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1. Introdução Desde o século XV, diversos acontecimentos históricos e consequentes transformações sociais vêm definindo aquilo que hoje chamamos de capitalismo. Nele, a vida em sociedade ganhou características específicas no que diz respeito as formas de produção, conhecimento, cultura, consumo e afins, que se distinguem das sociedades que o precederam. Apesar de suas feições particulares, o capitalismo surge de intensas relações com os processos de dissolução das sociedades feudais, as quais eram organizadas em torno do trabalho servil e da produção agrícola nos feudos que, com o decorrer do tempo, foi substituída por novos interesses ligados ao comércio e ao mercado, que passaram a ser o eixo central da emergente sociedade capitalista. O campo deu lugar as cidades; as manufaturas e as indústrias mudaram as relações de produção da velha sociedade e o consumo ganhou proporções cada vez maiores em consequência da necessidade de desenvolvimento em larga escala de mercadorias. 2. Antecedentes do capitalismo 2.1. Feudalismo (séculos V - XV) O feudalismo foi o sistema político, econômico e social predominante na Europa durante a Idade Média. Tinha por base a descentralização política, a autossuficiência dos feudos, tidos como a unidade de produção da época, e a imobilidade social dos estamentos. A sociedade feudal era dividida, basicamente, em 3 estamentos: 1. Nobreza: tida como a classe mais alta, era composta pelos proprietários de terras, os chamados senhores feudais, que determinavam as regras dentro de seus feudos. 2. Clero: composto pelos membros da Igreja Católica, era o estamento mais poderoso do feudalismo, exercendo grande poder na política e sendo um grande detentor de terras. Fonte: Cepal (2015) 3. Servos e camponeses: estamento composto pelos trabalhadores dos feudos que não tinham direito a salário, mas não eram escravos, pois não pertenciam aos senhores feudais. Em troca do direito de usar as terras do senhor feudal eles tinham que prestar serviços e pagar tributos ao mesmo. A produção no feudalismo era marcada pela autossuficiência dos feudos, isto é, produzia-se somente o que seria consumido, não havendo comércio ou dinheiro. Quando necessário, trocava-se produtos por outros produtos. Fonte: Página Ler e Aprender1. 1. Disponível em: https://lereaprender.com.br/feudalismo/. Acesso em: 27 out. 2020 Crise do feudalismo Fonte: CURADO (2019)2. Os primeiros sintomas da crise do feudalismo começaram a surgir com as denominadas revoltas camponesas, que tiveram como principal causa a queda da produtividade agrícola entre os séculos XI e XII, combinada ao aumento populacional e a resistência da nobreza em reduzir as taxas cobradas dos trabalhadores. Isso resultou em miséria e fome entre camponeses, fator que foi agravado, ainda, pela catástrofe demográfica da Peste Negra ao dizimar 40% da população europeia. Tudo isso, juntamente a reativação do comércio pelas cruzadas e a ascensão da nova classe burguesa, culminou no enfraquecimento da nobreza e flexibilização das relações de servidão. Muito do poder da nobreza foi transferido aos reis, fragilizando as relações feudais e minando as bases do feudalismo. 2 Conhecimento cientifico. Disponível em: https://conhecimentocientifico.r7.com/feudalismo-o-que-era- como-funcionava-e-como-terminou/. Acesso em: 21 out. 2020. 2.2. Renascimento comercial e urbano Fonte: TEODORO (2020)3. Com a reabertura do mar mediterrâneo, em decorrência das Cruzadas, entre os séculos XI e XIII, novas rotas foram estabelecidas ligando regiões produtoras. No cruzamento destas rotas foram organizados centros de comércio temporários, as chamadas feiras, que reuniam mercadores das mais diversas partes da Europa. A fim de se protegerem de assaltos, os mercadores das feiras começam a se estabelecer ao redor de palácios e mosteiros, formando os chamados burgos, que, com o tempo, foram crescendo e se desenvolvendo, constituindo as cidades. Por muito tempo os moradores dos burgos, por ainda se estabelecerem em áreas