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Economia Internacional 1 TROL Economia Internacional Regina Lucia Gadioli dos Santos 1ª e d iç ão Economia Internacional 2 DIREÇÃO SUPERIOR Chanceler Joaquim de Oliveira Reitora Marlene Salgado de Oliveira Presidente da Mantenedora Wellington Salgado de Oliveira Pró-Reitor de Planejamento e Finanças Wellington Salgado de Oliveira Pró-Reitor de Organização e Desenvolvimento Jefferson Salgado de Oliveira Pró-Reitor Administrativo Wallace Salgado de Oliveira Pró-Reitora Acadêmica Jaina dos Santos Mello Ferreira Pró-Reitor de Extensão Manuel de Souza Esteves DEPARTAMENTO DE ENSINO A DISTÂNCIA Diretor Charleston Jose de Sousa Assis Assessora Andrea Jardim FICHA TÉCNICA Texto: Regina Lucia Gadioli dos Santos Revisão Ortográfica: Natália Barci de Souza e Marcus Vinicius da Silva Projeto Gráfico: Andreza Nacif, Antonia Machado, Eduardo Bordoni, Fabrício Ramos, Marcos Antonio Lima da Silva e Ruan Carlos Vieira Fausto Editoração: Andreza Nacif Supervisão de Materiais Instrucionais: Janaina Gonçalves de Jesus Ilustração: Eduardo Bordoni e Fabrício Ramos Capa: Eduardo Bordoni e Fabrício Ramos COORDENAÇÃO GERAL: Departamento de Ensino a Distância Rua Marechal Deodoro 217, Centro, Niterói, RJ, CEP 24020-420 www.universo.edu.br Ficha catalográfica elaborada pela Biblioteca Universo – Campus Niterói Bibliotecária: ELIZABETH FRANCO MARTINS – CRB 7/4990 Informamos que é de única e exclusiva responsabilidade do autor a originalidade desta obra, não se r esponsabilizando a ASOEC pelo conteúdo do texto formulado. © Departamento de Ensi no a Dist ância - Universidade Salgado de Oliveira Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta publicação pode ser reproduzida, arquivada ou transmitida de nenhuma forma ou por nenhum meio sem permissão expressa e por escrito da Associação Salgado de Oliveira de Educação e Cultura, mantenedora da Univer sidade Salgado de Oliveira (UNIVERSO). G124e Gadioli, Regina Economia internacional / Regina Gadioli ; revisão de Natália Barci de Souza e Marcus Vinicius da Silva. – Niterói, RJ: EAD/UNIVERSO, 2013. 101 p. : il. 1. Relações econômicas internacionais. 2. Comércio internacional. 3. Política econômica. 4. Taxa de câmbio. I. Souza, Natália Barci de. II. Silva, Marcus Vinicius da. III. Título. CDD 337 Economia Internacional 3 Economia Internacional 4 Palavra da Reitora Acompanhando as necessidades de um mundo cada vez mais complexo, exigente e necessitado de aprendizagem contínua, a Universidade Salgado de Oliveira (UNIVERSO) apresenta a UNIVERSO Virtual, que reúne os diferentes segmentos do ensino a distância na universidade. Nosso programa foi desenvolvido segundo as diretrizes do MEC e baseado em experiências do gênero bem-sucedidas mundialmente. São inúmeras as vantagens de se estudar a distância e somente por meio dessa modalidade de ensino são sanadas as dificuldades de tempo e espaço presentes nos dias de hoje. O aluno tem a possibilidade de administrar seu próprio tempo e gerenciar seu estudo de acordo com sua disponibilidade, tornando-se responsável pela própria aprendizagem. O ensino a distância complementa os estudos presenciais à medida que permite que alunos e professores, fisicamente distanciados, possam estar a todo momento ligados por ferramentas de interação presentes na Internet através de nossa plataforma. Além disso, nosso material didático foi desenvolvido por professores especializados nessa modalidade de ensino, em que a clareza e objetividade são fundamentais para a perfeita compreensão dos conteúdos. A UNIVERSO tem uma história de sucesso no que diz respeito à educação a distância. Nossa experiência nos remete ao final da década de 80, com o bem- sucedido projeto Novo Saber. Hoje, oferece uma estrutura em constante processo de atualização, ampliando as possibilidades de acesso a cursos de atualização, graduação ou pós-graduação. Reafirmando seu compromisso com a excelência no ensino e compartilhando as novas tendências em educação, a UNIVERSO convida seu alunado a conhecer o programa e usufruir das vantagens que o estudar a distância proporciona. Seja bem-vindo à UNIVERSO Virtual! Professora Marlene Salgado de Oliveira Reitora Economia Internacional 5 Economia Internacional 6 Sumário Apresentação da disciplina ................................................................................................ 08 Plano da disciplina .............................................................................................................. 10 Unidade 1 – Comércio Internacional: Teoria e Política .............................................. 12 Unidade 2 – Balanço de Pagamentos e Dívida Externa ............................................. 36 Unidade 3 – Taxa de Câmbio ........................................................................................... 72 Considerações finais ........................................................................................................... 92 Conhecendo a autora ......................................................................................................... 94 Referências ........................................................................................................................... 96 Anexos ................................................................................................................................. 98 Economia Internacional 7 Economia Internacional 8 Apresentação da Disciplina Seja bem vindo a disciplina Economia Internacional vamos iniciar nossos estudos partindo das ideias básicas que norteiam o entendimento da teoria do comércio internacional com o objetivo de demonstrar as vantagens do intercâmbio de mercadorias entre os países e os instrumentos de política comercial utilizados como forma de proteção dos produtores nacionais frente à concorrência estrangeira. Ao longo desta disciplina você vai compreender as características macroeconômicas das relações entre países. Aproveite e um excelente estudo . Economia Internacional 9 Economia Internacional 10 Plano da Disciplina A disciplina Economia Internacional tem como objetivo de demonstrar as vantagens do intercâmbio de mercadorias entre os países e os instrumentos de política comercial utilizados como forma de proteção dos produtores nacionais frente à concorrência estrangeira. A disciplina foi dividida em três unidades , que estão subdivididos em tópicos, com objetivo de facilitar o processo de ensino e aprendizagem. Desta forma, apresentaremos a estrutura da disciplina para que você possa ter uma visão geral do conteúdo a ser estudado . Unidade 1-Comércio Internacional: Teoria e Política Em nossa primeira unidade você vai estudar as ideias básicas que norteiam o entendimento da teoria do comércio internacional com o objetivo de demonstrar as vantagens do intercâmbio de mercadorias entre os países e os instrumentos de política comercial utilizados como forma de proteção dos produtores nacionais frente à concorrência estrangeira. Objetivos: • Compreender os argumentos que norteiam as vantagens do livre comércio entre as nações . • Analisar os instrumentos de intervenção pública sobre o comércio exterior, a política comercial, que explica o processo que é denominado proteção. Economia Internacional 11 Unidade 2 – Balanço de Pagamentos e Dívida Externa Em nossa segunda você vai estudar as características macroeconômicas das relações entre países. Objetivos: • Entender como o Balanço de Pagamentos registra as relações econômicas entre uma nação e o resto do mundo, comênfase no entendimento das relações do Brasil com o exterior. • Compreender a evolução do endividamento externo e suas consequências no desenvolvimento de um país, notadamente o caso brasileiro. • Entender a articulação entre balanço de pagamentos, reservas cambiais e dívida externa. Unidade 3 – Taxa de Câmbio E para finalizar vamos estudar uma das características mais significativa das relações econômicas internacionais , o envolvimento de diferentes unidades monetárias nas transações realizadas . Veremos que quando dois países mantêm relações econômicas entre si entram necessariamente em jogo duas moedas exigindo que se fixe a relação de troca entre ambas, a qual se dá a denominação de taxa de câmbio. Bons Estudos Economia Internacional 12 Comércio Internacional: Teoria e Política Teoria Clássica do Comércio Internacional Protecionismo e Política Comercial Instituições reguladoras do protecionismo Argumentos a favor do protecionismo. 