Buscar

SUA_PETICAO_S4

Prévia do material em texto

Seção 4 
SUA PETIÇÃO 
DIREITO 
CIVIL 
 
 2 
 
 
 
 
 
 
Caros alunos, é um prazer termos a oportunidade de, novamente, trazer algumas questões 
interessantes para dialogarmos a respeito da nossa demanda. Agora, chegamos ao momento da 
decisão de 1ª instância. Nesse ponto, acompanharemos os desdobramentos a partir da fase de 
instrução, e daremos a vocês a oportunidade de elaborar mais um recurso! Nesta seção, 
estudaremos qual a providência judicial deve a parte tomar a partir de uma decisão desfavorável, 
abordando a sua análise e de que forma a decisão deve ser atacada. Nesse ponto, é muito importante 
termos cuidado com a análise da decisão, ou seja, se cabe alguma providência para a correção do 
julgado antes de levá-lo para a 2ª instância. Estudaremos também os requisitos que a peça 
processual deve possuir e os cuidados necessários à sua implementação. Vamos começar? 
 
Após a interposição do agravo de instrumento, da peça de comunicação da interposição e 
apresentação das contrarrazões de agravo por parte da agravada, a Câmara Cível do Tribunal de 
Justiça de São Paulo atribuiu efeito suspensivo ao recurso e, posteriormente, deu provimento ao 
recurso de agravo de instrumento, para reformar a decisão que havia indeferido a denunciação da 
lide. A referida decisão restou ementada da seguinte forma: 
“EMENTA: DENUNCIAÇÃO DA LIDE FUNDADA EM CONTRATO DE SEGURO – EXIGÊNCIA DE 
JUNTADA DA APÓLICE ORIGINAL E DO CONTRATO DE SEGURO – DESNECESSIDADE – 
JUNTADA DA FOTOCÓPIA DA APÓLICE SUFICIENTE PARA COMPROVAÇÃO DO DIREITO DE 
REGRESSO. DENUNCIAÇÃO DA LIDE DEFERIDA. AGRAVO DE INSTRUMENTO PROVIDO. 
 
1- Consoante o disposto no art. 758, do Código Civil, o Contrato de Seguro prova-se com a 
exibição da apólice ou do bilhete de seguro, sendo dispensável a juntada do instrumento 
contratual. 
 
 
Seção 4 
SETENÇA E RECURSO CABÍVEL 
Sua causa! 
 
 3 
2- Considerando o disposto no art. 422, do Código de Processo Civil Brasileiro, as cópias 
reprográficas podem fazer provas de fatos ou coisas representadas, se houve conformidade 
com o documento original e se não houver impugnação da parte contrária. 
3- A natureza de documento particular, somada à ausência de impugnação ou de elementos 
para questionar a fotocópia, tornam possível a exibição da apólice de seguro em cópia. – 
Excesso de formalidade – Agravo de Instrumento provido.” 
Fonte: elaborada pelo autor. 
 
Após o trânsito em julgado e retorno do agravo à 1a instância, o juízo de 1º grau determinou a citação 
da Seguradora Trafegar S/A para contestar o feito. A seguradora concordou com a denunciação da 
lide e contestou os pedidos da autora, utilizando os mesmos fundamentos adotados pela empresa 
ré. 
 
No despacho saneador, proferido com base no art. 357, do CPC/2015, o r. juízo determinou o 
saneamento da representação processual, bem como determinou a correção do valor da causa, 
providências que foram procedidas por parte da autora. Após, foi deferida a prova testemunhal e o 
depoimento pessoal dos representantes legais do autor. 
 
Na audiência de instrução designada, foram ouvidos os representantes legais, bem como as 
testemunhas arroladas pela autora e ré. Em síntese, as testemunhas que se encontravam dentro do 
ônibus informaram que sentiram o ônibus perdendo o controle e derrapando, mas que o choque 
ocorreu após a paralisação dele. Por outro lado, as testemunhas que estavam de fora disseram que 
o veículo de propriedade da autora se descontrolou, o que causou uma manobra brusca do ônibus, 
vindo a ocorrer a colisão. Os peritos que atenderam ao acidente informaram, em depoimento, que, 
pela posição final dos veículos, a tendência era que o veículo da autora teria, no descontrole, invadido 
a contramão direcional e se chocado com o ônibus. No entanto, pela envergadura do ônibus, o 
veículo da autora foi desviado e arremessado no acostamento. 
 