pertencentes aos feudos, foram obrigados a pagar taxas de impostos aos senhores feudais, fenômeno este quebrado pelo chamado movimento comunal, garantindo a independência urbana da nova classe emergente: a burguesia. Essa nova classe quebra a organização econômica e social da sociedade de estamentos ao permitir a mobilidade social daqueles que desenvolviam suas atividades comerciais e, com isso, acumulavam renda. O novo sistema comercial, diferentemente da organização de produção feudal, baseava- se no trabalho livre e assalariado. Essa mudança foi crucial para os acontecimentos que viriam na transição da Idade Média para a Idade Moderna, a decadência do feudalismo e o início da primeira fase do capitalismo. 3 Escola Educação. Disponível em: https://escolaeducacao.com.br/resumo-do-renascimento-comercial-e- urbano/. Acesso em: 21 out. 2020 2.3. Mercantilismo e absolutismo Na Idade Média, os reis expandem seu poder econômico e político por meio do mercantilismo e do absolutismo. Nesses sistemas, o Estado passava a controlar a economia e partir em busca de colônias para adquirir matéria prima por meio daquilo que se chamou de pacto colonial. Nele, as colônias eram proibidas de promover o desenvolvimento manufatureiro, sendo responsáveis pelo envio de materiais primários necessários ao desenvolvimento das metrópoles. Esse enriquecimento das metrópoles favoreceu a burguesia, que passou a contestar o poder dos reis, acarretando na crise do sistema absolutista. Dentro disto, com as revoluções burguesas, o triunfo do capitalismo se fez garantido. 2.4. Iluminismo Fonte: Página Só História4. O Iluminismo foi uma corrente de pensamento predominante na Europa no século XVIII. Tinha como principal foco a defesa da razão sobre a fé, retratando a visão de mundo da classe burguesa ascendente. Seus pensadores contestavam o mercantilismo e as doutrinas absolutistas, apoiando valores liberais políticos e econômicos. Os primeiros teóricos iluministas surgiram ainda no século XVII, sendo influenciados pelas mudanças na Europa da época, resultantes de acontecimentos como o Renascimento, a Reforma Protestante, expansão marítima e comercial, além da ascensão da burguesia. 4 Disponível em: <https://www.sohistoria.com.br/resumos/iluminismo.php>. Acesso em 21 out. 2020 Racionalismo e empirismo Fonte: Portal vestibulando (2014?) 5 Segundo o pensamento iluminista, o verdadeiro conhecimento poderia ser obtido tanto por via do racionalismo abstrato, cujo maior representante foi René Descartes, como por meio do empirismo inglês, representado por filósofos como Francis Bacon e John Locke. O racionalismo, método científico apresentado por René Descartes, estabelecia a razão como único caminho para o conhecimento da verdade. Descartes acreditava que, para se chegar a conhecimentos mais amplos, todas as teorias precisavam ser questionadas. Dentro disto, era necessário, primeiramente, partir dos denominados axiomas, isto é, verdades básicas e inquestionáveis. Um de seus primeiros axiomas foi o famoso “Penso, logo existo” (Cogito, ergo sum). Segundo René Descartes o “espírito humano tem em si meios de alcançar a verdade, se souber cultivar sua independência e conduzir-se com o método”. Ou seja, a certeza de algo é possível pois o espírito humano já carrega em si ideias claras e distintas, que são inativas e por isso não estão sujeitas ao erro. 5. Disponível em: https://www.portaldovestibulando.com/2014/11/francis-bacon-questoes-de- vestiulares.html. Acesso em: 23 out. 2020 O empirismo, assim como o racionalismo, investigou problemas filosóficos relacionados ao conhecimento. Contudo, contrapondo-se a este, que privilegiava a razão e partia da consciência como fonte segura de verdade, o empirismoacreditava que a construção do conhecimento se dava por meio da experiência sensível. A propósito, a palavra empirismo vem do grego empeiria, que significa “experiência”. Um dos filósofos formuladores do empirismo foi Francis Bacon, que valorizou a indução e insistiu na necessidade da experiência, criticando a lógica racionalista, predominantemente