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Aula 02 Concepção de Estado no idealismo e no materialismo

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Geografia política, econômica e industrial 23
2
Concepção de 
Estado no idealismo 
e no materialismo
Introdução
O mundo é repleto de contradições. Desde os primórdios da humanidade, o ser 
social vive e é organizado sob lideranças. Neste capítulo, vislumbraremos a organiza-
ção social, tanto dos indivíduos em comunidade quanto aquela baseada em um con-
junto de leis advindas do Estado.
O Estado tem base legal constitucional com os três poderes (Legislativo, 
Executivo e Judiciário) constituídos e norteadores das políticas para o cidadão e a 
sociedade em geral.
Nós, como seres sociais e sociáveis, vivemos em uma organização de Estado para-
digmática1 e, sobretudo, em processo contínuo de construção, pois os elementos eco-
nômicos e sua dinâmica obrigam as pessoas a evoluir diante dessas transformações.
1 Modelo ou padrão a ser seguido ou sucessão de resultados controversos em função da organização social na qual 
estamos inseridos.
Concepção de Estado no idealismo e no materialismo2
Geografia política, econômica e industrial24
Nossas vivências têm base globalizante, pautadas no idealismo da sociedade ocidental, 
de cunho capitalista e baseada no consumo.
Em nosso imaginário, somos propositalmente condicionados a uma forma de idealis-
mo, de acordo com uma lógica que nos faz querer ser donos dos meios de produção. Esse 
é um erro grande do ponto de vista conceitual, pois compreendemos a sociedade com uma 
visão materialista.
Nesse sentido, averiguaremos a seguir, de maneira conceitual, essa temática 
e desmembrá-la.
2.1 O papel do Estado e suas nuances 
Nos estudos de geografia, a transformação do espaço geográfico é inerente a seu tempo 
histórico, fruto de rupturas temporais, haja vista a influência social, econômica e cultural 
de cada época. A construção do espaço geográfico, no século XXI, é norteada pelos agentes 
globalizantes, mas o Estado e o capitalismo são fundamentais nesse processo de ocupação 
e transformação.
A produção do espaço é consequência das atividades de cunho sociopolítico; assim, 
a organização espacial é resultado do trabalho humano acumulado ao longo do tempo 
(CORRÊA, 1998).
Nesse sentido, veremos o conceito de Estado e sua influência no processo de transfor-
mação do espaço geográfico, que é resultado dessas ações de maneira direta ou indireta.
Na concepção histórica, a forma de configuração do Estado como elemento regente da 
vida das pessoas e da sociedade nasce de uma evolução que é resultado de intensas lutas 
políticas. No caso específico do Brasil, para compreendermos esse conceito, esse processo 
ocorre desde a proclamação da República, em 1989. 
Como afirma Bresser-Pereira, “a história do surgimento do Estado moderno e da for-
mação do Estado-nação é uma história de grandes lutas políticas que deixam claro como as 
nações veem seu Estado – como seu instrumento fundamental de defesa de seus próprios 
interesses” (2017, p. 156). Nesse sentido, o Estado como o percebemos é fruto de disputas 
históricas, e os que o construíram buscam subterfúgios legais para atender a interesses pró-
prios, muitas vezes deixando questões sociais em segundo plano. 
Assim, o processo histórico de conquistas sociais e econômicas vem há muito tempo 
sendo construído com a intervenção estatal. As Constituições brasileiras que se sucederam 
desde a primeira, de 1934, vêm garantindo um Estado democrático regido por um conjunto 
de leis, que deram oportunidade a profundas transformações no país.
Assim, temos que o Estado é um sistema baseado em leis de natureza política e pode 
exercer influência sobre determinado território, sendo soberano.
A teoria política e a lei constitucional ainda conhecem somente o Estado como 
soberano. E nos últimos 200 anos esse Estado tem ficado cada vez mais forte e 
Concepção de Estado no idealismo e no materialismo
Geografia política, econômica e industrial
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25
dominante, transformando-se em um “mega-estado”2 [...] até agora é a única 
estrutura política que compreendemos, com a qual estamos familiarizados e que 
sabemos construir a partir de partes pré-fabricadas e padronizadas, um poder 
executivo, um legislativo, tribunais, serviços diplomáticos e as forças armadas. 
