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Formação Social, Histórica e Política do Brasil- Uniasselvi

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Prévia do material em texto

Formação Social, 
HiStórica e Política 
do BraSil
Prof. Arnaldo Haas Júnior
2013
Copyright © UNIASSELVI 2013
Elaboração:
Prof. Arnaldo Haas Júnior
Revisão, Diagramação e Produção:
Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI
Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri 
UNIASSELVI – Indaial.
361.3
H112f Haas Júnior, Arnaldo
 Formação social, histórica e política do Brasil / Arnaldo 
 Haas Júnior. 
 Indaial : Uniasselvi, 2013.
 175 p. : il 
 ISBN 978-85-7830-773-8
I. Formação social – Brasil. 
 1. Centro Universitário Leonardo da Vinci.
 2. Haas Júnior, Arnaldo.
Impresso por:
III
aPreSentação
 Caro(a) acadêmico(a)!
 A partir desse momento iniciaremos os estudos relativos à Formação 
Social, Histórica e Política do Brasil. Por razões que lhe serão apresentadas no 
início da primeira unidade deste caderno, associaremos a Formação Social, 
Histórica e Política do Brasil aos delineamentos da República Brasileira. To-
mando por referência eventos ligados ao advento da República e ao processo 
de afirmação desse regime político, nosso olhar será dirigido à compreensão 
de nuances das transformações políticas, econômicas e sociais ocorridas em 
nosso país nas últimas décadas do século XIX até o início do século XXI.
 Uma vez que não nos é dada a possibilidade de recuperação ou res-
gate de “toda a história”, faremos uma reflexão sobre temáticas consagra-
das pela historiografia brasileira que podem contribuir com a sua formação 
como profissional da área de Serviço Social. Portanto, esta disciplina aborda 
a compreensão dos significados mais visíveis não apenas de questões emi-
nentemente políticas, mas também das estreitas e indissociáveis ligações que 
tais questões nutrem em relação a outros aspectos da sociedade brasileira. 
Nosso objetivo não será empreender uma análise detalhada sobre cada um 
dos eventos citados, pois, dada a amplitude do recorte temporal, lançaremos 
sobre ele apenas um olhar panorâmico.
 Para que seus estudos possam ser conduzidos de maneira agradável 
e para que a produção de significados seja efetivada, a divisão deste caderno 
pedagógico em três unidades, para fins didáticos, foi pautada não apenas em 
uma perspectiva cronológica, atitude comum às narrativas historiográficas, 
mas também na eleição de conceitos-chave, a partir dos quais você poderá 
ampliar seu entendimento sobre as temáticas analisadas.
 Na primeira unidade, “O Advento da República no Brasil”, você to-
mará conhecimento da transição da Monarquia à República, antecedida pela 
e em grande medida tributária da abolição legal do trabalho escravo ocorrida 
em 1888, e dos interesses políticos que deram sustentação ao novo regime. 
Nesta unidade você também será apresentado a aspectos dos movimentos 
sociais que eclodiram na Primeira República e do processo de articulação ide-
ológica e prática da luta de classes, decorrente da paulatina emergência de 
novos grupos sociais no espaço urbano industrial.
 Na segunda unidade, “Novos arranjos políticos: da Revolução de 
1930 ao governo de ‘Jango’”, o vetor do texto será dado pela constatação da 
forte influência exercida por Getúlio Vargas no quadro político brasileiro. Da 
Revolução de 1930, passando pela instauração do Estado Novo, pelas políti-
IV
Você já me conhece das outras disciplinas? Não? É calouro? Enfim, tanto para 
você que está chegando agora à UNIASSELVI quanto para você que já é veterano, 
há novidades em nosso material.
Na Educação a Distância, o livro impresso, entregue a todos os acadêmicos desde 2005, é o 
material base da disciplina. A partir de 2017, nossos livros estão de visual novo, com um formato 
mais prático, que cabe na bolsa e facilita a leitura. 
O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura interna foi aperfeiçoada com nova diagramação 
no texto, aproveitando ao máximo o espaço da página, o que também contribui para diminuir 
a extração de árvores para produção de folhas de papel, por exemplo.
Assim, a UNIASSELVI, preocupando-se com o impacto de nossas ações sobre o ambiente, 
apresenta também este livro no formato digital. Assim, você, acadêmico, tem a possibilidade 
de estudá-lo com versatilidade nas telas do celular, tablet ou computador. 
 
Eu mesmo, UNI, ganhei um novo layout, você me verá frequentemente e surgirei para 
apresentar dicas de vídeos e outras fontes de conhecimento que complementam o assunto 
em questão. 
Todos esses ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos nas pesquisas 
institucionais sobre os materiais impressos, para que você, nossa maior prioridade, possa 
continuar seus estudos com um material de qualidade.
Aproveito o momento para convidá-lo para um bate-papo sobre o Exame Nacional de 
Desempenho de Estudantes – ENADE. 
 
Bons estudos!
cas populistas e pelos agitados anos de 1950, você seguirá um itinerário que 
o conduzirá às vésperas da instauração do regime ditatorial militar, a “Repú-
blica Fardada”.
 A terceira e última unidade, “Do Regime Militar à Res Publica”, apre-
senta, inicialmente, um conjunto de considerações sobre o período de go-
verno militar que vigorou no país entre 1964 e 1985, e sobre os movimentos 
sociais que lhe fizeram oposição. A parte final desta unidade suscita um es-
tudo sobre o processo de redemocratização experimentado pela sociedade 
brasileira ao longo da década de 1980, assim como sobre políticas de governo 
e de Estado relativas ao plano econômico e social realizadas durante os anos 
de 1990 e primeiros anos deste novo século.
 Bons estudos!
UNI
V
VI
VII
Sumário
UNIDADE 1 – O ADVENTO DA REPÚBLICA NO BRASIL ........................................................ 1
TÓPICO 1 – A TRANSIÇÃO ORQUESTRADA: CONVENIÊNCIAS DO REGIME 
REPUBLICANO ...................................................................................................................................... 3
1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................... 3
2 OS INTERESSES E AS PROPOSTAS EM EVIDÊNCIA .............................................................. 4
LEITURA COMPLEMENTAR .............................................................................................................. 8
RESUMO DO TÓPICO 1 ....................................................................................................................... 10
AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................ 11
TÓPICO 2 – PRIMEIRA REPÚBLICA: A “REPÚBLICA DAS OLIGARQUIAS” ...................... 13
1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................... 13
2 QUE REPÚBLICA? QUE REGIME ADMINISTRATIVO? .......................................................... 13
3 REPÚBLICA DAS OLIGARQUIAS: A ARTICULAÇÃO E OS MOVIMENTOS DE 
CONTESTAÇÃO ..................................................................................................................................... 16
LEITURA COMPLEMENTAR I ........................................................................................................... 22
LEITURA COMPLEMENTAR II .......................................................................................................... 24
RESUMO DO TÓPICO 2 ....................................................................................................................... 25
AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................ 26
TÓPICO3 – TRABALHADORES NA PRIMEIRA REPÚBLICA: CONDIÇÕES À 
“LUTA DE CLASSES” ............................................................................................................................ 27
1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................... 27
2 ANTECEDENTES: RAÍZES DA INDÚSTRIA NACIONAL ....................................................... 28
3 A ORGANIZAÇÃO DOS TRABALHADORES E A LUTA DE CLASSES ............................... 30
LEITURA COMPLEMENTAR .............................................................................................................. 33
RESUMO DO TÓPICO 3 ....................................................................................................................... 35
AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................ 36
UNIDADE 2 – NOVOS ARRANJOS POLÍTICOS: DA REVOLUÇÃO DE 1930 AO 
GOVERNO DE “JANGO” .................................................................................................................... 37
TÓPICO 1 – A REVOLUÇÃO DE 1930: GETÚLIO VARGAS NO PODER ................................. 39
1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................... 39
2 A DÉCADA DE 1920: RAÍZES DE UM IMPASSE NÃO NEGOCIÁVEL ................................. 40
3 A ALIANÇA LIBERAL E A “REVOLUÇÃO” DE 1930 ................................................................. 42
4 PRIMEIROS ANOS: OPOSIÇÃO, CONFLITOS E O CAMINHO RUMO AO ESTADO 
NOVO ....................................................................................................................................................... 47
LEITURA COMPLEMENTAR .............................................................................................................. 53
RESUMO DO TÓPICO 1 ....................................................................................................................... 58
AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................ 60
TÓPICO 2 – O ESTADO NOVO E SEUS DESDOBRAMENTOS ................................................ 61
1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................... 61
2 O PLANO COHEN .............................................................................................................................. 61
3 O ESTADO NOVO .............................................................................................................................. 62
VIII
LEITURA COMPLEMENTAR .............................................................................................................. 71
RESUMO DO TÓPICO 2 ....................................................................................................................... 76
AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................ 77
TÓPICO 3 – A DÉCADA DE 1950: AS (IM)POSSIBILIDADES DA DEMOCRACIA .............. 79
1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................... 79
2 A PERSONALIZAÇÃO DO PODER: O POPULISMO ................................................................ 80
3 O GOVERNO DUTRA E O RETORNO DE VARGAS ................................................................. 81
4 DE KUBITSCHEK A JOÃO GOULART ......................................................................................... 88
LEITURA COMPLEMENTAR I ........................................................................................................... 96
LEITURA COMPLEMENTAR II .......................................................................................................... 99
RESUMO DO TÓPICO 3 ....................................................................................................................... 103
AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................ 106
UNIDADE 3 – DO REGIME MILITAR À NOVA REPÚBLICA .................................................... 107
TÓPICO 1 – INSTAURANDO A NOVA ORDEM: OS MILITARES NO PODER .................... 109
1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................... 109
2 O GOLPE E OS GOVERNOS AUTORITÁRIOS .......................................................................... 110
3 OS ATOS INSTITUCIONAIS E OUTRAS MEDIDAS AUTORITÁRIAS ............................... 114
LEITURA COMPLEMENTAR .............................................................................................................. 116
RESUMO DO TÓPICO 1 ....................................................................................................................... 120
AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................ 121
TÓPICO 2 – O ESGOTAMENTO DO MODELO DE DESENVOLVIMENTO .......................... 123
1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................... 123
2 A MODERNIZAÇÃO CONSERVADORA ..................................................................................... 124
3 O PLANEJAMENTO ECONÔMICO ............................................................................................... 125
4 DO MILAGRE ECONÔMICO À CRISE FINAL ........................................................................... 126
LEITURA COMPLEMENTAR I ........................................................................................................... 130
LEITURA COMPLEMENTAR II .......................................................................................................... 131
RESUMO DO TÓPICO 2 ....................................................................................................................... 136
AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................ 137
TÓPICO 3 – A MOBILIZAÇÃO POPULAR, A TRANSIÇÃO E A NOVA REPÚBLICA ......... 139
1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................... 139
2 A MOBILIZAÇÃO POPULAR .......................................................................................................... 139
3 A TRANSIÇÃO .................................................................................................................................... 142
4 A NOVA REPÚBLICA ......................................................................................................................... 143
LEITURA COMPLEMENTAR .............................................................................................................. 149
RESUMO DO TÓPICO 3 ....................................................................................................................... 152
AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................ 155
TÓPICO 4 – DEMOCRACIA, AFINAL, PARA QUEM? ................................................................. 155
1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................... 155
2 O REGIMEPOLÍTICO PÓS-DITADURA ...................................................................................... 155
3 OS “PACOTES” DE ESTABILIZAÇÃO ECONÔMICA .............................................................. 157
4 O PLANO REAL E A ONDA NEOLIBERAL DE FHC .................................................................. 159
LEITURA COMPLEMENTAR .............................................................................................................. 164
RESUMO DO TÓPICO 4 ....................................................................................................................... 166
AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................ 167
REFERÊNCIAS ........................................................................................................................................ 169
1
UNIDADE 1
O ADVENTO DA REPÚBLICA NO 
BRASIL
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
PLANO DE ESTUDOS
A partir desta unidade você será capaz de:
• compreender as circunstâncias nas quais o regime político republicano foi 
implantado no Brasil;
• analisar aspectos do conjunto de interesses dos grupos políticos envol-
vidos na implantação da República, assim como daqueles que surgiram 
entre os anos de 1889 e 1930;
• refletir sobre alguns aspectos dos movimentos sociais na Primeira Repú-
blica;
• identificar as condições nas quais a luta de classes encontrou projeção no 
espaço urbano industrial na Primeira República.
