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SER MÃE E ARTISTA NO SÉCULO XXI

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Alana Duarte sacramento (8058506)
Artes Visuais - Licenciatura
SER MÃE E ARTISTA NO SÉCULO XXI
Tutor: Leandro Henrique Siena
Claretiano - Centro Universitário
PELOTAS – RS
2020
SER MÃE E ARTISTA NO SÉCULO XXI
RESUMO: Ao longo de décadas o ensino da arte lhes foi negado, apenas por serem mulheres. Vistas como amadoras, existem poucos registros de pintoras e menos ainda de escultoras nos livros de história da arte. Porém, esse não é um obstáculo dos dias atuais já que todos, independente de gênero, têm acesso ao mundo acadêmico. Mas esse acesso é acessível de fato em uma sociedade que ainda define os papéis a serem exercidos pelas mulheres graças ao seu sistema reprodutor? Quais possibilidades e obstáculos enfrentam as mulheres artistas nos dias atuais, especificamente as que assumem a função biológica de ser mãe? Através de pesquisa e relatos de algumas artistas que articulam a arte com o ser mãe, o objetivo desse artigo é instigar a observação da situação no cenário artístico no século XXI.
PALAVRAS-CHAVE: Mulheres artistas, mães, artes plásticas, arte.
1. INTRODUÇÃO
Vivemos o fim da segunda década do século XXI. A presença da mulher na história da sociedade é marcada por exclusões, desigualdade e submissão. Caminhamos de forma lenta nas últimas décadas em direção a igualdade entre gêneros. Contudo, não podemos ficar parados já que, ainda não chegamos lá.
Na história da arte não é diferente no que diz respeito à mulher. Elas eram presentes como musas e divindades, representadas por homens artistas na maioria de suas obras, mas poucas foram as que conseguiram um espaço como artistas. Incumbidas desde sempre a exercerem as funções domésticas, condenadas ao destino cultural e biológico de casar e ter filhos, não havia espaço e muito menos incentivo para que fossem grandes artistas.
Os tempos mudaram e hoje as mulheres podem ser o que quiserem. Existem muitas que, por vontade própria, abdicam da maternidade para focar somente na carreira profissional, outras se veem obrigadas a isso pois, parece impossível conciliar os dois. Em uma sociedade que percebe a criação e educação dos filhos como responsabilidade não só da mãe mas, igualmente do pai e ainda, da comunidade em que a criança vive, isso seria normalmente possível. Porém, nossa sociedade ainda responsabiliza somente a mulher pela criação dos filhos. Nesse contexto social, é possível que a mulher que deseja ser mãe consiga articular a vida de artista e tudo que o produzir arte exige com a maternidade?
O presente artigo tem como objetivo instigar a observação da situação da mulher artista que também é mãe no século XXI. Através da revisão bibliográfica de entrevistas de algumas artistas contemporâneas que exercem a maternidade, busca-se entender como é possível para elas articularem essas funções, qual suporte julgam necessário para tal e as limitações que enfrentam ou enfrentaram nessa jornada. Dialogar sobre essa situação é importante pela busca constante de igualdade entre gêneros e por uma sociedade mais igualitária em que a mulher, apesar de mãe, tenha as mesmas oportunidades que as que não o são e, ainda, que perante à sociedade seja considerada como um indivíduo livre em suas escolhas e, igual em oportunidades e deveres. Esse artigo justifica-se por trazer esse diálogo para reflexão e debate.
2. DESENVOLVIMENTO
2.1 A ausência da mulher na história da arte
Quando folheamos livros de história da arte e vemos imagens de importantes obras de artistas plásticos, nos deparamos com inúmeras representações femininas. Deusas, ninfas, musas, mulheres no seu cotidiano, nus femininos. Não faltam, no decorrer de décadas, mulheres idealizadas, descritas por homens e expostas como objeto de apreciação. Porém, há poucos registros de pintoras a quem se dê a mesma relevância dada a autores homens, tais como Pablo Picasso ou Van Gohg, por exemplo.
