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FORMAÇÃO-ECONÔMICA-E-TERRITORIAL-DO-BRASIL-1

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FACULDADE VENDA NOVA DO IMIGRANTE 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
FORMAÇÃO ECONÔMICA E TERRITORIAL 
DO BRASIL 
 
 
 
 
 
VENDA NOVA DO IMIGRANTE – ES 
 
 
 
1 SUMÁRIO 
1 BASES DA FORMAÇÃO TERRITORIAL DO BRASIL ............................................ 4 
2 A inserção do brasil na economia mundial nos séculos XVI e XVII ........................ 19 
2.1 As cadeias mercantis como expressão ou concretização da economia- mundo.....19 
3 OCUPAÇÃO E ORGANIZAÇÃO DO TERRITÓRIO BRASILEIRO NO PERÍODO 
COLONIAL ...................................................................................................................... 22 
3.1 A empresa açucareira ............................................................................................. 22 
3.2 A pecuária ............................................................................................................... 23 
3.3 As drogas do sertão ................................................................................................ 25 
3.4 O mito dos ciclos econômicos ................................................................................ 26 
3.5 A Escravidão Africana............................................................................................. 30 
3.6 Desenvolvimento rural no Brasil: a reforma agrária como condição ou a reafirmação 
das estruturas coloniais? ................................................................................................. 34 
3.7 O Processo de Ocupação do Território Brasileiro ................................................... 35 
3.8 A Redemocratização do País e o Surgimento do Movimento pela Reforma 
Agrária...............................................................................................................................40 
3.9 Os Avanços e Retrocessos do Período da Ditadura Militar .................................... 43 
3.10 Novamente a Redemocratização e os Velhos Problemas ...................................... 48 
4 OS CICLOS ECONÔMICOS BRASILEIROS .......................................................... 52 
4.1 Conceito econômico de Ciclo ................................................................................. 52 
 
 
 
4.2 A Importância dos Ciclos ........................................................................................ 53 
5 TIPOS DE CICLOS ECONÔMICOS NO BRASIL .................................................... 53 
5.1 Ciclo do Pau-Brasil ................................................................................................. 53 
5.2 Ciclo da Cana-de-Açúcar ........................................................................................ 55 
5.3 Ciclo da Mineração ................................................................................................. 55 
5.4 Ciclo do Café .......................................................................................................... 57 
5.5 Fases de um ciclo econômico ................................................................................. 59 
6 A ECONOMIA BRASILEIRA NO SÉCULO XX ....................................................... 59 
7 O BRASIL ATUAL: RELAÇÕES INTERNACIONAIS, PROBLEMAS 
REGIONAIS E GLOBALIZAÇÃO .................................................................................... 64 
7.1 Dependência e busca por autonomia ..................................................................... 65 
8 REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS BASICAS……………..……………………………..70 
 
 
4 
 
1 BASES DA FORMAÇÃO TERRITORIAL DO BRASIL 
 
Se é possível fazer uma história econômica, uma história cultural, uma história 
política, também é possível fazer uma história a que eu daria o nome de história territorial, 
que é tentar captar a formação de uma sociedade abordada a partir de seu território. Para 
entender o caso da formação brasileira, temos necessidade de entender o que se está 
passando na Europa naquele momento, e, por outro lado, fazer uma comparação com a 
forma como se deu a instalação colonizadora na América Latina. 
A ideia central que se tem é de que essa história territorial seria altamente reveladora 
de alguns componentes centrais na formação de países de passado colonial. Ao fazer um 
estudo dos países de formação colonial, essa dimensão espacial ganharia um peso muito 
maior por uma razão muito simples: a colonização é em si mesma uma relação sociedade-
espaço. 
Na verdade, o que é colonização? Colonização é a relação entre uma sociedade que 
se expande e os lugares onde ocorre essa expansão. A colonização em si mesma é 
conquista territorial. Ninguém fala em colonizar seu próprio espaço. Na verdade, a 
colonização diz respeito a uma adição de território ao seu patrimônio territorial. 
A situação colonial já é uma relação entre sociedade e espaço, interessando à 
própria conquista do espaço. A colônia pode ser entendida como a efetivação da conquista 
territorial. De imediato, isso traz uma indicação metodológica, do ponto de vista histórico, 
muito importante, que é a inadequação total para se tentar trabalhar a questão colonial em 
termos de uma oposição interno-externo. A colônia é a internalização do agente externo. E 
a colônia implica a consolidação desse domínio territorial, a apropriação de terras, a 
submissão das populações defrontadas e também a exploração dos recursos presentes no 
território colonial. A expressão que sintetiza tudo isso é a noção de conquista, que traz 
inclusive o traço de violência comum em todo processo colonial. 
Na formação dos territórios, temos três dimensões: o território é uma construção 
bélica/ militar, é uma construção jurídica e é uma construção ideológica. A formação 
territorial envolve essas três dimensões, não necessariamente nessa sequência. Há casos 
 
5 
 
de territórios, nos quais existia primeiramente um pleito ideológico, depois se fez a conquista 
militar, depois a legalização jurídica. Há casos, como o de Israel, em que primeiramente se 
fez a legalização política e depois a efetivação da conquista militar. Há casos em que o 
ideológico vem antes e anima esse processo. Há casos em que primeiramente se conquista 
e depois se impõe um processo ideológico de afirmação daquela nova identidade. 
No caso colonial, de certa forma tudo isso se exacerba com referência à América. A 
colonização é um grande processo, interessando aí sociedade-espaço, para cujo 
entendimento temos necessariamente que entender, em primeiro lugar, o que se está 
passando na Europa, o que levou algumas sociedades europeias a se expandir. 
Poderíamos falar de algumas características gerais, comuns a vários países europeus, por 
exemplo, a carência de minerais, a carência de cereais, a existência de população 
disponível, a existência de capitais disponíveis, a remuneração do capital mercantil, que 
vão dar motivações europeias para a expansão. 
Dentro das motivações gerais europeias é possível também falar de geopolíticas 
metropolitanas específicas. As motivações próprias de Portugal, da Espanha, da Holanda, 
inclusive, vão dar em diferentes tipos de colonização. Por exemplo: a colonização 
espanhola é mais estatal, a holandesa é totalmente privada, a portuguesa é mista e a 
inglesa é diversificada, em função dos espaços onde ocorre. 
Um primeiro aspecto da conquista é este: o que está motivando a expansão? De 
outro lado, o outro elemento básico é a realidade defrontada pelo colonizador. O 
colonizador defronta-se com realidades muito diferenciadas, e boa parte do êxito da 
colonização deve-se à capacidade de adaptar essas intenções geopolíticas à realidade 
defrontada. Quanto mais plástica é a colonização, maior o seu êxito, maior sua rapidez na 
instalação. E aí os quadros defrontados são muito diferenciados. 
Dois vetores vão ser básicos para explicar a conquista do ponto de vista dos 
territórios coloniais. De um lado está o quadro demográfico, extremamente variado na 
América. No império asteca, o europeuse defrontou com uma densidade demográfica 
comparável à das áreas mais ocupadas da Europa. O centro do império asteca tinha uma 
densidade demográfica de cerca de 50 hab./km², que era a densidade demográfica das 
áreas mais povoadas da Europa. A capital asteca tinha 300.000 habitantes, e a maior 
cidade espanhola da época, que era Sevilha, tinha 100.000 habitantes. Então, aí, o 
 
6 
 
colonizador se defrontou com uma economia já armada; a obra da colonização foi colocar 
esse sistema para funcionar para o colonizador. Tinha-se uma rede de cidades, estradas, 
estruturas produtivas, tributos. Diga-se de passagem, a obra de Cortez foi mais uma obra 
política de “costurar” essas nações que eram dominadas pelos Astecas do que uma obra 
militar em si mesma. Ele tinha 120 homens e com tal efetivo não dava para conquistar uma 
cidade de 300.000 habitantes, porém ele veio com uma tropa indígena das tribos 
subjugadas pelos Astecas. 
A mesma coisa se deu com o império Inca, que tinha cerca de 35 hab./km², 
densidade alta para a época. Então, nesses lugares o colonizador se defrontou com 
riquezas entesouradas. No caso do império Inca, segundo o historiador Pierre Vilar, o saque 
do ouro acumulado foi o principal ato isolado da acumulação primitiva, tal a quantidade de 
riquezas que o colonizador encontrou. E é óbvio que essa riqueza financiou a própria 
colonização. Nesses lugares onde o quadro demográfico é grande, na ótica do colonizador 
encontram-se riquezas, produtos, estruturas produtivas, e encontra- se gente para produzir, 
pois as populações locais são vistas como recursos naturais, tanto é que a Igreja passou 
algumas décadas discutindo se o índio era gente ou era bicho. 
 