Essa unidade está organizada em três tópicos. Em cada um deles você 
encontrará dicas, textos complementares, observações e atividades que lhe 
darão uma maior compreensão dos temas a serem abordados.
TÓPICO 1 – A TRANSIÇÃO ORQUESTRADA: CONVENIÊNCIAS DO 
 REGIME REPUBLICANO
TÓPICO 2 – PRIMEIRA REPÚBLICA: A “REPÚBLICA DAS OLIGARQUIAS”
TÓPICO 3 – TRABALHADORES NA PRIMEIRA REPÚBLICA: CONDIÇÕES 
 À “LUTA DE CLASSES”
2
3
TÓPICO 1
UNIDADE 1
A TRANSIÇÃO ORQUESTRADA: 
CONVENIÊNCIAS DO REGIME 
REPUBLICANO
1 INTRODUÇÃO
Resultado de uma convenção criada na Europa do século XIX, momento 
em que a História se constituía como disciplina, ganhava projeção institucional e 
aspirava à cientificidade a “História Contemporânea”, que haveria tido seu marco 
inaugural em 1789, ano de importantes eventos políticos e sociais responsáveis 
pela instauração da Revolução Francesa. Segundo esta convenção, com o perdão 
da redundância, seríamos “contemporâneos de uma História Contemporânea”. 
Não há como negar que a Revolução Francesa desencadeou eventos com 
projeções maiores do que aquelas restritas ao continente europeu, mas, em se 
tratando do nosso país, pensar a existência de uma “História Política do Brasil 
Contemporâneo” é uma atitude que nos remete a um recorte temporal diferenciado, 
principalmente porque, do ponto de vista político, a “História Contemporânea” 
brasileira ganha maior significado no espectro do regime republicano.
Instaurada em 15 de novembro de 1889, um século após o início da 
Revolução Francesa, a República não significou a materialização de um projeto 
político e administrativo para o país e para sua população, mas uma via conciliatória 
para interesses díspares de uma elite política que não mais se adequava ao regime 
monárquico. A confirmação dessa tese pode ser encontrada, por exemplo, na falta 
de respaldo popular ao ideário republicano, situação que só teve par na absoluta 
insipiência da maneira como a carcomida monarquia foi defendida nos dias 
seguintes à proclamação da República. Por outro lado, os rumos que o novo regime 
tomou até os anos trinta do século XX são testemunhos de peso considerável. Senão 
vejamos.
UNIDADE 1 | O ADVENTO DA REPÚBLICA NO BRASIL
4
2 OS INTERESSES E AS PROPOSTAS EM EVIDÊNCIA
Por maiores que sejam as discrepâncias entre os trabalhos de historiografia 
que discorrem sobre a transição da Monarquia à República, podemos indicar, sem 
maiores problemas, a existência de alguns pontos de convergências nas explicações 
que estes dão a ler. Em linhas gerais, 
[...] Da mesma forma que para o fim da escravidão, em geral, para se 
explicar a Proclamação da República (15 de novembro de 1889) recorre-
se às transformações econômico-sociais por que passaria o país no final 
do século. Assim, teríamos a decadência das oligarquias tradicionais 
(leia-se, em especial, a do Vale do Paraíba), a imigração e o definhamento 
da escravidão, fenômenos que levariam ao aprofundamento das relações 
capitalistas no campo, o processo de industrialização e a urbanização. 
No interior deste ambiente, encontraríamos o crescimento dos Partidos 
Republicanos, a campanha pelo federalismo frente à centralização 
monárquica, a penetração das ideias positivistas no exército e o 
aguçamento da chamada Questão Militar. Caberia aos militares o ato 
de 15 de novembro de 1889 e seriam eles os primeiros presidentes, 
ficando no poder até 1894. (LINHARES, 1990, p. 187, grifo nosso).
Individualmente, todas as questões em negrito na citação anterior 
mereceriam um olhar mais atento e uma análise específica. Contudo, interessa-nos 
aqui entender a contribuição que cada uma delas deu ao processo de instauração 
da República. Portanto, vamos por partes, começando pela última delas: a Questão 
Militar.
Segundo uma expressão bastante conhecida entre os historiadores e 
cientistas sociais, enunciada por Aristides Lobo, o povo teria assistido à queda 
da Monarquia “bestializado, atônito, sem saber o que significava”. O fato é que, 
embora a existência de partidos republicanos fosse constatada desde 1870, o ato 
inaugural da República não foi obra de uma articulação política entre civis, mas um 
“evento até certo ponto misterioso para os que dele não participaram diretamente, 
ou seja, para os que não pertenciam ao seleto grupo de militares conspiradores”. 
(DEL PRIORE; VENÂNCIO, 2003, p. 141). 
Ao longo da segunda metade do século XIX, principalmente após o término 
da Guerra do Paraguai (1864-1870), as relações entre o governo imperial e o exército 
não eram das melhores. Nos meios militares havia um profundo ressentimento 
em relação ao absoluto descaso com que o governo tratava o exército. A falta de 
investimentos, tanto em infraestrutura quanto em contingente e treinamento, era 
uma das razões para o fato de o exército brasileiro viver em estado precário. Essa 
situação, contudo, não impediu a vitória brasileira, em conjunto com a Argentina 
e o Uruguai, na Guerra do Paraguai. Finda a guerra, aqueles que lutaram pelo país 
passaram a reivindicar com maior veemência a devida atenção aos seus interesses.
TÓPICO 1 | A TRANSIÇÃO ORQUESTRADA: CONVENIÊNCIAS DO REGIME REPUBLICANO
5
FIGURA 1 – HOMENAGEM DA REVISTA ILLUSTRADA À 
PROCLAMAÇÃO DA REPÚBLICA
FONTE: REPÚBLICA no Brasil. Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/
wiki/Ficheiro: Republica_no_brasil.jpg>. Acesso em: 7 mar. 
2010.
Associa-se ao descaso outro fato importante. Mesmo diante das condições 
adversas, a partir de 1850 o exército brasileiro enfrentava um paulatino processo 
de profissionalização. No entendimento de Del Priore e Venâncio (2003), tal 
processo, dentre outras consequências, acarretou uma modificação nos critérios 
de promoção, ou seja, a progressão na hierarquia militar, historicamente acessível 
apenas a membros da elite, tornou-se uma prerrogativa do mérito individual e 
possibilitou a projeção de jovens de origem humilde. Uma vez que no exército 
era possível também obter acesso à educação formal e ao conhecimento científico, 
criaram-se as condições para a propagação do ideário cientificista que ganhava 
forte projeção no século XIX, principalmente no mundo ocidental. 
Em poucas palavras, é possível dizer que a crença na ciência como 
promotora do progresso, do desenvolvimentoe da “civilização”, encontrou no 
exército um terreno fértil para germinar. O fruto desse plantio foi a difusão, entre 
seus membros, do Positivismo, doutrina filosófica concebida por Auguste Comte, 
cujo lema, “a Ordem por base, o Progresso por fim”, disseminou-se entre toda 
uma geração formada na escola militar. Não por outro motivo, o lema inscrito na 
bandeira nacional (a Bandeira Republicana), “Ordem e Progresso”, é tributário do 
ideário positivista. 
