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Escola Politécnica da Universidade de São Paulo Departamento de Engenharia de Minas e de Petróleo Laboratório de Caracterização Tecnológica – LCT Av. Prof. Mello Moraes, 2373 - CEP 05508-900 São Paulo - SP e-mail: lct@poli.usp.br TEL: (0XX11) 3091-5151 FAX (0XX11) 3815-5785 XIII CURSO DE FLUORESCÊNCIA DE RAIOS X CURSO DE DIFUSÃO 14 a 16 de maio de 2008 Apoio: São Paulo XIII Curso de Fluorescência de Raios X LCT-EPUSP maio de 2008 por Dra. Giuliana Ratti SUMÁRIO página 1 INTRODUÇÃO ............................................................................................................. 1 1.1 O espectro eletromagnético e as técnicas analíticas ............................................ 1 1.2 Interação matéria - energia ................................................................................... 2 1.3 Natureza dos raios-X............................................................................................. 3 2 A FLUORESCÊNCIA DE RAIOS-X COMO TÉCNICA ANALÍTICA............................ 4 2.1 Áreas de aplicação da FRX................................................................................... 5 3 FUNDAMENTOS DA FLUORESCÊNCIA DE RAIOS X .............................................. 7 3.1 Produção de raios-X.............................................................................................. 7 3.2 Fontes de radiação................................................................................................ 8 3.3 Interação raios-X - matéria................................................................................. 9 3.4 A radiação fluorescente....................................................................................... 10 3.5 Rendimento da radiação ..................................................................................... 13 3.6 Segurança........................................................................................................... 14 4 EQUIPAMENTOS ...................................................................................................... 15 4.1 Tipos de espectrômetros..................................................................................... 15 4.2 Tubos de raios-X................................................................................................. 16 4.3 Filtros .................................................................................................................. 18 4.4 Colimadores ........................................................................................................ 19 4.5 Cristais analisadores ........................................................................................... 20 4.6 Detecção dos raios-X (radiação secundária) ...................................................... 21 4.6.1 Seletor de altura de pulso e “Escape peak” ................................................. 22 4.6.2 Correções eletrônicas .................................................................................. 24 4.6.3 Contagens (count rate) ................................................................................ 24 4.7 Resolução instrumental....................................................................................... 24 4.8 Resumo das condições instrumentais a serem escolhidas ................................. 25 5 PREPARAÇÃO DE AMOSTRAS .............................................................................. 26 5.1 Representatividade de amostras......................................................................... 26 5.2 Preparação de amostras para FRX..................................................................... 27 5.2.1 Possíveis contaminações na preparação de amostras ................................ 27 5.2.2 Redução da granulação e da massa das amostras ..................................... 28 5.3 Apresentação de espécimes ao FRX.................................................................. 29 5.3.1 Amostras "tal qual" ....................................................................................... 29 5.3.2 Pastilhas prensadas (briquettes, pressed pellets ou pressed powders)....... 30 5.3.3 Pastilhas prensadas com aglomerantes ...................................................... 31 XIII Curso de Fluorescência de Raios X LCT-EPUSP maio de 2008 por Dra. Giuliana Ratti 5.3.4 Fusão de amostras para FRX ...................................................................... 31 5.3.5 Solubilização de amostras para FRX ........................................................... 33 5.4 Erros na preparação das amostras ..................................................................... 33 6 ANÁLISES QUALITATIVAS...................................................................................... 35 7 ANÁLISES QUANTITATIVAS ................................................................................... 37 7.1 Calibração ........................................................................................................... 37 7.2 Monitor ................................................................................................................ 39 7.3 Repetibilidade instrumental ................................................................................. 39 7.4 Fontes de erros e correções possíveis................................................................ 40 7.4.1 Efeito matriz ................................................................................................. 40 7.4.2 Granulometria .............................................................................................. 42 7.4.3 Área e profundidade de penetração da radiação ......................................... 44 7.4.4 Background.................................................................................................. 45 7.4.5 Efeito Compton ............................................................................................ 47 7.4.6 Padrão interno.............................................................................................. 48 7.4.7 Interferências interelementares.................................................................... 49 7.4.8 Ligação química ........................................................................................... 49 7.5 Limites de detecção ............................................................................................ 50 8 OS NOVOS "SOFTWARES" : ANÁLISES SEMIQUANTITATIVAS - "STANDARDLESS".......................................................................................................... 51 9 EXEMPLOS DE APLICAÇÕES ................................................................................. 54 9.1 Amostras de material geológico .......................................................................... 54 9.2 Manutenção preventiva de motores por FRX...................................................... 55 9.3 Análises para estudos de meio-ambiente ........................................................... 56 9.4 Análise semiquantitativa de liga metálica usada em ortopedia ........................... 57 10 Avaliação de resultados analíticos......................................................................... 58 10.1 Rotina de Trabalho.............................................................................................. 58 10.2 Procedimento de verificações de rotina .............................................................. 58 10.3 Procedimento de avaliação dos resultados de análises quantitativas................. 58 10.4 Procedimento de avaliação dos resultados de análises semiquantitativas ......... 59 11 BIBLIOGRAFIA .........................................................................................................60 11.1 Livros textos ........................................................................................................ 60 11.2 Periódicos ........................................................................................................... 60 11.3 Internet ................................................................................................................ 61 XIII Curso de Fluorescência de Raios X maio de 2008 por Dra. Giuliana Ratti 1 1 INTRODUÇÃO A fluorescência de raios X (FRX) é um método analítico para a determinação da composição química de materiais em geral. Sólidos, pós e líquidos podem ser analisados, bem como espessura e composição de camadas, pós depositados em filtros e plásticos. O método é rápido e não-destrutivo, a preparação de amostras é simples, e com alguns bons padrões a rotina é estabelecida. A precisão é a exatidão são altas. Na ausência de padrões adequados, análises semiquantitativas “standardless” são uma ótima ferramenta para acompanhamento de processos e avaliação de materiais em geral. O tempo de análise depende do número de elementos, teores e exatidão requerida, variando então de poucos segundos a 30 minutos por amostra. A faixa de concentração que pode ser coberta varia de ppm (ppb em alguns casos) a 100%, podendo-se dizer que, de modo geral, elementos de número atômico maior tem melhor detecção. As áreas de aplicação da FRX incluem cimentos, minérios e minerais, metais, óleos, plásticos e polímeros. Matérias-primas, produtos intermediários, produtos finais e rejeitos fazem parte dos materiais analisados nessas áreas. 