Buscar

ESTUDO DE CASO - SIEMENS

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 8 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 8 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

AULA 5 - GOVERNANÇA CORPORATIVA 
Professora Sirlei Pitteri 
 
 1 
ESTUDO DE CASO - SIEMENS1 
 Fundada em 1847, a Siemens é a 4a maior empresa alemã, atuando nos segmentos de 
energia, automação, sistemas de mobilidade urbana tais como VLT e trens, além de aparelhos de 
diagnósticos. Em 2015, a empresa registrou um faturamento da ordem de EUR 75,6 bilhões, 
possuindo 289 plantas produtivas em vários países, contado com 348 funcionários. 
 Nos anos de 2003 e 2004, alguns procuradores italianos identificaram o pagamento de 
suborno para uma empresa de energia italiana. Os investigadores identificaram também lavagem 
de dinheiro. Foram ainda identificados casos de corrupção na Grécia e a formatação de falsos 
negócios nos Estados Unidos com um hospital de Illinois. 
 A empresa foi multada e teve que restituir o valor de US$ 1,6 bilhão para as autoridades 
dos Estados Unidos e Alemanha. Foram demitidos cerca de 500 funcionários implicados nos 
esquemas de corrupção. O presidente da empresa e o presidente do conselho de administração 
pediram demissão em abril de 2007. 
 Com a mudança da legislação em 2011, no Brasil, que garante imunidade administrativa e 
criminal, tanto para a empresa quanto para os executivos que colaborem com a investigação, a 
Siemens entrou em acordo com o CADE2 e se comprometeu a denunciar o esquema de cartel do 
qual faz parte. 
 Após dois anos de investigação, os processos judiciais contra a Siemens foram concluídos 
na Alemanha e nos Estados Unidos e a empresa teve sua imagem abalada negativamente. 
 
 
 
 
 
1 Extraído de MEIRINHO, M. R. S. S. FALHAS DE GOVERNANÇA: LEVANTAMENTO DE CASOS NO MERCADO DE 
CAPITAIS. Fundação Getúlio Vargas (FGV). Escola Brasileira de Administração Pública e de Empresas. Dissertação 
de mestrado executivo em gestão empresarial.. Rio de Janeiro, 2006. Disponível em: 
http://bibliotecadigital.fgv.br/dspace/handle/10438/17721 
2 Conselho Administrativo de Defesa Econômica (CADE)	
1. PROPRIEDADE – organização do capital social – como o capital social está distribuído. 
2. PRINCÍPIOS - base dos códigos de conduta que orientam diretrizes e políticas corporativas; 
precisam ser internamente alinhados e externamente percebidos. 
3. PROPÓSITOS – qualidade e coerência do planejamento estratégico – alinhamento entre 
visão e missão buscando o retorno total de longo prazo dos investimentos na empresa; 
4. PAPÉIS - diferentes atribuições de proprietários, conselheiros e gestores; independência e 
clareza nas funções. 
5. PODER – estilo de liderança – o que vale – indicação / mérito 
6. PRÁTICAS – procedimentos e políticas a serem seguidas por todos. 
7. PESSOAS – quem define as práticas são as pessoas. É a sustentação de todo o sistema - 
condutoras do conjunto de objetivos da empresa; 
8. PERPETUIDADE - depende dos sete pês anteriores - objetivo-síntese da empresa. 
 
AULA 5 - GOVERNANÇA CORPORATIVA 
Professora Sirlei Pitteri 
 
 2 
2016 
 
https://economia.estadao.com.br/noticias/governanca,casos-de-corrupcao-exigem-mudancas--radicais-nas-empresas,1854612 
 
