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Os prazos do vale do zambeze

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Os prazos do vale do zambeze: A origem
Da leitura deste texto, retira os elementos sobre o conceito de prazo, a localização temporal do início da formação dos prazos, a origem dos prazos as caracteristicas dos prazos, o objectivo de portugal ao instituir o sistema de prazos no vale do zambeze entre outros aspectos.
	Os portugueses decidiram entrar para o interior do vale do Zambeze como resultado normal da penetração mercantil, substituindo gradualmente os swahilis, foram-se instalando através das suas feiras. Porém, a presença portuguesa nesta região deve ser analisada, tendo em conta a exploração das minas e o Estado de Muenemutapa. 	
	 Esta Penetração para além de procurar controlar as vias de ouro passou a ser uma intenção clara de alcançar as zonas produtoras de ouro. Desta forma os portugueses foram substituindo os Árabes e Swahilis. Não foi fácil a penetração portuguesa no estado de Mwenemutapa, nem o controlo destas vias de escoamento de ouro porque alguns Estados satélites de Mwenemutapa criaram barreiras à penetração Portuguesa, e só em 1530 os portugueses iniciaram no Vale do Zambeze e alcançaram Tete e Sena onde se fixaram.
Embora os prazos enquanto instituição afro-portuguesa tenham sua existência desde ao menos o século XVI, a nomenclatura prazo e prazeiro só aparecerá nas fontes a partir do século XVIII, sendo os senhores e donas antes disso denominado como foreiros pela documentação. 
Para ISAACMAN (2006:17), tradicionalmente existiram três explicações historiográficas (contraditórias) para as origens do sistema de prazos no Vale do Zambeze a destacar:
· Que se tratava de uma instituição árabe introduzida no Zambeze por mercadores islâmicos; 
· Que seria fruto de uma mera substituição pela conquista, onde portugueses tomariam o lugar de “chefes Africanos”; 
· Que se tratava unicamente de uma instituição feudal portuguesa transplantada ao Vale. 
Isaacman (2006:17) conclui dizendo que a formação dos prazos deve ser entendida como um processo contínuo em que portugueses, mestiços ou indianos (Goeses) adquiriram reconhecimento como chefes políticos sobre populações africanas, por um lado, por outro, segundo M’bokolo (2003:489), o sistema de prazos desenvolvido particularmente na Zambézia e, em menor escala, à volta de Sofala e nas ilhas Quirimba, derivou de duas lógicas diferentes correspondendo uma às relações de forças entre portugueses e africanos e outra aos cálculos do poder político metropolitano. No terreno, os portugueses tinham criado mercados ou feiras, por um lado, por outro, tinham tomado aos árabes estabelecimentos análogos e começado a adquirir terras a título pessoal. 
Agora, veja como se caracterizavam estas instituições?
M’BOKOLO (2003:489) refere que cinco seriam as características dos prazos, a saber: 
O poder de um europeu, índio (Goês) ou mestiço, com um número de privilégios e prerrogativas que originalmente pertenciam ao mambo; 
Uma população de colonos; 
Uma população de escravos de diversas origens e leais ao prazeiro; 
Fronteiras teoricamente fixadas baseadas em divisas históricas das unidades indígenas antes da chegada do prazeiro e; 
Uma relação contratual entre o prazeiro e a Coroa Portuguesa. 
Esta última característica, de legalidade frente ao regime português, seria a de menor relevância, inexistindo mesmo em muitos casos, ou sendo constantemente violada ou pelos prazeiros, ou pelos colonos que expulsavam alguns prazeiros estabelecidos pelos conformes jurídicos europeus, mas não reconhecidos enquanto autoridades pelas comunidades.
As origens dos prazos encontram-se no continente africano, pois, há portugueses que a titulo individual ocupam lugares de destaque na sociedade africana devido aos laços de parentesco estabelecidos através do matrimônio e por desempenharem a função de mercadores e mercenários (Newitt, 1997:204). o regime do prazo era uma síntese de dois sistemas socioeconômicos onde o primeiro era aquele dos shona, cuja sociedade dividia-se em uma oligarquia dirigente e camponeses produtores e o segundo, que se sobrepunha ao precedente era o dos prazeiros, reinando como classe dominante sobre os chicunda. O chefe africano continuava a exercer as funções tradicionais, porém, sem deter, a partir de entao, a autoridade absoluta, o prazeiro atribuindo a si próprio o título de suserano. Nesse sentido, sua relação aparentava-se aquela existente entre o chefe e o subchefe no Império Mutapa. 
A partir deste momento, a aquisiçao de terras por aventureiros portugueses prosseguiu praticamente sem freios: foi desta forma que se constituíram numerosos prazos da coroa, pertencendo a funcionários, mercadores, ordens religiosas e a pioneiros portugueses (Bhila, 2010:755). Primeiramente as terras foram dadas pelos soberanos africanos, em particular pelo Mwene Mutapa ao mesmo tempo que as funções políticas, judiciárias e rituais ligadas ao chefado como a cobrança dos impostos, recrutamento de tropas, nomeação ou confirmação de chefes de escalões inferiores, direito de recurso em matéria judiciária. A partir de 1570 assistiu-se ao aparecimento de conquistadores e outros condottiers portugueses, cujas ambições eram facilitadas pelas rivalidades e conflitos entre unidades políticas locais. Assim se constituíram por conquista, por compra e por doação por parte dos chefes africano, grandes propriedades guardadas por exércitos de escravos negros e sobre os quais os novos proprietários procuraram que a coroa portuguesa reconhecesse seus direitos (M’bokolo, 2003:489).
No início do século XVII, o vale do Zambeze é povoado por Jesuítas e Dominicanos e Papa garantiu o controlo da igreja no oriente (padroado real). A coroa no cumprimento da sua missão mostrou-se preparada para conceder licenças levando ao nascimento dos prazos eclesiásticos (NEWITT, 1997:04). Para SENGULANE (2013:38) a origem dos prazos situa-se por volta do século XVI por acção dos mercadores e aventureiros portugueses que se tinham apropriado de várias extensões de terras com Objectivo de controlar o escoamento do ouro, marfim e escravos. NEWITT (1997:210) considera que os portugueses ao instituir o sistema de prazos pretendiam fomentar o assentamento de colonos e contribuir para o desenvolvimento econômico da região. Estes objectivos acabaram não se cumprindo na integra devido a sua extensão, a duração dos contratos de arrendamento e controlo dos camponeses obrigados a pagar tributo. 
O sistema de prazos posto em prática no inicio do século XVII oferecia a corroa portuguesa a possibilidade de ocupar teoricamente a África por intermédio de vassalos europeus aos quais eram concedidos terras por arrendamento. Em troca de uma renda, as terras eram entregues durante três vidas contra a obrigação de guarnecer o prazo com homens armados e manter os fortes da administração, manter os caminhos abertos e cobrar o imposto (PELISSIER, 2000:80). Com a ocupação do vale do Zambeze, os portugueses esperavam encontrar muitas minas de ouro, evitando deste modo que indivíduos ocupassem a região a título individual. Por isso, a coroa esteve diretamente ligada ao acordo de 1607 e 1629 em que monomutapa entregava as minas aos portugueses. Os capitães das fortalezas passavam a agir em nome do rei de Portugal e garantir que as suas leis e autoridade fossem respeitadas. Esta política funcionou enquanto a coroa mantinha um exército para manter a autoridade porque com o tempo, devido ao avanço das guerras de conquista, a coroa passou a depender dos exércitos privados dos colonos com maior poder junto à população local. Por outro, nos meados do século XVII, os capitães são escolhidos pelas grandes famílias afro-portuguesas, tornando-se deste modo difícil de controlar (NEWITT, 1997:204/5).
Sabias que no vale do zambeze existiam quase 5 cntenas de prazos?. Veja a seguir
Os prazos encontravam-se disseminados dos dois lados do rio Zambeze, totalizando cerca de quarenta e seis, nomeadamente: Mirinde, Lunguza, Chigogue, Tunta, Mitondo, Canjanda, Inhauta, Chimlando, Calipue, Gabuamanga, Condo, Caunja, Mandue, Panamazi, Mussonha,Manjase, Mazuira, Maruca, Chimozi, Bamusi, Matundo, Canhunbe, Nhamacasa, Capanga, Banga, Cancope, Nhabaruarue, Pandue Grande, Chipasse, Nhampende, Matambanhama, Nhamints, Nhamadzi, Cagosa, Gare, Inhatwa, Onhinguba, Masara, Inhampuampua, Mitonda, Chipia, Muira, Mijova, Inhacolura, Onhamacombe, Inhacanangae. 
Entretanto, havia diferenças notáveis entre os do Norte e os do Sul. Os do Sul eram propriedade da Coroa portuguesa e não era o caso dos primeiros do Norte (eram terras pessoais). Os prazeiros que estavam a frente das terras da Coroa deviam cumprir obrigações devidamente especificadas (BHILA, 2010:757).
Veja como e que se obtém e transmite-se o prazo e o por que da preferência a mulheres na atribuição de títulos. Leia e tire as suas conclusões.
A concessão em três vidas significava que o mercenário dispunha do usufruto da terra durante a sua vida, devendo designar a segunda e esta a terceira. A nomeação de um sucessor fazia-se por escrito, podendo ocorrer por doação entre vivos, através de um instrumento público, ou por morte, por meio de um testamento. Conforme a lei geral, no caso de o foreiro falecer sem chamar um sucessor, o prazo passava aos herdeiros, descendentes ou ascendentes, e, na sua ausência, ficava devoluto ao senhorio. No entanto, a concessão por três vidas não significava que, findo aquele prazo, as terras seriam obrigatoriamente devolvidas à Coroa. Desde o final de Quinhentos, consolidara-se o direito de renovação, permitindo ao detentor da última vida declarar um sucessor, que, geralmente, alcançava mais três vidas. A transmissão dos prazos de vidas, tal como a dos bens da Coroa, regulava-se pela indivisibilidade, devendo o foreiro nomear um único sucessor para cada prazo, e pela inalienabilidade, significando que era necessária a autorização da Coroa, geralmente concedida, para nomear a vida seguinte. Em relação aos bens da Coroa, a indivisibilidade expandiu-se em Portugal na segunda metade do século XIV, por cláusula de doação ou por incorporação num morgado.
