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Esta obra foi publicada pela primeira vez em 2020 por Cinética: Escola do Movimento. Direitos autorais © 2020 por Cinéticaedu. Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta publicação pode ser reproduzida ou distribuída de qualquer forma ou por qualquer meio, eletrônico ou mecânico, ou armazenada em um banco de dados ou sistema de recuperação, por meio de cobrança monetária, está é uma obra que deve ser distribuída de forma integral e gratuita. As informações incluídas neste livro são apenas para fins educacionais. Não se destina ou está implícito como substituto do aconselhamento médico profissional. O leitor sempre deve consultar seu médico/ nutricionista/ fisioterapeuta / psicólogo/ treinador, para determinar a adequação das informações para sua própria situação ou se tiver alguma dúvida sobre uma condição médica ou plano de tratamento. A leitura das informações deste livro não constitui uma relação médico-paciente. O autor / proprietário não reivindica nenhuma responsabilidade a qualquer pessoa ou entidade por qualquer responsabilidade, perda ou dano causado ou supostamente causado direta ou indiretamente como resultado do uso, aplicação ou interpretação das informações aqui apresentadas. RAMIRO MARQUES INCHAUSPE REABILITAÇÃO DAS LESÕES DO JOELHO LCA, LCP, Meniscos, Ligamentos Colaterais e Tendão Patelar 2ª Edição Porto Alegre / RS 2020 Sobre o Autor Desde muito jovem se destacou no âmbito esportivo como atleta de Handebol, chegando a defender as seleções brasileiras de base sub 16 e sub 17, logo ingressou na faculdade onde cursou Fisioterapia e Educação Física com bolsa atleta fazendo a faculdade totalmente gratuita por meio do esporte, desde os primeiros semestres conciliou aulas, treinamento e participação em projetos de pesquisa e extensão onde encontrou sua paixão; a reabilitação e treinamento. Durante a graduação participou como estagiário das Olimpíadas Escolares, como parte da delegação do Rio Grande do Sul, Jogos Universitários Brasileiros e Projeto Brasil Olímpico 2016. Em meio a todos estes projetos, realizou o curso de formação de oficiais de basquetebol promovido pela Federação Gaúcha de Basquetebol. Em pouco menos de um ano foi promovido a árbitro nacional da modalidade e convidado a participar do Novo Basquete Brasil – NBB, o segundo maior campeonato das américas, atrás apenas dos EUA. No ano de 2014 foi indicado para fazer parte da Federação Internacional de Basketball – FIBA, conseguindo a aprovação e o título de árbitro internacional. Inquieto, esta é a palavra para definir nosso autor. Imediatamente após terminar a graduação buscou continuar os estudos através de uma especialização em treinamento neuromuscular e fisioterapia desportiva, mestrado em saúde da criança e do adolescente e doutorado em ciências da reabilitação. Novamente, junto aos estudos, outros projetos estavam por vir, como, por exemplo, a criação do departamento de Aptidão Física Junto a Confederação Brasileira de Basketball – CBB e, posteriormente foi convidado para realizar o mesmo projeto junto a Federação Internacional de Basketball – FIBA (Órgão máximo do esporte no âmbito mundial). Em conjunto com esses desafios vieram convites para lecionar em cursos de Graduação e Pós-Graduação, participar de grandes eventos científicos, coordenar o controle de aptidão física nos Jogos Pan Americanos Lima 2019 e Campeonato Mundial de Basquetebol China 2019. Junto a todas essas mudanças continuou os estudos, buscando o doutorado em Ciências da Reabilitação e a criação de uma metodologia de reabilitação e treinamento: Cinesioterapia Funcional - Reabilitação e Treinamento Funcional. Teve artigos e livro publicado sobre o tema, buscou formação internacional nas áreas da reabilitação e do treinamento físico e treinamento funcional, através de diversos cursos como: Kettlebell junto a Kettlebell Academics órgão máximo no âmbito mundial, Strongfirt, CORE 360, FIFA, Polar Team Pro Analyses além da formação nos métodos de bandagem funcional (MacConnell e Kinesio Taping by Kenzo) além de toda sua experiência de quase dez anos trabalhando com essa ferramenta fantástica. *** O intuito deste projeto inovador é levar o conhecimento deste conceito e incrível metodologia ao maior número de pessoas possível. Quanto mais pessoas tiverem acesso a informação, mais trabalharemos. A ideia é passar parte do conhecimento teórico e prático e os fundamentos e conceitos necessários para o entendimento e aplicação. O livro ilustra e define muito bem todos os conceitos, métodos, protocolos e técnicas, mas é fundamental que o profissional leitor realize e principalmente pratique todo o conteúdo que aprendeu antes de iniciar com seu paciente ou aluno, pois é claro que a prática leva a perfeição. sdas A Conteúdo Introdução ________________________________________________________________________________________ 5 CAPÍTULO 01 _______________________________________________________________________________________ 11 Lesões no Esporte ___________________________________________________________________________________ 11 CAPÍTULO 02 _______________________________________________________________________________________ 18 Diagnóstico _______________________________________________________________________________________ 18 CAPÍTULO 03 _______________________________________________________________________________________ 24 O Joelho _________________________________________________________________________________________ 24 Músculos ________________________________________________________________________________ 39 Biomecânica ______________________________________________________________________________ 42 Estabilizadores ____________________________________________________________________________ 47 Cadeias Cinéticas ___________________________________________________________________________ 50 CAPÍTULO 04 _______________________________________________________________________________________ 57 Reabilitação ______________________________________________________________________________________ 57 Tecidos moles _____________________________________________________________________________ 58 Fases da regeneração _______________________________________________________________________ 62 Cartilagem – Estrutura e Função _______________________________________________________________ 70 Ligamentos – Estrutura e Função _______________________________________________________________ 72 Tendões – Estrutura e Função __________________________________________________________________ 73 Ossos – Estrutura e Função ___________________________________________________________________ 74 Tecido muscular – Estrutura e Função ____________________________________________________________ 75 Tecido epitelial – Estrutura e Função ____________________________________________________________ 76 Tecido Nervoso – Estrutura e Função _____________________________________________________________ 77 Cicatrização – Riscos Para o Tratamento __________________________________________________________ 78 Extensão da Lesão __________________________________________________________________________ 79 Fatores Nutricionais ________________________________________________________________________ 80 Edema __________________________________________________________________________________ 81 Imobilização ______________________________________________________________________________ 81 Fornecimento de sangue _____________________________________________________________________ 82 Anti-inflamatórios Não Esteroides ______________________________________________________________ 83 sdas B Outros fatores ____________________________________________________________________________ 83 CAPÍTULO 05 _______________________________________________________________________________________85 Lesões do Joelho ___________________________________________________________________________________ 85 CAPÍTULO 06 _______________________________________________________________________________________ 89 Ligamento Cruzado Anterior - LCA _______________________________________________________________________ 89 Mecanismos de lesão ________________________________________________________________________ 91 Diagnóstico ______________________________________________________________________________ 99 Tratamento _____________________________________________________________________________ 108 Tratamento Não Cirúrgico ___________________________________________________________________ 108 Tratamento Cirúrgico ______________________________________________________________________ 112 Riscos e Complicações ______________________________________________________________________ 116 Tempo Estimado de Tratamento ________________________________________________________________ 116 Estágio Inicial ___________________________________________________________________________ 117 Estágio Intermediário ______________________________________________________________________ 119 Estágio Avançado _________________________________________________________________________ 122 Retorno ao esporte ________________________________________________________________________ 124 CAPÍTULO 07 ______________________________________________________________________________________ 126 LIGAMENTO CRUZADO POSTERIOR – LCP _____________________________________________________________________ 126 MECANISMOS DE LESÃO _______________________________________________________________________ 133 Diagnóstico _____________________________________________________________________________ 137 Tratamento _____________________________________________________________________________ 145 Tratamento Não Cirúrgico ___________________________________________________________________ 145 Tratamento Cirúrgico ______________________________________________________________________ 147 Riscos e complicações ______________________________________________________________________ 149 Tempo estimado de tratamento ________________________________________________________________ 149 Estágio Inicial ___________________________________________________________________________ 149 Estágio Intermediário ______________________________________________________________________ 152 Estágio Avançado _________________________________________________________________________ 155 Retorno ao Esporte ________________________________________________________________________ 157 CAPÍTULO 08 ______________________________________________________________________________________ 159 MENISCOS ________________________________________________________________________________________ 159 LESÕES MENISCAIS __________________________________________________________________________ 162 sdas C MECANISMOS DE LESÃO _______________________________________________________________________ 164 MORFOLOGIA DAS LESÕES ______________________________________________________________________ 168 SINTOMAS _______________________________________________________________________________ 169 DIAGNÓSTICO _____________________________________________________________________________ 170 TRATAMENTO _____________________________________________________________________________ 172 Tratamento Não Cirúrgico ___________________________________________________________________ 173 Tratamento Cirúrgico ______________________________________________________________________ 174 RISCOS E COMPLICAÇÕES ______________________________________________________________________ 178 Tempo Estimado de Tratamento ________________________________________________________________ 178 Estágio Inicial ___________________________________________________________________________ 180 Estágio Intermediário ______________________________________________________________________ 181 Estágio Avançado _________________________________________________________________________ 182 Retorno ao esporte ________________________________________________________________________ 183 CAPÍTULO 09 ______________________________________________________________________________________ 185 LIGAMENTO COLATERAL LATERAL __________________________________________________________________________ 185 Mecanismos de Lesão _______________________________________________________________________ 187 DIAGNÓSTICO _____________________________________________________________________________ 190 TRATAMENTO _____________________________________________________________________________ 195 Tratamento Não Cirúrgico ___________________________________________________________________ 195 Tratamento Cirúrgico ______________________________________________________________________ 198 Riscos e Complicações ______________________________________________________________________ 199 Tempo Estimado de Tratamento ________________________________________________________________ 199 Retorno ao Esporte ________________________________________________________________________ 201 CAPÍTULO 10 ______________________________________________________________________________________ 203 LIGAMENTO COLATERAL MEDIAL __________________________________________________________________________ 203 Mecanismos de Lesão _______________________________________________________________________ 205 DIAGNÓSTICO _____________________________________________________________________________ 211 Tratamento _____________________________________________________________________________ 213 Tratamento não Cirúrgico ___________________________________________________________________ 214 Tratamento Cirúrgico ______________________________________________________________________ 214 Riscos e Complicações ______________________________________________________________________ 216 Tempo Estimado de Tratamento ________________________________________________________________ 216 Estágio Inicial ___________________________________________________________________________ 217 Estágio Intermediário ______________________________________________________________________ 218 Estágio Avançado _________________________________________________________________________ 220 sdas D Retorno ao Esporte ________________________________________________________________________ 221 CAPÍTULO 11 ______________________________________________________________________________________ 224 TENDÃO PATELAR ___________________________________________________________________________________ 224 Mecanismos de Lesão _______________________________________________________________________ 225 DIAGNÓSTICO _____________________________________________________________________________ 230 Tratamento _____________________________________________________________________________ 232 Tratamento não Cirúrgico ___________________________________________________________________ 232 Tratamento Cirúrgico ______________________________________________________________________ 233 Riscos e Complicações ______________________________________________________________________ 234 Tempo Estimado de Tratamento ________________________________________________________________ 234 Estágio Inicial ___________________________________________________________________________ 235 Estágio Intermediário ______________________________________________________________________ 236 Estágio Avançado _________________________________________________________________________ 238 Retorno ao Esporte ________________________________________________________________________ 239 CAPÍTULO 12 ______________________________________________________________________________________ 241 Prevenção ou Tentativa DE Prevenir _____________________________________________________________________ 241 ConsideraçõesFinais _______________________________________________________________________________ 246 REFERÊNCIAS ______________________________________________________________________________________ 248 5 Introdução A obra em questão tem a proposta de trazer uma visão teórica, prática e abrangente do que você, como profissional da reabilitação e treinamento, fisioterapeuta, profissional de educação física, estudante, precisa saber para poder entender, diagnosticar e gerenciar as lesões mais comuns no esporte. O objetivo é ajudá-lo a responder às perguntas comuns que ocorrem em relação a lesões esportivas: 'O que eu faço agora?'; 'Posso continuar me exercitando?'; 'Devo descansar completamente?', 'Quanto tempo dura o tratamento?', 'Quais técnicas e exercícios devo usar?'. Este e-book descreve os benefícios e riscos dos métodos comuns de reabilitação e treinamento e suas indicações e contraindicações em relação a lesões esportivas da articulação do joelho. 6 Importante! Como indivíduo, o gerenciamento de sua lesão, a reabilitação, prescrição de exercícios e o treinamento específico para reabilitação devem sempre ser orientados por profissionais e especialistas que conhecem suas circunstâncias, pontos fortes e fracos e os detalhes de sua lesão. No entanto, aprendendo mais, você pode assumir mais responsabilidades pelo seu processo de recuperação e ter discussões mais proveitosas com especialistas, mesmo se você não tiver formação. Isso é particularmente importante, uma vez que a medicina esportiva não faz parte do currículo da maioria das graduações, portanto, muitos indivíduos podem não ter os conhecimentos específicos necessários. Médicos, Fisioterapeutas, Profissionais de Educação Física, Nutricionista e Psicólogos, têm responsabilidade com seus pacientes, alunos e suas equipes esportivas, pois, más condutas no processo de reabilitação e treinamento podem causar atraso na recuperação. Todos precisam entender que processo depende do aval da equipe multidisciplinar para que os indivíduos e atletas para o retorno ao esporte, muitas vezes podem estar aptos para treinar, mas não para jogar. Mesmo que você sofra pressões e o atleta precise produzir resultados sob seu contrato e sua equipe precise muito, voltar ao campo esportivo muito cedo 7 após uma lesão não é, na maioria dos casos, benéfico para ninguém, uma antecipação do processo pode desencadear problemas futuros muito maiores. Infelizmente, muitas vezes é proclamado na mídia que os atletas continuam jogando apesar dos ferimentos, mas na maioria dos casos um atleta lesionado não pode ter o melhor desempenho possível e as consequências a longo prazo podem ser terríveis. Na minha prática, frequentemente vejo atletas com 20 anos ou menos que se aposentam do esporte profissional devido a lesões e processos de recuperação não respeitados. Exercício e esporte são, no entanto, importantes para todos nós, sejam profissionais ou atletas recreativos. A primeira parte deste livro descreve esportes que podem ser recomendados como exercício 'sob prescrição', tanto para atletas de elite quanto para aqueles que sofrem de lesões do joelho por qualquer fator que seja. Os níveis de atividade física caíram drasticamente nas escolas e nas rotinas diárias de muitas pessoas, levando a um aumento da incidência de obesidade e baixos níveis de condicionamento físico, mesmo em 8 indivíduos jovens e saudáveis, assim aumentando a incidência de lesões na articulação do joelho. Para eles, o exercício pode fazer a diferença entre uma vida saudável e próspera e o desenvolvimento de doenças e a morte precoce. Dependendo de onde você está nessa escala e de qual nível básico de desempenho você tem, o exercício pode fazer uma enorme diferença na sua qualidade de vida. No entanto, muita intensidade ou uma progressão muito rápida na reabilitação e no treinamento, ambições irreais ou conselhos inadequados podem causar lesões ou outras complicações. Este livro não aborda exercícios sobre prescrição de outras doenças além de lesões da articulação do joelho, mais especificamente sobre: Ligamento Cruzado Anterior e Posterior, Meniscos, Ligamentos Colaterais Medial e Lateral e Tendão Patelar, um olhar geral sobre cada lesão e um olhar mais aprofundado sobre o processo de reabilitação e treinamento até o retorno ao esporte. 