1.1 O espectro eletromagnético e as técnicas analíticas O espectro de energia radiante pode ser dividido em regiões, para melhor compreensão dos fundamentos dos métodos instrumentais analíticos, pois as interações físicas seguem mecanismos distintos e fornecem diferentes tipos de informações. A divisão das regiões do espectro eletromagnético, por comprimento de onda, pode ser assim feito: O espectro eletromagnético e as técnicas analíticas Medida Usual Metros Técnica Raios-γ ... ... a 10 -13 Raios-X 0.001 a 100Å 10 -13 a 10 -8 FRX Ultravioleta afastado 100 a 200 nm 10 -8 a 10 -7 EO, ICP e AAS Ultravioleta Próximo 200 a 400 nm 2x10 -7 a 10 -7 EO, ICP e AAS, Colorim Visível 400 a 750 nm 4x10 -7 a 7,5x10 -7 ICP e AAS, Colorim Infravermelho 0,75 a 1000 µ 7,5 x10 -7 a 1x10 -3 Espectrofotometria UV IV Microondas 0,1 a 100 cm 1x10 -3 a 1 solubilização Ondas de Rádio 1 a 1000 m 1 a 103 Lembrete: Correlação entre as unidades: 1nm = 10 Å = 1000µµµµ = 10-9 m A grande maioria dos elementos analisados por EO (espectrografia óptica), ICP (espectrometria de plasma por acoplamento induzido), e AAS (espectrofotometria de absorção atômica) situa-se na região do Ultravioleta próximo. Nossos olhos são sensores que detectam apenas a região do Visível do espectro XIII Curso de Fluorescência de Raios X maio de 2008 por Dra. Giuliana Ratti 2 eletromagnético, assim como nossos ouvidos são sensores que detectam ondas tão grandes como metros, mas sabemos que outros sensores e comprimentos de onda existem e tem aplicação em nossa vida e em nosso trabalho. 1.2 Interação matéria - energia A compreensão das interações entre a matéria e a energia, e suas aplicações, torna-se mais fácil com o conhecimento do modelo da estrutura atômica de Rutherfor- Bohr: em um átomo normal (não excitado) os elétrons ocupam tantos níveis quantos forem necessários, começando com o mais baixo, 1s, e continuando para cima, de acordo com regras quânticas bem conhecidas. O sódio, por exemplo, tem onze elétrons denominados 1s2, 2s2, 2p6 e 3s1 . O elétron 3s é o mais fracamente ligado e assim pode ser facilmente levado do nível 3s para o 3p, o que é um exemplo de excitação eletrônica. O elétron excitado tem forte tendência a voltar ao seu estado normal, o 3s, e ao fazê-lo, emite um quantum de radiação (um fóton). O fóton emitido possui uma quantidade de energia bem definida e uniforme que retrata a distância entre os níveis de energia: é a radiação eletromagnética, característica individual de cada elemento químico. No caso do sódio, uma chama de vela é suficiente para energizar o elétron 3s que, ao voltar ao seu estado fundamental irá liberar energia (luminosa) que tornará a chama amarela. A quantificação desse processo é dada pela relação de Planck: onde E= variação de energia (quantum) h= Constante de Planck ( 6,6256.10-27 erg.s) c= velocidade da luz (3X10-10 cm/s) λ= comprimento de onda da radiação emitida No caso do sódio, λ corresponde a 5890Å (589nm), comprimento de onda situado na região do visível do espectro eletromagnético - e visível aos nossos olhos como cor amarela. Esse caso simples, onde um elétron externo é levado a um nível superior de energia e depois volta, é conhecido como radiação de ressonância, e é a base da técnica da Espectrofotometria de Absorção Atômica. Com detetores melhores que os nossos olhos, pode-se medir tanto a energia absorvida pelo sódio quando seu elétron 3s passa para 3p (Absorção Atômica), como a energia liberada ao voltar o elétron à sua posição original 3s (Fotometria de Chama). Se ao elétron se fornece mais energia do que a necessária para produzir ressonância, ele se torna mais excitado e pode ser levado ao nível 4p ou 5p, tendo mais do que um "caminho" para voltar ao seu lugar normal. Com uma fonte de energia ainda mais poderosa, muitos elétrons podem ser excitados a vários graus e a radiação resultante pode conter alguns milhares de comprimentos de onda discretos e reprodutíveis, especialmente nas regiões do ultravioleta e do visível: esta é a base da Espectroscopia de Emissão e Espectrometria de Plasma (ICP). Se a fonte de excitação for extremamente enérgica, um elétron interno poderá ser totalmente removido do átomo, e um elétron de um nível superior virá preencher a lacuna, E hc= λ XIII Curso de Fluorescência de Raios X maio de 2008 por Dra. Giuliana Ratti 3 liberando a diferença de energia entre uma posição e outra como fóton. Como a troca de energia correspondente a essa transição é muito maior que no caso de elétrons excitados, os fótons emitidos serão de muito maior freqüência (E=hν) e, correspondentemente, de menor comprimento de onda (ν=c/λ), não mais na região do visível ou ultravioleta, e sim na dos Raios-X. Observando-se a relação de Planck pode-se entender que cada transição poderá ser identificada pela energia envolvida, dependente do comprimento ou “mudança de endereço” do elétron, pois a mesma transição (digamos 3p para 2s) em diferentes átomos terá diferentes distâncias devido aos raios atômicos terem tamanhos diferentes. Esta é a base da técnica de Fluorescência de Raios-X. 1.3 Natureza dos raios-X A região do espectro eletromagnético que denominamos Raios-X possui o comportamento de onda e de partícula, e apresenta as seguintes características: - não é visível - propaga-se em linha reta e à velocidade da luz - não sofre desvios por lentes ou prismas - é uma radiação ionizante - penetra em matéria - existe na natureza e também provém do espaço - pode destruir células vivas Os Raios-X foram descobertos por Wilhelm Roentger, em 1895. Quando essa radiação incide em matéria, vários fenômenos acontecem e o feixe é atenuado, tanto por absorção como por espalhamento. A absorção é mais significativa e cresce com o número atômico da substância, fazendo com que materiais heterogêneos apresentem diferentes atenuações, em função do número atômico médio das diferentes áreas irradiadas. A primeira aplicação desta radiação foi demostrada pelo próprio Roentger, que publicou um trabalho em 1898 onde exibia a radiografia da mão de sua esposa, com os ossosperfeitamente visíveis. (Lembrar que os ossos, basicamente apatita – fosfato de cálcio – apresentam peso atômico superior a tecidos, tendões e músculos, todos à base de H, C, N, O). A técnica passou a ser imediatamente usada em Medicina, e perdura até os nossos dias. A sofisticação vista nestes quase cem anos resume-se em geração de imagens em telas de TV e na Tomografia. Aplicações industriais dos Raios-X foram surgindo, não só explorando os fenômenos de absorção como também os de espalhamento. Na produção de materiais tão variados quanto ligas metálicas, cerâmicas ou tecidos, os Raios-X determinam porosidade, espessura de camadas, variações de densidade, falhas, inclusões e trincas, basicamente para controle de qualidade. Revista de bagagem em aeroportos e áreas de segurança também são feitas por Raios-X. XIII Curso de Fluorescência de Raios X maio de 2008 por Dra. Giuliana Ratti 4 2 A FLUORESCÊNCIA DE RAIOS-X COMO TÉCNICA ANALÍTICA No final da II Guerra dispunha-se de praticamente um único método de análise, a Química Clássica, envolvendo grandes manipulações para separações sucessivas, por precipitações e reprecipitações de SiO2, Al2O3, Fe2O3, oxalato de cálcio e fosfato de magnésio. Os óxidos alcalinos eram determinados pelo método de Lawrence-Smith, ainda com sucessivas precipitações. Para análises rotineiras menos precisas, a duração poderia ser de 4 dias, enquanto as de precisão demandavam de 7 a 8 dias. Só analistas competentes e organizados conseguiam fazer mais do que duas ou três análises concomitantes . Esse desempenho não atendia à crescente demanda, e os químicos concentraram-se em métodos colorimétricos mais rápidos. Com o aparecimento do FRX e AA (metade do século), conseguiu-se mais agilidade, mas a necessidade de materiais de referência para a calibração dos instrumentos promoveu a continuação do uso dos métodos clássicos e colorimétricos, já que na manipulação real de massas e volumes consegue-se mais transparência do que nas "invisíveis" análises instrumentais. Em 1960, já se conseguia uma análise completa em 2 dias, com uma só precipitação (sílica) e dosagem dos demais elementos por colorimetria e titrimetria: Fe com KmnO4, Ti com H2O2, Al com Cupferron e Ca e Mg por EDTA . Como pode-se deduzir pelo que foi mencionado acima, a grande demanda em análises químicas, em todas as áreas, incentivou a produção de equipamentos analíticos. Embora as análises quantitativas clássicas da Química Analítica continuem indispensáveis em muitas situações, o grande volume de análises químicas gerado em laboratórios ligados à área de pesquisa e produção exigem análises instrumentais. O aperfeiçoamento das técnicas instrumentais possibilitou a dosagem de teores cada vez mais baixos e o auxílio da computação trouxe maior agilidade e acuidade aos resultados obtidos, graças a controles e correções embutidas nos "softwares" dos equipamentos. Uma vez calibrados, os equipamentos trabalham numa velocidade incomparável, única forma, aliás, de atender à grande demanda em análises. Todas as técnicas instrumentais tentam ser auto-suficientes a todo e qualquer desafio analítico, mas sempre existe alguma limitação para algum elemento ou material, de forma que uma única técnica não é universal. Por outro lado, como as técnicas instrumentais são "evolucionárias" e não revolucionárias, nenhuma pode ser descartada pelo surgimento de outra, e sim complementada, já que a gama de problemas analíticos é muito vasta. Qual deverá ser o principal equipamento, e quais as complementações necessárias, constituem a decisão de uma empresa ou órgão de pesquisa na instalação de um laboratório. A Fluorescência de Raios-X teve muito sucesso entre os metalurgistas na década de 50, e começou a ser usada em outras áreas nos anos seguintes. Tubos