A sucessão inicialmente era feita via feminina, mas com a obrigação de casarem com indivíduos de origem portuguesa ou contentar-se com um mestiço ou goês. A herança era feita via masculina (filho mais velho ou marido) caso não existisse herdeira. Devido a raridade de brancos e escoamentos para a produção agrícola, os elevados rendimentos pelo tráfico de escravos e a debilidade da administração constituíram-se como elemento para quebrar a legislação original. Por isso, os prazos passaram a ser concedidos a ordens religiosas (dominicanos e jesuítas). Os senhores alugavam os prazos e aumentavam-nos por herança, por absorção ou por conquista levando a transformação destes em micro-estados (PELISSIER, 2000:80). 
Desde 1543, eram regularmente enviadas do reino órfãs do rei, filhas de nobres mortos em serviço nas áreas de expansão, para casarem com portugueses do Estado da índia a quem eram feitas mercês. Um alvará régio de 1583, visando regular o processo de dotação de cargos aos maridos destas mulheres, isentava as mercês de ofícios trienais até à categoria de feitor da confirmação régia exigida para a entrança nas capitanias. O que se infere desse alvará é que a dotação de cargos para beneficiar estas órfãs enviadas do reino estava já na altura difundida no Estado da índia. Os fidalgos da índia reagiram e a medida foi alargada, em 1595, às filhas dos casados da região tombados em combate. O objectivo destas dotações consistia principalmente em beneficiar as descendentes de vassalos mortos ao serviço do rei e que não podiam assegurar às filhas casamentos convenientes. 
A prática de dotação das órfãs, tendo em vista conseguir-lhes casamentos, consolidou-se em Goa com a criação do Recolhimento de Nossa Senhora da Serra, inaugurado em 1605. Aqui passaram a acolher-se as órfãs do rei, em número de vinte, enquanto aguardavam a sua vez no mercado nupcial. Desde 1607, os vice-reis foram autorizados a dotar as recolhidas com uma pensão, que, atentas as dificuldades financeiras do Estado, podia provir da concessão de aldeias com um rendimento até 600 cruzados (RODRIGUES, 2000).
A livre nomeação funcionava como um instrumento para preservar a continuidade das casas sem descendentes e amparar a estabilidade da região. Não obstante, entre 1698 e 1751, alguns prazos dos Rios de Sena foram concedidos a mulheres com a condição de casarem com europeus ou com a cláusula de sucederem filhas. Como se verá adiante, esta norma nasceu para a Província do Norte e a sua aplicação a Moçambique dependeu do entendimento das autoridades de Goa, pelo que a maioria das concessões continuou a prever a livre nomeação. (RODRIGUES, 2000).
Os prazos constituíam também a base política e simbólica das casas dos Rios, identificando os seus principais moradores nos mundos portugueses e africano. A casa, enquanto modelo organizacional da elite de foreiros, abrangia não apenas os bens materiais, mas também o património simbólico e o conjunto das pessoas do que então se entendia por família, desde os parentes biológicos, aos dependentes e aos criados. Concomitantemente, a instituição dos prazos visava a construção de um modelo político de administração do território, que conferia aos membros dessa elite o poder para administrar as populações africanas e os responsabilizava pela defesa das fronteiras. Deste modo, as relações entre os funcionários da Coroa e as populações africanas dos prazos e dos territórios vizinhos passavam pela mediação dos poderosos senhores dos Rios de Sena, os quais construíram chefias políticas em muitos aspectos semelhantes às africanas (RODRIGUES, 2000). As terras cedidas ao prazeiros eram designadas localmente por moganos, daí a designação dos senhores prazeiros também por moganeiros (SENGULANE, 2013: 38). 
Os prazeiros (moganeiros) comprometiam-se a trabalhar neles; pagar tributo; não ausentar-se sem deixar encarregado; manter a ordem no prazo; administrá-lo e manter as estradas transitáveis; providenciar o fornecimento de soldados, barqueiros e carregadores; pagar a cota parte das despesas de manutenção dos fortes e edifícios públicos; tornar possível a mineração e arrendamento de terras a pequenos agricultores. O não cumprimento das obrigações podia levar ao cancelamento da licença ou não renovação após a morte (NEWITT, 1997: 206).
No século XVIII, os concessionários de prazos constituíam a aristocracia feudal a dominar todos os aspectos da região dos rios. Estes ocupavam os postos administrativos e serviam como capitães de Manica, zumbo e no monomotapa; eram elegíveis para capitão mor das terras da coroa. Em termos gerais, estes controlavam a política nativa cuja função era escutar todos os casos envolvendo leis africanas, garantiam o fornecimento da mão-de-obra para o desempenho de todas as tarefas oficiais como as funções de barqueiros, carregadores, lenhadores bem como o recrutamento de soldados para operações militares (NEWITT, 1997: 211). As autoridades oficiais acabaram por se ver numa situação de dependência e a fazer vista grossa aos diversos atropelos da lei cometidos pelos prazeiros, tais como as lutas violentas constantes entre os prazeiros. 
As famílias dos prazos necessitavam de um auxílio das autoridades, sobretudo na legitimação dos seus títulos e por um reconhecimento que os colocaria ao nível da aristocracia portuguesa. Para tal, as mulheres adottam títulos de donas e os homens procurava comissões nas forças armadas, ansiavam por cargos municipais e postos dentro do aparelho administrativo. Este desejo levou-os a abraçar o catolicismo tradicional e a assistir os ofícios religiosos celebrados na igreja. 
A perpetuação desta sociedade compósita assentava em quatro elementos a destacar: a solidez dos laços familiares, alargados aos inúmeros filhos ilegítimos e a alianças entre clãs; o patrocínio que oferecia a um recém-chegado a possibilidade de integrar-se numa família já instalada: infusão do sangue pelos brancos e de capitais pelos indianos; a impotência da administração, da justiça e do clero local, cujos representantesestavam, na maior parte dos casos, a soldo de uma ou varias famílias ou eram, eles próprios, senhores de prazos; a importância das funções de administradores e de chefes consuetudinários que certos senhores de prazos desempenhavam na sociedade africana livre que vivia nos seus domínios e nos estados independentes.
 O senhor do prazo (…) cobrava o tributo e convocava para pegar em armas os homens livres (…) e impunha a sua lei aos chefes das aldeias (fumos) e aos chefes de terras (mambos); a posse de polícias e exércitos privados compostos por bandos poderosos (regimento, butaca ou ensaca podendo ser 250 homens comandados por um bazo). Ensaca eram escravos armados ligados á família e encarregados de impor a lei do senhor aos colonos e de protege-los contra os seus inimigos internos e externos e, no século XIX serviam na obtenção de escravos exportáveis. Os escravos militarizados tinham uma posição superior em relação ao colono livre, pois eram estes que formavam a guarnição das aldeias, das fronteiras do prazo e, na ausência do senhor prazeiro, o seu intendente-cabo de guerra era o muanamambo (PELISSIER, 2000:81).
Nos anos de 1670, a Coroa chegou a formular medidas visando a dotação de órfãs a enviar para a capitania de Moçambique, no âmbito de uma política mais vasta para povoar a capitania, assegurar a defesa e dinamizar o seu comércio. O monopólio do comércio foi transferido, em 1673, dos capitães de Moçambique para a Junta de Comércio de Moçambique e Rios de Sena. O povoamento da capitania foi igualmente objecto de medidas da Coroa. Para aumentar a diminuta população europeia dos Rios de Sena, foi organizada uma expedição de casais e órfãs, a qual chegaria à colónia apenas em 1677 (RODRIGUES, 2000).
Neste contexto, o príncipe regente D. Pedro, em 1675, aprovou a proposta da Junta de Comércio para criar na capitania um recolhimento de órfãs do reino, cujos casamentos seriam assegurados com a dotação de cargos e terras. Entretanto, determinou a remessa da índia de casais e de órfãs para casarem com portugueses, os quais seriam beneficiados do mesmo modo. Esta ordem tem servido de argumento à tese de ter sido a Coroa a reservar as terras para as mulheres, tal como de fundamento à proposição que funda a origem dos prazos nas dotações nupciais. Alexandre Lobato chegou a defender: "Assim nasceram os prazos, e assim se fez a Zambézia, que gradualmente deixou de pertencer ao Monomotapa" (Rodrigues, 2000). 
Sumário
Nesta liçao consolidou que os prazos surgiram no século XVI a quando da fixação portuguessa. As terras onde estes foram constituídos foram adquiridas pela conquista, compra e doação.
Ao se intitucionalizar o sistemas de prazos, o governo colonial estava ciente de que naquela região existia muito ouro e que era preciso monopolizá-lo. 
Leituras complementares
Departamento de História da UEM: História de Moçambique, vol. I, 2ª edição, Maputo: Tempo, 1988.
NEWITT, Malyn, Mistória de Moçambique. Lousã: Publicações Europa-América, 2012.
Auto avaliação
1. Explica o por quê da penetração portuguesa no interior de Moçambique?
2. Localize no tempo a utilização dos termos prazo e prazeiro.
3. Refira-se as explicações sobre as origens do sistema de prazos no Vale do Zambeze
4. Caracterize o sistema de prazos.
5. Comente: “As origens dos prazos encontram-se no continente africano”
6. explica como é que os senhores prazeiros adquiriam terras no vale do zambeze.
