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FEEDBACK Prof. Dr. Manuel Muñoz Uma sábia e conhecida anedota árabe diz que, certa feita, um sultão sonhou que havia perdido todos os dentes. Logo que despertou, mandou chamar um adivinho para que interpretasse seu sonho. - Que desgraça, senhor! Exclamou o adivinho. - Cada dente caído representa a perda de um parente de vossa majestade. - Mas que insolente – gritou o sultão, enfurecido. Como te atreves a dizer-me semelhante coisa? Fora daqui! Chamou os guardas e ordenou que lhe dessem cem açoites. Mandou que trouxessem outro adivinho e lhe contou sobre o sonho. Este, após ouvir o sultão com atenção, disse-lhe: - Excelso senhor! Grande felicidade vos está reservada. O sonho significa que haveis de sobreviver a todos os vossos parentes. A fisionomia do sultão iluminou-se num sorriso, e ele mandou dar cem moedas de ouro ao segundo adivinho. E quando este saía do palácio, um dos cortesãos lhe disse admirado: - Não é possível! A interpretação que você fez foi a mesma que o seu colega havia feito. Não entendo porque ao primeiro ele pagou com cem açoites e a você com cem moedas de ouro. - Lembra-te meu amigo – respondeu o adivinho – que tudo depende da maneira de dizer... 1. CONCEITO Feedback = termo anglo-saxônico que define um processo muito importante na vida em grupo. Geralmente, sua tradução para o português se dá por realimentação ou reprovisão. Em geral, é utilizado na eletrônica. No processo de desenvolvimento da competência interpessoal, é definido como um processo de ajuda para mudança de comportamento; é comunicação a uma pessoa, ou grupo, no sentido de fornecer-lhe informações sobre como sua atuação está afetando outras pessoas (Moscovici, 1994). Aplicado nas relações interpessoais, o feedback torna-se uma forma de ajuda a outra pessoa ou ao grupo, considerando a possibilidade de mudança na conduta. Consiste na informação verbal ou não-verbal, dirigida a outra pessoa ou grupo, tornando-a ciente como sua conduta nos está afetando (Fritzen, 2000). 2. CRITÉRIOS PARA TORNAR O FEEDBACK MAIS ÚTIL E MAIS EFICIENTE Precisa ser mais descritivo que avaliativo = não julgar a situação e sim descrevê-la, pois evita situações defensivas. Deve ser específico e não geral = direcionar, objetivar. Deve levar em consideração as necessidades daquele que emite e daquele que recebe o feedback = compatível às necessidades e motivações mútuas. Precisa dirigir-se ao comportamento que pode ser modificado, caso contrário aumenta-se a frustração. Deve ser solicitado e não imposto. Deve ser oferecido em momento oportuno. Se a pessoa estiver preparada para recebê-lo e o clima emocional for propício, deve ser dado logo após a ocorrência da conduta, pois em geral ele é mais útil o mais próximo possível do comportamento em questão. Precisa ser dirigido para aspectos sobre os quais o receptor tenha controle = condição de lidar com a situação. Deve ser comprovado para assegurar boa comunicação = esclarecimento. Em geral, estes requisitos são mais aceitos e compreendido intelectualmente do que na prática diária, pois não são fáceis de serem seguidos, tanto no processo de dar quanto no de receber feedback. 3. DAR E RECEBER FEEDBACK: TAREFA DIFÍCIL Aceitar nossas ineficiências e admiti-las, especialmente publicamente, é muito difícil Dificuldade de confiar nas outras pessoas, receio do que o outro vai pensar a nosso respeito, temer que o apoio seja negado, etc. A percepção de que se está contribuindo para a manutenção de um problema e de que precisa mudar traz reações defensivas = às vezes, a resolução implica descobrir e reconhecer coisas de si que muito se evita. Culturalmente, o feedback ainda é percebido como crítica e tem implicações emocionais e sociais fortes = difícil dar. Muitas vezes, a pessoa não está, psicologicamente, preparada para receber feedback, ou não deseja nem sente necessidade = atentar para a prontidão da pessoa. 4. SUPERANDO DIFICULDADES: Nesse processo, algumas questões são fundamentais: Estabelecer relação de confiança recíproca para diminuir as barreiras entre comunicador e receptor. Reconhecer o feedback como um processo de exame conjunto. Aprender dar e a receber feedback sem reações emocionais intensas. Todo pode ser dito, dependendo da forma que se diz: Todos nós precisamos de feedback (indivíduo e grupo) = ajuda a ver o que é adequado ou não. Os dados subjetivos referentes a sentimentos e emoções também são importantes no processo de feedback = indicam como o fato repercutiu em nós. Quando recebemos feedback, precisamos confrontá-lo com reações de outras pessoas para verificar se devemos mudar de maneira geral ou somente com aquela pessoa especificamente. Os mesmos problemas envolvidos no feedback individual estão presentes no feedback grupal, em maior ou menor grau. À medida que os membros amadurecem e desenvolvem suas habilidades em dar e receber feedback individual, tornam-se hábeis em dar feedback ao grupo como um todo. 5. HABILIDADES DE COMUNICAÇÃO RELACIONADAS O desenvolvimento da competência interpessoal exige a aquisição e o aperfeiçoamento de certas habilidades de comunicação para facilitar a compreensão mútua, e elas precisam ser treinadas e praticadas constantemente. Algumas habilidades são recursos valiosos para um feedback útil. São elas: Paráfrase Dizer, com suas próprias palavras, aquilo que o outro disse = mostrar ao outro o significado daquilo que você apreendeu do que ele disse. Envolve atenção, escuta ativa e empatia. Ela aumenta a precisão da comunicação e a compreensão mútua, e além disso, transmite o sentimento de interesse e cuidado com o outro. Descrição de comportamento Relatar as ações específicas, observáveis, dos outros, sem fazer julgamentos ou generalizar seus motivos ou traços de personalidade. Informar a que comportamento se reage através de uma descrição clara, objetiva e específica. Descrever evidências visíveis, comportamentos acessíveis à observação de todos, sem acrescentar nenhum julgamento de valor nem fazer acusações ou generalizações. Aprimorar a capacidade de observação do que realmente ocorre. Verificação de percepção Dizer sua percepção sobre o que o outro está sentindo, para verificar se você está compreendendo adequadamente também seus sentimentos e não meramente o conteúdo Muitas vezes, o emissor não está consciente dos sinais não-verbais que emite, que transmitem mensagens emocionais que podem facilitar / atrapalhar a mensagem principal. Descrição de sentimentos Identificar ou especificar sentimentos verbalmente, por meio do nome do sentimento (gosto de você), de figuras de linguagem (sinto-me um pássaro aprisionado) ou de impulso de ação (tenho vontade de abraçar). REFERÊNCIAS FRITZEN, Silvino J. Treinamento de líderes voluntários. Petrópolis: Editora Vozes, 2000. MOSCOVICI, Felá. Equipes dão certo. Rio de Janeiro: Editora José Olímpio, 1994
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