(DRUCKER, 1993, p. 81)
Nesse sentido, toda nossa organização social, pautada em um modelo histórico e/ou 
sociocultural, está a serviço do Estado. Nossa configuração territorial, as cidades, os estados, 
as formas de uso dos recursos minerais e energéticos são gerenciados pelas forças impositi-
vas do Estado.
Vejamos o que diz a Constituição Federal de 1988 (art. 1°) a respeito dos princípios fun-
damentais que regem a República Federativa brasileira (Quadro 1), com base em direitos 
indissolúveis aplicáveis a todo território nacional e em todas as esferas de governo:
Quadro 1 – Constituição Federal: princípios fundamentais. 
Soberania Todo o território nacional está protegido de qualquer invasão ou ocu-pação de estrangeiros.
Cidadania Todos têm direito ao livre arbítrio, garantidos os direitos ao trabalho, à justiça social e à empregabilidade, a votar e ser votado.
Dignidade da 
pessoa humana
É dever da nação garantir a seguridade social para que seus cidadãos 
tenham assegurados o princípio à vida.
Valores sociais 
do trabalho 
e da livre 
iniciativa
Estão assegurados um processo de formação, capacitação técnica, mo-
radia digna, emprego, de modo que cada indivíduo possa estar inseri-
do de maneira íntegra na sociedade.
Pluralismo 
político
A diversidade de ideias é importante num regime democrático, garan-
tindo os direitos da multiplicidade social de conceitos que sejam de 
interesse da sociedade e para o desenvolvimento.
Fonte: BRASIL, 1988. 
Nesse sentido, nossas vidas são regidas pelo Estado em todas as suas formas, desde os 
produtos que consumimos até a velocidade com que transitamos em locais públicos, além 
do modelo econômico de cunho capitalista.
Podemos entender, assim, que a formação social é baseada em um conjunto de regras, 
mesmo que norteada por demandas capitalistas, pois dá condições à construção territorial 
de cada sociedade. Nesse contexto, o território pode apresentar intensos contrastes geográ-
ficos, havendo uma coalizão na forma de se pensar essa estrutura do ponto de vista socioe-
conômico, mas dentro de uma lógica organizacional. Vejamos o seguinte:
Estado e estado-nação, sociedade civil e nação, classes e as coalizões de classe 
são conceitos políticos situados no quadro da revolução capitalista que tende 
a acontecer em cada país, ou seja, da formação do estado-nação e da revolução 
2 “Os cidadãos possuem somente aquilo que o Estado expressa ou tacitamente lhes permite possuir” 
(DRUCKER, 1993, p. 88).
Concepção de Estado no idealismo e no materialismo2
Geografia política, econômica e industrial26
industrial nesse país. Cada povo que partilha uma etnia e uma história comum 
busca se constituir em nação, controlar um território e construir seu próprio 
Estado, dessa forma se constituindo em estado-nação. (BRESSER-PEREIRA, 
2017, p. 156)
Essa configuração de regência é permitida porque em muitos países, como no caso do 
Brasil, o Estado-nação tem uma organização oligárquica histórica. Desde as capitanias he-
reditárias, as regiões geográficas da nação estão sob o domínio de grupos familiares muito 
arraigados, ou seja, as mesmas famílias detêm a maior parte do capital, semeiam indústrias 
a seu bel prazer e se fortalecem, muitas vezes favorecendo a formação de cartéis3 ligados a 
grupos políticos com interesses próprios.
Devemos ter clareza: nos estudos geográficos, compreender a importância do Estado na 
organização sociocultural e histórica faz-se necessário, pois são as políticas econômicas que 
podem dar suporte ao desenvolvimento, desde que sejam utilizadas com base em critérios 
determinados e em áreas específicas de crescimento.
