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ressocialização de apenados do PRP

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE PELOTAS 
FACULDADE DE DIREITO 
PROJETO DE PESQUISA EMPÍRICA EM DIREITO: ARTE, CULTURAS E 
DEMOCRATIZAÇÃO DO CONHECIMENTO JURÍDICO 
 
 
 
 
 
 
GABRIEL ARBES SILVEIRA 
GABRIEL JULIANI LOPES 
GIORDANO MOROCINI 
ISMAEL LOPES DE SOUZA 
JUAN SAMPAIO NEITZKE 
ROGÉRIO LUIZ MENEGAZ RODRIGUES 
 
 
 
 
 
DIÁRIO DE UM DETENTO E LEI DE EXECUÇÃO PENAL: UMA 
ANÁLISE ACERCA DAS POLÍTICAS PÚBLICAS DE REINSERÇÃO 
DOS APENADOS ORIUNDOS DO PRESÍDIO REGIONAL DE 
PELOTAS 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Pelotas – RS 
2019 
 
GABRIEL ARBES SILVEIRA 
GABRIEL JULIANI LOPES 
GIORDANO MOROCINI 
ISMAEL LOPES DE SOUZA 
JUAN SAMPAIO NEITZKE 
ROGÉRIO LUIZ MENEGAZ RODRIGUES 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
DIÁRIO DE UM DETENTO E LEI DE EXECUÇÃO PENAL: UMA 
ANÁLISE ACERCA DAS POLÍTICAS PÚBLICAS DE REINSERÇÃO 
DOS APENADOS ORIUNDOS DO PRESÍDIO REGIONAL DE 
PELOTAS 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
O presente trabalho é parte fundamental para a 
aprovação na disciplina de Introdução ao 
Direito da Faculdade de Direito da 
Universidade Federal de Pelotas. 
Prof. Orientadora: Amanda Löwenhaupt. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Pelotas – RS 
2019 
 
RESUMO 
 
Esta pesquisa faz parte do Projeto “Pesquisa Empírica em Direito: Arte, Culturas e 
Democratização do Conhecimento Jurídico”, onde investiga-se, empiricamente, 
temas envolvendo Direito e arte (lato sensu), relacionando-se a canção “O Diário de 
um Detento” (1997), legislação penal e, em especial, as políticas públicas de 
reinserção de ex-apenados do Presídio Regional de Pelotas, no Rio Grande do Sul, 
dando-se atenção para a investigação junto aos agentes atuantes da questão 
carcerária do município. 
 
Palavras-chave: Direito Penal, sistema carcerário e ressocialização de 
ex-apenados. 
 
 
 
ABSTRACT 
 
This research is part of the Project “Empirical Research in Law: Art, Cultures and 
Democratization of Legal Knowledge”, which investigates, empirically, themes 
involving law and art (lato sensu), relating the song “O Diário de um Detento” (1997), 
criminal legislation and, in particular, the public policies for the reintegration of 
ex-convicts of the Pelotas Regional Prison, in Rio Grande do Sul, paying attention to 
the investigation with the acting agents of the municipal prison issue. 
 
Keywords​: Criminal Law, prison system and resocialization of ex-convicts. 
 
 
 
 
 
 
 
 
SUMÁRIO 
 
 INTRODUÇÃO 4 
1 ARTE E DEMOCRATIZAÇÃO DO CONHECIMENTO JURÍDICO 7 
1.1 Conexões entre Direito e Arte 7 
1.2 Conexão entre a obra e o Direito 8 
2 ETAPAS DO PROCESSO PENAL BRASILEIRO 13 
2.1 O Processo Penal de acordo com a Legislação Brasileira 14 
2.2 Crítica à dificuldade da aplicação do Processo Penal com vista o 
previsto em lei 
18 
3 DEFINIÇÃO DOUTRINÁRIA DE POLÍTICAS PÚBLICAS DE 
REINTEGRAÇÃO SOCIAL 
22 
4 ANÁLISE ACERCA DAS POLÍTICAS PÚBLICAS DE REINSERÇÃO 
SOCIAL APLICADAS NO PRESÍDIO REGIONAL DE PELOTAS EM 
COMPARAÇÃO COM A LEI DE EXECUÇÃO PENAL 
28 
4.1 A concepção da Lei de Execução Penal com vistas à Reinserção 
Social e sua (não) efetivação por completo 
28 
4.2 A Lei de Execução Penal na Realidade do Presídio Regional de 
Pelotas 
35 
 CONCLUSÃO……………………………………………………………... 42 
 REFERÊNCIAS……………………………………………………………. 43 
 ANEXOS………………………………………………………………….... 47 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
4 
INTRODUÇÃO 
 
Esta pesquisa teve início a partir de uma proposta de avaliação feita ao 1º 
ano do curso de Direito da Universidade Federal de Pelotas – UFPEL, na disciplina 
de “Introdução ao estudo do Direito”, ministrada pela Prof. Dr. Ana Clara Corrêa 
Henning, em 2019. A turma foi separada em grupos e foi-lhes indicado que 
escolhessem uma obra de arte e, a partir dela, elaborada uma questão de interesse 
do mundo jurídico. Esta questão serviu de base para a construção de um projeto de 
pesquisa empírica do qual resulta este texto. 
A proposta da Prof. Ana Clara surge de um desdobramento de seu projeto 
de pesquisa “Inventar: arte e construção do conhecimento jurídico”, que visa o 
estabelecimento de relações entre o Direito e a Arte como forma de reflexão a 
respeito das relações de poder e saber que atravessam o mundo jurídico 
contemporâneo. A relação entre estas áreas do conhecimento aparentemente 
distantes pode se manifestar de muitas maneiras. Questões jurídicas podem ser 
sugeridas ou evidenciadas pela arte e a arte pode suscitar novas formas de pensar o 
Direito. Este tipo de intersecção é fruto da ascensão de formas de estudos 
integrados, pautados pela interdisciplinaridade, que estimulam uma abordagem 
complexa entre áreas socioculturais do conhecimento. A importância deste tipo de 
abordagem vem da riqueza do que é originado nas fronteiras dos campos dos 
saberes, onde o choque entre diferentes concepções e ​habitus provocam novas 
questões. 
Conforme já colocado, o trabalho é de pesquisa empírica, cruzando os 
conhecimentos teóricos pertinentes com os dados coletados em campo. Desta 
forma, os alunos são colocados em contato com as questões que o Direito tenta 
regular na vida prática das pessoas, em oposição a um conhecimento 
predominantemente teórico. Segundo Paulo Eduardo Alves da Silva e Alexandre dos 
Santos Cunha, “[a] pesquisa em direito no Brasil especializou-se na norma como 
dever ser, deixando um pouco de lado o conhecimento da norma como ser, como 
ela acontece na realidade” (SILVA e CUNHA, 2011, p.11). Assim sendo, a proposta 
de trabalho da Prof. Ana Clara traz como virtude o fomento à construção de 
conhecimento jurídico mais próximo da realidade e distante das conveniências do 
5 
gabinete, preenchendo lacunas do campo e estimulando a formação de novos 
pesquisadores. Sobre a pesquisa empírica no campo jurídico, Igreja afirma: 
Podemos afirmar que a análise do Direito como objeto de uma pesquisa 
empírica é algo recente e ainda muito pouco consolidada na formação 
acadêmica das faculdades de Direito. De fato, o que observamos em nossa 
cotidianidade é a transmissão da ideia de um Direito formalista, positivista, 
dogmático, distante do universo da pesquisa empírica. (IGREJA, 2017, p.11) 
Este trabalho, mediante a justaposição entre arte e direito desenvolvida a 
partir do ​Rap “O Diário de um Detento” (1997), dos Racionais Mc’s, tem como 
escopo abordar a temática carcerária no que diz respeito às políticas públicas de 
ressocialização de apenados e ex-apenados através da análise de dados empíricos 
coletados em entrevistas realizadas junto aos agentes atuantes neste campo e nos 
órgãos que compõem a estrutura prisional municipal, assim como, pela investigação 
na legislação, jurisprudência e doutrina pertinentes. 
Quanto aos aspectos metodológicos utilizados na pesquisa, o método 
dedutivo mostrou-se mais apropriado aos fins da pesquisa. Tal método 
caracteriza-se por partir de um assunto mais amplo e ir aprofundando-o para um 
assunto mais específico. “Por intermédio de uma cadeia de raciocínio em ordem 
descendente, de análise do geral para o particular, chega a uma conclusão.” 
(PRONADOV , 2013 , p. 27). 
O trabalho se deu grande parte em cima de pesquisa bibliográfica de autores 
do campo das ciências sociais e jurídicas. Segundo Pronadov, este tipo de pesquisa 
se caracteriza por: 
Quando elaborada a partir de material já publicado, constituído 
principalmente de: livros,revistas, publicações em periódicos e artigos 
científicos, jornais, boletins, monografias, dissertações, teses, material 
cartográfico, internet, com o objetivo de colocar o pesquisador em contato 
direto com todo material já escrito sobre o assunto da 
pesquisa.(PRONADOV , 2013 , p.54) 
Além da pesquisa bibliográfica, apresentaremos também pesquisa 
qualitativa e quantitativa. Na pesquisa qualitativa, através de um roteiro semi 
estruturado de cinco perguntas, entrevistamos operadores que atuam no sistema 
prisional pelotense. Desse modo, buscamos uma visão mais densa e profunda 
sobre a reintegração social, a partir do olhar de quem lida com o problema na 
prática. Segundo Gerhardt e Souza, “A pesquisa qualitativa não se preocupa com 
representatividade numérica, mas, sim, com o aprofundamento da compreensão de 
6 
um grupo social, de uma organização, etc. (GERHARDT, SILVEIRA, 2009 , p.31). 
Sobre a aplicação deste tipo de método no campo jurídico, Igreja aponta que 
recentemente: 
“[...]a pesquisa qualitativa sai do âmbito meramente acadêmico e desperta o 
interesse dos que pensam e elaboram políticas públicas, daqueles que 
buscam as pesquisas voltadas para o estudo dos problemas sociais e das 
instituições voltadas para a busca de suas soluções. (IGREJA, 2017, p.16) 
Na pesquisa quantitativa buscou-se grau de conhecimento da população 
pelotense do assunto reintegração social, assim como seu posicionamento frente as 
mesmas. Sobre esse modelo de pesquisa, Fonseca defende que: 
Diferentemente da pesquisa qualitativa, os resultados da pesquisa 
quantitativa podem ser quantificados. Como as amostras geralmente são 
grandes e consideradas representativas da população, os resultados são 
tomados como se constituíssem um retrato real de toda a população alvo da 
pesquisa. A pesquisa quantitativa se centra na objetividade. Influenciada 
pelo positivismo, considera que a realidade só pode ser compreendida com 
base na análise de dados brutos, recolhidos com o auxílio de instrumentos 
padronizados e neutros. A pesquisa quantitativa recorre à linguagem 
matemática para descrever as causas de um fenômeno, as relações entre 
variáveis, etc. A utilização conjunta da pesquisa qualitativa e quantitativa 
permite recolher mais informações do que se poderia conseguir 
isoladamente. (FONSECA, 2002, p. 20). 
Para tanto, através de programas de cálculo de amostragem de pesquisas 
quantitativas e baseando-se na população pelotense estimada pelo IBGE em 2019 – 
342.405 habitantes – aplicamos 230 questionários. Foi considerado um grau de 
confiança de 90% e uma margem de erro de 5,41% para mais ou para menos. O 
questionário foi construído com 18 perguntas de respostas objetivas, com opções de 
resposta: sim, não e não sei opinar. 
A busca da pesquisa, em termos de abrangência e representatividade, foi a 
de relacionar tanto os agentes que atuam no campo carcerário pelotense, quanto as 
pessoas diretamente atingidas pelas escolhas feitas em termos de políticas públicas 
na questão prisional. O uso de entrevistas qualitativos em combinação com 
questionários quantitativos pode traçar um um cenário que se aproxima mais da 
realidade, conforme afirma Igreja: 
O método qualitativo pode ser de fundamental importância para auxiliar à 
pesquisa quantitativa na definição de suas categorias e na elaboração de 
seus questionários e suas variáveis. Muitas vezes, as categorias usadas 
estão distantes da compreensão dos sujeitos do estudo. Uma pesquisa 
exploratória qualitativa antes da elaboração de uma pesquisa de maior 
amplitude quantitativa pode auxiliar nesse processo de compreensão do 
fenômeno a ser estudado. Além disso, desenvolvida de maneira conjunta à 
pesquisa quantitativa, pode contribuir para a explicação de acontecimentos 
que surgem nas coletas de dados quantitativos e que parecem se desviar 
7 
do previsto e para ilustrar com estudos de casos fenômenos que acontecem 
de maneira global ou mesmo exceções que podem ser observadas. 
(IGREJA, 2017, p.17) 
 