9 A abordagem é orientada a problemas e resume o entendimento atual das melhores práticas. Para cada lesão, começo com a sua localização no corpo e com os sintomas e sinais associados. Cada página leva você a um consenso e controvérsias na compreensão do mecanismo da lesão; fornece orientações sobre como chegar a um diagnóstico; explica como essa lesão é examinada clinicamente; descreve o valor de investigações comuns; e orienta você na reabilitação no caminho de volta ao desempenho esportivo total. Procuramos ao máximo manter alguns parâmetros para todas as lesões abordadas com os seguintes aspectos: Sintomas e localização, Mecanismo da lesão, Sinais clínicos e testes clínicos apropriados, Gerenciamento da lesão, Investigações e considerações relevantes, Referências e perguntas específicas, Incidências das lesões no esporte especifico, Exercício sobre prescrição e princípios de reabilitação, avaliação física funcional, Retorno ao esporte e prognóstico. Exames clínicos básicos, específicos para vários diagnósticos e testes, são discutidos para o joelho. Para cada diagnóstico, existem avisos com referência a diagnósticos diferenciais importantes - possíveis lesões 10 alternativas a serem consideradas e testadas, para evitar diagnóstico incorreto e prescrição de tratamento que agravará a lesão. Abordo princípios de reabilitação, treinamento específico para diferentes lesões da articulação do joelho e formas de planejar e monitorar os resultados antes de retomar os níveis de atividade antes da lesão. Ramiro Marques Inchauspe 11 CAPÍTULO 01 Lesões no Esporte Embora os benefícios de qualquer forma de exercício físico superem os riscos, em algum momento a maioria das pessoas experimentará algum tipo de lesão, variando de pequenas contraturas, estirões e entorses a lesões mais graves, como luxações, rupturas e fraturas. Muitas lesões leves podem ser tratadas de maneira simples e eficaz, enquanto lesões mais graves devem exigir ajuda profissional e de uma equipe multidisciplinar. Aprender a reconhecer os sinais e sintomas e identificar as lesões o guiará para realizar o tratamento mais apropriado. Uma lesão esportiva é qualquer forma de estresse exercida sobre o seu corpo durante a atividade atlética que o impede de funcionar ao máximo e requer um período de recuperação para permitir a recuperação 12 do corpo. Geralmente afeta o sistema musculoesquelético, ossos, músculos, tendões e cartilagens e geralmente resulta em dor, inchaço, sensibilidade e incapacidade de usar ou colocar peso na área afetada. As lesões esportivas podem ser divididas em dois tipos: lesões agudas ou "traumáticas", que ocorrem como resultado de um impacto específico ou evento traumático; e lesões crônicas ou de "uso excessivo", que resultam do desgaste do corpo e ocorrem por um longo período de tempo. As lesões agudas incluem fraturas ósseas, distensões de músculos e tendões, entorses de ligamentos e hematomas. Eles são comuns entre jogadores de esportes de contato ou colisão, como futebol, basquete, handebol e lutas. Lesões crônicas incluem tendinopatias, bursite e fraturas por estresse; estas são mais comuns entre os participantes em esportes de resistência, como corrida de longa distância, e em pessoas que praticam esportes individuais que envolvem movimentos repetitivos, como natação, tênis, ginástica e levantamento de peso. Existem vários fatores de riscocomuns que podem levar a lesões esportivas, desde a repetição contínua de uma ação usando uma técnica 13 inadequada até o uso de calçados inadequados. Enquanto os acidentes acontecem, existem várias maneiras de reduzir o risco de sofrer uma lesão. Uma 'lesão esportiva' pode ser definida como uma lesão que ocorre durante atividades ou exercícios esportivos. Embora possamos identificar o mecanismo de uma lesão e seu correlato ou diagnóstico anatômico, suas consequências podem ser muito diferentes para cada atleta. Se você é um jogador profissional, pode haver perda de ganhos e o risco de perder seu contrato e até sua carreira. Se você é gerente de clube, pode significar perder um jogador importante, talvez em um momento crucial, e os custos financeiros de um jogador substituto. Se você é médico da equipe, fisioterapeuta, preparador físico ou treinador, desejará saber como a lesão afetará seus planos para os programas de treinamento físico e dietético dos jogadores. Se você é o médico responsável, isso significa convencer não apenas o jogador, mas também os demais funcionários do clube de que você tem a situação sob controle. As apostas são altas. Se um jogador voltar cedo demais, corre o risco de recaída ou mais lesões, mas se for retido, poderá pedir uma segunda opinião. 14 Para atletas mais jovens que tentam se estabelecer em seu esporte, uma lesão pode resultar em grandes conflitos relacionados à família. Pais ambiciosos ou superprotetores, e a pressão de treinadores e companheiros de equipe, podem causar estresse a um jovem atleta que não é capaz de participar de seu esporte. Para atletas recreativos, lesões podem significar perda de atividades físicas e sociais regulares e problemas com a saúde geral. A importância do esporte e do exercício, e as consequências de uma lesão, devem ser enfatizadas por quem fornece tratamento e aconselhamento. Eles devem apreciar e entender, e fornecer conselhos baseados em evidências. Dizer a um jogador de tênis ou golfe que precisa parar de jogar por causa de uma lesão deve ser considerado um conselho completo. Muitas vezes, existem várias opções que devem ser consideradas durante a recuperação, mesmo de uma lesão muito grave. O descanso completo é motivador e pode ser desaconselhável devido ao efeito prejudicial que o descanso tem sobre a força do tecido elástico e a aptidão geral, e as consequências potencialmente fatais desse descanso para alguns pacientes. 15 Um jogador de 40 anos, treinando regularmente, sofrendo de um joelho dolorido devido a uma ruptura do menisco, pode morrer em decorrência da inatividade causada pela lesão. Com a artroscopia, esse joelho poderia ser operado e fixado em quinze minutos, permitindo que ele jogasse golfe uma ou duas semanas depois; seria uma pena e muito errado dizer para ele parar de jogar golfe. Para os médicos, as chaves do sucesso são: consultar critérios baseados em evidências para a definição e diagnóstico de uma lesão; usando técnicas confiáveis de exame; considerando o nível de antecedentes e aptidão do paciente; e estar preparado para admitir falta de conhecimento e encaminhar o paciente a alguém que possa saber mais. Eles devem reconhecer as mudanças e desenvolvimentos que estão ocorrendo na medicina esportiva e as diferenças culturais que existem no gerenciamento dessas lesões. Os médicos não devem considerar que as lesões esportivas são auto infligidas e pedir aos pacientes que "parem de fazer essas coisas tolas". Nas sociedades ameaçadas pela obesidade, a osteoporose e um declínio geral no condicionamento físico devido à inatividade, o exercício e o esporte são meios potentes de manter a população em forma e saudável. 16 A maioria das lesões esportivas é específica do esporte e do nível de participação: por exemplo, 70% dos corredores interessados serão afetados por uma lesão nos membros inferiores durante a carreira, geralmente por uso excessivo; jogadores de futebol têm um alto risco de lesões traumáticas no tornozelo ou no joelho devido a carrinhos. A incidência de lesões no futebol é de 15 a 20 lesões por mil horas de atividade, com o maior risco durante os jogos. Os números são um pouco mais altos para o rúgbi: entre 20 e 40 lesões por mil horas de atividade e com maiores riscos de lesões nos membros superiores, em particular os da articulação do ombro. O golfe é um esporte de baixo risco, mas uma lesão no joelho ou no ombro pode afetar o desempenho e a capacidade de percorrer um percurso de cinco quilômetros. Dentro de qualquer esporte em particular, diferentes posições e funções trazem riscos diferentes. Por exemplo, no basquete, um jogador rápido pode ter dificuldade para jogar com uma pequena lesão no joelho na perna de apoio ou um defensor pode ter dificuldade por uma pequena lesão no ombro, enquanto um atleta de baseball pode ter um bom desempenho com essas duas lesões. 17 Todos nós, atletas, administradores e equipe multidisciplinar, devemos educar-nos sobre os princípios da reabilitação e treinamento sobre prescrição e diferentes métodos de treinamento e melhorar nossa compreensão das demandas e do impacto infligido por diferentes esportes e função. Assim, os atletas lesionados podem ter um programa de recuperação individualizado, com base nos conceitos atuais e nas evidências. 