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Curso Português Instrumental – Módulo 1 SENASP/MJ - Última atualização em 09/10/2009 Página 0 Curso Português Instrumental – Módulo 1 SENASP/MJ - Última atualização em 09/10/2009 Página 1 Apresentação O curso Português Instrumental criará condições para que você possa: ►Compreender e desenvolver a comunicação oral e escrita em situações mais diversas, considerando o estilo pessoal e a adequação ao contexto comunicativo. ►Ampliar os conhecimentos a respeito da língua portuguesa de forma a aprimorar as habilidades comunicativas orais e escritas para informar, argumentar, persuadir, emocionar e se relacionar com o outro. ►Exercitar diferentes habilidades discursivas para comunicar-se com clareza e eficiência. ►Revisar aspectos fundamentais à construção de textos em Língua Portuguesa. ►Fortalecer uma atitude crítica e autocrítica como produtor de texto. Para atingir seus objetivos, o curso está dividido em quatro módulos: → Módulo 1 – Comunicação: uma experiência pessoal e coletiva → Módulo 2 – Produzindo textos → Módulo 3 – Cuidados a serem observados → Módulo 4 – Texto Ideal: utilizando os conceitos A competência de expressar-se por escrito é uma exigência cada vez mais emergente no meio profissional. O curso Português Instrumental busca mais que qualquer outra coisa, deixar claro que a viabilidade dessa aprendizagem existe e depende essencialmente de um esforço pessoal em conquistá-la. Quem sabe até, depois de aprendida, possa ser a escrita uma enorme fonte de prazer, como insinua Frei Beto: Curso Português Instrumental – Módulo 1 SENASP/MJ - Última atualização em 09/10/2009 Página 2 “Deixa tua vocação literária explodir no impulso de vida que corre em tuas veias. Não tenhas a pretensão de escrever melhor do que os outros. Basta-te a certeza de que ninguém pode escrever igual a ti. O estilo é o rosto do autor, e não há dois iguais. Escreve com a pele, não com a cabeça. Entrega-te à tua obra com paixão, ainda que ela te consuma e resulte na tua condenação e morte. Há um tempo para cada coisa, diz o Eclesiastes. Nas letras há um tempo para ler e um tempo para ruminar o que se leu; há um tempo para engravidar de uma situação, idéia, imagem ou história, e um tempo para levá-las ao papel em sinais gráficos. Não vazes o teu talento em ansiedade. Dedica-te pacientemente ao trabalho e tem coragem de soltar feras, anjos, legiões de demônios e fantasmas que povoam cavernas e vulcões de tua topografia interior. A alma é mais geográfica que histórica. Tem acidentes, relevos, vales e montanhas; está sujeita a secas e tempestades, varia de estações e climas. Ninguém embarcaria se antes considerasse os perigos do mar. Toda travessia exige confiança no risco. Escreve-se assim: toma-se um punhado de palavras que escorrem céleres por veias, artérias, músculos e mãos, derramando-se entre os dedos; esparrama-as sobre folhas secas brancas, dispondo-as ordenadamente, de forma que traduzam idéias, sentimentos, emoções, recordações, visões e propósitos. Respeita a respiração das palavras. Isso que a gramática chama de pontuação. Deixa que elas descansem ao fim de um conceito, recobrem forças antes de iniciar uma nova frase, estejam cadenciadas por vírgulas e pontos nas orações. Não exija delas fôlego maior do que possuem e saiba que encerram curioso mistério, pois as mesmas palavras que servem para registrar o mais insípido documento de cartório prestam-se igualmente para compor as mais belas obras literárias. Elas formulam sentenças de morte e esperança de vida, bulas de veneno e declarações de amor, anúncios de guerras e tratados de paz. E, quando lapidadas pela sensibilidade e pela intuição, delas brotam poesias, tropéis ritmados sobre nuvens. Servem inclusive à própria loucura. Nesse caso, dizem coisas que nem mesmo o raciocínio consegue conter e que extrapolam as leis da grafia e da sintaxe, pois refletem essa irreprimível necessidade de exprimir o imponderável, de escrever o absurdo, de revelar o absoluto.” Fonte: CLAVER, Ronald. Escrever com Prazer. Belo Horizonte: Dimensão,1999, pp 13/14. Curso Português Instrumental – Módulo 1 SENASP/MJ - Última atualização em 09/10/2009 Página 3 Módulo1 Comunicação: uma experiência pessoal e coletiva Este módulo está dividido em três aulas: →Aula1 – Cuidando da Comunicação →Aula2 – O Processo de Comunicação → Aula 3 - Argumentação e a Produção de Texto Com o objetivo de capacitá-lo a: ►Identificar as funções da linguagem presentes no processo de comunicação; ►Analisar um texto tendo como subsídios os elementos argumentativos utilizados Aula 1 – Cuidando da comunicação “Antes de escrever, portanto, aprendei a pensar.” Nicolas Boileau Como ponto de partida de um curso que trata do uso adequado da Língua Portuguesa em diferentes contextos, é necessário estabelecer alguns pressupostos teóricos que o ajudarão ao longo deste estudo a compreender melhor os conceitos implicados em uma produção textual que se quer eficiente. Curso Português Instrumental – Módulo 1 SENASP/MJ - Última atualização em 09/10/2009 Página 4 A Língua Língua é um sistema arbitrado que se concretiza a partir da interação verbal feita através de práticas discursivas. Essa definição traz como implicação fundamental a interlocução, que é a ação lingüística entre sujeitos. i n t e r + l o c u ç ã o = ação lingüística entre sujeitos A linguagem é tomada como processo propício à comunicação de pensamentos, idéias, conhecimentos, sentimentos, valores, etc. A língua é considerada, dessa forma, como sistema arbitrado por configurar-se como código formado por palavras e leis combinatórias que caracteriza o grupo social que a utiliza. Construção lingüística Ao se afirmar que cada grupo se utiliza de recursos específicos da língua, é possível reconhecer a existência de diferentes combinações possíveis. Ou seja, cada um de nós é sujeito ativo que decide, intencionalmente ou não, entre as múltiplas possibilidades de construção lingüística. É importante neste momento reportar-se ao título deste módulo, pois trata da língua como sistema e o sujeito como interlocutor ativo, ou seja, apesar de se configurar como uma experiência essencialmente social, a língua se concretiza a partir de uma ação individual de um sujeito que mobiliza saberes sociais, lingüísticos e cognitivos. A fala O uso individual da língua, denomina-se fala, da qual surgem as variedades lingüísticas. Parece complicado, mas não é! No cotidiano, você recorre a discursos com as mais diferentes características, determinadas sempre pelo contexto comunicativo em que está inserido. Veja: Curso Português Instrumental – Módulo 1 SENASP/MJ - Última atualização em 09/10/2009 Página 5 Ao enviar um e-mail a um amigo íntimo ou um e-mail ao diretor de uma repartição a que você está subordinado: Variação lingüística São diversos os fatores que determinam a variação lingüística e esses fatores se relacionam às vivências particulares de cada falante, como: →Fatores socioeconômicos (trazem implicações para as diferenças advindas do nível de escolaridade e do acesso a bens culturais); → Fatores profissionais; → Fatores subjetivos; → Fatores regionais; e → Fatores situacionais. A pluralidade cultural e as condições socioeconômicas no Brasil superdimensionam estes aspectos e, por isso, é preciso refletir sobre os conceitos adotados em relação ao que é linguagem certa ou errada. oiii, Fulano. blz? Mi manda akele doc q eu t pedi ainda hj. x] abraçao ai ^^ SandraPrezado Senhor, Solicito-lhe o envio do documento anexo devidamente preenchido para que possamos tomar as providências requeridas. Atenciosamente, Sandra Mara Curso Português Instrumental – Módulo 1 SENASP/MJ - Última atualização em 09/10/2009 Página 6 Pessoas que supervalorizam a língua culta, considerando-a como única forma a ser aceita socialmente, muitas vezes agirão de maneira discriminadora e intolerante, restringindo o conceito de língua e de seu uso. Por isso, os lingüistas afirmam que não existe certo ou errado, mas uso dos registros padrão ou não-padrão. Quando você diz: Me dê este pacote..., está usando o registro não-padrão, pois gramaticalmente, não se inicia frases com pronomes pessoais oblíquos. Já na frase: Dê-me este pacote..., você está usando o registro padrão, atendendo à regra gramatical que acabou de ser citada. Adaptação da linguagem A maior parte dos brasileiros, em seu dia-a-dia, usa mais o registro não-padrão. Pode-se dizer que estão errados? Que não podem falar assim em suas casas com seus familiares? Estas questões deverão ser analisadas a partir do conceito de adequação. A linguagem utilizada deve se adequar aos diferentes contextos de comunicação. Mas, qual das duas opções você mais utiliza? Curso Português Instrumental – Módulo 1 SENASP/MJ - Última atualização em 09/10/2009 Página 7 Se você está no meio familiar, poderá fazer uso de um registro coloquial (não- padrão); se for apresentar um relatório ou uma palestra no trabalho, deverá utilizar o registro culto (considerado como padrão para situações formais). Reconhecer a importância de se adequar aos inúmeros contextos é o primeiro passo que damos em direção a uma comunicação eficiente, seja no âmbito