 
 
1. ARTE E DEMOCRATIZAÇÃO DO CONHECIMENTO JURÍDICO 
 
1.1 Conexões entre Direito e Arte 
Não cabe a este trabalho a difícil tarefa de definir o que é arte, campo de 
conhecimento e de produção cultural humana que explora, também, seus próprios 
pressupostos. Esta definição já demanda esforço suficiente para os pesquisadores 
da área e exigiria um desvio das reais intenções deste trabalho. O historiador da arte 
Jorge Coli, em seu livro “ O que é arte? ”, afirma: 
Dizer o que seja a arte é coisa difícil. Um sem-número de tratados de 
estética debruçou-se sobre o problema, procurando situá-lo, procurando 
definir o conceito. Mas, se buscamos resposta clara e definitiva, 
decepcionamo-nos: elas são divergentes, contraditórias, além de 
frequentemente se pretenderem exclusivas, propondo-se como solução 
única. (COLI, 1981, p. 7) 
A arte, como artefato cultural produzido pelo homem em determinado 
contexto, pode vir carregado de múltiplas proposições, instigar um olhar crítico ou 
mesmo servir como instrumento sensibilizador deste olhar sobre algum aspecto da 
realidade concreta. Essa propriedade do campo artístico de provocar o expectador a 
olhar o mundo de maneira diversa, torna a arte um instrumento que pode enriquecer 
a percepção para com os diferentes fatos sociais. Apesar desses méritos, são 
escassos os estudos que cruzam Direito e arte, e os que existem são 
predominantemente voltados à literatura. 
 
 
 
 
 