Apresentadas as alegações finais, o r. juízo prolatou a sentença. Em resumo, após fazer o relatório 
das alegações das partes e das ocorrências processuais, o juiz decidiu da seguinte forma: 
 
 
 4 
“Vistos, etc. 
CAIPIRA HORTALIÇAS LTDA. ME ajuizou a presente Ação de Indenização por Danos materiais 
com perdas e danos em face de VIAÇÃO METEORO LTDA. ao fundamento de que seu veículo teria 
sido abalroado pelo veículo da Ré, em acidente de trânsito. Segundo a narrativa da inicial, o seu 
veículo perdeu o controle, mas foi paralisado na sua faixa de trânsito, mas foi abalroado pelo veículo 
de propriedade da Ré, que teria invadido a contramão direcional. Pede a procedência dos pedidos, 
com a condenação em danos materiais com o conserto do seu veículo, na ordem de R$ 35.000,00 
(trinta e cinco mil reais) lucros cessantes pela paralisação do veículo e danos emergentes, no importe 
de R$ 30.000,00 (trinta mil reais), e o pagamento de R$ 10.000,00 (dez mil reais), decorrentes de 
prejuízos com o locador e fornecedores. 
 
A parte ré foi devidamente citada. 
 
Audiência de conciliação ocorrida sem êxito. No prazo legal, a ré apresentou sua contestação, 
aduzindo, em síntese, preliminarmente, impugnação ao valor da causa e defeito de representação. 
No mérito, requereu a denunciação da lide da empresa Trafegar S/A para exercício do direito de 
regresso; que o laudo pericial, posição final dos veículos e as testemunhas que seriam ouvidas no 
momento oportuno demonstrariam a culpa exclusiva da autora, tendo em vista que foi o seu veículo 
quem invadiu a contramão direcional. Ademais, o tacógrafo do ônibus indicava que este estaria 
trafegando em velocidade compatível com a via. Por esses motivos, pediu a improcedência dos 
pedidos iniciais. Foi ajuizada ainda, na peça de defesa, reconvenção, no qual, baseado nos fatos 
narrados para a sua defesa, a reconvinte pede a procedência dos pedidos iniciais, para a condenação 
da Reconvinda no pagamento da quantia de R$ 22.000,00 (vinte e dois mil reais) referentes ao 
conserto de seu veículo. 
 
A denunciação da lide havia sido indeferida, pelo fato de não ter sido juntada a apólice de seguro 
original e o contrato de seguro. Contudo, em razão do provimento do agravo de instrumento, a 
denunciação foi deferida, pelo que a seguradora ré foi citada, e apresentou sua contestação, na qual 
concordou com a denunciação e adotou os mesmos fundamentos da ré para negar a sua pretensão. 
 
Após, foi proferido despacho saneador, deferindo a produção de provas orais. Audiência de instrução 
e julgamento realizada, com oitiva de testemunhas das partes. Encerrada a instrução, as partes 
apresentaram suas alegações finais. 
 
 5 
 
PARTE DE FUNDAMENTAÇÃO DA SENTENÇA 
DECIDO: 
 
A análise do laudo pericial, somados aos depoimentos das testemunhas, indicam que, na verdade, 
ambos os motoristas dos veículos tiveram culpa no evento, pois, a partir dos esclarecimentos 
prestados, a manobra brusca do ônibus de propriedade da ré só veio a ocorrer em razão do veículo 
de propriedade da autora ter perdido a direção. 
 
O depoimento da testemunha 1, qualificada na ata de audiência, demonstra que o veículo ônibus 
conseguiu parar primeiro, e foi atingido posteriormente. No entanto, o depoimento da testemunha, 
bem como dos peritos que cobriram o evento, indicavam que o veículo da autora teria invadido a 
contramão direcional, vindo a colidir no veículo da ré. 
 
Considerando essas circunstâncias, ambos os motoristas infringiram o disposto nos artigos arts. 28, 
29, inciso II e 34, do Código Brasileiro de trânsito. 
 
No caso, faltou às partes a necessária diligência no cumprimento das normas de trânsito, sendo certo 
que a conduta de uma ocasionou o equívoco da outra. 
 