profissional ou pessoal. Seja qual for o ambiente em que se encontre e as pessoas com quem se comunica, é primordial reconhecer a necessidade de adaptação da linguagem utilizada entre os interlocutores, o que envolve a reelaboração discursiva. Na tirinha abaixo, com muito humor e muita perspicácia, Luís Fernando Veríssimo trata exatamente disto. Como você deve falar para que seja entendido? Fonte: http://literal.terra.com.br/verissimo/biobiblio/ostipos/ostipos.shtml?biobiblio2 Aula 2 - O Processo de comunicação Aproveitando o exemplo da tirinha anterior você estudará agora o processo de comunicação. Curso Português Instrumental – Módulo 1 SENASP/MJ - Última atualização em 09/10/2009 Página 8 Entre os diferentes aspectos envolvidos no processo comunicativo, destaca-se a intenção do emissor no momento da comunicação, o que implica definir: → O que se quer comunicar; → Para quem; → Como se vai comunicar; → Qual canal de comunicação será utilizado; e → Em que contexto ela ocorrerá. Tais aspectos nos reportam às funções da linguagem, propostas por Roman Jakobson: função emotiva (ou expressiva), função referencial (ou denotativa), função apelativa (ou conativa), função fática, função poética, função metalingüística. Funções da linguagem Todo processo comunicativo, implica intencionalidade. Para cada um dos elementos da comunicação corresponde uma função da linguagem. Ao se comunicar, entretanto, utilizam-se concomitantemente vários recursos e, conseqüentemente, o discurso serve a diversas funções. É importante definir qual o objetivo de comunicação para estabelecer o foco a ser dado a partir das funções possíveis. Curso Português Instrumental – Módulo 1 SENASP/MJ - Última atualização em 09/10/2009 Página 9 Fonte: http://www.graudez.com.br/literatura/funling.htm Função emotiva (ou expressiva) Centralizada no emissor, revelando sua opinião, sua emoção. Nela prevalece a 1ª pessoa do singular, interjeições e exclamações. É a linguagem das biografias, memórias, poesias líricas e cartas de amor. Função referencial (ou denotativa) Centralizada no referente, quando o emissor procura oferecer informações da realidade. Objetiva, direta, denotativa, prevalecendo a 3ª pessoa do singular. Linguagem usada nas notícias de jornal e livros científicos. Função apelativa (ou conativa) Centraliza-se no receptor; o emissor procura influenciar o comportamento do receptor. Como o emissor se dirige ao receptor, é comum o uso de tu e você, ou o nome da pessoa, além dos vocativos e imperativo. Usada nos discursos, sermões e propagandas que se dirigem diretamente ao consumidor. Função fática Centralizada no canal, tendo como objetivo prolongar ou não o contato com o receptor, ou testar a eficiência do canal. Linguagem das falas telefônicas, saudações e similares. Curso Português Instrumental – Módulo 1 SENASP/MJ - Última atualização em 09/10/2009 Página 10 Função poética Centralizada na mensagem, revelando recursos imaginativos criados pelo emissor. Afetiva, sugestiva, conotativa, ela é metafórica. Valorizam-se as palavras, suas combinações. É a linguagem figurada apresentada em obras literárias, letras de música, em algumas propagandas etc. Função metalingüística Centralizada no código, usando a linguagem para falar dela mesma. A poesia que fala da poesia, da sua função e do poeta, um texto que comenta outro texto. Principalmente os dicionários são repositórios de metalinguagem. Postura comunicativa Conhecer a língua é uma necessidade, pois é a consciência de suas múltiplas possibilidades que nos dá condições de fazer escolhas, de optar por esta ou aquela forma, por esta ou aquela palavra, por esta ou aquela postura comunicativa. Quando você conhece, pode se posicionar criticamente, por exemplo, diante da dinâmica de evolução da língua. O que influencia uma pessoa a usar vícios de linguagem novos como o gerundismo e incorporá-los à nossa maneira de falar com tanta rapidez? Talvez a resposta esteja no fato de que, muitas vezes, as pessoas não analisam como falam ou como escrevem e apenas agem por intuição... Devemos então pensar em como utilizar os conhecimentos que temos a respeito da língua em favor de uma comunicação eficiente. Leia o artigo publicado na Revista Língua, da professora Beth Brait: Curso Português Instrumental – Módulo 1 SENASP/MJ - Última atualização em 09/10/2009 Página 11 Todos nós, mortais, temos a impressão de que os escritores nascem sabendo escrever bem: seus textos saltam prontos da imaginação privilegiada para as páginas impressas de um livro. Por mais que eles insistam em afirmar que escrever significa mais transpiração que inspiração, que o processo é um eterno “pisar em grilos”, exigindo rigorosa disciplina, ficamos com a sensação de que isso tudo só vale para os que não nasceram escritores. Para poetas e prosadores natos, basta preencher as folhas brancas com palavras, frases, parágrafos que, magicamente, materializam-se em histórias, personagens, espaços, paisagens, mundos cativantes. Nada de releituras, emendas, trocas de palavras, eliminação de excessos, inclusão de trechos, correção de deslizes. Ledo engano. A atividade da escrita é um processo trabalhoso, exigindo de seu empreendedor bem mais que talento. Independentemente de sua finalidade, escrever requer observação, conhecimentos, vivência, pesquisa, planejamento, consciência das formas de circulação, muita paciência e, conseqüentemente, leituras, releituras, construção e reconstrução. Com os grandes escritores, podemos identificar os esforços exigidos por essa atividade, surpreendendo alguns momentos em que eles demonstram a forte e ambígua relação que mantêm com seus textos, expondoa maneira como administram detalhes que envolvem a escritura e, também, após a publicação, o interesse pelas formas de recepção. E essas exposições entreabrem uma fresta para que os demais “escreventes” conheçam alguns percursos e percalços do escrever, do dar acabamento a um texto, das formas de vê-lo correr mundo. Fonte: BRAIT, Beth. Escrever, argumentar, seduzir. Revista Língua. Disponível em: <http: www. revistalingua.com.br>. Acesso em: 25 out 2007. Curso Português Instrumental – Módulo 1 SENASP/MJ - Última atualização em 09/10/2009 Página 12 Comunicação eficiente A consciência de que escrever exigirá muito trabalho, não quer dizer que tal ação seja impossível. Ao contrário, você é chamado a uma atividade que impõe reflexão e conhecimento. Se por um lado define-se o que escrever e como fazê-lo, impõe-se que se pense também na natureza dessa escritura como algo dirigido a mais alguém e, portanto, coletivo. Quando você escreve um texto, seu papel é de emissor e como tal, responsável pela elaboração da mensagem e a escolha mais adequada dos elementos que permearão todo o texto e que determinarão o interesse do receptor. Ao se remeter à intencionalidade do autor, remete-se também à consciência do potencial comunicativo do texto. Inerente ao ato da escrita, está a necessidade de socializar nossas idéias, sentimentos, certezas e incertezas sobre os mais diferentes assuntos. Por isso é preciso considerar, no momento da produção escrita, os elementos da comunicação e suas implicações na construção textual. A eficiência comunicativa do seu texto está irremediavelmente ligada a todo um trabalho consciente e bem executado. Curso Português Instrumental – Módulo 1 SENASP/MJ - Última atualização em 09/10/2009 Página 13 Aula 3 - Argumentação e a produção de texto “Quanto mais consciência você tem do valor das palavras, mais fica exigente no emprego delas.” Carlos Drummond de Andrade Em seu cotidiano, das mais diversas maneiras e com os mais diversos propósitos, você pensa e argumenta: seja no trabalho para apresentar uma nova idéia aos colegas ou ao chefe; seja em época de eleição para convencer que o seu voto em determinado político tem razão de ser; seja no comércio, ao tentar convencer alguém de que é preciso lhe dar um desconto; seja em casa, ao tentar convencer os filhos de que ler é melhor do que conversar com os amigos no Messenger... Veja o quadrinho na página seguinte e reflita sobre a consistência argumentativa. Consistência argumentativa É possível argumentar sobre o que não se conhece? Fonte: http://www.depositodocalvin.blogspot.com/ É cabível afirmar que a argumentação é um recurso cujo propósito se centra na tentativa de persuadir alguém. Curso Português Instrumental – Módulo 1 SENASP/MJ - Última atualização em 09/10/2009 Página 14 Ao se argumentar, se objetiva convencer alguém a pensar como nós ou simplesmente, gostaríamos de apresentar nossas idéias. Para tanto, utiliza-se muitas vezes a função apelativa e referencial da linguagem. A função apelativa subsidia a argumentação com informações relevantes e função referencial busca os recursos lingüísticos para chamar a atenção do receptor. Componentes do discurso Ao se produzir textos, o uso adequado de argumentos é crucial, pois eles representarão os fundamentos de suas idéias, as quais serão por eles validadas e defendidas a fim de convencer o leitor de que essa é a correta ou de que essa é apresentada de maneira aceitável. Em um discurso argumentativo, distinguem-se variados componentes, dentre eles, a tese, os