 Reformular-se. Essa foi a medida adotada pela Siemens após protagonizar um dos 
maiores escândalos de corrupção da Alemanha. Investigada por autoridades do seu país e dos 
EUA, a companhia pagou, em 2007, uma multa de US$ 1,6 bilhão por subornar autoridades de 
diversos países para conseguir contratos atrativos. Nesse mesmo ano, a empresa tomou um 
importante passo: consolidou seu departamento de governança corporativa e adotou um sistema 
de compliance bem estruturado. 
 Além do pagamento da multa, alguns passos foram adotados. A Siemens colaborou com 
as investigações das autoridades, afastou funcionários corruptos e assumiu um programa de 
fiscalização e regras. Tais medidas fizeram com que a empresa se tornasse um modelo de 
governança corporativa, mesmo após o escândalo. “Não tivemos vergonha de assumir nosso erro, 
o que talvez seja um dos grandes desafios do mercado brasileiro”, pontua Reynaldo Goto, diretor 
de compliance do grupo no Brasil, onde fraudes em contratos de trens de São Paulo foram 
descobertas em 2013 e denunciadas ao Ministério Público. 
 Estratégia semelhante tem sido tomada pela Petrobrás, cujos contratos e membros são 
investigados pela operação Lava Jato. Em 2015, a diretoria de Governança, Risco e 
Conformidade foi criada e em dezembro do mesmo ano o hotsite “Daqui pra frente” foi lançado 
para executivos responderem aos principais questionamentos do público. A estatal também 
realiza pesquisas com o público externo. “Os resultados apurados contribuem para nortear as 
ações da companhia em busca da recuperação de sua imagem”, afirma a empresa. 
 Recuperação. Mas voltar a ter credibilidade não é uma tarefa fácil nem rápida. “A 
empresa pode errar, mas o que determina se ela vai resistir é como se comporta durante e depois 
da crise”, explica o professor de Gestão de Crise da ESPM, Leonardo Mancini. 
 A primeira coisa a se fazer é investigar, preferencialmente com equipes independentes. 
“Um escândalo é um tipo de crise diferente. É importante investigar antes para não passar 
qualquer informação equivocada”, diz Renato Franco, sócio da consultoria Íntegra Associados, 
responsável pela recuperação da Parmalat Brasil. Irregularidades cometidas pela empresa italiana 
se tornaram públicas em 2003. 
 “Concomitante à apuração, é preciso um melhoramento das medidas de governança. É 
primordial fazer uma análise de riscos, tanto do que aconteceu como do futuro”, diz Alessandra 
Gonsales, advogada especializada em compliance e sócia do escritório WFaria. "O compliance é 
contínuo, pois o fraudador sempre busca outras formas." 
 O afastamento dos envolvidos também é fundamental, segundo os especialistas, para 
resgatar a credibilidade. Mas muitos desafios se sobrepõem, como lidar com os nervos da equipe, 
que teme demissões, e dos acionistas, que se preocupam com a rentabilidade dos seus 
 
AULA 5 - GOVERNANÇA CORPORATIVA 
Professora Sirlei Pitteri 
 
 3 
investimentos. "Além de informar os fatos relevantes, é importante a empresa mostrar aos 
acionistas que ela está se mexendo", diz Alessandra. 
 “A única coisa que diminui a ansiedade e a queda das ações é a melhora da percepção, 
além de rapidez e clareza nas informações”, afirma Franco. 
 Mais do que tudo, a empresa precisa se reavaliar. “É preciso olhar para dentro e 
redescobrir seus potenciais e trabalhar nisso”, destaca o diretor da Siemens. 
 
2019 
 
https://www.jota.info/opiniao-e-analise/artigos/crime-organizacional-e-corrupcao-endemica-siemens-e-o-amor-pela-russia-04112019 
 
 Clichê ou sistema? O Brasil não está sozinho no pódio das economias emergentes onde 
membros da esfera pública e privada mantém relações para lá de próximas. Quem quiser fazer 
negócios na Federação Russa deve antecipar que, mais cedo ou mais tarde, será convidado a 
pagar. 
 A corrupção continua endêmica na Rússia e em grande parte dos países que pertenceram 
à União soviética. No Índice de Percepção da Corrupção da Transparência Internacional, a Rússia 
apareceu, durante décadas, na parte mais baixa da tabela do ranking mundial, atualmente em 
138º lugar entre 180 (o Brasil, por exemplo, está em 105º lugar). 
 Apesar dos esforços anticorrupção, não há melhorias à vista. No entanto, um detalhe 
importante: algumas empresas estrangeiras não se acanham e continuam a investir no mercado 
russo. 
 Nos escândalos de corrupção, as empresas que operam na Rússia referem-se 
regularmente a infratores individuais dentro da sua própria força de trabalho, que supostamente 
agiram contra a vontade do grupo em benefício próprio. 
 No entanto, há uma suspeita generalizada de que estes indivíduos muitas vezes agem 
apenas como bodes expiatórios, são subterfúgios para proteger a empresa (vista como entidade) 
de novas acusações e também para manter a aparência de sucesso dos esforços anticorrupção 
do governo e das empresas. De qualquer forma, a opinião de queé necessário pagar subornos 
para sobreviver como empresa no mercado russo perdura. 
 Mas não são apenas os costumes corruptos que explicam o envolvimento repetido de 
multinacionais em escândalos. Gostaríamos de mostrar que o crime organizacional e um 
ambiente propício à corrupção, como o que encontramos na Rússia, podem fortalecer-se 
 