18 CAPÍTULO 02 Diagnóstico Os princípios do gerenciamento de lesões dependem da premissa de que sabemos o que estamos tratando e a função que devemos buscar. O diagnóstico é a chave do sucesso. Devemos diferenciar lesões como 'estiramentos musculares, 'tensão muscular' e 'contusões' dos diagnósticos correspondentes: 'ruptura do ligamento cruzado anterior', 'ruptura muscular de grau II' ou 'hematoma intramuscular'. Em alguns casos, o diagnóstico é óbvio a partir da história, sintomas, sinais e testes clínicos da pessoa; em outros, será necessária radiografia, ressonância magnética ou uma segunda opinião. Mesmo quando o diagnóstico é claro, as opiniões podem variar quanto ao tratamento mais apropriado. Existem consensos e controvérsias que mudam com o tempo e dependem de rotinas, habilidades e recursos. Por exemplo, uma ruptura 19 do ligamento cruzado anterior do joelho pode ser tratada de maneira conservadora ou cirúrgica, dependendo do paciente e de outros fatores. Com o acesso rápido e aprimorado às informações oferecidas pela Internet, muitos pacientes fazem a lição de casa antes de chegarem à clínica esportiva, embora o material que encontrem precise de uma interpretação cuidadosa. Imagem: Teste joelho. Os resultados de estudos podem ser interpretados de diferentes maneiras, dependendo da qualidade do estudo e dos pacientes estudados. Por exemplo, pacientes não ativos que entorse o joelho e 20 rompam o ligamento cruzado anterior se saem muito bem sem reconstrução cirúrgica, enquanto a carreira de um jogador profissional de futebol seria encerrada sem cirurgia. Precisamos saber a melhor forma de ler e entender a literatura para chegar a uma decisão informada em benefício do atleta lesionado. Com a técnica disponível hoje para os profissionais de saúde, é fácil esquecer a importância das habilidades práticas. Sintomas e sinais clínicos, combinados com uma história completa do paciente, podem, na maioria dos casos, dar uma indicação clara do diagnóstico correto, desde que o profissional saiba como testar e o que perguntar. As perguntas principais geralmente não são bem-sucedidas: simplesmente perguntar ao indivíduo lesionado para descrever o que aconteceu e seus sintomas geralmente é mais proveitoso. Inspeção completa e palpação e testes de mobilidade e resistência passivos e ativos da função muscular dinâmica, comparando os lados saudáveis e lesionados, também são muito importantes. Na práticaclínica geral, o exame de uma lesão no joelho não pode, por razões práticas, levar mais de dez a quinze minutos, o que às vezes é 21 inadequado. Em uma clínica de lesões esportivas como a minha, geralmente permitimos 30 a 45 minutos para a consulta inicial, incluindo o exame clínico, porém, você não deve pensar no tempo e sim no resultado. Elimine padrões de atendimentos convencionais, como número de sessões e tempo de recuperação, com certeza os piores prognósticos para lesão, pense em dar o seu 100% em cada atendimento e trabalhe para que o seu paciente também de os seus 100%, assim os números serão menos importantes. A principal e mais crucial pergunta a qualquer pessoa lesionada é: você pode demonstrar e descrever, à sua maneira, o que aconteceu? Muitos indivíduos serão capazes de demonstrar e explicar com detalhes que fornecem o diagnóstico como se fosse de um livro didático. Antes de correr para realizar testes específicos detalhados, o profissional deve avaliar a as funções, procurar sinais de dor ou desconforto e lembrar que a maioria das lesões musculoesqueléticas em um membro ou articulação produz dor, reduzirá a amplitude de movimento e controle do atleta, o que poderia causar atrofia muscular. Pergunte se o atleta tomou analgésicos, o que pode obscurecer suas 22 descobertas, e realize testes funcionais básicos na parte relevante do corpo. A inspeção e a palpação da área lesionada podem identificar sinais de inflamação, como edema (inchaço ao redor da articulação), derrame (líquido dentro da articulação), sensibilidade, aumento da temperatura, vermelhidão, comprometimento da função ou hematomas. Deixe o individuo lesionado demonstrar os movimentos que causam o desconforto e dor. Os testes de resistência muscular podem identificar fraqueza ou dor e devem ser feitos manualmente em todos os músculos relevantes, comparando os lados lesionados e não lesionados. Testes de frouxidão articular e testes específicos de lesões são cruciais para o diagnóstico de muitas das lesões mais comuns. Nem sempre são fáceis de executar e exigem anos de treinamento. Pergunte sobre os aspectos “invisíveis”, alimentação, recuperação, sono e principalmente a mente, todos esses fatores devem estar bem alinhados ao programa de reabilitação e treinamento. 23 A obra em questão é a primeira edição do livro Reabilitação das Lesões no Joelho, sendo fruto do sucesso de uma edição piloto que demonstrou a grande procura por parte dos profissionais da área da reabilitação e treinamento, deixando muito claro a necessidade de fazer uma obra mais completa com o intuito de preencher e sanar dúvidas sobre a bandagem funcional elástica e rígida, na reabilitação e no treinamento. 24 CAPÍTULO 03 O Joelho As lesões de joelho são as causas mais frequentes de incapacidade de pessoas que praticam a atividade esportiva. Alguns fatores como estrutura biomecânica, idade, nível de atividade e fenótipo podem ser responsáveis pela predisposição de lesões. O joelho é suscetível a lesões traumáticas por ser muito submetido a esforços, já que está localizado entre um braço de força e um braço de alavanca, uma tíbia e um fêmur, além de não ser protegido por tecido adiposo e tecido muscular. Esta falta de proteção contribui para uma alta incidência de lesões na articulação do joelho. O joelho é uma articulação intermediária do membro inferior, instável no ponto de vista ósseo, sendo o sistema ligamentar e muscular dos 25 principais estabilizadores, localizado entre dois braços de alavanca longos, o fêmur e a tíbia. É uma articulação que combina grande flexibilidade com pouca estabilidade. A articulação do joelho permite a mobilidade e estabilidade ao longo e incentivando o membro inferior para elevar e abaixar o corpo ou mover o pé no espaço. Atua no suporte de carga quando o indivíduo está em pé associado ao quadril e tornozelo. Em decorrência de sua estrutura anatômica, o joelho é uma das articulações mais lesionadas, isso ocorre pela sua grande exposição às forças externas e pelas demandas de funções que estão sujeitas. Além disso, é considerada uma articulação articulada, porém é mais complexa porque, além dos movimentos de flexão e extensão, possui um componente rotacional. A complexidade desta articulação envolve três ossos, o fêmur, a tíbia e a patela, onde os ossos femorais são articulados com a tíbia e a face patelar recebe a patela quando o membro está fletido. O joelho possui um grau de liberdade, uma extensão/flexão que aproxima ou afasta o membro de sua raiz, e um grau de acessório, mostra uma rotação sobre o eixo 26 longitudinal da perna, que ocorre quando uma articulação está fletida. Assim, quando o joelho está em extensão máxima possui grande estabilidade, sendo mais vulnerável a fraturas e rupturas ligamentares. Por outro lado, quando se encontra na flexão adquire grande mobilidade, o que é importante na corrida e na orientação de pé em relação às irregularidades do solo. Nesta posição, torna-se mais suscetível às lesões ligamentares e fiscais. Imagem: Vista lateral e anterior do joelho. 27 O joelho faz parte de uma cadeia cinética que apresenta relação direta com movimentos e forças que ocorrem no pé, tornozelo e perna. Essas forças passam pelo joelho e são transmitidas ao quadril, pelve e coluna. Como as forças anormais que não podem ser distribuídas são absorvidas pelos tecidos ou que fazem com que a articulação se torne suscetível às lesões causadas pela absorção. A amplitude de movimento do joelho tem relação direta com a posição do quadril. Na extensão ativa, poucas vezes ou o joelho ultrapassa a posição de 0 graus, e um movimento do músculo reto anterior da coxa como extensor do joelho aumenta com a extensão do quadril. Por outro lado, uma flexão ativa atinge 140 graus com o quadril flexionado e apenas 120 graus com o quadril estendido, devido à diminuição da elasticidade dos isquiotibiais. A articulação do joelho satisfaz os requisitos de uma articulação de sustentação de peso, permitindo movimento livre em apenas um plano, combinado com estabilidade em extensão. Limites, estabilidade e mobilidade são funções incompatíveis de uma articulação, com a maioria das articulações uma se sacrificando em favor de outra. Entretanto, no joelho, como as funções são executadas pela interação de ligamentos, 28 músculos e movimentos complexos de deslizamento e rolamentos nas superfícies articulares, no entanto, o grau pequeno de encaixe das superfícies articulares que é essencial para grande mobilidade, torna-se propenso a entorse e luxações. Imagem: Anatomia do Joelho. 