A culpa da ré se revela à medida em que o descontrole da autora pode ter sido causado por sua 
manobra brusca, que também influenciou no acidente. 
 
Por esse motivo, ocorreu a chamada culpa concorrente, devendo ambos serem responsáveis, 
parcialmente, pelo ressarcimento dos danos,a teor dos artigos 944 e 945, do Código Civil Brasileiro 
(BRASIL, 2015): 
 
Art. 944- A indenização mede-se pela extensão do dano. 
Parágrafo único: Se houver excessiva desproporção entre a gravidade da culpa 
e o dano, poderá o juiz reduzir, equitativamente, a indenização. 
 
 6 
 
Art. 945- Se a vítima tiver concorrido culposamente para o evento danoso, a sua 
indenização será fixada tendo-se em conta a gravidade de sua culpa em 
confronto com a do autor do dano. 
 
Analisando a conduta de cada um, vislumbramos que o acidente ocorreu por 60% de culpa da 
empresa Autora e 40% de culpa da empresa ré. 
 
Quanto ao pedido de danos materiais pelo conserto do veículo, deve a ré ressarcir à Autora o 
correspondente a 40% do valor do conserto, lançado no orçamento de menor valor (montante de R$ 
35.000,00) 
 
No que tange ao pedido de lucros cessantes, deve a ré ressarcir a autora no correspondente a 40% 
do valor lançado como lucro nos balanços, que deixou de auferir pela paralisação do veículo. 
 
Por fim, julgo improcedente o pedido quanto aos prejuízos obtidos com o locador e demais, tendo 
em vista que os valores auferidos com o faturamento seriam responsáveis por tais prejuízos, pelo 
que se constituiria em bis in idem condenar a prejuízos que decorrem da falta de faturamento, que já 
foi devidamente apreciada nessa sentença. 
 
Por outra senda, a ré ajuizou reconvenção, buscando o ressarcimento dos danos com o conserto do 
veículo. Considerando o percentual arbitrado acima e da prova dos danos causados em seu veículo, 
deve a autora/reconvinda pagar à ré/reconvinte a quantia de R$ 8.800,00 (oito mil e oitocentos reais), 
referentes ao conserto do ônibus da reconvinte, com base no art. 186 c/c art. 927 c/c 944 e 945, do 
Código Civil c/c art. 343, do Código de Processo Civil de 2.015, adotando para tanto os mesmos 
fundamentos acima. 
 
PARTE DISPOSITIVA DA SENTENÇA 
 
Considerando o exposto, julgo parcialmente procedentes os pedidos da Autora Caipira Hortaliças, 
para condenar a Ré Viação Meteoro Ltda. no pagamento da quantia de R$ 21.000,00 (vinte e um mil 
 
 7 
reais), correspondentes a 60% do valor do conserto do veículo, bem como da quantia de R$ 
18.000,00 (dezoito mil reais), correspondente a 60% do valor dos lucros cessantes requeridos na 
exordial. Julgo improcedente o pedido de danos emergentes referentes aos fornecedores e locador 
do imóvel da autora. Os valores deverão ser corrigidos pela tabela da corregedoria de justiça e os 
juros moratórios de 1%, contados ambos a partir do fato danoso, a teor das súmulas 43 e 54, do 
Superior Tribunal de Justiça. Fixo os honorários em 20% sobre o valor atribuído à causa, devendo a 
autora arcar com 40% do valor e a Ré a arcar com 60% do valor, permitida a compensação, nos 
termos da súmula 306, do Superior Tribunal de Justiça. Custas processuais na mesma proporção, 
devendo a Autora arcar com 40% e a Ré a arcar com 60%. 
 