argumentos, as premissas e a conclusão: A tese ou proposição é a idéia fundamental defendida pelo autor de um texto e, portanto, passível de discussão, já que expressa um ponto de vista. Os Argumentos devem ser eficientes, pois é a argumentação que garante a aceitação da idéia apresentada. Premissas são as razões que o sustentam o argumento dando suporte para a conclusão. Conclusão é a alegação final que encerra o texto. Curso Português Instrumental – Módulo 1 SENASP/MJ - Última atualização em 09/10/2009 Página 15 O Desenvolvimento da tese O desenvolvimento da tese considera que a mesma é sempre produto de opções que seguem a seguinte hierarqu ia: Estes três pontos conduzem ao objetivo do texto. Com uma definição antecipada é possível evitar que o texto se torne um amontoado de idéias que pouco se correlacionam ou que não contribuam efetivamente para a construção de um tecido argumentativo que produza o sentido desejado. O desenvolvimento da tese exige que em primeiro lugar se delimite o tema, o que possibilita a reflexão sobre o pressuposto do qual se partirá. Curso Português Instrumental – Módulo 1 SENASP/MJ - Última atualização em 09/10/2009 Página 16 O pressuposto está irremediavelmente ligado ao capital cultural, as ideologias, vivências, leituras. O pressuposto traduz a visão sobre o assunto e norteia toda a argumentação na medida em que define a coerência interna do texto. A ordenação adequada dos argumentos determina seu encadeamento e conduz à unidade de sentido. O sentido do texto Leia o poema de Clarice Lispector a seguir e depois volte a ler de baixo para cima. Perceba o quanto a ordenação das afirmações feitas muda completamente o sentido final do texto. Curso Português Instrumental – Módulo 1 SENASP/MJ - Última atualização em 09/10/2009 Página 17 Não te amo mais Estarei mentindo dizendo que Ainda te quero como sempre quis Tenho certeza que Nada foi em vão Sinto dentro de mim que Você não significa nada Não poderia dizer mais que Já te esqueci! E jamais usarei a frase Eu te amo! Sinto, mas tenho que dizer a verdade É tarde demais. É tarde demais. Sinto, mas tenho que dizer a verdade Eu te amo! E jamais usarei a frase Já te esqueci! Não poderia dizer mais que Você não significa nada Sinto dentro de mim que Nada foi em vão Tenho certeza que Ainda te quero como sempre quis Estarei mentindo dizendo que Não te amo mais Argumentação eficiente É possível utilizar vários recursos para alcançar uma argumentação eficiente, entre eles, destacam-se: Curso Português Instrumental – Módulo 1 SENASP/MJ - Última atualização em 09/10/2009 Página 18 → Citação: apresentação, no corpo do texto, de uma informação extraída de outra fonte devidamente indicada e que dá autoridade ao texto. A citação pode ser direta ou indireta. Direta – refere-se à transcrição integral e literal de uma parte do texto pesquisado. Nesse caso, indica-se obrigatoriamente sua fonte. Exemplo: O fenômeno bullying, termo de gênese inglesa, é definido como: “(...) um comportamento cruel intrínseco nas relações interpessoais, em que os mais fortes convertem os mais frágeis em objetos de diversão e prazer, através de ‘brincadeiras’ que disfarçam o propósito de maltratar e intimidar” (FANTE, 2005, p.29). Indireta – refere-se à transcrição das idéias do autor consultado, porém usando as suas palavras, ou seja, parafraseando. Exemplo: Fante (2005, p. 73) afirma que o agressor compraz-se em oprimir, humilhar, subjugar os mais fracos. Geralmente, pertence a uma família desestruturada, apresenta carência afetiva, tem dificuldades de se adaptar às normas, entre outros. → Evidências: apresentação de informações (dados, estatísticas, percentuais) que comprovem as idéias. As informações devem ser fidedignas e do conhecimentode todos. Você só persuadirá seu interlocutor com informações verdadeiras, que têm respaldo na realidade. → Exemplos e ilustrações – apresentação de exemplos conhecidos e de fatos que ilustrem ou facilitem a compreensão das idéias expostas. → Argumentos de valor universal: apresentação de idéias universalmente aceitas sobre as quais não se contesta. → Relação de causalidade: estabelecimento das relações de causa e conseqüência. Curso Português Instrumental – Módulo 1 SENASP/MJ - Última atualização em 09/10/2009 Página 19 OBS: As citações devem ter relação direta com o assunto tratado no texto, reforçando as idéias apresentadas. O uso adequado das citações evita que se recorra ao plágio. Construção de textos Além de todos os recursos, lembre-se de que a construção de textos é uma atividade relacionada diretamente à capacidade argumentativa, o que implica o estabelecimento de relações, confronto de idéias, análise, problematização e criticidade. Assim como no ato de leitura, a aquisição dessas habilidades é um processo paulatino e que exige, portanto, a prática insistente de exercícios que instiguem o raciocínio e oportunizem a maturação intelectual. Importante! Não há receitas definitivas ou concludentes sobre o assunto abordado, apenas o consenso de que trabalho árduo só pode trazer resultados profícuos. Antes de terminar o estudo desta aula leia as dicas do texto 10 Dicas para Aumentar seu Poder de Persuasão. Curso Português Instrumental – Módulo 1 SENASP/MJ - Última atualização em 09/10/2009 Página 20 Resumo Neste módulo, você estudou que ... A língua apesar de se configurar como uma experiência essencialmente social, se concretiza a partir de uma ação individual de um sujeito que mobiliza saberes sociais, lingüísticos e cognitivos. Reconhecer a importância de se adequar aos inúmeros contextos é o primeiro passo que damos em direção a uma comunicação eficiente, seja no âmbito profissional ou pessoal. Entre os diferentes aspectos envolvidos no processo de comunicativo, destaca-se a intenção do emissor no momento da comunicação, o que implica definir o que se quer comunicar; para quem; como se vai comunicar; qual canal de comunicação será utilizado e em que contexto ela ocorrerá. Conhecer a língua é uma necessidade, pois é a consciência de suas múltiplas possibilidades que nos dá condições de fazer escolhas, de optar por esta ou aquela forma, por esta ou aquela palavra, por esta ou aquela postura comunicativa. Quando você escreve um texto, seu papel é de emissor e como tal, responsável pela elaboração da mensagem e a escolha mais adequada dos elementos que permearão todo o texto e que determinarão o interesse do receptor. A argumentação é um recurso cujo propósito se centra na tentativa de persuadir alguém. Em um discurso argumentativo, distingui-se variados componentes, dentre eles: a tese, os argumentos, as premissas e a conclusão. É possível utilizar vários recursos para alcançar uma argumentação eficiente, entre eles, destacam-se: a citação, as evidências, os exemplos, as ilustrações, argumentos de valor universal e a relação de causalidade. Curso Português Instrumental – Módulo 2 SENASP/MJ - Última atualização em 24/10/2008 Página 1 Módulo 2 Produzindo Textos Este módulo está dividido em três aulas: → Aula 1 - Modalidades discursivas → Aula 2 – Recursos considerados na dissertação → Aula 3 - Organização textual Com o objetivo de capacitá-lo a: ►Caracterizar os tipos textuais: narração, descrição e dissertação; ►Elaborar dissertações; e ►Enumerar os recursos que poderão contribuir para a efetividade de produção de textos. Curso Português Instrumental – Módulo 2 SENASP/MJ - Última atualização em 24/10/2008 Página 2 Aula 1 - Modalidades Discursivas “Quem tapa a minha boca Não perde por esperar: O silêncio de agora Amanhã é voz rouca De tanto gritar.” Ledo Ivo Comunicar idéias, pensamentos e sentimentos parece, a priori, algo fácil e simples a qualquer pessoa, principalmente se você considerar que todos, desde crianças, usam cotidianamente a linguagem. Comunicação interpessoal A comunicação diária entre as pessoas se realiza sem que se reflita sobre as teorias e as regras mobilizadas intuitivamente no processo de comunicação. Evidencia-se, dessa maneira, o domínio dos diferentes gêneros textuais e sua utilização sem impor à comunicação empecilhos que a torne lenta e, portanto, sem sentido naquele dado momento. Ao participar de um bate-papo no Messenger, por exemplo, as pessoas não se atêm às normas gramaticais, como uso de maiúsculas ou pontuação, ao contrário disso, abreviam as palavras e preocupam-se mais com a agilidade do que se quer dizer. Utilizados na comunicação interpessoal, esses textos caracterizam-se especialmente por se aplicarem a situações sociocomunicativas, configurando-se assim como gênero textual. Você se comunica com facilidade? Já parou para pensar quantos textos diferentes, seja para se comunicar por escrito ou oralmente, você produz cotidianamente? Curso Português Instrumental – Módulo 2 SENASP/MJ - Última atualização em 24/10/2008 Página 3 Gêneros textuais São gêneros textuais: e-mails, poemas, bilhetes, postais, artigos, orações, anúncios, avisos, memorandos, requerimentos, editais, resenhas, crônicas, relatórios, listas, ofícios, propagandas, receitas, notícias, provérbios, cartas, bulas, entre outros. Muitos de nós, entretanto, aprendemos na escola a utilizar os textos segundo sua tipologia: narração, descrição e