29 Em virtude da pouca estabilidade do joelho, devido a sua formação anatômica, ele tem suas funções dependentes de estruturas musculares e ligamentares, que lhe conferem a estabilização necessária para a realização dos movimentos. O joelho é uma das articulações mais importantes do corpo, suportada e mantida totalmente por músculos e ligamentos, sem nenhuma resistência óssea exposta a dores e estresses severos, tornando-a, uma das articulações mais frequentemente lesadas do corpo. A superfície distal do fêmur é formada pelos cômodos femorais que têm forma convexa e são achatados anteriormente para aumentar a superfície de contato e a transmissão de peso. A superfície articular do tubo medial é maior do que a lateral, porém, a lateral é mais larga. Além disso, o sulco anterior entre os côndilos tem como função acomodar uma patela. A patela é um osso pequeno localizado dentro do tendão do quadríceps, apresenta sua face posterior articulada à tróclea femoral. A patela apresenta duas faces separadas por uma crista saliente que corresponde à vertente da tróclea femoral, sendo fixada aos côndilos femorais e tibiais através do retináculo laterale medias do tendão do quadríceps, e ligando ou quadríceps à tíbia após o ligamento patelar 30 localizado na sua própria parte infra-patelar, tem como principais funções: aumentar a vantagem mecânica do músculo quadríceps e proteger a articulação do joelho. O aumento da vantagem mecânica é o alcance do braço que fica a uma distância perpendicular entre a linha de ação do músculo e o centro de articulação. Assim, uma linha de ação do músculo quadríceps fica mais longe, colocando a patela entre o tendão do músculo quadríceps e o fêmur. Por essa razão, o braço de movimento é aumentado, permitindo o músculo com maior força angular. Uma função normal da patela é deslizar na cavidade troclear ritmicamente, melhorando o sistema de alavanca do quadríceps muscular, mas, para realizar essa atividade, a patela deve resistir ao cisalhamento e as forças compressivas localizadas sobre as articulações. Durante a flexão do joelho, a patela desliza caudalmente ao longo da linha intercondiliar, com uma extensão ocorrendo deslizamento no sentido craniano. Uma restrição de movimento patelar interfere na amplitude de movimento da articulação. Nos primeiros 20 graus de flexão de joelho, não há contato entre patela e fêmur, então o terço distal da patela faz contato entre 20 e 31 30 graus. Aos 45 graus ou no nível médio da patela contido com fêmur e em 90 graus a porção proximal da patela faz contato. As articulações femuropatelares têm dois mecanismos complexos para aliviar as forças transmitidas através dela. Reduzir ao aumentar a flexão, o braço de alavanca extensor é associado à virtude do eixo de rotação da articulação do joelho movido posteriormente, na faixa de 30 a 70 graus de flexão. Dentro dessa faixa de 30 a 70, a patela é responsável pela transmissão da força do quadríceps ao fêmur. A estabilidade patelar dinâmica é promovida pela tensão do vasto medial com ênfase localizada sobre as fibras oblíquas desse músculo. Além disso, esse músculo confere um grau de estabilidade estática através de sua inserção e atua com outras estruturas de tecidos moles sobre o lado medial do joelho para auxiliar e fornecer um grau de estabilidade estática. Sendo assim, a função da articulação femuropatelar está ligada ao movimento da articulação tibiofemoral e a função total do joelho inclui relação dinâmica entre todos os componentes funcionais. Os músculos e as estruturas ligamentares coordenam e direcionam os movimentos complexos da articulação tibiofemoral. A articulação 32 tibiofemoral apresenta-se como uma dobradiça que roda, desliza e rola, ações essas que são necessárias para seu funcionamento normal. Com um movimento espiral a tíbia rotaciona sobre o côndilo medial do fêmur durante a flexão e extensão, onde a tíbia se apresenta como um eixo que permite essa rotação a qual é necessária, pois, permite desgaste normal das superfícies articulares. A superfície articular do côndilo medial é mais longa que a superfície articular lateral, e a superfície articular tibial medial é maior que a superfície tibial lateral. Essa assimetria entre os compartimentos da articulação tibiofemoral é um fator que atua no mecanismo de trava ou parafuso ou de bloqueio do joelho. Tal mecanismo representa a rotação automática que ocorre no joelho durante os 30 graus finais de sua extensão. O alinhamento do joelho e a absorção da carga axial são realizados pelo sistema ósseo. O terço distal do fêmur, para alinhar a cabeça femoral com o centro da articulação do joelho, forma um ângulo em valgo e o terço proximal da tíbia apresenta uma angulação em varo, atuando como barra fixa submetida a uma compressão axial. Além disso, a articulação femuropatela deve ser paralela ao solo para evitar a acentuação de varo da tíbia ou valgo do fêmur, pode-se ainda dizer, que tanto o fêmur quanto a tíbia, próximo 33 ao joelho apresenta grande massa de osso esponjoso com função de absorção e distribuição de carga. Eixos articulares - As articulações apresentam dois eixos, o primeiro é o eixo fisiológico (anatômico) que apresenta um ângulo obtuso de 170 graus a 175 graus em relação ao prolongamento do eixo da perna, e o segundo é o eixo mecânico, que representa uma reta alinhada no centro das articulações do quadril, joelho e tornozelo. Ambos os eixos se confundem, porém, na coxa o eixo mecânico forma um ângulo de 6 graus com o eixo do fêmur que apresenta uma angulação de 9 graus em relação ao eixo horizontal. Os desvios significativos do eixo mecânico podem estar presentes nas deformidades de joelho em varo ou valgo. 34 Imagem: Eixos articulares. A articulação do joelho permite a flexão e extensão no plano sagital com valor normal de 0 a 140 graus e algum grau de rotação interna e externa quando a articulação está flexionada, não sendo permitida qualquer rotação quando a articulação está em extensão completa. Assim, as estruturas que não permitem essa rotação são a configuração óssea, a tensão dos ligamentos de sustentação e os meniscos. Porém, ao ser iniciada a flexão, a cápsula e os ligamentos colaterais e cruzados ficam menos tensos, permitindo movimentos rotatórios que progridem crescentemente, à medida que a flexão evolui de 0 a 90 graus. A rotação 35 varia de 5 a 25 graus, sendo que a rotação interna sempre é maior que a externa. O movimento complexo de flexoextensão corresponde a uma combinação de oscilação e deslizamento. O movimento oscilatório ocorre nos primeiros 20o de flexão e após o movimento se torna exclusivamente de deslizamento. O movimento oscilatório nos primeiros 20 graus atende melhor as exigências de estabilidade do joelho na posição relativamente estendida, enquanto o movimento de deslizamento, à medida que a articulação “se desdobra”, permite maior movimento para a rotação, durante atividade em cadeia cinética aberta, a tíbia rodará lateralmente sobre o fêmur que se encontra relativamente fixo, e durante atividade em cadeia cinética fechada o fêmur rodará medialmente sobre a tíbia relativamente fixa. Capsula Articular - Corresponde a uma estrutura fibrosa que contorna a epífise distal do fêmur e a epífise proximal da tíbia mantendo-as em contato e formando as paredes não-ósseas da articulação. Sua camada mais profunda é recoberta pela membrana sinovial. 36 Imagem: Capsula Articular. Os ligamentos juntamente com a cápsula articular unem firmemente os ossos para formar a articulação e servem também para manter os ossos em oposição influenciando o arco de movimentação articular, não há uma cápsula fibrosa independente contínua unindo a tíbia e o fêmur, há apenas fibras capsulares verdadeiras correndo entre os ossos. A fixação da cápsula no fêmur é deficiente anteriormente, onde ela se funde com os tendões fundidos do quadríceps. Sua fixação à tíbia é mais completa, porém, é 37 deficiente apenas na região da tuberosidade tibial, a qual dá fixação ao ligamento patelar. Membrana sinovial – É um tecido delgado que, junto com a cartilagem hialina, envolve toda a cavidade sinovial da articulação. A cartilagem hialina é nutrida pelo líquido sinovial que tem origem no exsudato de capilares sinoviais e tem como propriedades principais à viscosidade e lubrificação da articulação, ela participa da articulação em pelo menos três aspectos fisiológicos: provê um revestimento de baixa fricção e produz o ácido hialurônico, que é o componente mucínio do líquido sinovial; transporta nutrientes necessários para o interior do espaço articular removendo as perdas metabólicas através de seu sistema capilar linfático e tem um importante papel na manutenção da estabilidade articular. Líquido sinovial - É um ultrafiltrado do sangue, no qual é adicionado o ácido hialurônico que é secretado pelos sinoviócitos, conferindo viscosidade ao líquido atuando como lubrificante articularem condições normais, a quantidade de líquido sinovial é escassa. Contudo, os movimentos de flexão/extensão asseguram a limpeza permanente das superfícies articulares pela sinóvia, o que contribui para a boa nutrição da cartilagem e, principalmente, para a lubrificação das zonas de contato. 38 O suprimento sanguíneo do joelho se da por meio de uma anastomose genicular em um plexo acima e abaixo da patela e um plexo profundo sobre a cápsula articular e as superfícies condilianas adjacente do fêmur e tíbia. Além disso, a drenagem venosa da articulação do joelho ocorre por veias correspondentes que acompanham as artérias. O sistema linfático do joelho drena a linfa para os linfonodos poplíteos inguinais. A estase venosa é importante fator que contribui nas alterações degenerativas do joelho. O nervo femoral, obturador e o nervo ciático, este com menor contribuição, suprem principalmente a pele, a membrana sinovial, a cápsula, os ligamentos, os músculos e as bolsas. As sensações primárias e de propriocepção, e a capacidade de transportar a dor são realizados pelos terminais nervosos somáticos mielinizados e não mielinizados. 