AULA 5 - GOVERNANÇA CORPORATIVA 
Professora Sirlei Pitteri 
 
 4 
mutuamente, uma vez que ambos têm por base essencial redes de poder informais que podem se 
conectar sem grandes atritos. 
Os negócios da Siemens na Rússia 
 A Siemens é considerada um dos exemplos mais proeminentes dentre as empresas 
confrontadas com uma longa lista de acusações de suborno na Rússia. E esta tendência não 
desapareceu recentemente, como se verifica no caso da divisão de tecnologia médica da 
empresa, em que autoridades alemãs tomaram conhecimento dos cartéis de preços da Siemens 
na Rússia. 
 De acordo com informações do portal de notícias SPIEGEL, os arquivos do Ministério 
Público de Augsburgo sugerem que os tomógrafos computadorizados e outros produtos de 
tecnologia médica foram “comercializados” através do suborno sistemático de médicos e outros 
funcionários de hospitais 
O que está claro até agora é que um empresário associado à Siemens subornou vários 
funcionários públicos entre 2007 e 2011 no intuito de conquistar clientes para produtos de 
alto custo da Siemens. 
 De acordo com as próprias declarações do empresário, este atuou como intermediário 
entre a Siemens e funcionários públicos russos. Ainda não está claro se estes funcionários 
facilitaram a concessão de licenças ou se as proveram através de subterfúgios em contratos 
governamentais. 
 Há suspeitas de que parte do dinheiro beneficiou o partido governista “Rússia Unida”. 
 Embora funcionários públicos na Rússia já tenham sido condenados, o processo contra o 
empresário confesso foi suspenso na Alemanha. A própria Siemens se dissociou publicamente 
das acusações de suborno sistemático. Segundo reportagens da mídia, a Comissão de Valores 
Mobiliários dos EUA (SEC) já está investigando casos semelhantes no Brasil e na China. 
 No entanto, este não é o primeiro caso em que a Siemens chama a atenção para si com 
as suas práticas comerciais na Rússia. Em 2008, manchetes internacionais anunciaram que 
funcionários da Autoridade de Transportes de Moscou teriam sido subornados entre 2001 e 2007 
para adquirir contratos lucrativos. 
 Os subornos foram parte de pelo menos 4.283 pagamentos no valor total de 
aproximadamente US$ 1,4 bilhão que a Siemens fez em todo o mundo para ganhar contratos, de 
acordo com a SEC. A SEC registou este fato no comunicado de imprensa que acompanha a 
presente comunicação: 
 “Apesar do conhecimento de suborno em dois de seus maiores grupos – Comunicações e 
Geração de Energia – o tom da empresa no topo era inconsistente com um programa de 
compliance eficaz no modelo FCPA e criou uma cultura corporativa em que o suborno era 
tolerado e até mesmo recompensado nos mais altos níveis da empresa. 
 Os funcionários obtinham grandes quantidades de dinheiro vivo, que às vezes era 
transportado em malas através das fronteiras internacionais para pagar subornos. As autorizações 
para pagamentos foram colocadas em notas de post-it e posteriormente removidas para erradicar 
qualquer registro permanente. 
 A Siemens usou numerosos fundos secretos, contabilidade extraoficial, contas mantidas 
em entidades não consolidadas e um sistema de consultores e intermediários de negócios para 
viabilizar os pagamentos corruptos” 
 
