos sobre o valor dos imóveis que, na partilha, forem atribuídos ao cônjuge supérstite, a qualquer herdei ro, legatário ou cessionário, acima da respectiva meação ou quinhão. Pagamento das dívidas É importante ressaltar que a herança deixada responde pelo pagamento das dívidas do de cujus, mas os herdeiros não respondem por encargos superiores às forças da herança, vide arts. 1.997 e 1.792 do Código Civil (Lei nº 10.406/02). Nesse sentido, o procedimento judicial de inventário prevê uma fase específica para o pagamento das dívidas do espólio que estejam habilitadas antes da partilha. Ressalte-se que a habilitação de credores em inventário independe de vencimento da dívida. Entende-se que para cobrança dos créditos da Fazenda Pública não é preciso habilitação, tendo em vista que goza de preferência, nos termos do disposto nos arts. 187 e 189 do CTN (Lei nº 5.172/66) com a redação dada pela LC 118/05. Após a partilha dos bens, cada herdeiro responderá pelas dívidas do espólio que não forem habilitadas, na proporção da herança que lhe coube nos termos do art. 1.997 do Código Civil. Note-se que a habilitação no inventário é um dos caminhos de que dispõe os credores, podendo optarem por outras vias, como a ações de cobrança, ou o processo de execução, conforme o título que fundam seu crédito, em tais casos abre-se a possibilidade de garantia mediante a penhora nos autos do processo de inventário e partilha. Arrolamento O arrolamento se divide em sumário e comum: O arrolamento sumário constitui forma simplificada de inventário partilha, permitida quando todos os herdeiros são capazes e convierem em fazer partilha amigável dos bens deixados pelo falecido, qualquer que seja o seu valor. Dispõe o art. 659, caput, do Código de Processo Civil de 2015 que “a partilha amigável, celebrada entre partes capazes, nos termos da lei, será homologada de plano pelo juiz, com observância dos arts. 660 a 663”. Os interessados, escolhendo essa espécie de procedimento, apresentarão a partilha amigável, por escritura pública, termo nos autos do inventário, ou escrito particular (CC/2002, art. 2.015, correspondente ao art. 1.773 do Código revogado), que será simplesmente homologada, de plano, pelo juiz, provada a quitação dos impostos. Basta que os interessados, portanto, elejam essa espécie de procedi mento, constituindo procurador e apresentando para homologação a partilha amigável, por instrumento público ou particular. Pode ser utilizado também para homologar pedido de adjudicação, quando houver herdeiro único, como prevê o § 1o do art. 659 do diploma processual de 2015. A participação na herança de herdeiros incapazes constitui empeçoà adoção do mencionado procedimento simplificado, assim como a existência de interessado ausente, que deva ser citado e não seja localizado. É nulo o processo de arrolamento se não requerido por todos os interessados, que, além do mais, devem ser capazes. O arrolamento será comum quando o valor dos bens não exceder a 1.000 (mil) salários mínimos (CPC/2015, art. 664). Tal modalidade constitui também forma simplificada de inventário de bens, porém específico para os de pequeno valor, até o limite de valor mencionado. Difere do arrolamento sumário porque neste é condição básica a concordância de partes capazes, enquanto no comum basta o reduzido valor da herança, sendo obrigatória a sua adoção, ainda que não representados todos os herdeiros e mesmo que haja ausentes ou incapazes, ou testamento. Nestes casos, haverá intervenção do Ministério Público. http://www.jusbrasil.com.br/topicos/10594492/artigo-1997-da-lei-n-10406-de-10-de-janeiro-de-2002 http://www.jusbrasil.com.br/topicos/10607771/artigo-1792-da-lei-n-10406-de-10-de-janeiro-de-2002 http://www.jusbrasil.com.br/legislacao/111983995/c%C3%B3digo-civil-lei-10406-02 http://www.jusbrasil.com.br/legislacao/111983995/c%C3%B3digo-civil-lei-10406-02 http://www.jusbrasil.com.br/topicos/10567093/artigo-187-da-lei-n-5172-de-25-de-outubro-de-1966 