39 Músculos Os músculos são fundamentais para o movimento do joelho. O grupo muscular do quadríceps é o principal extensor do joelho, auxiliado em cadeia cinética fechada pelos isquiotibiais e sóleo. Os isquiotibiais são os flexores primários do joelho, auxiliados pelo músculo gastrocnêmio, os músculos que passam pela articulação do joelho podem ser divididos nos que atravessam a articulação anterior e posteriormente. Os músculos anteriores são: o sartório que atua na flexão de joelho e promove a rotação medial da perna; quadríceps femoral que é composto pelo reto femoral, vasto medial, vasto lateral e vasto intermédio, que atuam na extensão do joelho e músculo articular do joelho que tem função de puxar a cápsula durante a movimentação do joelho para evitar seu pinçamento entre os ossos. Os músculos posteriores são: o bíceps femoral que atua na flexão do joelho; semitendíneo, semimembranáceo, grácil e poplíteo que promovem a flexão de joelho e a rotação medial da perna; tensor da fáscia lata que atua na extensão do joelho enquanto o trato se encontrar anterior 40 ao côndilo femoral lateral (10 a 15 graus de flexão), após o trato passar para a posição posterior ao côndilo femoral lateral (além de 10 a 15 graus) torna-se um flexor da articulação do joelho; gastrocnêmio que atua na flexão de joelho e com o pé apoiado atua como extensor do joelho e plantar que auxilia durante a flexão do joelho. Imagem: Musculatura do quadril e perna. O quadríceps, principal músculo extensor do joelho, é inervado predominantemente pelo nervo femoral – raízes nervosas de L2, L3, L4, e 41 os isquiotibiais principais extensores são inervados pelo nervo ciático e seus ramos tibial e fíbular, no entanto, a cartilagem articular não possui nenhum suprimento nervoso direto. O quadríceps é três vezes mais potente que seu antagonista devido à necessidade da sua intervenção enérgica durante a flexão da perna apoiada ao solo. Além disso, o vasto medial é mais potente que o lateral para se opor à tendência que a patela tem de luxar-se para fora. E ainda, o reto anterior da coxa, devido ao fato de ser um músculo biarticular, tem sua eficácia como extensor do joelho dependente do posicionamento do quadril. Dessa forma, o tensionamento dos isquiotibiais pela flexão de quadril aumenta a sua eficácia como flexor do joelho, e que durante a extensão do quadril os isquiotibiais vão perdendo a sua eficácia, sendo auxiliados pelos músculos monoarticulares do joelho, que conservam a mesma eficácia independentemente da posição do quadril. 42 Biomecânica Movimentos Artrocinemáticos e Osteocinemáticos Ciência relacionada com a descrição das posições e os movimentos do corpo no espaço, permitindo uma descrição exata destas diversas posições corporais. A utilização das análises cinemáticas permitiu evoluções, tanto dentro do entendimento do funcionamento do movimento humano dentro de várias condições, como possibilitou a proposição de protocolos de reabilitação e treinamento. Cinemática: Descrição do movimento sem considerar as forças ou torque que atuam. Osteocinemática: Descreve os movimentos dos ossos ao redor das articulações (ex: flexão do ombro, extensão do joelho, abdução do quadril.) Artrocinemática: Descreve os movimentos que ocorrem nas superfícies articulares (ex: rolamento, deslizamento e rotação). 43 Cinética: Descreve o movimento do corpo em relação ao tempo, deslocamento, velocidade e aceleração. Imagem: Fluxograma. No fluxograma acima, você pode compreender melhor todas as áreas da Cinésiologia e biomecânica e as relações existentes entre elas. Variáveis Cinemáticas Consiste em associar cada movimento a uma função, que indica a cada momento qual é a posição móvel, medida a partir de um determinado sistema de referência. Segundo Rasch, é a geometria do movimento, que inclui deslocamento, velocidade e aceleração, 44 independentemente das forças que atuam em um corpo. O esqueleto humano é um sistema de alavancas, uma vez que uma alavanca pode ter qualquer forma, cada osso longo do corpo pode ser visualizado como uma barra rígida que transmite e modifica a força e o movimento. Uma análise cinemática inclui o tipo de movimento, a direção do movimento e a quantidade de movimento que ocorre. A cinemática refere-se a uma descrição geométrica do movimento em termos de deslocamento, velocidade e aceleração contra o tempo, sem lidar com as fontes do movimento, ou seja, as forças que produzem o movimento. Imagem: Movimentos Cinemáticos. 45 Artrocinemática: Um corpo pode se mover de duas maneiras diferentes, livre através do espaço ou em contato com outros corpos. Esse contato pode ser alternativo (como na marcha humana) ou permanente (como duas superfícies articulares juntas). Nas articulações sinoviais ocorre esse tipo de movimento translacional. A Artrocinemática é parte da biomecânica, que lida com mecanismos de repouso e movimentos mais internos (intrínsecos) das articulações, ou seja, que ocorrem dentro da articulação, chamados de micro movimentos. Estes não podem ser apreciados sem considerar o movimento dos ossos, ou as forças de produção desse movimento. Osteocinemática: Assim como a Artrocinemática lida com micromovimentos, a Osteocinemática lida com macromovimentos. É a parte da biomecânica que estuda o deslocamento dos ossos no espaço, independentemente dos músculos que se contraem para alcançá-lo. São os movimentos vistos pela simples observação, sem levar em consideração o movimento que ocorre na articulação. Do ponto de vista biomecânico, é importante levar em consideração a morfologia das juntas para avaliar o desempenho físico, em termos de efetividade, para poder realizar 46 movimento, efetividade, no menor tempo possível, além de eficiência, menor gasto de energia Um aspecto importante a considerar são as chamadas posições básicas em relação a uma articulação. As seguintes posições são consideradas: A) POSIÇÃO ZERO, conhecida como posição anatômica. B) POSIÇÃO DE DESCANSO, aqui a cápsula articular está totalmente distendida e, portanto, o espaço intra-articular tem seu volume máximo, pois as superfícies articulares têm menos contato. C) POSIÇÃO DE BLOQUEIO, esta posição é caracterizada por haver maior congruência articular, ou seja, contato máximo entre as superfícies articulares. 47 Imagem: Movimentos artrocinemáticos e Osteocinemáticos. A Osteocinemática não leva em consideração os movimentos das superfícies articulares, descreve os planos e eixos nos quais o movimento é realizado. MacConaill e Basmajian sugeriram que qualquer movimento ósseo, do pontode vista osteocinâmico, pode ser descrito em termos de rotação e equilíbrio. Estabilizadores Em virtude da pouca estabilidade do joelho, devido a sua formação anatômica, ele tem suas funções dependentes de estruturas musculares e ligamentares, que lhe conferem a estabilização necessária para a realização dos movimentos. Os estabilizadores estão divididos em estabilizadores estáticos e dinâmicos. Estabilizadores estáticos • Meniscos 48 • Ligamentos • Cápsula articular Meniscos: Fibrocartilagens semilunares situadas entre a cartilagem articular do fêmur e da tíbia. Eles estão inseridos no topo dos platôs tibiais e servem para compensar a não concordância entre as duas superfícies articulares. Há dois meniscos, um lateral, menor mais fino e mais móvel, e um medial, maior, mais espesso e menos móvel. Ligamentos colaterais: estabilizadores do estresse em valgo e varo e das forças de rotações e torções. Ligamentos cruzados: restringem a translação da tíbia e as rotações, os ligamentos cruzado anterior (LCA) e posterior (LCP) são os principais estabilizadores rotacionais do joelho. Atuando juntos, eles resistem a todos os movimentos extremos do joelho, proporcionando a maior parte das forças de cisalhamento anteroposteriores criadas entre tíbia e fêmur. Estão localizados dentro da articulação tibiofemoral e asseguram a estabilidade anteroposterior, ao mesmo tempo que permitem os 49 movimentos de flexão e extensão, mantendo as superfícies articulares em contato. Imagem: Vista anterior do joelho. Estabilizadores dinâmicos: • Músculos Quadríceps: Musculatura responsável pela extensão do joelho e desacelerador do mesmo. Isquiotibiais: Musculatura flexora do joelho. Gastrocnêmios: Estabilizadores e flexores do joelho. 50 Poplíteo: Tensor da fáscia lata e grácil. Imagem: Estabilizadores do joelho. Cadeias Cinéticas Quando estudamos o sistema muscular, percebemos que os músculos estriados esqueléticos são compostos por duas estruturas básicas e distintas: os tendões e o/os ventres. Tendão nada mais é do que a estrutura responsável por inserir o músculo esquelético ao osso. Por esse motivo, precisa ser muito resistente 51 e apresenta uma composição básica a base de colágeno e elastina, o que o confere resistência. Já o ventre muscular é o músculo propriamente dito, representado pela porção carnosa do músculo, composto por proteínas dispostas em fibras intra-fusais e extra-fusais. Quando estudamos o sistema muscular e suas capacidades, vemos que os músculos possuem três propriedades básicas: • Contratilidade • Elasticidade • Tônus muscular Contratilidade Contratilidade é o nome que se dá a tentativa de aproximação dos pontos de inserção do músculo esquelético, induzida por um sinal elétrico do sistema nervoso somático. Quando a placa motora dos músculos estriados esqueléticos é despolarizada por sinal elétrico somático, suas vesículas sinápticas liberam um neurotransmissor (NT) denominado acetilcolina na fibra muscular. A 52 acetilcolina promove a liberação de cálcio (Ca**) pelos retículos sarcoplasmáticos das fibras musculares, o quer induz a atração das proteínas actina e miosina promovendo a tentativa de encurtamento do sarcômero (fisiologia da contração muscular). Porém, nem toda contração promove realmente o encurtamento das fibras musculares e consequente aproximação dos pontos de inserção, pois isso vai depender da relação entre a força de contração muscular e a resistência imposta importa ao músculo (FxR). Desta forma, podemos apresentar três tipos de contração muscular principais. Contração concêntrica (Força de contração maior do que resistência) Isométrica (Força de contração igual a força de resistência) Excêntrica (Força de contração menor do que a resistência) Cadeias Cinéticas (aberta e fechada) Conhecendo a capacidade contrátil do músculo, e sabendo que um músculo esquelético tem que possuir no mínimo dois pontos distintos de inserção e em ossos diferentes, podemos concluir que em uma contração, 53 um dos pontos pode ser fixo enquanto o outro pode ser móvel, na tentativa de encurtamento do sarcômero. Desta forma, de acordo com a relação entre o ponto fixo e o ponto móvel de um músculo durante sua contração, podemos classificar a mesma como sendo em cadeia cinética aberta (CCA) ou cadeia cinética fechada (CCF). Cadeia cinética aberta (CCA): É quando durante uma contração muscular, o ponto fixo é sua origem (inserção proximal), enquanto o ponto móvel é sua inserção (inserção distal). Ex: fortalecimento de quadríceps em cadeira extensora. Os exercícios de cadeia cinética aberta trabalham com menor estabilidade, mas são indicados quando de pretende fazer fortalecimento muscular isolando determinados grupos musculares. Cadeia cinética fechada (CCF): É quando durante uma contração muscular, o ponto fixo é sua inserção (inserção distal), enquanto o ponto móvel é sua origem (inserção proximal). Ex: fortalecimento de quadríceps durante agachamento. 