Outrossim, o Estado é responsável pelo saneamento das finanças públicas, que devem 
ser administradas com padrões de razoabilidade às necessidades do território. Por exemplo,uma grande área de proteção ambiental não deve (e nunca deveria) ser liberada para ou-
tros fins sem um estudo prévio dos impactos inerentes ao uso e conservação da área, além 
das obrigações de seguir os acordos nacionais e internacionais. Essas áreas de preservação 
permanente têm como principal objetivo conservar os processos ecológicos e garantir a qua-
lidade ambiental.
Nesse sentido, o Estado atua na gestão pública, na organização, na formulação e refor-
mulação de leis, de acordo com a necessidade social das localidades. Mas, em muitos casos, 
ele atua também como um empresário, diversificando investimentos. 
O Estado age, então, na construção dos espaços, respondendo a interesses socioeco-
nômicos, mas reconfigurando o que for necessário ou atendendo às formas de desenvolvi-
mento econômico. Isso possibilita a modificação do espaço de vivência, de acordo com as 
especificidades locais. As sociedades coletoras, por exemplo, nunca extrapolam o limite de 
suas demandas alimentares e, por vezes, modificam esse conjunto espacial para garantir a 
sobrevivência do grupo. Já nos centros urbanos contemporâneos, as condições de estrutura 
são muito diferentes e complexas, exigindo uma demanda muito maior de recursos e novas 
ordenações. Vejamos: 
Enquanto antigamente cada homem, vivendo em autossubsistência, podia cons-
cientizar outro (e se fazer conscientizar) da maioria das suas práticas referin-
do-se a um pequeníssimo número de conjuntos espaciais (para o essencial, o 
território, de sua comunidade), hoje é preciso, para viver em sociedade, utilizar 
um grande número de conjuntos espaciais, mais ou menos bem construídos. 
(LACOSTE, 2005, p. 190)
3 Acordos comerciais entre empresas para formação de preços de forma coordenada, a fim de eliminar 
a concorrência.
Concepção de Estado no idealismo e no materialismo
Geografia política, econômica e industrial
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Atualmente, as organizações sociais dos centros urbanos, com seu ordenamento, suas 
formas e funções específicas, devem obrigatoriamente ser fiscalizadas, gerenciadas pela 
ação do Estado, o que em outros tempos não se fazia necessário.
Nesse contexto, à medida que as sociedades vão se estruturando, surgem novos postos 
de trabalho, novas demandas comerciais e industriais e há então a necessidade de replaneja-
mento territorial e gestão da vida social por parte do Estado. Isso porque
Em cada Estado-nação existe uma “sociedade nacional ampla”, ou seja, uma so-
ciedade no sentido mais amplo do termo, incluindo as relações de família, afe-
tivas, profissionais e culturais, além das mais especificamente políticas, existe 
um sistema de intermediação política entre o Estado e essa sociedade, que é 
constituído de instituições formais como os partidos políticos, os sindicatos 
e as associações de classe, e de associações políticas informais, que propomos 
serem a nação, a sociedade civil e as coalizões de classe. (BRESSER-PEREIRA, 
2017, p. 156)
Esse agrupamento de pessoas de certa forma é indissociável, já que, mesmo estando 
sob a organização do Estado, pertencemos a um grupo de indivíduos, na nossa família, no 
nosso bairro, na nossa classe de trabalho. Nesse contexto, muitas vezes esquecemos de nosso 
papel social, priorizando nossas individualidades e, quando isso ocorre, comprometemos 
um número substancial de pessoas.
Um exemplo claro de negligência social ocorreu em novembro de 2015, com o rompi-
mento da barragem de Fundão, no município de Mariana, no estado de Minas Gerais. A 
falta de fiscalização do Estado, ou a ingerência de uma grande empresa colocou em risco 
a vida de pessoas e ocasionou grandes perdas ambientais, comprometendo a biota4 local. 