mais potentes, janelas mais finas, melhor geometria e novos cristais contribuíram para aumentar a potencialidade da técnica. A dosagem em materiais sólidos, sem solubilizações, encantou os usuários, como aconteceu na mesma época com a Espectrografia Óptica, também técnica de emissão atômica. A velocidade na obtenção de análises multielementares, mesmo sendo os equipamentos seqüenciais, muito contribuiu para que a técnica se difundisse rapidamente. Ron Jenkins, em 1988, publicou um livro sobre esta técnica, onde estimava a XIII Curso de Fluorescência de Raios X maio de 2008 por Dra. Giuliana Ratti 5 existência de cerca de 15.000 FRX-WDS e de alguns milhares de FRX-EDS, estando praticamente a metade instalada nos Estados Unidos e cerca de 200 em análises on-line. No Brasil, atualmente, devem existir em torno de 300 FRX, a grande maioria WDS, estando os poucos EDS existentes acoplados a microscópios de varredura eletrônicos ou equipamentos de bancada. Somente em 1995 cresceu o número de EDS em nosso país, em algumas empresas privadas que vislumbraram a potencialidade desta técnica para controle de suas rotinas operacionais ou como back up dos equipamentos WDS. As principais vantagens dos equipamentos de Raios-X (WDS e EDS) como ferramenta analítica, à luz dos equipamentos atuais e frente às outras técnicas disponíveis, podem ser assim resumidas: - a técnica é rápida, permitindo análises qualitativas e quantitativas em minutos; - não é destrutiva, podendo-se reaproveitar a amostra - cobre praticamente todos os elementos da Tabela Periódica - a exatidão conseguida está entre 0,1 e 0,3% relativos, em WDS - a sensibilidade alcança valores de décimos de ppm, para muitos elementos - qualquer tipo de amostra pode ser analisado, cobrindo todos os materiais - amostras podem estar na forma de sólidos, líquidos e gases - análises rotineiras não requerem treinamento intenso de operadores - a automação dos equipamentos tornou esta técnica muito mais simples e veloz - os microprocessadores possibilitam correções de matriz importantes e análises quantitativas "sem padrões" em materiais os mais variados. 2.1 Áreas de aplicação da FRX Para acompanhamento de produção industrial e controle de qualidade do produto, a Fluorescência de Raios-X é a técnica mais adequada. Os equipamentos trabalham normalmente 24 h/d, com amostradores automáticos, sem o menor problema. São equipamentos robustos, que tiveram todas as adequações necessárias para ter também esta performance, além da qualidade analítica. O custo inicial mais elevado é amplamente compensado pelo baixo consumo em homens/hora, reagentes, padrões, materiais de consumo e manutenção de instalações, pois uma vez calibrado o equipamento, as análises fluem a uma velocidade e reprodutibilidade incomparáveis com outras técnicas analíticas. Um equipamento de FRX tem custo de amortização seguramente muito inferior a outros equipamentos, e vida média muito longa. Não só para acompanhamento da produção, em uma indústria, o FRX tem sido intensamente usado, como no controle da qualidade da matéria-prima a ser utilizada e em pesquisas em novos materiais da mesma linha. Na indústria cimenteira, além do controle do processo, da qualidade das matérias- primas, do controle da qualidade do produto, e pesquisa de novos produtos (como cimentos com maior poder ligante), o FRX é fator fundamental para obter-se menor custo de fabricação: o rápido acompanhamento do processo implica em significativa diminuição do consumo de energia. Da mesma forma, na metalurgia, a coleta de material do forno em uma coquilha e sua análise em poucos minutos, fornecendo parâmetros para ajuste da carga do forno e momento adequado para vazamento, representa importante economia em matéria-prima, energia e qualidade do produto. Pesquisa de novos materiais, como aços mais resistentes XIII Curso de Fluorescência de Raios X maio de 2008 por Dra. Giuliana Ratti 6 à corrosão e ligas especiais são também estudados porFRX. Na metalurgia de não ferrosos (Cu, Al, Zn), o tempo ideal para decidir se a carga está correta ou não e vazar e lingotar o material é de 1a 2 min., e o FRX é equipamento que consegue atender essa demanda analítica. Em Petroquímica, FRX é usado para o controle de derivados de petróleo como coque, óleos combustíveis (Ni, Fe, V, Na, são fundamentais), óleos lubrificantes, catalisadores, e hidrocarbonetos em geral. Material de recebimento para manutenção das instalações é freqüentemente analisado, e pela quantidade de tubulações existentes, novamente o FRX apresenta a versatilidade necessária para analisar todos esses materiais. Outra área importante onde FRX tem largo uso é a indústria cerâmica, não só para controle do processo de obtenção de azulejos e pisos, como na análise da matéria-prima e dos seus contaminantes, fator crítico para a obtenção do material com as características desejadas. Além da metalurgia, a mineração foi talvez a área em que FRX apresentou as grandes vantagens que consagraram essa técnica analítica. O incomensurável número de análises gerado nas etapas de avaliação de reserva, cubagem da jazida, controle da lavra, alimentação da unidade de beneficiamento, acompanhamento do processo, análise do produto final e disposição de rejeitos, só é factível por essa técnica, que torna a rotina simples, rápida, eficiente e isenta de equipes especializas. Ainda pouco disseminadas em nosso país, mas importantes a nível mundial, as indústrias de reciclagem de materiais necessitam de análises completas dos mais variados materiais, e os novos "softwares" de análises "standardless" (capítulo 8) passaram a ser a grande ferramenta para conhecer rapidamente essas composições, sem padrões compatíveis. XIII Curso de Fluorescência de Raios X maio de 2008 por Dra. Giuliana Ratti 7 3 FUNDAMENTOS DA FLUORESCÊNCIA DE RAIOS X 3.1 Produção de raios-X Raios-X são produto da colisão de elétrons com átomos. Espectros de λ correspondentes aos Raios-X resultam do bombardeamento de um alvo selado sob alto vácuo (Rh, Cr, W), por um feixe de elétrons proveniente de um filamento aquecido (cátodo). A aplicação de uma diferença de potencial entre cátodo e ânodo faz com que os elétrons emitidos sejam acelerados, havendo impacto com o alvo. O espectro obtido é semelhante ao mostrado na figura 1, sendo constituído por um número discreto de comprimentos de onda de várias intensidades (espectro Característico), sobrepondo-se a uma banda contínua de radiação (espectro Contínuo ou radiação branca ou Bremstrahlung). A interação entre elétrons-projéteis e elétrons-alvo produz o espectro contínuo, pois os elétrons que chegam têm sua velocidade diminuída por interações sucessivas. A desaceleração dessas partículas carregadas origina uma radiação de banda espectral alargada. Temos aí transformação da energia cinética dos elétrons-alvo em energia calorífica e radiação contínua. O espectro característico mostra o rearranjo eletrônico resultante da queda dos elétrons-alvo excitados ao nível fundamental. As linhas de emissão, discretas e superpostas entre si, traduzem o ponto em que a energia foi suficiente para remover completamente um dos elétrons-alvo e mostram que outro elétron ocupou seu lugar, emitindo um fóton de radiação X, com comprimento de onda correspondente aos níveis de energia envolvidos, e, portanto, característico do elemento do alvo. Figura 1 - Exemplo de um espectro gerado pelo bombardeio de um alvo por elétrons acelerados por ddp. XIII Curso de Fluorescência de Raios X maio de 2008 por Dra. Giuliana Ratti 8 As linhas do espectro característico, como mencionado, apresentam comprimentos de onda correspondentes aos níveis de energia envolvidos, e são representados por letras do alfabeto grego e números. A letra indica as camadas envolvidas, enquanto os números reportam-se às sub camadas. Uma representação esquemática é mostrada na figura 2: Figura 2 - Transições que causam radiação característica. 3.2 Fontes de radiação Existem muitos tipos de fontes de radiação, para diferentes aplicações (isótopos radioativos que produzem γ, sincrotron, feixe de elétrons, etc). Em termos de FRX, só fontes constituidas por tubos de Raios-X são utilizados. Para produzir radiação-X, a fonte é constituída, basicamente, por um cátodo e um ânodo contidos em um bulbo de vidro ou cerâmica selado, com alto vácuo. Duas fontes de energia elétrica alimentam o sistema (tubo), uma para gerar corrente para o ânodo e outra para a alta voltagem de um filamento. A corrente que passa pelo cátodo gera elétrons por emissão termo-iônica. Esses elétrons são acelerados rumo ao ânodo pela alta diferença de voltagem entre cátodo e ânodo. Os elétrons colidem com o ânodo, produzindo Raios-X, que deixam o tubo por uma fina janela e vão incidir sobre a amostra. Uma descrição mais detalhada será feita mais adiante. XIII Curso de Fluorescência de Raios X maio de 2008 por Dra. Giuliana Ratti 9 3.3 Interação raios-X - matéria O espectro de emissão de Raios-X de uma determinada substância-alvo apresenta um espectro contínuo (background) com as linhas distintas do característico. Quando, através de uma pequena abertura num tubo produtor de Raios-X essa radiação primária incide sobre algum material, um grande número de fenômenos acontece, sendo dois os de interesse para aplicações analíticas: a) Absorção da radiação X, cuja energia provocará os fenômenos já descritos de remoção total de elétrons no material irradiado, que por sua vez se rearranjará e emitirá a radiação secundária denominada Fluorescente. Nesta radiação fluorescente não aparece o espectro contínuo, apenas aparecerão as linhas do