54 Os exercícios em cadeia cinética fechada promovem mais estabilidade e sinergismo muscular, porém, não permitem trabalhar grupos musculares isolados. Critérios para a escolha da cadeia cinética a ser trabalhada: Imagem: Cadeias Cinéticas. Cada indivíduo possui um organismo com características intrínsecas e extrínsecas diferentes. Durante o fortalecimento muscular, tanto para reabilitação como para o treinamento, deve-se respeitar o objetivo do tratamento / treinamento assim como as características físicas do indivíduo trabalhado. 55 Movimentos com dominância de Joelho Movimento amplo de joelho e tornozelo. Exemplo: agachamento. Imagem: Movimento dominante de joelho, agachamento. Movimentos com dominância de Quadril Movimento amplo do quadril, atuação mínima do joelho e tornozelo. Exemplo: Levantamento terra. 56 Imagem: Movimento dominante de quadril, levantamento terra. 57 CAPÍTULO 04 Reabilitação Para desenvolver programas de reabilitação, permitindo que os pacientes alcancem seus objetivos da maneira mais eficiente, fisioterapeutas e profissionais de educação física devem ter uma compreensão completa do processo de cicatrização. O objetivo deste capítulo é descrever o processo inflamatório em geral, bem como definir classificações e características de tecidos moles. Seguindo essas definições, a cura será definida em termos de intenção primária e secundária. Por fim, o processo de cicatrização, em relação a cada tipo de tecido conjuntivo, será diferenciado para que os clínicos possam entender mais claramente como desenvolver programas de reabilitação individuais para esportes específicos e lesões ortopédicas. 58 Imagem: Joelho. Tecidos moles Durante a cicatrização pós-cirúrgica dos tecidos moles, a resposta inflamatória começa inicialmente quando os vasos sanguíneos são rompidos, causando sangramento nos espaços intersticiais. Esse sangramento causa uma série de reações vasculares e celulares, incluindo a ativação de plaquetas sanguíneas que funcionam para controlar o 59 sangramento. A ativação das plaquetas sanguíneas é uma resposta hemostática primária que desencadeia vários mediadores químicos como a serotonina e o difosfato de adenosina (ADP), levando à formação de um coágulo. Esses mediadores químicos ativam a vasoconstrição das arteríolas, o que leva ao acúmulo de plaquetas ativadas, formando um coágulo hemostático temporário. A formação desse coágulo é considerada uma resposta hemostática secundária que, subsequentemente, inicia o acúmulo de uma rede de fibrina que funciona para fornecer estabilidade ao coágulo recém- formado. Essa rede de fibrina fornece a estrutura para acúmulo de elementos sanguíneos (glóbulos vermelhose brancos) e células do tecido conjuntivo (fibroblastos). Os glóbulos brancos são necessários para resolver a inflamação durante os estágios primários do processo de cicatrização, e os fibroblastos são necessários para a formação do tecido conjuntivo fibroso e a síntese de colágeno durante os estágios secundários da cicatrização 60 dos tecidos moles. Assim, a rede de fibrina que resulta durante a formação do coágulo, estabelece uma ligação direta entre a hemostasia e o subsequente processo de reparo e maturação do tecido. Imagem: Síntese de Colágeno. Lesões no sistema musculoesquelético geralmente envolvem tendões, ligamentos e cápsulas articulares. Essas estruturas curam através de uma série de eventos que ocorrem nos tecidos vasculares em resposta a lesões ou traumas cirúrgicos, secundários a infecções e outras doenças 61 relacionadas. Embora o osso seja considerado um tecido conjuntivo, o processo de cicatrização óssea difere de outra cicatrização do tecido conjuntivo mole. A resposta do corpo a lesões ou traumas é imediata e direta. O tecido conjuntivo que foi danificado ou ferido cura com formação de cicatriz fibrosa, denominada reparo, ao invés de regeneração de tecido, que restaurará a função e estrutura normais do tecido. A série de eventos que ocorrem no sistema vascular e no nível celular para a cicatrização de tecidos moles é, essencialmente, a mesma em todos os tecidos conjuntivos moles. O processo de reparo não é específico para cada tecido conjuntivo, principalmente porque cada tecido tem uma composição estrutural diferente. A regeneração do tecido conjuntivo mole envolve três processos básicos. Muitos autores que usam linguagens descritivas diferentes a tratar desta regeneração. 62 Fases da regeneração As fases de cicatrização dos tecidos moles são descritas por Bryant como: (1) inflamação, (2) fibroplasia e (3) maturação da cicatriz. Daly descreve o processo como: (1) inflamação, (2) formação de tecido de granulação e (3) matriz e remodelação. Já Martinez-Hernandez e Amenta o descrevem de forma semelhante usando a terminologia: (1) inflamação, (2) proliferação e (3) maturação. Note-se que a única diferença está na terminologia, não no processo em si. É importante entender que esses eventos na cicatrização de tecidos moles são sequenciais e cada estágio se sobrepõe ao estágio anterior. A duração de cada estágio depende de vários fatores, incluindo, entre outros, extensão do tecido lesionado, vascularização do tecido lesionado e tipo de tecido lesionado. Fatores que impedem a cicatrização do tecido mole conjuntivo serão discutidos mais adiante neste capítulo. Inflamação O primeiro estágio do reparo do tecido conjuntivo é a inflamação. A inflamação é uma resposta ampla e normal às alterações vasculares no tecido conjuntivo lesionado. A inflamação é essencial para o reparo 63 tecidual; sem ele, a cicatrização ou reparo de tecido lesionado não ocorrerá. Existem cinco características da inflamação: inchaço (tumor), vermelhidão (rubor), calor, dor e perda de função ou movimento (paresia). O processo inflamatório é essencialmente o mesmo, seja de trauma agudo ao tecido ou lesão repetitiva de microtraumas (uso excessivo) no tecido conjuntivo. A inflamação pode ser categorizada em três etapas sobrepostas: (1) aguda; (2) subaguda; (3) crônica; O estágio de inflamação aguda dura aproximadamente 3 a 4 dias; o estágio subagudo dura aproximadamente 10 dias a 2 semanas; e o estágio crônico começa essencialmente no final do estágio subagudo e pode continuar por meses ou mais. A inflamação crônica não ocorre com todas as lesões, e algumas 64 lesões evitam essa fase completamente. A inflamação crônica surge como resposta à inflamação aguda não resolvida, microtrauma recorrente ou repetitivo ou irritação persistente de material estranho nos tecidos. Inflamação Aguda A inflamação aguda é ativada por uma série de mediadores químicos que afetam principalmente o sistema vascular e as células dos tecidos lesionados. Consiste na resposta inicial ao trauma ou lesão de tecido e funções para localizar e/ou destruir materiais ou agentes estranhos. Imagem: Joelho inflamado. 65 Alterações Vasculares Com inflamação aguda, há uma sequência de respostas vasculares; ocorre vasoconstrição, seguida imediatamente por vasodilatação e aumento do fluxo sanguíneo, aumento da permeabilidade vascular e aumento da viscosidade sanguínea com diminuição do fluxo sanguíneo. Essas respostas vasculares resultam em um acúmulo de líquido intersticial na área lesionada, denominada edema. Juntamente com as alterações vasculares que ocorrem nos vasos sanguíneos, o impedimento dos vasos linfáticos locais com um declínio na drenagem linfática do líquido intersticial também contribui para o edema. Apesar desses aparentes efeitos negativos, alterações vasculares são necessárias para as funções fagociticas dos glóbulos brancos. Resposta celular A resposta dos glóbulos brancos à inflamação fornece defesas inespecíficas e específicas contra microrganismos patogênicos invasores. O sistema de defesa inato, defesa não específica, fornece proteção geral contra uma ampla variedade de agentes patogênicos. Barreiras físicas (pele), bem como barreiras mecânicas e químicas, fornecem uma 66 defesa inespecífica inicial. O sistema de defesa adaptativo é uma resposta imunológica específica a patógenos persistentes. O sistema de defesa adaptativo será discutido no que se refere à inflamação crônica mais adiante neste capítulo. Imagem: Resposta celular. Inflamação Subaguda A fagocitose bem-sucedida normalmente marca o fim do estágio 67 agudo da inflamação. Em condições favoráveis, os sinais e sintomas de inflamação aguda desaparecem dentro de 3 a 4 dias após a