http://www.jusbrasil.com.br/topicos/10566861/artigo-189-da-lei-n-5172-de-25-de-outubro-de-1966 http://www.jusbrasil.com.br/legislacao/111984008/c%C3%B3digo-tribut%C3%A1rio-nacional-lei-5172-66 http://www.jusbrasil.com.br/legislacao/1028352/c%C3%B3digo-tribut%C3%A1rio-nacional-lei-5172-66 http://www.jusbrasil.com.br/legislacao/96895/lei-complementar-118-05 http://www.jusbrasil.com.br/topicos/10594492/artigo-1997-da-lei-n-10406-de-10-de-janeiro-de-2002 http://www.jusbrasil.com.br/legislacao/111983995/c%C3%B3digo-civil-lei-10406-02 Sonegados Segundo Carlos Maximiliano “sonegado é tudo aquilo que deveria entrar em partilha, porém foi ciente e conscientemente omitido na descrição de bens pelo inventariante, não restituído pelo mesmo ou por sucessor universal, ou doado a herdeiro e não trazido à colação pelo beneficiado com a liberdade”. A falta propositada, aduz, “constitui ato de má- fé, por isto, a lei a fulmina com especial penalidade” Basta, para caracterizar a infração, a fraude incidente sobre um único objeto, não se exigindo que abranja vários bens. Dispõe o art. 1.992 do Código Civil: “O herdeiro que sonegar bens da herança, não os descrevendo no inventário quando estejam em seu poder, ou, com o seu conhecimento, no de outrem, ou que os omitir na colação, a que os deva levar, ou que deixar de restituí-los, perderá o direito que sobre eles lhe caiba”. Acrescenta o art. 1.993: “Além da pena cominada no artigo antecedente, se o sonegador for o próprio inventariante, remover-se-á, em se provando a sonegação, ou negando ele a existência dos bens, quando indicados”. As disposições concernentes aos sonegados colimam dupla finalidade: assegurar aos herdeiros a integridade dos seus direitos sobre o acervo sucessório, e, aos credores, o direito de se pagarem com o produto da venda de bens do espólio. A sonegação de bens no inventário constitui infração que pode ser praticada pelo inventariante, quando omite, intencionalmente, bens ou valores, ao prestar as primeiras e as últimas declarações, afirmando não existirem outros por inventariar, ou pelo herdeiro que não indica bens em seu poder, ou sabidamente de terceiros, ou ainda omite os doados pelo de cujus e sujeitos à colação (CC, art. 1.992). Além dessas pessoas, o testamenteiro sujeita-se igualmente a incorrer na pena de sonegados se exercer também a inventariança. Partilha Terminado o inventário, partilham-se os bens entre os herdeiros e cessionários, separando-se a meação do cônjuge supérstite. Segundo o magistério de Carlos Maximiliano, “partilha é a divisão do espólio entre os sucessores do falecido. Também a definem como operação jurídica por meio da qual se confere uma quota exclusiva e concreta aos que possuem em comum uma sucessão e na mesma têm apenas uma quota ideal” Em resumo, após a conclusão da fase de inventário prossegue-se com a fase da partilha, que é a fase processual pela qual a herança passa do estado de comunhão indivisível decorrente da morte, ao estado de quotas completamente separadas, ou ao estado de comunhão divisível ou indivisível, conforme estipular a sentença. Porém, para haver a partilha é necessário observar alguns requisitos, como a máxima igualdade possível quanto ao valor, à natureza e à qualidade dos bens; a prevenção de litígios futuros; a máxima comodidade dos coerdeiros, do cônjuge ou do companheiro, se for o caso. Já os bens insuscetíveis de divisão cômoda que não couberem na parte do cônjuge ou companheiro supérstite ou no quinhão de um só herdeiro serão licitados entre os interessados ou vendidos judicialmente, partilhando-se o valor apurado, salvo se houver acordo para que sejam adjudicados a todos. A partilha pode ser amigável ou judicial. A primeira resulta de acordo entre interessados capazes, enquanto a judicial é aquela realizada no pro cesso de inventário, por deliberação do juiz, quando não há acordo entre os herdeiros ou sempre que um deles seja menor ou