7. Como se explica a necessidade de ocupar o vale do Zambeze pelos portugueses?
8. Distingue os prazos do norte dos com os do sul do vale doo zambeze.
Lição 10: As formulaçoes legais sobre a origem prazos do vale do zambeze 
Introdução 
Os portugueses, deixando de explorar Sofala e penetrando no interior pela primeira vez em 1513, na direcção às terras do estado de Muenemutapa e infiltraram-se igualmente ao longo do Zambeze. Substituindo gradualmente os Suahilis, instalaram as suas feiras, os seus sertanejos, os seus mestiços e as suas guarnições na direcção das minas. A partir de 1530, os portugueses decidiram penetrar no vale do Zambeze e com este corolário, Tete e Sena são fundados em 1530 e Quelimane em 1544. Esta situação marca o encontro de padrões civilizacionais nesta região. Esta presença, levou ao surgimento de instituições prazeiras cujas terras tinham sido compradas, conquistadas ou mesmo oferecidas pelas elites africanas locais.
Nesta lição, você vai aprender sobre as formulaçoes legais sobre a origem, isto é, como os portugueses tentaram legalizar o sistema de prazos vigente em Moçambique no século XVII.
Ao terminar a lição, voce deve:
· Localizar no tempo o início da legalizaçao do prazos.
· Caracterizar as formulas legais do estabelecimento dos prazos.
· Identificar as cláusulas vigentes em cada modelo de concessão de terra.
· Mencionar os contextos e causas das mudanças dos modelos de concessão de terras aos prazeiros.
· Explicar como a coroa consegue controlar as terras.
· Mencionar as medidas tomadas por portugal a partir de 1752.
As formulaçoes legais sobre a origem prazos do vale do zambeze
O reconhecimento destas propriedades começou em 1596. Entre 1612 a 1613, o governo consagrou títulos de posse em proveito de particulares, mas também de dominicanos, reconhecendo-lhes direitos sobre a terra e africanos que aí viviam. Em 1629, apareceu uma legislação, instaurando os prazos da coroa, data na qual os portugueses obtêm uma soberania nominal sobre as terras de Mwene Mutapa.
Utilizando o modelo das concessões enfitêuticas em vigor em Portugal, esta legislação concedia as terras por três gerações, com o direito de as explorar assim como a totalidade dos poderes e regalias, em troca de uma contribuição e da obrigação de fornecer soldados em caso de necessidade. A mesma lei proclamava que os prazeiros tinham sobre o território o mesmo poder e a mesma jurisdição que cabia aos fumos (chefes locais a quem haviam conquistado as terras). 
Estas disposições acabaram sofrendo alteração em 1677 com a finalidade de reduzir o poder dos clãs portugueses que começavam a controlar o vale do Zambeze e com o cálculo, confortado pela experiencia da Índia e Ceilão, de povoar estas terras portuguesas. A nova legislação, decide dar prioridade as mulheres órfãs merecedoras ou filhas de servidores da coroa com objectivo de atrair para elas maridos de alta categoria. À morte da concessionária, as terras passam á filha mais velha desta, para regressar à corroa por três gerações (M’BOKOLO, 2003:489).
A instituição do regime jurídico dos prazos nos Rios de Sena tem de ser entendida no contexto do Estado da índia, onde já vigorava a concessão de Terras da Coroa, nos territórios de Ceilão e da Província do Norte. Perdida a ilha cingalesa, o conjunto normativo que regulava a cedência de terras foi evoluindo até 1752, quando Moçambique transitou para a dependência directa do governo de Lisboa. 
Nos territórios do Atlântico, o regime instituído foi o das sesmarias, que visava a cedência de terras geralmente incultas e implicava a obrigatoriedade de as cultivar, isentando-as aqui de qualquer pensão, excepto o dízimo eclesiástico. Este regime foi aplicado às ilhas atlânticas, desertas à data da descoberta. 
As zonas densamente povoadas e agricultadas do Estado da índia, a concessão de terras foi enquadrada pela enfiteuse, comummente usada para as terras cultivadas. Tal implicava que a Coroa retinha o domínio directo das terras, cedendo a outrem o domínio útil, em troca da satisfação dos direitos dominiais, entre os quais o pagamento de um foro. Este vínculo denominava-se prazo ou seja, contrato. Era, ainda, denominado aforamento por derivação da palavra foro, que designava a pensão paga. 
No caso de Moçambique, conhecem-se doações de terras remontando aos anos de 1580, as quais seguiam as normas já aplicadas no Estado da índia (enfitêutico). A instituição de normas dirigidas ao vale do Zambeze, por iniciativa do governo de Goa, ocorreu apenas nas primeiras décadas de Seiscentos. Os tratados de 1607 e 1629 com o Estado do Monomotapa, em troca de auxílio militar,reconheceram aos portugueses a posse de zonas de minas, no primeiro caso, e de extensos territórios sob a sua soberania formal, no último. Assim, o alvará de 6 de Fevereiro de 1608, posteriormente completado com o de 14 de Dezembro de 1633, regulava o aforamento de terras aos moradores do vale do Zambeze. 
Actividade
Na 10ª e 12ª classe abordou sobre as colónias de povoamento e colónias de exploração. Faça uma ligação deste tipo de colónias com os modelos de concessão de terras praticados por Portugal.
O governo de Lisboa raramente se ocupou da concessão de terras no vale do Zambeze e não interveio no processo legislativo desta região situada na ultra-periferia do império enquanto ela dependeu do Estado da índia. As iniciativas directas da Coroa limitaram-se a determinar a distribuição de terras e, até, a sua divisão para atrair povoadores, medidas geralmente associadas a projectos de colonização e de autonomização da administração de Moçambique. Mas, essa intervenção acabaria por fracassar devido à oposição dos foreiros instalados no vale do Zambeze e pela dificuldade de encontrar povoadores para terras tão remotas e dificuldades de acudir a partes do império onde a soberania portuguesa periclitava. Nestas circunstâncias, o regime jurídico das concessões do vale do Zambeze foi-se alterando por iniciativa do governo de Goa, em conexão com as directrizes da política régia para a Província do Norte. Na verdade, os prazos do vale do Zambeze, que rendiam diminutas receitas, não compunham, como noutras áreas, uma importante fonte de rendimento para suscitar intervenções específicas da Coroa. 
No território, a maior parte das rendas provinha do arrendamento do monopólio do comércio aos capitães de Moçambique ou das receitas alfandegárias geradas pelas trocas mercantis. 
Como se caracterizou o regime jurídico dos prazos do vale do Zambeze? 
Tal como nos contratos enfitêuticos entre particulares, o domínio útil destas terras obrigava o foreiro à satisfação de um foro à Coroa, o qual era aqui pago em ouro, desde 1633. No entanto, enquanto bens da Coroa, as terras do vale do Zambeze destinavam-se a recompensar serviços, como no resto do Estado da índia. Assim, as novas concessões e mesmo a confirmação das sucessões atendiam aos serviços dos mercenários ou dos seus familiares. A política de remuneração de serviços da Coroa foi fundamental na criação da estrutura social do vale do Zambeze, tal como no reino e noutros espaços do império. As concessões às ordens religiosas, no caso, os dominicanos e os jesuítas, destinavam-se a assegurar o sustento das missões instaladas na região. A concessão coagia os foreiros a residirem na região e a prestarem serviços com a população africana dos prazos, embora esta condição, inerente à concessão dos bens não patrimoniais da Coroa, poucas vezes integrasse o clausulado das cartas de aforamento dos Rios. Incluíam-se serviços como a construção e a reparação dos fortes e das vias públicas e, sobretudo, a participação na guerra defensiva e ofensiva. 
O regime jurídico dos prazos iria sofrer alterações na sequência da passagem da administração de Moçambique do Estado da índia para a dependência directa da Coroa, em 1752. O conjunto legislativo então definido tendeu a aproximar o ordenamento jurídico da propriedade em Moçambique do que enquadrava a posse da terra no Brasil. Isso resultou, em primeiro lugar, do facto de a experiência das autoridades de Lisboa estar muito mais baseada na produção legislativa para a colónia americana do que para a índia. Neste contexto, grande parte das normas legais elaboradas para os prazos de Moçambique e o discurso em redor da questão fundiária basearam-se nas sesmarias, o regime que moldava a propriedade da terra naquela colónia. Acresce que os altos funcionários da administração moçambicana, como os governadores-gerais, os governadores dos Rios, os ouvidores e os secretários de governo, passaram mais frequentemente a ser recrutados no reino e no Brasil. Essa percepção era reforçada pela própria migração de novos colonizadores oriundos do Brasil, a qual se tornou relevante no final do século XVIII. Assim, a par da legislação emanada de Lisboa, o discurso na colónia tendia igualmente a assimilar os prazos às sesmarias. 
Actividade 2
A leitura feita até aqui, mostra que a legislação sobre a concessão de terras foi sofrendo alterações. Apresente de forma cronológica as alterações mostrando o contexto e as finalidades.
Esta sesmarização dos prazos iniciou-se em 1760, quando Lisboa começou a legislar sobre as terras de Moçambique. Um aviso régio de 5 de Abril comunicava que, no respeitante à doação de "sesmarias", o governo de Moçambique passaria a regular-se pelos regimentos e ordens aos governadores e capitães generais do Brasil. Na mesma altura, o Conselho Ultramarino, pela provisão de 3 de Abril, definia o regulamento da concessão das terras da capitania, a aplicar aos prazos então vagos e progressivamente àqueles cujas vidas findassem. A área a conceder não excederia as três léguas de comprimento por uma de largura, área já adoptada para o Brasil, e era reduzida a meia légua em quadra no caso de terras minerais ou localizadas junto aos rios e à costa. Os foreiros teriam de ceder terra e serventias públicas para a fundação de novas povoações, podendo demandar a redução do foro, mas não reclamar qualquer eventual prejuízo, uma disposição muito frequente nas cartas de sesmaria atlânticas. Não eram, deste modo, contempladas as condições de indivisibilidade e inalienabilidade, mantidas pela inércia administrativa nas cartas de aforamento dos Rios. 