lesão. Posteriormente, os sinais e sintomas da fase subaguda desaparecerão em aproximadamente 2 semanas. Com a saída dos neutrófilos, os "agentes" da fase aguda da inflamação, os monócitos se tornam as células fagocíticas primárias das fases aguda e subaguda tardia. Uma vez que os monócitos emigram através das lacunas intercelulares na parede vascular e para os espaços intersticiais, eles aumentam e amadurecem para células fagocíticas altamente duradouras, chamadas macrófagos. Os macrófagos representam a grande maioria das células fagocíticas a partir de 3 dias após a lesão e continuam por aproximadamente 2 semanas. Eles se movem livremente nos tecidos e se acumulam no local da invasão patogênica. Sua tarefa é muito parecida com a das células fagocíticas dos neutrófilos, mas, como mencionado antes, elas têm uma "vida útil" prolongada. Inflamação Crônica Se a fagocitose de agentes patogênicos invasores por neutrófilos e 68 macrófagos for bem-sucedida, as reações inflamatórias precoces à lesão são resolvidas com mais frequência. A inflamação crônica é motivada por agentes patogênicos implacáveis e pode durar várias semanas ou até meses. Imagem: Tempo x Inflamação. Fase de Reparo Fibroblástico Depois que os detritos dos tecidos, agentes estranhos e outros materiais patogênicos são removidos do local do trauma através da fagocitose, o segundo estágio da cicatrização dos tecidos moles é iniciado. Fibroblastos e formação de colágeno Os fibroblastos são atraídos para o local da lesão por macrófagos que 69 liberam vários produtos químicos para atrair essa migração. Uma vez que os fibroblastos proliferam para a área, eles se localizam na rede de fios de fibrina do coágulo. Imagem: Formação Colágeno. Os fibroblastos acumulados são diretamente responsáveis pela formação de colágeno no coágulo. O colágeno, que é a principal proteína de suporte para todos os tipos de tecido conjuntivo, funciona para desenvolvera nova matriz de tecido no local do coágulo. Essa nova matriz tecidual é formada através do processo sinérgico de síntese e lise de 70 colágeno, que funcionam para se acumular e se decompor, respectivamente. Por causa do trauma, a síntese da formação de colágeno é antes de tudo, enquanto a lise ocorre mais tarde no processo de cicatrização. Formação de Tecido Granulado Através do processo de síntese de colágeno e fibrogênese, um tipo fibroso temporário de tecido conjuntivo é formado no local do trauma. Esse tecido, chamado tecido granulado, é fibroso, mas é relativamente imaturo e carece de resistência à tração. Esse tipo de tecido tem duas características diferentes: síntese da formação de colágeno tipo III na matriz tecidual e formação de nova rede vascular, chamada neovascularização. Cartilagem – Estrutura e Função A cartilagem é um tecido conjuntivo denso composto por condrócitos. Ele fornece suporte e estrutura para o sistema esquelético. Existem três tipos de cartilagem: cartilagem hialina, fibrocartilagem e 71 cartilagem elástica. A cartilagem hialina, também conhecida como cartilagem articular, reveste as superfícies articulares dos ossos e contém uma grande quantidade de colágeno. A fibrocartilagem é encontrada nos discos intervertebrais, bem como nos meniscos. A cartilagem elástica é encontrada na laringe e na aurícula da orelha e, por possuir mais elastina que as outras, é mais flexível. Como a cartilagem hialina é mais frequentemente ferida, ela é discutida em mais detalhes. Resposta a Lesões A resposta de cicatrização da cartilagem, após o trauma, e seu potencial de reparo dependem da localização da lesão, do tipo de lesão sofrida e se a lesão envolve dano ao osso subcondral. Quando o dano ocorre apenas na cartilagem articular, normalmente os sintomas são mínimos. A cartilagem carece de suprimento sanguíneo e, portanto, o processo inflamatório não ocorre. Buckwalter e Mow descrevem três tipos de lesões da cartilagem 72 articular. O primeiro, como mencionado anteriormente, envolve danos à matriz sem “ruptura visível da cartilagem articular”. Se a estrutura básica permanecer intacta e um número significativo de células não danificadas permanecer, as células poderão restaurar a composição normal do tecido. Ligamentos – Estrutura e Função Os ligamentos são dispostos em feixes paralelos de colágeno, compostos por filas de fibroblastos. Esses feixes de colágeno podem ter um padrão de onda que permite um ligeiro alongamento da estrutura sem causar danos ao tecido. Os ligamentos funcionam para guiar a posição do osso durante o movimento normal e também contribuem para a estabilidade das articulações, conectando os ossos adjacentes. Os ligamentos também fornecem entrada proprioceptiva ou uma sensação de posição articular através da função de terminações nervosas livres e de mecanoreceptores localizados dentro do ligamento. 73 Resposta a lesões Quando os ligamentos se rompem, há dor e sangramento significativos. O edema ocorre como resultado da resposta inflamatória, que resulta em uma infiltração de eritrócitos, leucócitos e linfócitos. O prazo para a cura do ligamento está totalmente associado com o processo de reabilitação e individualidade. Se a ruptura do ligamento for extra capsular, ocorre sangramento no espaço subcutâneo. Tendões – Estrutura e Função Tendões são cordões de fibras de colágeno organizadas regularmente que conectam o tecido muscular ao osso. Eles são compostos de fibras densamente compactadas dispostas paralelamente, dando aos tendões uma das maiores forças de tração de todos os tecidos moles. Resposta a Lesões Lesões nos tendões podem resultar de um trauma agudo ou de estresse repetitivo na estrutura. Quando um tendão é estendido devido a 74 um aumento da carga mecânica além de sua resistência à tração, a fase inflamatória começa. Dentro de 4 dias após a lesão, começa o reparo, com a infiltração de fibroblastos e células fagocíticas. Ossos – Estrutura e Função O osso é, às vezes, considerado um tipo de tecido conjuntivo. O osso protege os órgãos internos, serve como uma alavanca para os músculos e fornece uma estrutura de suporte para o corpo. Consistem em células vivas e minerais depositados em uma matriz. Essas células, chamadas osteócitos (análogos aos fagócitos), são produzidas pelos osteoblastos (análogos aos fibroblastos) e reabsorvidas pelos osteoclastos. Resposta a Lesões Os ossos passam por três estágios de cicatrização quando danificados. Quando um osso é inicialmente fraturado, os vasos sanguíneos são danificados e um hematoma se forma. Essa fase inflamatória aguda dura aproximadamente 4 dias. 75 Dentro de 5 a 7 dias, o hematoma se resolve e os osteoblastos já entraram na área para produzir um coágulo de fibrina. Durante o reparo e a regeneração, os osteoclastos reabsorvem os tecidos ósseos danificados e as células ósseas antigas, enquanto a atividade osteoblástica produz novas células ósseas. Tecido muscular – Estrutura e Função O tecido muscular é composto por células que têm a capacidade única de encurtar ou contrair. O tecido muscular é essencial para mover o sistema musculoesquelético, circular o sangue e mover os alimentos pelo intestino. O tecido muscular tem a capacidade de contrair-se devido à sua composição de fibras de actina e miosina. O tecido muscular é altamente celular e possui um suprimento abundante de vasos sanguíneos. Resposta a Lesões O músculo esquelético pode ser danificado por trauma (lesão) ou infecção. Lesões no músculo resultam quando a tensão gerada excede a capacidade de tração das fibras musculares. O trauma direto também 76 pode criar disfunção muscular. Contusões ocorrem quando as fibras musculares foram danificadas ou parcialmente interrompidas por um golpe direto. A força excessiva que causa uma contusão pode causar sangramento interno, resultando em equimoses externamente e edema internamente. Tecido epitelial – Estrutura e Função O tecido epitelial, vulgarmente conhecido como pele, cobre todas as superfícies internas e externas do corpo. No entanto, também pode incluir o tecido que reveste o esôfago, que não faz parte da pele. O tecido epitelial reveste as cavidades corporais, bem como os órgãos ocos, e é o tecido predominante encontrado nas glândulas exócrinas. Resposta a Lesões As lesões que podem ocorrer no tecido epitelial incluem feridas, infecções, inflamações e doenças. Os tecidos epiteliais também podem ser traumatizados durante procedimentos cirúrgicos. Felizmente, as células epiteliais podem se regenerar após o trauma. O período de tempo 77 necessário para a cura geralmente ocorre dentro de alguns dias, desde que a ferida seja superficial e haja um ambiente ideal para a cicatrização. Tecido Nervoso – Estrutura e Função O tecido nervoso é constituído por células chamadas neurônios e neuroglia. Cada tipo de célula possui características únicas. Os neurônios são especializados para gerar e conduzir atividade elétrica, e neuroglia fornecem suporte estrutural para os neurônios. A neuroglia funciona para ligar neurônios e influenciar a nutrição e a atividade elétrica dos neurônios. Cada neurônio consiste em um corpo celular, dendritos e um axônio. O corpo celular contém o núcleo, que serve como centro metabólico da célula. Resposta a Lesões As células nervosas são facilmente danificadas por trauma físico, toxinas, infecções e desequilíbrios metabólicos. O nervo cura à sua maneira, dependendo da quantidade de lesão no nervo. O tecido nervoso 78 não pode se regenerar quando a célula nervosa morre. Os nervos periféricos podem se regenerar desde que a lesão não afete o corpo da célula. Quanto mais próxima a lesão estiver do corpo celular, mais difícil será a regeneração
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