 
8 
1.2 Conexão da obra com o Direito 
O Brasil e a América Latina, de maneira geral, possuem uma forte tradição 
musical voltada para a canção, influenciados da colonização portuguesa, espanhola 
e francesa. Em nosso país, misturou-se, primeiramente, com os ritmos de nossos 
povos originários e dos escravos negros trazidos da África e, posteriormente, digeriu 
de forma antropofágica as influências advindas do resto do mundo, principalmente 
as norte-americanas. Essa forma musical antiga – de origem incerta, mas popular 
pelo menos desde os trovadores medievais – é, geralmente, uma composição que 
carrega um texto entoado de maneira melódica pela voz humana, podendo ou não 
ser acompanhado por uma base de instrumentos harmônicos e/ou rítmicos e é muito 
mais ligada às práticas populares que ao universo da música erudita, apesar de não 
ser uma exclusividade. Essa essência proporciona à canção possibilidades 
narrativas muito mais diretas que as formas instrumentais e, tradicionalmente, foi 
veículo para a propagação de mitos e histórias reais. 
No Brasil do século XX e XXI, a canção popular tornou-se, principalmente a 
partir do samba e da bossa-nova, uma importante ferramenta para o debate 
intelectual e, o compositor moderno tornou-se um crítico de todos os aspectos da 
vida, do político ao cultural. Naves, ao comentar o papel desempenhado pelo artista 
moderno e, por extensão, pelo compositor moderno, afirma: 
Internamente, à maneira do artista moderno, o compositor passou a atuar 
como crítico no próprio processo de composição; externamente, a crítica se 
dirigiu às questões culturais e políticas do país, fazendo com que oscompositores articulassem arte e vida. O compositor popular passou a 
operar criticamente no processo de composição, fazendo uso da 
metalinguagem, da intertextualidade e de outros procedimentos que 
remetem a diversas formas de citação, como a paródia e o pastiche. E ao 
estender a atitude crítica para além dos aspectos formais da canção, o 
compositor popular tornou-se um pensador da cultura. (NAVES, 2010, p. 20) 
Nesse papel de crítico da vida social, política e cultural do país, o compositor 
repercutiu os diferentes contextos perpassados no século XX. É interessante 
observar que as canções, no Brasil, foram moldadas segundo o contexto de sua 
produção, tanto na forma quanto no conteúdo. Sobre esta relação entre a obra e o 
contexto social em que é produzida, o filósofo Celso Favaretto pontua: 
[...] arte hoje pode ser muitas coisas [..] não há um conceito de arte fechado. 
A arte é aquilo que você encontra como arte. O que quer dizer isso? A arte 
não pode ser avaliada sem considerar o lugar em que foi produzida, ou seja, 
em seu contexto (FAVARETTO, 2013, p.38). 
9 
O samba dos anos 1920 e 1930, de modo geral, surge como um gênero que 
intenciona criar uma identidade nacional, estimulado pelo governo Vargas, e parte 
da produção desta época resulta em textos de caráter ufanista. A bossa-nova 
apresentou uma versão “sofisticada” do samba, influenciada pela harmonia do jazz 
norte-americano e letras que falavam sobre a vida urbana no Rio de Janeiro, 
refletindo o otimismo com o crescimento econômico dos anos dourados do governo 
de Juscelino Kubitschek. As canções de protesto do fim dos anos 1960 e o 
surgimento da MPB na década seguinte repercutiam um ambiente político muito 
mais complicado, já que o país se encontrava submetido a um governo militar 
autoritário que cassou direitos políticos e fechou o congresso. O Rock brasileiro dos 
anos de 1980 transparece a alegria com a abertura democrática do país ao mesmo 
tempo em que expõe efeitos da globalização e da americanização da música popular 
brasileira. 
Essa simplificação dos diferentes momentos políticos e culturais do país 
certamente não dão conta da complexidade dos acontecimentos e nem de todas as 
manifestações musicais do período, mas indicam o diálogo que os compositores 
brasileiros do século XX estabeleceram com o ambiente sociocultural ao qual são 
contemporâneos. Partindo desta premissa, cabe a este trabalho um olhar especial 
ao ​Rap produzido no Brasil a partir do fim da década de 1980. O gênero musical é 
originário da Jamaica, mas popularizado nos Estados Unidos, e mistura levadas 
rítmicas com um discurso rítmico-poético rimado, muitas vezes engajado, de forma 
que nossa atenção estará voltada para o texto. O ​Rap nacional é tomado como a 
parte musical de uma cultura maior, o ​Hip Hop brasileiro – inspirado no movimento 
nascido nas periferias de Nova York, na década de 1970, e que é composto por 
diferentes manifestações como o ​grafitti e a dança ​break​, por exemplo. No Brasil, a 
cultura ​Hip Hop e o ​Rap também são majoritariamente produzidos e veiculados nas 
periferias e trazem em sua essência os processos históricos aos quais essa parte da 
população é resultante. 
Os produtores desta cultura de rua são, em geral, homens e mulheres 
descendentes de sujeitos que foram escravizados como parte de um projeto 
colonizador, cujos traços perduram nas pirâmides sociais de seus países. 
Por ter nascido em comunidades majoritariamente negras, o ​rap é 
considerado um gênero musical representativo da diáspora africana no 
10 
Atlântico, que também abarca outras sonoridades, como o jazz, o blues, o 
samba e o soul. (MALMACEDA, 2017, p.4) 
As temáticas, as formas, as ferramentas utilizadas para a construção do 
texto no ​Rap são onde, geralmente, se encontra o maior interesse por parte dos 
estudiosos da canção brasileira. Segundo Naves (2010), antropólogos que se 
debruçam para entender o ​Rap​, associam-no à figura do ​bricoleur​. Sobre as 
particularidades da linguagem utilizada pelo ​Rap​, Naves afirma: 
Em que pesem as semelhanças do artista modernista e do rapper como 
bricoleurs​, radicaliza-se no ​Rap o procedimento da colagem. A própria 
linguagem do ​rap se estrutura a partir da colagem, levando o recurso às 
citações do repertório legado pela tradição (musical, cinematográfico, 
literário etc.) às últimas consequências. Ao agir desta forma, o ​rapper cria 
uma tensão entre a suposta referencialidade à realidade dura contida em 
sua narrativa e o procedimento intertextual que costuma adotar. (NAVES, 
2010, p.136) 
O ​Rap​, portanto, relaciona-se com outras formas e contextos artísticos – por 
adesão ou ruptura – e se utiliza de recursos estéticos de modo a aumentar seu 
impacto na percepção do ouvinte. ​Além disso, discurso do ​Rap é, muitas vezes, 
narrativo e realista, apresentando natureza híbrida: “ao mesmo tempo recria 
genealogias e valoriza fortemente a comunidade de origem e a negritude, busca 
incorporar esses segmentos, via informações modernas, à nova ordem mundial” 
(NAVES, 2010, p. 135). As narrativas entregues pelos ​rappers incorporam do épico à 
linguagem local, absorvendo, no Brasil, expressões relacionadas ao tráfico, à cadeia 
e à vida nas periferias através dos dialetos das próprias comunidades. 
O épico procura dar conta do tema das trajetórias tumultuadas, das 
dificuldades de percurso dos habitantes das periferias brasileiras que, tal 
como heróis míticos da tradição helênica, têm de se submeter a diversas 
provas para alcançar um objetivo; no caso a própria sobrevivência física e 
moral num meio extremamente pobre e violento (NAVES, 2010, p.139) 
A linguagem informal, ou coloquial, impede os acessos de grandiosidade 
característicos do épico e acentua a identidade própria e a cor local de cada região 
periférica. Os textos do ​Rap​, portanto, condizem com os locais, circunstâncias e 
condições dos moradores das periferias de onde são produzidos, e esse retrato 
estilizado ganha um grande poder de circulação através do ​Rap​, chegando ao lado 
de fora da periferia e dos muros das prisões. Ao pensar sobre o aspectos 
sociológicos do ​Rap​ e do ​Hip Hop​. Malmaceda (2017) afirma: 
Pensando em classificação sociológica, o hip-hop é considerado uma 
‘subcultura’, pois seus alicerces não condizem a um padrão hegemônico ou 
11 
encontram-se dentro do mercado formal: criam uma identidade para seus 
ouvintes que se distingue dos valores preconizados em discursos oficiais. O 
rap nasce dentro de periferias urbanas e não parece razoável pensá-lo de 
forma autotélica, tendo em vista que seu objetivo autodeclarado é interferir 
de forma política na cultura, buscando transformar as sociedades nas quais 
surge. (MALMACEDA, 2017, p.3) 
O ​Rap​, consequentemente, é um importante veículo para a exposição de 
outras realidades brasileiras, muitas vezes invisibilizadas, e por isso torna-se um 
documento de grande valor para se estudar nossa sociedade através do olhar de 
seus excluídos e marginalizados. 
Através destas manifestações artísticas,são mostradas situações antes 
invisíveis ou disfarçadas pelos dados oficiais, sendo exemplo relevante disso o ​Rap 
“Diário de um Detento”, escrito pelo músico Mano Brown com colaboração do 
ex-detento Jocenir, em 1997, no qual é repercutida a rotina degradante dos detentos 
no sistema penitenciário nacional. A letra da canção retrata um pouco da vida no 
interior dos muros do sistema carcerário brasileiro e tem como foco o massacre de 
111 detentos na Casa de detenção São Paulo, ocorrido em 1992, conhecido como “o 
massacre do Carandiru”. A obra teve grande alcance na época de seu lançamento e 
levou um retrato do sistema carcerário brasileiro a outros estratos sociais. 
O relato disseminado por “Diário de um detento” contrasta de maneiras 
elementares com os discursos oficiais sobre as políticas públicas voltadas para a 
segurança e para o sistema prisional, expondo o abismo existente entre a prática e o 
discurso político-institucional. Em entrevista, Jocenir – um dos compositores do 
“Diário” - denuncia que: “A maior parte das análises críticas que se faz ao sistema 
são feitas da calçada, olhando para a vitrine”(MEDIUM, ---). O ex-detento também 
escreveu livros em que relata, de forma ainda mais aprofundada e detalhada sua 
experiência no cárcere. Sobre a escrita originada no cárcere, é interessante observar 
a dinâmica estabelecida entre o produtor e o leitor. É exposta a existência de um 
olhar duplo por parte do narrador, que mostra “uma adesão ambivalente aos códigos 
carcerários (dos homens presos) e ao dos homens livres” (MALMACEDA, 2017, p. 
16): 
É possível estabelecer um esquema que funcionaria assim: a sociedade (o 
mundo dos homens livres) recusa aos presos condições mínimas de 
cumprimento de penas, mas, ao mesmo tempo, tem curiosidade pela 
experiência carcerária e cria uma demanda por suas narrativas 
(admitindo-se aqui que a circulação dos livros não se de apenas dentro dos 
presídios). Os homens encarcerados que escrevem, por sua vez, querem 
12 
opor-se a essa mesma sociedade (que os expõe as piores condições de 
cumprimento de sua pena), ao “sistema”, mas querem também de algum 
modo pertencer a esse mundo, cujas leis reconhecem em sua 
normatividade. (MALMACEDA, 2017, p.13) 
O relato épico de quase 8 minutos começa, logo após a anunciação do local 
e da data, com tom de denúncia e desabafo, em primeira pessoa: “Aqui estou mais 
um dia/sob o olhar sanguinário do vigia/você não sabe como é caminhar, com a 
cabeça na mira de uma HK/ metralhadora alemã, ou de Israel/estraçalha ladrão que 
nem papel”. Assim inicia o percurso quase cinematográfico desta canção, que joga 
com o tempo ao anunciar “Aqui estou mais um dia” e, no decorrer da canção “Faltam 
só, um ano, três meses e uns dias”. Passado e futuro são usado na letra como 
recursos que colaboram com a narrativa de forma a inserir o ouvinte/leitor no 
pesadelo vivido pelo narrador. Para Garcia (2017, p.179), 
Diário de um Detento” (Mano Brown/Jocenir), contudo, é uma obra em que a 
lírica mal se equilibra frente a uma épica bem acentuada, de tal forma que o 
lirismo aí permanece sobretudo por conta da intensidade das vivências 
cantadas pela voz principal. A característica talvez possa ser generalizada 
para todo o ​rap que participa do ​hip hop​, como já se notou, na medida em 
que o vínculo com o movimento pressupõe a comunicação de experiências 
concretamente vividas pela comunidade ou pela classe social do ​rapper​. 
(GARCIA, 2007, p. 179) 
A característica ressaltada pelo autor, ou seja, o vínculo da narrativa com a 
realidade experienciada pelos sujeitos que escrevem e cantam é o ponto de 
intersecção entre a proposta artística de “Diário de um detento” e campo do direito. 
O que interessa analisar na pesquisa apresentada é uma discussão acerca das 
condições carcerárias e as políticas de reinserção e ressocialização dos apenados e 
ex-apenados a partir do ponto de vista das partes envolvidas nesse contexto, na 
cidade de Pelotas, de modo a contribuir com reflexões para o estudo do Direito 
Penal e Processual Penal relativos à questão carcerária. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
13 
2. Etapas do Processo Penal Brasileiro 
 