Outrossim, essa inadimplência, tanto do Estado quanto da multinacional responsável, afe-
tou diretamente a vida de muitos por um longo período de tempo, cujos resultados ainda 
não são inteiramente conhecidos.
O desastre de Mariana afetou um grande rio brasileiro, o Rio Doce, e prejudicou as con-
dições sanitárias e ecológicas ao longo de sua extensão. 
O Estado não deve ser omisso diante dos interesses sociais. É necessário imputar as 
responsabilidades à empresa, nesse caso, pelas causas e consequências da transformação do 
espaço geográfico. Cabe a ele tomar as medidas cabíveis para que sejam recuperadas tanto 
a qualidade ambiental quanto a qualidade socieconômica.
2.2 A intervenção do Estado nas 
relações econômicas 
Ao observamos o crescimento econômico de alguns países nas últimas décadas, per-
cebemos que a intervenção do Estado é inerente às demandas industriais de exploração 
mineral e de energia.
4 Trata-se do conjunto de seres vivos que compõem ou habitam determinada região.
Concepção de Estado no idealismo e no materialismo2
Geografia política, econômica e industrial28
Um exemplo foi o caso da construção da usina de Três Gargantas, na China, o maior 
lago artificial já erigido, que atendeu a uma demanda específica da economia. O Estado chi-
nês, como gestor social, usou argumentos ambientais – como o controle da vazão de cheias 
dos três maiores rios desse país – para justificar a construção de uma usina hidrelétrica. Isso 
permitiu dar continuidade ao crescimento industrial necessário.
Nesse sentido, as demandas sociais e históricas foram levadas em consideração como 
consequência do desenvolvimento, com a realocação de pessoas e parques arqueológicos 
em outras áreas e vilas construídas. As demandas ambientais foram compreendidas e estu-
dadas, mas a construção da usina não foi interrompida.
Podemos perceber, assim, que as demandas econômicas são maiores e norteiam o pro-
cesso de desenvolvimento. Na estrutura do Estado, são necessários órgãos de fomento aos 
investimentos financeiros, possibilitando a aplicação deles em infraestruturas e serviços. 
Atualmente, vivemos em uma sociedade constituída e formulada no contexto capitalis-
ta, modelo liberal com desoneração das responsabilidades do Estado. Entretanto, a fórmula 
do progresso é baseada na supervalorização do capital sobre as demandas sociais.
As demandas de território e o saneamento global dos recursos financeiros apresen-
tam-se como um conjunto de normas que regem as economias capitalistas, muitas vezes 
diminuindo investimentos em serviços públicos básicos, como hospitais e escolas, e modifi-
cando, assim, as necessidades da estrutura social ou as que vigoram em determinado tempo 
histórico (SANTOS, 2008). 
Nesse contexto, o emprego do “capital homogeneizador agrava heterogeneidades e 
aprofunda as dependências. É assim que ele contribui para quebrar a solidariedade nacio-
nal, criando ou aumentando as fraturas sociais e territoriais e ameaçando a unidade nacio-
nal” (SANTOS, 2008, p. 56).
O mesmo capital que gera emprego, transforma a configuração espacial e promove as 
disparidades sociais, muitas vezes aprofundando-as. Resta ao Estado fazer o saneamento 
das finanças ou aplicar políticas econômicas que minimizem os efeitos sobre a fome, a se-
guridade social etc. Isso já foi realizado por meio do New Deal5, nos EUA, e pelas forças de 
coalizão no pós-Guerra para a reconstrução do Japão e na Alemanha, fortalecendo ainda 
mais as potências imperialistas e os grandes grupos oligárquicos.
A Segunda Guerra, por mais cruel que tenha se apresentado, com consequências sociais 
jamais imaginadas, não foi muito diferente de outros períodos de crises mundiais. Nela ape-
nas se configurou avanços primordiais nas tecnologias bélicas, que se fortalecem no atual 
modelo industrial e econômico. No seu âmago, a guerra teve e tem os mesmos interesses dos 
períodos das monarquias absolutistas. Vejamos: “os Estados-nação nascerão mais tarde, na 
França e na Inglaterra, em torno das monarquias absolutas, que se constituem na Europa de-
pois da revolução comercial, da emergência de uma burguesia associada ao monarca abso-
luto, e das lutas fratricidas que se sucederam à Reforma” (BRESSER-PEREIRA, 2017, p. 158).