dissertação. Essa concepção é válida como modalidade utilizada no processo de composição dos diversos gêneros discursivos, mas não dá conta da classificação e análise de todos os textos utilizados pelos falantes de uma língua. Veja a seguir as características das três modalidades textuais. Narração Contar histórias faz parte da natureza humana. As pessoas contam o que lhes acontece de bom e de ruim, partilham experiências, compartilham acontecimentos. Assim, a narração se vincula irremediavelmente à vida. Narrar impõe o relato de fatos e acontecimentos, reais ou fictícios, com marcante coerência interna para que a história seja verossímil e, portanto, convincente ao receptor. O texto narrativo contém os seguintes elementos: → Enredo: também chamado de fato, trama ou ação, deve apresentar seqüência espacial e temporal ordenada. → Personagem: quem participa do enredo. → Ambiente: o espaço onde ocorre o enredo. → Tempo: o momento em que se dá o enredo. → Narrador: quem narra o enredo. Pode ou não participar da história como personagem. Exemplos de narração Curso Português Instrumental – Módulo 2 SENASP/MJ - Última atualização em 24/10/2008 Página 4 Veja alguns exemplos de narração: - Exemplo de narração em um texto cujo domínio discursivo é o jornalístico: Acidente no Eixão mata mulher de 28 anos No dia 10/11/2007, um grave acidente tirou a vida de uma jovem na manhã deste sábado, na Asa Sul. Sabrina Damasceno Alencar Viana, 28 anos, seguia pelo Eixão no sentido norte-sul, quando ao fazer uma manobra, colidiu com a mureta de um viaduto localizado em frente ao Banco Central. Presa nas ferragens do Pólo (placa JHH-1228) que conduzia, a vitima morreu na hora. O acidente aconteceu por volta das 8h. O caso será investigado pela 1ª DP (Asa Sul). De acordo com as primeiras informações, Sabrina dirigia a 90 km/h no momento do acidente, pois o velocímetro do veículo teria travado apontando essavelocidade – que representa apenas 10 km/h acima da velocidade permitida na via. As informações são do Centro Integrado de Atendimento e Despacho (Ciade) da Polícia Militar. Fonte:http://noticias.correioweb.com.br/materias.php?id=2725177&sub=Distrito% 20Federal Curso Português Instrumental – Módulo 2 SENASP/MJ - Última atualização em 24/10/2008 Página 5 - Exemplo de narração em um texto cujo domínio é o literário: Maneira de amar Carlos Drummond de Andrade O jardineiro conversava com as flores, e elas se habituaram ao diálogo. Passava manhãs contando coisas a uma cravina ou escutando o que lhe confiava um gerânio. O girassol não ia muito com sua cara, ou porque não fosse homem bonito, ou porque os girassóis são orgulhosos de natureza. Em vão o jardineiro tentava captar-lhe as graças, pois o girassol chegava a voltar-se contra a luz para não ver o rosto que lhe sorria. Era uma situação bastante embaraçosa, que as outras flores não comentavam. Nunca, entretanto, o jardineiro deixou de regar o pé de girassol e de renovar-lhe a terra, na ocasião devida. O dono do jardim achou que seu empregado perdia muito tempo parado diante dos canteiros, aparentemente não fazendo coisa alguma. E mandou-o embora, depois de assinar a carteira de trabalho. Depois que o jardineiro saiu, as flores ficaram tristes e censuravam-se porque não tinham induzido o girassol a mudar de atitude. A mais triste de todas era o girassol, que não se conformava com a ausência do homem. “Você o tratava mal, agora está arrependido.” “Não”, respondeu, “estou triste porque agora não posso tratá-lo mal. É a minha maneira de amar, ele sabia disso, e gostava.” Fonte: ANDRADE, Carlos Drummond de. A cor de cada um. Rio de Janeiro: Record, 1998. Curso Português Instrumental – Módulo 2 SENASP/MJ - Última atualização em 24/10/2008 Página 6 - Observe um exemplo de poema em que o autor apresenta sua própria narrativa: Vaca Estrela e Boi Fubá Patativa do Assaré Seu doutor me dê licença pra minha história contar. Hoje eu tô na terra estranha, é bem triste o meu penar Mas já fui muito feliz vivendo no meu lugar. Eu tinha cavalo bom e gostava de campear. E todo dia aboiava na porteira do curral. Ê ê ê ê la a a a a ê ê ê ê Vaca Estrela, ô ô ô ô Boi Fubá. Eu sou filho do Nordeste , não nego meu naturá Mas uma seca medonha me tangeu de lá pra cá Lá eu tinha o meu gadinho, num é bom nem imaginar, Minha linda Vaca Estrela e o meu belo Boi Fubá Quando era de tardezinha eu começava a aboiar Ê ê ê ê la a a a a ê ê ê ê Vaca Estrela, ô ô ô ô Boi Fubá. Aquela seca medonha fez tudo se atrapalhar, Não nasceu capim no campo para o gado sustentar O sertão esturricou, fez os açude secar Morreu minha Vaca Estrela, já acabou meu Boi Fubá Perdi tudo quanto tinha, nunca mais pude aboiar Ê ê ê ê la a a a a ê ê ê ê Vaca Estrela, ô ô ô ô Boi Fubá. Hoje nas terra do sul, longe do torrão natá Quando eu vejo em minha frente uma boiada passar, As água corre dos olho, começo logo a chorá Lembro a minha Vaca Estrela e o meu lindo Boi Fubá Com saudade do Nordeste, dá vontade de aboiar Ê ê ê ê la a a a a ê ê ê ê Vaca Estrela, ô ô ô ô Boi Fubá. Curso Português Instrumental – Módulo 2 SENASP/MJ - Última atualização em 24/10/2008 Página 7 Descrição O texto descritivo se caracteriza por capturar verbalmente as características, de maneira mais ou menos pormenorizada, pessoas, estados de espírito, objetos ou cenas. A descrição aparece recorrentemente em narrações para trazer pormenores dos personagens, do ambiente ou de algum objeto. Por isso, poucas vezes você verá descrições isoladas de outras modalidades textuais. A descrição pode ser: - Objetiva: quando se restringe a descrever a realidade, sem julgamento de seu valor. - Subjetiva: quando as impressões do autor são transmitidas. Tipos de descrição Não são raras vezes em que as descrições ultrapassam o mero retrato da realidade, apresentando uma interpretação desta. As pinturas e as fotografias são exemplo disso. Embora retratem a realidade, permitem a expressão de um sem-número de impressões. Veja os exemplos a seguir: Fonte: http://www.confoto.art.br/bienal07autor.php Fonte: http://www.historiadaarte.com.br/expressionismonobrasil.html Curso Português Instrumental – Módulo 2 SENASP/MJ - Última atualização em 24/10/2008 Página 8 Leia a seguir o texto “Dois velhinhos” de Dalton Trevisan, em que um personagem descreve a outro o que vê de sua janela e este, ao se deparar com a realidade, percebe que esta era bastante diferente. Dois velhinhos Dalton Trevisan Dois pobres inválidos, bem velhinhos, esquecidos numa cela de asilo. Ao lado da janela, retorcendo os aleijões e esticando a cabeça, apenas um podia olhar lá fora. Junto à porta, no fundo da cama, o outro espiava a parede úmida, o crucifixo negro, as moscas no fio de luz. Com inveja, perguntava o que acontecia. Deslumbrado, anunciava o primeiro: — Um cachorro ergue a perninha no poste. Mais tarde: — Uma menina de vestido branco pulando corda. Ou ainda: — Agora é um enterro de luxo. Sem nada ver, o amigo remordia-se no seu canto. O mais velho acabou morrendo, para alegria do segundo, instalado afinal debaixo da janela. Não dormiu, antegozando a manhã. Bem desconfiava que o outro não revelava tudo. Cochilou um instante — era dia. Sentou-se na cama, com dores espichou o pescoço: entre os muros em ruína, ali no beco, um monte de lixo. Fonte: http://www.releituras.com/daltontrevisan_doisvelhinhos.asp A subjetividade da linguagem A percepção da realidade pode, sem dúvida, variar de uma pessoa para outra, por isso é que em textos técnicos prevalece a objetividade e, em outros textos, a subjetividade. Nesse sentido, Leonardo Boff, ao falar de Leitura nos traz um belo quadro do que representa a subjetividade no uso da linguagem, sejamos nós leitores ou produtores do discurso: Curso Português Instrumental – Módulo 2 SENASP/MJ - Última atualização em 24/10/2008 Página 9 “Ler significa reler e compreender, interpretar . Cada um lê com os olhos que tem. E interpreta a partir de onde os pés pisam. Todo ponto de vista é a vista de um ponto. Para entender como alguém lê, é necessário saber como são seus olhos e qual é a sua visão de mundo. Isso faz da leitura sempre uma releitura. A cabeça pensa a partir de onde os pés pisam. Para compreender é essencial conhecer o lugar social de quem olha. Vale dizer, como alguém vive, com que convive, que experiências tem, em que trabalha, que desejos alimenta, como assume os dramas da vida e da morte e que esperanças o animam. Isso faz da compreensão sempre uma interpretação. Sendo assim, fica evidente que cada leitor é co-autor. Porque cada um lê e relê com os olhos que tem, pois compreende e interpreta a partir do mundo que habita .” Leonardo Boff Dissertação O texto dissertativo objetiva expor, explicar ou interpretar determinada idéia e, para tanto, recorre-se a argumentos que a comprovem ou justifiquem. Assim como na descrição e na narração, dissertar pressupõe uma intencionalidade discursiva que agregará informações que evidenciam nossa forma de ver o mundo e nossas vivências. Trata-se antes de tudo de questionar a realidade, posicionando-se a respeito de um assunto. Portanto, é condição imprescindível à dissertação o conhecimento do assunto. Você não poderá refletir sobre o que não