Em uma pesquisa rápida no livro A História da Arte, do célebre historiador de arte Ernst Gombrich (1999), por palavras como “pintoras” ou “mulheres”, podemos perceber a grande desigualdade de gênero existente desde sempre já que, ao buscar por “pintoras” o resultado é zero, enquanto quando pesquisamos pelo termo “pintores” existem mais de trezentos resultados. Quando a busca é pela palavra mulher/mulheres, essa se refere em sua maioria às mulheres representadas nas obras. O fato foi observado pela pesquisadora Larissa Silva, que afirma que na referida obra “temos uma visão ocidental, branca e patriarcal” (SILVA, 2018, p. 53).
Ao longo do século XIX e ainda no início do século XX, a ausência de mulheres artistas poderia até ter uma explicação óbvia, a falta de acesso ao meio acadêmico:
Era inconcebível, ainda no começo do século 20, uma moça pintando uma pessoa nua à sua frente. Isso deixa claros os motivos para haver muito menos mulheres artistas do que homens até a segunda metade do século 20. Não era apenas a cultura machista, que via a pintura e a escultura como coisas de homem, mas também a própria falta de acesso das mulheres ao aprendizado das artes. (MIELZYNSKA, 2013, p. 157).
O cenário descrito por Mielzynska não era diferente no Brasil, segundo Simioni:
Durante o século XIX, a arte parecia ser uma profissão exclusivamente masculina. Os interessados formavam-se na Academia Imperial de Belas Artes, onde adquiriam os conhecimentos necessários para se tornarem artistas e, posteriormente, viverem de suas classes e das encomendas oficiais e privadas que, vez por outra, aconteciam. As poucas mulheres que ousaram ingressar nesse sistema dominado pela academia eram julgadas por seus pares de modo pejorativo, como amadoras (SIMIONI, 2008, p. 29).
Sem dúvidas, a falta de acesso ao ensino interferiu na presença de mulheres artistas na história da arte. Contudo, esse não foi o único dos fatores. Não somente na história da arte mas, de modo geral, a mulher foi submetida a exercer funções, a uma vida de cobranças sociais e, uma hierarquia cultural e religiosa que definiu que “Ao homem, cabia o trabalho para o sustento e gerenciamento do lar e, à mulher, os afazeres de casa e o cuidado com os filhos. A sociedade acatou essa hierarquia” (FALEIROS et al., 2018, p. 14). Além destes fatores, todo o contexto social em que viviam não foi favorável para tal presença.
Atualmente, o acesso ao ensino de artes já não é um mais um obstáculo para as mulheres pois, independente do gênero, qualquer pessoa pode cursar uma faculdade. Porém, apesar desta e outras grandes conquistas, a mulher ainda luta diariamente contra o cenário machista que se estabeleceu na nossa sociedade. Se faz necessário reparar que o contexto social interfere e muito nessa possibilidade de acesso.
2.2 O contexto social segundo Linda Nochlin
Linda Nochlin historiadora de arte feminista, em um artigo publicado na revista ARTNews em 1971, intitulado Porque não houve grandes mulheres artistas?, ao questionar ironicamente se a falta de genialidade para a arte teria faltado para as mulheres, bem como para a aristocracia, nos dá um exemplo de que na verdade, o problema era o contexto social no qual essas pessoas eram submetidas e diz que o tipo de expectativa imposta a tais pessoas e o tempo dedicado para exercer outras funções sociais tornava a devoção profissional exigida para produzir arte algo completamente fora de questão. 
A historiadora deixa claro que o machismo e a estrutura social patriarcal, são responsáveis pela opressão, desestimulação e dificuldade de acesso, não só na área das artes mas em centenas de outras áreas, para todos aqueles que não tiveram a sorte de nascer brancos, de classe média e acima de tudo homens e que isso é basicamente um problema da forma como fomos educados e das nossas instituições. Um exemplo citado é o de Pablo Picasso que, perante às oportunidades e incentivo que recebeu, não poderia ter sido menos genial. Ela questiona: “E se Picasso tivesse nascido menina? Teria o senhor Ruiz prestado tamanha atenção ou estimulado a mesma ambição de sucesso na pequena Pablita?” (NOCHLIN, 2016, p. 18).