Evidentemente, não foi a força das ideias que guiava o grupo comandado 
pelo Marechal Deodoro da Fonseca a única responsável pela República. Dado o 
empurrão inicial, o carro republicano só entrou em movimento devido a uma ampla 
conjunção de fatores. A abolição do trabalho escravo certamente consta entre eles.
A assinatura da Lei Áurea foi o ato final de um processo que se estendeu por 
mais de quarenta anos. Desde 1850, com a assinatura da Lei Eusébio de Queirós, o 
tráfico interatlântico de escravos fora proibido (decorrência das pressões sofridas 
UNIDADE 1 | O ADVENTO DA REPÚBLICA NO BRASIL
6
de parte dos ingleses, agentes contentores do tráfico entre a África e a América 
desde 1845). Durante esta segunda metade do século ocorreu um prolongamento 
da escravidão até a impossibilidade de sua manutenção. Atos legais, como a criação 
da Lei do Ventre Livre, sancionada em 1871, e a Lei dos Sexagenários, em 1885, nada 
mais representaram do que a protelação do inevitável, principalmente se levarmos 
em conta que o Brasil foi um dos únicos países da América a manter a escravidão 
depois de proclamada a independência política em relação à sua metrópole.
A pressão contra a manutenção do regime de trabalho escravo desenvolveu-
se em várias frentes. À revolta cada vez mais incisiva (e perigosa) dos escravos 
cativos é necessário somar a proliferação de clubes abolicionistas, dos quais faziam 
parte, por exemplo, tanto intelectuais e profissionais liberais, quanto membros da 
elite e ex-escravos. Nestes clubes constavam aqueles que defendiam a extinção 
lenta e gradual da escravidão (emancipacionistas) e aqueles que lutavam por 
sua extinção imediata (abolicionistas). Por outro lado, as próprias necessidades 
internas do capitalismo em desenvolvimento no país (é importante lembrar que 
a constituição de um mercado consumidor, com renda própria, é condição de 
existência para a manutenção do capitalismo) agiram no sentido de fomentar a 
abolição. Contra essas frentes ficavam os escravistas, defensores da existência do 
regime de trabalho escravo.
FONTE: Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Golden_
 law_1888_Brazilian_senate.jpg>. Acesso em: 7 mar. 2010.
FIGURA 2 – LEI QUE ABOLIU A ESCRAVIDÃO
A figura mostra o Senado brasileiro aprovando a lei que aboliu a escravidão no 
país, em 1888. Uma multidão está reunida no andar de cima e ao fundo no térreo assistindo.
UNI
TÓPICO 1 | A TRANSIÇÃO ORQUESTRADA: CONVENIÊNCIAS DO REGIME REPUBLICANO
7
Se a “ordem natural dos acontecimentos”, supondo que esta exista, apontava 
o final do século XIX como o momento do suspiro final da escravidão, o ato da 
Princesa Isabel pode ser interpretado como um atropelo dessa ordem. Rompendo 
com a proposta dos emancipacionistas, a abolição significou para os escravistas 
“[...] uma traição, um confisco de propriedade alheia. A reação deste grupo não 
tardou a acontecer. Um ano após o ‘13 de maio’, à oposição dos militares somou-
se agora a de numerosos ex-senhores de escravos.” (DEL PRIORE; VENÂNCIO, 
2003, p. 258). Conforme nos fala Penna (1999), sem base econômica e política capaz 
de lhe dar sustentação, a Monarquia não resistiu a uma singela parada militar.
FONTE: Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Lei-
 %C3%81urea-original-da-Lei-3353.jpg>. Acesso em: 7 mar. 2010.
FIGURA 3 – PUBLICAÇÃO OFICIAL DA LEI ÁUREA
Do ponto de vista político-administrativo, o elemento que mais militava 
contra a Monarquia era o excesso de centralização do poder. Para que você tenha 
uma ideia do peso desta questão, é importante saber que durante o Segundo 
Reinado, ou seja, durante o período em que Dom Pedro II governou, havia uma 
interferência direta do governo na vida política das mais diversas regiões do 
país. Esta postura impossibilitava a livre ação de grupos oligarcas regionais e a 
sua perpetuação no poder. Por mais opaca que a ideia de República parecesse, 
havia em seus preceitos a sinalização para a implantação da descentralização e 
do federalismo, sendo estas, inclusive, as principais reivindicações do movimento 
republicano originado em 1870. Ou seja, como você pode notar, contrariando 
os princípios da Res Publica (palavras de origem latina que significam “coisa do 
povo”), a República brasileira, tanto por ocasião da sua implantação, quanto em 
UNIDADE 1 | O ADVENTO DA REPÚBLICA NO BRASIL
8
NOTÍCIAS DE JORNAIS SOBRE A PROCLAMAÇÃO DA 
REPÚBLICA
A partir de hoje, 15 de novembro de 1889, o Brasil entra em nova fase, 
pois pode-se considerar finda a Monarquia, passando a regime francamente 
democrático com todas as consequências da Liberdade.
Foi o exército quem operou esta magna transformação; assim como a de 7 
de abril de 31 ele firmou a Monarquia constitucional acabando com o despotismo 
do Primeiro Imperador, hoje proclamou, no meio da maior tranquilidade e com 
solenidade realmente imponente, que queria outra forma de governo.
Assim desaparece a única Monarquia que existia na América e, fazendo 
votos para que o novo regime encaminhe a nossa pátria a seus grandes destinos, 
esperamos que os vencedores saibam legitimar a posse do poder com o selo 
da moderação, benignidade e justiça, impedindo qualquer violência contra os 
vencidos e mostrando que a força bem se concilia com a moderação. Viva o Brasil! 
Viva a Democracia! Viva a Liberdade! Gazeta da Tarde, 15 de novembro de 1889.
Despertou ontem esta capital no meio de acontecimentos tão graves e 
tão imprevistos que as primeiras horas do dia foram de geral surpresa. Rompeu 
com o dia um movimento militar que, iniciado por alguns corpos do exército, 
generalizou-se rapidamente pela pronta adesão de toda a tropa de mar e terra 
existente na cidade.
A consequência imediata desses fatos foi a retirada do ministério de 7 de 
junho, presidido pelo Sr. Visconde do Ouro Preto, que teve de ceder à intimação 
LEITURA COMPLEMENTAR
suas primeiras décadas, apresentou-se como uma interessante conveniência às 
elites nacionais.
De acordo com Penna (1999), a República nasceu de maneira suficientemente 
pluralista para atender de imediato às expectativas de vários setores do quadro 
político nacional, mas não suficientemente capaz de dar abrigo aos interesses 
da grande massa da população, que continuou à margem dos canais efetivos de 
condução dos destinos do país. Em “Formação do Brasil contemporâneo”, Prado 
Júnior (1999) sugere que desde os tempos do Brasil Colônia criaram-se em nosso 
país estruturas de poder cujo sentido de continuidade determinou o nosso “sentido 
histórico” (pelo menos até a década de 1930). A permanência das oligarquias rurais 
(a elite agrária) direta ou indiretamente associadas ao poder de mando sustenta este 
ponto de vista. Contudo, há que se considerar que os arranjos políticos necessários 
à implantação da República, dada a multiplicidade de interesses envolvidos, logo 
demonstrariam o lado frágil dessa “transição orquestrada”. Analisaremos esta 
questão no Tópico 2.
TÓPICO 1 | A TRANSIÇÃO ORQUESTRADA: CONVENIÊNCIAS DO REGIME REPUBLICANO
9
feita pelo Sr. Marechal Deodoro da Fonseca que assumiu a direção do movimento 
militar. À exceção do lastimoso caso do Sr. Barão do Ladário, que não querendo 
obedecer a uma ordem de prisão que lhe fora intimada, resistiu armado e acabou 
ferido, nenhum ato de violência contra a propriedade ou a segurança individual 
se deu atéo momento em que escrevemos estas linhas. [...] Jornal do Commércio, 
16 de novembro de 1889.
FONTE: Disponível em: <http://www.unicamp.br/iel/memoria/Ensaios/LiteraturaInfantil/ Link%20
 rep%FAblica.htm>. Acesso em: 8 mar. 2010.
Para aprofundamento destes temas, sugiro que você leia os seguintes livros:
CARVALHO, José Murilo. A Formação das almas: o imaginário da República no Brasil. São 
Paulo: Cia das Letras 1990. 
Conforme o subtítulo dá a entender, a obra do historiador José Murilo de Carvalho oferece ao 
leitor preciosas informações sobre o processo de construção do imaginário republicano no 
Brasil, ou seja, sobre a maneira como ideias e símbolos foram mobilizados no intuito de dar 
sustentação (e promover a aceitação) do ideário republicano em nosso país. 
COSTA, Emília Viotti da. Da Monarquia à República: momentos decisivos. 6. ed. São Paulo: 
Brasiliense, 1994.
NOVAIS. Fernando A. (org.). História da Vida Privada no Brasil. República: da Belle Époque à 
era do rádio. São Paulo: Cia das Letras, 1998.
As três obras discorrem sobre aspectos relativos ao processo de transição da Monarquia à 
República.
Além de: HUBERMAN, Léo. História da Riqueza do Homem: do feudalismo ao século XXI. 22 
ed. Rio de Janeiro: LTC, 2010. 
DICAS
10
Neste tópico você viu que:
• Nosso estudo sobre a “Formação Social, Histórica e Política do Brasil” toma por 
base os eventos ligados à instauração e institucionalização da República Brasileira.