Quanto ao processo burocrático, as concessões passavam a integrar a jurisdição do governador-geral, deixando os tenentes-generais de poder prover as terras, como tinham feito até à autonomia. Além disso, eram exigidos os pareceres das Câmaras e do feitor da Fazenda Real, um modelo semelhante ao seguido naquela colónia. A confirmação régia dos aforamentos transitava do vice-rei da índia para o Conselho Ultramarino, tendo de ser obtida dentro de quatro anos. A aplicação deste diploma teria implicado profundas transformações nos Rios de Sena, nomeadamente pela divisão das terras e pela sua concessão em áreas diminutas. Tal medida iria necessariamente enfraquecer a autoridade de cada senhor e alterar as relações de poder nos Rios, mas, durante anos, a legislação enviada do reino ficou no papel e a concessão de terras continuou a regular-se pelo regime jurídico anterior.
As alterações subsequentes do regime dos prazos ocorreram por iniciativa da administração de Moçambique, na ausência de qualquer ordem expressa da Coroa. Em 1783, o governador Pedro Saldanha de Albuquerque recolheu todos os títulos sem confirmação régia, obrigando os foreiros a pedir novas cartas, que passaram a incluir uma cláusula que restringia a nomeação das restantes vidas aos descendentes ou ascendentes. Tal norma transformava a natureza das terras dos Rios em prazos familiares em vez de livre nomeação. 
Segundo M’BOKOLO (2003:490), Após a separação da Índia e de Moçambique, em 1752, Portugal enunciou novas medidas destinadas a afirmar a sua autoridade tais como: proibição de possuir mais de uma propriedade; limitação da superfície dos prazos; obrigação de pagar o imposto e de realizar os trabalhos incumbindo ao serviço público como a conservação das estradas; proibição do absentismo; necessidade de cultivar as terras. Estas medidas não serviram de nada, pois uma carta de 1758 dirigida ao governador salienta que “num grupo de vinte prazeiros, cada um deles conta dezanove inimigos. Todavia, todos são inimigos do governador. A partir de então o sistema concebido para ser um instrumento de colonização modelava-se cada vez mais sobre as realidades africanas, para se confundir finalmente com elas. No plano económico, a vontade de desenvolver plantações coloniais, no século XVII, obrigando os prazos a produzir açúcar, café e tabaco, não surtiu efeito porque as principais culturas dos prazos continuaram a ser o sorgo, o milho painçoe o milho. Os únicos recursos dos prazos foram o ouro e o marfim e, em menor escala o ferro e o cobre. Os prazeiros não tinham meios de coação económica sobre os africanos que viviam nas suas terras, pois estes podiam emigrar para se instalar em outro prazo, ou mesmo para se constituir numa comunidade independente. Esta realidade, como refere MBOKOLO (2003) “ levou ao estabelecimento de um equilíbrio precário que havia de durar até à colonização imperialista dos finais do século XIX” (490). 
Veja como é que no final do século XVIII, as autoridades portuguesas passaram a controlar de forma cerrada os prazos.
No final do século, num contexto de maior centralização política, a administração de Moçambique passou a exercer um controlo mais apertado sobre os foreiros. Antes de mais, aumentou a inspecção sobre as inúmeras terras sem confirmação régia para lá dos quatro anos previstos para a obter. De facto, muitos senhores dos Rios ignoravam essa cláusula, quer por falta de procuradores na longínqua Lisboa, quer como uma estratégia ensaiada para iludir o pagamento dos elevados direitos de encartamento e, mais raramente, dos foros. O governo-geral passou a exigir aos foreiros a reforma quadrienal das provisões de aforamento, com o pagamento dos respectivos direitos, até obterem a carta de confirmação régia. Além disso, a ausência de confirmação passou a pesar como uma ameaça junto dos moradores dos Rios, que a qualquer momento podiam ver as terras confiscadas por comisso. O controlo dos foreiros passou igualmente pela introdução de restrições na sucessão das vidas e na renovação dos aforamentos. 
Como é que a coroa consegue tirar as terras de modo a reorganizar as concessões. Leia e tire as suas conclusões. 
Seguindo à letra a cláusula imposta por Saldanha de Albuquerque, a partir do final do século, os governadores limitaram as sucessões aos descendentes ou ascendentes. Tal prática traduziu-se no aumento do número de terras revertidas à Coroa, o que permitia à administração concedê-las a novos moradores, conquanto a norma pudesse ser contornada em benefício de determinado indivíduo. Por último, foram mudados os critérios para a atribuição de novos prazos. O governo-geral evocou as ordens régias de 1753 e de 1783 interditando novas concessões aos moradores que já tinham terras. Para contrariar a latitude das determinações régias e as estratégias dos moradores dos Rios para conseguirem novas mercês, em 1798, o governador-geral Francisco Guedes Meneses da Costa determinou que os foreiros agraciados com um novo prazo, com base no argumento de que o que possuíam era de ténue rendimento, deveriam desistir deste último. O mesmo princípio foi estabelecido em relação às uniões em que ambos os cônjuges eram detentores de prazos e às sucessões em que as vidas recaíam sobre moradores já possuidores de terras. 
Conquanto as citadas ordens régias visassem apenas as novas concessões, a norma estabelecida por Meneses da Costa vinha colocar em causa também os direitos de sucessão e de renovação, que, apesar dos confiscos ocasionais, tinham vigorado durante os séculos XVII e XVIII. Na prática, na viragem para Oitocentos, o reconhecimento desses direitos tornou-se cada vez mais dependente do arbítrio dos governadores. Como se verá adiante, o mesmo governador Francisco Guedes Meneses da Costa estabeleceu, em 1799, que as mercês novas seriam feitas a mulheres e orientadas por critérios restritos, fazendo legitimar a sua decisão com a alegada ordem régia para as terras serem dadas preferencialmente às filhas dos habitantes da colónia para casarem com europeus de modo a promover o povoamento dos Rios.
A definição deste conjunto normativo para a atribuição das Terras da Coroa diluía a relação secularmente instituída entre serviço e mercê, que começara já a ser subsumida, para associar a concessão de terras apenas ao povoamento europeu. O argumento racial era explicitamente conectado com as necessidades de povoamento, desenvolvimento agrícola e segurança, o que introduzia uma novidade no discurso sobre as Terras da Coroa. De facto, até então, a concessão de prazos tinha sido encarada como forma de povoar os Rios com vassalos beneméritos cujos serviços eram assim recompensados. Esses vassalos eram recrutados fundamentalmente entre europeus e goeses, mas os seus descendentes, os "naturais", tinham sido reconhecidos como súbditos com os mesmos direitos dos seus antepassados, o que fora reforçado pela legislação pombalina, aplicada a Moçambique em 1763, interditando a distinção entre naturais do reino e do Estado da índia. A política de um prazo por foreiro era particularmente usada contra os descendentes das antigas famílias dos Rios, que tinham conseguido acumular vários prazos, e, de um modo geral, viria a enfraquecer a sua posição.
Os exércitos privados (muzungos) eram usados muitas vezes para expandir as zonas controladas, isto é, conseguir concessões territoriais com os chefes locais e com monomutapa, extorquir tributos aos indígenas, obter o controlo das minas para ver se elas podiam render o que os espanhóis conseguiram na América do Sul (NEWITT, 1997, p.206). Os exércitos privados recrutados entre os tongas e maraves recebiam em compensação os produtos da pilhagem, as mulheres cativas, acesso aos bens importados que não pudesse ser fácil se estivessem dependentes dos carangas. Eram usados também para o pagamento de tributos o que implicava anexação de novos territórios para a cobrança (PELISSIER, 2000:80).
Sumário
Nesta lição acredito que consolidou aspectos como os modelos legislativos que asseguraram as terras dos prazos em Moçambique, pois estes basearam-se primeiramente no modelo enfitêutico em vigor na índia e posteriormente, a partir de 1752, com a separação de Moçambique de Goa passando a ser controlado directamente de Lisboa, passa a vigorar o modelo das sesmarias já em vigor no Brasil. 
Leituras complementares.
BHILA, H. H. K. A região ao Sul do Zambeze, capítulo 22. In: Bethwell Allan Ogot (coord.) HISTÓRIA GERAL DA ÁFRICA, V: ÁFRICA DO SÉCULO XVI AO XVIII, Brasília: UNESCO, 2010.
M’BOKOLO, Elikia: África Negra, História e Civilização, Tomo I até Século XVIII, Lisboa: Vulgata, 2003.
NEWITT, Malyn.História de Moçambique. Mira Sintra: Publicações Europa-América, 1997.
PÉLISSIER, René. História de Moçambique: formação e oposição, 1854 – 1918, Vol.I. 3ª ed., Lisboa: Estampa, 2000.
RODRIGUES. Eugenia, Senhores, Escravos e Colonos nos Prazos dos Rios de Sena no Século XVII: Conflitos e Resistência em Tambara. Lisboa: Estudies Review, 2001.
SENGULANE, Hipólito. História das Instituições do Poder Político em Moçambique. Maputo: Autor, 2013.
Auto avaliação 
1. localize no tempo o reconhecimento das propriedades e da legistação que intitucionalizou os prazos.
2. Em 1629, apareceu uma legislação, instaurando os prazos da coroa utilizando o modelo das concessões enfitêuticas em vigor em Portugal, mas esta legislação sofreu alterações em 1677.
Explique o por quê de alterações na legislação dos prazos promulgada em 1629.
3. Identifique os modelos de concessões de terras utilizadas pelos portugueses.
4. O governo de Lisboa raramente se ocupou da concessão de terras no vale do Zambeze e não interveio no processo legislativo desta região situada na ultra-periferia do império enquanto ela dependeu do Estado da índia.
Comente a frase e mostre que impacto teve a curto prazo esta atitude de não se 
5. Menciona alguns cláusulas da concessao enfitêuticos de terras . 
6. O regime jurídico dos prazos sofreu alterações na sequência da passagem da administração de Moçambique do Estado da índia para a dependência directa da Coroa, em 1752.
Explica por que é que o conjunto legislativo então definido tendeu a aproximar o ordenamento jurídico da propriedade em Moçambique do que enquadrava a posse da terra no Brasil.
7. Menciona algumas cláusulas da concessão de terras pelo modelo das sesmarias.
8. Uma das características dos prazos era a utilização dos exércitos privados.
Que importância tinham estes exércitos?
