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A Fabulação na Origem das Coisas

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A FABULAÇÃO NA ORIGEM DAS COISAS 
 
 
 
Venho lendo há um bom tempo - tanto em livros como em sites e revistas eletrônicas - sobre a 
origem do universo, origem das palavras, origem da bruxaria e mais um monte de coisas nesse sentido. 
O que fica mais evidente é a dificuldade em encontrar origens sem se perder em ilusões que tentam nos 
aproximar mais daquilo que gostamos, algo como “começou do meu lado do muro e não do seu”, o 
problema é que muitas vezes se chega em um ponto cego, onde não é possível afirmar mais nada, então 
simplesmente inventam uma suposta origem sem que haja qualquer evidência dela. 
Descobri que é mais fácil imaginar o futuro do que dar certezas sobre o passado, pois aquilo que 
parece ser imutável - muda a todo instante. Depende de quem observa, das perguntas feitas às fontes, 
das próprias fontes disponíveis, bem como da capacidade imaginativa do pesquisador para alcançar os 
pormenores nem sempre vistos nos restos do passado[1]. 
 Além dessa dificuldade eterna, temos a inexperiência na análise. É muito comum às pessoas 
quando querem contar a história da origem das coisas se focarem na etimologia, ou seja, no estudo da 
origem das palavras. Mas quando são leigos, sem o devido preparo epistemológico (conhecimento de 
métodos, teorias, estruturas e abordagens) acabam por fazer verdadeiras saladas. 
Vejo uma dicotomia o tempo todo; grupos distintos guerreando para definir termos e práticas 
cada qual a sua maneira, sempre criando um “certo e errado” duvidoso quando queremos descobrir a 
origem da bruxaria ou apenas da palavra bruxaria, uns puxam sardinha pra cá, outros pra lá e quem não 
pesquisa com esforço por si mesmo acaba ficando preso na rede e fedendo a peixe. Claro, eu não vou e 
nem quero conseguir dar estas explicações de forma conclusiva aqui, mas gostaria de dar sugestões 
para que pudéssemos pensar juntos e assim, quem sabe, construir um melhor embasamento teórico 
nesse sentido. 
O primeiro passo é entender que toda palavra possui um significado intrínseco a si no momento 
de sua criação e que uma vez que essa palavra é construída com esse significado tal coisa passa a 
possuir uma representação automática, um entendimento para todo observador (que chamam de 
significante). Ou seja, cada palavra nos remete a uma abstração, a um símbolo, a um objeto ou a uma 
memória específica. 
Explicando em miúdos, no português o objeto no qual sentamos para almoçar é chamado de 
cadeira, nos EUA de chair, na Holanda de stoel e assim sucessivamente. Percebam que ambas as 
palavras estrangeiras significam a mesma coisa que cadeira, mas nenhuma possui qualquer semelhança 
com a nossa palavra (em relação com a escrita) ou uma com a outra. 
O mesmo vale para bruxaria, essa é a palavra que nós brasileiros usamos para nos referir à Arte 
Sábia, ao Ofício dos sábios. Nos EUA eles chamam de Witchcraft, na Holanda chamam de Hekserij, na 
Itália de Stregoneria, todas as palavras são completamente diferentes umas das outras. Se buscarmos 
mais a fundo como cada palavra se formou, a mais curiosa talvez seja a americana já que é a junção de 
“Witch” que em sua origem significa sábio/sabedoria e “Craft” que significa trabalho/ofício, ambas vindas 
dos povos anglo-saxões. 
 E a nossa palavra? Bom, é muitíssimo difícil chegar à origem exata, portanto, darei apenas 
algumas possibilidades que não correspondem a nenhuma imposição de verdade. Como todos sabem, 
nosso país nasceu por meio dos portugueses, éramos uma colônia, em português de Portugal a palavra 
para descrever a Arte também é “bruxaria”, no país ao lado a Espanha o termo é bastante parecido: 
Brujería. Na França já muda completamente, vira Sorcellerie, o que nos faz pensar que a palavra bruxaria 
em si (essa forma de escrever e não o que representa) vem da região ibérica, porém especificamente da 
área de Portugal-Espanha-Andorra. 
Ao que tudo indica originalmente o termo “bruja” ou “bruxa” era aplicado a uma espécie de 
inseto, uma mariposa negra, grande e de hábitos noturnos que costumava assustar bastante (ainda hoje 
ela possui esse nome)[2], visto que a palavra "bruxa" é uma variação de "Brouchos" termo do grego 
antigo que designa as larvas de borboletas. Provavelmente não é difícil compreender a associação entre 
mulheres untadas de óleos que saiam para dançar ao luar e que podiam amaldiçoar a população com as 
bruxas (mariposas), aqueles bichos medonhos que invadem as casas durante a noite e ficam voando 
sobre a cabeça de seus moradores. No folclore popular, quando uma mariposa negra entra em sua casa 
e ronda sua cabeça é por que: ou você vai adoecer ou alguém próximo a você vai morrer. Curioso não? 
Essas mulheres também se transformavam, também encantavam, nada melhor do que chamá-las de 
bruxas. 
Outras concepções de análise para a origem do termo "bruxaria": 
 