conhece. A intencionalidade determinao tipo de texto que será produzido. A dissertação pode ser: Expositiva - As idéias e os fatos são apresentados sem um posicionamento crítico em relação ao tema abordado. Argumentativa - Os fatos apresentados são agregados ao posicionamento do indivíduo em relação ao tema abordado. Curso Português Instrumental – Módulo 2 SENASP/MJ - Última atualização em 24/10/2008 Página 10 Exemplo de Dissertação expositiva: Annan: Reação à tragédia em Darfur foi 'hesitante' Fergal Keane "Nós fomos lentos, hesitantes, inescrupulosos, e não aprendemos nada de Ruanda", afirmou Annan ao programa de televisão da BBC Panorama, referindo-se ao país que foi palco do genocídio de 800 mil pessoas da etnia tutsi em 1994. Estima-se que 200 mil pessoas já tenham morrido em Darfur, província no oeste do Sudão, nos últimos dois anos, desde que grupos locais se rebelaram contra o que dizem ser a marginalização da maioria negra pelo governo central de Kharthoum. Desde então, 2,4 milhões de pessoas foram obrigadas a deixar as suas casas por causa da violência e os problemas da fome e das doenças se agravaram no país. A própria ONU foi muito criticada na época do genocídio de Ruanda por não tomar providências apesar dos avisos da equipe baseada no Sudão. No caso de Darfur, Annan tem pressionado por medidas internacionais, mas as suas declarações à BBC são as mais incisivas que ele já fez sobre o assunto. Há uma pequena força da União Africana para monitorar a situação. Nas áreas em que a força está presente, a situação melhorou. O ministro britânico para o Desenvolvimento Internacional, Hilary Benn, acredita que a violência tenha diminuído de uma forma geral por causa da possibilidade de os líderes sudaneses responderem aos crimes no Tribunal Penal Internacional de Haia, na Holanda. Um relatório da ONU divulgado no início deste ano indicou que tanto rebeldes como as milícias árabes que atuam no país poderão ser responsabilizados por crimes cometidos nos últimos dois anos. Fonte: http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/story/2005/07/050702_annansudaoc g.shtml Curso Português Instrumental – Módulo 2 SENASP/MJ - Última atualização em 24/10/2008 Página 11 Exemplo de Dissertação argumentativa: Quem ri? João Pereira Coutinho O texto merece ser lido: Ban Ki-moon, o atual secretário-geral das Nações Unidas, publicou artigo de opinião no "Washington Post" onde oferece explicação curial para a tragédia do Darfur. Que se passa naquela região do mundo, com 300 mil mortos (mínimo) e um número incontado e incontável de refugiados? A sanidade clássica apontaria culpas para o regime brutal que, instalado em Cartum desde 1989, iniciou várias campanhas de extermínio étnico e ideológico: primeiro, com o simpático propósito de apagar as populações cristãs e animistas do sul; e, depois, elegendo para a matança as populações campesinas e maioritariamente não-árabes do Darfur. A limpeza, como usualmente acontece, não seria executada pelo governo --mas através de milícias "independentes" e "rebeldes" que poderiam fazer o trabalho sujo sem implicar o regime. Ban Ki-moon tem nova tese. Para o secretário-geral, o Darfur explica-se com o aquecimento global, essa vulgata secular que tudo absolve e simplifica. Os islamitas do Sudão andam a matar africanos com uma violência semelhante à do Ruanda? É do tempo. Ou seja, é a nossa ganância energética que aquece os ânimos dos islamitas sudaneses. Quando se consome energia com selvática ferocidade, a temperatura sobe, a chuva diminui, os recursos escasseiam e, atenção ao salto lógico, um governo africano resolve armar milícias terroristas e iniciar a expulsão, o estupro e o extermínio de milhões de sudaneses. A explicação é audaz, admito. Mas, infelizmente, ela não salva Ban Ki-moon e a nobre organização que ele atualmente dirige. Primeiro, não salva a impotência das Nações Unidas. Uma vez mais, e depois do Ruanda em 1994, a ONU presencia mais um genocídio perante os seus olhos, um cenário de horror que, muito compreensivelmente, obriga os burocratas do clube Curso Português Instrumental – Módulo 2 SENASP/MJ - Última atualização em 24/10/2008 Página 12 a levantá-los para o céu. Só para ver se ainda chove. E, depois, não salva nem altera a natureza profundamente racista de um conflito que, com chuva ou sem ela, existiria sempre enquanto o governo de Khartoum, dominado por uma ideologia de submissão e conquista, estivesse interessado em apagar qualquer presença não-árabe no país. Ban Ki-moon pode acreditar que, sem tropas no terreno e com menos desodorante matinal nas cidades do Ocidente, talvez o regime sudanês seja mais compassivo com as populações do Darfur. As palavras do secretário-geral são uma piada grotesca. Mas eu duvido que, a prazo, ainda haja alguém no Darfur para rir dela. Fonte: http://www1.folha.uol.com.br/folha/pensata/ult2707u306792.shtml A estrutura do texto dissertativo O texto dissertativo estrutura-se em três partes: Introdução É a parte em que se apresenta a idéia central que será progressivamente desenvolvida no decorrer do texto. A idéia central traz uma declaração breve e sintética do assunto de forma a evidenciar o posicionamento a respeito do tema tratado. Desenvolvimento É nesta etapa que a idéia central ganha corpo no sentido de que são apresentados os argumentos que comprovarão a validade do posicionamento inicial do autor. Por isso, essa é a parte mais extensa do texto dissertativo, pois é aqui que se apresentam causas e conseqüências, detalhamento do assunto, análise de dados e situações que sirvam de exemplos, analogias, entre outros. Curso Português Instrumental – Módulo 2 SENASP/MJ - Última atualização em 24/10/2008 Página 13 Conclusão Esta parte, também chamada de desfecho, retoma a questão mais relevante do assunto tratado, apresentando as considerações finais do autor. Deve-se ter um cuidado especial ao concluir, pois retomar não significa restringir-se a repetir o que é óbvio. Deve, a um só tempo, fechar o raciocínio apresentado como também propiciar condições de reflexão ao leitor. Importante! Lembre-se de que as partes que compõem a dissertação são complementares e irremediavelmente interconectadas Para fechar esta aula, leia o texto: “Qual é a maior estupidez brasileira?” . Exemplo de um texto eminentemente dissertativo, tendo em vista que o autor apresenta e defende seu ponto de vista sobre o assunto em questão. Embora seja dissertativo, traz trechos descritivos, evidenciando pormenores da situação apresentada, como também recorre à narração ao nos contar a ação governamental que serviu de ponto de partida para a reflexão do autor. Curso Português Instrumental – Módulo 2 SENASP/MJ - Última atualização em 24/10/2008 Página 14 Qual é a maior estupidez brasileira? Gilberto Dimenstein Começa nesta semana um programa gerido por médicos da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) para diminuir o espantoso número de estudantes que, por causa de doenças simples de serem tratadas, têm dificuldades nas escolas. O programa é patrocinado pela prefeitura de São Paulo, previsto para atingir todos os alunos da rede municipal. Faz dois meses que os médicos da Unifesp (antiga Escola Paulista de Medicina) desenvolvem um piloto numa escola e encontraram uma galeria de horrores. É como se crianças estivessem apodrecendo por falta de tratamento médico. Algumas doenças são de fácil resolução como baixa acuidade visual e de audição. A taxa de sobrepeso é de 30%; 60% têm cáries. O que os médicos estão constatando ocorre em todas as escolasbrasileiras --e ocorre porque não se consegue um melhor entrosamento entre as áreas de educação e saúde. Estamos falando aqui de um problema que, segundo as estatísticas, atinge 40% dos alunos da rede pública. Ou seja, algo como 25 milhões de estudantes. Sei de meninos tratados como surdos, mas que não limpavam o ouvido. E de outros considerados retardados pelos professores, mas que tinham distúrbios psicológicos provocados pela violência doméstica. Há disléxicos considerados burros. Ou anêmicos chamados de preguiçosos. Não é fácil eleger a maior imbecilidade brasileira, tamanha a oferta de candidaturas. Pelo impacto social, meu voto vai pela falta ou precariedade de programas de saúde escolar. Só um estúpido completo é capaz de imaginar que vamos melhorar nossos indicadores educacionais com crianças que não ouvem e não enxergam direito. Fonte:http://www1.folha.uol.com.br/folha/pensata/gilbertodimenstein/ult508u32686 8.shtml Curso Português Instrumental – Módulo 2 SENASP/MJ - Última atualização em 24/10/2008 Página 15 Aula 2 – Recursos considerados na dissertação A partir de agora você estudará alguns recursos que poderão lhe auxiliar na produção de textos, são eles: reflexão sobre o tema, elaboração do esquema, rascunho, reflexão sobre o estilo pessoal de escrever e revisão do texto. Reflexão sobre o tema Para facilitar a produção de um texto, o primeiro passo é pensar sobre o tema que nos foi dado. É preciso que você questione: sei o suficiente sobre o assunto? Diante da resposta a essa questão, você deverá, se preciso for, buscar textos que subsidiem a argumentação. Lembre-se sempre de que os textos que você