9. Refira-se as obrigaçõesdos senhores prazeiros.
10. A perpetuação desta sociedade compósita assentava em quatro elementos. Mencione-os.
11. Após a separação da Índia e de Moçambique, em 1752, Portugal enunciou novas medidas destinadas a afirmar a sua autoridade. Apresente-as e diga os respectivos resultados. 
Lição 11: Actividades económicas dos prazos
Introdução 
Durante século XVIII, as famílias afro-portuguesas e os respectivos exércitos chicundas viviam graças a prestação de serviços e pagamento de tributos pelos camponeses livres que viviam nos prazos, bem como dos lucros do comércio. Esta situação permitia-os manter um nível de economia alto mesmo em épocas de mãos resultados agrícolas ou com as deserções dos camponeses.
Nesta lição, vai aprender sobre as actividades económicas dos prazos. 
Ao terminar esta lição você deve:
· Caracterizar a economia dos prazos ao longo do tempo.
· Identificar a base de economia dos prazos.
· Explicar em que consistiam a feudalização das relações de produção.
Actividades económicas dos prazos
Leia o texto que segue e retenha entre vários aspectos o seguinte: a base da economia entre século XVI a XVIII e a partir do século XVIII, o tipo de relações de produção, o papel do chicundas na economia e a necessidade de africanização.
Nos séculos XVII e XVIII, tanto os mercadores portugueses como os indianos consideravam o marfim e o ouro como fonte de toda a riqueza proveniente da África Central. Contudo, e durante este mesmo período, foi a actividade agrícola levada a cabo pelos camponeses instalados nas terras das famílias afro-portugueses dos Rios que forneceu os excedentes necessários à manutenção dos prazos. Neste período, a agricultura domina a base da economia dos camponeses residentes nos prazos. Os produtos agrícolas eram resultado de cobrança de tributos em género. Segundo NEWITT (1997: 222) “… tudo indica não se ter a agricultura comercial desenvolvida de forma mais concreta devido a problemas relacionados com a mão-de-obra”. Era difícil levar os escravos a trabalhar contra sua vontade, pois estes fugiam para outros prazos ou para territórios vizinhos ocupados por chefes independentes sem plantações. 
As relações de produção nos prazos eram basicamente de ordem feudal. O chefe africano pagava um tributo em gênero ao prazeiro: manteiga, estofos tecidos locais, mel, tabaco, açúcar, gado de grande e pequeno porte, marfim e ouro em pó. Na condição de chefe de facto, o prazeiro adoptava aspráticas sociais africanas no domínio da religião e esposava mulheres pertencentesas famílias dos chefes, a fim de dissimular sua usurpação do poder tradicional africano, realçar sua imagem junto aos africanos e ultrapassar a sua principal fraqueza, a saber, a sua falta de legitimidade na política africana tradicional. Estes aspectos conduziram o professor Isaacman a propor uma teoria da africanização, segundo a qual o prazo, como sistema fundiário português, foi tão transformado e adaptado a situação africana que se tornou completamente africano. Esse processo de africanização teria começado na virada do século XVII. Esta teoria é dificilmente sustentável quando é sabido queo sistema do prazo esteve sempre mais ou menos ligado ao capitalismo mercantil, pois como próprio Isaacman refere, os prazeros serviam de intermediários no comércio entre Moçambique e a Índia e, finalmente, a Europa, pois, no séculoXVIII, exportaram sobretudo marfim e escravos para o Brasil e para as ilhasfrancesas do arquipélago Maurício. Assim, o sistema do prazo conservou suas ligações econômicas com a Europa e, então, podemos dizer que a sociedade dos prazeiros guardou, mesmo em sua fase decadente, algo de não africano. Além disso, a organização interna dos prazos comportava certos aspectos que dificilmente poderíamos qualificar de africanos, em especial, a coexistência do colono e da chikunda (exército de escravos). Mesmo no ápice da pretendida mutação em instituição africana do sistema do prazo, um processo inverso estavaem curso, aquele da desafricanizaçao das sociedades tradicionais africanas nos prazos (BHILA, 2010: 755).
Veja agora quais os sectores de economia dominantes da classe dominante
Havia três outros sectores da economia de que a classe dominante dos senhores feudais dependia do comércio a actividade mineira e o que pode ser descrito como indústria de serviço. Os prazos de grandes dimensões, as cidades instaladas junto ao rio, as actividades dos militares e o ir e vir das caravanas comerciais e dos membros das expedições mineiras requeriam a prestação de serviço por parte de pessoal especializado, assim nos Prazos Jesuítas vamos encontrar cozinheiros, padeiros, barbeiros, alfaiates, lavadeiras, pedreiros, pescadores, costureira, carpinteiros ladrilheiros, ferreiro, construtores de embarcações, mineiros destinados a prospecção de ouro bem como outros escravos eram utilizados nos prazos. 
Os milhares de cativos (chicundas) alimentados pelos camponeses garantiam a segurança militar dos Prazos e o livre escoamento dos produtos excedentários dos camponeses. Havia dentro dos Prazos um grupo de mercadores negros especializados designados Mussambazes.
Nos finais do século XVIII acentua-se o comércio de escravos, o que levou a população a abandonar o vale para o delta para ligar-se à produção comercial de cereais para abastecer navios negreiros. Para além da agricultura temos o comércio, a mineração e a prestação de serviços onde os militares desempenhavam o papel de ir e vir das caravanas comerciais e dos membros das expedições mineiras que requeriam a prestação de serviços por um pessoal especializado. Assim, em alguns prazos encontramos cozinheiros, pedreiros, barbeiros, alfaiates, lavadeiras, pescadores, costureiras, carpinteiros, ladrilhadores, ferreiros, construtores de embarcações, mineiros, escravos domésticos, jardineiros. A zona inferior do Zambeze era caracterizada pela tecelagem, trabalho de ourives e barqueiros (NEWITT, 1997: 223). Segundo M’BOKOLO (2003: 490), no plano económico, a vontade de desenvolver plantações coloniais, no século XVII, obrigando os prazos a produzir açúcar, café e tabaco, não surtiu efeito porque as principais culturas dos prazos continuaram a ser o sorgo, o milho painço e o milho. Os únicos recursos dos prazos foram o ouro e o marfim e, em menor escala o ferro e o cobre. Os prazeiros não tinham meios de coação económica sobre os africanos que viviam nas suas terras, pois estes podiam emigrar para se instalar em outro prazo, ou mesmo para se constituir numa comunidade independente.
A outra fonte de economia era a tributação sobre alguns produtos como a cera, o mel, o azeite, a poalha de ouro, o sal, aves, carne, peixe seco, açúcar, cereais em quantidades, machiras, pastas de madeira e madeira transformada em vigas. Este tributo garantia o sustento do senhor prazeiro e membros do seu lar e outra parte distribuída pelos chicundas. (Newitt, 1997: 224).
Newitt (1997) refere que:
“Os prazos foram criados pelos senhores da guerra que, no século XVII, levaram a cabo grandes operações de conquista. No século XVIII, o estado colonial (…) beneficiou bastante do facto de, para manter a sua posição, os senhores dos prazos dependessem do poder dos Changamires e da relativa solidez das chefias Maraves. A política de distribuição dos prazos, (…) acabou por ser relativamente bem-sucedida, pois impediu o aumento de monopólios relacionados com a terra”. (224). 
Sumário
Nesta lição tratou sobre as actividades económicas dos prazos onde se destaca a agricultura e tributação até século XVIII e o comércio de escravos a dominar a economia dos prazos a partir do século XVIII. Dizer também que foi esta actividade que levou à reestruturação dos prazos que será abordada mais adiante.
Leituras complementares
BHILA, H. H. K. A região ao Sul do Zambeze, capítulo 22. In: Bethwell Allan Ogot (coord.) HISTÓRIA GERAL DA ÁFRICA, V: ÁFRICA DO SÉCULO XVI AO XVIII, Brasília: UNESCO, 2010.
M’BOKOLO, Elikia: África Negra, História e Civilização, Tomo I até Século XVIII, Lisboa: Vulgata, 2003.
NEWITT, Malyn.Históriade Moçambique. Mira Sintra: Publicações Europa-América, 1997.
Auto avaliação
1. Identifique a base de economia dos prazos.
2. Comente: “As relações de produção nos prazos eram basicamente de ordem feudal”.
3. Explica como é que os prazeiros dissimulavam a fraqueza de falta de legitimidade na política tradicional africana através da africanização
4. A economia dos prazos pode ser dividida em dois períodos cujas bases são distintas. Clarifique os períodos e a respectiva base da economia.
Lição 12: As relações sociais nos prazos
Introdução 
Em qualquer sociedade, no tempo e espaço existiu uma organização social para garantir a funcionalidade da mesma sociedade. Para os prazos, não fogem a regra. De salientar que neste, a grande maioria dos senhores e das donas residiam nas cidades, que seja na zona dos rios bem como na ilha de Moçambique. Alguns destes chegavam mesmo a ponto de viver em Goa e nunca tendo posto os pés na costa oriental africana, mas eram muitos que habitavam nas suas casas de campo, dentro dos prazos. As casas eram habitações amplas, rodeadas por quintas com murros e aldeias onde se alojavam os serviçais. 
Nesta lição, você vai prender sobre as relações sociais nos prazos com a finalidade de aferir como é que funcionava a sociedade prazeira.
Ao terminar a lição, você deve:
· Caracterizar a sociedade prazeira.
· Descrever as funções dos elementos que constituíam a sociedade prazeira.
· Referir as obrigações dos residentes perante o proprietário do prazo.