Baseado nos mesmos fundamentos, e considerando o arbitramento de culpa concorrente, à 
proporção de 60% da Ré e 40% da autora, julgo parcialmente procedente o pedido da reconvenção, 
para condenar a autora reconvinda a ressarcir à ré-reconvinte o correspondente à quantia de 40% 
do valor, o que corresponde a R$ 8.800,00 (oito mil e oitocentos reais). Os valores correspondentes 
a esses percentuais deverão ser acrescidos de juros moratórios de 1% ao mês, contados da data de 
citação, e correção monetária pela tabela da corregedoria, que súmulas 43 e 54, do Superior Tribunal 
de Justiça. Condeno a reconvinte no pagamento de custas processuais em 60%. Fixo os honorários 
em 20% sobre o valor da causa, devendo a reconvinte arcar com o correspondente a 60% do valor 
e a ré a arcar com 40% do valor, permitida a compensação, nos termos da súmula 306, do Superior 
Tribunal de Justiça e honorários advocatícios de 20% (vinte por cento), incidentes sobre o valor 
devido a ela. Condeno a autora, igualmente, ao pagamento de 20% sobre o montante devido e custas 
processuais em 40%. 
 
Autorizo, desde já, a compensação dos valores devidos entre as partes, devendo a que foi 
condenada no maior montante ressarcir a outra dos prejuízos. 
 
Publique-se. Intime-se. 
 
A decisão foi publicada no Diário Oficial do Estado de São Paulo no dia 5/11/2018, segunda-feira. 
 
A partir do momento em que houve a publicação, o diretor da Expresso Meteoro S/A quer saber a 
medida processual hábil a ser oposta para corrigir o julgado e suprir as suas eventuais omissões. 
 
 8 
 
 
 
A sentença prolatada pelo juízo traz mais um momento crucial para a demanda. Na 
sentença, tomam-se muitas decisões importantes, tais como a definição de 
legitimidade das partes (quando não decidida no despacho saneador, a teor do art. 
139, IX, do CPC de 2015), os fatos e os fundamentos de direito, a análise de viabilidade 
dos pedidos elencados na inicial, os critérios de correção monetária e juros sobre 
eventual condenação e também a definição de condenação dos honorários de 
sucumbência e custas processuais. 
 
A teor dos arts. 485 e 486, do Código de Processo Civil de 2015 (BRASIL, 2.015), a 
decisão do juiz poderá resolver ou não o mérito, dependendo das hipóteses elencadas 
naqueles dispositivos legais. 
 
É na sentença que os pedidos das partes são, efetivamente, apreciados. Se houver 
concessão de tutela provisória ou de evidência, essa deverá ser confirmada na decisão. 
Para nos auxiliar na avaliação da sentença, é importante analisar o disposto no art. 489 
a 491, do Código de Processo Civil, para que seja avaliado se a sentença preencheu 
todos os requisitos exigidos em lei, a saber: 
Figura 1 | Requisitos da sentença 
 
Fonte: elaborado pelo autor. 
Fundamentando! 
 
 9 
O mesmo art. 489, parágrafo primeiro, do CPC de 2015, traz disposição importante 
tratando de defeitos da fundamentação da sentença, transcritos abaixo: 
 
Quadro esquemático | Defeitos de fundamentação da sentença 
 
DEFEITOS DE FUNDAMENTAÇÃO DA SENTENÇA (ART. 489, §1º CPC) 
- Decisão “se limita à indicação, à reprodução ou à paráfrase de ato normativo, sem 
explicar sua relação com a causa ou a questão decidida”. 
 
- Decisão emprega “conceitos jurídicos indeterminados, sem explicar o motivo 
concreto de sua incidência no caso”. 
- Decisão “invoca motivos que se prestariam a justificar qualquer outra decisão”. 
 
- Decisão não enfrenta “todos os argumentos deduzidos no processo capazes de, 
em tese, infirmar a conclusão adotada pelo julgador”. 
 
- Decisão se limita a invocar precedente ou enunciado de súmula, sem identificar 
seus fundamentos determinantes nem demonstrar que o caso sob julgamento se 
ajusta àqueles fundamentos; 
- Decisão deixa de seguir enunciado de súmula, jurisprudência ou precedente 
invocado pela parte, sem demonstrar a existência de distinção no caso em 
julgamento ou a superação do entendimento. 
Fonte: adaptado de art. 489, §1º CPC. 
 
Portanto, é importantíssimo um olhar atento do advogado sobre a fundamentação e 
coerência da decisão, da possibilidade ou não de corrigir o julgado ainda em 1ª 
instância, com vistas ao aperfeiçoamento do julgado. Há questões que se enquadram 
em hipóteses que podem ser atacadas através de recurso próprio, previstos no Código 
de Processo Civil, que são importantes para, ao menos em parte, corrigir o julgado. 
 