característico da substância irradiada, com toda a energia aí concentrada e distinta. Esta é a técnica analítica da Fluorescência de Raios-X. A captação da radiação fluorescente emitida pelas substâncias irradiadas com Raios-X pode ser feita quanto ao comprimento de onda emitido (WDS = Wavelengh Dispersion) ou quanto à energia envolvida (EDS = Energy Dispersion), o que indicará o(s) elementos químicos(s) presente(s). A intensidade da radiação também pode ser medida, o que implica nas quantidades existentes, e é a base da análise quantitativa. A unidade básica de medida para trabalhos práticos é o elétron-volt (eV), cuja relação com λ é: λ (Å) = 12400 eV ou λ . eV = 12.400 b) Difração da radiação X, pois como onda, a radiação pode ser difratada por cristais, obedecendo a lei de Bragg (2d sen θ = nλ), podendo-se com este efeito analisar substâncias cristalinas com alto grau de especificidade e precisão. ### Diferença entre as duas técnicas: Um equipamento de Difração de Raios-X nos dirá quais as espécies cristalinas presentes em uma amostra, como por exemplo, hematita (Fe2O3), magnetita (Fe3O4), goethita (FeO-OH) e limonita (FeO-OH.nH2O ), enquanto um Fluorescência de Raios-X nos dirá que a amostra contém ferro, que pode ser quantificado com padrões adequados. A quantificação das espécies na Difração de Raios-X é difícil, pois a altura dos picos obtidos depende não só da quantidade mas também do grau de cristalinidade das espécies. Difração Fluorescência XIII Curso de Fluorescência de Raios X maio de 2008 por Dra. Giuliana Ratti 10 3.4 A radiação fluorescente A irradiação de materiais com um feixe de Raios-X promove fenômenos complexos. Ao penetrar na amostra, ele pode permanecer na forma de fótons que se desviam de sua trajetória inicial com ou sem perda de energia. Os que o fazem com perda de energia sofrem ao mesmo tempo mudança de comprimento de onda e originam um espalhamento incoerente denominado Efeito Compton, enquanto que os demais originam espalhamentocoerente ou clássico (ou também Rayleigh). Outra interação dos Raios-X com a matéria é a absorção dos fótons pelos átomos do material irradiado, levando à emissão do característico ou radiação fluorescente, como já mencionado. Esses dois fenômenos, espalhamento e absorção de fótons, formam conjuntamente a chamada absorção total, responsável pela perda de energia do feixe primário. Na geração da radiação secundária (fluorescente) ocorrem os mesmos fenômenos de deslocamento de elétrons mencionados na geração de Raios-X, que, em maiores detalhes podem ser assim expressos: Se um elétron da camada K foi arrancado, o átomo torna-se instável devido à presença de um "vácuo" em sua estrutura. O equilíbrio do átomo pode ser restabelecido por uma ou mais transições de elétrons de orbitais mais externos para a camada K, acompanhadas da emissão de radiação de λ correspondente à diferença de energia entre a posição inicial e final do elétron transferido. Como cada átomo tem seu raio atômico ou raio iônico perfeitamente definido, cada posição é única, isto é, cada elétron tem um único endereço, e seus deslocamentos a outra posição (outro endereço), traduzem perfeitamente seu percurso, deixando claro também a qual elemento químico o elétron pertence. Na verdade, o "endereço" é um pouco mais complicado do que foi exposto, pois cada elétron é definido pelo seu número quântico, proveniente de quatro fatores: o número da camada à qual o elétron pertence (n=1a7), a forma do orbital ou número quântico angular (L=n-1), tipo de orbital (orbital s=0 orbital p=1 orbital d=2 orbital f=3), momento angular (m= ± L ) e spin (s= ± 1/2 ). Com todas essas informações sobre o "endereço" de cada elétron, torna-se ainda mais claro que cada transição eletrônica é única e pode ser perfeitamente "mapeada". Lembrando que o comprimento de onda é inversamente proporcional à energia (E=h.c/λ), pode-se perceber que λ decresce com o aumento de energia e que uma transição Kβ consome mais energia e tem λ menor que uma Kα , como poder-se-á ver na prática. Da mesma forma, transições L terão comprimentos de onda maiores, e menor energia, que as linhas K . Existem muitas combinações possíveis dos números quânticos do elétron na passagem do estado inicial ao final, o que significa vários λ emitidos pelo mesmo átomo. Para a série K, apenas transições p → s são possíveis. Assim, se o preenchimento da camada K ocorre pelo elétron 2p do sub-nível LIII , a linha gerada é a Kα1, enquanto o deslocamento do elétron 2p de LII gera Kα2. Como os níveis energéticos de LII e LIII XIII Curso de Fluorescência de Raios X maio de 2008 por Dra. Giuliana Ratti 11 são muito semelhantes, os comprimentos de onda de Kα1 e Kα2 tornam-se indistintas e compõem o dublete Kα. Lacunas da camada L geram mais linhas, já que as transições possíveis são as p → s, s → p e d → p. De um modo em geral as transições K geram de 2 a 6 linhas, enquanto as L geram cerca de 12 linhas de fortes a moderadas. E o número de linhas aumenta para as demais camadas. Na prática, o número de linhas observado para um dado elemento vai depender do número atômico do elemento, das condições de excitação e da faixa de λ que o equipamento trabalha. Em geral, os equipamentos comercialmente disponíveis cobrem a faixa de 0,3 a 20 Å, o que cobre três séries de linhas: K, L e M. Cada série é composta por um grupo de linhas, sendo o mais forte denominado α, o segundo β, seguido por γ. O número de linhas em cada série aumenta da série α para as demais. Em trabalhos analíticos rotineiros, a série K é a mais usada para a maioria dos elementos, sendo a série L e eventualmente a M escolhida para os elementos pesados. O principal problema em se trabalhar com as linhas M é a falta de seu registro nas tabelas do sistema atual (Siegbahn). Nos últimos anos, a IUPAC (International Union of Pure and Applied Chemistry) vem cuidando da nomenclatura em espectroscopia, baseada em nomes de camada. A nova nomenclatura ainda não é usual em publicações sobre FRX, mas é importante conhecê-la. A tabela abaixo correlaciona as duas nomenclaturas, para as séries K e L : Siegbahn IUPAC Siegbahn IUPAC Siegbahn IUPAC Kα1 K-L3 Lα1 L3-M5 Lγ1 L2-M4 Kα2 K-L2 Lα2 L3-M4 Lγ2 L1-N2 Kβ1 K-M3 Lβ1 L2-M4 Lγ3 L1-M3 Kβ2 I K-N3 Lβ2 L3-N5 Lγ4 L1-O3 Kβ2 II K-N2 Lβ3 L1-M3 Lγ4' L1-O2 Kβ3 K-M2 Lβ4 L1-M2 Lγ5 L2-N1 Kβ4 I K-N5 Lβ5 L3-O4,5 Lγ6 L2-O4 Kβ4 II K-N4 Lβ6 L3-N1 Lγ8 L2-O2 Kβ4x K-N4 Lβ7 L3-O1 Lγ8' L2-N6,7 Kβ5 I K-M5 Lβ7 L3-N6,7 Lη' L2-M1 Kβ5 II K-M4 Lβ9 L1-M5 L L3-M1 Lβ10 L1-M4 Ls L3-M3 Lβ15 L3-N4 Lt L3-M2 Lβ17 L2-M3 Lu L3-N6,7 Lv L2-N6(,7) XIII Curso de Fluorescência de Raios X maio de 2008 por Dra. Giuliana Ratti 12 3.5 Intensidade das linhas da radiação A voltagem a ser aplicada ao tubo de Raios-X, a fim de que os elétrons incidentes tenham energia suficiente para arrancar elétrons de uma dada camada ou sub-camada é conhecida como energia crítica de excitação ( ou potencial de excitação). A energia crítica de excitação aumenta com o número atômico mas diminui com camadas mais externas, de formas que o mesmo potencial pode provocar a emissão de uma linha Kα para um elemento leve e uma linha Lα para um elemento mais pesado, podendo-se então pensar em usar o espectro L em substituição ao K na análise de elementos de alto número atômico, cujos potenciais de excitação da camada K se situam acima da capacidade operacional dos instrumentos. A intensidade relativa das linhas espectrais varia com a voltagem e amperagem aplicada, o tipo de elemento e o tipo de emissão. Para cada série, ela varia de maneira sistemática com o número atômico, e algumas relações se mantém bastante estáveis: Razão α2/α1 é sempre de ½ (quando o duplete se separa) Razão Kβ2/Kβ1 pode variar de 1/3 a 1/10, dependendo do nº atômico Razão Lα1/Kα1 é próxima a 1/10 . As intensidades relativas β/α dependem do nº atômico: K β/α 1/25 para Al K β/α 1/5 para Cu K β/α 1/3 Sn L β/α 1/1 Pb Na série L, as linhas β de elementos muito pesados são mais intensas que na série K, assim a razão β/α ≅ ½ a 1. As intensidades relativas β/α podem ser vistas na figura 3, que é uma varredura obtida em equipamento EDS (dispersão de energia) e cuja abcissa mostra valores de keV crescentes. Num equipamento de Raios-X WDS (dispersão por λ) o espectro obtido seria a imagem de espelho desse, com λ ou 2θ crescendo na abcissa e keV decrescendo. Figura 3 - Intensidades Relativas dos picos α e β : FeK α/β =1/5 SnL α/β = 1/2 XIII Curso de Fluorescência de Raios X maio de 2008 por Dra. Giuliana Ratti 13 A intensidade relativa das linhas espectrais é função da alta voltagem aplicada ao tubo de RX e varia com o número atômico: para os elementos leves (portadores de comprimentos de onda longos) o mecanismo de espalhamento é quase negligenciável e a absorção responde por quase todo o processo. A variação da absorção, expressa como variação do coeficiente de absorção de massa, depende do comprimento de onda, mas não ocorre de maneira contínua, aparecendo descontinuidades físicas uma vez excedidos certos limites. Essas mudanças bruscas correspondem às bordas de absorção, e ocorrem em comprimentos de onda que correspondem à energia de ligação do elétron nas subcamadas. A figura abaixo mostra onde se situam as bordas de absorção, em função do comprimento de onda. Figura 4: Bordas de Absorção, em função do comprimento de onda. 3.5 Rendimento da radiação Nem todos os fotons que irradiam a amostra produzem fluorescência. Assim, o rendimento da radiação é a razão entre fotons fluorescentes emitidos e os incidentes. A figura 5 mostra o rendimento da radiação em função do número atômico para as linhas K e L, podendo-seentender porque é tão mais difícil analisar elementos leves. 