incapaz. Dispõe o art. 2.015 do Código Civil: “Se os herdeiros forem capazes, poderão fazer partilha amigável, por escritura pública, termo nos autos do inventário, ou escrito particular, homologado pelo juiz”. Essa partilha é negócio jurídico plurilateral e resulta da vontade concordante de todos os herdeiros, que manifestam seu propósito de dividir o espólio da maneira constante do instrumento. Trata-se de negócio solene, que só vale se efetivado após a morte do autor da herança, visto não ser eficaz contrato que tenha por objeto herança de pessoa viva (CC, art. 426). A lei faculta a realização dessa modalidade de partilha por três modos diferentes: a) escritura pública; b) termo nos autos do inventário; e c) o instrumento particular, ao depois homologado pelo juiz. Os herdeiros só podem valer-se da solução extrajudicial se forem maiores e capazes, uma vez que todo negócio jurídico implica a capacidade das partes. Se algum for incapaz, ainda que relativamente, não pode fazê-lo, mesmo que assistido por seu representante legal. A lei exige que a partilha, então, se processe judicialmente, para que a atribuição de quinhões seja acompanhada e conferida pelo Ministério Público e fiscalizada pelo juiz. Colação Colação é o ato pelo qual os herdeiros descendentes que concorrem à sucessão do ascendente comum declaram no inventário as doações que dele em vida receberam, sob pena de sonegados, para que sejam conferidas e igualadas as respectivas legítimas (CC, arts. 2.002 e 2.003). É dever imposto ao herdeiro, pois a doação de ascendentes a descendentes “importa adiantamento do que lhes cabe por herança” (CC, art. 544). Pode-se afirmar que predomina nos diversos países o entendimento de que a colação procura manter, dentro do possível, a igualdade entre os herdeiros legitimados. É, portanto, a igualdade das quotas hereditárias legítimas, dentro da regulamentação de cada Estado, a base conceitual do instituto da colação. Mencione-se como exemplo, valendo por todos, o conceito de Washington de barros Monteiro: “A colação vem a ser a restituição ao acervo hereditário dos valores recebidos pelos herdeiros, a título de doação, para subsequente inclusão na partilha, a fim de que esta se realize com igualdade”’. Sobre sua finalidade, estabelece o art. 2.003 do vigente Código Civil: “Art. 2.003. A colação tem por fim igualar, na proporção estabelecida neste Código, as legítimas dos descendentes e do cônjuge sobrevivente, obrigando também os donatários que, ao tempo do falecimento do doador, já não possuírem os bens doados. Parágrafo único. Se, computados os valores das doações feitas em adiantamento de legítima, não houver no acervo bens suficientes para igualar aslegítimas dos descendentes e do cônjuge, os bens assim doados serão conferidos em espécie, ou, quando deles já não disponha o donatário, pelo seu valor ao tempo da liberalidade”. Sobre os bens sujeitos a colação estabelece o art. 2.004 do vi-gente Código Civil: “Art. 2.004. O valor de colação dos bens doados será aquele, certo ou estimativo, que lhes atribuir o ato de liberalidade. § 1.o Se do ato de doação não constar valor certo, nem houver estimação feita naquela época, os bens serão conferidos na partilha pelo que então se calcular valessem ao tempo da liberalidade. § 2.o Só o valor dos bens doados entrará em colação; não assim o das benfeitorias acrescidas, as quais pertencerão ao herdeiro donatário, correndo também à conta deste os rendimentos ou lucros, assim como os danos e perdas que eles sofrerem”. “Art. 2.007. São sujeitas à redução as doações em que se apurar excesso quanto ao que o doador poderia dispor, no momento da liberalidade. § 1.o O excesso será apurado com base no valor que os bens doados tinham, no momento da liberalidade. § 2.o A redução da liberalidade far-se-á pela restituição ao monte do ex-cesso assim apurado; a restituição será em espécie, ou, se não mais existir o bem em poder do donatário, em dinheiro, segundo