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Elementos de Teoria Geral do Estado Dalmo de Abreu Dallari - PARTIDOS POLITICOS

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Resumo
Livro: Elementos de Teoria Geral do Estado – Dalmo de Abreu Dallari 
PARTIDOS POLÍTICOS
Segundo Duverger, dá-se o nome de partidos às facções que dividiam as Repúblicas antigas, aos clãs que se agrupavam em torno de um condutor na Itália da Renascença, aos clubes onde se reuniam os deputados às assembleias revolucionárias, aos comitês que preparavam as eleições censitárias das monarquias constitucionais, assim como às vastas organizações populares que enfeixam a opinião pública nas democracias modernas. Essa identidade nominal – admite ele – justifica- se de um lado, pois traduz certo parentesco profundo, uma vez que todas essas instituições desempenharam o mesmo papel, que é o de conquistar o poder político e exerce-lo. Entretanto no seu entender, os partidos políticos, no sentido moderno, só aparecem a partir de 1.850. 
Outros autores, entre os quais Ostrogorski, Erskine May, Afonso Arinos e William Bennet Munro, veem o nascedouro dos modernos partidos políticos na Inglaterra, desde a luta entre os direitos do parlamento e as prerrogativas da coroa, no séc. XVII, afirmando Munro que foi a partir de 1.680 que se definiu a noção de oposição política, isto é, a doutrina, básica na democracia, de que os adversários do governo não são inimigos do Estado e de que os opositores não são traidores ou subversivos. 
Diz Hume que as facções podem ser pessoais, quando baseadas em amizade pessoal ou animosidade entre os que compõem os partidos em luta, e reais, quando fundadas em alguma diferença real de sentimento ou interesses. As facções reais, por sua vez, podem ser de três espécies: de interesse, quando duas ordens de homens como os nobres e o povo possuem autoridade distinta, em um governo não muito exatamente equilibrado e formado, naturalmente seguem interesses distintos; os partidos de princípio, esclarece Hume, especialmente princípio abstrato especulativo, somente nos tempos modernos se conhecem e são talvez, o fenômeno mais extraordinário e difícil de justificar que até agora surgiu no negócios humanos; os partidos de afeição são os que se baseiam nas diferentes ligações dos homens para com as famílias particulares ou pessoas que desejam ver a governa-los.
Foram os partidos de princípios os que mais se desenvolveram, absorvendo os grupos de interesses. No final do séc. XVIII, Edmund Burke já se referia ao partido como “um corpo de homens que se unem para colocar seus esforços comuns a serviço do interesse nacional, sobre a base de um princípio ao qual todos aderem”. A crítica de Ostrogorski a esse conceito é que ele, além de dar ao partido o caráter de agrupamento particular, considera-o resultante de acordo sobre um princípio determinado. Os partidos acabaram impondo-se como entidades públicas, objetivando a totalidade da vida social. Benjamim Constant, escrevendo no início do séc. XIX, conceituava o partido como “uma reunião de homens que professam a mesma doutrina política”, o que pareceu a Burdeau excessivamente restrito, pois tal reunião é apenas um meio necessário de objetivos muito mais amplos.
Quanto à natureza jurídica dos partidos Santi Romano e Biscaretti Di Ruffia atribuíram a eles a natureza de entes auxiliares do Estado que são “entidades sociais tendentes a transformarem-se em instituições”. Ferreira Filho vai mais além, considerando que os partidos são instituições, dotadas de personalidade jurídica e situadas no âmbito do direito público interno, sendo esta a conclusão predominante entre os modernos autores.
Tendo-se afirmado no início do séc. XIX como instrumentos eficazes da opinião pública, os partidos políticos se impuseram como o veículo natural da representação política.
Considerando alguns dos aspectos fundamentais, é possível fazer-se uma classificação dos sistemas partidários quanto à organização interna:
· Partidos de quadros, quando, mais preocupados com a qualidade de seus membros do que com a quantidade deles, não buscam reunir o maior número possível de integrantes, preferindo atrair as figuras mais notáveis, capazes de influir positivamente no prestígio do partido, ou dos indivíduos mais abastados dispostos a oferecer contribuição econômico-financeira substancial à agremiação partidária.
· Partidos de massas, quando, além de buscarem o maior número possível de adeptos, sem qualquer espécie de discriminação, procuram servir de instrumento para que indivíduos de condição econômica inferior possam aspirar às posições de governo.
Quanto à organização externa, os sistemas de partidos podem ser:
· De partido único, caracterizados pela existência de apenas um só partido no Estado.
· Bipartidários, que se caracterizam pela existência de dois grandes partidos que se alternam no governo do Estado. Dois pontos são básicos para caracterizar o sistema: em primeiro lugar, a predominância de dois grandes partidos, sem exclusão de outros; em segundo, a autenticidade do sistema, que decorrer de circunstâncias históricas, em função das quais, a maioria do eleitorado se concentra em duas grandes correntes de opinião.
· Pluripartidários, que são a maioria, caracterizando-se pela existência de vários partidos igualmente dotados da possibilidade de predominar sobre os demais. O pluripartidarismo tem várias causas, ente elas o fracionamento interior das correntes de opinião e a superposição de dualismos
Verifica-se também que num mesmo povo é comum a existência concomitante de várias opiniões quanto ao fator social preponderante. E relativamente a cada um desses fatores existe um dualismo, havendo sempre duas posições fundamentais e opostas quanto a cada um deles. Se houver absoluta predominância de um dualismo, forma-se um sistema bipartidário. Entretanto, quando coexistem vários dualismos com significação política semelhante, todos eles darão margem ao aparecimento de dois partidos, havendo, portanto, a pluralidade partidária. Essa tendência à multiplicação de partidos, quando exagerada, pode levar a uma excessiva divisão do eleitorado, sendo impossível a qualquer partido obter sozinho o governo, donde resulta a necessidade de acordos eleitorais e de outros artifícios destinados a compor maiorias, quase sempre em dano de interesse público.
Quanto ao âmbito de atuação:
· De vocação universal, quando pretende atuar além das fronteiras dos Estados, baseando-se a solidariedade entre seus membros numa teoria política de caráter universal.
· Nacionais, quando têm adeptos em número considerável em todo o território do Estado. O que importa é que a soma de seus eleitores e a sua presença em todos os pontos do Estado confiram-lhe expressão nacional.
· Regionais, são aqueles cujo âmbito de atuação se limitam a determinada região do Estado.
· Locais, são os de âmbito municipal.
 A favor dos partidos políticos, argumenta-se com a necessidade e as vantagens do agrupamento das opiniões convergentes, criando-se uma força grupal capaz de superar obstáculos e de conquistar o poder político, fazendo prevalecer no Estado a vontade social preponderante.
Contra a representação política, argumenta-se que o povo, mesmo quando o nível geral de cultura é razoavelmente elevado, não tem condições para se orientar em função de ideias e não se sensibiliza por debates em torno de opções abstratas. Assim sendo, no momento de votar são os interesses que determinam o comportamento do eleitorado, ficando em segundo plano a identificação do partido com determinadas ideias políticas.
REFERENCIAS: 
DALLARI, Dalmo de Abreu. Elementos de teoria geral do Estado. 30. ed. São Paulo: Saraiva, 2011.

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