• A República não foi o resultado de um projeto político devidamente pensado 
para o país e sua população, mas uma saída conciliatória para os interesses de 
uma elite nacional.
• O exército, responsável pelo ato formal de Proclamação da República, nutria vários 
descontentamentos em relação ao governo imperial. Tais descontentamentos, 
aliados à difusão do pensamento positivista nos meios militares, foram 
responsáveis pelo surgimento da “Questão Militar”.
• A abolição do trabalho escravo resultou no ressentimento dos proprietários 
de escravos, membros de uma oligarquia rural. Esse ressentimento gerou o 
engrossamento das fileiras opositoras da Monarquia.
• O excesso de centralização do poder por parte do governo imperial ofuscava os 
interesses políticos das oligarquias regionais. As propostas de descentralização 
e do federalismo funcionaram como uma sinalização para os interesses que estas 
nutriam em relação à conquista e manutenção do poder político.
RESUMO DO TÓPICO 1
11
1 Partindo de uma análise dos textos presentes na Leitura Complementar, teça 
alguns comentários sobre a maneira como os jornais anunciaram a Proclamação 
da República. Procure enfocar a reação da população frente aos acontecimentos 
do dia 15 de novembro de 1889.
2 Uma vez que a ideia de “ordem” e “disciplina” é um dos pilares das práticas 
militares, você acha plausível a afirmação de que o exército se considerava a 
instituição melhor indicada para conduzir os rumos políticos do Brasil após 
a Proclamação da República? Justifique sua resposta.
AUTOATIVIDADE
12
13
TÓPICO 2
PRIMEIRA REPÚBLICA: A “REPÚBLICA DAS 
OLIGARQUIAS”
UNIDADE 1
1 INTRODUÇÃO
Conforme você pôde ler na parte final do tópico anterior, embora a 
implantação da República tenha sido um arranjo conveniente, uma possibilidade 
de aglutinação de interesses díspares, a quantidade de interesses em jogo era 
muito ampla para que o processo de transição entre o regime monárquico e 
o republicano fosse tranquilo. Com efeito, nos primeiros anos do novo regime, 
principalmente enquanto os militares permaneceram no poder, o cenário político 
nacional permaneceu bastante agitado. 
A tomada do poder por parte dos civis via eleição que empossou Prudente 
de Morais, em 1894, abriu as portas para um período da história política nacional 
cuja nomeação é a mais variada. Você já deve ter ouvido falar em “Primeira 
República”, ou “República Velha”, ou “República Oligárquica”, ou, ainda, em 
“República do Café com Leite”. Ao longo deste tópico tentaremos explorar um 
pouco o significado desses conceitos.
2 QUE REPÚBLICA? QUE REGIME ADMINISTRATIVO?
Sobre os primeiros anos do regime republicano, a historiadora Emília V. da 
Costa registra que:
As contradições presentes no movimento de 1889 vieram à tona já 
nos primeiros meses da República, quando se tentava organizar o 
novo regime. As forças que momentaneamente se tinham unido em 
torno da ideia republicana entraram em choque. Os representantes 
do setor progressista da lavoura, fazendeiros de café das áreas mais 
dinâmicas e produtivas, elementos ligados à incipiente indústria, 
representantes das profissões liberais e militares nem sempre tinham 
as mesmas aspirações e interesses. As divergências que os dividiam 
repercutiam no Parlamento e eclodiam em movimentos sediciosos que 
polarizavam momentaneamente todos os descontentamentos, reunindo 
desde monarquistas até republicanos insatisfeitos. Rompia-se a frente 
revolucionária. Representantes da oligarquia rural disputavam o poder 
a elementos do exército e da burguesia, embora houvesse burgueses e 
militares dos dois lados, em função dos seus interesses e ideais. (COSTA, 
1994, p. 276).
UNIDADE 1 | O ADVENTO DA REPÚBLICA NO BRASIL
14
Cabe aqui lembrar que o excesso de centralização do poder por parte 
do governo monárquico minava suas bases, pois gerava um progressivo 
descontentamento de parte das oligarquias regionais. Como na segunda metade do 
século XIX o carro-chefe da economia nacional era a exportação do café produzido 
em grandes latifúndios, seus proprietários não mais se contentavam com o 
distanciamento em relação ao poder de mando, de decisão em relação aos rumos 
do país. Neste sentido, a federalização – cujo modelo fora tomado dos Estados 
Unidos – e sua proposta de ampliação do poder das unidades da federação exerceu 
um apelo muito grande. Esta era a principal bandeira dos partidos republicanos.
O Partido Republicano (PR) surgiu no início da década de 1870. Em 
verdade, não há como falar na existência de um partido republicano, pois o PR 
jamais assumiu uma amplitude nacional. Como nos fala Penna (1999), suas bases 
eram constituídas pelas oligarquias regionais e expressavam seus interesses. 
Após a instauração da República o PR se pulverizou em diferentes legendas, cada 
qual portadora de uma estratégia que visava contemplar as realidades regionais. 
Contudo, a atomização do PR não foi suficientemente capaz de ofuscar a força de 
algumas siglas regionais. A principal delas, PRP, Partido Republicano Paulista, foi 
uma prova disto. 
O PRP foi fundado em 1872 e em pouco tempo se tornou o partido 
republicano com maior solidez em sua organização. Formado basicamente por 
grandes proprietários de terra desiludidos com a Monarquia, de acordo com 
Penna (1999), o PRP preservava certa autonomia local, principalmente em relação 
ao núcleo do Rio de Janeiro. O ideário defendido pelos republicanos paulistas 
procurava identificar seus interesses de classe com os da nação. Assumia, portanto, 
uma identidade liberal-conservadora. Por ocasião da tomada do governo das mãos 
dos militares, na eleição de 1894, o PRP marcou presença efetiva. Vejamos como 
isso aconteceu.
A agitação política no país após a instauração da República se devia, em 
grande medida, à ausência de um plano de governo claro e capaz de agradar a 
todas as correntes e interesses associados em 1889. Por ter sido o condutor direto 
do “ato fundante”, a “parada militar”, o exército detinha a prerrogativa de indicar 
o primeiro caminho a ser tomado. Dentro do exército não havia unanimidade do 
ponto de vista ideológico, mas um grupo de positivistas vinculado a Benjamin 
Constant “introduziu no debate político brasileiro a ideia de ditadura republicana. 
Tal perspectiva política fez sucesso, sendo também partilhada por aqueles que não 
seguiam os ensinamentoscomtianos”. (DEL PRIORE; VENÂNCIO, 2003, p. 268). 
Ainda segundo estes autores, um exemplo desta afirmação pode ser 
encontrado no fato de que em 1891, aproximadamente um ano depois da sua eleição 
como presidente constitucional, o Marechal Deodoro da Fonseca deu mostra da 
postura ditatorial, desrespeitando a Constituição (promulgada em 1891, a segunda 
Constituição brasileira e a primeira republicana) e fechando o Congresso.
A essas alturas você já deve ter notado que os interesses das oligarquias 
regionais, principalmente a paulista, não encontraram respaldo na postura dos 
TÓPICO 2 | PRIMEIRA REPÚBLICA: A “REPÚBLICA DAS OLIGARQUIAS”
15
militares. A centralização do poder em suas mãos fez com que Deodoro sofresse 
pressões as mais diversas, sendo que, devido a uma conspiração militar, acabou 
renunciando. Em seu lugar o Marechal Floriano Peixoto assume o governo. 
Este agiu de maneira a dar contornos ainda mais fortes à postura ditatorial e 
centralizadora do regime. 
Para além dos ataques no plano político, o governo de Floriano enfrentou 
duas manifestações de desagrado que adentraram o plano da ação direta. 
A primeira, denominada Revolta da Armada (1893-1894), longe de ser uma 
conspiração antirrepublicana, representou o descontentamento de algumas alas 
das forças armadas em relação aos rumos que o governo da república havia 
tomado. Ao mesmo tempo em que confrontos bélicos ligados à Revolta da Armada 
se processavam no Rio do Janeiro, nos estados do Sul do país eclode a chamada 
Revolução Federalista, cujo embate opôs grupos dominantes locais em “facções 
leais e inimigas de Floriano Peixoto”. (DEL PRIORE; VENÂNCIO, 2003, p. 268). 
Um dos palcos desse confronto foi a capital de Santa Catarina, à época chamada 
de Desterro. Após a vitória do grupo ligado a Floriano (e a consequente execução 
de muitos dos líderes oposicionistas), a capital foi renomeada: assim surgia 
Florianópolis (a cidade de Floriano).
A necessidade de apoio ao combate das sublevações oposicionistas levou 
Floriano Peixoto a se aproximar da oligarquia regional com maior poder econômico, 
no Brasil da década de 1890. O Partido Republicano Paulista, representante desta 
oligarquia, surge então como articulador da passagem do governo das mãos dos 
militares para os civis. Assim, “em 1894, através da eleição de Prudente de Morais, 
é dado o primeiro passo e, em 1898, com Campos Sales, a transição se consolida. 
Inaugura-se, então, o que se convencionou denominar política dos governadores”. 
(DEL PRIORE; VENÂNCIO, 2003, p. 268). A partir deste momento os rumos da 
Primeira República ficavam definitivamente traçados. O paradoxo da “democracia 
excludente”, materializado no coronelismo, ganhara corpo e projeção. O pleno 
domínio das oligarquias deu margem à constituição de uma Res Publica de fachada.
