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Contrarrazões ao Recurso em Sentido Estrito

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EXCELENTÍSSIMO JUÍZO DA VARA CRIMINAL DE 
CONCEIÇÃO DO AGRESTE – CE 
 
Autos sob nº: … 
 
JOSÉ PERCIVAL DA SILVA – “Zé da Farmácia​”, já qualificado nos autos em epígrafe, 
vem, respeitosamente a este juízo, por meio de sua advogada subscritora, apresentar 
CONTRARRAZÕES AO RECURSO EM SENTIDO ESTRITO interposto pelo Ministério 
Público, por meio de memoriais, com fundamento no art. 588 do CPP, pelas razões de 
fato e de direito a seguir expostas. 
 
1. DOS FATOS 
 
Segundo consta da inicial acusatória, os denunciados, sob a liderança do acusado José 
Percival da Silva - “Zé da Farmácia”, Presidente da Câmara dos Vereadores e liderança 
política do Município), se valendo da qualidade de Vereadores do Munícipio, se 
associaram, em unidade de desígnios, com o fim específico de cometer crimes. 
 
Dentro deste propósito, no dia 03 de fevereiro de 2018, na sede da Câmara dos 
Vereadores desta Comarca, durante uma reunião da Comissão de Finanças e Contratos 
da Câmara, teriam exigido do Sr. Paulo Matos, empresário sócio de uma empresa 
interessada em participar das contratações a serem realizadas pela Câmara de 
Vereadores, o pagamento de R$ 100.000,00 (cem mil reais) para que sua empresa 
pudesse participar de um procedimento licitatório que estava agendado para o dia 
seguinte. 
 
Por este motivo, os réus foram denunciados pela suposta prática dos delitos previstos nos 
artigos 288 e 317, na forma do artigo 69, todos do Código Penal. Após a apresentação de 
resposta preliminar, nos termos do artigo 514 do CPP, a denúncia foi rejeitada em relação 
ao delito de associação criminosa. Inconformado, o Ministério apresentou recurso em 
sentido estrito, requerendo a reforma da decisão para que a denúncia seja recebida 
também em relação ao crime de associação criminosa, sob o argumento de que, por se 
tratarem todos os denunciados de membros da Câmara dos Vereadores, havia 
estabilidade e durabilidade na associação 
 
Após, vieram os autos para apresentação de contrarrazões. 
 
É um breve resumo dos fatos. 
 
2. DA PRELIMINAR 
 
2.1. Da Intempestividade Do Recurso 
 
Preliminarmente, verifica-se a intempestividade do recurso interposto pelo Ministério 
Público, que gera ao seu obrigatório não conhecimento. Isso porque, nos termos do artigo 
586 do CPP, o prazo de interposição do recurso é de 05 (cinco) dias. 
 
Contudo, o Ministério Público, apesar de intimado da decisão no dia 24 de maio de 2018, 
apenas interpôs o recurso no dia 30 de maio de 2018, um dia após o término do prazo (dia 
29 de maio de 2018), uma vez que, em matéria penal, o Ministério Público não tem prazo 
em dobro, conforme a jurisprudência do STJ: 
 
O Ministério Público não goza de prazo em dobro no âmbito penal, sendo intempestivo o 
recurso de agravo regimental interposto fora do quinquídio previsto no art. 258 do 
Regimento Interno do STJ.” (AgRg no HC 392.868/MT, Rel. Ministro NEFI CORDEIRO, 
SEXTA TURMA, julgado em 6/2/2018, DJe 15/2/2018)” (AgInt no REsp 1.658.578/MT, 5ª 
Turma, DJe 02/05/2018). 
 
Por isso, apesar de recebido, este d. Tribunal de Justiça não pode conhecer do recurso, 
por falta de requisito extrínseco ao mesmo, qual seja, da tempestividade. 
 
Ante o exposto, requer-se o não conhecimento do recurso. 
 
3. DO MÉRITO DO RECURSO 
 
3.1. Não Provimento 
 
Pelo princípio da eventualidade, caso superada a preliminar arguida, no mérito a sentença 
recorrida deve ser mantida, porquanto é evidente o acerto da rejeição da denúncia em 
 
relação ao delito de associação criminosa. 
 
Ao contrário do que quer fazer crer a acusação em sua peça recursal, extrai-se da leitura 
dos autos que não há indícios de materialidade em relação ao delito de associação 
criminosa. Isso porque, neste delito, inseriu-se a expressão “fim específico” apenas para 
sinalizar o caráter de estabilidade e durabilidade da referida associação, distinguindo-a do 
mero concurso de pessoas para o cometimento de um só delito. 
 
Quem se associa (ao menos três agentes) para o fim específico de praticar crimes (no 
plural, o que demonstra a ideia de durabilidade), assim o faz de maneira permanente e 
indefinida, vale dizer, enquanto durar o intuito associativo dos integrantes. 
 
Entretanto, ainda que tenha havido a suposta prática criminosa (o que está defesa só 
admite por absurdo), trata-se apenas de um único fato e, portanto, um crime único que, 
por si só, já afasta a tipicidade do artigo 288 do CP. 
 
De tal maneira, existem reiteradas jurisprudências cujo o entendimento vai ao encontro 
dos argumentos acima descritos, senão vejamos: 
 
STF: DIREITO PENAL. HABEAS CORPUS. CRIME DE QUADRILHA. CONFIGURAÇÃO 
TÍPICA. REQUISITOS. Para a configuração do crime de associação criminosa do art. 288 
do Código Penal brasileiro, exige-se a associação de mais de três pessoas “para a prática 
de crimes”, não sendo suficiente o vínculo para a prática de um único ato criminoso. É o 
que distingue, principalmente, o tipo de associação criminosa da figura delitiva 
assemelhada do crime de conspiracy do Direito anglo-saxão que se satisfaz com o 
planejamento da prática de um único crime. Se, dos fatos tidos como provados pelas 
instâncias ordinárias, não se depreende elemento que autorize conclusão de que os 
acusados pretenderam formar ou se vincular a uma associação criminosa para a prática 
de mais de um crime, é possível o emprego do habeas corpus para invalidar a 
condenação por esse delito, sem prejuízo dos demais. Habeas corpus concedido e 
estendido de ofício aos coacusados em idêntica situação. (HC 103.412/SP – Rel. Min. 
Rosa Weber – Diário da Justiça de: 19/06/2012). 
 
Como se sabe, a petição inicial deve trazer elementos probatórios mínimos que 
justifiquem a admissão do processo. A acusação não pode, tendo em vista a inegável 
existência de penas processuais, ser leviana e despida de um suporte probatório 
suficiente para justificar o imenso constrangimento que representa a assunção da 
condição de réu. 
 
Casos esses elementos sejam insuficientes para justificar a abertura de um processo, o 
juiz deverá rejeitar a acusação. Tudo conforme prevê o artigo 395, III do CPP. 
 
Portanto, é absolutamente correta a sentença proferida. Assim, requer que seja negado 
provimento ao recurso interposto pelo Ministério Público, com a consequente manutenção 
da decisão de primeiro grau. 
 
4. DOS PEDIDOS 
 
Ante o exposto, preliminarmente, requer não seja o recurso conhecido, já que 
intempestivo. 
 
No mérito, caso a preliminar não seja acatada, requer-se o não provimento do recurso, 
com a manutenção da decisão recorrida. 
 
Termos em que pede deferimento. 
 
CONCEIÇÃO DO AGRESTE – CE, 07 de junho de 2018. 
 
Advogado 
Nº OAB 
-Assinatura digital-

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