 
Fonte:pliniocorreadeoliveira.info.com 
 
http://www.pliniocorreadeoliveira.info.com/
 
7 
 
Um quadro muito diferente vai ser encontrado nas terras baixas da América do Sul, 
nas áreas florestadas. Há muita polêmica, do ponto de vista da etnografia histórica, mas os 
autores, apesar da polêmica, os mais otimistas, dizem que o território brasileiro como um 
todo no máximo teria uma densidade de 2 hab./km², mesmo assim agrupados em algumas 
áreas, como foi o caso da área guarani e o caso do vale amazônico. Em outras porções, a 
densidade demográfica ficava em 0,4 hab./km². Era uma situação muito diferente da anterior, 
e o colonizador teria que se adaptar a isso. 
Nessas regiões, no caso do atual território brasileiro, o colonizador teria que 
montar a colonização. Ele não encontrou uma estrutura produtiva pronta, e não encontrou 
nenhuma riqueza de imediato. Dos doze donatários das capitanias hereditárias brasileiras, 
seis nunca vieram ao Brasil tomar posse das capitanias, porque nelas não havia nenhuma 
riqueza. Ao contrário, os donatários teriam que aplicar capitais na colônia, fazer um 
investimento. Então esse é o primeiro vetor da conquista: o quadro demográfico. O segundo 
vetor são os recursos naturais. Onde se encontram recursos naturais valiosos, 
principalmente minerais (o ouro e a prata), todas as dificuldades são ultrapassadas, 
porque o rendimento do empreendimento justifica isso. Onde há recursos naturais valiosos 
e não há população, a própria conquista envolve um empreendimento povoador; na maior 
parte dos casos, um povoamento forçado, seja por transferência de populações indígenas, 
seja por aquisição de escravos africanos. 
No caso brasileiro, não se encontrou nem uma coisa nem outra. Não havia uma 
população adensada; além disso, a população nativa estava dividida em grupos políticos 
muito pequenos, com mais de 1.400 tribos diferentes, cada uma sendo uma unidade 
política, nômade. Não havia cidades, e constatava-se um baixo nível de intervenção sobre 
o espaço. Então, do ponto de vista populacional, o Brasil não oferecia um quadro 
interessante para a colonização. 
Cabe lembrar que não existia Brasil antes do colonizador. Não existia Brasil pré 
cabralino, ao contrário do México, que pôde chamar uma história pré-colombiana, pré-
colonial, assim como o Peru, a Colômbia. No caso brasileiro, a única coisa que dava 
unidade a esse espaço era a colonização portuguesa. Não havia uma raiz indígena que 
amarrasse essa porção de espaço. Não havia unidade natural, o Brasil era um mosaico de 
 
8 
 
ecossistemas, embora se saiba que as características naturais não fundamentam a 
existência de um Estado. 
Há um autor mexicano, Edmundo O’Gorman, que não gosta da ideia da descoberta 
da América. Ele escreveu um livro chamado “Invenção da América”, no qual diz o seguinte: 
O europeu encontrou uma terra desconhecida, o Novo Mundo, e a instalação dele no Novo 
Mundo é que criou a América. A América, ontologicamente falando, é uma construção 
europeia. A mesma coisa seria válida para o Brasil. O português defrontou-se com uma 
terra desconhecida, e a conquista dessa terra desconhecida criou o Brasil. 
Num primeiro momento, o Brasil não tinha atrativos. Diz um historiador português, 
Luís Felipe Barreto, que o Brasil foi descoberto para ser esquecido, e é verdade, em relação 
às três ou quatro primeiras décadas após a descoberta. Isso, aceitando-se que a descoberta 
tenha sido feita por Cabral. Hoje em dia, a maior parte dos historiadores creditam a 
descoberta do Brasil a Duarte Pacheco Pereira, que foi inclusive o geógrafo português na 
assinatura do Tratado de Tordesilhas, o cosmógrafo, como se dizia na época; e, na 
verdade, Cabral veio fazer a posse oficial. Os portugueses fazem uma distinção entre 
descoberta e achamento para diferenciar as coisas. Inclusive toda a estrutura da expedição 
do Cabral era de fato uma estrutura militar para tomar posse, não era essa a estrutura típica 
de exploração. Vários navios, tropas nos navios. Enfim, deixando de lado essa polêmica, o 
Brasil foi descoberto e não havia nada que interessasse de imediato. Pau brasil era quase 
que lastro de navio. Então a função do Brasil, durante esse período inicial, cerca de 40 
anos, foi de ser uma aguada na carreira da Índia. Quer dizer, na rota do Cabo, o Brasil era 
uma parada ideal para a provisão de água, alimento etc., e foi essa a função da colônia 
entre os anos de 1500 a 1540. 
A presença francesa na costa brasileira foi muito grande, tão comum quanto a 
presença portuguesa, o que significa que até o ano de 1540 a consolidação do domínio 
português foi extremamente tênue. O que vai animar a Coroa a mudar de posição? 
Exatamente a descoberta das minas de Potosi no Peru, até porque ninguém sabia bem 
àquela época a que distância estavam os Andes da costa brasileira. Havia uma briga 
cartográfica muito grande entre os cartógrafos portugueses e os espanhóis. Os portugueses 
alargavam e os espanhóis estreitavam a América do Sul, e ninguém sabia bem a real 
extensão do continente. E a coroa portuguesa avaliava que aquelas terras podiam ter uma 
 
9 
 
riqueza como a que os espanhóis acabavam de encontrar. Então, manter o domínio era 
importante, porque podia haver riqueza lá. 
 
 
Fonte:prisonersofeternity.co.uk 
A motivação é essa, porém mesmo essa instalação envolve investimentos, e o que fez 
a Coroa Portuguesa? Terceirizou, privatizou a colonização. Na verdade, a capitania 
hereditária foi uma tentativa de passar para particulares o custo da instalação no Brasil, 
uma instalação que envolvia a aplicação de capitais vultosos. 
Então essa leitura geográfica da história brasileira já deixa evidente como 
erradíssima aquela ideia de que o colonizador chegou aqui para se apropriar de alguma 
coisa que estava disponível. Não, houve um investimento de capitais; inclusive as 
capitanias que deram certo foram aquelas que tiveram disponibilidade de capital para tocar 
o empreendimento colonial. 
O colono teve que montar o engenho, plantar o canavial, conseguir mão-de-obra. O 
engenho foi talvez a primeira fábrica, uma instalação cara; existiam inclusive certas funções 
no engenho altamente especializadas, como a do mestre do açúcar,e eram assalariados 
que recebiam bem, não eram escravos; além disso, o donatário ainda tinha que proteger o 
investimento. Significa que ele tinha que ter tropas pagas por ele. Nesse quadro, quem 
conseguiu tocar a colonização de fato? Quem teve essa disponibilidade? Basicamente 
Duarte Coelho e Martim Afonso de Souza, que tinham recursos associados a casas 
http://www.prisonersofeternity.co.uk/
 
10 
 
bancárias. O primeiro engenho de São Vicente quem levantou foi um banco alemão. Hans 
Staden foi um mercenário pago servindo em Bertioga. 
Um fator foi muito importante para a velocidade da instalação dos engenhos no 
Brasil. Um fator também de ordem geográfica, que foi o esgotamento dos solos nos 
arquipélagos da Madeira e dos Açores. Os arquipélagos portugueses atlânticos eram, 
desde o século XV, os grandes centros produtores do açúcar europeu, havendo um 
esgotamento ecológico dos solos pelas formas de plantio, no início do século XVI. Diga se 
de passagem que o sistema de produção desenvolvido nas ilhas foi o mesmo que o trazido 
para cá. Ele foi trazido “pronto”, quer dizer, a primeira experiência das plantations deu-se 
nas ilhas atlânticas. 
Essa associação de monocultura, trabalho escravo, grande propriedade já era 
utilizada nas ilhas e, com o esgotamento de solo, esses interesses, esses capitais ilhéus 
foram transferidos para o Brasil. E o açúcar se deu muito bem, principalmente no Nordeste; 
é conhecida a história. Então, na verdade, a primeira ocupação no Brasil envolveu 
dispêndio de capital, daí a tentativa da Coroa de atrair particulares. Por exemplo: não existe 
definitivamente um século XVI brasileiro exclusivamente colonial. No século XVI, quem 
quisesse aplicar dinheiro no Brasil era bem-vindo do ponto de vista da Coroa Portuguesa. 
Foi nesse momento, por volta de 1570, que começou o período definido pelos historiadores 
como o grande século do açúcar no Brasil, que vai gerar essa primeira ocupação. 
Em alguns pontos específicos da costa, como o açúcar era plantado numa estrutura 
de monocultura, geraram-se algumas atividades subsidiárias à produção, as quais foram 
responsáveis pelas primeiras atividades econômicas da colônia. A agricultura de 
abastecimento nos solos que não eram os mais adequados para a cana, a pecuária, 
inicialmente, no chamado sertão de fora, primeira área do agreste, e, principalmente, a 
madeira. A madeira foi essencial. Ela foi usada nas construções, nos meios de transporte, ou 
seja, nos carros de boi, nos barcos. A madeira era o combustível das fornalhas dos 
engenhos e servia para fazer as caixas nas quais eram exportados os pães de açúcar. 
Então é aí que começa, de fato, a colonização. 
Houve assim um primeiro período de quase esquecimento e um período seguinte, 
que poderemos chamar estritamente de instalação dos portugueses. Esse processo estava 
começando a se consolidar quando ocorreu um fato geopolítico minimizado pela 
 
11 
 
historiografia brasileira, mas que, do ponto de vista territorial, foi essencial: a unificação das 
coroas ibéricas, no ano de 1580. 
Em 1580, o rei espanhol reivindicou a coroa portuguesa e o Brasil passou a ser uma 
colônia hispânica. Isso é minimizado na história brasileira. Qual é o primeiro efeito disso? 
O primeiro efeito é que Tordesilhas deixou de ter sentido. Uma linha que tem, de um lado, 
súditos do rei da Espanha e, do outro, súditos do rei da Espanha é uma linha que não 
separa nada, não tem sentido. Dificilmente o mapa brasileiro seria o atual se não tivesse 
havido a unificação das coroas ibéricas, e por 60 anos! Houve gente que nasceu, viveu e 
morreu num Brasil hispânico. Foi um período, por um lado, de grande expansão territorial 
e, por outro, de fracionamento da soberania portuguesa sobre o território brasileiro. 
As duas coisas ocorreram juntas. De um lado, a expansão ao norte para expulsar os 
franceses do Maranhão: foram tropas que saíram de Pernambuco e foram devassando o 
litoral cearense, até chegar a São Luís, para expulsar os franceses. Essas mesmas tropas 
fundaram Belém, em 1616, gerando uma situação que é típica da geopolítica, segundo a 
qual quem domina a foz de um rio tem todas as condições de dominar a bacia inteira, e foi o 
que ocorreu na história da Amazônia. Porém, com a fundação de Belém, foram feitas loas 
ao rei da Espanha. A província do Maranhão e do Grão-Pará foi, inclusive, uma província 
separada do Brasil, que se relacionava diretamente com o Conselho das Índias, sem passar 
por Portugal. Neste momento, foi uma província do império espanhol. Houve uma grande 
expansão ao norte, a partir de Belém. 
Fundamentalmente, os avanços ao sul e ao oeste devem-se à busca de escravos 
indígenas. Aí, há também uma discussão interessante: a Igreja ficou bastante tempo 
discutindo se o índio era gente ou se era bicho, até o Concílio de Trento chegar à conclusão 
de que o índio era gente, tinha alma. Então se levantou uma outra questão: podiam ser 
escravizados ou não? Porque a escravidão era vista como uma espécie de castigo ao infiel. 
Havia escravidão de mouros, havia vários tipos de escravidão na Europa mesmo, e a 
justificativa teológica para a escravidão era de que o indivíduo assim submetido era 
um infiel, ou de que era submetido à escravidão como um castigo por não ser temente a 
Deus. Entretanto os padres, principalmente os dominicanos da América hispânica, 
levantaram a ideia de que o índio era um ser pré pecado, tanto assim que criaram uma 
expressão nova, não era o infiel, era o gentio. 
 