0 20 40 60 80 100 0 20 40 60 80 100 Figura 5: Rendimento da radiação. K L XIII Curso de Fluorescência de Raios X maio de 2008 por Dra. Giuliana Ratti 14 3.6 Segurança Raios-X são perigosos e podem provocar sérios problemas. Trabalhar com equipamentos que produzem radiação danosa aos tecidos humanos é sempre preocupante, se os riscos não forem conhecidos. Nos locais onde radiografias são feitas, a eventual exposição do operador é mais fácil, e aventais de chumbo ou paredes de proteção são uma constante. Nos equipamentos de FRX, essa questão foi mais do que estudada e resolvida pelos fabricantes, a ponto de se ter poucas notícias de acidentes, ao longo de todos esses anos. E os que ocorreram, foram por imprudência do operador, que bypassou esquemas de segurança. Os equipamentos tem paredes metálicas que barram qualquer escape de radiação (os mais antigos tem revestimento de chumbo), são aterrados quanto à eletricidade, os circuitos de segurança são invioláveis e duplicados, e os operadores usam dosímetros (que nunca acusam níveis preocupantes). Mesmo assim, por questões de legislação trabalhista em nosso país, trabalhar com equipamentos de Raios-X (radiografias, difração, fluorescência ou microscopia) é enquadrado como insalubridade e aufere regalias salariais e aposentícias. O custo relativamente elevado da compra de um FRX traz embutida a questão da segurança para se lidar com radiação. Equipes muito bem treinadas pelos fabricantes fazem a instalação do equipamento, e o fazem somente se as condições do laboratório forem adequadas. Treinamento faz parte da instalação, e o usuário não só é instruído e auxiliado, como é acompanhado pelo fabricante e equipe do país, ao longo do tempo em que usa o equipamento. As amostras que já foram irradiadas normalmente apresentam diferenças em sua coloração. Isto não significa que se tornaram radiativas ou que apresentem algum perigo. A alteração da coloração deve-se à mesma propriedade que alguns minerais têm de mudar sua coloração após a exposição à radiação ultra-violeta, Raios-X e raios catódicos. Se a mudança de coloração só acontece durante a exposição, diz-se que os minerais são fluorescentes; se a cor persiste cessada a exposição, o fenômeno é denominado fosforescencia. Amostras de pós prensados, vidros e pastilhas fundidas apresentam essa mudança de coloração, e a perdem muito lentamente, ao longo de semanas. A alteração da cor ocorre porque, na irradiação de amostras, uma pequena parte da energia fornecida transforma-se em energia calorífica. A radiação fluorescente é levemente menos energética que a incidente, e contém, portanto, também λ maiores, já na região do ultravioleta, que são absorvidos pela amostra. Essa irradiação ultra-violeta ativa alguns elementos dos materiais, como metais de transição, mesmo se presentes a nível de traços. XIII Curso de Fluorescência de Raios X maio de 2008 por Dra. Giuliana Ratti 15 4 EQUIPAMENTOS O primeiro equipamento de Raios-X foi apresentado por Moseley, em 1912. Era um equipamento primitivo onde a própria amostra funcionava como alvo do tubo gerador. As altas temperaturas geradas impediam que substâncias voláteis ou de baixo ponto de fusão fossem analisadas. Os primeiros equipamentos comercialmente disponíveis datam do começo da década de 50, ainda sem vácuo, o que só permitia a análise de elementos de número atômico superior ao Ti (22). Praticamente todos os equipamentos, hoje em dia, possibilitam a análise do F em diante, e com cristais especiais pode-se descer até o Be. Na década de 60 surgiu o Fluoreto de Lítio como cristal analisador, e tubos de Cr e Rh, o que melhorou em muito a performance da técnica. 4.1 Tipos de espectrômetros Atualmente, existem muitos tipos de equipamentos, mas todos recaem em duas categorias: ou são espectrômetros por dispersão de comprimento de onda, ou por dispersão de energia. As principais diferenças entre as duas técnicas de Raios-X, WDS e EDS, estão embasadas na fonte de excitação, no número de elementos analisáveis, na velocidade de análise e no seu preço. Ambos os equipamentos, em princípio, podem analisar quase todos os elementos entre o Na e o U, podendo os mais novos captar elementos de número atômico menor que o do F, descendo até o Be. Ambos se beneficiam de microprocessadores e multicanais. A geometria dos espectrômetros visa obter a máxima resolução com a mínima perda de intensidade e melhor relação pico-background. A figura 6 mostra o tipo mais comum de geometria, em WDS e EDS. Figura 6 - Geometria dos espectrômetros de Raios-X (WDS e EDS). O FRX-WDS pode ser seqüencial (um elemento analisado de cada vez por um único sistema de detecção) ou simultâneo (vários canais presentes no sistema) . O FRX- EDS foi e é mais utilizado em quantômetros, microssondas e microscópios de varredura eletrônica, onde a análise qualitativa ou semi-quantitativa é mais importante do que a quantificação precisa, mas vem ganhando espaço como instrumento analítico independente. O custo dos dois equipamentos é bem diferente, pelos componentes embutidos e potencialidade da técnica, como será discutido a seguir. XIII Curso de Fluorescência de Raios X maio de 2008 por Dra. Giuliana Ratti 16 As principais características a serem computadas para escolha entre um ou outro podem assim ser explicitadas: - Para análises quantitativas onde velocidade é o ponto crucial, e onde o custo inicial pode ser justificado, WDS simultâneo é a resposta mais indicada. - Para análises quantitativas onde se quer ter maior flexibilidade e onde velocidade não é crítica, com moderado custo inicial justificável, WDS seqüencial é o equipamento ideal. - Quando o custo inicial é o fator preponderante, ou quando limites de detecção e exatidão podem ser menos rígidos (análises semi-quantitativas ou comparativas), EDS pode ser a melhor solução em custo/benefício. Os equipamentos EDS usam um detector “proporcional” onde a voltagem dos pulsos produzidos é proporcional à energia dos fótons, registrados como canais em um analisador multicanal (detector). O detetor comum é de estado sólido (Si dopado com Li), embora detectores Proporcionais (gás) ou cintilação também podem ser usados, mas tem baixa resolução. Comparada à WDS-XRF a resolução é melhor para elementos pesados (Ag/Sn/Sb...), igual para elementos médios (Fe/Mn/Cr...) e pior para elementos leves (Na/Mg/Al/Si...). O nível de detecção é baixo (a soma de todos os elementos não ultrapassa 20 000 c/s.), o que implica em limites de detecção altos para elementos leves. Além disso, podem necessitar de N2 líquido para manter a dopagem do cristal. Os espectrometros de FRX são compostos, basicamente, por um tubo que gera radiação X (já mencionado), cristais para difratar a radiação (só em WDS), e detetores para transformar em números a resposta do átomo à excitação. Os espectrômetros de Raios-X por WDS são um pouco mais complexos do que a representação esquemática apresentada na figura 4. Como a radiação é emitida pela amostra em todas as direções, entre a amostra e o cristal existe um colimador primário, para tornar o feixe paralelo. Entre o cristal e o detetor há um colimador secundário. O cristal difrata a radiação paralela e policromática emitida pela amostra. O detetor deve deslocar-se duas vezes mais do que o cristal, e a orientação espacial depende do fabricante do equipamento: a maioria tem rotação num plano vertical, enquanto alguns movem-se num plano horizontal. Após o detetor, existe um amplificador de sinal, seguido por um sistema seletor de pulso (high pulse selector) e um contador. Cada componente será discutido a seguir. 4.2 Tubos de raios-X Para os espectrômetros tradicionais(WDS), continua o sistema de geração de alta voltagem (40-100kV) e o tubo selado (alto vácuo) com potência de 0,2 a 4 kW. Os ânodos mais comuns são de Cr, Rh, W, Cu, Au e Mo, e emitem a radiação que atravessa a janela e excita a amostra, gerando radiação fluorescente. Os geradores de alta voltagem retificam o sinal de modo a emitirem corrente e voltagem estável ao filamento de W do tubo. A corrente aplicada emite elétrons em todas as direções, e uma parte é acelerada em direção ao ânodo, que é tipicamente um bloco de Cu resfriado por água, com material depositado ou cimentado em sua superfície (Rh, Cr, etc). Nos tubos de vidro, o espaço entre o bulbo de vidro e o invólucro metálico é preenchido com óleo, para disseminação do calor gerado. O processo de geração de Raios-X é muito ineficiente: aproximadamente 99% da energia aplicada transforma-se em calor, o que obriga a manter o tubo sob refrigeração XIII Curso de Fluorescência de Raios X maio de 2008 por Dra. Giuliana Ratti 17 constante, por circulação de água. Tubos geradores para EDS são menos potentes (0,5 a 1,0 kW), e não necessitam de refrigeração. A janela por onde os Raios-X deixam o tubo deve ser feita de um material que absorva o mínimo possível a radiação, e deve portanto ser muito fina, mas recebe alta carga de elétrons espalhados pelo ânodo, o que gera algumas centenas de ºC. Janelas de Berilo, com ~3mm de espessura tem sido usadas, por seu baixo número atômico e conseqüente baixa absorção. A ampola de vidro do tubo é revestida por uma camisa metálica recoberta por chumbo, não só para proteção do vidro como também para não haver vazamento de radiação. A figura 7 mostra o esquema de um tubo de Raios-X, com janela frontal. Figura 7 - Tubo de Raios-X com janela frontal. Em geral, a maioria dos comprimentos de onda longos do característico da amostra provém dos comprimentos de onda longos do tubo, enquanto os comprimentos