1 Economia Internacional 13 Iniciaremos nossos estudos partindo das ideias básicas que norteiam o entendimento da teoria do comércio internacional com o objetivo de demonstrar as vantagens do intercâmbio de mercadorias entre os países e os instrumentos de política comercial utilizados como forma de proteção dos produtores nacionais frente à concorrência estrangeira. Objetivos da Unidade: • Compreender os argumentos que norteiam as vantagens do livre comércio entre as nações • Analisar os instrumentos de intervenção pública sobre o comércio exterior, a política comercial, que explica o processo que é denominado proteção. Plano da Unidade : Teoria Clássica do Comércio Internacional Protecionismo e Política Comercial Instituições reguladoras do protecionismo Argumentos a favor do protecionismo. Boa leitura e bons estudos. Economia Internacional 14 Teoria Clássica do Comércio Internacional Por que as nações comerciam? O que as leva a ter interesse em estabelecer relações trocas? Ao longo dos últimos dois séculos muito se tem discutido sobre esta questão. Do ponto de vista lógico, parece óbvio que nas relações comerciais entre nações existem ganhos, ou seja, que quando os países vendem produtos e serviços uns aos outros quase sempre ocorre um benefício mútuo ou, dito de outra forma, podem obter vantagens. Iniciaremos nossos estudos procurando situar como se deu construção teórica dos argumentos das vantagens das relações comerciais entre as nações. A teoria do comércio internacional surgiu da necessidade de explicação das trocas entre as nações. Remonta aos autores clássicos, notadamente aos trabalhos de Adam Smith e David Ricardo, o desenvolvimento de uma análise passível de generalização a qualquer país, e que se contrapunha às concepções protecionistas dos mercantilistas. Importante “Os efeitos do comércio exterior do ponto de vista moral são ainda mais importantes do que suas vantagens econômicas. No estado atual do progresso humano, é de grande importância que as nações intensifiquem seus contatos, confrontando formas de pensar e de ação distintas daquelas com que cada uma está familiarizada. O comércio pode hoje desempenhar o papel que antes era realizado pela guerra: pôr os povos em contato. Os benefícios daí resultantes são excepcionalmente altos e multilaterais. Não há nação que não se beneficie ao confrontar suas próprias idéias, costumes e formas de produção com as de outras que se encontrem em posições diferentes” John Stuart Mill (Filósofo e economista político inglês, em 1848, no livro Princípios de Economia Política) Economia Internacional 15 Mercantilismo O Mercantilismo corresponde a uma doutrina econômica que dominou os ambientes políticos e comercial na Europa entre os séculos XV e meados do século XVIII (1450 a 1750), como resultado do aumento do comércio entre as nações, sobretudo, a partir da Idade Média, atingindo seu apogeu à época das grandes navegações (descobrimento da América e do caminho para as Índias). Suas ideias se baseavam na convicção de que a riqueza e o poder de um país dependiam da quantidade de metais preciosos que o país conseguisse acumular. Segundo esta visão, dado que a grande maioria dos pagamentos internacionais se fazia com ouro e prata, o Estado deveria tomar providências para estimular o comércio e a indústria e favorecer as exportações para incrementar a entrada de metais preciosos. Assim, um país poderia se tornar mais rico se aumentasse seu estoque de metais. Para atingir este objetivo, o governo procura manter um saldo favorável nas suas relações comerciais com o resto do mundo, estimulando as exportações (recebimentos - entrada de metais preciosos) e dificultando ao máximo, ou até mesmo proibindo, as importações (pagamentos - saídas de metais preciosos) e dessa forma a nação não perderia suas reservas de metais (ouro e prata). Para isso, eram criadas medidas restritivas às importações através de pesadas taxas alfandegárias (desenvolvimento de mecanismos protecionistas da economia nacional) e em simultâneo eram fomentadas as exportações através do estímulo ao desenvolvimento da produção manufatureira nacional. Entretanto, podemos notar que estas proposições mercantilistas carecem de certa consistência porque, para que os países pudessem aumentar suas exportações, outros deveriam incrementar as importações. Consequentemente, se todas as nações adotassem essas políticas de forma contínua, as economias tenderiam a se fechar e, se todos se fechassem, não haveria mais comércio. Economia Internacional 16 A partir da segunda metade do século XVIII, a doutrina mercantilista é substituída pelo liberalismo econômico e pelo racionalismo. Novas doutrinas destacam os benefícios da divisão do trabalho, da especialização e do comércio entre as nações como a principal forma de um país obter impulso no seu crescimento econômico. Ao contrário da visão mercantilista, o argumento agora é que todos se beneficiarão pelo comércio. Teoria das Vantagens Absolutas Em 1776, Adam Smith publica sua principal obra, A Riqueza das Nações: Investigação sobre sua natureza e suas causas, primeiro trabalho a apresentar uma visão sistemática acerca do comércio entre as nações. Nele Smith desenvolve toda uma argumentação contra as concepções do mercantilismo. Suas ideias básicas podem ser assim resumidas: especialização da produção motivada pela divisão do trabalho internacional e as trocas efetuadas no comércio internacional, que contribuiriam para o aumento do bem-estar das populações. Smith demonstrou as vantagens do livre comércio entre os países ao observar que a abertura ao exterior conduz a um ganho importante para os dois parceiros da troca e também para a economia mundial. Portanto, ao invés da lógica mercantilista, o comércio internacional proporciona vantagens positivas para os países que realizam trocas. Para tanto, basta que os países se especializem de acordo com as suas vantagens absolutas e os exportem entre si, ambos poderiam consumir mais do que se se recusassem a comerciar. Daí resulta o conceito de vantagem absoluta: se um país é capaz de produzir um bem com menos recursos (por exemplo, em que o número de horas de trabalho requerido para a produção do bem é menor) do que outro país poderá obter maior ganho concentrando-se na produção desse bem e exportar parte de sua produção, e comprar aqueles produtos em que os outros países produzem em condições melhores. Economia Internacional 17 Em síntese, cada país deve especializar-se em produzir os produtos em que tem vantagem absoluta em termos de custos (ou produtividade). Deste modo, propõe que os países devem apenas produzir e, portanto, exportar os produtos que têm maior produtividade e eficiência e importaraqueles em que os outros sejam mais eficientes. Eis uma máxima que todo chefe de família prudente deve seguir: nunca tentar fazer em casa aquilo que seja mais caro fazer do que comprar. O alfaiate não tenta fabricar seus sapatos, mas os compra do sapateiro. Este não tenta confeccionar seu traje, mas recorre ao alfaiate. O agricultor não tenta fazer nem um nem outro, mas se vale desses artesãos. Todos consideram que é mais interessante usar suas capacidades naquilo em que têm vantagem sobre seus vizinhos e comprar com parte do resultado 16de suas atividades, ou de parte das mesmas, aquilo que de que venham a precisar(SMITH, 1985, p.380) . Podemos compreender melhor a teoria das vantagens absolutas com base em um exemplo numérico. Tendo em vista os pressupostos anteriormente analisados, observe o quadro abaixo com os custos unitários de produção de dois bens, minério de ferro e carvão mineral, por parte de dois países, Inglaterra e Brasil, em termos de produtividade, aqui medida pela quantidade de produção por trabalhador: Custo (trabalhador/dia) Produtividade (quantidade produzida por trabalhador/dia) Países Minério de ferro Carvão mineral ( 1 ton) ( 1ton) Brasil 2 5 1/2 1/5 Inglaterra 10 1,25 1/10 1/1,25 Economia Internacional 18 Apesar de existirem custos de produção constantes para cada bem dentro de cada país, os custos diferem nos dois países: • o Brasil emprega 2 trabalhadores para produzir 1 tonelada de minério de ferro, enquanto que a Inglaterra, para produzir a mesma quantidade de minério emprega 10 trabalhadores. • o Brasil emprega 5 trabalhadores para produzir 1 tonelada de carvão mineral, enquanto que a Inglaterra emprega 1.25 trabalhadores para produzir a mesma quantidade. Explicando melhor, a Inglaterra produz carvão com menor custo ou, dito de outro modo, a produtividade da Inglaterra em relação ao carvão é maior. Por esta razão se diz que a Inglaterra tem uma vantagem absoluta em carvão e deve especializar-se completamente na sua produção. Por sua vez, o Brasil é absolutamente mais eficiente na produção de minério de ferro - dispõe de vantagem absoluta em produzir minério de ferro, devendo, assim, especializar-se completamente na sua produção. Portanto, sob o ponto de vista teórico da Vantagem Absoluta, os países devem produzir os bens que produzem com maior eficiência que, em nosso exemplo, significa que o Brasil deve produzir e exportar minério de ferro para a Inglaterra, enquanto que a Inglaterra deve produzir e exportar carvão mineral para o Brasil. A teoria das vantagens absolutas apresenta uma limitação por não explicar todas as possibilidades de comércio. Com efeito, um país ineficiente em termos absolutos em ambos os bens não poderia participar no comércio internacional. Dito de outro modo, a especialização e, por conseguinte, a troca internacional só poderia ocorrer se um país fosse mais eficiente na produção de um bem e o outro na produção de um bem diferente (como acontece no exemplo acima). Neste caso, estariam estas nações forçadas a ficar excluídas dos benefícios da especialização e das trocas? Esta limitação viria a ser discutida por David Ricardo quando desenvolveu a Teoria das Vantagens Comparativas (ou Teoria dos Custos Comparativos). Economia Internacional 19 Teoria das Vantagens Comparativas Em 1817, David Ricardo, em seus Princípios de Economia Política e Tributação, formulou o conceito das vantagens comparativas, abordando os custos das mercadorias internacionalmente comercializáveis. No caso de esses custos serem distintos em dois países, a especialização da produção com maior vantagem - gerando excedentes para a exportação - traria um benefício para esse país, já que os