12 
 
 
Fonte: upload.wikimedia.org 
Houve uma intensa discussão teológica em decorrência da qual se chegou à 
conclusão de que na América hispânica não se podia escravizar índio. Consequentemente, 
na América hispânica vamos encontrar formas de servidão indígena e não de escravidão. 
Porém, no Brasil já existia a prática da escravidão indígena desde os primórdios da 
colonização. A montagem dos engenhos era feita com escravos indígenas, e houve toda 
uma expansão para oeste e para o sul, em busca de índios para escravizar, uma expansão 
basicamente com essa motivação: índios para alimentar a nascente dinâmica indústria do 
açúcar. Foi uma expansão para os vários lados. No caso da América portuguesa, isso se 
manteve mesmo no período hispânico; criou-se um jeitinho para se justificar a escravidão 
indígena: a teologia portuguesa dizia que não se podia escravizar índio amigo, mas era 
lícito escravizar índio bravo, isto é, índio que fosse dominado na guerra justa. A questão 
era: como definir quem era o índio bravo? Qualquer índio que não quisesse voluntariamente 
trabalhar para o português podia ser classificado de índio bravo. Então, a escravidão 
indígena campeou. Há, hoje em dia, vários trabalhos que destacam bem a escravidão 
indígena que enseja grande expansão do ponto de vista territorial. 
Ao mesmo tempo que houve expansão territorial, houve também fracionamento da 
soberania. O primeiro fracionamento deveu-se à invasão holandesa. Os holandeses foram 
apeados do comércio do açúcar porque estavam em guerra com a Espanha (o que já era 
uma decorrência direta da unificação das coroas) e resolveram tomar posse das áreas 
produtoras, na medida em que eram responsáveis por 80% do transporte do açúcar e foram 
http://www.upload.wikimedia.org/
 
13 
 
impedidos dessa atividade. Esse impedimento significou um baque muito grande na 
economia holandesa e eles resolveram tomar logo a área produtora, inclusive como um 
elemento dentro da guerra que travavam com a Espanha, na Europa. É interessante 
assinalar que Portugal, quando retomou sua autonomia, na Europa tornou-se aliado dos 
holandeses, porém eles estavam aqui no Brasil, como estavam em Angola. Isso também se 
resolveu de uma forma exemplar: assinando um tratado que só valia para o hemisfério norte. 
Atribui-se a esse tratado o comentário feito por um pastor holandês: “Não existe pecado do 
lado de baixo do Equador!!” 
O momentoda restauração portuguesa foi um momento de auge do domínio 
holandês no Brasil. Os holandeses controlavam desde o Maranhão até a barranca do São 
Francisco, basicamente toda a Zona da Mata. Essa área não era mais domínio português, 
uma primeira fratura do período. 
A guerra entre holandeses e portugueses no Brasil acabou levando à grande fuga 
dos escravos. A tática portuguesa de desarticular os engenhos e botar fogo nos canaviais 
propiciou grande fuga de escravos, que foram se concentrando em Alagoas, na serra da 
Barriga, gerando a segunda fratura do ponto de vista da soberania: o Quilombo de 
Palmares. O episódio de Palmares foi minimizado na história brasileira. Primeiro, vale 
lembrar que Palmares durou quase cem anos, um século. No seu auge, por volta de 1650, 
chegou a ter 70.000 habitantes, que era mais ou menos a população da área mais povoada 
da colônia, na época, o Recôncavo Baiano. Então não foi uma coisa secundária. Palmares 
foi uma clara situação de extraterritorialidade no domínio português, era um Estado 
autônomo, que inclusive negociava com portugueses e holandeses. Foi uma segunda 
fratura: Palmares, durante o século XVII. 
A terceira fratura foram os territórios missioneiros. O Vaticano tinha uma geopolítica 
muito inteligente, que era a de criar um estado-tampão na América do Sul, entre a 
colonização portuguesa e a colonização espanhola, um estado-tampão objetivado pelas 
missões, que avançavam pelo Amazonas e pelo Orinoco e pela bacia do Prata. A leitura do 
Vaticano era a seguinte: os portugueses estavam ocupando a América de leste para oeste; 
os espanhóis, de oeste para leste. Uma hora iam encontrar-se e o conflito seria inevitável, 
e a Igreja seria o árbitro. Então criaram um estado secular do Vaticano, como uma forma 
de manter os índios nessa área, ou seja, fora do contato tanto de portugueses quanto de 
 
14 
 
espanhóis. Esse plano “foi por terra” também por causa da unificação das coroas, porém o 
Vaticano não o abandonou. Inclusive, no início do século XVII, criou a Sagrada 
Congregação para Propaganda da Fé, um órgão para coordenar o trabalho das missões. 
As missões então respondiam ao Vaticano, e não à Espanha nem a Portugal. Foi um 
terceiro fracionamento do ponto de vista da soberania. 
O quarto fracionamento, se a gente pensar do ponto de vista do atual território 
brasileiro, foi exatamente o Maranhão e o Grão-Pará que eram outra colônia. Não era o 
Brasil, era outra colônia, a colônia do Maranhão. Assim, se tomarmos a metade do século 
XVII, quando Portugal retomou sua soberania na Europa (isto é, quando voltou a existir 
como reino autônomo), era esse o quadro do Brasil. Nada dizia naquele momento que 
essas partes fracionadas deviam se rejuntar. A segunda metade do século XVII foi marcada 
por esse processo de recuperação da soberania portuguesa sobre essas terras. 
A primeira ação, do ponto de vista cronológico, foi a exercida sobre as missões com 
vários ataques de bandeirantes, na primeira metade do século XVII (por exemplo, em um 
ataque sobre as missões do Guaíra, Raposo Tavares aprisionou 20.000 índios). A situação 
chegou a um ponto tal que, num certo momento, os jesuítas armaram os índios, criando 
inclusive um exército guarani, que impingiu uma derrota aos paulistas. Porém, logo após 
essa vitória, eles tiveram como estratégia ir para o oeste do rio Uruguai e saíram do território 
brasileiro. Diga-se de passagem, que essa tropa indígena desalojou os portugueses, já no 
início do século XVIII, da colônia do Sacramento, num ataque com 3.000 índios guaranis, 
armados pelos espanhóis, atuando como tropa oficial. De todo modo, as missões foram 
para o lado oeste do Rio Uruguai, saindo do território atual brasileiro, e essas terras voltaram 
à soberania portuguesa na segunda metade do século XVII. 
 A expulsão dos holandeses foi um processo de guerrilha. Os portugueses 
queimaram os engenhos, queimaram os canaviais; praticamente não se embarcava açúcar 
por Recife e os holandeses, para quem a ocupação do Nordeste já não dava lucro, 
abandonaram o Brasil em certo momento. Enfim a segunda fratura acabou, saíram os 
holandeses e retornou a soberania portuguesa no Nordeste. 
 
 
15 
 
 
Fonte:s2.glbimg.com 
 
Saíram os holandeses, saíram as missões. Todo o interesse da Coroa se voltou para 
a destruição de Palmares, inclusive levando tropas paulistas para a luta. Há vários autores 
que mostram um fenômeno que acabou atuando muito na fragilização de Palmares: a 
fixação territorial. Eles eram grupos nômades, e todo grupo nômade, quando se sedentariza, 
passa a ter uma estrutura como a de algumas cidades, com uma capital. Aí eles ficam fixos, 
dependendo de agricultura, e perdem muito da sua agilidade militar. A destruição do 
Quilombo está relacionada à história de uma estrada que, quando chegou a Macacos, que 
era a capital palmarina, possibilitou a locomoção de uma artilharia pesada. No final do 
século XVII ocorreu a destruição de Palmares e se retomou a soberania lusitana sobre esse 
espaço. 
Restava a colônia do Maranhão. No Maranhão, por uma questão de correntes e 
marés, por uma determinação geográfica, era muito difícil navegar de São Luís e Belém 
para o litoral oriental do Brasil. Era muito mais fácil ir de São Luís e Belém para a Europa, ou 
ir para as Antilhas, que vir para o Rio de Janeiro, Bahia ou para Pernambuco. Então, na 
verdade, a anexação do Maranhão e do Grão-Pará ao Brasil também teve a ver com a 
história de uma outra estrada: o chamado “Roteiro do Brasil”, estrada que ligava Salvador 
a São Luís, basicamente construída com o avanço das boiadas da casa da Torre que 
http://www.s2.glbimg.com/
 