de onda mais curtos da amostra são gerados pelo contínuo do tubo. Como a proporção relativa característico/contínuo do tubo decresce com o número atômico do alvo, a escolha do tubo poderia ser um problema, mas existe variedade. Muitos tipos de tubos estão sendo produzidos, alguns com duplo alvo, mas ainda é mais comum o tubo de um só material, geralmente Rh. A durabilidade de um tubo de vidro é, nominalmente, de 10.000 h, podendo chegar ao dobro (ou à metade) com as condições de estabilidade da fonte geradora de alta tensão, de temperatura e qualidade da água e voltagem normalmente utilizada. Existe sempre uma variação (drift) no sistema gerador-tubo, importante nos resultados analíticos. A tabela abaixo mostra drifts* e causas, em tubos de vidro: Forma de Drift Duração Magnitude (%) Causa Ultralong Meses 1 a 20 Desgaste do tubo Long Term Dias 0,2 a 0,5 Térmica. Variação do foco Short Term 30-120 min < 0,1 Estabilização dos circuitos Ultrashort 50-500mseg 0,1-10 Passageira (oscilação kV) * Manteve-se a nomenclatura em Inglês por serem termos clássicos em análise instrumental. O desgaste do tubo ocasiona depósitos de W dentro do tubo e de agentes contaminantes sobre o filamento, notadamente C, Fe e Cr. Em termos práticos, significa recalibrar periodicamente o equipamento. Long-term drift é tipicamente de 2 a 5 vezes o XIII Curso de Fluorescência de Raios X maio de 2008 por Dra. Giuliana Ratti 18 short-term, e estes desvios são perfeitamente toleráveis, desde que o trabalho seja feito após, no mínimo, 30 minutos de equipamento ligado e que o estabilizador de corrente seja eficiente, para evitar os erros de até 10% mencionados. Os estabilizadores de corrente normalmente utilizados em FRX são bastante estáveis, e o tempo de leitura para cada elemento normalmente é no mínimo de 20 segundos, dificilmente ocasionando erros tão altos. Os novos tubos que estão sendo comercializados (Fig.8) já não tem bulbo de vidro, são cerâmicos, sem óleo no interior, e mais potentes. São fabricados em série, apresentando durabilidade maior que antigamente, e por não terem bulbo de vidro suportam maior calor e tem formato atilado próximo à janela, o que permite maior proximidade com a amostra. O filamento é mais resistente, apresentando menor desgaste e depósitos. As janelas dos novos tubos também foram aprimoradas, dispondo-se de janelas de Be de 75, 125 e 150µ . Figura 8 - Novos tubos cerâmicos Os novos tubos não tem ainda durabilidade nominal estabelecida, mas prevê-se que alcancem facilmente 25.000 horas, desde que ligados 24h/d. Existem tubos no Brasil que já estão com 80.000 horas, funcionando perfeitamente. A tabela acima, que exemplifica formas e tempos de “drift” não se aplica aos novos tubos cerâmicos. A voltagem e amperagem a ser aplicada ao tubo de RX depende dos elementos que se quer dosar. Para elementos pesados (nº atômico maior que o Ti=22) obtêm-se melhor resposta com alta voltagem, enquanto que para elementos leves deve-se aplicar alta amperagem. Uma boa analogia para entender essa regra é pensar que o tubo de RX é como uma mangueira de jardim, que pode ser regulada para ter um jato longo e fino (alta voltagem) ou um amplo leque que cubra uma grande área (alta amperagem): para elementos pesados, com uma grande coroa eletrônica, um jato forte e fino atingirá seguramente alguns dos muitos elétrons da corôa eletônica, enquanto que para elementos leves, de poucos elétrons em órbita, um jato espalhado será mais eficiente para atingir os poucos elétrons disponíveis. 4.3 Filtros Existem vários tipos de filtros, alguns dos quais são escolhidos como acessórios dos equipamentos. Podem ser colocados entre o tubo e a amostra, com diferentes finalidades. Podem ser de chumbo, latão ou alumínio, de diferentes espessuras. XIII Curso de Fluorescência de Raios X maio de 2008 por Dra. Giuliana Ratti 19 Um filtro de chumbo é normalmente usado para absorver a radiação do tubo quando o equipamento está “stand by”, isto é, aguardando utilização ou entre uma análise e outra, com a finalidade de proteger a janela do tubo contra poeira. Em análises de elementos cujos picos de interesse encontram-se próximos aos do característico do tubo, os filtros conseguem remover em até 99% as linhas do característico, o que pode solucionar problemas como a dosagem de Ag e Cd em equipamentos com tubo de ródio: esses elementos têm overlap de RhKb e RhKa, respectivamente. A figura 9 mostra a remoção dos picos do tubo. Figura 9- Remoção das linhas do tubo Os filtros, é claro, atenuam as intensidades da radiação fluorescente, o que é útil na análise de elementos que em alta concentração saturariam os detetores. Outro uso interessante dos filtros é que, apesar de atenuarem a intensidade dos picos presentes, também atenuam o sinal do background, e o fazem diferencialmente, isto é, conseguem aumentar em aproximadamente 2 vezes a relação pico/Bg, muito importante para a análise de traços (reduzem altos Bg em matriz leve, diminuindo o LLD - limite inferior de dosagem). A tabela abaixo exemplifica essa questão: Sem filtro 0.75mm Al kcps Pico Background Pico/Bg kcps Pico Background Pico/Bg Zr 32.6 7.2 4.5 21.8 2.3 9.5 Sr 17.4 5.4 3.2 7.4 1.0 7.4 Rb 9.0 4.6 2.0 2.9 0.8 3.6 4.4 Colimadores Conhecendo-se os ângulos de reflexão e as intensidades da radiação secundária da amostra (fluorescente) é possível a identificação e quantificação dos elementos. Como a emissão da fluorescência da amostra é feita em todas as direções, torna-se necessário transformá-la em um feixe paralelo, para fazê-la incidir em um cristal analisador. Os colimadores tem esta função. São compostos por placas paralelas muito finas, igualmente XIII Curso de Fluorescência de Raios X maio de 2008 por Dra. Giuliana Ratti 20 espaçadas,de Ni ou Mo, conhecidas como Soller slits. Sua resolução é função do comprimento e da distância das placas. Para a região de λ longos (3-4 Å, correspondente a elementos leves) é preferível trabalhar com colimadores grosseiros, para não haver perda de intensidade, que já é baixa. Para elementos pesados, os colimadores finos são os mais adequados, pois proporcionam melhor separação dos picos. Os equipamentos sempre trazem, no mínimo, dois colimadores, um fino e outro grosso, para as diferentes regiões a serem analisadas. Os colimadores mais comuns são de 0.150 e 0.300 µ, para análises de U a K, 0.550 e 0.700µ , para Cl-F, e 4mm (O-Be) 4.5 Cristais analisadores A função dos cristais analisadores é difratar, segundo a lei de Bragg, a radiação fluorescente da amostra. Os cristais podem ser planos ou curvos, e a variedade disponível é grande. A seleção do cristal, para cada elemento a ser analisado, é função de λ, eficiência da reflexão, grau de dispersão e poder de resolução. O primeiro e mais usado cristal foi o LiF 200, um cristal de fluoreto de lítio de notação cristalográfica 200. A lei de Bragg é satisfeita quando 2dsenθθθθ = nλλλλ, isto é, quando os comprimentos de onda da radiação fluorescente, já colimada mas ainda policromática, mostram uma relação inteira entre os λ presentes com os planos de espaçamento do cristal (d) e com o ângulo de incidência e reflexão (2θ). O sistema de detecção move-se com o dobro da velocidade com que o cristal é deslocado, e a radiação fluorescente, ao chegar ao detetor, já desmenbrou os vários λ de cada elemento presente na amostra em diferentes ângulos onde eles podem ser registrados. A variedade de cristais disponíveis é ampla, o que por si só já sugere que a eficiência é restrita. Na difração da radiação, a dispersão angular ∆θ / ∆λ em um cristal com espaçamento 2d é dada por ∆ ∆ θ λ θ = n d2 cos Como pode-se perceber por esta equação, a dispersão angular será maior quando o espaçamento do cristal é pequeno, o que implica em uma faixa maior de espectro coberta por cada cristal, mas com baixa resolução entre os picos. A escolha do cristal a ser usado será função, primeiramente, do λ a ser detectado, o que implica em buscar a primeira ordem de resolução, por ser mais intensa. Muitas vezes, porém, a segunda ordem é procurada porque pode haver, na amostra estudada, elementos cuja segunda ordem interfere na região de interesse. Novos cristais estão sendo criados, não só para obter-se melhor resolução (como LiF 420), como também para detecção de elementos leves. Os novos cristais LSM (layered synthetic microstructure), comercialmente denominados PX, são fabricados por deposição de camadas alternadas de átomos ou moléculas de baixo e alto número atômico, como W/Si ou W/C. Os PX já permitem a análise de Be a F. Os principais cristais que estão sendo utilizados constam da tabela a seguir. Cristal Planos 2d (Å) Detecção LiF 420 (Fluoreto de Lítio 420 1,18 K > Ni (28) L > Hf (72) XIII Curso de Fluorescência de Raios X maio de 2008 por Dra. Giuliana Ratti 21 LiF 220 (Fluoreto de Lítio) 220 2,848 K > Ti (22) L> La (57) LiF 200 (Fluoreto de Lítio) 200 4,028 K > K (19) L> Cd (48) Ge 111 (Germânio) 111 6,532 K > P InSb 111 (Índio-Antimônio) 111 7,477 Especial para Si PET (Pentaeritritol) 002 8,742 de Al (13) a K (19) EDDT (Etileno diamino D-tartarato 020 8,808 K > Al (13) L> Br (35) ADP (Diidrogenofosfato de amônio) 110 10,642 K > Mg (12) L> As (33) TlAP (Hidrogenoftalato de tálio) 100 25,9 de F (9 ) a Na (11) PX -1 50 O, F, Na, Mg PX – 3, PX – 4 e PX-5 120 B, C e N PX - 6 200 Be a C 4.6 Detecção dos raios-X (radiação secundária) A forma mais simples de detectar Raios-X é através de chapas fotográficas, onde o haleto de prata é convertido em Ag metálica pela ação ionizante da radiação. A nível de radiografias, é a melhor forma de visualização, mas para fins analíticos, seria