Tendo em vista a grande diferença entre teoria e prática presente no relato 
da canção anteriormente referida, busca-se em um primeiro momento, um 
entendimento e uma explanação teórica geral de como decorre o processo de 
execução penal. Na execução da pena todas as garantias constitucionais incidentes 
ao Direito Penal e Processual Penal precisam ser observadas para proporcionar o 
respeito aos direitos individuais do aprisionado. O processo penal se inicia na 
regulamentação da realização da sentença, que está presente nos Códigos Penal e 
de Processo Penal, seguido pela execução penal que constitui-se no cumprimento 
da sentença que impõe a pena ou medida de segurança, e repara, não somente nos 
pontos relacionados com o cárcere, mas também com a reabilitação do apenado, de 
modo que objetive a implementação do mando já incorporado na sentença 
paralelamente à reinserção social do apenado ou internado. Portanto, os 
sentenciados à pena têm direito à ampla defesa, ao duplo grau de jurisdição, ao 
contraditório, ao devido processo penal, à retroatividade de lei mais benéfica, à 
individualização e humanização da pena, e aos princípios da anterioridade e da 
legalidade. Com a sentença transitada em julgado é que se principia essa relação 
jurídica, que será concluída com o cumprimento da pena ou o manifestação de 
alguma causa extintiva da punibilidade. Em seu artigo 1º, a Lei de Execução Penal 
fala sobre a finalidade para a qual é designada: “​A execução penal tem por objetivo 
efetivar as disposições de sentença ou decisão criminal e proporcionar condições 
para a harmônica integração social do condenado e do internado.” (LEI DE 
EXECUÇÃO PENAL, 1984, [s.p.]). Ou seja, o papel da execução penal é cumprir 
aquilo que foi determinado pelo juiz na sentença, não podendo alterá-la ou mesmo 
os fundamentos da condenação, prezando a integridade do apenado. ​A fase de 
conhecimento do processo passa a execução com o trânsito em julgado da 
sentença, que se torna título executivo judicial. Em um primeiro momento, pode-se 
dizer que, com a sentença penal condenatória transitada em julgado, finda-se o 
processo de conhecimento e forma-se o título executivo penal; com este, por sua 
vez, instaura-se o processo de execução. Na execução a sentença será cumprida, 
14 
ou seja, a pena privativa de liberdade, restritiva de direitos ou monetário serão 
executadas. 
 
2.1 O Processo Penal de acordo com a Legislação Brasileira 
Características da lei penal: a lei, fonte única do direito penal, tem as 
seguintes características: a) é exclusiva, isto é, somente ela pode criar 
delitos, fixando as penas; b) é obrigatória, fazendo com que todos os seus 
destinatários a acatem, sejam os órgãos do Estado, seja o povo; c) é 
inafastável, somente sendo revogada por outra lei; d) é igualitária, prevendoaplicação idêntica a todos os seus destinatários, sem privilégios; e) é 
constitucional, devendo estar de acordo com a Constituição Federal, sob 
pena de não ser aplicada. (NUCCI, 2014, p. 36). 
O Direito Penal é então, “[...] o corpo de normas jurídicas voltado à fixação 
dos limites do poder punitivo do Estado, instituindo infrações penais e as sanções 
correspondentes, bem como regras atinentes à sua aplicação.”(NUCCI, 2014, p. 16). 
 
Não, eu acho que o tema..., acho que o debate é importante, acho que é um 
direito crucial, porque quem gosta de Direito Penal, de Direito Criminal sabe 
que polícia trabalha, o MP trabalha, o judiciário trabalha na área criminal e 
qual é o destinatário final de todo trabalho? É a execução penal! No final, 
todos nós falamos “a polícia cuida, faz sua investigação tudo dentro da lei 
para não gerar nenhum algo, nenhum problema que venha macular aquela 
investigação. Ministério Público denuncia, com todo cuidado; o judiciário 
[preside] o processo, o Ministério Público faz o processo com todo o cuidado 
para não haver [novidades], respeita..., buscando respeitar todos os direitos 
do preso, todo..., um [devido] um processo legal; aí o destinatário final é a 
execução penal. Aí, a execução penal tem uma série de direitos que tem 
que ser respeitados e o que nós vemos? Em tese, eu..., isso o que a gente 
está vendo aí. Então o destinatário..., então chega na execução penal tudo 
o que a gente preservou, com cert..., talvez seja tudo jogado por água 
abaixo, entenderam? Então, o Estado tem que investir muito na execução 
penal, tem que recuperar o sistema prisional, mas o que a gente vê não é..., 
é ausência de interesse, ausência de investimentos. (PASSOS, José Olavo. 
Visão sobre Políticas Públicas Penitenciárias no Brasil. [Entrevista cedida a] 
Gabriel Juliani e Giordano Morocini. Pelotas, 10. out. 2019) 
 
Com base neste mecanismo jurídico, pode-se dizer haver uma tangível 
diferença entre o processo de conhecimento e o processo de execução da pena, por 
conseguinte se forma uma nova relação jurídica, onde o condenado não mais visa 
sua absolvição, mas somente procura uma forma mais tranquila para o cumprimento 
de sua pena, o respeito a seus direitos e a concessão dos benefícios legais a ele 
cabíveis, e, para ter acesso a tais, é necessário que o reeducando cumpra alguns 
deveres aos quais ele foi apresentado. A relação jurídica na execução penal é 
formada por direitos e deveres dos sentenciados com a administração e vice-versa. 
Sendo assim, o sentenciado faz uso de seus direitos, não suprimidos pela sentença 
15 
judicial transitada em julgado, e a administração adquire deveres para a garantia 
destes. Com isso em mente, percebe-se que os princípios pelo qual a execução 
penal é guiada, contidos no Código Penal; na Lei de Execução Penal; no Código de 
Processo Penal; e também na Constituição Federal, não podem de maneira alguma 
serem invocados com o objetivo de reduzir direitos ou justificar maior rigidez punitiva 
sobre os apenados. Logo: 
Ao condenado e ao internado serão assegurados todos os direitos não 
atingidos pela sentença ou pela lei. 
Parágrafo único. Não haverá qualquer distinção de natureza racial, social, 
religiosa ou política. ​ ​(LEI DE EXECUÇÃO PENAL, 1984, Art. 3º [s.p.]). 
 
Isto é, tudo que a lei não proíbe ou que a sentença não tirou da pessoa, lhe 
é assegurado, e, de modo algum, terá alteração no cumprimento da sua pena por 
motivos de questões sociais, políticas, religiosas ou de natureza racial, o tratamento 
será igual para todos indivíduos que estiverem em situações equivalentes. Deste 
modo, há um processo para a categorização dessa situações, disposto no Artigo 5º 
da Lei de Execução Penal, o qual diz que “​Os condenados serão classificados, 
segundo os seus antecedentes e personalidade, para orientar a individualização da 
execução penal​.” ​(LEI DE EXECUÇÃO PENAL, 1984, [s.p.]), e que, de acordo com o 
Artigo 6º desta mesma lei, tal processo será realizado pela Comissão Técnica de 
Classificação, ​seguindo as regras discorridas no artigo 7º. Porém, mesmo com a 
individualização da pena, todos os ingressantes do sistema prisional não perdem a 
dignidade mesmo que, o Estado tenha determinado com base na lei que o direito à 
liberdade e o preceito financeiro sejam retirados momentaneamente, necessitando 
de acesso à saúde, à alimentação, à educação. No entanto, alguns direitos relativos 
à progressão da pena podem ser retirados ou reduzidos, como em caso de o 
apenado cometer falta grave, que dependendo do tipo da falta, é determinado 
diferentes tipos de regimes disciplinares, interferindo no andamento da progressão 
da pena, como o fixado na legislação, em relação aos tipos de faltas: 
Art. 50. Comete falta grave o condenado à pena privativa de liberdade que: 
I - incitar ou participar de movimento para subverter a ordem ou a disciplina; 
II - fugir; III - possuir, indevidamente, instrumento capaz de ofender a 
integridade física de outrem; IV - provocar acidente de trabalho; V - 
descumprir, no regime aberto, as condições impostas; VI - inobservar os 
deveres previstos nos incisos II e V, do artigo 39, desta Lei. VII – tiver em 
sua posse, utilizar ou fornecer aparelho telefônico, de rádio ou similar, que 
permita a comunicação com outros presos ou com o ambiente externo. 
16 
Parágrafo único. O disposto neste artigo aplica-se, no que couber, ao preso 
provisório. 
Art. 51. Comete falta grave o condenado à pena restritiva de direitos que: I - 
descumprir, injustificadamente, a restrição imposta; II - retardar, 
injustificadamente, o cumprimento da obrigação imposta; III - inobservar os 
deveres previstos nos incisos II e V, do artigo 39, desta Lei. 
E em relação às consequências dessas faltas: 
Art. 52. A prática de fato previsto como crime doloso constitui falta grave e, 
quando ocasione subversão da ordem ou disciplina internas, sujeita o preso 
provisório, ou condenado, sem prejuízo da sanção penal, ao regime 
disciplinar diferenciado, com as seguintes características: I - duração 
máxima de trezentos e sessenta dias, sem prejuízo de repetição da sanção 
por nova falta grave de mesma espécie, até o limite de um sexto da pena 
aplicada; II - recolhimento em cela individual; III - visitas semanais de duas 
pessoas, sem contar as crianças, com duração de duas horas; IV - o preso 
terá direito à saída da cela por 2 horas diárias para banho de sol. 
§ 1​o O regime disciplinar diferenciado também poderá abrigar presos 
provisórios ou condenados, nacionais ou estrangeiros, que apresentem alto 
risco para a ordem e a segurança do estabelecimento penal ou da 
sociedade. 
§ 2​o Estará igualmente sujeito ao regime disciplinar diferenciado o preso 
provisório ou o condenado sob o qual recaiam fundadas suspeitas de 
envolvimento ou participação, a qualquer título, em organizações 
criminosas, quadrilha ou bando. ​(LEI DE EXECUÇÃO PENAL, 1984, [s.p.]) 
 