A conclusão sobre a questãoda falta de grandes mulheres artistas que se chega ao terminar o artigo de Nochlin é que o artista não é apenas alguém genial que pratica a arte como uma atividade livre ou que o faz somente pela influência de artistas anteriores e mentores. O desenvolvimento profissional do artista e a qualidade do seu trabalho exigem um contexto social específico para acontecer. Diversas variáveis como incentivo, acesso, tempo disponível e condições financeiras, por exemplo, são necessárias para tornar-se um artista. Portanto e, dependendo do contexto social em que se está inserido, o fazer arte e ser uma artista pode tornar-se algo inalcançável para uma mulher que nasce atrelada às funções de ser a principal responsável por cuidar da casa, do marido e dos filhos.
2.3 Contemporâneas: mulher, mãe e artista no século XXI
Estamos no século XXI e, apesar de conquistas que obtiveram através de muita luta como o direito ao voto, ao estudo, ao espaço no mercado de trabalho e até mesmo de exercerem funções que antes eram consideradas como apenas de homens, ainda existe uma função que se coloca na maioria das vezes como função exclusiva delas, muito além da gestação, a gestão dos filhos já paridos. Não é difícil presenciar inúmeras situações em que elas necessitam abdicar de toda sua vida profissional e afetiva para serem mães ou então, articular todas as outras funções com a maternidade por arcarem sós com este compromisso. Muitas mulheres optam por não ter filhos pois, na maioria das vezes, toda a carga da criação deles recai sobre elas e a verdade é que, conciliar a “vida de mãe” com outras funções cotidianas tais como trabalhar e estudar é muito difícil, extremamente cansativo e pode ser psicologicamente perturbador.
Porém, como citado anteriormente, o contexto social é o principal ponto para que uma mulher que deseja ser mãe tenha a possibilidade de articular essa e outras funções. A estrutura e apoio que se possui nesse contexto são aspectos muito importantes para se realizar essa articulação. 
A artista plástica Lia Menna Barreto, que se tornou mãe no fim do século XX, conta que, durante a gravidez, deixou de frequentar seu ateliê, algo que fazia muito mas que tornou-se um incômodo físico por conta do “barrigão”. Além disso, foi necessário parar sua carreira por cerca de dois anos quando sua filha Lara nasceu, pois fazia tudo sem ajuda de babá ou avó e teve muito trabalho e, apesar de muito gratificante, é também muito difícil.
O relato da artista nos deixa claro que o suporte que uma mãe possui é imprescindível para que ela consiga articular a maternidade com a vida profissional. Sobre o retorno ao trabalho, Lia conta que aconteceu em uma noite enquanto sua filha dormia, quando resolveu fazer uma boneca com restos de tecido. A partir disso, percebeu a necessidade de voltar a trabalhar e assim surgiu o Diário de uma boneca (1998)
. A artista passou a ir ao ateliê quando a filha dormia mas, nem todos os dias eram fáceis, muitas vezes trabalhava sobrecarregada e extremamente cansada e assim, seu trabalho passou a refletir seu humor. O trabalho durou pouco mais de um ano:
Teve um dia, então, que a boneca era uma trouxa. Eu estava tão cansada, mas tão cansada, que eu fiz aquela trouxa e coloquei “QUARTA-FEIRA” e deu. […] elas ficavam conforme meu estado, meu ânimo. Às vezes, eram bonecas mal feitas. Outras vezes, as bonecas eram quase um “nada”. Já outras, eram super caprichosas! (BARRETO, in MAUS, 2014, p. 17)
Em muitos casos, a única maneira de se articular a maternidade com o trabalho seja ele artístico, profissional ou doméstico, quando não se possui babá ou ajuda externa, é fazer como a artista e abdicar de algumas ou muitas horas de sono. 
A lista de limitações e renuncias que se recebe juntamente com a maternidade é extensa. Porém, apesar da maternidade ser algo limitante em diversos aspectos, possui outros muito positivos. A fala de Francisca Caporali, artista e gestora do espaço independente JA.CA
, deixa isso claro. A artista afirma que apesar das limitações, ter filhos faz traçar prioridades e ajuda a não perder tempo com coisas que não são importantes. Além disso, alega que a maternidade a fez ficar mais focada e que não considera que filhos sejam uma justificativa ou desculpa para não se fazer algo mas que sim, a tornou mais seletiva. 