impreciso, caro e demorado. (A Espectrografia óptica e a difração de raios-X utilizaram chapas fotográficas durante muitos anos). Outros detetores foram então desenvolvidos. Os detetores captam a radiação fluorescente e conseguem distinguir diferentes radiações características pelas suas energias. Assim, em EDS o detetor capta todo o espectro simultaneamente, enquanto em WDS, o detetor capta as linhas características que foram separadas pelo cristal analisador. Em EDS, o detetor geralmente é o Si(Li), que deve estar sempre à temperatura do nitrogênio líquido para que o Li não seja removido. Os detetores de raios-X tem a função de converter a energia dos fótons emitidos pela amostra em pulsos elétricos. Os detetores trabalham com um processo de fotoionização onde a interação entre a energia dos fótons e o material do detetor produz certo número de elétrons. A corrente produzida é convertida em pulsos por um capacitor e um resistor, de forma que um pulso é produzido para cada fóton. Os detetores usados em WDS são o cintilador (scintillation counter) e o contador proporcional (Flowcounter or gas proportional detetor). O primeiro faz uso de um estágio duplo, iniciando com a conversão de parte dos Raios-X absorvidos em luz, através de um cristal de iodeto de sódio e fósforo ativado com tálio. Numa segunda fase, um tubo fotomultiplicador transforma essa energia em pulsos eletrônicos. A alta eficiência e extrema rapidez do cintilador são contrabalançadas por baixa resolução e ruído inerente à fotomultiplicadora, não sendo possível usar esse detetor para elementos de número atômico inferior a 20. A sigla usada é SC. O contador proporcional pode ser de dois tipos: selado e de fluxo (a sigla usada para esse tipo de detetor é FL). Como o nome sugere, o contador selado contém um volume fixo de gás, enquanto o de fluxo, por ter uma janela muito mais fina (1, 2 ou 6 µm), permite que o gás escape em poucos meses. Para contornar esse problema, um fluxo constante de gás é mantido durante o funcionamento do equipamento. O gás de preenchimento dos contadores proporcionais é um gás inerte, e quando um fóton entra no XIII Curso de Fluorescência de Raios X maio de 2008 por Dra. Giuliana Ratti 22 detetor e colide com o gás, um elétron pode ser deslocado e formar um par iônico; o número de pares gerados é proporcional à energia do fóton. Os pares eletrônicos são acelerados por uma ddp aplicada à mistura gasosa, em direção ao anodo, ocasionando novas colisões. Esse efeito de avalanche é denominado "gas amplification" e é moderado pela presença de um outro gás, como o metano. A colisão de elétrons com átomos causa a emissão de uma radiação ultravioleta, que é medida por uma pré-amplificadora, como nos detetores SC, mas como as perdas são menores nesse sistema, a resolução do FL é melhor do que a do SC. O argônio é o gás inerte mais comumente usado, na proporção 90%Ar-10%CH4. Comercialmente, esta mistura é conhecida como Argometa ou Mistura P-10. Outros gases nobres, como xenônio e criptônio, de custo muito mais elevado, porém de maior eficiência, são usados em contadores selados. A combinação de dois FL pode ser conseguida, pois os detetores podem ser colocado em série (na seqüência). A escolha do detetor a ser usado depende da região a ser investigada. O FL é ideal para medir λ maiores, o que significa números atômicos menores, ao contrário do SC, complementando-se os dois. A figura abaixo mostra a comparação do desempenho dos detetores SC e FL, em função do número atômico. Figura 10 - Desempenho dos detetores em função da região a ser estudada. 4.6.1 Seletor de altura de pulso e “Escape peak” Os pulsos produzidos pelos detetores são ainda muito pequenos para fins de processamento e devem ser amplificados. Isso é conseguido com um pré-amplificador, colocado próximo à saída do detetor, e com um amplificador que aumenta bastante o ganho.No seu todo, a amplitude final dos pulsos é fruto de três fatores: energia dos fótons de Raios-X incidentes, ganho do detetor e ganho do amplificador. Uma vez amplificados, os pulsos são enviados ao seletor de altura de pulsos (PHS, pulse height selection), que, além de rejeitar eletronicamente radiações indesejáveis provenientes de espalhamento ou reflexões de ordens superiores, possibilita sua quantificação, pois a base do PHS é a proporcionalidade entre a energia dos fótons e os pulsos. XIII Curso de Fluorescência de Raios X maio de 2008 por Dra. Giuliana Ratti 23 A altura dos pulsos de um mesmo elemento não é exatamente a mesma para todos, mas gira em torno de um valor médio. A distribuição dos pulsos é uma curva gaussiana, que pode ser plotada para controle da estabilidade e resolução do detetor do equipamento. A figura 11 é uma boa visualização do PHS e PHD (Pulse Height Distribution). Figura 11 - Esquema de trabalho do seletor de altura de pulsos. Na visualização da distribuição de pulsos (figura 12), pode-se aumentar ou diminuir o tamanho da “janela” de forma a incluir ou não o “escape pick”. Essas contagens são devidas à alta energia dos fótons incidentes, ionizando o gás e produzindo uma linha alfa do gás do detetor (Ar). Figura 12 - Pico natural e escape. XIII Curso de Fluorescência de Raios X maio de 2008 por Dra. Giuliana Ratti 24 4.6.2 Correções eletrônicas Existem ainda dois outros circuitos eletrônicos para correções do sinal obtido, que pode sofrer distorções: a) nos contadores proporcionais (FL) existe uma saturação em íons positivos próximo ao ânodo, para altas intensidades (altos teores), resultando em alturas de pulsos menores do que as esperadas. Um circuito eletrônico corrige esse desvio, pela comparação entre os lados de duas janelas que registram os valores acima e abaixo da média e ajustando o ganho. b) em todos os detetores e circuitos eletrônicos existe um curtíssimo período de tempo requerido entre a captação de um pulso e outro, denominado "Dead Time", importante para altas intensidades. Durante este tempo, os pulsos que chegam são perdidos, resultando em respostas menores do que as esperadas. A correção é feita por um ajuste que compensa a perda ou por alteração de condições instrumentais para diminuição da intensidade do sinal. 4.6.3 Contagens (count rate) Os pulsos obtidos, amplificados, corrigidos e medidos podem ser expressos de forma analógica ou digital, isto é, podem ser enviados a um registrador gráfico (ratemeter) ou a um scaler, que integram o número de pulsos por uma unidade de tempo (cps ou kcps, contagens por segundo). O ratemeter é tipicamente usado para análises qualitativas. O registrador gráfico plota cps versus 2θ, enquanto o goniômetro se desloca para coleta de dados, resultando em uma linha contínua de background e picos dos elementos contidos na amostra. O scaler registra numericamente a quantidade de cps em uma unidade de tempo pré- determinada pelo operador (10 segundos, por exemplo), enquanto o goniômetro está parado em determinado ângulo para captar o sinal de um determinado elemento. Alguns equipamentos registram as contagens acumuladas na unidade de tempo pré- estabelecido, outros trabalham com a média das contagens por segundo. Nos equipamentos mais antigos, existia um registrador gráfico (com pena de tinta) e um dispositivo que imprimia as contagens em uma tira de papel. Hoje em dia, os computadores tanto controlam a operação do equipamento como o manuseio dos gráficos e números, possibilitando correções matemáticas complexas e múltiplas, sobreposição de varreduras, calibrações instrumentais e recalibrações simples e rápidas. 4.7 Resolução instrumental A resolução instrumental dos equipamentos de FRX melhorou ao longo dos anos, graças a novos cristais e melhorias em colimadores e detetores. Os cristais LiF são um bom exemplo: o LiF 220 perde 30% de sensibilidade em relação ao LiF 200, mas melhora a resolução contornando a superposição das linhas Kβ com Kα para muitos elementos (Fe e Mn, Mn e Cr, Cr e V, V e Ti...) XIII Curso de Fluorescência de Raios X maio de 2008 por Dra. Giuliana Ratti 25 4.8 Resumo das condições instrumentais a serem escolhidas (Dependendo dos acessórios disponíveis, a terceira coluna pode ser ignorada) Elementos pesados Elementos leves Elem. Intermediários Faixa aproximada U (92) a Ti (22) Ti (22) a Be (4) Fe (26) a K (19) Energia de excitação Alta voltagem Alta Amperagem kV e mA médios Cristal d pequeno LiF 220 (2,8Å) ou LiF 200 (4Å) d grande Ge (6,5Å) PE (8,7Å) TLAP (25,9Å) série PX (50 a 200Å) d médio LiF 200 (4Å) Ge (6,5Å) Colimador Fino Largo Médio Detetor Cintilação (Scintilation) Fluxo (Flow) Duplo (SC+FL) Linhas Kα e Kβ até o Cs (55) ou La (57) até o Mg (12) só Kα preferir linhas Kα Linhas Lα e Lβ a partir das terras raras não existem preferir linhas Kα e Kβ Os softwares dos equipamentos da década de 90 oferecem as condições ideais para cada novo canal (elemento) criado nos programas analíticos. Relembrando: Na irradiação das amostras, a resposta obtida será composta pelo contínuo (Background) e pelas linhas características dos elementos presentes. O característico (as linhas características) das amostras depende de: - concentração dos elementos presentes na amostra - composição global da amostra (efeito matriz) - rendimento da radiação fluorescente quanto às linhas K, L, M do elemento analisado - ânodo e condições do tubo usadas (kV e mA) - parâmetros do equipamento como filtros, cristais, colimadores, detetores - diâmetro e espessura da camada analisada - distância tubo-amostra O contínuo das amostras depende de: - “média” de composição da amostra (matriz) - ânodo e condições do tubo usadas (kV e mA) XIII Curso de Fluorescência de