16 
 
pagava essas tropas paulistas para aniquilar os índios da caatinga, abrindo essas terras 
para a pecuária. Foi a primeira vez na história brasileira que se organizaram expedições que 
não eram de pacificação nem de aldeamento de índio, eram de extermínio, sob a grande 
alegação de que os índios eram pró-holandeses, e de que os holandeses teriam armado e 
adestrado certas tribos indígenas em práticas militares europeias. Esse foi o grande 
argumento. 
Essa prática foi confirmada por uma carta de um padre, no Recife, pedindo ao rei 
verbas para pagar a essa tropa de paulistas. Ele terminou a carta com uma frase “brilhante”: 
“Vossa Majestade há de convir que toda pólvora queimada contra esses infiéis será incenso 
aos olhos do Senhor”. Essa investida contra os índios recebeu várias denominações: alguns 
a chamavam de guerra dos bárbaros, outros, de revolta dos Cariris. O extermínio dos índios 
da caatinga abriu uma estrada para a pecuária, estrada que, de Salvador, ia demandar o 
Norte do Brasil. Foi utilizando esse “caminho terrestre” que o mesmo bandeirante paulista 
que destruiu Palmares, Domingos Jorge Velho, fez a fundação de Teresina. E foi essa 
estrada, Roteiro do Brasil, que garantiu a relação do Maranhão e de Belém com o resto do 
Brasil. 
Pode-se dizer então que, ao final do século XVII, a soberania sobre o território 
brasileiro estava definida. A soberania portuguesa se recompôs, se consolidou e, mais do 
que isso, se expandiu. 
Na última década do século XVII, ocorreu um fenômeno que foi fundamental para o 
processo da formação territorial, porque levou a uma interiorização maior da colonização: 
a descoberta do ouro. A mineração foi também uma atividade essencialmente 
urbanizadora; em qualquer lugar onde ela ocorria criava cidades. Em consequência, gerou 
a primeira rede de cidades do Brasil. A produção aurífera gerou um setor dominante para a 
economia colonial brasileira. A partir daí a colônia, como um todo, trabalhou para a região 
mineradora. 
A demanda mineira foi responsável pelo avanço da pecuária que, no início do século 
XVIII, chegou à barranca do Araguaia e do Tocantins. Também o avanço da pecuária no 
sul do Brasil, nos campos de São Pedro, voltou-se todo para o abastecimento da zona 
mineira.O que marca esse período de 1700 a 1750? De um lado, o ouro; de outro, os 
 
17 
 
tratados internacionais que legitimaram as fronteiras: o Tratado de Madri e o Tratado de 
Santo Idelfonso, que praticamente definiram as atuais fronteiras do Brasil. 
A partir de 1750 viveu-se o último período, que seria de apogeu e crise do sistema 
colonial. Foi o período mais estudado, e é até interessante ressaltar que duas das obras 
que são colocadas como referência para todo o período colonial na verdade se referem a 
esse período: uma é a “Formação do Brasil Contemporâneo” de Caio Prado Jr., que na 
verdade fala dessa época, e a outra, mais claramente ainda, é “Portugal e Brasil na crise do 
antigo sistema colonial”, de Fernando Novaes, que também fala desse período. Eles não 
estão falando do século XVI, mas muita gente considera o que eles escreveram como válido 
para todo o período colonial. O período colonial são 320 anos. Em 320 anos muda muita 
coisa. Por exemplo: século XVI não tem exclusivismo colonial. 
Enfim, a história territorial do Brasil-Colônia revelou-nos certos momentos, certas 
conjunturas que são essenciais e que animam a continuar estudando a história brasileira 
sob esse ponto de vista. Só para encerrar, vale analisar a própria questão da 
independência. Dificilmente se entenderia a independência brasileira, a forma monárquica 
da independência, sem levar em conta um aspecto central do ponto de vista da formação 
territorial, que é a existência, no momento da independência, de grandes fundos territoriais 
em território brasileiro. 
Se refletirmos sobre o que estava ocupado no território brasileiro pela economia 
colonial no momento da independência, constataremos que era apenas 1/5 do território, o 
resto eram fundos territoriais. Por isso, se por um lado o elemento que levou à adoção da 
monarquia e a não-fragmentação do Brasil foi a manutenção do escravismo, por outro, foi a 
manutenção da soberania sobre esses fundos territoriais. 
Aí veio a forma monárquica. Essa época, 1822, foi um momento de reação 
aristocrática na Europa, pós-napoleônica, e certas instituições do antigo regime estavam 
com força de novo. Entre elas, a forma da legitimização jurídica da soberania territorial, no 
Antigo Regime, que era a forma dinástica. A forma que temos hoje, proposta pela 
Revolução Francesa, é a soberania nacional popular, isto é, o território pertence a um povo, 
a uma nação. Antes da Revolução Francesa, os territórios pertenciam às casas reinantes, 
às dinastias. Daí a forma dinástica de legitimização. Por exemplo: Felipe II era holandês, 
falava holandês, a língua da Corte era o holandês, e ele era rei da Espanha. Era um 
 
18 
 
problema de dinastia, não era um problema nacional, o rei não tinha que ser nascido no 
país. 
 
 
Fonte:i.ytimg.com 
A adoção da monarquia no Brasil de certa forma amenizou o fato emancipatório 
diante da Europa e fez com que as casas reinantes da Europa, todas elas possuidoras de 
grandes territórios coloniais – caso da Inglaterra, da França –, aceitassem com uma relativa 
tranquilidade a independência brasileira. A independência foi proclamada em 1822 e, em 
1825, até Portugal reconheceu a autonomia brasileira. Grande parte disso está exatamente 
nessa questão da legitimidade dinástica, porque, do ponto de vista dinástico, com a 
manutenção do príncipe português, estas terras, que pertenciam à casa de Bragança, 
permaneceram pertencendo à casa de Bragança, e a independência brasileira passou 
a ser tratada pela diplomacia internacional como uma questão de família. 
É um outro elemento que o ponto-de-vista geográfico traz para a análise da história. 
Na verdade, todo esse exercício é uma tentativa de ler a História sob o ponto de vista da 
Geografia. E daí, volto a dizer: num contexto colonial, essa leitura geográfica da História é 
muito reveladora. Há, nesse sentido, um campo muito grande de trabalho para detalhar 
certas conjunturas, certos lugares, abrindo a perspectiva de uma Geografia histórica 
http://www.i.ytimg.com/
 
19 
 
renovada, não nos moldes tradicionais, mas sob uma nova visão da própria relação 
Geografia-História1. 
 
 
2 A INSERÇÃO DO BRASIL NA ECONOMIA MUNDIAL NOS SÉCULOS XVI E XVII 
2.1 As cadeias mercantis como expressão ou concretização da economia-mundo 
Uma vez tomada a decisão de adotar a economia-mundo como unidade de análise 
relevante para estudar as mudanças sociais estruturais, coloca-se a necessidade de 
compreender este sistema histórico. Para tanto, vamos assumir a construção conceitual e 
histórica feita pelo seu criador, Immanuel Wallerstein, para quem: No final do século XV e 
começo do XVI, nasceu o que poderíamos chamar de uma economia-mundo europeia. 
Trata-se de uma única entidade econômica, que em seu espaço convive com diferentes 
formas de entidades políticas (império, cidades-estados, nações-estado), sendo maior que 
qualquer uma delas, e por isso constitui-se num “sistema mundial”. Ainda nas palavras do 
autor: 
 
E é uma “economia-mundo” devido a que o vínculo básico entre as partes do 
sistema é econômico, ainda que em certa medida seja reforçado por vínculos 
culturais e eventualmente, como veremos, por arranjos políticos, incluindo 
estruturas confederativas (Wallerstein, 1999, p. 21). 
Como se concretiza a economia-mundo? Ou ainda, qual a extensão ou o território de 
uma economia-mundo? A concretização e a extensão de uma economia-mundo é medida 
pela variedade e extensão de suas redes de produção e troca que, em linguagem mais 
técnica, Wallerstein e Hopkins denominaram “cadeias mercantis”. Com este conceito, os 
autores designam processos produtivos interligados que têm cruzado múltiplas fronteiras e 
que sempre apresentaram dentro deles diferentes formas de controle do trabalho. Mais 
 
1 1 Texto extraído na integra de: MORAES.A.C.R. Bases da formação territorial do Brasil. 
Geografares, vitória, nº2, jun,2001. 
 
20 
 
especificamente, uma cadeia mercantil é composta por todas as fases e/ou processos 
necessários à produção e comercialização de uma mercadoria, desde seus insumos até o 
consumo final. 
As cadeias mercantis constituem uma peculiar divisão mundial do trabalho. O 
conceito de divisão do trabalho é um dos pilares de toda a argumentação de Wallerstein, 
uma vez que é precisamente a existência de diferentes atividades (a divisão técnica), em 
diferentes regiões (divisão espacial) realizadas por diferentes grupos étnicos (divisão 
étnica) com diferentes remunerações (divisão de renda) que permite o florescimento da 
economia-mundo europeia, a qual, por definição, desde o século XVI inclui as colônias 
ibéricas na América. Um aspecto da divisão técnica do trabalho é o emprego de diferentes 
formas de controle do trabalho, as quais implicam e, efetivamente, dão lugar a 
estratificações políticas, econômicas e sociais, que por sua vez tiveram diferentes 
consequências políticas para os ‘Estados’, quer dizer, para as arenas da ação política. 
Por fim, o conceito de cadeia mercantil impede separar o que a busca do lucro e do 
poder uniram, isso porque obriga a situar, num mesmo continuum, governantes, 
negociantes, consumidores e trabalhadores dos vários espaços ou jurisdições políticas nas 
quais estão localizadas as atividades em que se decompõe o processo de produção, 
comercialização e consumo de uma mercadoria. Nesta perspectiva, o que é visto como um 
sistema que significa autonomia passa a ser um subsistema, ou seja, parte de um sistema 
maior, este sim autocontido. Os historiadores costumam dizer que o sistema escravista teria 
dois polos, o Brasil e a África. Com o conceito de cadeia mercantil, este “sistema” passa à 
condição de subsistema ou de parte da cadeia mercantil do açúcar, que por sua vez é um 
componente da economia-mundo capitalista. 
Para demonstrar que já no século XVI existia uma economia-mundo capitalista, 
Wallersteine Hopkins partem da seguinte indagação: em que medida os processos 
produtivos das diferentes jurisdições políticas e áreas geográficas eram partes integradas de 
uma complexa divisão do trabalho em escala mundial, marcada por fases de expansão e 
contração? A produção e o consumo do açúcar integraram processos comerciais e 
produtivos que ocorriam no Brasil, na Europa, na África e na Ásia. Para isso, através do 
desenho da cadeia mercantil do açúcar, vamos inserir no mesmo campo visual os 
encadeamentos a jusante e a montante da agroindústria açucareira localizada na colônia 
 
21 
 
portuguesa da América. Pensamos que esta visão de conjunto fornecerá uma boa 
percepção das relações entre atividades normalmente vistas separadamente. 
 