ganhos com o comércio lhe permitiriam importar os produtos que necessitava e cuja produção interna não era satisfatória. Assim, mesmo se um país fosse absolutamente menos eficiente para produzir todos os bens, continuaria a participar no comércio internacional ao produzir e exportar os bens que produzisse de forma relativamente mais eficiente. Para uma melhor compreensão da teoria das vantagens comparativas, analisemos o exemplo proposto por Ricardo, envolvendo dois países, Portugal e Inglaterra, e dois produtos, tecidos e vinho, medindo todos os custos relativos de produção, expressos em horas de trabalho: Custo (horas de trabalho para produzir) Produtividade (produção por hora de trabalho) Países Tecidos Vinho Tecidos (unidade) Vinho (unidade) Inglaterra 100 120 1/100 1/120 Portugal 90 80 1/90 1/80 Analisando o exemplo, constatamos que, em termos absolutos, Portugal é mais produtivo em relação a ambas as mercadorias: o custo para produzir tanto vinho quanto tecidos é menor que na Inglaterra. Mas, em termos relativos, o custo de produção de tecidos (90) em Portugal é maior do que o da produção de vinho (80) e, na Inglaterra, o custo da produção de (120) é maior do que o da produção de tecidos (100). Assim, comparativamente, Portugal tem vantagem relativa na produção de vinho (o custo relativo para produzir vinho é menor do que o custo relativo para produzir tecidos) e a Inglaterra na produção de tecidos (o custo relativo para produzir tecidos é menor do que o custo relativo para produzir vinho). Economia Internacional 20 Observe que, na ausência de comércio exterior, ou na condição de autarquia, são necessárias na Inglaterra 100 horas de trabalho para a produção de 1 unidade de tecidos e 120 horas para a produção de 1 unidade de vinho. De modo geral, podemos dizer que, o preço relativo de uma unidade de vinho é 1,2 unidades de tecido (resultado obtido dividindo-se o número de horas de trabalho para produzir vinho pelo número de horas de trabalho para a produção de tecidos - 120/ 100). Já em Portugal, essa unidade de vinho custará 0,89 unidades de tecido (resultado obtido pela divisão do número de horas de trabalho para produzir vinho pela quantidade de horas de trabalho para produzir tecidos - 80/90). O que levaria então a Inglaterra a se especializar em produzir tecidos e Portugal a se especializar em produzir vinho? Segundo Ricardo, os limites para o estabelecimento da relação de troca são os preços relativos dos produtos cujas produções em cada país têm vantagens comparativas. Como a Inglaterra tem vantagem comparativa na produção de tecidos, poderá importar 1 unidade de vinho desde que pague um preço inferior a 1,2 unidade de tecido. Para que Portugal se interesse em estabelecer relações de troca teria que receber mais do que 0,89 unidades de tecido por unidade exportada de seu vinho. Assim, se a relação de troca entre o vinho e o tecido for de 1 para 1, ambos os países sairão beneficiados. A Inglaterra, em autarquia, gastará 120 horas de trabalho para obter 1 unidade de vinho. Estabelecendo comércio com Portugal poderá utilizar apenas 100 horas de trabalho para produzir 1 unidade de tecido e trocá-la por 1 unidade de vinho, poupando, portanto, 20 horas de trabalho que poderiam ser utilizadas produzindo mais tecidos (obtendo, assim, um maior nível de consumo). O mesmo raciocínio vale para Portugal. Em vez de gastar 90 horas produzindo 1 unidade de tecido, utilizará 80 horas de trabalho para produzir 1 unidade de vinho, economizando 10 horas de trabalho que poderiam ser utilizadas produzindo mais vinho e, consequentemente, aumentando o nível de consumo. Economia Internacional 21 A Economia dos Países Individuais no Contexto Mundial A Divisão Internacional do Trabalho Ao longo da História, os diversos continentes foram retalhados em territórios autônomos, muito diferentes entre si, com relação ao tamanho e aos recursos produtivos disponíveis. Assim, através de processos políticos complexos foram-se conformando os atuais países. As nações independentesdescobriram, muito cedo, as vantagens de trocar mercadorias, originando os fluxos do comércio internacional. Na medida em que os meios de comunicação e de transporte iam-se aperfeiçoando, o sistema mundial foi ficando mais interdependente e os países foram abandonando progressivamente as estratégias orientadas para a auto- suficiência. O desenvolvimento do comércio possibilitou que cada nação se especializasse naquelas produções em queapresentava maiores aptidões, complementando, através do comércio, o leque de mercadorias que seus cidadãos necessitavam.A especialização produtiva dos países obedeceu, pelo menos inicialmente, às respectivas disponibilidades de fatores de produção, que determinaram a conformação de vocaçõesnacionais, especialmente no caso dos produtos agrícolas e minerais. Assim, por exemplo, o Brasil dedicou seus recursos a produzir café, em função da disponibilidade de recursos naturais (terra, clima, etc), especialmente apropriados para essa finalidade. Em geral, os países se especializaram nas produções em que eram mais eficientes, conseguindo produzir os respectivos produtos a um custo menor. O comércio entre países pode ser analisado a partir de dois pontos de vista. Em primeiro lugar, ele permite que cada país tenha accesso a um leque muito amplo de bens e serviços, satisfazendo as necessidades diversificadas de seus cidadãos, sem perder as vantagens da especialização produtiva. Em segundo lugar, a possibilidade de vender seus produtos em outros mercados, permite que os volumes de bens produzidos em cada país sejam muito maiores do que seriam no caso de ficarem restritos aos mercados internos, exclusivamente, sendo assim possível aproveitar os ganhos de eficiência conhecidos como economias de escala. Economia Internacional 22 A possibilidade de vender mercadorias no estrangeiro é, assim, tão importante quanto a de comprar. Muitos países conseguem viabilizar suas economias em função da demanda externa, produzindo para a exportação, assim gerando as oportunidades de emprego que, em definitivo, sustentam a geração da renda nacional. O país que permite, que as mercadorias de outros países sejam vendidas no seu mercado interno, está em condições de exigir” reciprocidade" dos seus parceiros comerciais. IMPORTANTE! Termo de troca (terms of trade) A taxa à qual as exportações são trocadas pelas importações; é dado pelo rácio entre o índice de preços das exportações (ou o valor médio unitário destas) e o índice de preços das importações (ou o seu valor unitário médio). Uma melhoria (degradação) dos termos de troca corresponde a um aumento (diminuição) deste rácio: um dado volume de exportações permite pagar um maior (menor) volume de importações. Política Comercial Muito se comenta sobre o livre comércio. Entretanto, a despeito de todas as defesas teóricas a esse respeito, na maioria dos países, o livre comércio é mais exceção do que regra. Vários são os instrumentos de intervenção utilizados pelo governo com o objetivo de favorecer as atividades econômicas internas frente à concorrência estrangeira. Esse processo é denominado de protecionismo e pode se dar por meio de diversos instrumentos de intervenção do governo sobre o comércio internacional que integra o que chamamos de política comercial. Os principais instrumentos que integram a política comercial são as tarifas, as quotas, os subsídios às exportações e as barreiras não tarifárias. Economia Internacional 23 Tarifas Dentre as medidas de proteção estabelecidas pela política comercial, é a que tem tido mais importância. A tarifa é definida como um imposto cobrado sobre os produtos estrangeiros com o objetivo de elevar seu preço de venda no mercado interno e assim “proteger” os produtos nacionais contra à concorrência dos bens estrangeiros. O imposto de importação é uma tarifa cobrada quando uma mercadoria entra no país. Existem três formas de imposto sobre as importações: específico, ad- valorem e misto. No imposto específico é cobrado um determinado valor por unidade importada. Um exemplo é tarifa de importação de US$ 0,54 litro/galão de álcool importado pelos EUA. Cobrança ad-valorem é a forma mais utilizada atualmente e corresponde a um imposto calculado como uma porcentagem sobre o preço de uma mercadoria. Como exemplo, podemos citar a Tarifa Externa Comum (TEC), de 20%, acordada entre os membros do MERCOSUL para importações procedentes de países que não sejam membros desse bloco econômico. O imposto misto diz respeito a uma cobrança de determinado montante por unidade importada do produto, além de um percentual sobre o preço. Por exemplo, pode-se cobrar US$ 40,00 por unidade de produto importada e 15% sobre preço do produto importado. A adoção de tarifa tem custos e benefícios para o país. Se por um lado tem como objetivo proteger o produtor nacional da concorrência internacional, por outro provoca várias alterações na economia. MERCOSUL -Constituído pelo Brasil e Argentina, Paraguai, Uruguai e Venezuela. Chile, Equador, Colômbia, Peru e Bolívia participam como países associados Economia Internacional 24 Subsídios Os subsídios são utilizados como instrumento de política comercial para estimular exportações e desestimular importações. Em geral, a concessão de subsídios se dá através da isenção de determinados impostos ou através da concessão de linhas especiais de crédito a taxas de juros abaixo do nível de mercado. Há casos em que o