A responsabilidade de determinar a execução dessas leis fica a cargo do juiz 
da execução, o qual inicia sua função com o trânsito em julgadoda sentença penal 
condenatória, sendo decretada pelas leis de Organização Judiciária de cada Estado. 
Ao magistrado compete algumas ações ​(LEI DE EXECUÇÃO PENAL, 1984)​, tais 
como aplicar leis posteriores que favorecem o apenado de casos já julgados aos 
mesmos, declarar a punibilidade extinta e decidir sobre alterações no curso da pena, 
e também alguns outros procedimentos referentes à pena e suas condições. Um dos 
tais procedimentos é a progressão de regime, que nada mais é do que o direito de 
toda pessoa condenada à pena privativa de liberdade possui, previsto no Código 
Penal, art. 33 § 2: 
§ 2​º - As penas privativas de liberdade deverão ser executadas em forma 
progressiva, segundo o mérito do condenado, observados os seguintes 
critérios e ressalvadas as hipóteses de transferência a regime mais rigoroso: 
(Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) 
a) o condenado a pena superior a 8 (oito) anos deverá começar a cumpri-la 
em regime fechado; 
b) o condenado não reincidente, cuja pena seja superior a 4 (quatro) anos e 
não exceda a 8 (oito), poderá, desde o princípio, cumpri-la em regime 
semi-aberto; 
c) o condenado não reincidente, cuja pena seja igual ou inferior a 4 (quatro) 
anos, poderá, desde o início, cumpri-la em regime aberto. 
Ou seja, é a possibilidade do apenado migrar do regime prisional em que ele 
está cumprindo a pena, para outro mais benéfico e, para isso, existem algumas 
17 
exigências para a contagem do tempo e o merecimento para a progressão. No 
Brasil, existem três diferentes regimes prisionais: o regime fechado, em que a pena é 
cumprida em estabelecimento de segurança média ou máxima, com probabilidade 
de trabalho no período diurno, mas repouso noturno em isolamento; o regime 
semiaberto, em que a pena é executada em ​colônia industrial, agrícola ou 
estabelecimento similar, sujeito a trabalho e sem uma vigilância tão direta; e o 
regime aberto, em que o cumprimento da pena se dá em albergue ou local similar, e 
consiste no senso de responsabilidade e autodisciplina do apenado, isto porque o 
local localiza-se em centro urbano e não possui impedimentos para a fuga. Para 
essa migração para outro regime ocorrer, o apenado precisa ter, além de um 
determinado tempo de pena, que é variável, alguns requisitos que precisam ser 
observados, tais quais: se o réu é primário ou reincidente e se o crime cometido é 
simples (todos dispostos no Código Penal) ou hediondo (estão todos elencados na 
lei Lei 8.072/90). A seguir uma tabela demonstrativa dos requisitos objetivos(LEI DE 
EXECUÇÃO PENAL, 1984, [s.p.]) para a progressão em cada caso: 
 Réu primário Réu reincidente 
Crime simples ⅙ do cumprimento 
da pena 
⅖ do cumprimento 
da pena 
Crime hediondo ⅙ do cumprimento 
da pena 
⅗ do cumprimento 
da pena 
 
Além destes, há o requisito subjetivo, que é variável e se refere a um 
atestado emitido pelo Diretor do Estabelecimento Prisional no qual o apenado reside. 
Ou seja, não basta apenas cumprir o tempo determinado, o indivíduo tem que 
‘merecer’ o direito à progressão. E, em casos de crimes contra Administração 
Pública, é necessário que exista reparo no dano causado ou que seja devolvido o 
produto do crime, com acréscimos legais. Importante ressaltar que, embora prescrito 
na lei a forma da progressão de regime ser transcorrida, há algumas diferenças na 
prática, já que nem sempre há casa de albergado ou colônia agrícola, e sendo 
assim, vagas insuficientes para a alocação dos apenados em determinado regime 
para o local adequado. Por tal motivo, com mais frequência têm sido atribuídas 
prisões domiciliares sob supervisão de tornozeleiras eletrônicas, conforme descrito 
18 
na Súmula Vinculante 56: “​A falta de estabelecimento penal adequado não autoriza 
a manutenção do condenado em regime prisional mais gravoso, devendo-se 
observar, nessa hipótese, os parâmetros fixados no RE 641.320/RS.” 
Tais são os parâmetros: 
 
Cumprimento de pena em regime fechado, na hipótese de inexistir vaga em 
estabelecimento adequado a seu regime. Violação aos princípios da 
individualização da pena (art. 5º, XLVI) e da legalidade (art. 5º, XXXIX). A 
falta de estabelecimento penal adequado não autoriza a manutenção do 
condenado em regime prisional mais gravoso. 3. Os juízes da execução 
penal poderão avaliar os estabelecimentos destinados aos regimes 
semiaberto e aberto, para qualificação como adequados a tais regimes. São 
aceitáveis estabelecimentos que não se qualifiquem como “colônia agrícola, 
industrial” (regime semiaberto) ou “casa de albergado ou estabelecimento 
adequado” (regime aberto) (art. 33, § 1º, ​b e ​c​). No entanto, não deverá 
haver alojamento conjunto de presos dos regimes semiaberto e aberto com 
presos do regime fechado. 4. Havendo déficit de vagas, deverão ser 
determinados: (i) a saída antecipada de sentenciado no regime com falta de 
vagas; (ii) a liberdade eletronicamente monitorada ao sentenciado que sai 
antecipadamente ou é posto em prisão domiciliar por falta de vagas; (iii) o 
cumprimento de penas restritivas de direito e/ou estudo ao sentenciado que 
progride ao regime aberto. Até que sejam estruturadas as medidas 
alternativas propostas, poderá ser deferida a prisão domiciliar ao 
sentenciado. (​RE 641.320​, rel. min. ​Gilmar Mendes​, P, j. 11-5-2016, ​DJE 
159 de 1º-8-2016, ​Tema 423​.) 
 
 
 
2.2 Crítica à dificuldade da aplicação do Processo Penal com vista o previsto 
em lei. 
Levando em consideração a extensão territorial brasileira, a falta de 
instituições penitenciárias, a dificuldade de conseguir recursos com a própria 
condição econômica dos residentes carcerários, constituídos em sua maioria por 
apenados pobres, marginalizados e sem grau de ensino primário, e perante a 
realidade social do país, encontra-se dificuldades na aplicação de diversos 
dispositivos. Nota-se então que existe um certo distanciamento da Lei de Execução 
Penal em relação à realidade, sendo caracterizada como um serviço doutrinário a 
longo prazo, levantando pontos nela previstos e procurando um meio de viabilizá-los. 
Isto é, ela é avançada e perfeita, em sua maioria, pois em síntese, seu objetivo é de 
proporcionar uma ressocialização adequada ao apenado, porém nem sempre ele é 
atingido: 
http://redir.stf.jus.br/paginadorpub/paginador.jsp?docTP=TP&docID=11436372
http://www.stf.jus.br/portal/jurisprudenciaRepercussao/verAndamentoProcesso.asp?incidente=4076171&numeroProcesso=641320&classeProcesso=RE&numeroTema=423
19 
Do jeito que está formatado hoje, eu enxergo que a questão carcerária está 
completamente falida, no nosso país. Eu estou na VEC desde dois mil e 
doze e, pelo que eu noto, só tem piorado, né?! O que que... que que eu 
posso perceber é que o presídio é uma máquina de formar o exército, captar 
os presos para as facções criminosas. Não consigo ver nenhuma melhora. 
E eu..., até às vezes eu falo em palestras, coisas assim, que eu quando 
cheguei aqui eu trabalhei na VEC e na Vara Criminal. Então, a Vara 
Criminal que eu trabalhava era uma Vara Criminal nova e os presos, dedezoito, dezenove anos, caíam nessa Vara Criminal em razão da 
prevenção. E eram os primeiros delitos deles ali, então, eu comecei a ver a 
gurizada de dezoito, dezenove anos indo para o presídio – isso há sete 
anos! E eu continuo atendendo; eu saí da Vara Criminal, sigo só na VEC, eu 
continuo..., a maioria, assim, noventa por cento desses guris que 
ingressaram há sete anos com o primeiro delito seguem no sistema prisional 
e, hoje, já inserido dentro de facções. (SILVEIRA, Roberta da. Visão sobre o 
Sistema Penitenciário brasileiro. [Entrevista cedida a] Gabriel Juliani e 
Gabriel Arbes. Pelotas, 21. nov. 2019) 
 
Com essa ampla inserção de réus primários e prisões preventivas, surge 
uma nova questão, a superlotação, que, mesmo com muitas críticas que têm como 
objetivo denunciá-la, ainda permanece, no Brasil, uma visão conformista sobre o 
problema, pois não encontra-se uma jurisprudência e raramente acha-se textos 
doutrinários que tratam de maneira específica do tema. 
E, ainda, a superlotação nas casas prisionais, em grande parte se deve ao 
amplo ingresso de réus primários não violentos e sem antecedentes no sistema por 
posse de drogas por exemplo, mas não à métodos de re-socialização, de modo que 
o impacto na redução da violência seja extremamente baixo. 
 