 
 
 
 
 
 10 
- DOS EMBARGOS DE DECLARAÇÃO 
 
 
 A Constituição Federal de 1988, em seu artigo 93, inciso IX, assim como o art. 
11, do Código de Processo Civil de 2015 determinam que todas as decisões proferidas 
no âmbito processual estejam devidamente fundamentadas. 
 
 Tal princípio decorre, exatamente, do contraditório e devido processo legal, pois 
de nada adiantaria garantir às partes o exercício do contraditório, se o Poder Judiciário 
não apreciar as alegações ou dar-lhe fundamentação inadequada. 
 
 Portanto, quando ocorre algum vício que torne defeituosa essa manutenção, o 
Código de Processo Civil dispõede um recurso cabível para tais hipóteses. 
 
 Os embargos de declaração têm como objeto proporcionar o esclarecimento do 
julgando, no sentido de integrar a decisão com o que a parte entende ter sido realizado 
de forma defeituosa. 
 
 Os embargos de declaração podem ser interpostos de qualquer decisão 
proferida no processo civil. Contudo, em se tratando de decisões sobre admissão ou 
inadmissão de Recurso especial ou Recurso extraordinário, os precedentes do Superior 
Tribunal de Justiça e do Supremo Tribunal Federal indicam a sua inadmissibilidade. 
Outros, por questão de fungibilidade recursal, o recebem como agravo regimental, 
quando pertinente tal hipótese. 
 
 Embora se questione a sua natureza jurídica de recurso, por não haver remessa 
a instância superior, a maior parte da doutrina entende que os embargos de 
declaração são espécie recursal, seja porque encontra-se no capítulo de recursos no 
Código de Processo Civil, seja porque esse pode implicar em alteração do julgado. 
 
 
 11 
Os embargos de declaração, previstos nos arts. 1.022 e seguintes, do Código de 
Processo Civil, são cabíveis contra qualquer decisão judicial, para: 
 
Quadro esquemático | Hipóteses de cabimento dos embargos de declaração 
 
I- Esclarecer obscuridade ou eliminar contradição. 
II- Suprir omissão do ponto ou questão sobre o qual o juiz deveria se 
manifestar de ofício ou a requerimento da parte. 
III- Corrigir erro material. 
Fonte: arts. 1.022 e seguintes, do Código de Processo Civil. 
 
Lembre-se de que os embargos de declaração devem ser deduzidos, 
precisamente, nas hipóteses previstas no dispositivo acima. Os embargos não se 
prestam à revisão de todo o julgado ou revolvimento de teses já apreciadas pelo 
julgador. 
 
Portanto, a peça não envolve pedido e esclarecimento especificamente nas 
hipóteses de cabimento, o juízo pode negar seguimento aos embargos de declaração, 
o que causará grande prejuízo processual, pois a negativa de seguimento retira o efeito 
de interromper o prazo processual, impedindo assim a interposição do recurso que 
seria sucessivamente cabível, nas hipóteses destes terem sido rejeitados. 
 
Em primeiro lugar, é importante mencionar que o termo de qualquer decisão 
judicial abrange decisões interlocutórias, decisões monocráticas de indeferimento de 
recursos, acórdãos, desde que haja conteúdo decisório. 
 
 
 
 
 
 12 
 - HIPÓTESES DE CABIMENTO DOS EMBARGOS DE DECLARAÇÃO 
 
A obscuridade, no entender de Neves (2017, p. 1756), seria “a falta de clareza e 
precisão da decisão, suficientes a não permitir a certeza jurídica a respeito das 
questões resolvidas". Valladão (2016, p. 107) entende que a obscuridade ocorre 
quando a decisão é inteligível. 
 
Quanto à omissão, Valladão (2016, p. 106) refere-se “à ausência de apreciação 
de ponto ou questão relevante a que o órgão jurisdicional deveria ter se 
manifestado" (destaques nossos). 
 
Nesse sentido, o Código de Processo Civil, em seu artigo 1.022, busca definir o que 
se considera omissão: 
 
HIPÓTESES DE OMISSÃO (ART. 1.022 CPC) 
Decisão que “deixe de se manifestar sobre tese firmada em julgamento de casos 
repetitivos ou em incidente de assunção de competência aplicável ao caso sob 
julgamento” (CPC, 2015, destaques nossos). 
Decisão que “incorra em qualquer das condutas descritas no art. 489, § 1°” (CPC, 
2015, destaques nossos). 
Fonte: adaptado de art. 1022, CPC, 2015. 
 