A artista enfatiza que não deixou de realizar nada por ter se tornado mãe e que aliás, seu filho Gabriel nasceu um ano antes do JA.CA abrir. Cita sua estrutura familiar como um privilégio e diz que seu marido dá total suporte para sua realização profissional, pois sabe o quanto isso é importante. A maternidade não lhe impediu de trabalhar ou viajar pois contava justamente com esse apoio. Além disso, Francisca reconhece que o Brasil é um país machista, que nem todas as mulheres vivem em lares bem estruturados e privilegiados como o seu e que ainda mantemos a ideia de que, ao se tornar mãe, uma mulher precisa abdicar de tudo.
A experiência de ter seu filho em Nova York, a fez perceber que a sociedade brasileira é dotada de preconceito no que diz respeito aos filhos frequentarem o ambiente profissional dos pais. Segundo ela, naquela cidade, parar de trabalhar é realmente uma opção, pois ter os filhos perto em todos os afazeres é algo natural:
A cidade está pronta para se fazer muito com as crianças. Eu já fui a uma reunião no consulado brasileiro com o Gabriel bebê. A pessoa que me recebeu não achou nada estranho porque ela também já teve filho e também não tinha com quem deixar. Aqui é muito diferente. Eu fico imaginando chegar em uma reunião com um bebê nas costas. Quantas vezes eu dei uma palestra e as pessoas ficaram irritadas com o Gabriel correndo em volta? E o que eu vou fazer com ele às oito horas da noite? (CAPORALI, in MAUS, 2014, p. 80)
Cristiana Tejo, curadora e cofundadora do espaço independente Fonte
, aponta as mesmas questões em sua fala. Ela alega que, em outros países há uma equidade mas, em países latino-americanos a diferença entre as atribuições feminina e masculina ainda é gritante. No Brasil, quando um companheiro homem ajuda nas tarefas domésticas e nos cuidados com as crianças é chamado de incrível é algo inacreditável pois, praticamente tudo da ordem doméstica fica nas mãos das mulheres.
Sobre a experiência da maternidade, Tejo considera que muita coisa muda com um filho – as prioridades e parâmetros, por exemplo – mas é possível dar conta de tudo. Ela diz que se tornou muito mais exigente e que passou a não se reconhecer, porque sempre trabalhou e viajou muito. Porém, quando seu filho nasceu, percebeu que era algo muito mais interessante e desafiador do que qualquer trabalho profissional que poderia fazer.
Outra questão de importante destaque na fala de Cristiana é sobre a convivência dos filhos em ambientes profissionais, ela alega que se o homem e a mulher forem criados de forma aberta e multifuncional será um meio para se encarar isso como algo natural para ambos: 
Enfim, eu voltei dessa viagem extremamente chateada por observar que ainda há uma diferença, sim, entre homens e mulheres no mundo da arte. E em todos os cantos! É visto, muitas vezes, como antiprofissional você levar seu filho para a montagem de uma exposição, por exemplo. […] aqui isso não é “profissional”. Isso é esquisito. Se o homem e a mulher forem criados de forma aberta e multifuncional, teremos condição de encarar isso. (TEJO, in MAUS, 2014, p. 94)
No trecho a seguir, voltamos à fala de Francisca Caporali, que também aborda a educação aberta, igualitária e multifuncional de homens e mulheres como um meio para que a carga social da maternidade não recaia somente sobre as mulheres:
Aqui no Jardim Canadá, bairro onde fica o JA.CA, nos lares são só mães cuidando dos filhos casas com três gerações de mães. Mas como resolver isso através da cultura e da comunicação? Talvez fosse melhor através da educação. É uma coisa muito mais séria de câmbio de mentalidade e de entendimento. Uma mudança de vivência doméstica para que um casal se enxergue igual, com funções quepodem ser divididas e que não seja uma exclusiva de um ou de outro. (CAPORALI, in MAUS, 2014, p. 82)
Podemos perceber que os relatos das artistas que articulam seu trabalho com a maternidade tem aspectos parecidos. Levar em consideração que elas vivenciam um contexto social favorável à essa articulação é de grande importância. São mulheres que tiveram acesso à educação, mestres e doutorandas, de classe social alta. Mesmo assim, passaram por situações de exclusão ou preconceito pela condição da maternidade, tiveram que em algum momento abdicar de algo, ou necessitaram de apoio familiar para que isso não fosse necessário. Após a análise desses relatos, o presente artigo dirige-se às considerações finais.