UNIDADE 1 | O ADVENTO DA REPÚBLICA NO BRASIL
16
3 REPÚBLICA DAS OLIGARQUIAS: A ARTICULAÇÃO E OS 
 MOVIMENTOS DE CONTESTAÇÃO
Respondendo pelos anseios das oligarquias regionais, o texto da 
Constituição de 1891 previa a existência do federalismo. Embora significasse 
uma margem grande de autonomia para os estados, o federalismo dificultava o 
fortalecimento do governo republicano central. Deve-se a este fato, em grande 
medida, os problemas enfrentados pelos governos de Deodoro e Floriano. A 
manutenção da República passou a depender de um arranjo de forças capaz de lhe 
dar sustentação. A resposta a este imperativo foi dada pelo segundo presidente 
republicano civil, Campos Sales. A questão é que
Tentava-se garantir a reprodução do regime eximindo-o dos 
traumatismos e crises inerentes aos processos sucessórios em que 
“oposição” e “situação” se revezassem, desregradamente, no poder. 
A Política dos Governadores foi o seu nome e consistiu na aplicação 
dos seguintes princípios: o reforço da figura presidencial (a despeito 
da independência dos poderes) e a solidarização das maiorias com os 
Executivos (estaduais e federal). Partindo deste princípio, o mesmo 
sufrágio que elege as primeiras deve eleger o segundo, reconhecendo-se 
a “legitimidade” das maiorias estaduais, comprometendo-se o Governo 
Federal a não apoiar dissidências locais. (LINHARES, 1990, p. 230).
FONTE: Disponível em: <http://upload.wikimedia.org/wikipedia/
commons/1/1a/Guarda _Nacional_na_Revolta_da_Armada.jpg>. 
Acesso em: 10 mar.2010.
FIGURA 4 – FORTIFICAÇÃO (REVOLTA DA ARMADA)
A ilustração mostra uma fortificação passageira, 1894. Vê-se um canhão de 280 
mm (único no Brasil) e soldados do 4º Batalhão de Artilharia da Guarda Nacional. 
Proveniente da série Revolta da Armada (Museu Nacional).
UNI
TÓPICO 2 | PRIMEIRA REPÚBLICA: A “REPÚBLICA DAS OLIGARQUIAS”
17
FONTE: Disponível em: < http://pt.wikipedia.org/wiki/
 Ficheiro:Revista_Illustrada_1898.jpg>. Acesso em: 7 
 mar.2010.
FIGURA 5 – CARICATURA PUBLICADA EM REVISTA 
A caricatura, publicada em 1898, retrata uma animada conversa entre Campos 
Sales (à direita) e Prudente de Morais. O texto diz: “Em família. Conversam animadamente sobre 
Europa, as viagens, as manifestações, o estado sanitário, etc. Só não tratam de política... Muito 
bem”. Campos Sales, paulista, sucedeu Prudente de Morais, também paulista, na Presidência da 
República. 
A Política dos Governadores, articulada em torno dos interesses paulistas e 
mineiros (a preponderância da elite desses dois estados, São Paulo e Minas Gerais, 
deu margem ao surgimento da chamada Política do “Café com Leite”); passou a 
ser, portanto, a base do sistema político republicano entre 1898 e 1930.
A alusão feita ao “leite” deve-se ao fato de o Estado de Minas Gerais ser um 
grande produtor de leite durante a República Velha. Contudo, estudos mais recentes sugerem 
que a alcunha mais correta seria “República do Café com Café”, pois o principal produto de 
comercialização mineiro também era o café. A legitimidade desta hipótese pode ser encontrada 
no interesse que o Partido Republicano Mineiro, cujas ações respondiam pelas aspirações 
da elite econômica do estado, manifestava no sentido de instrumentalizar as políticas de 
valorização do café. Mais à frente analisaremos esta questão.
UNI
ATENCAO
UNIDADE 1 | O ADVENTO DA REPÚBLICA NO BRASIL
18
Para compreender melhor o funcionamento dessa política é importante que 
você entenda duas questões. Em primeiro lugar, ao contrário do que se poderia 
supor, a autonomia dos estados garantida pela federalização não significou o total 
desprendimento em relação ao governo central. Crises econômicas gestadas desde 
a segunda metade do século XIX enfraqueceram muitos estados, principalmente 
os do Nordeste. Essa situação implicava a necessidade de estabelecimento de laços 
mais fortes com o governo central. Esses laços, por sua vez, eram constituídos 
via utilização de um elemento-chave nas engrenagens do poder: o líder local, ou 
coronel. 
Dadas as dimensões continentais do nosso país e devido às dificuldades 
ao estabelecimento de contato com a população do interior, o intermediário dessa 
ligação passava a ser o coronel (daí o surgimento do termo coronelismo). Detentor 
de uma forte influência sobre familiares, agregados e subalternos, o coronel recebia 
carta branca para agir em sua área de influência de acordo com interesses próprios. 
Em troca dessa liberdade, cooptava os votos da população para os candidatos que 
lhe fossem indicados, do executivo Estadual e do federal. O uso da força passou 
a ser uma constante, tanto em relação às pessoas simples quanto em relação a 
adversários políticos. Milícias armadas eram comuns, principalmente no Nordeste, 
onde os coronéis usavam os serviços de jagunços. 
São Paulo e Minas Gerais souberam muito bem se aproveitar desse quadro 
político para se perpetuarem no poder, promovendo uma alternância na condução 
do Executivo nacional. Do ponto de vista econômico, umelemento marcante 
das políticas governamentais da Primeira República pode ser encontrado nas 
constantes interferências voltadas à valorização do café. Já no início do século XX 
essas medidas se fizeram valer, contudo, tornaram-se absolutamente claras a partir 
da assinatura do Convênio de Taubaté, em 1906. Resultado de um acordo entre 
dirigentes políticos de São Paulo, de Minas Gerais e do Rio de Janeiro, o Convênio 
tinha por objetivo a garantia de lucro para os grandes produtores via manutenção 
do preço. Neste sentido, as oscilações no mercado internacional eram corrigidas 
pela compra, estocagem e destruição de partes das safras. A diminuição da oferta 
resultava no aumento do preço. 
O dinheiro público usado para cobrir as perdas dos cafeicultores do Sudeste 
era motivo de discórdia. Com efeito, a ação das lideranças políticas paulistas e 
mineiras gerava o descontentamento e a revolta de outras elites regionais. Em 
verdade, tanto do ponto de vista das cisões entre as elites, quanto das manifestações 
de segmentos da população sem poder econômico, durante toda a República 
Velha houve situações nas quais o governo republicano sofreu enorme pressão. 
Ao longo da década de 1920, principalmente em seus últimos anos, a política dos 
governadores não mais se sustentou. Criavam-se as condições para uma nova 
etapa da República brasileira. Mas vamos por partes.
No cenário das manifestações populares, o primeiro grande teste imposto 
ao governo republicano ficou por conta da “Guerra de Canudos”. Segundo Novais 
(1998), as autoridades republicanas foram avisadas da existência do povoado de 
Canudos, no sertão da Bahia, já em 1893 (até então ele nem constava nos mapas). 
TÓPICO 2 | PRIMEIRA REPÚBLICA: A “REPÚBLICA DAS OLIGARQUIAS”
19
Sob a liderança de Antônio Vicente Mendes Maciel, conhecido como “Antônio 
Conselheiro”, pessoas simples e humildes do sertão nordestino montaram uma 
comunidade na qual vigorava o regime de posse e de trabalho solidário. Isolados 
em meio do nada, os moradores do “Arraial de Belo Monte” em hipótese alguma 
significariam perigo à República não fosse a maneira como passaram a ser 
representados. Evidentemente, alguns fatores contribuíram para isso.
Antônio Conselheiro era um líder espiritual. Sua influência sobre os 
sertanejos não deixava de ser uma pedra no sapato da Igreja. Além disso, a criação 
de um reduto populacional que oferecia abrigo aos despossuídos funcionava como 
um ímã para pessoas que até então viviam sob o mando de coronéis locais. Isto 
significava perda de mão de obra e a possibilidade de concorrência econômica. 
Aos elementos locais somou-se o fato de Antônio Conselheiro professar um vago 
saudosismo monárquico, o “que deu margem para ser acusado de conspirar contra 
a República e de ser, no sertão, o braço armado dos restauradores”. (DEL PRIORE; 
VENÂNCIO, 2003, p. 278). A fragilidade do regime republicano recém-implantado 
não permitia a sobrevivência de um reduto populacional acusado, mesmo que 
através de sofismas, de ser um foco monarquista. Após algumas derrotas das tropas 
republicanas enviadas para destruir Belo Monte, isso ficou ainda mais evidente. 
Canudos precisava ser destruído. E de fato foi, em 1897, totalmente destruído: não 
sem antes caírem todos seus últimos defensores sob o fogo do exército brasileiro.
FONTE: Disponível em: <http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/f/
 fa/Canudos_rebels.jpg>. Acesso em: 12 mar. 2010.
FIGURA 6 – MULHERES E CRIANÇAS, SEGUIDORAS DE ANTÔNIO 
 CONSELHEIRO, PRESAS DURANTE OS ÚLTIMOS DIAS DA GUERRA
Exemplos de manifestações populares que resultaram em confronto com o 
governo republicano podem ser encontrados durante toda a Primeira República. No 
Tópico 3 desta unidade estudaremos a participação do Movimento Operário. No 
momento, além da Guerra de Canudos (1896-1897), podemos indicar a Guerra do 
Contestado (1912-1915), a Revolta da Vacina (1904), a Revolta da Chibata (1910) e o 
movimento conhecido como “Tenentismo”, que deu origem a uma série de levantes 
militares durante a década de 1920. Dada a natureza do grupo que o compunha e a 
singularidade de sua proposta, o Tenentismo merece uma análise mais atenta.