governo garante subvenções. Como exemplo, podemos citar a concessão de subsídios aos produtores de determinado produto com o objetivo de estimular o aumento da produção e garantir possíveis perdas para os produtores. No caso dos subsídios para encorajar as exportações nacionais, eles são concedidos como uma ajuda as produtores nacionais de determinados bens para que eles possam exportá-los a preços mais baixos e competitivos. Embora proibido pela Organização Mundial do Comércio (OMC), é prática muito comum atualmente, particularmente no comércio de produtos agrícolas dos países desenvolvidos. Quotas de importação “As quotas de importação são restrições quantitativas que o governo impõe à importação de determinados bens estrangeiros, ou seja, limita-se a quantidade de certos bens que pode ser importada, qualquer que seja seu preço.” Mochón. Princípios de Economia. São Paulo: Pearson Education do Brasil, 2007. Ao estabelecer quotas de importação o governo tem como objetivo limitar a quantidade de importações que podem ser realizadas. Assim, por exemplo, o governo brasileiro pode decidir impor um limite às importações de equipamentos eletrônicos norte americano a 250 mil unidades por ano, deixando que os preços sejam fixados livremente pelo mercado. Como instrumentos de política comercial, as quotas e tarifas provocam consequências semelhantes. Ambas reduzem as importações. Observe que, com a queda das importações – redução da oferta estrangeira - diminui a quantidade ofertada, o que provoca o aumento dos preços nacionais em relação aos preços no mercado internacional. Economia Internacional 25 Outras formas de proteção O governo também pode impor restrições administrativas sobre transações que envolvam câmbio (controles cambiais), proibir importação direta ou de forma seletiva em função da mercadoria ou país de origem, estabelecer depósito prévio à importação, centralizar a importação de determinado produto impedindo a atuação de outros agentes no mercado (monopólio estatal) e ainda estabelecer barreiras não-tarifárias como, por exemplo, restrições relacionadas a regulamentos sanitários e de saúde, normas técnicas e outros tipos de práticas que possam dificultar ou mesmo impedir o comércio entre países. Instituições reguladoras do protecionismo No início de nossos estudosapresentamos as principais teorias sobre as vantagens do livre comércio entre as nações tendo como argumentação de que essa seria a melhor atitude a ser adotada por um país com vista ao uso eficiente de todos os recursos disponíveis. Ao longo do tempo a realidade tem comprovado que nem sempre as nações têm os ganhos em eficiência (uso eficiente de todos os recursos disponíveis) proporcionados pelo livre comércio. Na prática, como há transferência de renda entre pessoas e nações, alguns ganham e outros perdem com a liberdade de comércio. Assim, no mundo real, muitas são as razões que justificam o protecionismo. Os que o defendem, o fazem dentro da perspectiva daqueles países que sofrem perdas com a liberdade de comércio. Argumentam que o governo deve intervir com o objetivo de neutralizar as perdas resultantes das trocas internacionais e de promover o desenvolvimento econômico. Economia Internacional 26 IMPORTANTE ! O protecionismo é a criação de mecanismos de intervenção pública para proteger as indústrias nacionais da concorrência externa. Por outro lado, deve-se notar que as decisões de uma nação sobre o comércio exterior vão além dos limites do seu território. No século XX, as práticas protecionistas a nível mundial foram sendo cada vez mais intensas e, muitas vezes, até desastrosas para muitos países. Grandes foram os empenhos com o objetivo de facilitar a liberalização do comércio que resultou no GATT, em 1947 , e a OMC – Organização Mundial do Comércio - 1995. Estas iniciativas sempre foram realistas porque nunca se pretendeu extinguir o protecionismo porque não há consenso sobre esta questão. GATT Objetivo original: reduzir as barreiras comerciais entre países, aumentar a interdependência e com isso evitar os riscos de um novo conflito (Segunda Guerra). O Acordo Geral teria caráter provisório e deveria servir como ponto de partida para a criação da Organização Internacional do Comércio – que nunca chegou a existir. Princípio básico: não-discriminação, expresso pela clausura de nação menos favorecida (NMF), segundo a qual “nenhum país tem obrigação de fazer concessões, mas na medida em que negociasse com qualquer outro, reduzisse suas barreiras à importação de determinado produto, esse benefício deveria ser estendido a todos os demais, o que garantiu o direito de todos se beneficiarem de qualquer redução de barreiras alfandegárias praticada pelos países que participavam do Acordo. O GATT foi extinto após a última rodada de negociações – Rodada do Uruguai – que ocorreu de 1986 a 1996, envolvendo mais de 100 países. Suas regras foram incorporadas pela OMC – Organização Mundial do Comércio. Economia Internacional 27 Organização Mundial do Comércio A OMC é uma organização permanente, com personalidade jurídica própria que começou a funcionar em 1o. de janeiro de 1995. É responsável pela fiscalização do comércio entre os países e dos atos protecionistas que os mesmos adotam e tem como objetivo promover a liberalização do comércio internacional. Em tese, o protecionismo é vantajoso pelo fato de proteger a economia nacional da concorrência externa, garantir a criação de empregos e incentivar o desenvolvimento de novas tecnologias. No entanto, estas políticas podem, em alguns casos, fazer com que o país perca espaço no mercado externo, provocar o atraso tecnológico e a acomodação por parte das empresas nacionais, já que essas medidas tendem a protegê-las, além de aumentar os preços internos. Países que participam da OMC Principais funções: • Gerenciar os acordos multilaterais de comércio relacionados a bens, serviços e direitos de propriedade intelectual; • Administrar o entendimento sobre soluções de controvérsias; • Servir de fórum para negociações;Supervisionar as políticas comerciais nacionais; • Cooperar com as outras organizações internacionais. Economia Internacional 28 http://newscomex.files.wordpress.com/2008/07/omc1.jpg Economia Internacional 29 LEITURA COMPLEMENTAR CARVALHO, M.A & SILVA, C.R. Economia Internacional. São Paulo: Saraiva, 1999. Nesta primeira unidade estudamos os argumentos da teoria clássica de comércio internacional em defesa do livre comércio como subsídio básico para a interpretação do processo do protecionismo e as instituições reguladoras do comércio entre as nações. Não se esqueça de realizar as atividades desta unidade de estudo. Elas irão ajudá-lo a fixar o conteúdo, além de proporcionar sua autonomia no ensino aprendizagem. Caso necessite, conte conosco! Na próxima unidade iniciaremos os estudos sobre o Balanço de Pagamentos, sua estrutura e formas de contabilização, as Reservas Cambiais e a Dívida externa. HORA DE SE AVALIAR! Lembre-se de realizar as atividades desta unidade de estudo, elas irão ajudá-lo a fixar o conteúdo, além de proporcionar sua autonomia no processo de ensino- aprendizagem. Caso prefira, redija as respostas no caderno e depois as envie através do nosso ambiente virtual de aprendizagem (AVA). Interaja conosco! Economia Internacional 30 Exercícios – Unidade 1 1- A ideia de que as trocas internacionais entre países poderiam ser mutuamente vantajosas: a) Não se encontra ainda, no plano teórico, suficientemente esclarecida. b) Só se concebe no plano teórico, não havendo qualquer evidência empírica de sua real ocorrência. c) Foi originalmente desenvolvida, no plano teórico, pelos mercantilistas. d) Foi originalmente explorada por A. SMITH, em ‘A Riqueza das Nações’, na segunda metade do século XVIII. e) Foi originalmente desenvolvida por H.OHLIN , no ínicio do século XX. 2- Empregando um trabalhador-dia, o país A produz 1 tonelada do produto X e 0,2 do produto Y;o país B , produz 0,2 tonelada de X e 1,6 de Y. Neste caso: a) Não há possibilidades de trocas mutuamente vantajosas de X por Y. b) O país B deve se especializar na produção de X. c) O país B será necessariamente prejudicado, quaisquer que sejam as relações de troca que se estabelecem com A. d) O país A será necessariamente prejudicado, quaisquer que sejam as relações de troca que se estabelecem com B. e) O país A deve se especializar na produção de X. Economia Internacional 31 3- A despeito das vantagens que as redes internacionais de trocas podem trazer, os países, em geral, adotam mecanismos tarifários e não-tarifários que têm o efeito de reduzir o volume do comércio mundial. Entre os itens abaixo, qual não é usado como argumento para as práticas protecionistas: a) Proteção às indústrias nascentes. b) Redução do desemprego. c) Redução ou eliminação de desequilíbrio cambial. d) Elevação dos níveis de eficiência e de produtividade do parque produtor interno. e) Elevação do diferencial de salários. 