AULA 5 - GOVERNANÇA CORPORATIVA 
Professora Sirlei Pitteri 
 
 5 
 Mesmo sem reconhecer essas alegações, a Siemens pagou cerca de 1,6 bilhão de dólares 
em multas e penalidades ao Departamento de Justiça dos EUA (450 milhões de dólares), à SEC 
(350 milhões de dólares) e ao Ministério Público de Munique (854 milhões de dólares). Além 
disso, a subsidiária russa “Limited Liability Company Siemens” foi excluída de todas as licitações 
do Banco Mundial durante quatro anos. 
 Em 2017, outro escândalo veio à tona: a Siemens entregou à Rússia quatro turbinas 
a gás para uso em usinas de energia em 2015. Contrariando sanções internacionais, as 
turbinas foram posteriormente transferidas para a região da Crimeia, anexada pela Rússia 
em razão de sua estratégia geopolítica. 
 A Siemens negou ter conhecimento dos planos de transferência e referiu-se a 
regulamentos contratualmente acordados que proíbem o transporte para fora da Rússia. 
 A Siemens culpou o seu cliente russo TechnoPromExport pela violação das sanções e 
postulou, até à data sem sucesso, pela rescisão do contrato (que representa até hoje um volume 
de encomenda para a Siemens de 213 milhões de euros). 
 Algum tempo depois, em outubro de 2019, a Siemens saiu novamente vitoriosa, em um 
contrato para a construção de uma central de gás e vapor no valor de 290 milhões de euros na 
República Russa de Tatarstan. 
 Apesar de todos os escândalos, a multinacional alemã parece se sentir confortável na 
Rússia, onde, de acordo com o relatório anual, emprega atualmente 2.900 pessoas e opera quatro 
joint ventures, além de onze subsidiárias (em 30 de setembro de 2018). Em 2017, o mercado 
russo gerou o equivalente a 1,1 bilhões de euros em vendas. 
 Relatos das mídias sociais salientam que o networking pessoal com líderes políticos 
da Rússia é também excelente. Não são raras as reuniões entre executivos da Siemens e 
membros do alto escalão do governo. 
 A importância da cooperação pessoal entre o governo russo e a empresa é ressaltada por 
declarações à imprensa como as do presidente da Siemens Rússia: “Na Rússia, mais acontece 
com apoio presidencial do que sem apoio” (Welt, 2010). 
O sistema Russo 
 Para compreender os recorrentes escândalos na Rússia, temos de olhar para a 
interdependência entre negócios e política naquele país, modelo que mesmo uma multinacional 
como a Siemens aparentemente não consegue resistir. Desde o tempo dos czares, continuando 
durante a União Soviética até a atual Federação Russa, a política e a economia nunca foram 
facilmente separadas. 
 Embora existam regulamentos formais, tais como leis anticorrupção que se destinam a 
limitar a influência da política nos processos econômicos, eles são minados por redes informais de 
poder constituídas por elites políticas e econômicas. Esta forma de governança informal, 
conhecida como “Sistema” (Ledeneva, 2013), assegura a capacidade de atuação das elites e dos 
participantes no mercado. 
 Ao mesmo tempo, porém, reproduz e perpetua insegurança em relação à direitos de 
propriedade, à lisura e eficiência burocrática, o que faz com que pareça necessário recorrer ao 
controle informal, algo conhecido no Brasil como “jeitinho”, mas que aparenta ser um fenômeno 
mundial. Trata-se, portanto, de um sistema auto reforçador e auto conservador. 
 Neste contexto, no entanto, o lado formal do Estado russo não é apenas uma fachada, 
mas é regularmente instrumentalizado para se livrar, por exemplo, de membros da rede de poder 
 