o seu valor ao tempo da abertura da sucessão, observadas, no que forem aplicáveis, as regras deste Código sobre a redução das disposições testamentárias. § 3.o Sujeita-se a redução, nos termos do parágrafo antecedente, a parte da doação feita a herdeiros necessários que exceder a legítima e mais a quota disponível. § 4.o Sendo várias as doações a herdeiros necessários, feitas em diferentes datas, serão elas reduzidas a partir da última, até a eliminação do excesso” Quanto a dispensa da colação: “Art. 2.005. São dispensadas da colação as doações que o doador deter-minar saiam da parte disponível, contanto que não a excedam, computado o seu valor ao tempo da doação. Parágrafo único. Presume-se imputada na parte disponível a liberalidade feita a descendente que, ao tempo do ato, não seria chamado à sucessão na qualidade de herdeiro necessário”. Obviamente, também dentro da parte disponível, pode o próprio doador (autor da herança) dispensar a colação no respectivo título em que realizou a doação ou mesmo em testamento. Da mesma forma, o instituto não se presta a estimular a falta de cuidado dos pais com os filhos, motivo pelo qual, na forma do art. 2.010, não virão à colação os gastos ordinários do ascendente com o descendente, enquanto me-nor, na sua educação, estudos, sustento, vestuário, tratamento nas enfermidades, enxoval, assim como as despesas de casamento, ou as feitas no interesse de sua defesa em processo-crime. Por fim, ainda quanto a bens excluídos da colação, registre-se que as “doações remuneratórias de serviços feitos ao ascendente também não estão sujeitas a colação” (art. 2.011), o que é perfeitamente aceitável, já que não há um caráter necessário de liberalidade pura. Regras relativas à partilha Deve ser observada, na partilha, a maior igualdade possível. Nesse sentido, dispõe o art. 2.017 do Código Civil: “No partilhar os bens, observar-se-á, quanto ao seu valor, natureza e qualidade, a maior igualdade possível” A exigência legal de que se observe, na partilha, a maior igualdade possível, não obriga a que todos os herdeiros fiquem com uma parte ideal em cada bem, permanecendo todos pro indiviso. Ao contrário, deve ser evitado, tanto quanto possível, o condomínio, sabidamente fonte de discórdias e de demandas, constituindo mesmo A partilha deve consultar, também, a comodidade dos herdeiros e, tanto quanto o permitir a igualdade a ser observada, evitar litígios futuros. Para evitar demandas futuras, recomenda-se não só evitar a indivisão, como já dito, senão também declarar, com a possível exatidão, as confrontações dos imóveis; se couberem a dois ou mais coerdeiros, é indispensável, também, que se regulamente o uso de eventual servidão. Dispõe o art. 2.019 do Código Civil: “Os bens insuscetíveis de divisão cômoda, que não couberem na me-ação do cônjuge sobrevivente ou no quinhão de um só herdeiro, serão vendidos judicialmente, partilhando-se o valor apurado, a não ser que haja acordo para serem adjudicados a todos. § 1o Não se fará a venda judicial se o cônjuge sobrevivente ou um ou mais herdeiros requererem lhes seja adjudicado o bem, repondo aos outros, em dinheiro, a diferença, após avaliação atualizada. § 2o Se a adjudicação for requerida por mais de um herdeiro, observar--se-á o processo da licitação”. A adjudicação ao herdeiro, ao cessionário ou ao cônjuge sobrevivente prefere, portanto, à venda judicial no condomínio derivado da herança. Pode ela ser requerida a qualquer tempo, enquanto não realizada a praça. Para essa adjudicação, torna-se desnecessário o assentimento dos demais herdeiros. No entanto, se mais de um a pleitear, imporse-á a licitação. A lei confere hipoteca “ao coerdeiro, para garantia do seu quinhão ou torna da partilha, sobre o imóvel adjudicado ao herdeiro reponente” (CC, art. 1.489, IV). Garantia dos quinhões hereditários Julgada a partilha, consumada estará a divisão patrimonial da herança, motivo pelo qual o direito de cada um dos