5 Com o objetivo de sanar as consequências da Crise de 1929, o governo americano criou, pormeio de 
políticas socioeconômicas, novas áreas de investimento, gerando empregos em massa.
Concepção de Estado no idealismo e no materialismo
Geografia política, econômica e industrial
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Mesmo com necessidade de lucro incessante, poder e glória, os Estados têm caráteres 
mais ou menos difusos, interesses comuns e, na maioria das vezes, relegam a devida pro-
teção aos que podem lhe dar mais poder: os cidadãos. Do ponto de vista da gestão macro 
da sociedade, é do Estado a responsabilidade de garantir o acesso à saúde, à educação e à 
formação técnica em todos os níveis.
Além disso, o Estado tem seu papel de representação, com fundamentos próprios de 
regulação do modelo econômico, porém isso não pode tirar do cidadão seus benefícios em 
uma democracia social. 
No Brasil, o emprego do capital “vadio” – capital de exploração, garantido por meio de 
investimentos em juros e busca de dividendos – tem como subterfúgio a geração de empre-
go por meio das plantas produtivas industriais, com o argumento de que novos postos de 
trabalho são ofertados e impostos são arrecadados. Enquanto os governos usam dessa falá-
cia, as empresas conseguem anos de isenções de impostos e toda estrutura para instalação 
de suas unidades de produção. Com casos absurdos de concorrência fiscal, os Estados ofe-
recem subsídios às empresas, não levando em consideração as necessidades da população. 
Considerando isso, vejamos o seguinte:
A revisão de alguns registros históricos e da mídia aponta que [...] as guerras 
fiscais teriam ocorrido tipicamente em apenas dois momentos históricos: na se-
gunda metade dos anos [19]60, quando se iniciam os conflitos decorrentes dos 
incentivos fiscais e na década dos [19]90, principalmente a partir de 93/94, quan-
do se generaliza a concessão de incentivos estaduais, envolvendo principalmen-
te as regiões Sul e Sudeste em torno dos grandes projetos do setor automotivo. 
(ALVES, 2001, p. 5)
Podemos então observar as distorções entre o entendimento do justo e do manter. Ao 
conceder garantias às empresas, as questões sociais são deturpadas em benefício do capital.
Vale lembrar que nos dias atuais estamos vivenciando uma época de transição. Muitas 
políticas sociais foram transformadas em políticas neoliberais, com intensa abertura econô-
mica, privatizações e concessões de recursos minerais e energéticos aos interesses interna-
cionais. As consequências, a longo prazo, ainda parecem um tanto quanto duvidosas.
2.3 Uma visão da dialética do materialismo 
Quando éramos crianças, a percepção que tínhamos das coisas, dos objetos e das pessoas 
eram instigantes e misteriosas; o mundo era visto como um elemento sobrenatural, e as forças 
da natureza como destrutivas. Qual criança não olhou para o céu e se imaginou comendo 
algodão-doce ou pensou quão catastrófico seria se uma nuvem caísse sobre nossas cabeças?
A ânsia por descobertas do ponto de vista da ciência é mais ou menos igual à das crian-
ças, pois a curiosidade própria delas é também a dos cientistas. Assim, tanto as crianças 
quanto os cientistas buscam novas experiências e, por meio delas, suas hipóteses podem ou 
não ser comprovadas e vivenciadas. 