UNIDADE 1 | O ADVENTO DA REPÚBLICA NO BRASIL
20
Ao longo da década de 1920 o Brasil passou por uma série de crises 
econômicas. Em meio a crises, a contestação do poder instituído sempre ganha 
forças. De acordo com Linhares,
As rebeliões tenentistas da década foram o mais cabal exemplo da 
explosão simultânea de questionamentos “de dentro” e “de fora” do 
pacto político, alastrando-se a rebeldia desse setor intermediário da 
oficialidade militar justamente quando, em 1922, as oligarquias do Rio 
Grande do Sul, Bahia, Pernambuco e Rio de Janeiro uniram-se contra a 
candidatura do eixo Minas/São Paulo, formando a reação republicana. 
(1990, p. 253).
 
O movimento tenentista teve origem em 1922 e representou uma 
inflexão na vida política brasileira. Seus idealizadores, membros da oficialidade 
militar intermediária, eram portadores de um discurso moralizador que previa 
a purificação das forças armadas e da sociedade como um todo. Sua proposta 
apresentava traços de nacionalismo, centralização do Estado e ataques frontais à 
oligarquia paulista. O acesso à educação formal permitia aos tenentes a construção 
de um ideário que lhes colocava na condição de porta-vozes das reivindicações 
populares. Contudo, o caráter elitista do tenentismo não comportava uma 
vinculação mais íntima com as classes populares. O “ato fundante” do Tenentismo 
ocorreu em 5 de julho de 1922, ocasião em que um levante militar mobilizou jovens 
oficiais no Rio de Janeiro. A ação ficou conhecida como “Os dezoito do forte”, 
uma alusão ao fato de terem sido dezoito os militares participantes do levante. Ao 
marcharem contra as tropas legalistas foram recebidos à bala. O fracasso militar 
não significou fracasso político, pois a ofensiva serviu, ao governo civil, como um 
indício de que mudanças se apresentavam no horizonte.
FONTE: Disponível em: <http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/e/e5/Os_18_
 do_ Forte_(2).jpg>. Acesso em: 20 mar. 2010.
FIGURA 7 – REVOLTA DOS 18 DO FORTE DE COPACABANA: TENENTES VÃO DE 
ENCONTRO ÀS FORÇAS LEGALISTAS, NA AVENIDA ATLÂNTICA
TÓPICO 2 | PRIMEIRA REPÚBLICA: A “REPÚBLICA DAS OLIGARQUIAS”
21
A insipiência das manifestações tenentistas no meio urbano fez com que 
o movimento ganhasse um novo rumo a partir de 1925, momento em que teve 
origem a “Coluna Prestes” (organizada por Luiz Carlos Prestes), uma marcha pelo 
interior do país que se estendeu por mais de 24 mil quilômetros: “foram 29 meses, 
10 estados da federação e uma média de 45 quilômetros por dia”. (PENNA, 2003, 
p. 159). Embora a adesão popular não tenha sido a esperada e a Coluna tenha 
sofrido perseguições constantes por parte das tropas federais (o que resultou na 
dispersão do movimento, em 1927), a iniciativa – o movimento tenentista como um 
todo – resultou na abertura de um caminho para derrubada do pacto oligárquico 
São Paulo/Minas Gerais.
Em 1929, em meio a uma grave crise econômica mundial cujo epicentro 
ocorreu em Nova York, o poder econômico dos cafeicultores foi drasticamente 
reduzido. Neste mesmo ano, conforme o acordo firmado entre o Partido Republicano 
Paulista e o Partido Republicano Mineiro, o presidente Washington Luiz, paulista, 
deveria indicar como seu sucessor o mineiro Antônio Carlos, chefe do governo 
de Minas. Contrariando o pacto, Washington Luiz indica o paulista Júlio Prestes. 
Esta atitude resultou em uma aproximação entre Minas Gerais, Rio Grande do 
Sul e Paraíba. Formava-se a Aliança Liberal, responsável pela Revolução de 1930. 
Analisaremos esta questão na segunda unidade desde caderno.
FONTE: Disponível em: <www.wikipedia.org>. Acesso em: 12 mar. 
 2010.
FIGURA 8 – A FÓRMULADEMOCRÁTICA, DE STORNI
A charge “A fórmula democrática”, de Storni, foi publicada na Revista Careta, em 29 
de agosto de 1929. No alto são representadas as oligarquias paulista e mineira. 
UNI
UNIDADE 1 | O ADVENTO DA REPÚBLICA NO BRASIL
22
LEITURA COMPLEMENTAR I
O BRASIL DE EUCLIDES DA CUNHA
Neste ano completa-se o centenário de morte de Euclides da Cunha (1866-
1909), um dos mais importantes autores nacionais. Euclides viveu e produziu em 
um momento em que as ideias deterministas ainda manifestavam seu vigor com 
base explicativa para a realidade brasileira. No livro que o consagrou como um dos 
maiores intérpretes do Brasil, Os Sertões (1902), pode ser encontrado, para além 
da análise da Guerra de Canudos, um estudo sobre a formação do povo brasileiro 
e a diversidade geográfico-climática do país. A obra, dividida em “A Terra”, “O 
Homem” e “A Luta”, foi organizada de acordo com a hierarquia das ciências aceita 
na época: partindo da noção de que os fundamentos de toda a realidade repousam 
sobre “matéria”, o relato inicial baseia-se nas ciências inorgânicas (Geografia, 
Geologia), passando depois para as orgânicas (Biologia) e, por fim, para as ciências 
sociais (História, Sociologia). Obedecendo a esta sequência, Euclides começa pelo 
estudo da infraestrutura geológica, das variações do clima e do sistema fluvial, 
para estender-se à flora e, por último, tratar do homem e das injunções históricas.
Por meio dos vetores “meio”, “raça” e “história”, Euclides irá interpretar os 
conflitos entre o que considerava a área “civilizada”, ou seja, o litoral, e o interior 
do país, resguardado por um isolamento geográfico e histórico que o teria mantido 
vinculado ao passado. Segundo Euclides, a civilização avançaria sobre os sertões, 
impedida pela implacável “força motriz da História”, as raças fortes esmagando 
as fracas. (CUNHA, 2003, p. 9). Percebe-se, em sua análise, a confluência de 
explicações históricas e raciais, sobrevivendo os mais aptos em todos os terrenos, 
em uma clara alusão ao darwinismo social.
Enviado ao cenário da guerra de Canudos (que durou de novembro de 1896 
a outubro de 1897) como correspondente do jornal O Estado de São Paulo, Euclides 
da Cunha, por ser militar e, ademais, comungar com a visão oficial que tratava os 
sertanejos como revoltosos antirrepublicanos, silenciou sobre as atrocidades do 
massacre. Revê esta posição durante os cinco anos que leva escrevendo Os Sertões. 
Reconhece um elemento de messianismo na reação dos sertanejos e condena o 
exército pelos excessos cometidos.
Euclides esforçava-se para compreender como o sertanejo, um mestiço, 
teoricamente portador de desequilíbrios típicos do cruzamento de raças (um 
“degenerado”, segundo as teorias deterministas), resistiu a tantas investidas do 
exército republicano (quatro batalhas), só sendo derrotado diante do poderio das 
armas de fogo empregadas pela última expedição. Os combatentes de Canudos 
pareciam rebelar-se até mesmo como objetos de estudo, para contradizer, em 
relação ao pensamento de Euclides, as teses do determinismo social.
Ao longo do livro, Euclides alterna a visão do sertanejo como uma sub-raça 
“instável”, “efêmera”, “retardatária” e “próxima da extinção” para “a rocha viva 
da nação”. Se o sertanejo corria o risco de desaparecer diante da competição com os 
TÓPICO 2 | PRIMEIRA REPÚBLICA: A “REPÚBLICA DAS OLIGARQUIAS”
23
imigrantes estrangeiros, era, de maneira contraditória, “antes de tudo, forte”. Neto 
de bandeirante paulista (CUNHA, 2003, p. 104), trazendo em si a bravura do início 
e a autonomia do branco português, quase sem mescla de sangue africano (p. 105), 
vencendo o meio inóspito marcado pela seca e pela caatinga e, principalmente, 
sendo aquele que teve tempo de fortalecer-se fisicamente enquanto aguardava 
o desenvolvimento moral e civilizacional posterior da região (p. 117), Euclides 
representa o sertanejo como estando em “compasso de espera”, preparando-se 
para exercer um papel importante no futuro da nação.
Por outro lado, os soldados que lutaram em Canudos, em grande proporção 
mulatos vindos principalmente do Rio de Janeiro e da Bahia, que, ao final da guerra, 
degolaram barbaramente todos os prisioneiros, mesmo vivendo em contato com 
a “civilização”, na opinião de Euclides não seriam seus legítimos representantes. 
Ao contrário, assemelhavam-se a seres incapazes de fazer frente à complexidade 
da vida urbana em termos de suas exigências intelectuais e morais. Quem não se 
lembra da famosa frase do livro Os Sertões, em que Euclides se refere aos mulatos 
apontando “o raquitismo exaustivo dos raquíticos neurastênicos do litoral”? À 
fraqueza física somava uma “doença dos nervos”: a neurastenia.
 No contraste entre sertanejos e mulatos, embora ambos fossem mestiços, 
Euclides elogia os primeiros e desqualifica os segundos. O fator racial considerado 
“inferior” do sertanejo, o índio, não era de todo desprestigiado por Euclides, que 
acreditava estar diante de uma raça autóctone – o homo americanus – surgida, 
portanto, na América, desvinculada do Velho Mundo, com um desenvolvimento 
autônomo. Dono de coragem e resistência física, o índio teria vencido o meio e 
criado um modo de vida vigoroso. Já o fator racial visto como “inferior” do 
mulato, o negro, era, para Euclides, irrecuperável: era o homo afer, “filho das 
paragens adustas e bárbaras, onde a seleção natural [...] se fez pelo uso intensivo 
da ferocidade e da força”. (CUNHA, 2003, p. 73).