herdeiros circunscrever-se-á aos bens do seu quinhão. Todavia, na forma dos arts. 2.024 e 2.025 do Código Civil, os coerdeiros continuarão reciprocamente obrigados a indenizar-se no caso de evicção dos bens aquinhoados, cessando tal obrigação pela autonomia da vontade (convenção em sentido contrário) ou no caso da evicção ter se dado por culpa do evicto, ou por fato posterior à partilha. Por fim, destaque-se a regra do art. 2.026: “Art. 2.026. O evicto será indenizado pelos coerdeiros na proporção de suas quotas hereditárias, mas, se algum deles se achar insolvente, responderão os demais na mesma proporção, pela parte desse, menos a quota que corresponderia ao indenizado”. Trata-se de uma regra que resguarda aquele (evicto) que fora privado do seu direito pelo reconhecimento do direito anterior de outrem (evictor). Nulidade da partilha Transitada em julgado a sentença homologatória de partilha (amigável), admite, a legislação codificada, o possível reconhecimento de sua invalidade. Isso porque a partilha amigável tem natureza essencialmente negocial: “Art. 2.027. A partilha, uma vez feita e julgada, só é anulável pelos vícios e defeitos que invalidam, em geral, os negócios jurídicos”. Interessante destacar, outrossim, que foi estabelecido um prazo decadencial diferenciado para tal anulação da partilha (um ano), na forma do parágrafo único do referido dispositivo. Tal prazo já era existente no ordenamento jurídico brasileiro anterior à atual codificação civil, conforme se verifica do art. 1.029 do Código de Processo Civil de 1973: “Art. 1.029. A partilha amigável, lavrada em instrumento público, reduzi-da a termo nos autos do inventário ou constante de escrito particular homologado pelo juiz, pode ser anulada, por dolo, coação, erro essencial ou intervenção de incapaz. Parágrafo único. O direito de propor ação anulatória de partilha amigável prescreve em 1 (um) ano, contado este prazo: (Redação dada pela Lei n. 5.925, de 1.o-10-1973) I — no caso de coação, do dia em que ela cessou; (Redação dada pela Lei n. 5.925, de 1.o-10-1973) II — no de erro ou dolo, do dia em que se realizou o ato; (Redação dada pela Lei n. 5.925, de 1.o-10-1973) III — quanto ao incapaz, do dia em que cessar a incapacidade. (Redação dada pela Lei n. 5.925, de 1.o-10-1973)”. Não se podia deixar de observar, contudo, a técnica da legislação processual, que utilizou a expressão “prescreve” para um prazo visivelmente decadencial, uma vez que se trata de postulação de natureza constitutiva negativa7 . O CPC/2015 corrigiu essa distorção, a teor do seu art. 657, parágrafo único, que, mais adequadamente, refere que o direito à anulação extinguir-se-ia no prazo de um ano, evitando, comisso, a menção indevida à prescrição. Se não, vejamos: “Art. 657. A partilha amigável, lavrada em instrumento público, reduzida a termo nos autos do inventário ou constante de escrito particular homologado pelo juiz, pode ser anulada por dolo, coação, erro essencial ou intervenção de incapaz, observado o disposto no § 4.o do art. 966. Parágrafo único. O direito à anulação de partilha amigável extingue-se em 1 (um) ano, contado esse prazo: I — no caso de coação, do dia em que ela cessou; II — no caso de erro ou dolo, do dia em que se realizou o ato; III — quanto ao incapaz, do dia em que cessar a incapacidade”. Não sendo hipótese de partilha amigável, mas sim judicialmente estabelecida por sentença, esta, como provimento jurisdicional definitivo, pode ser objeto de ação rescisória, conforme estabelece o art. 658 do Código de Processo Civil de 2015. Sobrepartilha Trata-se, em verdade, de uma partilha fracionada e posterior, como decorrência de situações fáticas específicas que impossibilitaram a sua realização oportuna. Sobre o tema, estabelecem os arts. 2.021 e 2.022 do Código Civil: “Art. 2.021. Quando parte da herança consistir em bens remotos do lugar do inventário, litigiosos, ou de liquidação morosa ou difícil, poderá proceder--se, no