 
Fonte:1.bp.blogspot.com 
Ficará para a continuidade da pesquisa a identificação das mudanças espaciais e 
temporais havidas na cadeia mercantil do açúcar no período estudado, tanto em termos de 
sua localização como das relações de poder entre os vários componentes da cadeia, como, 
por exemplo, entre produtores e comerciantes.22 
 
3 OCUPAÇÃO E ORGANIZAÇÃO DO TERRITÓRIO BRASILEIRO NO PERÍODO 
COLONIAL 
No primeiro século de colonização as terras exploradas na América portuguesa se 
reduziam ao litoral brasileiro, sendo o pau-brasil o produto que mais interessava aos 
 
2 Texto extraído de: VIEIRA. P. C. A inserção do “Brasil”1 nos quadros da economia-mundo capitalista no 
período 1550-c.1800: uma tentativa de demonstração empírica através da cadeia mercantil do açúcar. 
Economia e Sociedade, Campinas, v. 19, n. 3 (40), p. 499-527, dez. 2010. 
WALLERSTEIN, Immanuel. El moderno sistema mundial: la agricultura capitalista y los orígenes de 
la economía-mundo europea en siglo XVI. México: Siglo XXI, 1999 
http://www.1.bp.blogspot.com/
 
22 
 
colonizadores. No entanto, a partir do século XVI ocorreu uma significativa mudança na 
configuração do território, já que ocorreu uma maior interiorização da ocupação tendo em 
vista a conquista dos chamados sertões, regiões estas distantes do litoral. As mudanças 
ocorridas neste perfil de ocupação estiveram ligadas a fatores como a necessidade de 
proteger o território, a busca pela mão de obra indígena, pela expansão da pecuária para o 
abastecimento interno e também pela não necessidade do respeito ao Tratado de 
Tordesilhas no momento da união entre Portugal e Espanha. 
 
3.1 A empresa açucareira 
O início da efetiva ocupação territorial da colônia, a partir de 1530, fez com que 
Portugal estabelecesse sua primeira empresa colonial em terras brasileiras. Em 
conformidade com sua ação exploratória, Portugal viu na produção do açúcar uma grande 
possibilidade de ganho comercial. A ausência de metais preciosos e o anterior 
desenvolvimento de técnicas de plantio nas Ilhas do Atlântico ofereciam condições 
propícias para a adoção dessa atividade. 
Mesmo possuindo tantas vantagens, o governo português ainda contou com o auxílio 
da burguesia holandesa. Enquanto Portugal explorava economicamente as terras com a 
criação das plantações e engenhos, os holandeses emprestavam dinheiro e realizavam a 
distribuição do açúcar no mercado europeu. Tal acordo foi de grande importância para a 
Coroa Portuguesa, tendo em vista que a mesma não contava com recursos suficientes para 
investir na atividade. 
Para extrair lucro máximo na atividade açucareira, Portugal favoreceu a criação de 
plantations destinadas ao cultivo de açúcar. Essas plantations consistiam em grandes 
expansões de terras (latifúndios) controladas por um único proprietário (senhor de 
engenho). Esse modelo de economia agrícola, orientado pelo interesse metropolitano, 
acabou impedindo a ascensão de outras atividades para fora dos interesses da economia 
portuguesa. 
Além de restringir a economia, a exploração do açúcar impediu a formação de outras 
classes sociais intermediárias que não se vinculassem à produção agrícola e ao senhor de 
 
23 
 
engenho. Na base desta pirâmide social estariam os escravos africanos trazidos das 
possessões coloniais portuguesas na África. Além de oferecerem mão de obra a um 
baixíssimo custo, o tráfico de escravos africanos constituía outra rentável atividade 
mercantil à Coroa Portuguesa. 
O engenho, centro da produção de açúcar, baseava-se em um modo de organização 
específica. A sede administrativa do engenho fixava-se na casa-grande, local onde o senhor 
de engenho, sua família e demais agregados moravam. A senzala era local destinado ao 
precário abrigo da mão de obra escrava. As terras eram em grande parte utilizadas na 
formação de plantations, tendo uma pequena parte destinada a uma restrita policultura de 
subsistência e à extração de madeiras. 
Separada do espaço do cultivo da cana, existiam outras instalações que davam 
conta do processamento da cana-de-açúcar colhida. Na moenda, na casa das caldeiras e 
na casa de purgar ocorria o beneficiamento de toda a produção recolhida. Esse era um 
processo inicial para o transporte do açúcar que, ao chegar à Europa, ainda sofreria outros 
processos de refinamento. 
Dessa forma, notamos que a fazenda açucareira representava bem mais que um 
mero sistema de exploração das terras coloniais. Nesse mesmo espaço rural percebemos 
a instituição de toda uma sociedade formada por hábitos e costumes próprios. O engenho 
propiciou um sistema de relações sociais específico, conforme podemos atestar na obra 
clássica “Casa Grande & Senzala” de Gilberto Freyre. Na qualidade de um espaço dotado 
de relações específicas, o engenho e o açúcar trouxeram consigo muitos aspectos culturais 
da sociedade brasileira. 
 
3.2 A pecuária 
Durante o período colonial, a empresa açucareira foi o grande investimento dos 
portugueses nas terras brasileiras. Contudo, as necessidades de consumo das populações 
nativas serviram para o desenvolvimento de outras atividades econômicas destinadas à 
subsistência. Tais empreendimentos econômicos ficaram comumente conhecidos como 
 
24 
 
atividades acessórias ou secundárias e costumava abranger o plantio de pequenas e 
médias culturas e produção de algodão, rapadura, aguardente, tabaco e mandioca. 
Nesse cenário a atividade pecuarista também começou a ganhar espaço com a 
importação de algumas reses utilizadas para o trabalho nos engenhos de açúcar. Com o 
passar do tempo, o crescimento do rebanho de gado acabou causando problemas no 
interior das plantações de açúcar, que tinham parte de sua plantação destruída pela ação 
desses animais. Com isso, o lucro a ser alcançado com a produção açucareira se 
incompatibilizava com a incômoda presença do gado dentro das fazendas. 
 
 
Fonte:3.bp.blogspot.com 
A questão chegou a ser tratada pelas autoridades metropolitanas, que 
estabeleceram um decreto que proibia a realização de qualquer atividade pecuarista nas 
regiões litorâneas do Brasil. À medida, apesar de seu caráter visivelmente restritivo, acabou 
impulsionando a criação de gado no interior do território de forma extensiva com o uso de 
pastagens naturais. Segundo algumas estimativas, no século XVII, a atividade alcançava 
várias regiões nordestinas e contava com mais de 600 mil cabeças. 
Além de se constituir enquanto uma atividade econômica alternativa aos projetos de 
exploração colonial, a pecuária também instituiu novas relações de trabalho alheias ao uso 
da mão de obra escrava. Geralmente, a pecuária necessitava de um pequeno número de 
http://www.3.bp.blogspot.com/
 
25 
 
trabalhadores e tinha sua mão de obra composta por trabalhadores livres de origem branca, 
negra, indígena ou mestiça. Além disso, o pagamento pelos serviços prestados era 
comumente realizado com o repasse de novos animas que surgiam no rebanho. 
Com o surgimento das atividades mineradoras nas regiões Sudeste e Centro-Oeste, 
a pecuária ampliou seu mercado consumidor estabelecendo novas frentes de expansão no 
Nordeste e na regiãoSul do território. Além de servir para o abastecimento da população, a 
atividade pecuarista também consolidou um próspero comércio de equinos e muares 
usados para o transporte de pessoas e mercadorias. Geralmente, eram organizadas feiras 
em alguns centros urbanos do interior onde esses animais eram negociados. 
Além de ocupar uma importante posição no ambiente colonial, a expansão da 
pecuária foi de grande importância no processo de ampliação do território. Paralelamente, 
após a decadência da atividade mineradora no interior, a pecuária também se consolidou 
como uma nova atividade que substituiria o vazio econômico deixado pelo escassas das 
minas. 
 
3.3 As drogas do sertão 
Ao longo da colonização, observamos que a incursão pelo interior do nosso território 
abriu caminho não apenas para o conhecimento de novos espaços, mas também para a 
existência de várias plantas, frutas e raízes que compunham a nossa vegetação. Nesse 
processo, o contato com as populações indígenas também foi de suma importância para que 
os colonizadores conhecessem as potencialidades curativas e culinárias das chamadas 
drogas do sertão. 
Antes que a nossa colonização se efetivasse, a partir de 1530, toda a Europa tinha 
grande interesse nas especiarias vendidas nas Índias. As ervas, frutos, raízes e sementes do 
mundo oriental serviam para a preparação de remédios, a fabricação de manufaturas e o 
tempero da comida. No século XV, o advento das grandes navegações lideradas pelas 
nações ibéricas objetivava a conquista de uma rota que ligasse a Europa aos comerciantes 
indianos, tamanho era o interesse por esses produtos. 
 