Euclides foi um homem insatisfeito em relação às suas atividades 
profissionais. Militar e engenheiro de formação, sempre aspirou ser um escritor 
reconhecido. Depois da publicação de Os Sertões, tornou-se membro do Instituto 
Histórico e Geográfico Brasileiro e foi eleito, também, para a Academia Brasileira 
de Letras. Propôs uma “guerra dos cem anos” para combater a seca do Nordeste, 
com a construção de açudes, poços artesianos, estradas de ferro e o desvio do Rio 
São Francisco para irrigar as áreas mais atingidas pela estiagem. Tornou público 
seu interesse pela Amazônia ao publicar, em 1904, no jornal O Estado de São 
Paulo, artigos sobre os conflitos entre Peru, Bolívia e Brasil, que via como uma 
disputa pelo acesso ao oceano no Atlântico. A morte prematura, aos 43 anos, por 
assassinato, aproximou sua história pessoal da tragédia grega que tanto admirou 
em vida. 
FONTE: TORRES, Lilian de Lucca. O Brasil de Euclides da Cunha. Leituras da História, São Paulo, 
 ano 2, n. 21, p. 60-61, 2009.
UNIDADE 1 | O ADVENTO DA REPÚBLICA NO BRASIL
24
LEITURA COMPLEMENTAR II
CANUDOS NÃO SE RENDEU
Fechemos este livro.
Canudos não se rendeu. Exemplo único em toda a história, resistiu até ao 
esgotamento completo. Expugnado palmo a palmo, na precisão integral do termo, 
caiu no dia 5, ao entardecer, quando caíram os seus últimos defensores, que todos 
morreram. Eram quatro apenas: um velho, dois homens feitos e uma criança, na 
frente dos quais rugiam raivosamente 5 mil soldados.
Forremo-nos à tarefa de descrever os seus últimos momentos. Nem 
poderíamos fazê-lo. Esta página, imaginamo-la sempre profundamente 
emocionante e trágica; mas cerramo-la vacilante e sem brilhos.
Vimos como quem vinga uma montanha altíssima. No alto, a par de uma 
perspectiva maior, a vertigem. 
Ademais, não desafiaria a incredulidade do futuro a narrativa de 
pormenores em que se amostrassem mulheres precipitando-se nas fogueiras dos 
próprios lares, abraçadas aos filhos pequeninos...
E de que modo comentaríamos, com a só fragilidade da palavra humana, o fato 
singular de não aparecerem mais, desde a manhã de 3, os prisioneiros válidos colhidos 
na véspera, e entre eles aquele Antônio Beatinho, que se nos entregara, confiante – e 
a quem devemos preciosos esclarecimentos sobre esta fase obscura da nossa História?
Caiu o arraial a 5. No dia 6 acabaram de o destruirdesmanchando-lhe as 
casas, 5.200, cuidadosamente contadas.
Os Sertões, Euclides da Cunha. Fragmento do capítulo VI – O fim – da terceira parte, A Luta. 
FONTE: BIBLIOTECA virtual do estudante brasileiro. Disponível em: <http://www.bibvirt.futuro 
 .usp.br>. Acesso em: 24 abr. 2010.
Para aprofundamento destes temas, sugiro que você leia o seguinte livro e assista 
ao filme:
Livro: Os Sertões, de Euclides da Cunha
Filme: Guerra de Canudos (Brasil – 1997, 169 min). Direção de Sérgio Resende
O filme Guerra de Canudos é uma adaptação cinematográfica da obra “Os Sertões”, de Euclides 
da Cunha. Presente no conflito como enviado especial do jornal O Estado de S. Paulo, o jovem 
escritor narra com riqueza de detalhes suas impressões sobre o que presenciou no fronte. Vale 
a pena cruzar as informações do livro com aquelas apresentadas na versão cinematográfica. 
Além de: HOLANDA, Sérgio Buarque de. História Geral da civilização brasileira: O Brasil 
republicano, economia e cultura. São Paulo: Bertrand do Brasil, 2008.
DICAS
25
RESUMO DO TÓPICO 2
 Neste tópico tivemos a oportunidade de conhecer alguns delineamentos 
da Primeira República, República Velha, ou República das Oligarquias. É 
importante você lembrar que:
• Após a implantação da República, os interesses dos grupos envolvidos em sua 
articulação entraram em choque. Em um primeiro momento, o governo militar foi 
alvo de críticas. O que estava em questão era a centralização versus o federalismo.
• Durante o governo do Marechal Floriano Peixoto ocorreram dois importantes 
conflitos: a Revolta da Armada e a Revolução Federalista.
• A estabilização do regime foi alcançada a partir do governo do paulista Campos 
Sales, momento no qual se implantou no Brasil a “Política dos Governadores”.
• A Política dos Governadores consistiu na criação de mecanismos capazes de 
garantir a perpetuação no poder das oligarquias regionais. Estabeleceu-se, então, 
uma troca de favores entre o governo federal, os governantes dos estados e chefes 
locais, os coronéis.
• Durante a Primeira República ocorreram movimentos sociais de contestação 
direta ou indireta aos rumos tomados pelo governo republicano. Dentre eles se 
destacam A Guerra de Canudos (1896-1897), a Guerra do Contestado (1912-1915), 
a Revolta da Vacina (1904), a Revolta da Chibata (1910) e o Tenentismo.
• Embora não tenha obtido êxito, o Tenentismo abriu as portas para os eventos que 
resultaram na quebra do pacto entre São Paulo e Minas Gerais e na Revolução de 
1930.
26
1 Descreva, em linhas gerais, os rumos tomados pelo governo republicano até 
1930.
2 Teça alguns comentários sobre o funcionamento da “Política dos Governadores”.
AUTOATIVIDADE
27
TÓPICO 3
TRABALHADORES NA 
PRIMEIRA REPÚBLICA: CONDIÇÕES À “LUTA 
DE CLASSES”
UNIDADE 1
1 INTRODUÇÃO
O século XIX, principalmente em sua segunda metade, foi o momento de 
afirmação da hegemonia do capitalismo. Embora a Revolução Industrial tenha 
ocorrido já no século XVIII, em seus primórdios o processo de industrialização 
não englobava muitos setores. A partir da década de 1870 o sistema de produção 
capitalista dá um salto quantitativo e qualitativo, com o advento da chamada 
Segunda Revolução Industrial, ou Revolução Científico-Tecnológica.
De fato, o desenvolvimento da ciência e a sua aplicação no campo 
tecnológico resultaram na proliferação de descobertas e invenções que mudaram a 
face do mundo conhecido, diminuindo as distâncias, aumentando as velocidades, 
interligando as mais diversas regiões do globo terrestre. Para se ter uma ideia, 
neste período surgem os
[...] veículos automotores, os transatlânticos, os aviões, o telégrafo, o 
telefone, a iluminação elétrica e a ampla gama de utensílios domésticos, 
a fotografia, o cinema, a radiodifusão, a televisão, os arranha-céus e seus 
elevadores, as escadas rolantes e os sistemas metroviários, os parques de 
diversões elétricas, as rodas-gigantes... (NOVAIS, 1998, p. 9). 
O fato é que o mundo até então conhecido estava deixando de existir ou, 
na melhor das hipóteses, estava sendo transformado de tal maneira que as pessoas 
tinham dificuldades para traçar uma linha de continuidade entre o passado e o 
presente. Evidentemente, estas transformações adentravam também o campo das 
relações sociais. A vida, principalmente a vida urbana, tornava-se cada vez mais 
complexa. E, por maiores que fossem as diferenças entre a realidade brasileira e 
aquela relativa à Europa e aos Estados Unidos, paulatinamente o Brasil também 
acabou se inserindo neste novo cenário.
Em seus desdobramentos, a Revolução Industrial promoveu uma nítida 
demarcação de classes sociais. De um lado, segundo Karl Marx, estariam os donos 
dos meios de produção (indústrias, terras), a Burguesia; do outro, os detentores da 
força de trabalho, o Proletariado. Este venderia sua força de trabalho para aquela. 
No relevo social, as relações estabelecidas entre estes dois grupos ou “classes 
sociais” ditariam os rumos a serem seguidos pelo capitalismo nos séculos seguintes. 
28
UNIDADE 1 | O ADVENTO DA REPÚBLICA NO BRASIL
Ainda segundo Marx, uma sociedade dividida em classes, com interesses 
distintos, deve ser pensada do ponto de vista do conflito, da luta, pois interesses 
díspares se fariam valer resultando, inevitavelmente, em um confronto. Com 
efeito, ao longo do século XIX vários foram os embates, principalmente no meio 
urbano, entre burguesia e proletariado na Europa industrializada. Neste mesmo 
século, no Brasil, a permanência do regime de trabalho escravo e o incipiente 
desenvolvimento industrial mantiveram o país em uma situação bastante peculiar 
em relação aos acontecimentos no Velho Continente. Seria preciso a atividade 
industrial ganhar força e o trabalho livre se institucionalizar para que a luta de 
classes, nos moldes capitalistas, tomasse corpo em terras brasileiras. Neste tópico 
nosso objetivo será analisar este processo.