Concepção de Estado no idealismo e no materialismo2
Geografia política, econômica e industrial30
Por um longo período, por exemplo, a Terra foi tida como plana, e todos aqueles que 
discordavam dessa ideia eram punidos por grupos que utilizavam suas crenças como forma 
de comprovação dos elementos de formação do Universo. Portanto, o mundo sempre foi es-
tudado por inúmeros cientistas com enfoques diferentes, e a isso damos o nome de dialética 
do conhecimento6. Desse modo, a ciência busca amplo aprofundamento conceitual, discutindo 
formas e conceitos próprios para aplicá-los quando for o caso. Porém, em alguns momentos, 
os aplicam com finalidades difusas, como as invenções durante a Segunda Guerra Mundial.
As ciências tomam vulto no idealismo do imaginário humano, tentando compreender 
e dar sentido ao universo do desconhecido: a botânica, no conhecimento das plantas; a bio-
logia, na compreensão dos animais; a física na concepção dos materiais e de tudo que eles 
possam representar, incluindo a composição da Terra e do sistema solar.
Outro elemento que impulsionou o avanço da ciência foi a religiosidade. O medo do 
desconhecido levou a humanidade à intenção de compreender o imaterial, algo de que as 
ciências, até o presente momento, não deram conta, por terem clareza de que os elementos 
“palpáveis”, mensuráveis, ou cartesianos, são os que podem ser comprovados. Em outras 
palavras, a ciência trata da negação de uma energia desconhecida, ainda envolta em para-
digmas, pois não há como medi-la e comprová-la cientificamente. 
Desse modo, a ciência busca configurar-se nos elementos matemáticos conceituais na 
forma de construir o mundo, enquanto as populações têm buscado “força” em uma energia 
própria, que não pode ser representada pelos estudos sistemáticos da ciência. “Não existe 
uma concepção do mundo admitida por todos, como existe uma Física, uma Química, uma 
Botânica. Pelo contrário, existem numerosas concepções de mundo, opostas umas às outras 
e que se combatem reciprocamente. O que para um é verdade, para outro é falso e vice-ver-
sa” (THALHEIMER, 2014, p. 3).
As observações anteriores nos apresentam uma ampla discussão de postulados, já 
que as ciências tratam de explicar modelos ou formulações teóricas próprias a cada área 
do conhecimento e sua dialética, enquanto as religiões dão conta do universo espiritual 
do ser humano.
As convivências sociais e econômicas não são e nunca serão harmoniosas, pois a so-
ciedade vive em intensas contradições e em função de muitos elementos paradigmáticos. 
Assim, o materialismo dialético nasceu “de uma ou de várias concepções do mundo que 
lhe eram diametralmente opostas, chegando, assim, à aplicação dessa outra característica 
fundamental: a ideia de que o desenvolvimento se processa por meio das contradições e que 
uma coisa se desenvolve sempre partindo de sua contrária” (THALHEIMER, 2014, p. 3). 
Isso porque nossas crenças e valores são próprios do nosso modo de vida e de nossa cultura. 
No quadro a seguir, apresentamos uma dialética de classes do materialismo.
6 Buscar a comprovação da verdade com base na ciência e na ampla discussão, verificando hipóteses 
com base em processos teóricos e experimentação.
Concepção de Estado no idealismo e no materialismo
Geografia política, econômica e industrial
2
31
Quadro 2 – Dialética do materialismo histórico.
Proletariado
A classe dos trabalhadores assalariados modernos que, não tendo 
meios próprios de produção, são obrigados a vender sua força de tra-
balho para sobreviverem.
Burguesia Classe dos capitalistas modernos, proprietários dos meios de produção social, que empregam o trabalho assalariado.
Fonte: RODRIGUEZ, 2013, p. 59. Adaptado. 
Nesse contexto de contraste social, os trabalhadores, com o fruto da sua mão de obra, 
dão base a uma sociedade burguesa, produzem para o capitalismo e ele continua seu ciclo 
de acúmulo de riquezas, explorando o proletário e os meios de produção.
Em épocas conflituosas, no Brasil e no mundo, com influência da globalização, cons-
truindo uma sociedade cada vez mais consumista, o papel do capitalismo é pujante. 
Sobretudo há, no contexto da dialética do materialismo, o casamento entre a técnica e a 
ciência, compreendendo que essa relação no período da história moderna é condicionada 
pelos contrastes mercadológicos.