4- O subsídio às exportações, quando empregado como instrumento de política comercial, representa: a) uma política para desestimular as exportações. b) uma redução de custo para o produtor. c) uma política para estimular as importações. d) um desestímulo ao produtor interno. e) um aumento da geração de rendas que podem ir para estrangeiros. Economia Internacional 32 5-Contrariamente ao que imaginavam os mercantilistas, os economistas clássicos demonstraram que: a) O comércio exterior poderia ser mutuamente vantajoso para os países participantes. b) O comércio exterior não poderia induzir a ganhos de escala e produtividade e, consequentemente, à diminuição dos custos de oportunidade decorrentes da não especialização. c) A especialização e a divisão internacional do trabalho, mas sob o impacto de desenconomias crescente de escala.d) Sempre que um país obtivesse ganhos em suas trocas externas, os países com os quais comerciou incidiriam em perdas. e) A obtenção de saldos favoráveis em transição comerciais com outros países se colocaria como de importância vital para o aumento da riqueza nacional. 6 - Quem governa as políticas comerciais internacionais? a) OMC. b) ONU. c) GATT. d) As políticas comerciais não são governadas por nenhuma instituição. e) FMI. Economia Internacional 33 7- Qual das afirmativas a seguir será a menor barreira às importações de câmeras digitais de R$300? a) Uma quota que aumente o preço interno das câmeras em 10%. b) Uma tarifa ad-valorem de 5%. c) Uma tarifa específica de US$ 10. d) Uma quota que aumente o preço interno das câmeras em 5%. e) Um imposto composto de US$ 5 e 1%. 8-Dois países poderiam tirar mútuo proveito do comércio externo, produzindo e trocando dois bens diferentes, mesmo se um deles tiver vantagem absoluta na produção de ambos os bens, desde que as vantagens comparativas sejam diferenciadas. A demonstração teórica dessa possibilidade é devida : a) aos mercantilistas. b) A. SMITH c) STUART MILL d) A.D.RICARDO e) MARSHALL Economia Internacional 34 9- As quotas que o governo impõe quando adota uma política comercial são: 10- Uma tarifa de importação de US$ 10 por unidade de bem importado imposta por um país grande: Economia Internacional 35 Economia Internacional 36 Balanço de Pagamentos e Dívida Externa Conceitos básicos e estrutura do Balanço de Pagamentos. Contabilização do balanço de Pagamentos. Balanço de Pagamentos do Brasil. Reservas Cambiais. Dívida Externa. 2 Economia Internacional 37 Nesta unidade, vamos procurar compreender as características macroeconômicas das relações entre países. Em primeiro lugar, apresentaremos o balanço de pagamentos, instrumento analítico que é utilizado para avaliar os efeitos das transações econômicas e financeiras de um país com o resto do mundo e depois as reservas internacionais e a dívida externa, um dos assuntos mais polêmicos da atualidade, porque envolve uma grande parte de países, tanto os mais desenvolvidos, quanto aqueles em menor estágio de desenvolvimento. Objetivos da Unidade : • Entender como o Balanço de Pagamentos registra as relações econômicas entre uma nação e o resto do mundo, com ênfase no entendimento das relações do Brasil com o exterior. • Compreender a evolução do endividamento externo e suas consequências no desenvolvimento de um país, notadamente o caso brasileiro. • Entender a articulação entre balanço de pagamentos, reservas cambiais e dívida externa. Plano da Unidade : Conceitos básicos e estrutura do Balanço de Pagamentos. Contabilização do balanço de Pagamentos. Balanço de Pagamentos do Brasil. Reservas Cambiais. Dívida Externa. Uma boa leitura. Economia Internacional 38 Conceitos Básicos e Estrutura do Balanço de Pagamentos A estrutura e os resultados do balanço internacional de pagamentos são elementos que reportam a conceitos de soberania. Superávits, déficits ou estados de equilíbrio dependem de fatores como geografia e história, padrões de riqueza e de preferências políticas, evolução e estágio de tecnologia. Mas dependem também de como é administrada a taxa de câmbio e outros meios de regulação de fluxos externos líquidos. Ocorre, porém, que esses meios refletem um grande jogo de interesses, internos e externos. E não há um único padrão que seja capaz de conciliar os interesses de vários grupos em todos os países a um só tempo. Balanços de Pagamento O Balanço de Pagamentos não é questão nova a ser abordada. Na disciplina Economia I, unidade 6, na parte relativa ao Setor Externo, algumas considerações já foram expressas a este respeito. Nesta fase de nossos estudos, aprofundaremos mais esse tema, detalhando suas contas e formas de contabilização. O Balanço de Pagamentos revela os resultados agregados das relações econômicas de um país com o resto do mundo. Os fluxos - reais e financeiros - das transações com bens e serviços, das transações unilaterais de rendimentos e dos movimentos de capitais são totalizados, em termos contábeis, demonstrando a composição das relações externas em sua totalidade. É o saldo líquido desses fluxos - reais e financeiros - que permite visualizar o nível do estoque de divisas externas que caracteriza a liquidez internacional da economia. Fluxos reais correspondem aos fluxos comerciais de mercadorias e os de prestação de serviços com as correspondentes contrapartidas financeiras. Fluxos financeiros dizem respeito aos movimentos puramente financeiros resultantes de entradas e saídas de capitais de risco, empréstimos internacionais, entre outros. Estoque se refere a um ponto no tempo, fluxo a um período de tempo. A ideia de fluxo está ligada à mudança, ou seja, variações quantitativas entre dois pontos no tempo, enquanto que estoque indica os saldos em um determinado ponto no tempo. Um fluxo sempre está ligado ao estoque que representa uma variável. Existem duas maneiras de ligar o Fluxo ao Estoque. Uma delas é de que maneira um fluxo aumenta o estoque (Fluxo de entrada) e a outra é como um fluxo diminui o estoque (Fluxo de saída). Economia Internacional 39 Todo este conjunto de resultados líquidos das transações externas permite revelar uma variável, o endividamento externo líquido, cujo estoque demonstra como foram estabelecidos os fluxos de intercâmbio internacional de um país ao longo do tempo. Conceitos e Estrutura do Balanço de Pagamentos Como já dissemos anteriormente, o balanço de pagamentos é o registro sistemático das transações econômicas de um país com o exterior, ou seja, entre residentes e não residentes de um país durante determinado período de tempo. Segundo CARVALHO & SILVA (1999), “a distinção entre residentes e não residentes está associada ao local em que produzem e consumem bens e serviços. Assim, residente é a pessoa física ou jurídica domiciliada em um país. Inclui os indivíduos com residência física, mesmo que sejam imigrantes, as filiais de empresas estrangeiras sediadas no país, os funcionários em serviço no exterior, bem como os indivíduos que se encontram transitoriamente no exterior em viagens de turismo, negócios e etc. Não-residente, por oposição, é todo aquele que não se enquadra na definição de residente.” A classificação das contas, a metodologia de levantamento e o registro das transações internacionais seguem as orientações recomendadas pelo Fundo Monetário Internacional – FMI. Todas as transações internacionais são registradas como variáveis “fluxo” e seus saldos definem-se como fluxos líquidos. Já os resultados do balanço de pagamentos, déficits ou superávits são remetidos para duas variáveis “estoque”, as reservas cambiais e o endividamento externo. Economia Internacional 40 Quatro categorias de transações econômicas do país com o exterior são utilizadas no levantamento das informações para registro: • os fluxos comerciais de bens e os de prestação de serviços com suas respectivas contrapartidas financeiras; • os movimentos puramente financeiros que resultam dos empréstimos internacionais (de curto e/ou de longo prazo) e de fluxos de entrada e saída capitais para investimento; • as transferências unilaterais de ajuda externa, sob a forma de auxílios e donativos ou de remessas pessoais, independentemente de contrapartida; e • as alterações nos estoques de ativos e passivos internacionais do país resultantes de todas transações anteriormente citadas. Assim, definida anatureza de cada transação econômica, elas são classificadas em diferentes grupos de contas, também designadas como rubricas. Estes grupos, já apresentados em estudos anteriores, apresentam a seguinte estrutura: • Balanço Comercial - (BC) • Balanço de Serviços - (BS) • Transferências Unilaterais - (TU) • Balanço de Transações Correntes - (TC = BC+BS+TU) • Balanço (ou Movimento) de Capitais Autônomos - (KA) • Erros e Omissões - (EO) • Saldo do Balanço de Pagamentos – (TC + KA + EO) • Balanço (ou movimento) de capitais compensatórios – (KC) Economia Internacional 41 Dois agrupamentos (grupos de contas) são importantes para análise: as transações correntes (TC) e os movimentos de capitais (MK). Transações Correntes (TC) Como transações correntes são consideradas todas as operações que envolvem o registro dos movimentos com bens e serviços (os fluxos reais), inclusive os fluxos de remuneração por serviços de fatores de produção, tais como juros, lucros e dividendos. Assim, é considerada neste grupamento a soma algébrica dos saldos do Balanço Comercial, do Balanço de Serviços e das Transferências Unilaterais: TC = BC + BS + TU Balanço Comercial (BC) Nesta rubrica são registradas as exportações e as importações de mercadorias (bens tangíveis) pelo valor FOB (free on bord), ou seja, pelo seu preço de venda acrescido de todas as despesas e danos até o momento da colocação da mercadoria a bordo do veículo que as transportará do país de origem para o país de destino. Isto significa que o critério FOB de registro considera o custo da mercadoria sem incluir o custo do frete e do seguro que incidem sobre o transporte internacional