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Resenha de estudos sobre Executivo-Legislativo no âmbito municipal

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Resenha de estudos sobre Executivo-Legislativo no âmbito municipal 
 
Gustavo Eiji Nakamura Molina 
 
Existem na Ciência Política teorias à respeito de como nosso sistema político deveria 
funcionar e quais as consequências do modelo de funcionamento atual na relação entre os 
Poderes Executivo-Legislativo. Os estudo se concentram principalmente no âmbito federal, 
no entanto, há também um esforço de pesquisadores para compreender essa relação no 
âmbito municipal. Os principais estudos são baseados em estudos de caso que se concentram 
sobretudo no município de São Paulo e região metropolitana (COUTO, 1998, 1999; 
ANDRADE, 1998; NETO, 2003; TEIXEIRA, 2004; CAETANO, 2005; FIORILO, 2006; 
PRAÇA & GARCIA, 2011; GARCIA, 2013). Uma vez que o sistema institucional do nível 
federal funciona da mesma forma nos demais níveis de governo, é possível traçar um 
comparativo entre eles. Couto (1995) define o sistema executivo municipal como 
presidencialismo municipal. 
 
Em comparativo ao âmbito federal, apoiando-se nas teses da relação 
Executivo-Legislativo de Figueiredo & Limongi (1999), Bruno Caetano (2005) em “ 
Executivo e Legislativo na esfera local: agenda e construção de maiorias na Câmara 
Municipal de São Paulo” analisa o governo do município de São Paulo no período de 2001 a 
2004 e identifica os elementos que estruturam a formação de maioria no Legislativo. Segundo 
esse autor, o prefeito dita o processo legislativo e possui poder de agenda, e assim como 
ocorre no âmbito nacional, os partidos têm o processo legislativo centralizados de forma que 
os vereadores não agiriam de forma individualizada. Seguindo a metodologia utilizada por 
Figueiredo & Limongi (1999), esse autor analisa de forma quantitativa os Projetos de Lei 
aprovados no período, onde identifica o poder de agenda do Executivo que possui quase a 
totalidade de aprovação de seus projetos. Conclui inferindo a indicação de fortes poderes 
institucionais e de coordenação nas mãos do Executivo, dos líderes partidários e da mesa 
diretora. O trabalho de Caetano (2005) contribui para uma análise do Legislativo municipal 
através da unidade partidária. 
1 
Os autores Régis Andrade (1998), Cláudio Couto (1998) e Joffre Neto (2003) através 
de metodologias distintas, quais sejam, análise das estratégias adotados pelos parlamentares 
no processo decisório, análise dos padrões de interação entre Executivo-Legislativo na 
produção de políticas públicas e análise de survey aplicado aplicado a vereadores da região 
do Vale do Paraíba - SP, respectivamente, ao contrário de Caetano (2005) acreditam nas 
negociações fisiológicas Executivo-Legislativo, onde partidos políticos não importam para a 
governabilidade dos municípios, reforçando a tese neoinstitucionalista da escolha racional 
distributiva, que afirma, com base em estudos do congresso norte-americano, que 
congressistas estariam alinhados a políticas clientelistas, buscando seus próprios interesses -- 
reeleição e benefícios para o seu eleitorado. Esses autores contribuem, portanto, para uma 
análise mais individual do Legislativo, sem unidade partidária. 
 
No entanto, Sérgio Praça e Joice Garcia (2011) em estudo de caso realizado em 36 
municípios da região metropolitana de São Paulo concluem que em 84% dos governos são 
realizadas coalizões, sendo 56% majoritárias, fato que contribui para uma análise mais atenta 
ao Legislativo sob a ótica da unidade partidária. Coalizões no âmbito federal são realizadas 
com o objetivo de compartilhamento do Poder do Executivo buscando encontrar acordo para 
aprovação de uma agenda de governo comum (FREITAS, 2013). Da mesma forma, o 
compartilhamento de poder é realizado em coalizões no governo municipal, e as ações do 
Executivo não devem ser personificadas na figura do prefeito. Mesmo que hajam interesses 
próprios por parte dos vereadores, esses interesses precisam ser emendados em Projetos, e 
precisam ser votado e aprovados pela maioria dos parlamentares e não vetado pelo Executivo. 
 
