Prévia do material em texto
FARMACOLOGIA Prof. Matheus Prates. 1 FÁRMACOS QUE ATUAM NO SISTEMA NERVOSO AUTÔNOMO. O sistema nervoso autônomo (SNA) é uma divisão do sistema nervoso periférico que controla a musculatura lisa e as glândulas e, portanto, influencia a função dos órgãos internos. Trata-se de um sistema de controle que atua inconscientemente e regula funções corporais em geral, como a frequência cardíaca, a digestão, a frequência respiratória, a resposta pupilar, a micção e a excitação sexual. No sistema nervoso central é o hipotálamo que coordena o SNA. 2 FÁRMACOS QUE ATUAM NO SISTEMA NERVOSO AUTÔNOMO. O SNA é dividido em dois subsistemas: o sistema nervoso simpático e o sistema nervoso parassimpático. O sistema nervoso simpático é muitas vezes considerado o sistema de “luta ou fuga”, enquanto o sistema nervoso parassimpático, nesse caso, pode ser considerado o sistema de “descanso e digestão” (ou vegetativo). Em muitas circunstâncias, os sistemas têm ações “opostas”: enquanto um ativa uma resposta fisiológica, o outro a inibe. Uma simplificação antiga, tachando os sistemas nervoso simpático e parassimpático de “excitório” e “inibitório”, respectivamente, foi derrubada devido às muitas exceções encontradas. Uma caracterização mais moderna retrata o sistema nervoso simpático como um “sistema de mobilização de resposta rápida” e o parassimpático como um “sistema de amortecimento mais lentamente ativado”. Recentemente, um terceiro subsistema do SNA foi descoberto, recebendo a denominação de entérico (por controlar, particularmente, o intestino). 3 Sistema nervoso simpático • Sistema nervoso simpático: promove uma resposta de luta ou fuga e está relacionado à excitação, à geração de energia e à inibição da digestão. A seguir estão algumas das funções desempenhadas pelo sistema nervoso simpático. — Desvia o fluxo sanguíneo do trato gastrointestinal (TGI) e da pele através da vasoconstrição (o fluxo sanguíneo para os músculos esqueléticos é aumentado em até 1.200%). — Dilata os bronquíolos do pulmão através da adrenalina circulante, o que permite maior troca de oxigênio alveolar. — Aumenta a frequência cardíaca e a contratilidade das células cardíacas (miócitos), proporcionando, assim, um mecanismo para o aumento do fluxo sanguíneo para os músculos esqueléticos. — Dilata as pupilas e relaxa o músculo ciliar nos olhos, permitindo que mais luz entre no olho e melhorando a visão distante. — Fornece vasodilatação para os vasos coronários do coração. — Contrai todos os esfíncteres intestinais e o esfíncter urinário. — Inibe o peristaltismo. — Estimula o orgasmo. Sistema nervoso simpático Sistema nervoso parassimpático Sistema nervoso parassimpático: promove tanto a resposta vegetativa “descanso” quanto as respostas regulares do organismo, além de melhorar a digestão. A seguir estão algumas das funções desempenhadas pelo sistema nervoso parassimpático. — Dilatação dos vasos sanguíneos que levam ao TGI, aumentando o fluxo sanguíneo (isso é importante após o consumo de alimentos, devido à maior exigência metabólica). — Contração dos bronquíolos pulmonares (pois a necessidade de oxigênio está reduzida). — Diminuição da frequência cardíaca por estimulação do nervo vago. — Constrição da pupila e contração dos músculos ciliares, facilitando a acomodação visual e permitindo uma visão mais próxima. — Estimulação da secreção das glândulas salivares e aceleração do peristaltismo, mediando a digestão dos alimentos e, indiretamente, a absorção de nutrientes. — Estimulação sexual (promovendo a ereção). 6 7 Fármacos colinérgicos e anticolinérgicos Os fármacos que afetam o sistema nervoso autônomo parassimpático são chamados de colinérgicos ou anticolinérgicos, pois agem em receptores de acetilcolina. A acetilcolina é um neurotransmissor que é liberado quando ocorre a estimulação dos neurônios parassimpáticos e também é usada na junção neuromuscular - em outras palavras, é a substância química que os neurônios motores do sistema nervoso liberam para ativar os músculos. Essa propriedade significa que os fármacos que agem sobre os sistemas colinérgicos podem ter efeitos muito perigosos, desde paralisia até convulsões. No cérebro, a acetilcolina funciona como neurotransmissor e como neuromodulador: o cérebro contém várias áreas colinérgicas, cada uma com funções distintas e desempenhando um papel importante na excitação, atenção, memória e motivação. Fármacos colinérgicos e anticolinérgicos Em parte em razão de sua função de ativação muscular e em parte em razão de suas funções no sistema nervoso autônomo e