Seriam os casos em que o juiz deixou de apreciar alguma questão ocorrida 
durante o processo, restando a decisão incompleta. 
 
 No caso em exame, houve algum acontecimento processual que não foi objeto 
da decisão? Houve algum pedido não apreciado? É importante que você leia 
atentamente a decisão para verificar se houve tal situação. 
 
A contradição, no entender de Neves (2017, p. 723, destaques nossos), ocorre 
quando existam “proposições inconciliáveis entre si, de forma que a afirmação de 
uma logicamente significará a negação de outra". A contradição deve se referir ao 
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/l13105.htm#art489%C2%A71
 
 13 
teor da própria decisão, ou seja, não se refere às provas dos autos! Por fim, o erro 
material, o entender do mesmo autor, “é aquele facilmente perceptível e que não 
corresponda de forma evidente a vontade do órgão prolator" (NEVES, 2017, p. 1716, 
destaques nossos). 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Por fim, o erro material, que, no entender de Neves (2017, p. 1759), é aquele 
facilmente perceptível e que não corresponda de forma evidente a vontade do órgão 
prolator da decisão. Como exemplo, pode haver erro material quanto a dispositivos 
legais, nomes das partes, números ou problemas relacionados a publicação. 
 
O erro material poderia, até mesmo, ser corrigido de ofício. 
 
Os embargos podem também ser interpostos para efeito de pré-
questionamento, ou seja, que o juiz ou turma se manifeste expressamente sobre 
dispositivo legal tido como violado. Ainda que os embargos sejam rejeitados, 
considerar-se-á o pré-questionamento. 
 
Por fim, cabe lembrar que os embargos de declaração podem ter função atípica, 
qual seja, a de oportunizar efeito modificativo à decisão, em hipóteses excepcionais 
em que, o saneamento do vício apontado signifique alteração do resultado do 
julgamento. Seguindo tendência jurisprudencial, o Código de Processo Civil prevê essa 
A contradição se opera nos termos da própria decisão. Deve-se avaliar 
se há algo contraditório entre a parte do relatório ou fundamentação e 
a parte dispositiva. 
PONTO DE ATENÇÃO 
 
 14 
possibilidade no art. 1.024, § 2º. Nessa hipótese, o juízo que será responsável pela 
decisão deverá conceder vista dos autos para garantia do exercício do contraditório à 
parte contrária, para manifestação, sob pena de nulidade. 
 
 - PRESSUPOSTOS DE ADMISSIBILIDADE 
 
 Tempestividade 
Os embargos de declaração podem ser interpostos no prazo de 5 (cinco) dias, 
contados da intimação da decisão prolatada, e é dirigido ao mesmo juízo responsável 
pela decisão, e independem de pagamento de custas processuais, a teor do art. 1.023, 
do Código de Processo Civil de 2015. 
 
 Regularidade formal 
 Os embargos de declaração, a teor do art. 1.023, do Código de Processo Civil de 
2015, devem ser manejados alegando as hipóteses de erro, obscuridade, contradição 
ou omissão. Se a parte invocar argumentos sem inseri-los nessas hipóteses, o recurso 
não deverá ser conhecido. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Os embargos de declaração podem ser acolhidos ou rejeitados, se o 
juízo entender não ter ocorrido o vício previsto no Código de Processo 
Civil. Contudo, se os embargos de declaração forem deduzidos sem 
invocar uma das hipóteses previstas em lei, o juízo pode negar 
seguimento, o que impede a interposição de outros recursos 
eventualmente cabíveis. 
PONTO DE ATENÇÃO 
 
 15 
Outra questão importante é que, caso sejam interpretados como protelatórios, ou 
seja, destinados apenas prolongar desnecessariamente o processo, poderá haver a 
condenação em multa processual em até 2% sobre o valor da causa atualizado. 
 
 A interposição dos embargos de declaração ocasiona efeito de interromper os 
prazos para a interposição de outros recursos. 
 