26 
 
Envolvidos em tal projeto, os portugueses acabaram conquistando uma rota de 
chegada ao Oriente por meio da circunavegação da África. Tal rota, apesar de cumprir o 
seu objetivo, acabou não sendo economicamente viável por conta do grande tempo gasto na 
viagem e a concorrência de outros povos que já comercializavam com os indianos. Dessa 
forma, a possibilidade de se vender e consumir as especiarias em Portugal acabou não 
sendo concretizada. 
Nos séculos XVI e XVII, a exploração da região amazônica acabou surgindo como 
uma solução para o papel econômico anteriormente desempenhado pelas especiarias 
indianas. Afinal, esse espaço do território colonial acabou se mostrando rico em frutas, 
sementes, raízes e outras plantas que tinham finalidades medicinais e culinárias. Cacau, 
cravo, guaraná, urucum, poaia e baunilha foram alguns dos produtos que ficaram 
conhecidos como as tais “drogas do sertão”. 
Na maioria das vezes, a extração das drogas do sertão era feita pelas missões 
jesuítas que se localizavam no interior do território e aproveitavam da mão de obra indígena 
disponível. Paralelamente, os bandeirantes, em suas incursões pelo interior, também 
realizavam essa mesma atividade com o objetivo de vender esses produtos na região 
litorânea. De modo geral, a extração das drogas do sertão atendia demandas provenientes 
tanto do mercando interno como do mercado externo. 
 
3.4 O mito dos ciclos econômicos 
É interessante ressaltar que atualmente a historiografia não aceita mais a visão 
clássica dos ciclos econômicos, ou seja, a ideia de que o período colonial teria sido 
economicamente conduzido por ciclos, ou seja, sustentado sucessivamente pela 
exportação de produtos específicos, primeiramente o pau-brasil, depois o açúcar, o ouro e 
o café. 
Bandeirantes e Jesuítas: A definição dos limites geográficos e a mão de obra 
indígena. 
Denominam-se bandeirantes os sertanistas do Brasil Colonial, que, a partir do início 
do século XVI, penetraram nos sertões brasileiros em busca de riquezas minerais, 
 
27 
 
sobretudo a prata, abundante na América espanhola, indígenas para escravização ou 
extermínio de quilombos. 
Estes homens, que saiam de São Paulo e São Vicente, dirigiam-se para o interior do 
Brasil caminhando através de florestas e também seguindo caminho por rios, o Rio Tietê 
foi um dos principais meios de acesso para o interior de São Paulo. Estas explorações 
territoriais eram chamadas de Entradas ou Bandeiras. 
Enquanto as Entradas eram expedições oficiais organizadas pelo governo, as 
Bandeiras eram financiadas por particulares (senhores de engenho, donos de minas, 
comerciantes). 
Estas expedições tinham como objetivo predominante capturar os índios e procurar 
por pedras e metais preciosos. Contudo, estes homens ficaram historicamente conhecidos 
como os responsáveis pela conquista de grande parte do território brasileiro. Alguns 
chegaram até fora do território brasileiro, em locais como a Bolívia e o Uruguai. 
 
Fonte: s1.static.brasilescola.uol.com.br 
Do século XVII em diante o interesse dos portugueses passou ser a procura por ouro 
e pedras preciosas. Então, os bandeirantes Fernão Dias Pais e seu genro Manuel Borba 
Gato, concentraram-se nestas buscas desbravando Minas Gerais. Depois outros 
http://www.s1.static.brasilescola.uol.com.br/
 
28 
 
bandeirantes foram para além da linha do Tratado de Tordesilhas e descobriram o ouro. 
Muitos aventureiros os seguiram, e, estes, permaneceram em Goiás e Mato Grosso dando 
início a formação das primeiras cidades. Nessa ocasião destacaram-se: Antônio Pedroso, 
Alvarenga e Bartolomeu Bueno da Veiga, o Anhanguera. 
Como conclusão, pode-se dizer que os bandeirantes foram responsáveis pela 
expansão do território brasileiro, desbravando os sertões além do Tratado de Tordesilhas. 
Por outro lado, agiram de forma violenta na caça de indígenas e de escravos foragidos, 
contribuindo para a manutenção do sistema escravocrata que vigorava no Brasil Colônia. Os 
jesuítas também tiveram grande importância na ocupação e delimitação do território 
colonial, já que através dos aldeamentos e missões adentraram os sertões através da 
exploração de uma série de produtos. Os mesmos eram padres da Igreja Católica que 
faziam parte da Companhia de Jesus. Esta ordem religiosa foi fundada em 1534 por Inácio 
de Loiola. 
A Companhia de Jesus foi criada logo após a Reforma Protestante (século XVI), 
como uma forma de barrar o avanço do protestantismo no mundo. Portanto, esta ordem 
religiosa foi criada no contexto da O que ocorreu de fato foi a preponderância de certos 
produtos em determinados momentos e não a exclusividade dos mesmos, já que a 
economia colonial era bem mais complexa do que unicamente a exportação de produtos, 
tendo em vista a montagem de um vigoroso mercado interno. Contrarreforma Católica. Os 
primeiros jesuítas chegaram ao Brasil no ano de 1549, com a expedição de Tomé de Souza. 
Dentre os Objetivos dos jesuítas estão levar o catolicismo para as regiões recém 
descobertas, no século XVI, principalmente à América; catequizar os índios americanos, 
transmitindo-lhes as línguas portuguesa e espanhola, os costumes europeus e a religião 
católica e difundir o catolicismo na Índia, China e África, evitando o avanço do 
protestantismo nestas regiões 
Nos aldeamentos jesuíticos os índios eram educados para viver como cristãos. Essa 
educação significava uma imposição forçada de outra cultura, a cristã. Os jesuítas valiam-
se de aspectos da cultura nativa, especialmente a língua, para se fazerem compreender e 
se aproximarem mais dos indígenas. Esta ação incrementava a destribalização e violentava 
aspectos fundamentais da vida e da mentalidade dos nativos, como o trabalho na lavoura. 
 
29 
 
Do ponto de vista dos jesuítas, a destruição da cultura indígena simbolizava o 
sucesso dos aldeamentos e da política metropolitana inspirada por eles. Os religiosos 
argumentavam que as aldeias não só protegiam os nativos da escravidão e facilitavam sua 
conversão, mas também forneciam uma força militar auxiliar para ser usada contra tribos 
hostis, intrusos estrangeiros e escravos bêbados. Entretanto, os efeitos dessa política eram 
tão agressivos e aniquiladores da identidade nativa que, não raro, os índios preferiam 
trabalharcom os colonos, apesar de serem atividades mais rigorosas, pois estes pouco se 
envolviam com seus valores, deixando-os mais livres. 
Em sua trajetória, as missões jesuíticas encamparam uma grande população de 
indígenas que ganhava educação religiosa em troca de uma rotina de serviços voltados à 
manutenção desses próprios locais. Com o passar do tempo, algumas dessas propriedades 
clericais passaram a integrar a economia interna da colônia com o desenvolvimento da 
agropecuária e de outras atividades de extrativismo. Dessa forma, conciliavam uma dupla 
função religiosa e econômica. 
Enquanto essa situação próspera se desenhava no interior da colônia, os 
proprietários de terra do litoral enfrentavam grandes dificuldades para ampliar a 
rentabilidade de suas posses. Um dos grandes problemas esteve ligado à falta de escravos 
africanos que nem sempre atendiam à demanda local e, ao mesmo tempo, possuíam um 
elevado valor no mercado colonial. Foi daí então que os bandeirantes começaram a 
adentrar as matas com objetivo de apresar e vender os índios que resolveriam a falta de 
mão de obra. 
De fato, essa atividade gerou um bom lucro aos bandeirantes que se dispunham a 
adentrar o interior à procura de nativos. Contudo, a resistência destes e o risco de vida da 
própria atividade levaram muitos bandeirantes a organizarem ataques contra as missões 
jesuíticas. Afinal de contas, ali encontrariam uma boa quantidade de índios amansados que 
já estariam adaptados aos valores da cultura europeia e valeriam mais por estarem 
acostumados a uma rotina de trabalho. 
Com isso, a rivalidade entre bandeirantes e jesuítas marcou uma das mais acirradas 
disputas entre os séculos XVII e XVIII. Vez após outra, ambos os lados recorriam à Coroa 
Portuguesa para resolver essa rotineira contenda. Por um lado, os colonizadores 
reclamavam da falta de suporte da própria administração colonial. Por outro, os jesuítas 
 
30 
 
apelavam para a influência da Igreja junto ao Estado para denunciarem as terríveis 
agressões dos bandeirantes. 
O desgaste causado por essas disputas só foi resolvido com as ações impostas pelo 
marquês de Pombal. Primeiramente, decidiu determinar a expulsão dos jesuítas do Brasil 
por estes imporem um modelo de colonização alheio ao interesse da Coroa. E, logo em 
seguida, determinou o fim da escravidão indígena e a formação de aldeamentos diretamente 
controlados por representantes da administração metropolitana. 
 
3.5 A Escravidão Africana 
A substituição da mão de obra escrava indígena pela africana ocorreu, 
progressivamente, a partir de 1570. As principais formas de resistência indígena à 
escravidão foram as guerras, as fugas e a recusa ao trabalho, além da morte de uma 
parcela significativa deles. Segundo o historiador Boris Fausto, morreram em torno de 60 mil 
índios, entre os anos de 1562 e 1563. 
 