Como afirma Milton Santos, “a produção de uma materialidade dá condição à produção 
econômica” (2008, p. 52), fortemente arraigada nas potências imperialistas que fomentam o 
American way of life7. Ou seja, estamos nos habituando a viver do jeito ocidental, consumindo 
massivamente, alimentando-nos rapidamente, sobrepondo o trabalho à qualidade de vida.
Atributos conceituais na forma de exploração do trabalho sempre foram e sempre serão 
motivos conflitantes do ponto de vista epistemológico. No Brasil,estamos passando por um 
período intrigante, já que classes sociais – como a classe C – ascenderam, em função das me-
lhorias econômicas do país entre 2002 e 2014. Esses novos consumidores da classe C, agora 
com poder de compra e ascensão salarial, influenciados por um movimento internacional, 
buscam melhores condições de vida, tendo como base o combate à corrupção. Do ponto de 
vista econômico, tal atitude é importante para um país que chegou a ser a 6° economia mun-
dial em 2013 e continua entre as dez maiores do mundo.
A classe trabalhadora sempre esteve envolta em conflitos, sendo historicamente explo-
rada, pois não lhe foram proporcionadas as prerrogativas das classes dominantes. Podemos 
observar, assim, que:
O fenômeno aqui descrito é claro: o proletariado surge como classe antagônica da 
burguesia. A construção da classe operária acontece em decorrência da constante 
e crescente exploração por parte da burguesia de uma massa de pessoas que, 
aos poucos, vai tomando a forma de uma classe. O proletariado surge, então, na 
medida em que passa a possuir interesses de classes opostos aos da burguesia. 
7 No atual processo de globalização, as pessoas têm absorvido o estilo estadunidense de viver, com-
prar e se alimentar; somos uma sociedade de consumo baseada no estilo e na cultura dos norte-ame-
ricanos.
Concepção de Estado no idealismo e no materialismo2
Geografia política, econômica e industrial32
É esse enfrentamento de interesses que acaba fazendo com que vários trabalha-
dores separados formem uma verdadeira classe social, unida na luta teórica e 
prática contra os interesses de uma burguesia que os explora. (RODRIGUEZ, 
2013, p. 60)
Na dialética materialista, as lutas de classes sempre estiveram presentes, ora influen-
ciadas pelos sistemas político-econômicos, ora pelas religiões. As diferenças entre as classes 
sociais são um dos problemas enfrentados pelos governantes, mas é papel primordial do 
Estado contribuir com políticas públicas para diminuir esses contrastes históricos.
Vejamos mais uma vez o caso da China. O camponês, em um modelo econômico que 
passou por profundas transformações políticas, foi “esquecido” no campo por duas ou três 
décadas. No entanto, com a mudança do modelo educacional e econômico do país, surge 
uma configuração nacional diferente, impulsionada pela revolução cultural8. A exigência 
da sociedade pela modernização do sistema e valorização do ser humano resultou em uma 
transformação econômica. Assim, temos uma população ativa e participativa no processo:
A revolução cultural buscou incisivamente estimular a iniciativa das massas 
populares, principalmente àqueles que não pertenciam formalmente ao Partido 
[Comunista], por meio da queda das barreiras burocráticas, que era o grande 
obstáculo à participação política. O fervor revolucionário também foi estimula-
do, pois os dirigentes do Partido acreditavam que era a melhor forma de aumen-
tar a produtividade. (OLIVEIRA, 2008, p. 4)
Com esse exemplo, podemos perceber que as sociedades, de tempos em tempos, 
emergem como força maior do Estado. Esse “gestor-mediador”, de modo mais ou menos 
conflituoso, acaba tendo de escutar as necessidades sociais, já que coibir violentamente 
não cabe bem aos olhos do capital internacional, que necessita da exploração da mão de 
obra para se perpetuar.