AULA 5 - GOVERNANÇA CORPORATIVA 
Professora Sirlei Pitteri 
 
 6 
que se tornaram desagradáveis. As regras também são dobradas e contornadas para fortalecer a 
rede política, a fim de vincular a ela os atores econômicos que direta ou indiretamente servem aos 
interesses particulares dos membros da rede. 
 Os centros de poder dentro dessas redes podem ser identificados, mas o “Sistema” é 
caracterizado centralmente por princípios econômicos de troca, ou seja, concessão de vantagens 
mútuas, e não por princípios econômicos de mercado. Em vista dos relacionamentos resultantes, 
a influência dos indivíduos, incluindo até Vladimir Putin, deve ser relativizada. 
 Em um ciclo vicioso, as empresas também caem nesta “armadilha da informalidade” 
(Vasileva-Dienes, 2019), porque a ameaça de sanções formais do governo faz com que elas 
continuem a recorrer às redes informais quando surgem problemas. 
 As grandes empresas têmum papel especial no “Sistema”. A cooperação informal com 
empresas multinacionais como a Siemens é essencial para manter a posição política dos 
membros da rede. 
 Na Rússia, apesar da liberalização formal do mercado, as decisões sobre grandes 
negócios ainda são tomadas nos bastidores. Assim, enquanto os atores individuais, grupos e 
organizações possam garantir suas vantagens desta maneira, as redes informais representam um 
obstáculo à modernização da Rússia no longo prazo. 
Crime organizacional e corrupção endêmica 
 O crime organizacional é caracterizado pelo fato de que atalhos informais extensos, como 
os usados no “Sistema” russo, são um componente central da cultura corporativa. Empresas 
caracterizadas por delitos organizacionais, como é o caso da Siemens na visão da SEC, são, 
portanto, particularmente capazes de seguir expectativas informais a elas dirigidas. 
 No entanto, é importante notar, em primeiro lugar, que nenhuma organização pode aderir a 
todas as regras formais, pois, se o fizesse, cairia em uma “armadilha da formalidade”, em que o 
trabalho cotidiano ficaria paralisado se todas as normas burocráticas e jurídicas fossem 
respeitadas. 
 Não é por acaso que a “greve de zelo” ou “operação padrão” é uma das formas mais 
eficazes de greve. Cada empresa é assim forçada a agir, de uma forma ou de outra, seguindo a 
“ilegalidade útil” (Luhmann, 1964). No caso do crime organizacional, porém, é estabelecida uma 
cultura de desvio em relação às regras. As redes informais, que chegam regularmente ao topo da 
hierarquia corporativa, seguem sistematicamente os “canais oficiais curtos” para agir em benefício 
da organização. 
 O sucesso empresarial assegura o status interno dos funcionários na empresa e, assim, as 
oportunidades de se afirmar em batalhas micropolíticas. Não importa como o sucesso foi 
alcançado, o principal é que ele serve à empresa em grande medida e, portanto, prova sua 
própria utilidade na rede informal da organização. Assim como o “Sistema” russo, o crime 
organizacional é caracterizado por princípios econômicos de câmbio ou troca. 
 Como resultado, em um mercado baseado em redes informais de poder, as exigências 
deste mercado podem não só ser interpretadas “corretamente” pela empresa, mas também os 
meios, como contas secretas, estão disponíveis para atender às expectativas. 
 A concessão de vantagens mútuas entre funcionários públicos, políticos e empresas é 
apoiada centralmente por sofisticadas estruturas de pagamento de propinas. O suborno único e 
específico de funcionários públicos individuais não é suficiente para a ligação ao sistema político 
e, por conseguinte, para um acesso bem-sucedido ao mercado russo. 
 
AULA 5 - GOVERNANÇA CORPORATIVA 
Professora Sirlei Pitteri 
 
 7 
 A fim de manter um lugar seguro no “Sistema” como empresa estrangeira, é necessário 
estar preparado para aderir permanentemente a regras informais que estão normalmente em 
conflito com regras formais do país de origem da empresa ou do direito internacional. 
 Os negócios gerados sob este modelo servem então não só ao sucesso da empresa, mas 
também às ambições de carreira dos funcionários e, ao mesmo tempo, do lado do sistema 
político, à retenção de poder por indivíduos internos ao “Sistema”. 
 Ambas as formas de desvio podem se seguir, já que seu núcleo consiste em redes 
informais com um interesse homólogo: “Fazer as coisas acontecerem”. 
 Dessa forma, as empresas moldadas pelo crime organizacional e pela estrutura política 
informal da Rússia podem se entrelaçar e promover, mas também se tornar interdependentes em 
desacordo com um Estado de Direito. O resultado é sério: escândalos corporativos recorrentes e 
um sistema econômico que desafia todos os esforços internacionais para combater a corrupção. 
 