As relações sociais nos prazos 
Era difícil controlar o prazo porque estes não eram criações abstractas da lei portuguesa, mas sim instituições que desempenhavam funções vitais na vida dos camponeses africanos, bem como em tudo o que dizia respeito às actividades comerciais, industriais e agrícolas típicas das terras da baixa Zambézia 
Á cabeça do prazo encontrava-se a respectiva dona acompanhada do marido e pela família. Nos prazos com grandes dimensões podia-se encontrar sociedades formadas por portugueses ou afro-portugueses onde eram contratados agentes ou procuradores para gerir os seus negócios. Nos prazos pertencentes a ordens religiosas, o papel do senhor era representado por um padre jesuíta. Como refere NEWITT (1997):
“...os concessionários dos prazos tinham a obrigação de fornecer carregadores e barqueiros sempre que a coroa os reclamasse, bem como de armar os seus seguidores quando se tornava necessário defender a colónia, pagar uma renda anual e desenvolver os recursos das terras que lhes eram concedidas. ...era lhes dado o direito de reclamar o pagamento de tributos e a prestação de serviços por parte dos camponeses que para eles trabalhavam, e ainda de desempenharem uma série de funções rituais da exclusiva competência dos chefes” (216).
Segundo M’BOKOLO (2003:490), a sociedade prazeira encerava três ou quatro categorias a destacar os africanos livres e os seus escravos, os escravos dos prazos e os prazeiros. Os africanos livres ou chamados colonos constituíam as comunidades às quais a terra pertencia antes da instituição dos prazos. Estes impuseram-lhes obrigações novas como pagamento de um imposto sobre as colheitas e sobre os produtos de caça e prestação de trabalho como guias, carregadores ou soldados. Rodrigues (2000) acrescenta que estes deviam pagar um tributo anual em géneros, denominado maprere ou missonco (mussoco) e que incluía artigos como cereais, machiras, marfim e poalha de ouro. Aos fumos podia também lhes ser exigindo que pagassem uma taxa sobre animais caçados cuja carne era consumida nos prazos, bem como pagamento de multas caso eclodisse surto de lepra e nascimento de crianças deformadas. Esta situação criou oportunidade para que as donas e seus agentes acumulassem fortunas.
O senhor prazeiro nomeava um mocazambo (funcionário africano) para escutar os casos mais complicados e práticas proibidas (caso da prática do muavi) que culminavam com aplicação de multas. Estas constituíam uma fonte de renda para o senhor e outros chefes independentes instalados na vizinhança (NEWITT, 1997: 216).
Leia neste paragrafo e perceba como eram adquiridos os escravos, a tipologia de escravos e a vantagem de ser escravo nos prazos.
Quando os portugueses chegaram do oriente, trataram de adquirir escravos para servir nas fortalezas, nos navios e outras funções. As linhagens africanas adquiriam escravos para aumentar o seu poder produtivo e reprodutivo (PELISSIER, 2000:84). As mulheres eram adquiridas via compra ou captura e os homens eram comprados mediante negociações clientelistas envolvendo a troca da mão-de-obra pela aquisição de gado ou esposas. Por isso, as famílias afro-portuguesas passaram a possuir muitos escravos ligados a família do senhor por um sistema de obrigações recíprocas. M’BOKOLO (2003:491) refere que os escravos eram adquiridos pelos meios mais diversos como troca com os grupos vizinhos, roubos ou guerra em particular para as mulheres e crianças, auto servidão em período de fome, compensações por crimes. Estes escravos, segundo NEWITT (1997: 217), desempenhavam várias tarefas como artesanato, barqueiros, portadores de machitas, trabalhadores rurais, concubinas, soldados e como administradores efectivos nos prazos. Os escravos directamente ligados as donas do denominavam-se butaca e os integrados na casa do senhor eram designados por bandázios e bichos. M’BOKOLO (2003:491) sublinha que havia duas categorias de escravos sendo a primeira os designados por mabandazi ou escravos da porta a viver próximo da casa do senhor prazeiro e, a segunda são os escravos fora da porta que incluía os menores e soldados. Ser escravo no prazo era entendido como estratégia de sobrevivência em tempos de fome e guerra e forma de prosperar e subir na vida uma vez que estes geriam as casas do senhor, cobravam impostos aos colonos, chefiavam missões diplomáticas e efectuavam algumas expedições comerciais. A outra vantagem de ser escravo era mais tarde receber esposa e formar família e adquirir escravos por conta própria. Por isso, alguns chegavam a ser ricos do que as donas e os senhores (PELISSIER, 2000:84).
No século XVIII, os clientes (escravos) dos senhores são designados por chicunda. No século XIX, a palavra chicunda mostra tendência de se substituir pelo termo capitão. Estes estavam organizados em companhias chefiadas por um sachicunda. Os escravos ligados ao prazo eram dirigidos por mocazambo, tanto nas expedições militares bem como para guarnecer uma aldeia remota (RODRIGUES, 2000). 
Veja a seguir, que ter um escravo (chicunda) tornou-se um perigo para o senhor prazeiro.
Os prazeiros nomeavam mwanamambos cuja função era substitui-los sempre que se ausentassem. Esta estrutura forjou identidade a tal ponto que passaram a considerar-se ligados ao prazo e, não a este ou aquele senhor. Por isso, a obediência podia ser posta em causa, caso os mocazambos tivessem razões para desconfiar ou desprezar o senhor prazeiro. Todavia, os chicundas revoltavam-se frequentemente e alguns geriam o prazo para satisfazer seus interesses cobrando tributos aos colonos e estabelecendo repúblicas independentes (NEWITT, 1997:218). A acção do chicundas dependia da personalidade da dona e do senhor, pois quando a colheita era abundante, o vale era calmo, mas em tempo de seca, o mesmo tornava-se inseguro devido ao estabelecimento de uma anarquia uma vez que os chicundas agiam como se de bandidos se tratassem, atacando e roubando aos colonos e grupos rivais, as rotas comerciais eram enceradas e a agricultura tornava-se impossível (Idem: 219). No século XVIII, todas famílias afro-portuguesas possuíam escravos, mas no século XIX era perigoso possui-los porque os caçadores de escravos pegavam nestes indivíduos.
A estrutura política e administrativa dos prazos obedecia a seguinte hierarquia: Senhor Prazeiro – Português ou Goês, Mambos e Fumos – Chefes locais e chicundas - cativos ou escravos dos Prazos com várias categorias como: Mwanamambos, Mucazambos, Mussambazes, Nyacados, Bandazios e Mabichos. 
As chefias de grandes dimensões que se haviamformado mediante este processo encontravam-se dominadas pelas famílias afro-portuguesas cujo estatuto dependia da posição e da riqueza por eles obtida dentro da comunidade portuguesa e da posição que adquiriam em relação aos seus súbditos africanos e aos chicundas que os serviam. Os afro-portugueses usam nomes portugueses e aderiam nominalmente ao Catolicismo Romano. Estes, casavam pela igreja e recorriam aos serviços de um padre a quando do baptismo dos filhos. (Idem: 280). Os senhores da guerra tinham de ser bem sucedidos na guerra e no comércio para poder garantir a lealdade dos que os seguiam zelando para que nunca lhes faltasse escravos, produtos de luxo importados e produtos de pilhagem regular, ao mesmo tempo em que deviam fornecer terras aos chicundas para se estabelecerem e fundar suas aldeias (Idem: 280).
Os responsáveis pelas famílias muzungo administravam a justiça, exigiam a prestação de serviços, o pagamento de tributos e reclamavam os direitos de propriedade de marfim e outros bens. Estes executavam cerimónias rituais das sementeiras e colheitas. Estes, consultavam os espíritos (via médiuns) para receber conselhos e legitimar as suas acções. NEWITT (1997) sublinha que “os médiuns instalados na corte dos senhores dos prazos transformaram-se em figuras importantes e influentes na mesmíssima altura em que os sacerdotes colocados nas igrejas de Sena e Tete diziam missas pelas suas almas” (Idem: 280).
Apesar da complexidade característica das redes de autoridade significativa não conseguia dominar o funcionamento dos chicundas, pois em meados do século XVIII haviam em grande parte substituído os velhos prazos. Reforçando a ideia, NEWITT (1997:281) refere que “… os capitães chicundas transformaram-se em numa força política independente, exercendo o poder com a mesma autoridade com que o faziam os chefes tradicionais que governavam a população livre da Zambézia”. Por exemplo, quando morria o senhor prazeiro estabelecia-se uma república chicundas chefiada pelos capitães das ensacas que constituíam o seu exercito privado e controlavam as terras dos antigos senhores.
A decadência e resstruturação política dos prazos
Ao ler o texto deve perceber que estes factores não teriam levado ao desaparecimento da instituição prazeira, mas sim à restuturaçao desta em estados militarizados como veremos na liçao que se segue.
 Durante o século XVIII e XIX, os chicundas e os prazeiros começam a disputar constantemente entre si o poder, pois, os chicundas procuravam reduzir o mínimo de abusos do prazeiro, alargando os limites da sua autonomia e o acesso aos recursos mais escassos. Um colono no século XVIII citado por Isaacaman (2006:93), dizia que “os escravos cafres levam uma vida de desobediência quase completa aos seus senhores, de tal maneira que, se estes não tiverem qualquer negócio ou qualquer mercadoria em casa, eles desprezam-no e recusam a servidão”. Outro português da mesma época (Ibid, 93) admitia que “um prazeiro não pode oferecer um só negro do regimento de escravos sem que todos outros se amotinem”
Perante este cenário, Departamento de História da UEM (1988:117) considera que no século XIX são criadas as bases para a reestruturação dos prazos. Foi dessa reestruturação que nasceram os Estados militares. Militares devido a sua militarização para a caça de escravos e a sua sua fortificação em aringa. Estes estados viviam essencialmente do comércio de escravos.