Raios X maio de 2008 por Dra. Giuliana Ratti 26 5 PREPARAÇÃO DE AMOSTRAS 5.1 Representatividade de amostras Quando a análise química do material enviado ao laboratório não corresponde ao esperado, quando o rendimento de uma operação de concentração de um bem mineral não é igual ao calculado, quando o produto de uma flotação está abaixo das expectativas, ou quando o rejeito está mais alto do que deveria, o que está "obviamente" errado é SEMPRE a análise química... Devido a todas as dificuldades inerentes à química analítica, existem possibilidades da análise química estar realmente errada, mas muitas vezes as diferenças estão ligadas às flutuações de processo, flutuações da qualidade da alimentação, ou à ocorrência de algum fator inesperado, como presença de algum componente (interferente) ainda não detectado, ineficiência de algum equipamento por desgaste, ou mesmo inabilidade do operador. Mas o mal maior, e muito frequente, é o de amostras não representativas, com as quais o analista nada tem a ver. Ao se falar em preparação de amostras, assume-se que: - a amostra que chega ao laboratório é representativa do todo de que foi retirada; - a pequena alíquota a que é reduzida é representativa da amostra primária; - o espécime que será submetido ao FRX é representativo da alíquota reduzida; - o volume analisado é representativo de todo o espécime preparado. Para que a amostragem tenha um significado, duas questões devem ser consideradas: qual o propósito da análise? O quanto a amostra deve ser representativa? A primeira pergunta se refere às características da amostragem. A resposta à segunda pergunta começa com o analista perguntando ao cliente se tratam-se de análises qualitativas ou quantitativas. Se a análise será quantitativa então deve-se saber o nível de precisão e exatidão requeridos. As necessidades do cliente e do analistadevem ser entendidas por ambos e avaliadas pelo analista, podendo levar à recusa pelo trabalho, se este não puder ser realizado de modo adequado. O cliente deve compreender que a heterogeneidade tem um impacto significativo nos resultados analíticos e portanto uma metodologia de amostragem deve ser elaborada se o objetivo é obter pequenos erros analíticos. Amostras sólidas podem ser bastante heterogêneas e de difícil homogeneização. Amostras de material geológico são, normalmente, as mais difíceis quanto à representatividade. As amostras geológicas podem ser de rochas, de sedimentos de corrente, de concentrados de batéia ou produtos de separações minerais. Podem ter passado por uma britagem, moagem, ou secagem, apresentando-se com vários quilos ou algumas gramas. Os erros de preparação mais comuns acontecem por perdas ou contaminação nos vários estágios de preparação e estocagem; moagem e peneiramento, oxidação e redução, hidratação e desidratação também contribuem, além da possibilidade de sabotagem ou erros não intencionais. O primeiro estágio da amostragem secundária é a redução da massa das amostras, através de britagem, moagem e quarteamento. Técnicas de quarteamento por pilhas ou por quarteadores em X (Jones) são as mais indicadas para redução da massa, e tanto podem ter sido feitas antes da remessa da amostra ao laboratório, como podem ser executadas pelo laboratório para gerar a XIII Curso de Fluorescência de Raios X maio de 2008 por Dra. Giuliana Ratti 27 massa de poucas gramas que irá ao FRX. O momento em que o quarteamento ocorre é função também da granulometria: o procedimento normal é alternar redução de granulometria e redução de massa, de forma a não perder a representatividade. De um testemunho de sondagem pesando, digamos, 10 kg não se pode efetuar uma britagem e retirar 100g; há que se obter uma alíquota de um a dois quilos, por quarteamento, reduzir novamente a granulometria em moinho de disco ou de bolas, e quartear a alíquota de 100g da qual serão retiradas as 10g que irão ao FRX, após moagem. Amostras metalúrgicas tem preparação mais fácil no laboratório, pois as dificuldades de amostragem de grandes peças ou de corridas de fusões em grandes fornos não são problemas do analista. As amostras são normalmente enviadas ao laboratório em peças de pequeno tamanho, que deverão ou não ser cortadas e lixadas, para comparação com padrões. Mesmo assim, o analista deve estar atento para que a preparação dentro do laboratório não altere a representatividade do material. Materiais ferrosos podem ser simplesmente lixados, enquanto os não-ferrosos requerem maiores cuidados: não podem ser lixados para que não sejam arrancados grão da liga, e o material da lixa não pode contaminar a amostra. Nestes casos, usam-se tornos ou retíficas à base de pasta de diamante, para que a superfície seja faceada sem arranque ou deposição de partículas. Amostras de material cerâmico e indústria vidreira normalmente são levadas ao FRX como amostras "tal qual", sofrendo, no máximo, um polimento, pois sua superfície normalmente já é conveniente à análise por confrontação com padrões. Quando a granulometria ou a composição é heterogênea, devem ser moídas e fundidas, o que assegura a homogeneidade. 5.2 Preparação de amostras para FRX 5.2.1 Possíveis contaminações na preparação de amostras As amostras a serem submetidas ao FRX não ultrapassam uma dezena de gramas, podendo ser de apenas meio grama. Dependendo da heterogeneidade da amostra, moagens e quarteamento podem torna-las suficientemente homogêneas, mas cuidados devem ser tomados para não contaminar as amostras com elementos provenientes dos equipamentos de redução granulométrica. E estar atento à eventual reatividade das amostras durante estocagens. Britadores e moinhos são feitos de ligas metálicas, grais e pistilos podem ser de porcelana ou ágata. A compilação abaixo mostra as principais contaminações que podem ocorrer: Meios de cominuição Contaminantes Potenciais Peças de aços e ferro Fe, Co, Cr, Cu, Mo, Mn, Ni, V Reflexão: "An analysis is no better than the sample that it represents" ( Johnson and Maxwell, em Rock and Mineral Analysis, 1981, vol 27 da série Chemical Analysis). XIII Curso de Fluorescência de Raios X maio de 2008 por Dra. Giuliana Ratti 28 Peças em cerâmica Al, Cu, Fe, Ga, Li, Ti, B, Co, Mn, Zn, Zr Carbeto de Tungstênio W, Co, Ti Lubrificantes Mo Embalagens Polietileno Ti, Ba, Zn, Cd Polipropileno Ti PVC Ti, Zn, Na, Cd Papel pardo Si Borracha Zn 5.2.2 Redução da granulação e da massa das amostras A redução da granulação pode ser resumida em etapas de: a) britagem – materiais com granulação maior que ¼” ou 6,3mm; b) moagem – materiais com granulação menor que ¼” ou 6,3mm; pode-se utilizar moinhos de rolos, de martelo ou de bolas (carga de bolas de ferro, porcelana ou seixos, a seco ou a úmido); c) pulverização – materiais com granulação menor que 0,1mm; realizada através de moinhos de discos, de bolas – planetários e vibratórios, oscilantes (panelas) e almofarizes (mecânico e manual). O moinho mais usado é o oscilatório (disk mill), capaz de reduzir a granulação abaixo de 325 mesh (45µm) em poucos minutos, mas são fonte de contaminação de Fe, Mn, Co, Cr ou W, Co e Ti. A redução da massa ocorre em várias etapas entre os processos de redução da granulação. O método de quarteamento através de uma pilha cônica é o mais antigo, sendo atrativo pela larga faixa de granulação que pode atender, embora não seja o melhor. Consiste na deposição do material sobre uma superfície limpa, de modo que os grão mais grossos vão se concentrar de modo uniforme na periferia do cone e os finos no centro. A divisão em quatro setores iguais deve ser feita sem gerar o erro de delimitação. Uma maneira de garantir isto é não permitir que as partes quarteadas tenham contato. As partes exatamente opostas são removidas formando uma alíquota e as outras duas partes, uma segunda alíquota. Outro método comum é o quarteamento através de uma pilha alongada. Após distribuído o material homogenenamente, as extremidades são retiradas e redistribuídas sobre a pilha. A alíquota final é retirada do centro da pilha. Os requisitos básicos são: a pilha deve ser 25 vezes mais longa do que a largura da pá, os lados da pá devem ser verticais e esta deve suportar todo material a ser retirado, garantindo evitar o erro de delimitação. É interessante para amostras de pequena quantidade em laboratório. O quarteador Jones é uma das melhores e mais simples ferramentas de quarteamento. Trata-se de uma caixa contendo um número ímpar de canaletas dispostas de modo alternado para cada lado da caixa. As superfícies devem ser lisas e as arestas arredondadas. A granulação do material deve ser tal que toda a amostra passa entre as canaletas sem dificuldades, quando o material é distribuído uniformemente ao longo do XIII Curso de Fluorescência de Raios X maio de 2008 por Dra. Giuliana Ratti 29 eixo da caixa. Quarteadores centrífugos permitem a separação do material em várias pequenas alíquotas. Consistem em um alimentador no qual a amostra é colocada lentamente e uma série de funis que giram ao longo do eixo de revolução. Cada passo da amostragem afeta a etapa seguinte, portanto a amostragem deve ser vista como um processo contínuo. Se a amostragem não é representativa em proporção a importância de um projeto, então trabalhos analíticos de alta qualidade não fazem sentido. Cada passo está materialmente vinculado a todos os outros passos, de forma que um projeto analítico é materializado. Um planejamento completo da amostragem deve ser feito desde o campo até o laboratório. 5.3 Apresentação de espécimes ao FRX Embora amostras líquidas e gasosas possam ser analisadas,
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