lê não são apenas fonte de informação como também modelo de escrita. Normalmente, as pessoas que lêem muito têm maior facilidade ao escrever até por estarem habituadas aos diferentes textos socialmente disponibilizados, como bons livros, jornais e revistas. A partir desse ponto, você passará a delimitação do assunto. Muitas vezes são ofertados temas amplos e é preciso, então, restringi lo, evitando que se fique perdido em meio a um emaranhado de possibilidades e idéias. Você já sentiu alguma dificuldade ao escrever um texto? Já começou uma dissertação e não soube como continuar? Iniciou um texto muito empolgado e depois de dois parágrafos, tudo o que vinha à cabeça já estava escrito? Diante de um tema dado, surgiram mil idéias e depois não conseguia organizá-las? Estes são alguns dos dilemas por que muitos passam ao escrever... Curso Português Instrumental – Módulo 2 SENASP/MJ - Última atualização em 24/10/2008 Página 16 Pensar e escrever Após delimitar o tema, é preciso definir o pressuposto que gerará a idéia central do texto, o que possibilitará a análise do ponto de vista adotado, sua forma e suas variantes. A dissertação exige planejamento. A reflexão cuidadosa e antecipada das partes que compõem o texto facilita a escrita, principalmente, por permitir separar as duas atividades complexas que envolvem o ato da escrita: pensar e escrever. Você já estudou no módulo 1 que quando se escreve, é preciso elaborar um esquema, para isso defina três questões fundamentais: O que escrever? Como escrever? Para que escrever? Elaboração do esquema O próximo passo é elaborar um esquema. Quando se elabora um esquema, ou seja, se planeja um texto, já se está prevendo o que se vai escrever. Só depois é se que pensa em como fazê-lo... Se você não planejar o texto, terá que realizar duas atividades complexas simultaneamente, o que gera maior dificuldade. O esquema é um recurso que permite planejar as idéias do texto. Para elaborar um esquema, devemos estar atentos à relação entre as idéias do texto. O esquema tem de ser expresso de maneira simplificada para que se possa ter uma idéia clara sobre o conteúdo a ser desenvolvido. Os esquemas podem ser organizados de diferentes maneiras: Esquema em chave - o título expressa a idéia central do texto e os argumentos são apresentados com os de sentido mais amplo ficando à esquerda dos de sentido menos amplo; as idéias que têm o mesmo tipo de relação ficam umas sobre as outras. Exemplo: Curso Português Instrumental – Módulo 2 SENASP/MJ - Última atualização em 24/10/2008 Página 17 Mapa conceitual - Mapas conceituais são representações gráficas, que indicam relações entre conceitos ligados por palavras. Exemplo: Causas Soluções A violência nos grandes centros urbanos. Conseqüências Condições socioeconômicas; Impunidade; Precariedade da educação básica. Aumento de crimes bárbaros; Descontrole social; Fragilização das instituições. Iniciativas da sociedade civil organizada; Reestruturação do sistema prisional; Revisão do código penal. Curso Português Instrumental – Módulo 2 SENASP/MJ - Última atualização em 24/10/2008 Página 18 Numeração progressiva - as idéias são apresentadas hierarquicamente em forma de texto. Exemplo: A violência nos grandes centros urbanos 1 – Causas. 1.1 Condições socioeconômicas. 1.2 Impunidade. 1.3 Precariedade da educação básica. 2 – Conseqüências. 2.1 Aumento de crimes bárbaros. 2.2 Descontrole social. 2.3 Fragilização das instituições. 3 – Soluções. 3.1 Iniciativas da sociedade civil organizada. 3.2 Reestruturação do sistema prisional. 3.3 Revisão do código penal. Rascunho Para a produção de uma dissertação, depois de escolhido o esquema, passe para a próxima etapa, o rascunho, que será a primeira versão do texto. O rascunho é um esboço inicial do texto definitivo. É fundamental exercitar a elaboração do rascunho, pois tal ação é fruto da compreensão de que o texto não fica pronto logo em sua primeira versão, mas é uma construção refletida que permite o repensar de trechos inteiros, o acréscimo de informações, a substituição de palavras, a eliminação de vícios e repetições, a revisão dos aspectos gramaticais e até das idéias apresentadas. Se for possível, quando estiver escrevendo um texto, deixe a versão inicial “descansar” e volte à reelaboração algum tempo depois. Curso Português Instrumental – Módulo 2 SENASP/MJ - Última atualização em 24/10/2008 Página 19 Recursos Considerados na Dissertação É importante também que você reflita sobre seu estilo pessoal de escrever, pois, cada pessoa se expressa de uma forma particular a partir de suas vivências. Por isso reflexão sobre seu estilo pessoal de escrever é mais um passo na elaboração de uma dissertação. Os textos escritos também serão um reflexo do que se sabe, do que se pensa e do que se sente. Por isso, evite regras rígidas de produção de texto que não lhe dêem a mobilidade necessária para expressar com liberdade suas idéias. Não se prenda a números definidos de parágrafos ou a uma extensão pré-determinada para cada parágrafo, pois tal postura intimida seu processo criativo. Escrevemos porque pensamos... Portanto, descubra qual o seu caminho de construção textual e mãos à obra. Revisão Uma boa maneira de sedimentar seu estilo é observar os textos que lê. Quando se deparar com textos que julgar agradáveis, bem construído e cuja argumentação é apropriada, analise como o autor iniciou o texto, que recursos utilizou, como concluiu sua idéia. Assim, vão se criando laços a partir dos modelos que sãoapresentados e aos poucos se vão incorporando os elementos que, em conjunto, formarão seu estilo pessoal de escrever. Um dos aspectos que deve ser considero antes de definirmos a versão final de um texto é a revisão dos aspectos textuais, essa é a última etapa, da qual destacam-se os seguintes aspectos: → Adequação: analisar se o texto está adequado ao tema e se atende ao objetivo que se quer alcançar; → Coerência: analisar se há um fio condutor do sentido ao longo do texto; → Clareza: verificar se as idéias são expostas de forma a serem plenamente Curso Português Instrumental – Módulo 2 SENASP/MJ - Última atualização em 24/10/2008 Página 20 compreendidas; → Coesão: verificar se as diversas partes do texto estão interligadas de maneira a criar textualidade (rede lógica de sentido). Aula 3 - Organização textual A dissertação é uma grande unidade textual composta por unidades textuais menores que são denominadas parágrafos, os quais são constituídos por um ou mais períodos interligados semântica e sintaticamente. Os parágrafos são o maior indicativo da organização das idéias de um texto, pois é a maior pausa que se estabelece no texto. Nesse sentido, a cada parágrafo, o leitor é chamado a parar e refletir sobre o assunto ali exposto. O planejamento de textos em esquemas é estruturado, via de regra, a partir dos parágrafos que você construirá. Assim, apresenta-se a idéia principal a ser abordada, em seguida as idéias de apoio ou secundárias e, facultativamente, a conclusão, que pode ser um desfecho ou a preparação deste para o início do parágrafo seguinte. Não há regras rigorosas no que tange à extensão do parágrafo, mas sua formulação exige bom senso. O parágrafo não deve ser tão curto a ponto de fragmentar a apresentação das idéias e empobrecer a argumentação, nem tão longo que se torne cansativo e disperse a atenção do leitor. Reconhecer o momento adequado de se mudar de parágrafo também é fator importante. Curso Português Instrumental – Módulo 2 SENASP/MJ - Última atualização em 24/10/2008 Página 21 Como estudou anteriormente, a dissertação apresenta três partes básicas: a introdução, o desenvolvimento e a conclusão. Normalmente, temos um parágrafo de abertura para a introdução; um ou mais parágrafos para o desenvolvimento da idéia central apresentada na introdução; e um parágrafo de encerramento para a conclusão. O parágrafo de introdução: Um parágrafo inicial bem formulado facilita o trabalho do escritor e do leitor, pois orienta o desenvolvimento de todo o texto. Pode antecipar a idéia central do texto ou de forma criativa gerar no leitor diferentes expectativas em relação ao teor do que vem a seguir. Dentre as possibilidades de construção inicial de um texto, optamos pelas seguintes: Alusão histórica: Nas savanas da África, nos idos do Paleolítico inferior, quando o chopper (um raspador de pedra) era a nossa mais moderna tecnologia, nosso cérebro tinha acabado de vencer o salto triplo para ultrapassar a barreira dos 1500 cm cúbicos de volume – um fato espetacular. Com isso deu-nos as vantagens do funcionamento do neocórtex dos lobos frontais, temporais, parietais, que se encarregam de registrar informações, envio de ordens precisas, arquivo de múltiplas recordações, reutilização de experiências passadas, centro de associações lógicas e complexas; nos deu o isocórtex homo típico, encarregado da ação refletida, do conhecimento, da memória, da linguagem e da faculdade de previsão. Com todo esse aparato, tivemos condições de elaborar todas as características formadoras da cultura, a partir de uma essência básica: o espírito de colaboração. Fonte: http://personal.telefonica.terra.es/web/crearmundos/Revista/Edicao01/Educacion/Edu_Outro.htm