prazo legal, à partilha dos outros, reservando-se aqueles para uma ou mais sobrepartilhas, sob a guarda e a administração do mesmo ou diverso inventariante, e consentimento da maioria dos herdeiros. Art. 2.022. Ficam sujeitos a sobrepartilha os bens sonegados e quaisquer outros bens da herança de que se tiver ciência após a partilha”. Na mesma linha, preveem os arts. 669 e 670 do Código de Processo Civil: “Art. 669. São sujeitos à sobrepartilha os bens: I — sonegados; II — da herança descobertos após a partilha; III — litigiosos, assim como os de liquidação difícil ou morosa; IV — situados em lugar remoto da sede do juízo onde se processa o inventário. Parágrafo único. Os bens mencionados nos incisos III e IV serão reserva-dos à sobrepartilha sob a guarda e a administração do mesmo ou de diverso inventariante, a consentimento da maioria dos herdeiros. Art. 670. Na sobrepartilha dos bens, observar-se-á o processo de inventário e de partilha. Parágrafo único. A sobrepartilha correrá nos autos do inventário do autor da herança”. Como nos diz CARLOS ROBERTO GONÇALVES: “A existência de bens nas situações descritas pode comprometer o bom andamento e finalização da partilha. Procede-se, então, no prazo legal, à parti-lha dos outros bens, reservando-se aqueles para uma ou mais partilhas, adiando-se a divisão dos bens que, por diversos motivos, apresentam liquidação complicada, ficando estes sob a guarda e administração do mesmo ou diverso inventariante, conforme o aprazamento da maioria dos herdeiros”. Preservam-se, com isso, de um lado, os interesses dos herdeiros, e, de outro, o princípio da duração razoável do processo. CONCLUSÂO O desenvolvimento do presente trabalho possibilitou um conhecimento abrangente e detalhado de todas as fases procedimentais do Inventário e Partilha. O inventário se apresenta como meio de formalização da transmissão dos bens aos herdeiros, por meio de um procedimento que visa demonstrar os herdeiros, o acervo patrimonial, assim como a apuração e pagamento dos tributos para a promoção da partilha dos bens. Igualmente, existem diversas modalidades de inventário, sobre estas modalidades discorremos no segundo capítulo expondo de forma breve o inventário negativo, o judicial, os arrolamentos e o inventário extrajudicial. Verifica-se que o formal de partilha é um documento de natureza pública, cuja finalidade é regular os direitos e deveres decorrentes de relações jurídicas entre pessoas, como no inventário e partilha, por exemplo. É, portanto, um documento que homologa a partilha de bens do inventário, reconhecendo o direito dos sucessores e/ou herdeiros. Também pode ser chamado de carta de sentença ou certidão de partilha. Existem requisitos para o registro do formal de partilha, tais como a apresentação dos documentos do de cujus, herdeiros e sucessores, comprovação do recolhimento dos tributos devidos, como o ITCD, por exemplo. Com o advento da Lei n. 11.441/2007, o inventário e a partilha, que até então só aconteciam por via judicial, passaram a ser realizados administrativamente ou extrajudicialmente, desde que atendidos os critérios estabelecidos em lei, como a maioridade e capacidade de todos os envolvidos, concordância entre as partes, ausência de testamento do falecido e presença de um advogado. Por fim, percebe-se a importância de tais institutos dentro do bojo do Direito Sucessório, instrumento que possibilita a correta transferência de bens e valores de falecidos aos seus familiares e cônjuges. Bibliografia Curso de Direito Civil Brasileiro Direito das sucessões - 6º volume — Maria Helena Diniz - 20ª edição -2006; Novo curso de Direito Civil - Direito das sucessões - Pablo Stolze Gagliano - 7º volume, 5ª edição - 2018; Direito Civil Brasileiro, Direito das Sucessões - 7º volume, - Carlos Roberto Gonçalves 12ª edição -2018; Direito Civil - Curso Completo - César Fiuza - 17ª edição -2014.
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