Mas a maioria lá, gente, a maioria é chamado de mula, porque a droga é 
proibida, então, o traficante usa as pessoas pobres para serem mulas e elas 
caem no sistema e nunca mais retornam e pioram sua situação. Veja bem: 
um jovem da sua idade, você tem quantos anos, vinte...? vinte e três, ou 
mais jovem ainda do que você faz lá um caso com [inaudível], cometeu um 
crime, né?, juntou-se com a turminha da vila porque ele estava com dezoito 
anos e queria um tênis novo, queria..., mas na vila, na periferia não tem, né? 
Então, o que que aconteceu? Ele assaltou um posto de gasolina. Qual seria 
a atuação da justiça em um caso desse? Jogaram ele dentro – ele já tem 
dezoito anos, né?!, então... –, jogaram ele para dentro do sistema. Lá dentro 
ele foi cooptado pelo traficante. Quando ele saiu, dois anos depois, com a 
progressão, ele já estava com incumbência lá fora: de roubar, de matar e de 
vender droga, de traficar. Perdeu-se um menino! Um menino!! Que para 
mim é um menino, com dezoito anos é um menino! É um adolescente. 
Perdeu-se. Entende? Não seria o caso de uma justiça restaurativa? Não 
seria o caso de chamar esse menino e botar para ser ressocializado? No 
caso, socializado?!! Ou com penas alternativas ou com ele, sabe?, fazendo 
os encontros da justiça restaurativa? Vocês conhecem a justiça restaurativa, 
né? (FERRAZ, Cândida Rosa. Visão sobre Políticas Públicas Penitenciárias 
efetuadas no Presídio Regional de Pelotas. [Entrevista cedida a] Gabriel 
Juliani e Giordano Morocini. Pelotas, 16. Out. 2019) 
20 
Um dos meios de prevenção, denominada Justiça Restaurativa, que é uma 
técnica de resolução de violência e conflito que se baseia pela sensibilidade e 
criatividade a partir da escuta das vítimas e dos ofensores, têm estado em 
funcionamento há pelo menos dez anos, e se expandindo a cada dia e, que é 
atualmente uma ferramenta de trabalho judicial, extrajudicial e jurídico. Em Pelotas, 
por meio do Pacto Pelotas Pela Paz, é utilizada como “metodologia transversal de 
resolução pacífica de conflitos que será aplicada nas escolas e nos condomínios do 
programa Minha Casa Minha Vida, em parceria com o Poder Judiciário local.” 
(SEMINÁRIO PACTO PELOTAS PELA PAZ, PREFEITURA DE PELOTAS) . 
Dessa maneira que o índice da população carcerária eleve cada vez mais e 
não resolva de maneira efetiva a questão da segurança pública. 
 
Então, a gente tem, vamos dizer assim, no papel, acho que a gente tem, 
como a gente diz, a LEP é muito boa, né, mas, a LEP é perfeita, a gente 
não tem que arrumar ou poucas coisas teriam que se arrumar em relação a 
LEP, a questão é botar em prática. Em termos de políticas públicas 
penitenciárias, a gente tem vários planos, né, nacional..., plano nacional de 
política penitenciária, né, superando, contempla várias..., a própria questão 
do egresso, né, a gente tem várias políticas previstas para..., no papel. Mas 
colocar em prática é que se torna difícil. (GHIGGI, Marina. Visão sobre o 
Sistema Penitenciário brasileiro. [Entrevista cedida a] Gabriel Juliani e 
Ismael Lopes. Pelotas, 25. out. 2019) 
Eu penso que, que essa mudança esperada só vai acontecer quando a 
gente tiver uma mudança de mentalidade desde quando se prevê a lei, né? 
A gente aí um índice de criminalidade praticados por crimes que não 
violentos, e aí, acaba encarcerando; e isso aumenta essa ..., faz esse 
presídio ter superlotação, enfim, muita... muito uso da prisão preventiva, 
então a gente tem muito preso preventivo, muito preso preventivo – que é o 
preso sem condenação definitiva. E, digo, que se essa mentalidade 
mudasse em relação a [lá], quando se cria a lei ou quando se aplica, no 
caso as prisões preventivas, já seria um grande passo. (SANTOS, Mayra. 
Visão sobre o Sistema Penitenciário brasileiro. [Entrevista cedida a] Gabriel 
Juliani e Ismael Lopes. Pelotas, 25. out. 2019) 
Aproximadamente, cerca de 85,6% da população pelotense acredita que o 
sistema prisional não é eficaz e, cerca de 82,1% acredita que o país não cumpre seu 
papel de re-socializador. Ou seja, evidencia-se uma falta para com a sociedade 
brasileira e com a população carcerária - principalmente réus primários, pois é o 
primeiro contato -, no cumprimento do objetivo para com o qual a Lei de Execução 
Penal foi criada, que é o de devolver à sociedade o egresso reformado, preparado 
para uma vida em sociedade mais íntegra. 
É, eu acho que teria que ter uma re-estrutura muito grande, assim. Eu não, 
eu não tenho muita credibilidade no nosso sistema, mas não é nem pelo 
21 
sistema prisional, é por tudo que vem antes, né? Que nem eu digo assim: 
esses guris com dezoito anos que estão entrando no presídio por causa de 
drogas. Não tinham que estar entrando no presídio em razão de drogas, 
tinham que estar recebendo tratamento. Então, se não tiver uma prevenção, 
se não se tratar da parte preventiva, eu não vejo como melhorar. Esse 
primeiro ingresso no presídio tinha que ser muito cuidadoso porque ali é que 
está começando a vida da pessoa, se ele vai ser inserido em uma facção ou 
se ele vai ter uma chance, sabe, o que que ele quer, se ele tem suporte, 
sabes? (SILVEIRA, Roberta da. Visão sobre o Sistema Penitenciário 
brasileiro. [Entrevista cedida a] Gabriel Juliani e Gabriel Arbes. Pelotas, 21. 
nov. 2019) 
E, exatamente. E aí tu ficas pensando assim: tá, o sujeito traficava, bom, 
tráfico, beleza, é um crime, crime grave, tudo bem. Mas a gente pensa o 
seguinte, tá, e tantos outros crimes que são tão graves e a gente não tem 
que... não tem uma resposta com a prisão. Pega, por exemplo, os crimes 
tributários que lesam a sociedade como um todo, enfim, em milhões muitas 
vezes, né, e a gente vê, não tem uma resposta em termos de prisão paraesse tipo de crime. Então, o que a sociedade pensa como crime também é 
complicado. Parece que crime é só aquela criminalidade de rua, aquela 
criminalidade da pobreza. Então, tem..., essa questão da seletividade penal, 
ela é muito..., ela está introjetada na gente. Bom, eu contrataria alguém que 
sonega imposto de renda, né, mas eu não contrato quem está traficando. 
(GHIGGI, Marina. Visão sobre o Sistema Penitenciário brasileiro. [Entrevista 
cedida a] Gabriel Juliani e Ismael Lopes. Pelotas, 25. out. 2019) 
 
“A gente costuma dizer que os nossos presos não vem, eles voltam – é 
sempre os mesmos.” 
(GHIGGI, Marina. Visão sobre o Sistema Penitenciário brasileiro. [Entrevista 
cedida a] Gabriel Juliani e Ismael Lopes. Pelotas, 25. out. 2019) 
 
 
 
 
 
 
 
 
22 
3. Definição doutrinária de políticas públicas de reintegração social 
Desde a origem de sua existência, o homem visa caminhos mais fáceis para 
atingir os seus propósitos, desde os mais básicos como a alimentação e abrigado, 
até os desejos mais abstratos, como a realização pessoal e o status social. Dentre 
os brasileiros essa realidade está apresentada, e tendo em conta a conjuntura 
econômica de nosso país atualmente, indivíduos acabam se encaminhando para o 
mundo do crime. Parecendo uma opção viável ou até mesmo a única possibilidade 
de ascensão social, a vida em meio ao crime pode levar quem o pratica para dentro 
de uma cela do sistema carcerário. 
Dados Do Ministério da Justiça, com o Levantamento nacional de 
informações penitenciárias – INFOPEN, de 2014, trazem informações acerca dos 
números de encarcerados no Brasil e em outro país (ver tabela 1): 
Tabela 1: Número de apenados conforme levantamento do INFOPEN – 
2014. 
 