Raciocínio dedutivo: sair de uma afirmação geral para o particular: A capacidade de produzir textos de qualidade, nos mais diferentes níveis e estilos, literários ou não, esteve, durante muito tempo, associada a um dom divino, cujos agraciados deveriam ser admirados por aqueles que não tiveram tanta sorte assim. Uma das razões que levam a isso é a relação que se estabelece entre a capacidade de produção escrita e criatividade. Não é incomum que as pessoas considerem criativos apenas escritores ou alguns colegas, os quais muitas vezes destacam-se em sua turma. Raciocínio indutivo: sair de uma afirmação particular para o geral – a narração de um fato, por exemplo. Uma perguntinha: vocês preferem filmes dublados ou legendados? Eu prefiro legendado, até mesmo quando se trata de animação. Mas depois eu volto nisso. O caso mesmo é o seguinte: mais uma vez a politicagem brasileira prova que é totalmente desmiolada e não tem mais o que fazer. Há um projeto de lei, já em Curso Português Instrumental – Módulo 2 SENASP/MJ - Última atualização em 24/10/2008 Página 22 caráter conclusivo na Comissão de Educação e Cultura da Câmara dos Deputados, que institui a dublagem obrigatória dos filmes em língua estrangeira nos cinemas. O pai da idéia é o deputado Nilson Mourão (do PT do Acre). Fonte: http://forum.pootz.org/viewtopic.php?t=5195 Interrogação: “Por que motivo as crianças de modo geral, são poetas e, com o tempo, deixam de sê-lo?” Por que razão este questionamento do grande poeta Carlos Drummond de Andrade, em 1974, parece-nos ainda tão atual? Fonte: http://www.tvebrasil.com.br/SALTO/boletins2003/lll/tetxt4.htm Analogia e paralelo: Para expiação do pecado capital do mundo do conhecimento que é o plágio, um primeiro passo pode ser a simples confissão. Livramos-nos da culpa do plágio citando a fonte de uma informação ou argumento. Fonte: In: http://www.espacoacademico.com.br/024/24wlap.htm Citação: Segundo Ana Paula Corti, pesquisadora da Ação Educativa, de São Paulo, "a questão está muito presente no horizonte das gerações mais novas, mas as escolas não a incorporaram como fonte de intervenção pedagógica". O desconforto em relação ao assunto é fácil de entender. Trazer os temas do medo e da agressividade para a sala de aula não parece combinar com o papel construtivo e pacificador que o universo escolar, com razão, costuma chamar para si. Mas algumas experiências, descritas nas próximas páginas, indicam que vale a pena abandonar essa suposta neutralidade e encarar uma realidade que, de um modo ou de outro, interfere diretamente na vida de todos nós. Fonte: http://www.codic.pr.gov.br/modules/noticias/article.php?storyid=174 Curso Português Instrumental – Módulo 2 SENASP/MJ - Última atualização em 24/10/2008 Página 23 O parágrafo de desenvolvimento →O parágrafo de desenvolvimento (a argumentação): Há diversos processos para se desenvolver as idéias de um texto dissertativo. Esses processos variam de acordo com a natureza do assunto e o objetivo traçado, desde que as idéias sejam formuladas de maneira clara, objetiva e conveniente. Entre tais processos, destacam-se os seguintes: Apresentar relação de causalidade: Os episódios que presenciamos, nesse caso trágico terroristas versus Estados Unidos, ou sob outro prisma, parcelas radicais do mundo árabe versus parcelas do mundo ocidental, revelam uma questão de fundo que é a desconexão do homem contemporâneo com sua espiritualidade. De um lado, um insano entendimento de um deus vingativo. De outro, uma louca reação sem medidas. Ambos voltados a uma guerra contra o Todo, contra o outro, contra si mesmos. Umaversão pavorosamente ampliada e hi tech da velhíssima história de Caim e Abel. Seres humanos contra seres humanos, cegos em não perceber as linhas de conexão que os unem como irmãos, mudos aos chamados à razão do amor, ensandecidos no poço profundo negro do ego, rebeldes juvenis ao impulso do divino para encontrarem, dentro de suas almas, os elos de luz que os mantém potencialmente ligados ao Todo, que pulsa unicidade, que sorri para a diversidade, que se alegra com o Amor, que instala a paz. Fonte: http://www.mfn.com.br/cgi-bin/mail2/mail.cgi/archive/IVE/20061107175857/ Enumerar fatos que comprovem uma opinião – exemplificar: Definir cedo o comportamento ético pode ser a tarefa mais importante da vida, especialmente se você pretende ser um estagiário. Nunca me esqueço de um almoço, há 25 anos, com um importante empresário do setor eletrônico. Ele começou a chorar no meio do almoço, algo incomum entre empresários, e eu não conseguia imaginar o que eu havia dito de errado. O caso, na realidade, era pessoal: sua filha se casaria no dia seguinte, e ele se dera conta de que não a conhecia, praticamente. Aquele choro me marcou profundamente e se tornou logo cedo parte da ética da minha vida: nunca colocar minha ambição à frente da minha família. Fonte: Kanitz, Stephen. Ambição e Ética. In: Revista Veja. Editora Abril: São Paulo, 2001. p.21. Curso Português Instrumental – Módulo 2 SENASP/MJ - Última atualização em 24/10/2008 Página 24 Confrontar idéias, dados, estudos ou características:Algumas escolas estão ensinando a nossos filhos que ética é ajudar os outros. Isso, porém, não é ética, é ambição. Ajudar os outros deveria ser um objetivo de vida, a ambição de todos, ou pelo menos da maioria. Aprendemos a não falar em sala de aula, a não perturbar a classe, mas pouco sobre ética. Não conheço ninguém que tenha sido expulso da faculdade por ter colado do colega. “Ajudar” os outros, e nossos colegas, faz parte de nossa “ética”. Não colar dos outros, infelizmente, não faz. Fonte: Kanitz, Stephen. Ambição e Ética. In: Revista Veja. Editora Abril: São Paulo, 2001. p.21. Apresentar conceitos, citações, alusões ou fatos históricos: Os conflitos religiosos e culturais serão sempre cruéis e não se resolverão por diálogo. Não dá para provar quem tem a razão. As verdades religiosas são tão poderosas porque a premissa básica é sempre Deus, premissa inquestionável por definição. Osama bin Laden se considera esclarecido e ético, opõe-se aos americanos que ele, e muitos ao redor do mundo, consideram antiéticos. Ele consegue justificar plenamente as mortes que causou, porque "os fins justificam os meios", frase repetida nas nossas universidades. Ele não tem dúvida de que está absolutamente certo, como muita gente por aí. Fonte: Revista Veja, edição 1723, ano 34, nº42, 24 de Outubro de 2001. Parágrafo de conclusão A conclusão encerra o texto dissertativo, recorrendo a basicamente três possibilidades de variação, a saber: Retomada - ratifica a tese apresentada: Podemos, então, concluir que uma interdição tão severa como a que paira sobre o ato de plagiar só pode mesmo ser explicada pela existência de um desejo de transgressão que tenha a mesma intensidade. Fonte: http://www.espacoacademico.com.br/024/24wlap.htm Proposição de soluções: Embora o mundo não seja como você gostaria que fosse, lembre-se de que o seu ideal de mundo talvez não seja o que outros estão Curso Português Instrumental – Módulo 2 SENASP/MJ - Última atualização em 24/10/2008 Página 25 almejando. A solução dos conflitos não reside na guerra, mas na tolerância, ninguém sabe qual mundo é o melhor, por mais convicto que esteja. Portanto, se você pretende fazer um mundo melhor, desconfie um pouco mais das teorias, aprimore seu próprio faro e senso de observação, reavalie de tempos em tempos as suas premissas, e seja muito tolerante. Fonte: Revista Veja, edição 1723, ano 34, nº42, 24 de Outubro de 2001. Reflexiva: propõe um questionamento: Pragmaticamente, em nível amplo, só a solidariedade pode construir um país de abastança para todos. A solidariedade é, em si mesma, uma postura política diante da vida, mas é também uma postura reflexiva, contemplativa, terapêutica. Alguém conhece algum outro caminho que tenha dado certo? Fonte: http://www.segurancahumana.org.br/biblioteca/cdrom/enpc_textos/textos4/enpc_04_8.pdf Organização textual Lembre-se de que os exemplos apresentados não encerram todas as possibilidades que temos à nossa disposição para a construção discursiva, mas são apenas indicativos para ajudá-lo na escritura de textos... Ao iniciar esta aula, você viu que os parágrafos são unidades textuais que em conjunto formam o texto. Não basta, portanto, que você elabore bem os parágrafos como se fossem unidades isoladas, pois se assim o fizer construirá, na verdade, uma enorme colcha de retalhos. Para que um texto não seja apenas um amontoado de palavras e frases que fazem sentido separadamente, é preciso que você cuide dos aspectos relacionados à coesão que estabelece a ligação,ou seja, a relação entre os elementos de um texto. Curso Português Instrumental – Módulo 2 SENASP/MJ - Última atualização em 24/10/2008 Página 26 A coesão textual pode ser: → Referencial Quando um componente do texto faz referência a outro elemento, tais como epítetos; palavras ou expressões sinônimas; repetição de uma palavra, nome ou parte dele; um termo síntese; pronomes, numerais e advérbios pronominais substituem um nome; elipse; entre outros. → Seqüencial: Quando são estabelecidas relações semânticas ou pragmáticas à medida