3. CONSIDERAÇÕES FINAIS
As mulheres carregam a herança de uma vida de exclusões, desvalorização e submissão. Apesar de termos conquistado muitos direitos ao longo das décadas, a luta feminista ainda é necessária pois, vivemos em uma sociedade em que minorias continuam sendo desvalorizadas. Um exemplo claro disso é que, muitas mulheres possuem salários mais baixos que os homens ocupando a mesma função, profissão ou cargo.
Fica claro que, na história da arte, a exclusão da mulher não foi diferente. Porém, atualmente devemos perceber que isso não se deve ao fato de que mulheres foram menos geniais, criativas ou talentosas para a arte por serem mulheres, mas sim, que desde sempre foram cobradas e exigidas a exercerem funções específicas como cuidar do trabalho doméstico, das necessidades do marido e dos filhos e, simplesmente, excluídas de outras como, o acesso à educação e conquistar sua independência financeira.
Através do artigo de Linda Nochlin, é possível entender que, na verdade, o fazer arte exige um determinado contexto social para que possa acontecer e, assim como em diversas outras áreas, a mulher não recebeu o incentivo ou as oportunidades necessárias para tal, pois o tempo exercendo outras funções sociais tais como ser mãe e o machismo da estrutura patriarcal, a impediram. 
Os relatos das artistas Lia Menna Barreto, Francisca Caporali e Cristiana Tejo nos fazem notar que o necessário para articular a carreira com a criação dos filhos é possuir uma rede de apoio, uma família bem estruturada em que todos dividam as tarefas com igualdade e, além disso, é necessário possuir, também, um bom apoio financeiro, acesso à educação, possibilidade de diariamente trabalhar na sua arte e, assim, desenvolver o talento e práticas técnicas necessárias para o fazer arte.
Diante disso, chegamos à conclusão com esse artigo de que sim, dentro do contexto social exigido é, perfeitamente possível à mulher que deseja ser mãe e artista articular as duas funções. Porém, sem a prerrogativa desse contexto, ainda é muito difícil para a mulher brasileira pois, como citado anteriormente, nosso país, em sua maioria, tem uma visão machista e que coloca a mulher na condição de única responsável pela criação dos filhos. O que não se pode é romantizar a maternidade e criar uma imagem de que a mulher que não dá conta de tudo é fracassada quando, na verdade, todos necessitam de apoio.
Para encerrar minhas considerações finais, desejo compartilhar na íntegra o relato que coletei da artista plástica autodidata Paula Pires Duarte. Feminista, socialista, sonhadora e viajante, como a mesma se define, além de artista é mulher e mãe. Assina por Papí
 e sua obra é figurativa sem a intenção de ser realista mas sim, um realismo mágico. Em sua maioria, produzida com técnica mista, acrílica sobre papel, recortados e colados em suporte de madeira:
Não é de hoje que sabemos ou deveríamos saber que mulheres ocupam um pequeno espaço no mundo das artes plásticas. Pode-se dizer, que atualmente muitos passos foram dados na busca da tão sonhada igualdade de gênero perante a criação artística e que se formos a fundo em uma pesquisa encontraremos várias artistas que se destacam no cenário atual. Infelizmente essas várias, comparadas ao número de homens artistas é muito pequeno. Não pela falta de talentos femininos mas por amarras psicológicas que nos são impostas todos os dias e também por um mercado restrito e estruturalmente machista. Criar requer coragem. Coragem para expor anseios que temos no