 
Fonte: esquerdadiario.com.br 
http://www.esquerdadiario.com.br/
 
31 
 
As causas eram doenças contraídas pelo contato com os brancos, especialmente os 
jesuítas: sarampo, varíola e gripe, para as quais não tinham defesa biológica. Outro fator 
bastante importante, se não o mais importante, na substituição de mão de obra indígena 
pela africana, era a necessidade de uma melhor organização da produção açucareira, que 
assumia um papel cada vez mais importante na economia colonial. Para conseguir dar conta 
dessa expansão e demanda externa, tornou-se necessária uma mão de obra cada vez mais 
especializada, como a dos africanos, que já lidavam com essa atividade nas propriedades 
dos portugueses, na Ilha da Madeira, litoral da África. 
Nessa época, a Coroa começou a tomar medidas contra a escravização dos A 
substituição da mão de obra escrava indígena pela africana ocorreu, progressivamente, a 
partir de 1570. As principais formas de resistência indígena à escravidão foram as guerras, 
as fugas e a recusa ao trabalho, além da morte de uma parcela significativa deles. Segundo 
o historiador Boris Fausto, morreram em torno de 60 mil índios, entre os anos de 1562 e 
1563. 
As causas eram doenças contraídas pelo contato com os brancos, especialmente os 
jesuítas: sarampo, varíola e gripe, para as quais não tinham defesa biológica. Outro fator 
bastante importante, se não o mais importante, na substituição de mão de obra indígena 
pela africana, era a necessidade de uma melhor organização da produção açucareira, que 
assumia um papel cada vez mais importante na economia colonial. Para conseguir dar conta 
dessa expansão e demanda externa, tornou-se necessária uma mão de obra cada vez mais 
especializada, como a dos africanos, que já lidavam com essa atividade nas propriedades 
dos portugueses, na Ilha da Madeira, litoral da África. 
Nessa época, a Coroa começou a tomar medidas contra a escravização dos 
indígenas, restringindo as situações em que isso poderia ocorrer, como: em “guerras 
justas”, isto é, conflitos considerados necessários à defesa dos colonos, que assim, 
poderiam aprisionar e escravizar os indígenas, ou ainda a título de punição pela prática da 
antropofagia. Podia-se escravizá-los, também, como forma de “resgate”, isto é, comprando 
os indígenas aprisionados por tribos inimigas, que estavam prontas a devorá- los. 
Ao longo desse processo os portugueses já tinham percebido a maior habilidade dos 
africanos, tanto no trato com a agricultura em geral, quanto em atividades especializadas, 
como o fabrico do açúcar e trabalhos com ferro e gado. Além disso havia o fato de que, 
 
32 
 
enquanto os portugueses utilizaram a mão de obra indígena, puderam acumular os 
recursos necessários para comprar os africanos. Essa aquisição era considerada 
investimento bastante lucrativo, pois os escravos negros tinham um excelente rendimento 
no trabalho. 
Para o historiador Eduardo Silva, “a escravidão não funcionou e se reproduziu 
baseada apenas na força. O combate à autonomia e indisciplina escrava, no trabalho e fora 
dele, se fez através de uma combinação de violência com a negociação, do chicote com a 
recompensa. ” 
Os escravos que trabalhavam na casa grande recebiam um tratamento melhor e, em 
alguns casos, eram considerados pessoas da família. Esses escravos, chamados de 
“ladinos” (negros já aculturados), entendiam e falavam o português e possuíam uma 
habilidade especial na realização das tarefas domésticas. Os escravos chamados “boçais”, 
recém-chegados da África, eram normalmente utilizados nos trabalhos da lavoura. Havia 
também aqueles que exerciam atividades especializadas, como os mestres de açúcar, os 
ferreiros, e outros distinguidos pelo senhor de engenho. Chamava- se de crioulo o escravo 
nascido no Brasil. 
Geralmente dava-se preferência aos mulatos para as tarefas domésticas, artesanais 
e de supervisão, deixando aos de cor mais escura, geralmente os africanos, os trabalhos 
mais pesados. A convivência mais próxima entre senhores e escravos, na casa grande, 
abriu espaço para as negociações. Esta abertura era sempre maior para os ladinos, 
conhecedores da língua e das manhas para “passar a vida”, e menor para os africanos 
recém-chegados, os boçais. Na maioria das vezes, essas negociações não visavam à 
extinção pura e simples da condição de escravo, e sim, obter melhores condições de vida, 
manutenção das famílias, liberdade de culto, permissão para o cultivo em pedaço de terra 
do senhor, com a venda da produção, e condições de alimentação mais satisfatórias. 
Uma das formas da resistência negra era a organização dos quilombos- 
comunidades livres constituídas pelos negros que conseguiam fugir com sucesso. O mais 
famoso deles, o Quilombo de Palmares, formou-se na Serra da Barriga, atual Alagoas, no 
início do século XVII. Resistindo por mais de 60 anos, nele viveram cerca de 200 mil negros. 
Palmares sobreviveu a vários ataques organizados pela Coroa portuguesa, pelos 
fazendeiros e até pelos holandeses. 
 
33 
 
Para o senhor de engenho a compra de escravossignificava um gasto de dinheiro 
considerável e, portanto, não desejava perdê-los, qualquer que fosse o motivo: fuga ou 
morte, inutilização, por algum acidente ou por castigos aplicados pelos feitores. A perda 
afetava diretamente as atividades do engenho. 
 
Fonte: meusresumos.com 
Outro problema a evitar era que as revoltas se tornassem uma ameaça ao senhor e 
à sua família, ou à realização das tarefas cotidianas. Dessa forma, se muitas vezes as 
relações entre senhores e escravos eram marcadas pelos conflitos causados pelas 
tentativas dos senhores de preservar suas conquistas, em muitos casos, a garantia dessas 
conquistas era justamente o que possibilitava uma convivência mais harmoniosa entre os 
dois grupos. 
É preciso fazer algumas pontuações com relação a escravidão. Primeiro é preciso 
abandonar a visão clássica de escravos vivendo completamente a parte do mundo branco, 
trancafiados nas senzalas e sendo vítimas de constantes castigos por parte dos seus 
senhores. A prática da escravidão foi bem diversa na América Portuguesa, obviamente as 
relações entre senhores e escravos eram desiguais, sendo os escravos considerados 
como propriedades e em última instância podendo receber duros castigos, no entanto a 
privação não era absoluta, existia um convívio e uma troca cultural entre ambos os lados, 
http://www.meusresumos.com/
 
34 
 
sendo que alguns senhores davam concessões aos escravos que os permitia, por 
exemplo, frequentar festas e eventos fora de suas residências. Tais constatações não 
amenizam o sofrimento daqueles homens e mulheres, mas relativizam a visão de que os 
escravos eram privados absolutamente de qualquer vontade e que a relação era de 
completa submissão e isolamento aos elementos culturais da elite branca. Outro ponto que 
merece destaque e explica a não existência de revoltas de âmbito nacional que colocassem 
em risco o sistema escravista, era a grande divisão existente entre os escravos, 
provenientes de vários fatores, sendo o principal a diversidade de funções realizadas pelos 
mesmos, as quais davam diferentes tratamentos e acessos privilegiados a bens simbólicos 
e materiais. Além de tais diferenças, era comum por parte dos senhores acirrarem brigas e 
ciúmes entre sua escravaria através da concessão de benefícios a certos escravos. 
3.6 Desenvolvimento rural no Brasil: a reforma agrária como condição ou a 
reafirmação das estruturas coloniais? 
O problema da reforma agrária, remete a outra questão que é primordial para o 
desenvolvimento rural brasileiro que é a questão agrária a estrutura de posse da terra. 
Entender a questão agrária é o primeiro passo para então pensar em mecanismos de 
política a ser colocados em ação para fazer uma reforma agrária que promova o 
desenvolvimento rural. Porém, pode perguntar-se por que da preocupação em fazer 
reforma agrária. A resposta imediata talvez seja devido à desigualdade e injustiça social 
que a concentração da terra provoca. Entretanto, essa resposta seria incompleta se não se 
examina o porquê dessa concentração a qual deve ser buscada na forma em que ocorreu 
a ocupação do território brasileiro desde seus primórdios época do Brasil Colônia. Portanto, 
a questão da reforma agrária deve ser investigada tendo como tela de fundo a herança do 
latifúndio colonial para então entender o conflito atual. Pensar o desenvolvimento rural no 
Brasil significa, compreender, em primeiro lugar, o porquê da existência de tantos pobres 
no campo. 
 
 
35 
 
3.7 O Processo de Ocupação do Território Brasileiro. 
A questão agrária é muitas vezes identificada como questão fundiária. Isso tem sua 
raiz na importância que a propriedade territorial teve na determinação do curso das 
mudanças políticas e econômicas do país. A terra, além da função de produzir é, também, 
fonte de prestígio e de poder. 
Dentre os estudos publicados a respeito do tema no Brasil, cabe ressaltar Caio Prado 
Jr. Alberto Passos Guimarães e Ignácio Rangel, considerados clássicos na literatura 
econômica, cujas publicações datam do fim dos anos 50 e início dos anos 70 do séc. XX. 
Esses autores apresentam a questão agrária, não apenas como um problema fundiário de 
distribuição da terra, mas sobretudo como um problema populacional. A preocupação 
desses autores era conhecer o porquê do subdesenvolvimento brasileiro e como sair rumo 
ao desenvolvimento, entendendo que a raiz da pobreza estava na desigualdade de 
condições que a estrutura agrária promovia, entre os que viviam da terra. 
A estrutura agrária brasileira se caracteriza pela concentração fundiária e, dessa 
derivam direta ou indiretamente as demais circunstâncias econômicas, sociais e políticas. A 
utilização de terras, desde o início da ocupação do território pelos portugueses, se fez em 
benefício de uma minoria. Dessa concentração decorrem os padrões de existência ínfimos 
de considerável parcela da população padrões materiais, e como consequência, também 
culturais. 
A primeira forma de ocupação do território brasileiro foi por meio das capitanias 
hereditárias, sistema instituído no Brasil, em 1536, pelo rei de Portugal, Dom João III. Foram 
criadas 14 capitanias, divididas em 15 lotes e distribuídas a 12 donatários, que eram 
representantes da nobreza portuguesa. Em troca, esses donatários eram obrigados a pagar 
tributos à Coroa. Portanto, desde o início da ocupação do Brasil por Portugal, o território 
brasileiro foi propriedade do Estado. Nesse sentido, a coroa conseguiu formar, desde os 
primeiros golpes da conquista, imenso patrimônio rural cuja propriedade se confundia com 
o domínio da casa real, aplicado o produto nas necessidades coletivas ou pessoais, sob as 
circunstâncias que distinguiam mal o bem público do bem particular, privativo do príncipe. 
A peculiaridade fundamental da forma de organização do Estado português se 
baseava no fato de que o bem público as terras e o tesouro da Corte Real estavam 
 
36 
 
associados ao patrimônio que constituía a esfera de bens íntima do governante. A conquista 
e a ampliação do seu território constituíam a base real, física e tangível, que sustentava o 
poder da coroa. 
 