2 ANTECEDENTES: RAÍZES DA INDÚSTRIA NACIONAL
Embora a criação das primeiras indústrias no Brasil tenha ocorrido já no 
período monárquico, do ponto de vista econômico sua importância se define a 
partir da implantação da República. De acordo com Del Priore e Venâncio (2003), 
o processo de industrialização brasileiro difere daquele ocorrido na Europa, 
principalmente devido ao fato de que aqui não houve um desenvolvimento lento 
a partir do artesanato e da pequena manufatura, mas um início caracterizado pela 
implantação de fábricas modernas. A importação do maquinário europeu, que já 
contava com um século de aperfeiçoamento, impulsionou nosso desenvolvimento 
industrial, dependente, desde o seu início, da influência internacional, 
principalmente europeia. Levando em conta a situação do sistema educacional 
brasileiro no século XIX e início do século XX – extremamente atrasado –, é possível 
entender por que a criação de tecnologias nacionais era algo raro. 
Dada a dependência da economia brasileira em relação à agricultura de 
exportação, durante as duas últimas décadas do século XIX e até a década de 
1930, o desenvolvimento industrial nacional se associou à iniciativa dos grandes 
produtores rurais. Em um primeiro momento, Rio de Janeiro e Minas Gerais 
ocuparam posição de destaque, mas no início do século XX foram superados por 
São Paulo, que, na década de 1920, apresentava um estágio de desenvolvimento 
bem superior ao dos seus vizinhos. Nunca é demais lembrar que esta situação só foi 
possível devido aos investimentos advindos dos lucros dos cafeicultores paulistas 
no mercado internacional. Para se ter uma ideia, no início do século XX o Estado 
de São Paulo produzia sozinho mais da metade do café comercializado no mundo.
À existência de excedentes passíveis de serem aplicados nas indústrias 
é necessário acrescentar o fato de que algumas regiões de São Paulo receberam 
um afluxo impressionantede imigrantes, principalmente depois da abolição do 
trabalho escravo. Ou seja, São Paulo passou a reunir elementos indispensáveis 
para o desenvolvimento industrial: capitais para investimento, mão de obra em 
abundância e a possibilidade de criação de um mercado consumidor para nutrir a 
demanda. Esta situação era mais do que evidente na capital paulista, uma cidade 
TÓPICO 3 | TRABALHADORES NA PRIMEIRA REPÚBLICA: CONDIÇÕES À “LUTA DE CLASSES”
29
que, em aproximadamente quarenta anos (1872-1914), teve a sua população 
ampliada de “23 mil para 400 mil habitantes”. (DEL PRIORE; VENÂNCIO, 2003, p. 
296). Evidentemente, a íntima ligação com o Poder Executivo nacional, respaldada 
pela “Política dos Governadores”, forneceu ao Estado de São Paulo a capacidade 
de administrar de maneira privilegiada crises econômicas tais como aquelas que 
atingiam seu principal produto de comercialização, o café. A manutenção dos 
lucros gerados pelo café permitia a manutenção dos investimentos nas indústrias.
FONTE: Disponível em: <www.wikipedia.org>. Acesso em: 10 mar. 2010.
FIGURA 9 – PANFLETO QUE AGENTES DE PROPAGANDA UTILIZAVAM 
PARA PROMOVER A IMIGRAÇÃO ITALIANA AO BRASIL
A criação e desenvolvimento de um setor industrial, um dos grandes 
responsáveis pelo acelerado processo de ampliação dos centros urbanos, projetou 
um novo cenário no campo das relações sociais em nosso país. Nos centros urbanos, 
principalmente aqueles da região Sudeste, trabalhadores submetidos a condições 
precárias de vida passaram a se organizar e a reivindicar seus direitos. Por outro 
lado, os interesses de classe se faziam valer também por parte da burguesia, 
composta basicamente por empresários e fazendeiros de café. Surgiam as condições 
para disseminação do ideário da “luta de classes” em terras brasileiras.
30
UNIDADE 1 | O ADVENTO DA REPÚBLICA NO BRASIL
3 A ORGANIZAÇÃO DOS TRABALHADORES E A LUTA DE 
CLASSES
Não é possível afirmar que o desenvolvimento industrial durante a Primeira 
República tenha sido um privilégio da região Sudeste. Ocorre que, do ponto de 
vista da organização dos trabalhadores em torno do ideário da luta de classes, 
os eventos relacionados à região Sudeste servem como um vetor para se pensar a 
situação do país como um todo. Em cidades como São Paulo e Rio de Janeiro, os 
embates de classe nos fornecem preciosas indicações.
Respondendo pelo signo da continuidade, aos trabalhadores urbanos 
da República Velha foi negada a condição de cidadãos. Com efeito, durante as 
primeiras décadas de governo republicano a postura das elites dirigentes dava 
margem à reprodução de práticas de exclusão e de exploração que remontavam à 
época do Brasil Colonial. A abolição do trabalho escravo não significou o término 
da exploração dos trabalhadores, apenas a projetou em um novo relevo. Diante 
desta situação, os trabalhadores tiveram que se organizar na luta por direitos. De 
acordo com Penna,
A discriminação contra os operários, desenvolvida pelas classes 
dirigentes, produziu uma situação de verdadeira segregação geográfica 
e sociocultural. Assim, nasceram vilas e bairros operários, concentrando 
a vida dos trabalhadores, isolando-os das proximidades dos centros 
urbanos onde se instalavam as atividades comerciais e os bairros 
burgueses.
Esse isolamento propiciou maior integração dos trabalhadores 
assalariados. Não demorou muito e essa aglutinação se revelou profícua 
na luta travada entre os interesses do capital e do trabalho. (PENNA, 
1999, p. 125).
O fato é que a criação desses espaços de sociabilidades, mesmo que em 
decorrência de uma política de exclusão social, trouxe consigo um elemento 
positivo, pois permitiu aos trabalhadores se reconhecerem enquanto membros de 
uma totalidade submetida à opressão. Este reconhecimento logo suscitou ações 
práticas materializadas em greves e outras iniciativas de contestação no próprio 
ambiente de trabalho. Ampliando o foco é necessário lembrar que as manifestações 
dos trabalhadores tinham como alvo a luta não apenas contra a exploração do 
trabalho, mas contra toda uma situação mais ampla que impunha aos trabalhadores 
péssimas condições de vida e gerava um quadro de verdadeira miserabilidade.
Na verdade, manifestações populares contra a opressão foram uma 
constante ao longo da História do Brasil. O elemento novo apresentado na Primeira 
República foi a forma como essas manifestações se desenvolveram e as concepções 
ideológicas que as guiaram. Del Priore e Venâncio descrevem da seguinte maneira 
esta questão:
Na transição do Império para a República, uma nova forma de fazer 
política teve início no Brasil. Por essa época começam a surgir os 
primeiros defensores de projetos socialistas, organizando partidos, 
sindicatos e jornais. Tratava-se de fato, de uma mudança radical. Basta 
TÓPICO 3 | TRABALHADORES NA PRIMEIRA REPÚBLICA: CONDIÇÕES À “LUTA DE CLASSES”
31
lembrarmos que, ao exaltar o “trabalhador” como principal elemento 
da sociedade, o movimento operário brasileiro rompeu com tradições 
seculares, herdadas da época escravista, que consideravam as atividades 
manuais aviltantes e indignas para os cidadãos – inaugurava-se, assim, 
um novo princípio de exercício legítimo do poder, que terá influência 
até nossos dias. (2003, p. 281).
 
Apresentado como uma novidade no Brasil, o projeto socialista já era uma 
realidade na Europa durante a maior parte do século XIX. E foi exatamente devido 
à vinda de imigrantes europeus para o Brasil, iniciados no ideário socialista e nas 
lutas pela reforma ou transformação radical da sociedade, que se constituíram 
lideranças capazes de dar sustentação à luta de classes. Portugueses, espanhóis e 
italianos compunham o grosso do fluxo de imigrantes para o Brasil nas primeiras 
décadas da República e a base da mão de obra empregada nas indústrias.
Penna (1999) nos fala que a tradição de luta dos trabalhadores europeus 
era conhecida desde a época das internacionais (a AIT, Associação Internacional 
dos Trabalhadores, fundada em Londres, em 1864, e a Internacional Socialista, 
criada em Paris, em 1889, são um exemplo desta afirmação). Aqui no Brasil a 
atuação dos imigrantes resultou na criação de partidos políticos operários e na 
disseminação de uma imprensa voltada à divulgação de ideias que representavam 
os interesses do operariado. No plano das reivindicações mais imediatas, podemos 
citar a implantação de uma jornada de trabalho de oito horas, o direito ao descanso 
semanal, a proibição do trabalho infantil e a criação de tribunais de arbitragem 
para solução dos conflitos entre patrões e empregados.
É importante saber que o movimento operário não se constituiu como 
um todo coeso. Além do socialismo, destacou-se no movimento o Anarquismo, 
principalmente a vertente anarco-sindicalista, que durante muito tempo foi a 
corrente hegemônica no movimento operário organizado. Optando não pela via 
política, como era o caso da corrente socialista, mas pela chamada “ação direta”, 
cujo principal elemento era a greve, o anarco-sindicalismo marcou a luta dos 
trabalhadores no Brasil durante duas décadas. De acordo com Penna (1999), esta 
tendência teve uma origem que data da AIT, sendo tributária das ideias de um de 
seus membros, o russo Bakunin. A proliferação do anarco-sindicalismo resultou 
em uma disputa no seio do movimento operário brasileiro. Esta disputa constituiu 
uma das fraquezas do movimento. Mais à frente abordaremos esta questão.
Os anarco-sindicalistas eram orientados pela teoria que preconizava que 
“o Estado, independentemente da classe social que estivesse no poder, era uma 
instituição repressiva, daí a defesa intransigente de sua substituição por associações 
espontâneas, tais como federações de comunas ou cooperativas de trabalhadores”. 
(DEL PRIORE; VENÂNCIO, 2003, p. 283-284). Lutavam pelo fim da burguesia, 
do Estado capitalista e pela instauração