"Quanto a origem da palavra “bruxa”, Gilberto de Lascariz, bruxo português, sugere que 
a ela possa ter surgido devido a associação entre mulheres que praticavam a goetia e 
um sapo da região ibérica chamado bruca, que em castelhano se pronuncia brucha". [3] 
 
O curioso é que em ambas as possibilidades, a palavra para designar as bruxas tem origem em 
animais que as simbolizam: Borboletas e Sapos. Uma belíssima coisa para se pensar não? 
E de onde saiu o termo “bruxaria tradicional”? Bom, primeiro precisamos saber diferenciar uma 
coisa, agora não estamos mais falando de uma palavra com um significante apenas, estamos falando de 
duas palavras cada qual com seu significante que unidas formam algo a mais: um conceito. Então 
precisamos diferenciar a “origem da palavra” da “origem do conceito”. 
Não importa onde a palavra tenha nascido, ou seja, tanto faz a sua origem, quando ela é 
utilizada incrustada a outra para agregar um valor novo, ou simplesmente quando uma única palavra tem 
seu significante em segundo plano para receber um novo valor mais complexo, a palavra torna-se um 
conceito. E a origem de um conceito costuma ser descoberta por meio de um estudo histórico-científico 
dos documentos escritos, para verificar quem publicou pela primeira vez aquelas palavras para aquele 
conceito. 
Vejamos, o termo “bruxaria tradicional” é uma tradução literal de “Traditional witchcraft”, uma 
expressão usada, à priori, por um bruxo inglês chamado Robert Cochrane em uma publicação de 
novembro de 1964 chamada Pentagram[4], que em meio a conflitos de popularidade com outro bruxo 
inglês Gerald Gardner [5], tentou diferenciar-se dele definindo que a bruxaria que ele (Cochrane) 
praticava era tradicional, enquanto que o que Gardner praticava não era. Assim ele cunhou também a 
expressão “Gardnerianos” (de forma pejorativa) para descrever que esses não eram bruxos a moda 
antiga, tal como ele, que estes não seguiam a tradicionalidade. 
 O que Robert quis dizer com o conceito de bruxo tradicional que ele aplicava a si em oposição à 
bruxaria dos Gardnerianos (que daria origem à religião Wicca)? Que as ferramentas que ele usava, as 
escolas que ele seguia, os ensinamentos que ele obteve, e as praticas que ele fazia estavam de acordo 
com uma perenidade global e antiga que ressoava em igualdade com as práticas, ensinamentos e 
caminhos das bruxas anteriores ao seu tempo e que não correspondiam a criações modernas, tampouco 
eram superficiais em sua origem. 
É deste conflito ideológico e material que vem a diferenciação entre os bruxos wiccanos e os 
bruxos tradicionais, cada um segue uma “escola”, uma visão, um método, uma trajetória diferente dentro 
da grande manifestação que podemos chamar de Arte Sábia. E quando os bruxos ingleses e depois os 
bruxos pelo mundo começaram a se chamar de tradicionais eles estavam querendo se vincular ao 
conceito proposto por Robert de um legado perene da humanidade, uma arte sem nome, uma 
manifestação além das definições e limitações propostas por Gardner com sua roupagem modernizada. 
É por isso que há tantas nomenclaturas: bruxaria moderna,hereditária, tradicional e etc. hoje. 
Antes, existiam somente “bruxos”, somente “bruxaria”, mas com o nascimento de uma "religião bruxa" foi 
preciso diferenciar os grupos que praticavam o ofício, daqueles que agora se definiam bruxos e seguiam 
a Wicca. 
O curioso é que aqueles que são considerados e reconhecidos como bruxos tradicionais, dão 
valor a isso, sabem muito bem o que o conceito significa e como ele se aplica, entendem o que é 
tradicionalidade. Já aqueles que querem ser chamados de bruxos tradicionais sem ser tendem a criar as 
mais alucinantes explicações para o conceito e colocá-lo como originário dos mais absurdos lugares. 
Portanto, pesquisem muito antes de engolir qualquer teoria. Deixo ao final da postagem links como 
referências para que possam ler sobre algumas coisas aqui citadas, como a história de Robert Cochrane 
e a influência dele e de Gardner para o ressurgimento da bruxaria no final do século passado. 
 
Notas: 
[1] LE GOFF, Jacques. História e Memória. Tradução Bernardo Leitão, et all. 2° Ed. Campinas: 
UNICAMP, 1992. 
HALBWACHS, Maurice. A Memória Coletiva. São Paulo, Vértice, 1990. 
[2] http://pt.wikipedia.org/wiki/Mariposa 
[3] By Nion, nos comentários. Quando obtiver a referência completa eu coloco. 
[4] http://www.diablerie.com.br/2011/04/o-calice-envenenado.html#more 
http://www.clanoftubalcain.org.uk/rctrad.html 
http://pt.scribd.com/doc/52530592/Cartas-de-Robert-Cochrane-para-William-Gray 
[5] http://www.thewica.co.uk/Gerald%20Gardner.htm 
 
 
http://pt.wikipedia.org/wiki/Mariposa
http://www.diablerie.com.br/2011/04/o-calice-envenenado.html#more
http://www.clanoftubalcain.org.uk/rctrad.html
http://pt.scribd.com/doc/52530592/Cartas-de-Robert-Cochrane-para-William-Gray
http://www.thewica.co.uk/Gerald%20Gardner.htm

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