no cérebro, um grande número de fármacos importantes exerce os seus efeitos alterando a transmissão colinérgica. Inúmeros venenos e toxinas produzidos por plantas, animais e bactérias, bem como agentes químicos nervosos como o sarin, causam dano ao inativar ou hiperativar os músculos através de suas influências na junção neuromuscular. Drogas que agem sobre receptores de acetilcolina muscarínicos, como atropina, podem ser venenosas em grandes quantidades, mas, em doses menores, podem ser usadas para tratar certas condições cardíacas e problemas oculares. A escopolamina, que atua principalmente nos receptores muscarínicos no cérebro, pode causar delírio e amnésia. As qualidades viciantes da nicotina derivam de seus efeitos sobre os receptores nicotínicos de acetilcolina no cérebro. Receptores muscarínicos Os receptores de acetilcolina muscarínicos possuem um mecanismo de sinalização complexo e afetam as céulas-alvo ao longo de um período de tempo mais longo. Em mamíferos, foram identificados cinco subtipos de receptores muscarínicos, chamados de M1 a M5. Todos eles funcionam como receptores acoplados à proteína G, o que significa que eles exercem seus efeitos através de segundos mensageiros intracelulares. Somente os receptores M1, M2 e M3 têm importância clínica e já foram funcionalmente caracterizados; eles se localizam em gânglios do sistema nervoso periférico e nos órgãos efetores do sistema nervoso autônomo parassimpático (como coração, músculos lisos, cérebro e glândulas exócrinas). Os receptores M1 são encontrados nas células parietais gástricas, os receptores M2 são encontrados nas células cardíacas e no músculo liso, e os receptores M3 estão presentes na bexiga, nas glândulas exócrinas e no músculo liso. Receptores nicotínicos Esses receptores são canais iônicos capazes de se ligar à acetilcolina e à nicotina. A ligação de duas moléculas de acetilcolina promove sua abertura, permitindo a entrada de Na+ e resultando na despolarização da célula efetora. Os receptores nicotínicos estão localizados no sistema nervoso central, na glândula suprarrenal, nos gânglios do sistema nervoso autônomo e na junção neuromuscular. Os receptores nícotínicos encontrados na junção neuromuscular são designados como Nm, e os outros nicotínicos, de Nn. Os receptores nicotínicos ganglionares são diferentes dos receptores nicotínicos da junção neuromuscular: os receptores nicotínicos ganglionares, por exemplo, apresentam cinco subunidades proteicas, enquanto os receptores nicotínicos da junção neuromuscular apresentam quatro dessas subunidades. Receptores muscarínicos Os receptores de acetilcolina muscarínicos possuem um mecanismo de sinalização complexo e afetam as céulas-alvo ao longo de um período de tempo mais longo. Em mamíferos, foram identificados cinco subtipos de receptores muscarínicos, chamados de M1 a M5. Todos eles funcionam como receptores acoplados à proteína G, o que significa que eles exercem seus efeitos através de segundos mensageiros intracelulares. Somente os receptores M1, M2 e M3 têm importância clínica e já foram funcionalmente caracterizados; eles se localizam em gânglios do sistema nervoso periférico e nos órgãos efetores do sistema nervoso autônomo parassimpático (como coração, músculos lisos, cérebro e glândulas exócrinas). Os receptores M1 são encontrados nas células parietais gástricas, os receptores M2 são encontrados nas células cardíacas e no músculo liso, e os receptores M3estão presentes na bexiga, nas glândulas exócrinas e no músculo liso. Receptores nicotínicos Esses receptores são canais iônicos capazes de se ligar à acetilcolina e à nicotina. A ligação de duas moléculas de acetilcolina promove sua abertura, permitindo a entrada de Na+ e resultando na despolarização da célula efetora. Os receptores nicotínicos estão localizados no sistema nervoso central, na glândula suprarrenal, nos gânglios do sistema nervoso autônomo e na junção neuromuscular. Os receptores nícotínicos encontrados na junção neuromuscular são designados como Nm, e os outros nicotínicos, de Nn. Os receptores nicotínicos ganglionares são diferentes dos receptores nicotínicos da junção neuromuscular: os receptores nicotínicos ganglionares, por exemplo, apresentam cinco subunidades proteicas, enquanto os receptores nicotínicos da junção neuromuscular apresentam quatro dessas subunidades. Fármacos colinérgicos Os fármacos colinérgicos são divididos em três classes terapêuticas: os agonistas de ação direta, os agonistas de ação indireta reversíveis e os agonistas de ação indireta irreversíveis. Agonstas