 Todavia, é necessário advertir que os embargos de declaração, em regra, não 
têm o condão de suspender os efeitos das decisões! O artigo 1.026 do Código de 
Processo Civil (BRASIL, 2015) é claro nesse sentido. Portanto, a decisão, em tese, já 
produz a sua eficácia, salvo se houver suspensão de eficácia declarada pelo juiz ou 
relator, situação essa que deve ser expressa. Portanto, se os embargos forem 
interpostos de uma decisão liminar ao qual a parte esteja sujeita a prazo para 
cumprimento, a interposição dos embargos de declaração não altera o prazo para o 
seu cumprimento. 
 
 
 
 
 
 
 
 
Por fim, caso sejam manejados embargos protelatórios, a multa pode ser majorada a 
até 10%, e não caberá a interposição de novosembargos caso haja reiteração por duas 
vezes. 
 
 
 
 
Os embargos de declaração apenas interrompem o prazo para 
interposição de outros recursos. Em regra, não suspende a eficácia de 
decisões judiciais. 
 
PONTO DE ATENÇÃO 
 
 16 
BIBLIOGRAFIA 
 
BRASIL, Lei 13.105, de 16 de março de 2015. Código de Processo Civil. Disponível em: 
<www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/l13105.htm>. Acesso em: 12 set. 
2017. 
 
NEVES, Daniel Amorim Assumpção. Novo Código de Processo Civil comentado artigo 
por artigo. 2 ed. Salvador: Ed. Jus Podivm, 2017. 
 
VALLADÃO, Luiz Fernando Nogueira. Recursos e procedimentos nos tribunais no novo 
Código de Processo Civil. Belo Horizonte: Ed. D’Plácido, 2016. 
 
 
 
 
QUESTÃO 1- O recurso de embargos de declaração tem por objetivo aperfeiçoar a 
decisão que possua algum defeito de fundamentação, nas hipóteses estritas previstas 
no Código de Processo Civil. A interposição de embargos fora das hipóteses previstas 
em lei implicará em sua inadmissão. 
 
Considerando o enunciado acima, marque a alternativa CORRETA: 
 
A) Os embargos de declaração não se prestam a modificar total ou parcialmente o 
resultado do julgamento. 
B) Ocorre omissão quando a decisão deixa de se manifestar sobre tese firmada em 
julgamento de casos repetitivos. 
Primeira fase! 
 
 17 
C) Erro material consiste no defeito de fundamentação que ocasione a obscuridade 
do julgado. 
D) A contradição pode ser demonstrada a partir da decisão e da manifestação das 
partes no processo. 
E) Não ocorre omissão quando a decisão deixa de se manifestar a respeito de 
incidente de assunção de competência. 
RESPOSTA CORRETA: Letra B. 
 
A resposta correta é aquela que afirma considerar omissão, passível de interposição 
de embargos de declaração, quando a decisão deixar de se manifestar sobre tese 
firmada em julgamento de caso repetitivo, tendo em vista o disposto no art. 1.022, 
parágrafo único, do Código de Processo Civil, que dispõe: 
 
Art. 1.022. Cabem embargos de declaração contra qualquer 
decisão judicial para: 
I - esclarecer obscuridade ou eliminar contradição; 
II - suprir omissão de ponto ou questão sobre o qual devia se 
pronunciar o juiz de ofício ou a requerimento; 
III - corrigir erro material. 
Parágrafo único. Considera-se omissa a decisão que: 
I - deixe de se manifestar sobre tese firmada em julgamento de 
casos repetitivos ou em incidente de assunção de competência 
aplicável ao caso sob julgamento. 
Portanto, por se tratar de hipótese prevista em lei, conclui-se ser verdadeira tal 
assertiva. 
 
QUESTÃO 2- A empresa Logan Máquinas Industriais recebeu uma intimação do 
deferimento de uma tutela provisória, por parte do juízo da Comarca de São Paulo/SP, 
para que entregue o bem previsto em contrato firmado com a empresa Cargo Motores 
Ltda., no prazo de 48 horas, sob pena de multa diária de R$ 400,00. Contudo, 
 
 18 
percebeu-se que a referida decisão não possui qualquer fundamentação jurídica em 
seu escopo. 
 