O sistema penal brasileiro, atualmente, encontra-se visivelmente defasado e 
com seu prazo de validade vencido, este não consegue mais dar conta de 
tanta demanda, o Brasil tem a 4ª maior população carcerária do mundo, 
aproximadamente 700 mil presos, atrás somente dos Estados Unidos da 
América, China e Rússia. O número de detentos cresceu 575,2% desde 
23 
1990, mantendo esse ritmo, em 2030, teremos 1,9 milhão de adultos 
encarcerados. (DE SOUZA, 2017) 
Sobre a problemática das prisões brasileiras e a possível prática da ressocialização, 
indo ao encontro das colocações de De Souza (2017): 
A função de ressocialização não é observada na realidade carcerária 
brasileira, uma vez que há aumentado cada vez mais a população 
carcerária e o preso ao sair da prisão não tem possui perspectiva de futuro. 
A prisão na maioria das vezes produz efeitos devastadores no presidiário, 
que às vezes sai de lá pior do que entrou. As instituições penais vigentes no 
país deveriam ter como finalidade a de punir e reeducar o preso recluso 
para só assim devolvê-lo para o convívio social, porém o que se observa de 
fato é que este objetivo não é concretizado atualmente e talvez nunca tenha 
sido, isso se deve ao fato de que alguns sistemas prisionais construídos no 
Brasil não são aptos para tal realidade, e assim por consequência, em vez 
dessa almejada reformulação e reeducação, a reincidência continua a 
crescer de forma alarmante e preocupante. A maioria dos detentos 
encontrados nas penitenciárias é reincidente […] em menos de alguns anos 
fora da prisão, cometem um novo delito retornando ao sistema prisional que 
já anda a cada mais lotado, e com apenas este fato (a constante 
reincidência dos detentos) se demonstra que não ocorre à verdadeira 
ressocialização que tanto o Estado profere a sociedad​e. (DE SOUZA, 
2017). 
Ainda conforme De Souza, o sistema prisional encontra-se em um estado de 
caos: “é quase impossível vislumbrar que o mesmo ainda possa alcançar com êxito 
sua função prometida de ressocialização [...] já que nada é realmente feito fazendo 
com que muitos desses voltem à vida do crime.” (DE SOUZA, 2017) 
De acordo com a legislação brasileira, a pena privativa de liberdade deve ser 
executada de forma progressiva, no intuito de alcançar a gradativa recuperação 
social do condenado. No Brasil existem três tipos de regimes de cumprimento de 
pena: o regime fechado (ocorre em instituições prisionais de segurança máxima ou 
média, denominados), o regime semiaberto (ocorre em colônia agrícola, industrial ou 
estabelecimento similar) e o regime aberto (cumprido em casa, ou local adequado) 
(ANDRADE et al., 2015). 
24 
Conforme o previsto na Lei de Execuções Penais (LEP): a assistência ao 
preso e ao internado é dever do Estado, objetivando prevenir ​o crime e orientar o 
retorno à convivência em sociedade (​LEP, 1984, art.10). Desta maneira, entende-se 
a ressocialização como o processo humanizado de tratamento ao apenado, ou seja, 
dá-se a estrutura humana e física para que este possa ver-se em sociedade, como 
sujeito integrador da comunidade. 
A termino​logia “assistência”, presente na LEP, é destacada em Andrade et al 
(2015), pois, este termo substitui o uso da palavra “tratamento”, Tendo em vista que 
a assistência: “sugere prestação de serviços, a atenção e o apoio contínuos aos 
apenados. A assistência é definida como dever do Estado – capítulos II e III da LEP” 
(Brasil, 1984 in ANDRADE et al., 2013, p. 13). 
Ainda levando em consideração a discussão terminológica: 
“[…] o termo reintegração social pressupõe a igualdade entre as partes 
envolvidas no processo, já que requer a “abertura de um processo de 
comunicação e interação entre a prisão e a sociedade, no qual os cidadãos 
reclusos se reconheçam na sociedade e esta, por sua vez, se reconheça na 
prisão” (Baratta, 2007, p. 3). 
No Art. 10 da LEP está disposto que “a assistência ao preso e ao internado 
como dever do Estado objetiva prevenir o crime e orientar o retorno à convivência 
em sociedade, estendendo-se ao egresso” (Brasil, 1984). A LEP ainda prevê, entre 
as atenções básicas que devem ser prestadas aos presos: assistência psicológica, 
educacional (C​ompreenderá a instrução escolar e a formação profissional do preso e 
do internado)​, jurídica (​Destinada aos presos e aos internados sem recursos 
financeiros para constituir advogado)​, religiosa (Abrange liberdade de culto, e 
também, p​ermitindo a participação nos serviços organizados no estabelecimento 
penal, bem como a posse de livros de instrução religiosa)​, social (​Tem por finalidade 
amparar o preso e o internado e prepará-los para o retorno à liberdade)​, material 
(​Consistirá no fornecimento de alimentação, vestuário e instalações higiênicas) e à 
saúde (​Compreenderá atendimento médico, farmacêutico e odontológico). ​Dada à 
realidade carcerária no Brasil, existe a predominância de entendimento entre 
especialistas que a prisão em si não alcança o objetivo de ressocializar, sendo, 
então, difícil de ser defendida como modo ressocializador de correção (SALLA; 
LOURENÇO, 2014). 
25 
Se respeitarmos a classificação definida por ​Leandro Thurow, coordenador 
do projeto apac de Pelotas e um dos idealizadores do Projeto Municipal de Trabalho 
Prisional, A LEP (1984) prevê dois objetivos base para a questão prisional– privar 
de liberdade e ressocializar. Enxergo que a primeira tem sido executada de forma 
geral, ainda que questionável na medida em que não se tem conseguido impedir a 
privação da liberdade de comunicação (presença de celulares). Com relação à 
ressocialização, a mesma envolve questões bastante amplas dependendo do que 
entendemos fundamental ao processo. Seria dar condições de trabalho? Fomentar a 
aceitação dos egressos na sociedade? Ensinar regras de convivência? Valores? 
Fato é que o sistema prisional no RS tem apresentado série histórica de reincidência 
criminal de egressos sempre acima dos 70%. Percentual que evidencia a não 
resolutividade nas questões preventivas. 
No estudo de caso “O Desafio da Reintegração Social do Preso: Uma 
Pesquisa em Estabelecimentos Prisionais”, realizado no ano de 2015, promovido 
pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), pesquisadores em pesquisa 
de campo constataram a presença de diferentes visões acerca da reintegração 
social por parte dos operadores do direito entrevistados de maneira anônima. Nesta 
pesquisa o problema em questão foi dado pelo questionamento “qual a 
compreensão que os atores das experiências investigadas tinham sobre a ideia de 
ressocialização?” e se “eles acreditavam na possibilidade de reintegração social do 
detento”. (ANDRADE et al, 2015, p. 30). 
Antes de adentrarmos em breve análise sobre o trabalho citado acima, é 
prudente consideramos, ​en passant, a ideia de Foucault sobre o tema do 
aprisionamento e a relação desta com os operadores do direito. Tratando sobre a na 
obra “A Verdade e as Formas Jurídicas”, para o autor importa compreender como o 
discurso jurídico produz “efeitos de verdade”, sendo estas "práticas judiciais" 
definidoras da relação do homem com a verdade. (OLIVEIRA; FERIANI, 2013, p. 
382) 
Conforme (Oliveira e Feriani, 2013), para além de julgar e punir, promotores, 
advogados e juízes classificam e julgam crimes, teorizam sobre variadas questões. 
Estes operadores do direito, em última instância, definem o que é certo e o que é o 
errado; o normal e o anormal; o injusto e o injusto. Além das leis, ainda existem 
26 
normas sociais que, apesar de não escritas, são consideradas em desfechos de 
crimes. 
O juiz de execução penal “A” citou que “nem todos os presos teriam vocação 
para reintegrar à sociedade”, a existência de “pessoas ruins”, “de índole criminosa” e 
de pessoas “convictas de que sua vida é no crime”. Os exemplos citados pelo 
operador A, segundo comenta, não são de pessoas que podem ser transformadas. É 
necessário frisar também que ​a reinserção do sujeito na comunidade é trabalho não 
somente do Estado, pois se trata de um tema de alta complexidade e que engloba o 
desejo de ser uma nova pessoa, à família e a sociedade. 
Em outro exemplo que este estudo traz, o juiz de execução penal “B” cita a 
diferença entre “bandidos” e “trabalhadores”. Há aqui, de novo, a presença de 
pessoas boas e pessoas ruins compondo a população carcerária. 
Dentre os operadores do direito entrevistados no estudo de caso aqui 
referenciado, foi constatado que todos defendem uma visão humanizada dos 
presídios, a necessidade do cumprimento da LEP, além da aproximação das famílias 
dos apenados e da sociedade. Então, notasse uma defesa da importância do 
cumprimento das necessidades básicas à vida da pessoa em cárcere e, também, na 
possibilidade de reintegração social através de politicas públicas humanizadas. 
Em suma, conforme este estudo de 2015 relata, dentre todos os operadores 
da execução penal entrevistados tiveram posicionamentos que se dividiam entre os 
que entendiam que a ressocialização dependia da vontade individual de 
transformação e, para outros, que a ressocialização dependia não apenas do desejo 
pessoal mas, também de oportunidades. 
A ideia de que o fim da ressocialização reforçaria o caráter meramente 
punitivo da pena imposta ao condenado, ficando estes apenas no cárcere, excluídos 
do convívio em sociedade, perdendo por completo sua autonomia e livre-arbítrio; 
tendo sua personalidade anulada – por extensão, sendo incapacitados de voltar a 
uma vida fora da prisão. 
27 
Tanto sob o prisma da integração social como do criminoso, a melhor prisão 
é, sem dúvida, a que não existe, uma vez que não há nenhuma prisão boa o 
suficiente para atingir a reintegração. 
Para Baratta (2007), nenhuma dessas duas posições é aceitável. Para o 
autor, a prisão, do modo como se apresenta, é de fato incapaz de promover a 
ressocialização; ao contrário, o que ela tem produzido realmente são obstáculos ao 
alcance deste objetivo. No entanto, apesar deste reconhecimento, sustenta que o 
intuito não deve ser abandonado, mas reconstruído e, nesta reconstrução, propõe a 
substituição dos termos ressocialização e tratamento pelo de reintegração social. A 
seu ver, ressocialização e tratamento denotam “uma postura passiva do detento e 
ativa das instituições: 
“​são heranças anacrônicas da velha criminologia positivista que tinha o 
condenado como um indivíduo anormal e inferior que precisava ser 
(re)adaptado à sociedade, considerando acriticamente esta como “boa” e 
aquele como “mau” (BARATTA, Op. cit., p. 3). 
Baratta também apresenta que a ressocialização precisa ser ponderada de 
acordo com o seu conceito sociológico, melhor dizendo, deve ser adquirida não por 
meio da pena, mas buscá-la mesmo com a presença dela, procedendo de modo a 
modificar as circunstâncias de estadia na penitenciária, de maneira menos precária. 
Além disso, dentre os argumentos utilizados, o autor ressalta a importância 
da individualização da reforma, considerando o presidiário não como um número e 
parte das estatísticas, não atuando de forma apenas coativa no fato do crime, mas 
sim, avaliando o indivíduo com relação às causas da sua criminalidade. 
Ainda, o autor explica que a infraestrutura penitenciária, com muros altos e 
grades, dificulta a ressocialização do detento, uma vez que o seu distanciamento 
impede a consciência de reabilitação social. Além disso, o autor comenta que o 
apoio médico e psicológico, bem como o trabalho e a instrução profissional são 
fundamentais para o retorno do criminoso a vida em sociedade. Do mesmo jeito que, 
segundo o autor, o referido acompanhamento deve se dar de maneira contínua para 
detentos e ex-detentos, ponderando as circunstâncias de vida em que vive, a família, 
a comunidade etc. 
28 
Inclusive, Baratta apresenta que é necessário que a comunidade incorpore a 
normalidade e a ressocialização dos presos, uma vez que há, atualmente, muito 
preconceito acerca dos ex-detentos, destacadamente em relações trabalhistas. Em 
oposição, o termo reintegração social pressupõe a igualdade entre as partes 
envolvidas no processo, já que requer a “abertura de um processo de comunicação 
e interação entre a prisão e a sociedade, no qual os cidadãos reclusos se 
reconheçam na sociedade e esta, por sua vez, se reconheça na prisão” (BARATTA, 
Op. cit., p. 3). 
 