que o texto se constitui, tais como em frases ligadas por conjunções: “Gostei da roupa, mas não posso comprá-la”. Neste período, a conjunção mas é elemento de coesão por impulsionar o prosseguimento do texto, imprimindo-lhe novo sentido. Recursos de coesão A coesão liga termos e orações dentro de um parágrafo, bem como liga um parágrafo a outro. Veja alguns recursos de coesão que o ajudarão a dar maior unidade aos textos, além de chamar atenção para o sentido que neles está implícito: Causa e conseqüência: como resultado/ em virtude de/ em função de/ em razão de/ de fato/ assim/ portanto/ por causa de/ por motivo de/ porquanto Comparação por contraste ou por semelhança: ao contrário de/ em contraste com/ como contraponto/ em comparação com/ igualmente a/ analogamente/ assim também/ do mesmo modo que/ da mesma forma que/ de maneira similar/ de forma idêntica/ nessa mesma perspectiva/ em consonância com Acréscimo: além disso/ outrossim/ ainda mais/ por outro lado/ desta feita/ nesse sentido/ em função disto/ a esse respeito Curso Português Instrumental – Módulo 2 SENASP/MJ - Última atualização em 24/10/2008 Página 27 Recursos de coesão Além desses recursos, é possível recorrer à utilização de palavras ou expressões relacionais aos objetivos pretendidos: Iniciar uma análise: é fundamental inicialmente observar/ há que se analisar, primeiramente/ a primeira questão se referirá a/ é fato/ iniciemos a análise observando/ em primeira instância, cabe analisar. Ratificar a análise: não podemos deixar de lado a questão de/ é preciso frisar ainda que/ não podemos nos esquecer também/ é essencial lembrar ainda/ é fundamental insistir/ não há como negar que/ é possível alegar ainda que/ além do mais/ paralelamente/ acrescente- se a isso/ é inegável/ é provável também/ há ainda a possibilidade de. Encerrar uma análise: por conseguinte/ conseqüentemente/ por isso/ desta forma/em suma/ em síntese, é possível dizer que/ portanto/ definitivamente/ a partir desse contexto, é plausível afirmar/ finalmente. Enumerar outros fatores: não podemos excluir/ uma segunda causa a ser apontada é/ outro aspecto a ser considerado/ além desse fator, chama a atenção/ como terceira razão, é preciso salientar. Estabelecer oposição: a despeito desta posição/ ao passo que/ não obstante sua avaliação/ vai de encontro a/ malgrado/ em que pese tal afirmação... é preciso considerar/ ainda que/ muito embora reconheça... há que se levar em conta/ entretanto, no entanto. Como você estudou, são muitas as possibilidades de uso de elementos de coesão. O uso correto deles é que dará ao seu texto a coerência necessária para que a comunicação se efetive, pois o texto só faz sentido se todos os envolvidos nesse processo de interação reconhecerem sua lógica interna. Agora é com você. Ler e escrever bem são habilidades e, portanto, requerem treino para serem adquiridas. Curso Português Instrumental – Módulo 2 SENASP/MJ - Última atualização em 24/10/2008 Página 28 Resumo Neste módulo, você estudou que ... Aprendemos na escola a utilizar os textos segundo sua tipologia, qual seja narração, descrição e dissertação. Essa concepção é válida como modalidade utilizada no processo de composição dos diversos gêneros discursivos, mas não dá conta da classificação e análise de todos os textos utilizados pelos falantes de uma língua. Narrar impõe o relato de fatos e acontecimentos, reais ou fictícios, com marcante coerência interna para que a história seja verossímil e, portanto, convincente ao receptor. O texto descritivo se caracteriza por capturar verbalmente as características, de maneira mais ou menos pormenorizada, pessoas, estados de espírito, objetos ou cenas. O texto dissertativo objetiva expor, explicar ou interpretar determinada idéia e, para tanto, recorre-se a argumentos que a comprovem ou justifiquem. O texto dissertativo estrutura-se em três partes: Introdução, desenvolvimento e conclusão. Dentre os recursos que poderão auxiliar ao escrever textos é possível citar: reflexão sobre o tema, elaboração de um esquema, elaboração de rascunho, reflexão sobre seu estilo pessoal e revisão de texto. Os parágrafos são unidades textuais que em conjunto formam o texto. A coesão liga termos e orações dentro de um parágrafo, bem como liga um parágrafo a outro. A coesão textual pode ser referencial ou seqüencial. Ler e escrever bem são habilidades e, portanto, requerem treino para serem adquiridas. Curso Português Instrumental – Módulo 2 SENASP/MJ - Última atualização em 24/10/2008 Página 29 Curso Português Instrumental – Módulo 3 SENASP/MJ - Última atualização em 12/06/2008 Página 1 Módulo 3 Cuidados a Serem Observados Este módulo está dividido em três aulas: → Aula1 – Vícios e desvios de linguagem → Aula 2 - Depreensão do implícito: pressupostos e subentendidos → Aula 3 – Falácias: pensando logicamente Com o objetivo de capacitá-lo a: ►Identificar os vícios e desvios de linguagem; ►Reconhecer que a qualidade do texto é influenciada pela forma que se escreve; e ►Compreender, identificar e evitar o uso de argumentos falaciosos. Aula 1 -Vícios e desvios de linguagem Ai, palavras, ai, palavras, que estranha potência a vossa! Cecília Meireles Observe a placa abaixo: (In:http://images.google.com.br/imgres?imgurl=http://www.reporterbrasil.org.br/images/articles/2 0070424familiamuda2.jpg&imgrefurl) A frase acima esta ambígua, concorda? Curso Português Instrumental – Módulo 3 SENASP/MJ - Última atualização em 12/06/2008 Página 2 É possível pensar que “muda” é verbo (embora não apareça como pronominal), ou seja, a família vai transferir-se para outro local. Ou pensar que “muda” é adjetivo, as pessoas que compõem essa mesma família não falam. Claro que, como uma placa que apresenta visivelmente um registro coloquial, o sentido é cômico. Mas, pense você no mesmo processo em um texto escrito que tenha uma construção mais formal. A ambigüidade irá prejudicar o sentido do escrito e, neste caso, nada restará do cômico, pois o texto provocará o não entendimento, ou mesmo, uma enorme confusão. Agora, leia a charge abaixo. (In:http://images.google.com.br/imgres?imgurl=h ttp://sergeicartoons.blogs.sapo.pt/arquivo/Manu elD.jpg&imgrefurl) O autor da charge usa a imagem associada à fala das personagens para, também, criar um sentido “duplo”. A oração “Não te vejo há anos e estás na mesma” refere-se ao fato das personagens não se encontrarem há muito tempo, mas pode ser entendida, não com um sentido cômico, mas crítico e irônico, contra o uso da burca, pois ambas não se veriam mesmo que se encontrassem todos os dias. Há uma diferença entre a ambigüidade da placa e a possível ambigüidade da charge. Na charge a linguagem foi trabalhada para se obter um efeito crítico o que não parece ter acontecido no exemplo da placa. Assim, é preciso conhecer mais do que a estrutura gramatical de uma língua para que se seja um bom leitor e um bom “escritor”. É preciso conhecer mais do que a estrutura gramatical de uma língua para que se seja um bom leitor e um bom “escritor”. Curso Português Instrumental – Módulo 3 SENASP/MJ - Última atualização em 12/06/2008 Página 3 Existem diversos “desvios de linguagem”, alguns mais outros menos comuns, alguns mais outros menos utilizados, que podem comprometer tanto a qualidade e a estrutura de um texto quanto a sua clareza e permissão de entendimento. Os vícios de linguagem são a catalogação desses desvios e é importante conhecê-los para sempre evitá-los. Os mais importantes são: Solecismo; Ambigüidade ou Anfibologia; Pleonasmo; Barbarismo, Estrangeirismo; Prolixidade; e Lugar-comum ou clichê Veja nas próximas páginas as características desses vícios de linguagem. Solecismo - desvio da norma culta de uma língua, como: erros de concordância, de regência, de colocação, dentre outros. Erro de concordância Exemplo: Fazem cinco anos que parei de estudar. Fazem no lugar de “faz”. Erro de regência Exemplo: Assisti ao filme. “o” no lugar de “ao” (preposição) Curso Português Instrumental – Módulo 3 SENASP/MJ - Última atualização em 12/06/2008 Página 4 A norma padrão prescreve que neste uso o verbo assistir deve ser acompanhado de preposição. Ambigüidade ou Anfibologia - obscuridade no sentido das palavras, das expressões, o que provoca uma hesitação entre duas ou mais possibilidades. Exemplo: Paulo pegou o táxi correndo. Quem “corria”? O “táxi” ou o “Paulo”? Há alguns fatores lingüísticos que são responsáveis pela ambigüidade. Como: - Diferentes referências para um único pronome. Exemplo: Ele foi para sua casa. (Para a casa de quem?) - Diferentes construções sintáticas de uma oração, deixando dúvida quanto ao significado denotativo ou conotativo das palavras. Exemplo: O juiz julga os réus culpados. O juiz julga que os réus são culpados. O juiz julga os réus que são culpados. Curso Português Instrumental – Módulo 3 SENASP/MJ - Última atualização em 12/06/2008 Página 5 Pleonasmo - repetição desnecessária de palavras ou idéias. Exemplo: Ele desceu lá embaixo à procura de um estacionamento. (descer, neste caso, só pode ser para baixo). Importante! O pleonasmo tem emprego legítimo em muitos casos. Quando afirmo “vi com meus próprios
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