Referências 
Deutsch-Russische Auslandshandelskammer (2019): Siemens. 
(https://russlandmeister.ru/de/companies/siemens) 
Handelsblatt (2009): Weltbank bestraft russische Siemens-Tochter 
(https://www.handelsblatt.com/unternehmen/industrie/schmiergeld-weltbank-bestraft-
russische-siemens-tochter/3315088.html?ticket=ST-2370966-DQy50ppvRSAOf3wqccFb-ap6) 
Handelsblatt (2019): Milliardenauftrag für Siemens-Zugsparte – und neue Korruptionsvorwürfe 
(https://www.handelsblatt.com/unternehmen/industrie/russlandgeschaefte-
milliardenauftrag-fuer-siemens-zugsparte-und-neue-
korruptionsvorwuerfe/24437316.html?ticket=ST-2307339-ILWIhiHvdJPn6qUoNBUD-ap6) 
Handelsblatt (2019): Siemens erhält 290-Millionen-Auftrag aus Russland 
(https://www.handelsblatt.com/unternehmen/industrie/gaskraftwerk-siemens-erhaelt-290-
millionen-auftrag-aus-russland/25078096.html) 
Ledeneva, Alena (2013): Russia’s Practical Norms and Informal Governance: The Origins of 
Endemic Corruption. In: Social Research, Vol.80, No.4: 1135-1162 
Luhmann, Niklas (1964): Funktionen und Folgen formaler Organisationen. Berlin: Dunkler & 
Humblot 
Nürnberger Nachrichten (2019): Siemens: Schmiergeldzahlungen an russische 
Regierungspartei? (https://www.nordbayern.de/wirtschaft/siemens-schmiergeldzahlungen-
an-russische-regierungspartei-1.8986344) 
Siemens (2018): Geschäftsbericht 2018 
(https://www.siemens.com/investor/pool/de/investor_relations/Siemens_GB2018.pdf) 
Spiegel Online (2019a): Siemens soll auch in Russland ein Preiskartell betrieben haben 
(https://www.spiegel.de/plus/siemens-angebliche-preisabsprachen-auch-in-russland-a-
d2050430-61dd-462f-9303-b24b68b3972a) 
Spiegel Online (2019b): Hinweise auf erneute systematische Bestechung bei Siemens 
(https://www.spiegel.de/wirtschaft/unternehmen/siemens-hinweise-auf-erneute-
systematische-bestechung-a-1271379.html) 
 
AULA 5 - GOVERNANÇA CORPORATIVA 
Professora Sirlei Pitteri 
 
 8 
Spiegel Online (2019c): Computertomografen, Mittelsmänner, Schmiergeld 
(https://www.spiegel.de/plus/russlandaffaere-bei-siemens-computertomografen-
mittelsmaenner-schmiergeld-a-00000000-0002-0001-0000-000164302344) 
Standford Law School (2019a): Foreign Corrupt Practices Act Clearinghouse 
(http://fcpa.stanford.edu/investigation.html?id=202) 
Standford Law School (2019b): Foreign Corrupt Practices Act Clearinghouse 
(http://fcpa.stanford.edu/enforcement-action.html?id=501) 
Transparency International (2019): Russia (https://www.transparency.org/country/RUS) 
U.S. Securities and Exchange Commission (2008): Litigation Release No. 20829, December 15, 
2008. Accounting and Auditing Enforcement Release No. 2911, December 15, 2008. Securities 
and Exchange Commission v. Siemens Aktiengesellschaft, Civil Action No. 08 CV 02167 (D.D.C.) 
(https://www.sec.gov/litigation/litreleases/2008/lr20829.htm) 
Vasileva, Alexandra (2016): Gefangen in Informalität. Kleine und mittlere Unternehmen im 
russischen. In: RUSSLAND-ANALYSEN, 310: 2-10 (https://www.laender-analysen.de/russland-
analysen/310/) 
Alexandra Vasileva-Dienes (2019) Informality trap: a foundation of Russia’s statist-patrimonial 
capitalism, Contemporary Politics, 25:3, 334-352, DOI:10.1080/13569775.2018.1555782 
Welt (2010): Wie Siemens Russland im Alleingang modernisiert 
(https://www.welt.de/wirtschaft/article10520015/Wie-Siemens-Russland-im-Alleingang-
modernisiert.html)

Continue navegando