Baseado no enunciado e nos conhecimentos, marque a alternativa CORRETA: 
 
a) A empresa Logan poderá interpor embargos de declaração, no prazo de 5 dias, e não 
necessita cumprir a decisão no prazo assinalado, em virtude da interposição do 
recurso. 
b) A empresa Logan poderá interpor embargos de declaração, no prazo de 15 dias, e 
não necessita cumprir a decisão no prazo assinalado em virtude da interposição do 
recurso. 
 
c) A empresa Logan poderá interpor embargos de declaração, no prazo de 5 dias, mas 
necessita cumprir a decisão no prazo assinalado, sob pena de multa, 
independentemente da interposição do recurso. 
 
d) A empresa Logan poderá interpor embargos de declaração, no prazo de 15 dias, mas 
necessita cumprir a decisão no prazo assinalado, sob pena de multa, 
independentemente da interposição do recurso. 
 
e) Não cabe o recurso de embargos de declaração na hipótese acima. 
 
RESPOSTA CORRETA: letra c. 
 
A resposta correta é a de que a parte pode interpor os embargos de declaração para 
suprir a omissão, no prazo de 5 dias, mas deve cumprir voluntariamente a decisão, sob 
pena de multa diária. A questão aborda dois pontos: o prazo recursal dos embargos de 
declaração e os efeitos de sua interposição. 
 
 
 19 
Dispõe o art. 1.023, do Código de Processo Civil, que os embargos de declaração devem 
ser interpostos no prazo de 5 dias. Registre-se que se trata do único recurso cujo prazo 
não é de 15 dias no CPC. 
 
A outra questão que diz respeito aos efeitos dos Embargos de Declaração, encontra-se 
prevista no art. 1.026, do Código de Processo Civil, que dispõe: 
 
Art. 1.026. Os embargos de declaração não possuem efeito 
suspensivo e interrompem o prazo para a interposição de 
recurso. 
§ 1o A eficácia da decisão monocrática ou colegiada poderá ser 
suspensa pelo respectivo juiz ou relator se demonstrada a 
probabilidade de provimento do recurso ou, sendo relevante a 
fundamentação, se houver risco de dano grave ou de difícil 
reparação. 
Portanto, apenas em hipótese excepcional, pode ser concedido o efeito suspensivo à 
decisão, motivo pelo qual, no caso, a simples interposição do recurso não induz, 
necessariamente, à concessão do efeito suspensivo. 
 
 
 
Feitas as considerações, no caso concreto, você deve verificar a pertinência desse 
recurso. Houve contradição, omissão, obscuridade ou erro material na decisão? Existe 
efeito prático em fazer um recurso dirigido ao mesmo juízo? 
 
Inicialmente, você deve definir qual o recurso cabível à espécie. Quanto ao 
direcionamento da peça processual, esse recurso é dirigido ao mesmo juízo prolator 
da decisão. Deve-se ressaltar a tempestividade do recurso, de modo a justificar o 
pressuposto recursal. 
Vamos peticionar! 
 
 20 
 
No caso concreto, qual(is) da(s) hipótese(s) descrita(s) em lei (art. 1.022 do CPC de 
2015) poderia(m) ser alegada(s)? Não se esqueça de descrever na peça qual hipótese 
refere seu pedido de declaração. É importante que, quando pertinente, você 
identifique trechos da decisão que seriam dignos de sanear. Se houver contradição, é 
importante transcrever os trechos que se contradizem, como forma de identificar esse 
requisito. Na obscuridade, a transcrição do trecho e a apresentação de dúvida de 
interpretação são essenciais. No caso de omissão, deve essa se encaixar nos ditames 
do parágrafo único do art. 1.022 do Código de Processo Civil (BRASIL, 2015). Em 
seguida, deve haver a construção de argumentos que indiquem a contradição, 
omissão, obscuridade ou erro material. 
 
No caso concreto, é importante avaliar se o juízo apreciou todos os pedidos das partes, 
especialmente, a questão de intervenção de terceiros ou outra situação alegada. Outra 
questão seria a de conferir se a parte dispositiva encontra-se em consonância com a 
fundamentação apresentada. Se houver alguma dissonância, pode ter ocorrido uma 
das hipóteses previstas. Por fim, você deve pedir que o juízo acolha o recurso, para 
declarar a decisão, de modo a realizar os devidos esclarecimentos e, se for o caso, até 
modificar o conteúdo do julgado.

Continue navegando