Alguns autores como Cláudio Couto (1998) indicam que as ações individuais de 
vereadores nos municípios se deve a um clientelismo justificado pela dimensão dos 
municípios e proximidade do poder local em relação aos cidadãos. Indicações nessa linha de 
pensamento estão presentes, mais recentemente, no trabalho de Karoline Roeder (2016) que 
analisou governos petistas em Contagem (MG) e Joinville (SC), no período de 2005 a 2008 e 
2009 e 2012 respectivamente, com o intuito de avaliar se o sucesso do Executivo no 
Legislativo estaria atrelado a continuidade do governo em uma reeleição. A metodologia 
usada foi a de análise de Projetos para aprovação no Legislativo. Foi observado, por parte da 
autora, posições clientelistas por parte dos vereadores nas duas cidades. No caso de Joinville, 
2 
o ex-chefe governo comenta em entrevista sobre a pressão exercida pelos vereadores para 
realização de projetos pelo Executivo que atendam seus interesses clientelistas. No entanto, 
as conclusões dos trabalhos que defendem a tese clientelista não levam em consideração em 
suas análises toda tramitação dos Projetos iniciados pelos vereadores, uma vez que “As 
Câmaras Municipais possuem prerrogativa de veto, derrubar vetos impostos pelo Executivo, 
além da possibilidade de emendar seus Projetos de Lei, rejeitá-los, de solicitar informações 1
ao Executivo, abrir Comissão Parlamentar de Inquérito, solicitar informações ao prefeito, 
além, é claro, de legislar.” (ROEDER, 2016, p. 36), deixando assim, brechas para uma análise 
do processo de emendamento e das negociações realizadas entre Executivo e Legislativo. 
 
Os projetos precisam ter aprovação da maioria dos parlamentares e não serem vetados 
pelo Executivo, as análises apresentadas pelos estudos de caso aqui expostos não levam em 
consideração as negociações e modificações realizadas durante o processo de aprovação dos 
projetos iniciados pelo Executivo. Também não é possível perceber com clareza como se 
comportam os vereadores que fazem parte dos partidos da coalizão no processo de 
emendamento, que contribuiria para uma análise da taxa de disciplina. Na pesquisa de 
Karolina Roeder (2016), por exemplo, a escassez de Projetos, e a impossibilidade de análise a 
fez entrevistar ex-chefes de gabinetes, tendo uma visão unilateral do Poder Executivo. Essas 
informações não estabelecidas nos trabalhos aqui apresentados se julgam extremamente 
importantes haja vista a contribuição realizada pelo trabalho de Andrea Freitas (2013) para a 
relação Executivo-Legislativo federal, onde foi possível refutar ideias como clientelismo 
regional, expresso pela mídia como “penduricalhos” clientelistas emendados por 
parlamentares em Projetos do Executivo (FREITAS, 2013, p. 96) e o poder de Medidas 
Provisórias emitidas pelo Executivo, que até então eram vistas como expressão da vontade 
exclusiva do presidente, e através de uma análise minuciosa do processo de emendamento 
olhando todo processo de negociação, foi possível compreender que os deputados também 
exerciam influêncianessas medidas (FREITAS, 2013, p. 92). 
 
 
1 ​Os Projetos enviados a votação na Câmara podem sofrer modificações do tipo 1) aditiva que propõe um novo 
conteúdo a determinado projeto, 2) modificativa que propõe modificação ao conteúdo já existente no projeto 
original, 3) supressiva, que pode suprimir artigos, incisos, alíneas ou parágrafos do projeto original ou 4) 
aglutinativa, que resulta da fusão de outras emendas. (FREITAS, 2013) 
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 
 
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Legislativa de São Paulo". In: Andrade, Régis de Castro (org.) Processo de governo no 
município e no estado.. São Paulo: EDUSP / FAPESP, 1998. 
 
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na Câmara Municipal de São Paulo. Novos Estudos CEBRAP, n 71. São Paulo: CEBRAP, 
2005. 
 
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EDUSP/FAPESP, 1998 
 
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FIORILO, Paulo R. A relação entre Executivo e Legislativo no Governo petista de Marta 
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GARCIA, Joice G. Executivo e Legislativo no Âmbito municipal: A Formação de Gabinetes 
no Município de São Paulo (1989-2012). São Paulo. FGV, 2011 [Dissertação de mestrado em 
Administração Pública] 
 
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ROEDER, Karoline M. Relação Executivo-Legislativo na esfera local: os governos petistas 
em Contagem (MG) (2005 a 2008) e Joinville (SC) (2009 a 2012). Curitiba. UFPR, 2016 
[Dissertação de mestrado em Ciência Política] 
 
NETO, Joffre. O Legislativo e o poder local. In: Benevides, Maria Victoria e outros (Org.). 
Reforma política e cidadania. São Paulo: Perseu Abramo, 2003. PRAÇA, sérgio & GARCIA, 
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TEIXEIRA, Marcos A. C. Negociação Política e Interação Executivo/Legislativo - a gestão 
Paulo Maluf na cidade de São Paulo (1993-1996). Cadernos Gestão Pública e Cidadania, São 
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