do país de origem para o país de destino. É importante notar que as exportações representam entrada de divisas (moeda estrangeira) e, como tal, são registradas com o sinal positivo. Já as importações, como representam saída de divisas do país, são registradas com o sinal negativo. Economia Internacional 42 Balanço de Serviços (BS) Como o prórprio nome indica, neste Balanço são registradas todas as operações de compra e venda de serviços, ou seja, os bens intangíveis. Nesta rubrica são registrados os saldos das operações de transporte (serviços de frete), de seguros, de gastos com turismo e viagens internacionais, os serviços governamentais (manutenção de embaixadas, consulados e outras formas de representação dos governos no exterior). Também são registradas as rendas de capitais sob a forma de remessas de lucros ou juros; os juros decorrentes de financiamentos e empréstimos; os lucros decorrentes das remessas feitas por empresas internacionais que operam no país (dividendos pagos a não residentes) e outros tipos de serviços que vão desde pagamentos de comissões e propaganda até direitos autorais e patentes. Transferências Unilaterais Neste grupo são contabilizados todos os movimentos de donativos internacionais que não têm como contrapartida compra ou venda de bens e serviços (transferência não retribuídas). São registrados os pagamentos ou recebimentos de donativos de qualquer natureza, tais como doações de alimentos, ajuda a populações por desastres naturais, ajuda para reparações de guerra e ainda transferências de recursos de imigrantes a seus familiares. Movimentos de Capitais (MK) Neste agrupamento são contabilizados os fluxos crédito, moeda e títulos que representam investimentos. Duas rubricas são consideradas: os movimentos de capitais autônomos (KA) e os movimentos de capitais compensatórios (KC). Portanto temos: MK = KA + KC Economia Internacional 43 Movimentos de Capitais Autônomos Esta rubrica, também denominada de Balanço de Capitais Autônomos, corresponde ao saldo das entradas e saídas voluntárias (capitais que entram ou saem livremente do país), tais como empréstimos, investimentos, amortizações. As entradas de capitais estrangeiros no país são registradas com sinal positivo, pois significam entradas de divisas, entretanto, elas constituem um Passivo Externo, ou seja, obrigações em relação aos residentes no exterior. Movimentos de Capitais Compensatórios (MK) Este grupo também é conhecido como Demonstrativo de Resultado. Nele são registrados os empréstimos de regularização do FMI - Fundo Monetário Internacional, especificamente destinados para cobrir os déficits do Balanço de Pagamentos (financiamentos compensatórios) e a variação das reservas internacionais. Erros e omissões Neste item são registradas as discrepâncias entre os fluxos de entradas e saídas de recursos e as variações nos estoques de reservas cambiais do país. Saldo Total do Balanço de Pagamentos O resultado final do balanço de pagamentos revela a posição do país em suas relações com o exterior. Quando há défict ( - ) significa que o total de débitos superou o montante dos créditos, ou seja, as saídas de divisas foram superiores às entradas, implicando queda nas reservas cambiais do país. Um superávit ( + ), ao contrário, indica que o total dos créditos foi maior que o total dos débitos, ou seja, as entradas de divisas foram superiores às saídas, o que aumentará o saldo das reservas cambiais Economia Internacional 44 Saldos do Balanço de Pagamentos, Movimento de Capitais Compensatórios e Variação das Reservas Internacionais Dada a composição do item movimento de capitais compensatórios (KC), podemos deduzir que seu resultado é igual, com sinal contrário ( - BP ), ao saldo do Balanço de Pagamentos, refletindo o fluxo de caixa derivado das transações do país com o exterior. As reservas internacionais correspondem ao estoque de meios de pagamentos internacionais que as autoridades monetárias detêm. Sua variação depende do saldo do Balanço de Pagamentos, dos Empréstimos de Regularização do Fundo Monetário Internacional - FMI e das diversas contrapartidas existentes na conta de capitais compensatórios. Estas questões ficarão mais claras a seguir, ao abordarmos os procedimentos de contabilização do balanço de pagamentos. Economia Internacional 45 Estrutura do Balanço de Pagamentos BC – BALANÇO COMERCIAL Exportações (FOB) Importações (FOB) BS – BALANÇO DE SERVIÇOS Viagens internacionais Transportes Seguros Serviços Governamentais Rendas de Capitais Lucros e dividendos Lucros reinvestidos Juros Serviços diversos TU – TRANSFERÊNCIAS UNILATERAIS TC – SALDO DO BALANÇO DE PAGAMENTOS EM CONTA CORRENTE (BC + BS + TU) KA – MOVIMENTO DE CAPITAIS AUTÔNOMOS Investimentos diretos Reinvestimentos Empréstimos e financiamentos Amortizações Capitais de curto prazo Outros capitais EO – ERROS E OMISSÕES BP – SALDO TOTAL DO BALANÇO DE PAGAMENTOS (TC + KA + EO) KC – MOVIMENTOS DE CAPITAIS COMPENSATÓRIOS (-BP) Contas de caixa (reservas) Haveres a curto prazo no exterior Ouro monetário Direitos Especiais de Saque (DES) Empréstimos de regularização Atrasados Economia Internacional 46 Contabilização do Balanço de Pagamentos Por ser um instrumento contábil, todos os registros das transações internacionais obedecem às regras da contabilidade, ou seja, ao método de partidas dobradas. Isto significa que um crédito em uma conta corresponde a um débito em outra, e vice-versa. Para efeito de registro as contas do Balanço de Pagamentos são divididas em dois grupos de natureza distinta: contas operacionais e contas de caixa. As contas operacionais correspondem às operações que geram pagamentos e recebimentos de recursos (exportações, importações, fretes e seguros, investimentos, amortizações, transferências unilaterais e outras). Sua contabilização é realizada com a seguinte lógica: • transações que resultem em entrada de divisas são registradas com sinal positivo (+), ou seja, à crédito; • transações que representemsaída de divisas, é lançada a débito, ou seja, com sinal negativo ( - ). Estas duas contas são agrupadas no saldo do Balanço de Pagamentos em transações correntes (TC) e nos movimentos de capitais Autônomos (KA) e resultam no saldo total do Balanço de Pagamentos (BP): BP = TC + KA Economia Internacional 47 Por outro lado, as contas de caixa registram as reservas internacionais e correspondem à contrapartida das contas operacionais. São, portanto, os mesmos recebimentos e pagamentos pelas importações, exportações, fretes e seguros, rendas sobre os capitais, etc. Entretanto, a lógica de contabilização é inversa, ou seja, o débito ( - ) significa aumento das reservas interncionais e o crédito ( + ) redução de reservas. Para facilitar seu entendimento, observe a síntese destes lançamentos segundo cada conta e sua correspondencia com as reservas: Conta Entrada de reservas Saída de reservas Operacional Crédito ( + ) Débito( - ) Caixa Débito ( - ) Crédito ( + ) IMPORTANTE: Quando a conta operacional é lançada a crédito temos um aumento dos ativos (divisas) ou uma redução das obrigações com os não-residentes. O débito na conta operacional significa perda de divisas ou aumento das obrigações do país. Já observamos que, de acordo com a lógica da contabilidade, a todo crédito corresponde um débito, o que, necessariamente, faz com que o saldo entre todas as contas seja igual a zero. No caso do Balanço de Pagamentos, o que garante esta igualdade são os movimentos dos capitais compensatórios, ou seja, reservas e empréstimos de regularização do FMI, ou seja, teríamos então a seguinte igualdade: BP + KC = 0 Economia Internacional 48 Se houver superávits (BP > 0) significa que as reservas aumentam. Ocorrendo déficit (BP < 0), há saída de divisas, ou seja, uma possibilidade de o país perder reservas, reduzindo a liquidez internacional do país. Neste caso, se o país não dispuser de reservas suficientes ou não quiser delas fazer uso, pode receber empréstimo de regularização do FMI, desde que adote um programa de ajuste de acordo com as regras impostas pelo FMI. Na possibilidade de não poder adotar nenhuma dessas alternativas, as obrigações vencidas e não pagas são lançadas como atrasados. Por outro lado, podem ocorrer diferenças temporais na contabilização das transações devido a apurações inadequadas, com pouco rigor ou mesmo operações de difícil apuração (subfaturamentos, contrabando, remessas de capitais ilegais, entre outros). Assim, acrescentam-se à rubrica erros e omissões dessas diferenças. Na prática, ela é construída por resíduo, senão vejamos: se BP + KC = 0, então BP = - KC Sabemos também por definição que: BP = TC + KA Como os movimentos de capitais compensatórios (KC) são informações normalmente apuradas com rigor pelo Banco Central, os erros e omissões (EO) são estimados por resíduo da seguinte maneira: EO = - KC - (TC + KA) Para entender melhor, tomemos um exemplo numérico retirado dos resultados do Balanço de Pagamentos do Brasil para 2009 divulgado pelo Banco Central (Quadro I – SERIEBALPAG): TC = - 35.063 KA = 70.799 KC = - 34.497 Aplicando na expressão acima<, temos: EO = 34497 – ( - 35.063 + 70.700) = - 1.239 Economia Internacional 49 Balanço de Pagamentos do Brasil No Brasil, o balanço de pagamentos começou a ser contabilizado em 1947 pelo Banco do Brasil e pela Fundação Getúlio Vargas. Atualmente, o órgão reponsável pela contabilização é o Banco Central. Os dados do balanço de pagamentos são publicados