Como forma de evitar violência e represálias, durante as expedições de caça, comercio e missões militares, eles tinham aí as oportunidade de fuga apesar dos riscos de falta de comida e abrigo, ataques de salteadores e esclavagistas e ser capturado pelos fieis do prazeiro. (Isaacman, 2006:94)
Os que fugiam com a finalidade de romper vínculos com o prazo atravessavam o rio Zambeze para a margem norte pois, a zona escapava a dominação portuguesa e, daí, alguns regressavam as zonas de origem, outros refugiavam-se nas aldeias dos manganjas e cheuas e outros fundaram comunidades chicundas livres no interior remoto, os mussitos. Estes constituem um problema para os porftugueses porque albergavam outros foragidos dada a sua capacidade militar para ameaçar os prazos periféricos. (Ibid, 94)
Estas relações volúveis levaram ao fim dos prazos e a emacipação de milhares de chicundas. Três factores concorreram para o fim dos prazos:
1. A crescente procura de escravos nas plantações de açucar no Brazil e Cuba, os prazeiros desviam a actividade comercial das expedições de caça para incursões de captura de escravos. Incapazes de satisfazer as quantidades, recorrem à venda de camponeses das suas proprieddades e depois a exportação dos chicundas. A violação da regra ancestral que proibia a venda dos chicundas e seus familiares levou ao desencadeamento de insureições e evasão em massa. Podemos destacar dois exemplos apresentados por Isaacman (2006:95): em 1829, Chindau, um líder de escravos fez aliança com chefes autóctones do prazo de cheringoma e desalojaram a terra do detentor da propriedade; Levingston observa que “ quando o tráfico de escravos começou, muitos comerciantes julgaram que a maneira mais rápida de ficar ricos era vender todos escravos (...). Isto gerou instabilidade política e económica.
2. Pélissier (2000:83), destaca que no século XIX, desaparecem do comércio zambeziano substituído pelo comércio de escravos e os prazeiros começaram a exportar os camponeses e os chicundas, renunciando deste modo à agricultura e a protecção. Foi perante esta debilidade económica e militar que leva à invasão, saque, pilhagem e destruição dos prazos pelos Báruès e angunis resultando na emancipação dos chicundas que mais tarde se integraram nos super prazos/ Estados militares na margem direita do vale do zambeze.
3. As secas prolongadas e a praga de gafanhotos que levou à redução da produção agrícola nas propriedades e isso deixou os chicundas vulneráveis e inquietos porque dependiam do que os camponeses produziam. Essa calamidade segundo um funcionário local citado por Isaacaman (2006:95), “ reduziu as terras a desertos e os escravos a esqueletos. 
4. As invasões dos Báruès em 1830 e dos angunis vieram acabar com os prazos pois, os Báruès conquistaram 12 propriedades dos grandes prazos como Cheringoma e Gorongosa e os angunis ocuparam 28 dos 46 prazos levando à sua desintegração maciça, tendo como resultado a emancipação dos chicundas, uma liberdade que constituía inconveniência e oportunidade ao mesmo tempo.
Sumário
Nesta lição ficou a saber sobre a dificuldade de controlar os prazos; da estrutura vertical de estruturação da sociedade prazeira onde tínhamos o Senhor Prazeiro, Mambos e Fumos e chicundas; do pagamento de um imposto sobre as colheitas e sobre os produtos de caça e prestação de trabalho como guia, carregadores ou soldados, pagar um tributo anual em géneros por parte dos colonos livres e sobre a importância que o escravo chicunda tinha no prazo e o risco de tê-lo no prazo. 
Leituras complementares
BHILA, H. H. K. A região ao Sul do Zambeze, capítulo 22. In: Bethwell Allan Ogot (coord.) HISTÓRIA GERAL DA ÁFRICA, V: ÁFRICA DO SÉCULO XVI AO XVIII, Brasília: UNESCO, 2010.
ISAACMAN, F. Allen& ISAACNAM S. Barbara. Escravos, Esclavagistas, Guerreiros e Caçadores: A saga dos chicundas do vale do Zambeze. Maputo: Promédia, 2006.
M’BOKOLO, Elikia: África Negra, História e Civilização, Tomo I até Século XVIII, Lisboa: Vulgata, 2003.
NEWITT, Malyn. História de Moçambique. Mira Sintra: Publicações Europa-América, 1997.
Auto avaliação 
1. Explica por que é que era difícil controlar os prazos.
2. Explica a estruturação dos prazos.
3. Os africanos livres ou chamados colonos constituíam as comunidades às quais a terra pertencia antes da instituição dos prazos. 
Refira-se as obrigações destes perante a dona ou senhor prazeiro.
4. Explica como eram obtidos os escravos e que actividades desempenhavam nos 
5. Refira-se às categorias dos escravos.
6. Comente: “era vantajoso ser escravo no prazo do que ser um colono livre”
7. Identifique as funções dos responsáveispelas famílias muzungos.
8. Caracterize o ambiente que se vive nos prazos no século XVIII e XIX.
Lição 13: O redimensionamento dos prazos em estados militares
Introdução
As famílias afro-portuguesas instaladas no vale do Zambeze desde século XVI e que, graças aos seus meios transformaram esta região no seu mundo, nunca haviam cessado de trazer problemas à coroa portuguesa. O vale do Zambeze era propenso aos ataques levados a cabo por bandos armados, que as vezes se estabeleciam enquanto um sistema político mais forte que o das chefias. Nos anos vinte do século XIX, a fome criou situações para banditismo onde grupos armados de antigos escravos portugueses e camponeses sem terra oriundos das chefias vizinhas percorreram o vale do Zambeze a seu bel-prazer atacando vários estados. 
Ao terminar a lição, você deve:
· Caracterizar o ambiente que se vive nos prazos ao longo do século XVIII.
· Explicar os factores que contribuíram no redimensionamento dos prazos em estados militares.
O redimensionamento dos prazos em estados militares
Leia o texto e retire os aspectos que caracterizam o ambiente que se vive nas instituições prazeiras do vale do Zambeze.
Durante século XVII e XVIII foram vários casos de rebelião, violência e desordem que eclodiram no seio desta comunidade. Face a insegurança, NEWITT (1997) refere que “as ilhas do Zambeze, a cordilheira de Morumbala e áreas do delta funcionavam como refúgio, por um lado, por outro, alguns senhores com força para controlar determinadas áreas trataram de fornecer protecção a que caísse nas suas boas graças” (285). Esta situação permitiu o fortalecimento das famílias muzungo servindo-se das aringas e exércitos privados. 
Os interesses da coroa e das famílias muzungo mostravam-se coincidentes e, não possuindo meios para exercer por si a autoridade face a anarquia, o governo português viu-se obrigado a recorrer aos exércitos particulares dos concessionários dos prazos. Como refere NEWITT (1997) “… esta simbiose provou ser bastante eficaz na medida em que permitiu a abertura de novas feiras em Zumbo e a norte do rio, em território Marave enquanto que as zonas baixas do Zambeze permaneciam seguras e integradas nos domínios coloniais portugueses” (275).
No século XIX registam-se divergências de interesses do governo com as principais famílias afro-portuguesas tendo resultado em guerras fratricidas onde as famílias importantes tentaram adquirir o controlo da Zambézia, enquanto as autoridades oficiais tentavam impor a sua autoridade recorrendo aos métodos que iam contra os interesses tradicionais do escol afro-português. Enquanto travavam-se lutas no vale do Zambeze, o mundo exterior não parava de desenvolver, pois a industrialização da Europa e Estados Unidos acabaram por alargar o seu campo de influência, na qual os senhores da Zambézia viram-se absorvidos (Newitt, 1997: 275).
Leia o parágrafo seguinte e encontre como era mantida a vida pelas famílias afro-portuguesas e seus exércitos, as consequências geradas pela fome do primeiro quartel do século XX e como a vida reergueu depois da grande seca. 
Durante século XVIII, as famílias afro-portuguesas e os respectivos exércitos chicundas viviam graças a prestação de serviços e pagamento de tributos pelos camponeses livres que viviam nos prazos, bem como dos lucros do comércio. Esta situação permitia-os manter um nível de economia alto mesmo em épocas de mãos resultados agrícolas ou com as deserções dos camponeses (M’bokolo, 2003:490). Porém, a década de 1820 foi marcada pela fome e seca que levou ao enfraquecimento da base agrícola dos prazos, criando condições para emergência do banditismo resultando no encerramento comercial com as feiras do interior; abandono da Zambézia pela maioria das famílias afro-portuguesas deixando os prazos a sua sorte; venda de milhares de camponeses esfomeados na qualidade de escravos. Quando a seca chegou ao fim (10 anos depois), a vida regressou a normalidade, mas a vida económica se havia alterado por completo. A população regressa nas aldeias situadas junto ao rio, mas as famílias muzungo deixam de contar com estes como forma de garantir o seu estatuto social. A sua riqueza e posição no período pós seca dependiam dos laços criados com os comerciantes de escravos porque a natureza lucrativa desta actividade garantia a inclusão segura e rentável dos governadores e outros funcionários portugueses nas redes daqueles com quem partilhavam os lucros (NEWITT, 1997: 276). O fim da fome foi precedido pelo desenvolvimento do tráfico de escravos e do marfim onde as famílias muzungo começaram a competir pelo controlo das rotas comerciais com o interior e pela manutenção das redes que permitiam a chegada dos escravos à costa.
Os prazos não entraram em queda, mas sim em declínio, pois estes reestruturaram-se em estados militarizados. Leia o texto que segue e retire o cenário que se vive no século XVIII e XIX que levou à transformação dos prazos em estados militares. 
Durante o século XVIII e XIX assiste-se um outro cenário onde os chicundas e os prazeiros começam a disputar constantemente entre si o poder, pois, os chicundas procuravam reduzir o mínimo de abusos do prazeiro, alargando os limites da sua autonomia e o acesso aos recursos mais escassos. PELISSIER (2000:81) refere que no início do século XIX, os senhores dos prazos começam a mostrar sinais de autonomia, pois estes comportavam-se como barões turbulentos e inquietantes e parecia-lhes natural meter-se em guerras privadas, realizar captura de escravos nas suas terras e nas dos vizinhos e afirmar a sua autonomia perante a escassa centena de militares meio mortos que o Estado mantinha nas guarnições de Sofala, Quelimane, Tete e Sena.
Um colono no século XVIII citado por Isaacaman (2006), dizia que;
“os escravos cafres levam uma vida de desobediência quase completa aos seus senhores, de tal maneira que, se estes não tiverem qualquer negócio ou qualquer mercadoria em casa, eles desprezam-no e recusam a servidão”. Outro português da mesma época, admitia que “um Prazeiro não pode oferecer um só negro do regimento de escravos sem que todos outros se amotinem”. (93). 