colinérgicos de ação direta • Betanecol: 1 – Mecanismo de ação: agonista muscarínico; 2 – Indicação: por atuar como agonista muscarínico, age no relaxamento dos esfíncteres da bexiga, aumentando a pressão de micção e causando a expulsão da urina. É indicado nos casos de retenção urinária não obstrutiva no pós-parto ou pós-operatório; 3 – Efeitos adversos: estimulação colinérgica generalizada (diaforese, salivação, rubor, diminuição da pressão arterial, náuseas, dor abdominal, diarreia e broncoespasmos). • Pilocarpina: 1 – Mecanismo de ação: agonista muscarínico; 2 – Indicação: a pilocarpina, quando administrada nos olhos, promove rápida miose e contração do músculo ciliar, sendo, portanto, indicada para tratamento de glaucomas; 3 – Efeitos adversos: por ter efeito central, pode causar distúrbios cerebrais. Agonistas colinérgicos de ação indireta reversíveis A enzima acetilcolinesterase é responsável por degradar a acetilcolina quando esta é liberada nas fendas sinápticas. Dessa forma, fármacos que inibem ou bloqueiam essa enzima aumentarão a sobrevida da acetilcolina nas sinapses, prolongando ou potencializando os efeitos colinérgicos. Os fármacos inibidores de acetilcolina são também chamados de agonistas colinérgicos de ação indireta, já que indiretamente aumentam os níveis desse neurotransmissor. O fato de o fármaco se ligar reversivelmente a acetilcolinesterase o torna relativamente mais seguro do que os fármacos que se ligam irreversivelmente a essa enzima. Os efeitos colinérgicos são sentidos em todos os receptores de acetilcolina (muscarínicos e nicotínicos). A seguir estão listados os principais fármacos dessa classe. Agonistas colinérgicos de ação indireta reversíveis Neostigmina: 1 – Mecanismo de ação: inibidor de acetilcolinesterase; 2 – Indicação: miastenia grave, estimulante da bexiga e do TGI; 3 – Efeitos adversos: estimulação colinérgica generalizada (diaforese, salivação, rubor, diminuição da pressão arterial, náuseas, dor abdominal, diarreia e broncoespasmos). • Tacrina, donepezila, rivastigmina e galantamina: 1 – Mecanismo de ação: inibidores de acetilcolinesterase de ação central; 2 – Indicação: esses fármacos são indicados para tratamento da doença de Alzheimer, pois nessa patologia há perda de neurônios colinérgicos no sistema nervoso central; 3 – Efeitos adversos: distúrbios do TGI, entre outros. Agonistas colinérgicos de ação indireta irreversível Esses fármacos são também conhecidos como organofosforados e apresentam a propriedade de se ligar irreversivelmente à acetilcolinesterase. Muitos deles são extremamente tóxicos: o paration, por exemplo, é usado como inseticida. Agonistas colinérgicos de ação indireta irreversível • Ecotiofato: 1 – Mecanismo de ação: inibidor irreversível da acetilcolinesterase; 2 – Indicação: tratamento do glaucoma (por estimular intensa miose); 3 – Efeitos adversos: estimulação colinérgica generalizada, paralisia da função motora e convulsões. Fármacos anticolinérgicos Os antagonistas colinérgicos (ou bloqueadores colinérgicos ou, ainda, parassimpatolíticos) ligam‑se aos receptores colinérgicos bloqueando-os e impedindo a ligação da acetilcolina. Os efeitos da estimulação parassimpática são interrompidos e as ações da estimulação simpática ficam sem oposição. Esses fármacos podem ser seletivos para os receptores nicotínicos ou seletivos para os receptores muscarínicos. Fármacos antimuscarínicos São fármacos capazes de bloquear seletivamente os receptores muscarínicos, causando a inibição de todas as funções muscarínicas, incluindo os receptores que estão nas glândulas salivares e sudoríparas. A seguir estão listados os principais fármacos dessa classe. Fármacos antimuscarínicos • Atropina: 1 – Mecanismo de ação: antagonista muscarínico; 2 – Indicação: antiespasmódico do TGI (hiosciamina), antissecretor para cirurgias (saliva e suor) e para causar midríase (pupila dilatada) em exames oftalmológicos; 3 – Efeitos adversos: xerostomia, visão borrada, taquicardia e constipação. • Escopolamina: 1 – Mecanismo de ação: antagonista muscarínico; 2 – Indicação: anticinestósico (bloqueia as doenças do movimento, como a cólica), bloqueio da memória de curta duração; 3 – Efeitos adversos: semelhantes aos da atropina. • Ipratrópio e tiotrópio: 1 – Mecanismo de ação: antagonista muscarínico inalado; 2 – Indicação: tratamento de manutenção do broncoespasmo associado com a doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC), bronquites crônicas, enfisema e asma; 3 – Efeitos adversos: esses fármacos são pouco absorvidos e causam poucas reações