em milhões de dólares norte-americanos, em valores correntes, sem ajustamento sazonal. Compreendem o país como um todo e estão compilados de acordo com os critérios estabelecidos na 5ª edição do Manual de Balanço de Pagamentos do Fundo Monetário Internacional – BPM-5. (BACEN) Grande parte dos pesquisadores adota como critério para suas análises dos balanços de pagamentos do Brasil os diferentes padrões de ajustes nas contas externas ocorridos em diferentes momentos históricos. Segundo CARVALHO e SILVA(2000)1, “Desde o início, o saldo do balanço de pagamento em transações correntes tem sido predominantemente deficitário, o que é considerado natural para economias pobres que dependem de poupança externa para se desenvolver.” Os autores apontam que estes déficits foram decorrentes dos déficts na conta de serviços, já que o balanço comercial apresentou resultados predominantemente positivos no período. A exceção foi a década de 70, período em que o Brasil passou também a apresentar déficits em seu balanço comercial em função do aumento dos gastos com importação resultante do choque externo imposto ao mundo pelo cartel dos países produtores do petróleo ocorrido em 1973. A década de 80, período de crise da dívida externa, se caracterizou pelos cortes nos fluxos de capitais das nações industrializadas para as nações menos desenvolvidas. CARVALHO e SILVA (2000, P. 116) lembram que, “os países devedores foram submetidos a fortes pressões para pronto pagamento dos créditos tomados no passado. Com isso, foram forçados a adotar programas de ajustamentos que tinham como meta obter rápido incremento de divisas para honrar compromissos externos.” 1 Economia Internacional, 2000, p.116. Economia Internacional 50 O Brasil não foi exceção. Enfrentou um período de grande recessão no início dos anos 80. “A essa situação estavam intimamente associadas às contas externas do País: as dívidas contratadas pelo Brasil nas décadas de 60 e 70 foram feitas a taxas flutuantes, as quais tiveram grande aumento no mercado internacional. Nesse período, o desequilíbrio no Balanço de Pagamentos se deveu basicamente à rubrica juros da dívida externa (NASCIMENTO & SOUZA)2.” O processo de ajustamento das contas externas buscou obter superávits comerciais com estímulo às exportações (maxidesvalorização do cruzeiro e redução do salário real – elementos indutores para o mercado externo), juntamente da redução nas importações. Com essa política, o balanço comercial brasileiro saiu de um déficit de US$ 2,8 bilhões em 1980 para superávits favoráveis até 1994. A política de comércio exterior dos anos 90 se caracterizou por uma maior abertura ao mercado externo (notadamente através da redução tarifária), resultando em aumentos tanto nas importações quanto nas exportações. Entre 1990 e 1991, período do governo Collor, houve uma drástica redução dos investimentos diretos no país e nos empréstimos e financiamentos em longo prazo. Segundo CARVALHO e SILVA (2000, p. 116), de1992 em diante o país, superada a crise de confiança em nosso governo, voltou a captar recursos do exterior em volumes crescentes. 2 Uma breve análise do balanço de pagamentos do Brasil, p.12, disponível em: www.mdic.gov.br/arquivos/dwnl_1196954731.pdf, acessado em 21 de outubro de 2010 Economia Internacional 51 A implantação do Plano Real (1994) teve como uma de suas consequências a valorização do Real frente ao Dólar. Com isso, as importações foram estimuladas e reduziram-se as exportações. Essas políticas, cambial e comercial, levaram à queda do Balanço Comercial já em 1994 e a déficits nos 5 anos posteriores. De saldos superiores a US$ 10 bilhões por ano, o país passou a apresentar déficits crescentes (US$ 3,4 bilhões em 1995 atingindo US$ 6,5 bilhões em 1999). Além disso, as altas taxas de juros proporcionaram aumento do déficit no Balanço de Serviços, trazendo como consequência uma queda acentuada no saldo das transações correntes (déficits de US$ 18 bilhões em 1995, US$23,5 bilhões em 1996, US$30,4 bilhões em 1997, US$33,4 bilhões em 1998). Segundo CARVALHO e SILVA (2000, p. 117), “paracobrir estes déficits o país contou com ingresso de capitais autônomos em tal volume que superou largamente a necessidade de financiamento. Por esta razão, o saldo do balanço de pagamentos apresentou superávits e, consequentemente, aumento das reservas internacionais.” A partir do ano de 2001, o balanço de pagamentos veio registrando superávits crescentes e aumentos nas reservas internacionais. LACERDA e OLIVEIRA (2009, p.6) comentam que “a propósito dos efeitos significativos oriundos da crise financeira, se analisarmos numa trajetória de médio prazo, nos últimos dez anos, o Balanço de Pagamentos Brasileiro apresentou um quadro de transformação. Por um lado ocorreu uma reversão substancial do desempenho da balança comercial. De um déficit de quase US 7,0 bilhões registrado nos anos 1997 e 1998, o saldo evoluiu consistentemente para um expressivo superávit de US$ 46 bilhões em 2006 e US$ 40 bilhões em 2007.” O volume das exportações cresceu significativamente a partir de 2002, atingindo US$ 197,9 bilhões em 2008, quase quatro vezes o volume exportado em 1997 (US$ 57,2 bilhões). Por outro lado, apesar de as importações aumentarem significativamente no período, foi possível garantir o superávit do balanço comercial. Em 2009, o valor das exportações foi menor, mas ainda apresentou resultado significativo, US$ 152,9 bilhões. As importações atingiram US$ 127,7 bilhões, garantindo um superávit de US$ 25,3 bilhões. Economia Internacional 52 Com relação ao Balanço de Serviços, as remessas de lucros e dividendos para o exterior e o pagamento de juros foram os fatores preponderantes para o déficit no período. LACERDA e OLIVEIRA (2009, p. 7) afirmam que “o impacto das exportações sobre o resultado de transações correntes e o superávit nas contas de capital são importantes para explicar a reversão do resultado total do balanço de pagamentos”. Assim, o desempenho positivo que o balanço de pagamentos vem registrando indica que o Brasil vem caminhando no sentido de melhorar sua fragilidade externa. Os fluxos de capitais vêm aumentando o nível das reservas internacionais do país, atingindo um recorde de US$ 238 bilhões em 2009, além de diminuir o endividamento externo do país. Importante “A vulnerabilidade externa ou fragilidade externa significa uma baixa capacidade de resistência das economias nacionais frente a fatores desestabilizadores ou choques externos. A vulnerabilidade tem duas dimensões igualmente importantes. A primeira envolve as opções de resposta com os instrumentos de política disponíveis; e a segunda incorpora os custos de enfrentamento ou de ajuste frente aos eventos externos. Assim, a vulnerabilidade externa é tão maior quanto menor forem às opções de política e quanto maiores forem os custos do processo de ajuste”. GONÇALVES, R. (1998) Globalização Econômica e Vulnerabilidade Externa. Universidade Federal Fluminense, Rio de Janeiro, disponível em: www.reggen.org.br/midia/documentos/globalizacaoeconomica.pdf, acessado em 25 de outubro de 2010. Na próxima parte faremos a articulação entre balanço de pagamentos, reservas internacionais e dívida externa. Economia Internacional 53 LINK Para saber mais sobre Balanço de Pagamentos do Brasil, acesse os endereços abaixo: http://www.bcb.gov.br/sddsp/balpagam_p.htm http://www.fazenda.gov.br/spe/publicacoes/conjuntura/informativo_economico/2 010/2010_09/setor_externo/IE%202010%2009%2021%20BALAN%C3%87O%20DE %20PAGAMENTOS.pdf www.bcb.gov.br/?SERIEBALPAG http://www.bcb.gov.br/?BOLETIM Reservas Internacionais Entende-se como reservas internacionais o estoque de ativos que um país possui em poder das autoridades monetárias (Banco Central). Estes ativos ficam disponíveis para o pagamento de dívidas ou aquisição de direitos de não-residentes de um país. Essas reservas são constituídas: 1. pelo estoque de divisas estrangeiras e títulos externos; 2. pela posição de ouro monetário; 3. pelos direitos especiais de saque (DES); 4. pelas reservas do país em poder do FMI. DES é uma moeda escritural emitida pelo FMI que tem seu valor definido a partir de uma cesta das cinco moedas dos países com maior participação nas trocas internacionais: França (Euro), Alemanha (Euro), Japão (iene), Reino Unido (libra esterlina) e Estados Unidos (dólar). Economia Internacional 54 As reservas têm origem nos fluxos de entrada e de saída de divisas estrangeiras. O esquema abaixo mostra os principais fluxos de entrada e saída de divisas estrangeiras. Fonte: ROSSETTI -1997 Economia Internacional 55 Quando há desequilíbrios nestes fluxos, mais entradas que saídas, o banco central acumula reservas. Inversamente, quando o país é deficitário, há uma saída de divisas que o banco central cobre fazendo uso das reservas em estoque, provocando a variação das reservas cambiais. “Mas as implicações não se limitam à alteração desse variável. Vão além, podendo afetar o processo de acumulação externa líquida e os graus de endividamento externo do país. Vistas em conjunto, as implicações dependerão das origens do desequilíbrio (se em transações correntes ou em movimentos de capital) e dos padrões das operações compensatórias.” ROSSETTI (1997). A razão disto é que um dos papéis das reservas internacionais é de financiar os déficits temporários no balanço de pagamentos”. Neste sentido, a variação das reservas internacionais depende do padrão do balanço de