 
 
4. Capítulo: Análise acerca das Políticasde Reinserção Social aplicadas no 
Presídio Regional de Pelotas em comparação com a Lei de Execução Penal 
 
4.1 A concepção da Lei de Execução Penal com vistas à Reinserção Social e 
sua (não) efetivação por completo. 
Desde 1933, com a apresentação do Código Penitenciário da República, que 
estancou na instauração do Estado Novo, efetuam-se discussões no Poder 
Legislativo Brasileiro sobre o tratamento que o Direito de Execução Penal deveria 
receber, sobretudo acerca dos objetivos da sanção penal e como esta agiria no 
tocante ao apenado. Nesse sentido, em meio ao ambiente progressista e com intuito 
de estímulo a cidadania que entre 1987 e 1988 subsidiária a construção da 
Constituição Federal de 1988, conhecida como “Constituição Cidadã”, concebeu-se, 
em 1984, a vigente Lei de Execução Penal (LEP), compartilhando e 
complementando com a Carta Magna e com o Código Penal os desígnios 
pertinentes e necessários ao Direito de Execução Penal. Além da observância à 
constitucionalidade e coordenação de esforços entre os diplomas legais nacionais, a 
confecção da LEP visa atender anseios internacionais sobre a manutenção dos 
Direitos Humanos da pessoa em situação de cárcere, contidos nas regras mínimas 
para o encarceramento da ONU, entre outros dispositivos internacionais dos quais o 
Brasil é signatário, como o Pacto de San Jose da Costa Rica. 
29 
A partir disso, formulou-se a atual diretriz sancionatória penal brasileira, a qual 
busca, além de cumprir a determinação judicial, possibilitar que o indivíduo objeto do 
processo penal tenha a possibilidade de mudar sua situação social através de um 
processo executório da pena, conforme artigo 1º da LEP, com seu intuito explicitado 
na exposição de motivos: 
“Contém o artigo 1º duas ordens de finalidades: a correta efetivação dos 
mandamentos existentes nas sentenças ou outras decisões, destinados a 
reprimir e a prevenir os delitos, e a oferta de meios pelos quais os apenados 
e os submetidos às medidas de segurança venham a ter participação 
construtiva na comunhão social.” (EXPOSIÇÃO DE MOTIVOS Nº 213, DE 9 
DE MAIO DE 1983) 
Desse modo, configura-se cenário para que a prestação de assistência 
assuma papel fundamental no processo de execução penal, impondo ao estado 
dever de propiciar assistência de cunho material, educacional, laboral, médica e 
social, albergando tais auxílios a partir do princípio da dignidade da pessoa humano, 
contido no artigo 1º da Constituição de 1988, decorrendo deste os direitos subjetivos 
que ocasionam o aporte, imprescindível, do Estado ao apenado, traduzido no artigo 
1º da Lei de Execução Penal. Assim, tal argumento é verificado no pensamento do 
autor Roig: 
“Levando-se em consideração que o Estado Republicano e Democrático de 
Direito brasileiro possui como fundamento a dignidade da pessoa humana 
(e sua correspondente humanidade das penas), compete aos juristas e às 
agências jurídicas impedir que a habilitação desmesurada e irracional do 
poder punitivo e executório – típicos do Estado de Polícia – prejudique os 
objetivos fundamentais de construção de uma sociedade livre, justa e 
solidária (art. 3º, I, da CF), erradicação da marginalização e redução das 
desigualdades sociais (art. 3º, III, da CF) e promoção do bem de todos (art. 
3º, IV, da CF). Surge daí a tese central da teoria redutora de danos na 
execução penal, aqui defendida: a existência de um autêntico dever 
jurídico-constitucional de redução do sofrimento e da vulnerabilidade das 
pessoas encarceradas, sejam elas condenadas ou não.” (ROIG, 2018, p.14) 
Assim, conforme exposto pelo professor Roig e de acordo com a teoria da 
redução de danos, o Estado assume papel precípuo na minimização dos abalos 
inerentes ao indivíduo em situação de cárcere, visto que, segundo o próprio autor, é: 
“A visão redutora da execução penal, aqui sustentada, está de acordo que a 
pena não pode ser um meio para resolver problemas, porque ela mesma é 
um problema social, que não anula o dano do crime (dialética hegeliana), 
mas sim duplica a danosidade do evento delitivo. De fato, conforme 
ventilado pela penologia revisionista, a pena nada mais é do que uma 
voluntária prática de exclusão social” (ROIG, 2018, p.15) 
30 
Posto isso, com o intuito da garantia dos direitos não atingidos pela pena, são 
produzidas Políticas Públicas decorrentes do artigo 10º da LEP, como o Plano 
Estratégico de Educação no âmbito do Sistema Prisional (PEESP): 
“As Diretrizes Nacionais para a Oferta de Educação para Jovens e Adultos 
em Situação de Privação de Liberdade nos Estabelecimentos Penais, que 
vinham sendo discutidas desde o Seminário Nacional de 2007, foram 
finalmente aprovadas – inicialmente pelo Conselho Nacional de Política 
Criminal e Penitenciária (CNPCP), em março de 2009, e depois pelo 
Conselho Nacional de Educação (CNE), em março de 2010. Em novembro 
de 2011, a presidente Dilma Rousseff assinou o Decreto Presidencial (nº 
7.626) que instituiu o Plano Estratégico de Educação no âmbito do Sistema 
Prisional (Peesp) com a finalidade de ampliar e qualificar a oferta de 
educação nos estabelecimentos penais” (INEP, 2018, p.12) 
Além do PEESP, há a Política Nacional de Saúde Prisional, instituída pela A 
Portaria Interministerial nº 1777, de setembro de 2003 
“O Plano Nacional de Saúde prevê a inclusão da população penitenciária no 
SUS, garantindo que o direito à cidadania se efetive na perspectiva dos 
direitos humanos. O acesso dessa população a ações e serviços de saúde é 
legalmente definido pela Constituição Federal de 1988, pela Lei nº 8.080, de 
1990, que regulamenta o Sistema Único de Saúde, pela Lei nº 8.142, de 
1990, que dispõe sobre a participação da comunidade na gestão do Sistema 
Único de Saúde, e pela Lei de Execução Penal nº 7.210, de 1984.” 
(Ministério da Saúde, 2003, p.10) 
Também foi dedicada atenção a produção de plano executório para 
compreender e efetivar os direitos da mulher nos estabelecimentos prisionais, 
materializado no “Projeto de Efetivação dos Direitos das Mulheres do Sistema Penal” 
(BRASIL, 2012). Ademais, outras planos estratégicos com vistas à correta 
manutenção de direitos e, posteriormente, propiciar a boa reintegração ao convívio 
social, sendo suscitados pela LEP, como a resolução conjunta 01/2014 do Conselho 
Nacional de Política Criminal e Penitenciária e Conselho Nacional de Combate à 
Discriminação (CNCD/LGBT), em consonância com os “Princípios de Yogyakarta”, 
busca estabelecer os parâmetros para o acolhimento da população LGBT em 
situação de privação de liberdade. Outra política que se deve citar é a lei 
10216/2001, que dispõe sobre a proteção e os direitos das pessoas portadoras de 
transtornos mentais e redireciona o modelo assistencial em saúde mental, servindo 
de subsídio de como atender esta parcela da sociedade quando em situação de 
cárcere. Como auxílio de assistência social, pode-se citar o auxílio reclusão, sendo 
este importante meio de promoção da rede de seguridade social, como cita o autor 
Rodrigo Roig: 
“Neste contexto, vale destacar que a concessão de

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