Conclusão 
Conforme estudamos, a história do homem moderno é pautada na construção de dis-
sabores entre ciência e técnica mercantilista, pois a sociedade, dicotômica por si só, tem bus-
cado favorecimentos econômicos em detrimento das garantias sociais. O capitalismo, que é 
baseado na sociedade de consumo, tem modificado os hábitos das pessoas em um mundo 
globalizado, em que se vive em função do trabalho e de melhores salários – seguindo uma 
forma de pensamento liberal clássica. 
Para essa condição mudar, são necessárias políticas de valorização do trabalhador em 
detrimento do capital. A melhoria da qualidade de vida é intrínseca à redução das jornadas 
de trabalho, com melhores salários e mais tempo para a família e para o lazer.
8 “O governo promoveu uma campanha para persuadir camponeses e operários a se agruparem em 
torno do Partido Comunista Chinês, perseguindo todos aqueles que se opunham a seus ideais” (OLI-
VEIRA, 2008, p. 6).
Concepção de Estado no idealismo e no materialismo
Geografia política, econômica e industrial
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No Brasil, a atual liberalização da economia ocorre de modo conturbado, pois as crises 
sucessivas no modelo econômico do país resultam em demandas sociais que acabam por ser 
consideradas como de responsabilidade do Estado. 
Nesse sentido, essas transformações econômicas, como a privatização generalizada, de-
vem transfigurar o modelo econômico, principalmente de nações como o Brasil, que têm um 
resgate social baseado em um Estado assistencialista.
Outrossim, a economia mundial, principalmente nos países emergentes, passa por um 
período de complexas relações políticas, que em médio prazo podem se configurar em um 
estado geral de recessão, reforçando ainda mais a luta de classes histórica entre trabalhado-
res proletários e detentores dos meios de produção, aprofundando as desigualdades.
 Ampliando seus conhecimentos
Todos os dias nos deparamos com um conjunto de regras sociais. A lombada 
eletrônica, o radar, o voto obrigatório etc. são parâmetros norteadores da nossa 
organização em sociedade. Essas regras são determinadas e garantidas por lei 
e resultam de contextos históricos e culturais, haja vista que os “seres sociais” 
são ordenados, seguem princípios normativos de comando e organizacionais. 
No Brasil, a Constituição Federal de 1988 prevê direitos e garantias fundamen-
tais válidos a todos os cidadãos. Especificamente no artigo 5° da Carta Magna, 
são apresentados alguns fundamentos importantes relacionados à liberdade, à 
igualdade e à segurança dos brasileiros, conforme destacamos no trecho citado 
a seguir. 
Dos direitos e deveres individuais 
e coletivos
(BRASIL, 1988) 
Art. 5°. Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natu-
reza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a 
inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à 
propriedade, nos termos seguintes: 
I – homens e mulheres são iguais em direitos e obrigações, nos termos 
desta Constituição;
II – ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão 
em virtude de lei;
III – ninguém será submetido a tortura nem a tratamento desumano 
ou degradante;
Concepção de Estado no idealismo e no materialismo2
Geografia política, econômica e industrial34
IV – é livre a manifestação do pensamento, sendo vedado o anonimato;
V – é assegurado o direito de resposta, proporcional ao agravo, além da 
indenização por dano material, moral ou à imagem;
VI – é inviolável a liberdade de consciência e de crença, sendo assegurado 
o livre exercício dos cultos religiosos e garantida, na forma da lei, a prote-
ção aos locais de culto e a suas liturgias;
[...]
 Atividades
1. Construa um quadro comparativo da dialética de classes do materialismo histórico.
2. Como podemos compreender a evolução do pensamento científico nas sociedades e 
o papel das religiões do ponto de vista econômico?
3. Explique o American way of life e cite situações que poderão envolver o brasileiro nas 
próximas décadas no tocante a esse conceito.
4. No seu cotidiano, você observa a dialética entre proletários e capitalistas? Explique.
 Referências
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Dissertação (Mestrado) – Instituto de Economia, Universidade Estadual de Campinas. Campinas, 2001.
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Janeiro: Revista dos Tribunais, 2014.

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