pagamentos, ou seja, dos desequilíbrios que possam ocorrer nas transações correntes e da forma como os eventuais déficits serão cobertos, por empréstimos e financiamentos e por movimentos autônomos de capital. Reservas Internacionais do Brasil Segundo o Banco Central, reservas internacionais brutas compreendem ativos externos prontamente disponíveis, sob controle do Banco Central, cuja principal função é o financiamento de desequilíbrios no balanço de pagamentos ou a regulação da magnitude desses desequilíbrios, pelo ajuste do nível da taxa de câmbio mediante intervenção no mercado de câmbio. Abrangem haveres no Banco Central e a posição de reserva no FMI. As reservas internacionais brasileiras no Banco Central são constituídas por ouro monetário, DES e ativos em moeda estrangeira, representados por depósitos (overnight, acordo de recompra no FED, prazo fixo), títulos, títulos de exportação (até outubro de 2000), créditos cedidos a outros países (até fevereiro de 2001) e créditos cursados em acordo de convênio. A posição de reserva no FMI também é computada nas reservas no Banco Central. Um depósito overnight é um depósito negociado no mercado monetário interbancário, vigente do dia da negociação. Economia Internacional 56 Reservas Internacionais do Brasil Ativos de reservas oficiais e outros ativos em moeda estrangeira Liquidez - US$ milhões Dez/07 Dez/08 Dez/09 Set/10 Ativos de Reserva Oficiais 1/ 180.334 193.783 238.520 275.206 Reservas em moeda estrangeira (em divisas conversíveis) 163.526 190.929 228.644 264.013 (a) Títulos 156.057 188.746 219.933 240.016 dos quais: emissor sediado no Brasil, mas domiciliado no exterior - - - - (b) Total de moeda e depósitos em: 7.470 2.183 8.711 23.997 Outros bancos centrais, BIS e FMI 2/ 250 253 253 18.727 Bancos sediados no Brasil - - - - dos quais: domiciliados no exterior - - - - Bancos sediados no exterior 2/ 7.220 1.931 8.459 5.271 dos quais: domiciliados no Brasil - - - - Posição de reserva no FMI - - 946 1.582 DES 2 1 4.510 4.495 Ouro (inclusive depósitos de ouro) 3/ 901 940 1.175 1.412 Volume em mil onças troy 1.080 1.080 1.080 1.080 15878+5815Outros ativos de reservas 15.905 1.913 3.244 3.703 Instrumentos derivativos -32 - - -13 Empréstimos a não residentes não bancários 4/ 58 34 9 89 Cédulas e moedas - - - -Títulos adquiridos com acordo de recompra 5/ 15.878 1.880 3.234 3.628 Economia Internacional 57 Outros Ativos em Moedas Estrangeiras - - - - 1/ Valores marcados a mercado desde novembro de 2000. 2/ A partir de maio de 2010, dado revisado em função de correção de erro no sistema de apuração. 3/ Engloba estoque de ouro financeiro disponível e depósitos a prazo. 4/ Inclui valores de créditos de exportação. 5/ Títulos adquiridos, com compromisso de recompra, com a entrega de outros títulos em operação reversa. 6/ Até abril de 2006: garantias colaterais, constituídas por títulos do Tesouro americano custodiados no Banco de Compensações Internacionais (BIS). 7/ Até abril de 2006: garantias colaterais, constituídas por depósitos em aplicações no BIS. 8/ Créditos decorrentes de reestruturação da dívida da Polônia. Fonte: Banco Central do Brasil disponível em: http://www.bcb.gov.br/pec/sdds/port/templ1p.shtm, acessado em 20 de outubro de 2010 Leitura Complementar Relatório de Gestão das Reservas Internacionais, BANCO CENTRAL DO BRASIL, Junho 2010. Economia Internacional 58 Dívida Externa Atualmente, dívida externa é um dos assuntos mais polêmicos porque envolve uma grande parte dos países. A dívida começa a existir a partir das relações internacionais de compra e venda de produtos. Excepcionalmente, um balanço de pagamentos apresenta equilíbrio em sua contabilização. Situações de déficits ou superávits ocorrem normalmente nas transações econômicas de um país com o exterior. Costuma-se interpretar que um país que apresente superávit em suas transações adotou uma política econômica de sucesso. O contrário, acúmulo de sucessivos déficits, indica que o do futuro do país está comprometido. Sabemos que quando um país estabelece relações econômicas com o resto do mundo pode tanto receber como enviar bens e serviços para o exterior. Remessas maiores que recebimentos indicam que houve um superávit no balanço de pagamentos em conta corrente. O contrário, remessas menores que os recebimentos caracterizam uma situação de déficit e os residentes do país, consequentemente, estão aumentando sua dívida com o exterior. A dívida externa compreende o total apurado em determinada data dos débitos contratuais efetivamente desembolsados e ainda não quitados, devidos por residentes de uma economia aos não residentes, onde haja a obrigatoriedade de pagamento de principal e/ou juros em algum(s) ponto(s) no futuro. Os Tipos de Dividas Uma divida pode ser privada ou publica , interna ou externa . Quando falamos que uma dívida é publica ou privada , estamos nos referindo a quem contraiu o empréstimo , se foi um órgão publico, a dívida é pública . Já quando falamos que uma dívida é interna ou externa , nos referimos ao tipo de moeda que essa dívida terá que ser paga : se a dívida tem que ser paga em moeda estrangeira , trata-se de uma dívida externa , se a dívida pode ser paga em reais , trata-se de uma dívida interna .Assim existem: dívida pública interna e dívida pública externa . Economia Internacional 59 Na perspectiva do desenvolvimento econômico e social , as dívidas mais importantes são a dívida interna (pública) e a dívida externa (pública mais privada). A primeira impõe constrangimentos ao orçamento público, enquanto que a outra aumenta a restrição das contas externas e provoca politicas e estratégias de ajuste com efeitos profundos e amplos sobre a sociedade . Para o Banco Central, a dívida externa bruta compreende as operações de dívida contraídas sob a forma de empréstimos em moeda de curto, médio e longo prazos, de importação financiada, arrendamento mercantil (Leasing) e financiamento de serviços, com prazo de pagamento superior a 360 dias, registradas no sistema Registro Declaratório Eletrônico – Registro de Operações Financeiras (RDE-ROF) do Banco Central do Brasil, e outros passivos oriundos do Plano Contábil das Instituições Financeiras (Cosif), das linhas de créditos no exterior de empresas estatais e do saldo devedor do Convênio de Créditos Recíprocos (CCR) – o CCR é um convênio em moeda estrangeira firmado entre o Banco Central do Brasil e os bancos centrais dos países participantes (Argentina, Bolívia, Chile, Colômbia, Equador, México, Paraguai, Peru, República Dominicana, Uruguai e Venezuela). A dívida externa brasileira é uma herança que vem sendo aumentada desde a Independência e representa hoje o maior problema para o crescimento econômico do país.3 Segundo GONÇALVES e POMAR (2001), “o Brasil é um país endividado. A dívida externa brasileira passou por vários ciclos de crescimento. Nos últimos 30 anos (1968/1999), em valores nominais, o estoque da dívida externa brasileira cresceu 237 bilhões de dólares! Se tomarmos como ponto de partida o ano de 1982 (crise do México), o estoque cresceu 158 bilhões de dólares. Se nos limitarmos ao período (1995/1998), correspondente ao primeiro mandato do presidente Fernando Henrique Cardoso, o estoque da dívida cresceu 99 bilhões de dólares.” 3 GONÇALVES & POMAR. O Brasil endividado (2001), São Paulo: Fundação Perseu Abramo, 2ª. reimpressão, disponível em: http://www.fpabramo.org.br/o-que- fazemos/editora/livros/brasil-endividado-o-como-divida-externa-aumentou-mais- de-us-100-bilhoes Economia Internacional 60 A partir de 2006, a dívida externa vem aumentando, passando de US$ 175,6 bilhões para US$ 228,6 bilhões em 2009. Dívida Externa total por Devedor US$ milhões Discriminação 2006 2007 2008 2009 2010 Set Dez Mar Jun Set1/ Dívida de médio e longo prazos 152 266 154 318 161 896 167 374 167 220 175 908 182 724 190 786 Setor público não financeiro 76 263 70 250 67 335 75 060 77 155 79 016 79 920 82 632 Créditos banco-empresa 853 621 625 493 3 470 560 337 343 Importações financiadas 264 305 380 391 268 478 274 279 Empréstimos em moeda 589 316 245 102 3 202 82 63 64 Créditos empresa-empresa (fornecedores) 387 269 260 188 180 150 144 142 Demais 75 022 69 360 66 450 74 379 73 505 78 306 79 439 82 148 Setor privado e setor público financeiro 76 003 84 068 94 561 92 314 90 065 96 892 102 805 108 154 Créditos interbancários 5 298 8 206 10 136 9 198 9 437 11 165 12 133 12 578 Exportação 2 373 3 178 3 839 4 536 5 476 6 819 7 613 8 377 Importação 1 125 1 315 1 167 793 833 675 786 738 Demais 1 800 3 713 5 131 3 868 3 128 3 670 3 734 3 463 Créditos banco-empresa 15 823 12 19 22 23 26 130 27 061 30 174 Economia Internacional 61 884 403 244 498 Importações financiadas 2 317 6 612 14 648 17 214 18 201 21 161 21 419 23 883 Empréstimos em moeda 13 505 6 272 4 755 5 030 5 297 4 969 5 642 6 291 Créditos empresa-empresa (fornecedores) 4 482 4 794 5 646 3 053 2 958 2 926 2 823 2 628 Demais 50 401 58 184 59 376 57 819 54 171 56 671 60 789 62 774 Dívida de curto prazo 20 323 38 901 36 444 37 560 30 972 35 624 45 869 53 006 Setor público não financeiro 6 22 17 - - - - - Obrigações do Banco Central - - - - - - - - Créditos de importação (Petrobras) - - - - - - - - Demais 6 22 17 - - - - - Setor privado e setor público financeiro 20 317 38 879 36 427 37 560 30 972 35 624 45 869 53 006 Créditos interbancários 16 527 27 613 28 220 28 673 21 957 24 301 32 914
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