 
 Fonte: infoescola.com 
A partir das capitanias hereditárias, foi inventado o sistema de sesmarias, que 
consistia na permissão do uso das terras pelos colonos sob a condição de promover o 
desbaste da mata virgem, para povoação e cultivo. Isso significava que quem recebesse 
terras teria que ter condições de cultivá-las. Apesar dessa cláusula condicional, o regime de 
sesmarias não conseguiu reter a formação de latifúndios. O destino das terras – cultivo da 
cana de açúcar – dependia de grande quantidade de terras, são as chamadas plantations, 
onde o trabalho aí empregado provinha de mão-de-obra escrava. O objetivo dessa 
ocupação era, além de garantir a defesa do território, solucionar o problema de 
http://www.infoescola.com/
 
37 
 
abastecimento da metrópole. Esse tipo de cultivo requeria extensas áreas de terras o que 
possibilitava aos sesmeiros formarem seus latifúndios. 
O regime de sesmarias gera, ao contrário de seus propósitos iniciais, a grande 
propriedade. Para chegar a essas linhas de contorno, muito se deve ao influxo da 
escravidão e ao aproveitamento extensivo da pecuária; fatores que se aliam ao fato de que, 
para requerer e obter sesmaria, era necessário o prévio prestígio político, confiada a terra 
não ao cultivador eventual, mas ao senhor de cabedais ou titular de serviços públicos. A 
propriedade seria, desta sorte, uma afirmação aristocrática, para uma grande empresa ou 
para o domínio de lavradores e vaqueiros. 
A sesmaria não serve ao cultivo e ao aproveitamento, mas imobiliza o status do 
senhor de terras, utilizadas menos em proveito da agricultura do que da expansão territorial, 
estimulada esta pelos agentes do rei no Brasil. Ao passar o território brasileiro ao domínio 
colonial português, esse passa a integrar, de formasubordinada, a economia mercantil e 
colonial portuguesa e, neste sentido, a configurar-se como uma colônia de exploração, isto 
é, vinculada às demandas políticas e aos interesses econômicos do país colonizador. 
A colonização brasileira e a ocupação progressiva do território que formaria o Brasil, 
foram desde o seu início, e ainda é, um empreendimento mercantil. O território brasileiro foi 
povoado com o objetivo de abastecer o mercado europeu com produtos tropicais e 
exploração de metais preciosos e de diamantes, que eram exportados para a Europa, 
estabelecendo-se assim uma coletividade humana e estruturando a vida econômica. Os 
portugueses que vieram para o Brasil vieram como empresários e dirigentes do negócio, 
incorporando, inicialmente o trabalho indígena e, suprindo a deficiência qualitativa e 
quantitativa dessa mão-de-obra por escravos trazidos da África. 
A grande propriedade fundiária era a regra e o elemento central do sistema 
econômico colonial, necessário para o fornecimento em larga escala de produtos primários 
aos mercados europeus. O mecanismo de intermediação concentrava-se no corpo estatal, 
manipulando concessões públicas, controlando o crédito, de consumo, de produção 
privilegiada, numa gama que vai da gestão direta à regulamentação material da economia. 
Até 1822, ano da Independência do Brasil, não havia legislação que regulamentasse 
a posse da terra. Em julho de 1822, um decreto do Príncipe Regente pôs fim ao regime de 
sesmarias sem, no entanto, conseguir acabar com as ocupações. Apenas pequena parcela 
 
38 
 
do território havia sido apropriada, até então, restando, portanto, vasta quantidade de terras 
devolutas. A falta de legislação propiciou a ocupação dessas terras multiplicando e 
ampliando, assim, os latifúndios. Essa ocupação não se deu apenas para fins produtivos, 
ela representava, também, o aumento do prestígio e do poder econômico de seus 
proprietários. 
Com o fim do regime de sesmarias, a forma de se adquirir terras muda e passa a 
ser, como destaca Faoro, em lugar dos favores do poder público, a terra se adquire pela 
herança, pela doação, pela compra e, sobretudo, pela ocupação – a posse, transmissível 
por sucessão e alienável pela compra e venda e, citando Ruy Cirne Lima, onde o autor 
afirma que apoderar-se de terras devolutas e cultivá-las tornou-se cousa corrente entre 
nossos colonizadores, e tais proporções essa prática atingiu que pode, com o correr dos 
anos, vir a ser considerada como modo legítimo da aquisição e domínio. Somente em 1850 
com a promulgação da Lei de Terras é que o país passou a contar com uma legislação 
agrária. 
A Lei de terras, Lei nº 601 de 18 de agosto de 1850, foi a primeira legislação agrária do 
Brasil, como também, a primeira intervenção do governo no processo de apropriação 
territorial. Era uma tentativa do poder público de retomar o controle das terras devolutas e 
refrear sua ocupação. Essa lei permitia ao governo a venda de terras devolutas, mas, para 
tanto, era necessário demarca-las, o que significava separar terras privadas de terras 
públicas. 
Esse objetivo não foi atingido, por dois motivos: primeiro porque, quem fazia a 
demarcação eram os próprios ocupantes das terras e, segundo porque, a lei não foi 
suficientemente clara com respeito à proibição da posse. Apesar de seu art. 1º proibir a 
posse, outros artigos diziam que a “cultura efetiva e a morada habitual” garantiriam qualquer 
posseiro, em qualquer época nas terras ocupadas (Silva, 2004). Esses dois elementos, 
segundo a autora, fizeram com que a lei servisse para regularizar a posse e não para 
reprimi-la. Dessa forma, ela serviu para regularizar a situação de posseiros latifundiários, 
tornando-os proprietários de pleno direito. Como ressalta Faoro citando, ainda, Ruy Cirne 
Lima, a Lei de Terras é, antes de tudo, uma errata aposta à nossa legislação das sesmarias 
é, ao mesmo tempo, uma ratificação formal do regime das posses. A Lei de Terras, acaba 
com o regime de posses e passa a admitir a transmissão de posse somente por sucessão 
 
39 
 
e pela compra e venda, o que dificultou a recuperação de terras improdutivas a qual 
passaria ser feita somente por desapropriação. 
Outros importantes acontecimentos que marcaram a história brasileira, no ambiente 
político e econômico, se seguiram à publicação da Lei de Terras, fatos importantes, mas 
não diretamente relacionados à lei, mas que iriam moldar, no futuro, já no séc. XX, os 
questionamentos sobre a propriedade da terra. 
 
 
Fonte:wikimedia.org.com 
Em 1851, ocorre o fim do tráfico de escravos e, em 1888 a Lei Áurea, assinada pela 
Princesa Isabel, marca a libertação dos escravos. Esses dois fatos foram responsáveis pela 
substituição de trabalhadores escravos por trabalhadores livres, oriundos principalmente da 
Itália e Japão. Por ocasião da Lei Áurea, a produção de café, na região sudeste, estava no 
seu auge e já havia formado uma burguesia que requeria maior participação política. A 
proclamação da república veio em 1889 e, com ela, as terras devolutas passam ao domínio 
dos estados facilitando, ainda mais, aos latifundiários ampliarem suas áreas. O período que 
vai de 1989 a 1930 República Velha foi dominado pela oligarquia cafeeira os barões do café 
que comandava a vida econômica e política do país. Nesse período, grandes áreas de terras 
foram incorporadas ao processo produtivo associado ao trabalho livre; aumentou-se, 
também, o número de propriedades e de proprietários em relação às décadas anteriores, 
http://www.upload.wikimedia.org.com/
 
40 
 
mas a estrutura fundiária permaneceu inalterada. A revolução de 1930, marca o final da 
república velha e derruba a oligarquia cafeeira. Implanta-se no Brasil a ditadura da Era 
Vargas, cujo primeiro mandato durou 15 anos e, durante o qual, se deu o impulso à 
industrialização e à urbanização do país. 
Dos maiores feitos desse governo destaca-se a Consolidação das Leis Trabalho – 
CLT, criando as leis trabalhistas e a instituição do salário mínimo, que beneficiava os 
trabalhadores urbanos, mas, deixava de fora os trabalhadores rurais, cujas relações de 
trabalho no campo se assemelhavam às da escravidão. Após 1930, o Estado passa a ter um 
papel proeminente no processo econômico, mas não intervém na ordem agrária. 
3.8 A Redemocratização do País e o Surgimento do Movimento pela Reforma 
Agrária 
Em 1946, após o primeiro período da Era Vargas, o país entra em um processo de 
redemocratização e elabora uma nova constituição. O país estava, também, em pleno 
processo de industrialização e urbanização que se sucediam de forma acelerada. A questão 
agrária começa, então, a ser vista como obstáculo ao desenvolvimento. Nos anos 1950 e 
1960, intensificam-se os debates, com ampla participação popular, exigindo reformas 
estruturais consideradas essenciais para o desenvolvimento econômico e social do país, são 
as chamadas reformas de base (agrária, urbana, bancária, universitária) com mais ênfase na 
reforma agrária. 
A reivindicação da reforma agrária, nos anos de 1950, tinha como seus defensores 
setores esclarecidos da classe média urbana, de setores católicos conservadores e 
familistas, alguns setores católicos de esquerda e esquerdas laicas, os quais eram guiados 
mais por impulso ideológico e por motivação humanitária voltada para a solução das 
injustiças sociais do que, propriamente, por ser expressão de uma inadiável mudança social. 
O autor afirma que o fato da luta pela reforma agrária ter nascido na classe média e, 
portanto, “fora de lugar”, revestiu-a de intensa ambiguidade, a qual se manifestava na 
contradição que havia nas reivindicações entre esses defensores. Mesmo dentro das 
esquerdas, havia divergências; a Liga Camponesa defendia uma reforma agrária mais 
 
41 
 
radical. O Partido Comunista Brasileiro defendia a regulamentação das relações de trabalho 
no campo. Pensava que a reforma agrária poderia

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