adversas. • Oxibutinina: 1 – Mecanismo de ação: antagonista muscarínico M3; 2 – Indicação: doença da bexiga superativa (diminui a pressão intravesicular e aumenta a capacidade vesical, enfraquecendo a frequência de contração da bexiga; 3 – Efeitos adversos: xerostomia, visão borrada e constipação. Fármacos que atuam na junção neuromuscular Os fármacos que atuam na junção neuromuscular geralmente são bloqueadores dessa transmissão colinérgica. São análogos à acetilcolina e atuam como antagonistas nicotínicos (não despolarizantes) ou agonistas nicotínicos (despolarizantes) na placa motora da junção neuromuscular. Esses fármacos são bastante utilizados para se obter uma paralisia muscular durante um procedimento cirúrgico ou para facilitar a intubação na traqueia. Fármacos que atuam na junção neuromuscular A tubocurarina foi o primeiro fármaco capaz de bloquear a junção neuromuscular e foi isolada do curare (componente do veneno da pele de sapos da região amazônica). A seguir estão listados os principais fármacos desta classe. • Pancurônio, atracúrio, vecurônio, rocurônio, cisatracúrio: 1 – Mecanismo de ação: bloqueadores neuromusculares não despolarizantes antagonistas de receptores nicotínicos; 2 – Indicação: são utilizados como adjuvantes de anestesia durante a cirurgia para relaxar os músculos esqueléticos e em cirurgias ortopédicas; 3 – Efeitos adversos: em geral apresentam boa segurança, mas eventualmente podem aumentar a frequência cardíaca. • Succinilcolina: 1 – Mecanismo de ação: bloqueador neuromuscular despolarizante agonista de receptores nicotínicos (isso se deve ao fato de esse fármaco ter efeito semelhante ao da acetilcolina porém não ser degradado pela acetilcolinesterase, permanecendo, portanto, na junção neuromuscular); 2 – Indicação: intubação endotraqueal rápida; 3 – Efeitos adversos: hipertermia, apneia e hiperpotassemia. Fármacos adrenérgicos e antiadrenérgicos Os fármacos adrenérgicos e antiadrenérgicos atuam em receptores que são estimulados pela noradrenalina (norepinefrina) ou pela adrenalina (epinefrina). Os neurônios adrenérgicos liberam noradrenalina como neurotransmissor primário. Esses neurônios são encontrados no sistema nervoso central e no sistema nervoso simpático, onde servem de ligação entre os gânglios e os órgãos efetores. Receptores adrenérgicos Os receptoresadrenérgicos (ou adrenoceptores) são uma classe de receptores acoplados a proteínas G que são alvos das catecolaminas, especialmente a norepinefrina (noradrenalina) e a epinefrina (adrenalina). Muitas células possuem esses receptores, e a ligação de uma catecolamina ao receptor irá geralmente estimular o sistema nervoso simpático. Como vimos anteriormente, o sistema nervoso simpático é responsável pela resposta de luta ou fuga, que inclui dilatação das pupilas, aumento da frequência cardíaca, mobilização de energia e desvio do fluxo sanguíneo de órgãos não essenciais para o músculo esquelético. Resposta Resposta letra E! resolução de questões Em relação às vias de administração dos fármacos, assinale a alternativa incorreta: A.As vias parenterais são aquelas que evitam o trato gastrintestinal. B.As vias parenterais são aquelas que evitam o trato gastrintestinal. C.A via entérica é aquela na qual os fármacos são absorvidos a partir do tubo digestivo D.As formas farmacêuticas para administração pela via sublingual apresentam início de ação lento. E.Sistemas de liberação transdérmicos são vias parenterais de administração de fármacos. Resposta Resposta letra D! A absorção de um fármaco pode variar de modo significativo, dependendo da formulação do medicamento utilizado e da via de administração. Considerando-se a via de administração do fármaco, é correto afirmar que A.a via inalatória, utilizada no tratamento das crises asmáticas, proporciona rápido contato entre o fármaco e a grande área de troca das mucosas do trato respiratório e do epitélio pulmonar, porém a velocidade da instalação do efeito é metade da via intravenosa. B.na administração sublingual, a absorção, a partir da cavidade oral, é dificultada pela baixa vascularização local. C.fármacos consumidos por via oral são absorvidos tão rapidamente quanto os administrados por via inalatória. Por esse motivo esta é a via de eleição na terapêutica. D.uma das vantagens da via retal em relação à via de administração oral é evitar a destruição do medicamento por enzimas digestivas ou pelo baixo pH do estômago. E.a via intradérmica é a mais utilizada na administração de medicamentos. Resposta Resposta letra D! ASSUNTO PARA PROXIMA AULA PARÂMETROS FARMACOCINÉTICOS