mais íntimo de nosso ser. Coragem para dedicar tempo ao processo criativo. Coragem de abdicar de tarefas que a sociedade delegou a nós mulheres. Coragem de nos sentirmos verdadeiramente artistas. Ser artista de corpo e alma, pode-se dizer que é um ato revolucionário. Ser artista mulher é revolucionar e resistir num mundo que por muitas vezes nos concede apenas ser coadjuvantes. Não se escolhe ser artista, simplesmente isso mora dentro de você. Sentir a necessidade de criar e não ouvi-la, te frustra, te mata. Cabe a você aceitar ou não, lutar por isso ou não. Entender que o ato de criar é deixar o inconsciente gritar e aceitar que isso pode te trazer mais vida do que botar filhos no mundo por exemplo. Falando especificamente sobre mim, toda minha arte tem como foco e inspiração o universo feminino. Tudo que tento e quero expressar é que nos dispamos de estereótipos, disputas e comparações entre nós mulheres. A arte é muito poderosa e a força do poder feminino também. Se apoiarmos a liberdade e a capacidade umas das outras com o mesmo amor do poder de gerar outros seres, começando por ensinar a estes seres que trazemos ao mundo a enxergar o quanto o mundo ainda é machista e preconceituoso e a não aceitar e lutar contra isso incansavelmente enfraqueceremos cada vez mais esse absurdo, inconcebível e completamente sem sentido, a mudar. A única lógica de tudo isso é exploratória e capitalista, e a arte vai muito além dessa mesquinharia medíocre. (PAPÍ, 2020)
4.REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
FALEIROS, Iago Emmanuel Henrique; FORNEL, Lorenna Mayara; CARDOSO, Viviane Rezende; CAMPOS-TOSCANO, Ana Lúcia Furquim. TORNAR-SE MULHER OU SER BELA, RECATADA E DO LAR?: UMA ANALISE DISCURSIVA. Revista eletronica de letras, FRANCA, SP, v. 11, n. 1, ed. 11, JAN - DEZ 2018. Disponível em: http://periodicos.unifacef.com.br/index.php/rel/article/view/1549/1125. Acesso em: 9 jul. 2020. 
GOMBRICH, Ernst Hans. A história da arte. Trad. Álvaro Cabral. Rio de Janeiro: LTC, 1999.
MAUS, LILIAN (org.). A PALAVRA ESTÁ COM ELAS: Diálogos sobre a inserção da mulher nas artes visuais. Porto Alegre - RS: Panorama Crítico, 2014. E-book. Edição bilíngue português/inglês de entrevistas com: Lia Menna Barreto, Maria Helena Bernardes, Fabiana Faleiros, Bruna Fetter, Francisca Caporali, Cristiana Tejo, Beatriz Lemos, Samantha Moreira, Vera Chaves Barcellos e Glória Ferreira 
MIELZYNSKA, M. G. História da Arte: do Impressionismo ao Surrealismo. Batatais: Claretiano, 2013.
NOCHLIN, Linda. Por que não houve grandes mulheres artistas? Trad. Juliana Vacaro. 2. ed. São Paulo: Edições Aurora, 2016. [Série Ensaios, nº 6]. Disponível em: <http://www.edicoesaurora.com/ensaios/Ensaio6.pdf >. Acesso em 5 mar. 2020.
SILVA, Larissa Raquel Gomes. Mulheres/Artistas na história da arte: a busca pelo reconhecimento e visibilidade. Cadernos de ciência e cultura, Crato – CE, v. 17, n. 1, p. 52-63, Julho 2018. Disponível em: <http://periodicos.urca.br/ojs/index.php/cadernos/article/view/1702/
pdf>. Acesso em: 6 mar. 2020. 
SIMIONI, Ana Paula Cavalcanti. Profissão Artista: Pintoras e Escultoras Acadêmicas Brasileiras. Fapesp, 2008;
�� HYPERLINK "https://lia-mennabarreto.blogspot.com/2007/11/diario-de-uma-boneca-1998_1550.html"��	https://lia-mennabarreto.blogspot.com/2007/11/diario-de-uma-boneca-1998_1550.html� 
�	Jardim Canadá Centro de Arte e Tecnologia
�	Criado em 2011, é acompanhado pelo “subtítulo” Centro de Investigações em Arte.
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