Perante este cenário, DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA DA UEM (1988:117) considera que no século XIX são criadas as bases para a reestruturação dos prazos. Foi dessa reestruturação que nasceram os Estados militares. Militares devido a sua militarização para a caça de escravos e a sua sua fortificação em aringa. Estes estados viviam essencialmente do comércio de escravos.
Como forma de evitar violência e represálias, durante as expedições de caça, comercio e missões militares, eles tinham aí as oportunidades de fuga apesar dos riscos de falta de comida e abrigo, ataques de salteadores e esclavagistas e ser capturado pelos fieis do Prazeiro (Isaacman e Isaacnam, 2006:94). 
Os que fugiam com a finalidade de romper vínculos com o prazo atravessavam o rio Zambeze para a margem norte pois, a zona escapava a dominação portuguesa e, daí, alguns regressavam as zonas de origem, outros refugiavam-se nas aldeias dos manganjas e cheuas e outros fundaram comunidades chicundas livres no interior remoto, os mussitos. Estes constituem um problema para os portugueses porque albergavam outros foragidos dados a sua capacidade militar para ameaçar os prazos periféricos (Ibid, 94). Estas relações volúveis levaram ao fim dos prazos e a emancipação de milhares de chicundas que segundo M’BOKOLO (2003:4910) formaram bandos de achicunda pilhando os prazos e aterrorizando as comunidades de negros livres e, as invasões dos nguini no século XIX viriam a absolve-los em Estados constituídos. Três outros factores concorreram para o fim dos prazos a destacar:
1º A crescente procura de escravos nas plantações de açúcar no Brasil e Cuba, os prazeiros desviam a actividade comercial das expedições de caça para incursões de captura de escravos. Incapazes de satisfazer as quantidades, recorrem à venda de camponeses das suas propriedades e depois a exportação dos chicundas. A violação da regra ancestral que proibia a venda doschicundas e seus familiares levou ao desencadeamento de insurreições e evasão em massa. Podemos destacar dois exemplos apresentados por ISAACMAN e ISAACNAM (2006) ao referir que:
“Em 1829, Chindau, um líder de escravos fez aliança com chefes autóctones do prazo de cheringoma e desalojaram a terra do detentor da propriedade; Levingston observa que “ quando o tráfico de escravos começou, muitos comerciantes julgaram que a maneira mais rápida de ficar ricos era vender todos escravos (...). Isto gerou instabilidade política e económica”. (95)
PÉLISSIER (2000:83), destaca que no século XIX, desaparecem do comércio zambeziano substituído pelo comércio de escravos e os prazeiros começaram a exportar os camponeses e os chicundas, renunciando deste modo à agricultura e a protecção. Foi perante esta debilidade económica e militar que leva à invasão, saque, pilhagem e destruição dos prazos pelos Báruès e angunis resultando na emancipação dos chicundas que mais tarde se integraram nos super prazos/ Estados militares na margem direita do vale do Zambeze.
2º As secas prolongadas e a praga de gafanhotos que levou à redução da produção agrícola nas propriedades e isso deixou os chicundas vulneráveis e inquietos porque dependiam do que os camponeses produziam. Essa calamidade segundo um funcionário local citado por ISAACMAN e ISAACNAM (2006:95) “ reduziu as terras a desertos e os escravos a esqueletos”;
3º As invasões dos Báruès em 1830 e dos angunis vieram acabar com os prazos pois, os Báruès conquistaram 12 propriedades dos grandes prazos como Cheringoma e Gorongosa e os angunis ocuparam 28 dos 46 prazos levando à sua desintegração maciça, tendo como resultado a emancipação dos chicundas, uma liberdade que constituía inconveniência e oportunidade ao mesmo tempo. Como refere PELISSIER (2000:87) Os colonos e chicundas, triturados e dizimados, e deixados ao abandono nos prazos do sul, aglutinaram-se em redor de alguns senhores decididos a resistir a sul do Zambeze ou então atravessaram o rio indo se instalar na margem norte, nos prazos de Quelimane e do delta. Esta realidade é precipitada devido a um fenómeno duplo a saber: os pequenos senhores que apenas detinham pequenas aldeias, não tinham capacidade para resistir aos angunes, por isso, refugiaram-se a outros prazos ou mesmo a Goa e metrópole, confirmando a sua tendência para o absentismo. Os grandes senhores dos prazos constituíram o único recurso dos habitantes, pois estes atraíam para si os chicundas disponíveis devido a fuga dos respectivos senhores. 
Veja a seguir como a africanização desempenhou um papel preponderante na reestruturação dos prazos. Leia e retire os aspectos que mostram a africanização dos colonos instalados no vale do Zambeze.
Este fenómeno de redimensionamento pode ser visto do lado da crescente africanização dos prazeiros. A legislação para a existência destes queria que estes fossem brancos, mas acabou acontecendo o contrário, pois ao lado dos portugueses que tinham adquirido terras junto dos reis e dos chefes africanos, os primeiros beneficiários do sistema dos prazos tinham sido membros da camada membros da camada mais elevada da sociedade portuguesa que o rei queria assim compensar. Segundo M’BOKOLO (2003:492) estes se mantém coesos não pelo afluxo de sangue novo de Portugal, mas antes a sua identificação permanente cada vez mais mítica à medida que se iam mistiçando. Cada homem emigrava sozinho e escolhia mulher no local onde se instalava. Este cenário testemunhado por António Pedroso Gamito (explorador do século XIX) citado por M’BOKOLO (2003) nos seguintes termos: “a vida de um senhor consiste em comer, fumar e dormir, rodeado por raparigas negras e abandonando-se a uma contínua sensualidade” (492). Os europeus não só eram raros no vale do Zambeze para se constituir uma sociedade branca tal como se pretendia devido a uma emigração reduzida como também a forte mortalidade entre os poucos brancos (não mestiços) que encontravam-se naquela região, enquanto as mulheres eram sensivelmente poupadas, o que vai resultar como refere M’BOKOLO (2003) “… na prática de vários casamentos, levando as viúvas portuguesas a aceitar conjuntos não brancos, mestiços, indianos ou até negros” (492). Mesmo com a publicação de uma lei em 1755 que proibia casamentos entre as donas brancas com homens de outra raça, a mestiçagem continuou a aumentar. 
A aculturação dos brancos era tão intensa e a brutalidade dos senhores prazeiros tornava-os mais barbados do que a população local. Mau grado as referências maciças à lusitanidade, não existia nada para assegurar a transmissão dos valores, das maneiras de ser e de fazer, dos gostos ligados a esta identidade postulada, pois não havia escola e os raros missionários entregavam-se todos ao comércio. Outros estavam isolados do meio africano, vivendo nos seus domínios com mulheres negras acabando por se adaptar à alimentação, às praticas alimentares e medicinais, aos usos e crenças religiosas africanas (M’BOKOLO, 2003:493). Para mostrar como exemplo da crescente aculturação o mesmo autor citando José Joaquim Lopes de Lima, este, considera que:
“os europeus que vão residir na África oriental, principalmente aqueles que se instalam no interior, em vez de desembaraçar os cafres das suas superstições mais grosseiras, adaptaram estas superstições de uma maneira exagerada, com o resultado que os netos dos portugueses vivem absolutamente como selvagens” (493). 
A bantuização dos prazeiros teria facilitado a fortificação destes em estados militarizados como forma para agir de forma independente, isto é, longe do controle da metrópole dava a longevidade em África. A identidade construída certamente os permitia acolher os chicundas que fugiam de outros prazos como resultado da venda destes como escravos bem como da sua trituração nas actividades no prazo. A constituição dos estados militares exigiu destes uma militarização e fortificação aos extremos para poder ser defender dos ataques de outros estados predadores bem como conseguir angariar escravos através de guerras naquela região. Para tal, neste período foram construídas aringas e reforçou-se a aquisição do material bélico com dupla função: defender o estado e capturar escravos. 
Sumário 
Nesta lição aprendeu que a fome de 1820 levou a emergência do banditismo bem como na venda de milhares de camponeses esfomeados na qualidade de escravos. Que a partir do século XVIII a XIX assiste-se ao estabelecimento de relações volúveis que culminaram com a fuga dos chicundas quer para os locais de origem ou juntando-se aos outros senhores prazeiros que lhes garantiam a protecção. Esta realidade levou ao aparecimento de estados militares, mas também reforçados pela sua forte africanização.
Leituras complementares
Departamento de História da UEM. História de Moçambique, Vol. 1: Primeira sociedades sedentárias e impacto dos mercadores (200/300 -1886). Maputo: UEM.1988.
ISAACMAN, F. Allen & ISAACNAM S. Barbara. Escravos, Esclavagistas, Guerreiros e Caçadores: A saga dos chicundas do vale do Zambeze. Maputo: Promédia, 2006.
MALYN, Newitt. História de Moçambique. Mira Sintra: Publicações Europa América, 1997.
PÉLISSIER, René. História de Moçambique: formação e oposição, 1854 – 1918, Vol. I. 3ª ed., Lisboa: Estampa, 2000.
Auto avaliação 
1. A década de 1820 foi marcada pela fome e seca que levou ao enfraquecimento da base agrícola dos prazos.
Apresente o impacto desta calamidade.
2. “Como forma de evitar violência e represálias, durante as expedições de caça, comercio e missões militares, eles tinham aí as oportunidades de fuga apesar dos riscos de falta de comida e abrigo, ataques de salteadores e esclavagistas e ser capturado pelos fieis do Prazeiro” (Isaacman e Isaacnam, 2006:94).
Diga para onde se dirigiam os chicundas em fuga?
3. Refira-se ao impacto das relações volúveis estabelecidas nos prazos.
4. Para além das relações volúveis, descreve outros factores concorreram para o fim dos prazos.
5. Os europeus não só eram raros no vale do Zambeze para se constituir uma sociedade branca

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