dedutiva. Na mesma linha empirista, John Locke proferiu que nada está no espírito que não tenha passado primeiro pelos sentidos, ou seja, o conhecimento não é inato, mas resultado da forma como processamos as informações que recebemos através da experiência. Para ele, quando nascemos somos como uma “tabua rasa”, isto é, uma folha em branco que é escrita na medida que vivemos e temos experiências no mundo. Em suma, todo conhecimento é baseado na experiência, que nos fornecem ideias acerca de tudo aquilo que podemos saber. As fontes das ideias, para Locke, são duas: 1. Sensação: é a percepção que temos de objetos sensíveis/daquilo que nos é externo, como o gosto do chocolate, a visão do mar, o som da voz de um ente querido, entre outros. 2. Reflexão ou sentido externo: é a operação de nossas mentes com as ideias obtidas por meio da sensação. É somente nesse estágio que atingimos o real entendimento das coisas. Isso não quer dizer que para os empiristas a razão seja depreciada no processo cognitivo, mas sim que devemos privilegiar a experiência, subordinando esta a um trabalho posterior da razão. 2.5. Liberalismo Figura- John Locke Fonte: Página Beduka (2019)6 Intimamente ligado a ascensão e fortalecimento da burguesia e aos ideais Iluministas dos séculos XVII e XVIII, o liberalismo surgiu como uma forma de oposição a estrutura do Antigo Regime, baseado no absolutismo monárquico e seu correspondente regime econômico: o mercantilismo. Ou seja, a doutrina liberal tinha em sua essência um conjunto de ideias que se contrapunham ao intervencionismo do Estado, ao poder absoluto dos reis, e a sociedade estratificada e baseada em privilégios. Um dos primeiros grandes movimentos revolucionários fundamentados pelos ideais liberais foram a Revolução Puritana e a Revolução Gloriosa, que compunham as denominadas Revoluções Inglesas do século XVII. A partir dessas revoluções os ingleses instituíram uma monarquia parlamentarista, abrindo-se a possibilidade de participação política de pessoas que não pertencessem à nobreza, sendo o poder do rei limitado e a burguesia fortalecida. Durante as Revoluções Inglesas um nome de grande destaque foi John Locke, que, além de um filósofo empirista, é conhecido por ser um dos principais percursores da ideologia liberal. Seu pensamento parte da questão da legitimidade do poder: o que torna legítimo o poder do Estado? Segundo Locke, para se entender o propósito, a justificativa e os limites da autoridade do Estado, deveríamos investigar os indivíduos na ausência dessa autoridade, na condição que ele denominou de estado de natureza. Nesse estado, os homens 6 Disponível em: https://beduka.com/blog/exercicios/historia-exercicios/exercicios-sobre-liberalismo/. Acesso em: 24 out.2020 desfrutariam dos chamados direitos naturais, que são: o direito à vida, à liberdade individual, à igualdade e à propriedade privada, sendo esta última derivada do trabalho e, portanto, natural. Entretanto, sendo os próprios homens, dentro de sua liberdade, juízes de si mesmo, se faz necessária a consolidação de um pacto de mútua conservação de seus direitos naturais para que inconvenientes não venham a ocorrer. Assim nasce a sociedade política, onde os indivíduos, por conveniência e necessidade, abrem mão de seu direito natural de justiça, passando-o ao governo no denominado “contrato social”. Dentro disto, para Locke, a função do Estado é preservar as liberdades individuais, e não as restringir. Ao não cumprir com sua função, o mesmo pode ser derrubado pelos indivíduos sociais, uma vez que todo poder político é tido pelo consentimento da maioria. A partir disso se dá o nascimento do chamado liberalismo político, em oposição ao então regime absolutista vigente. Liberalismo político O liberalismo, no geral, tinha como principal intuito acabar com a opressão do Estado sobre a liberdade do indivíduo, sobretudo no que diz respeito as esferas econômicas e políticas, abandonando a visão medieval de Estado absolutista com poderes irrestritos. Dentro disto, os liberais adotam uma visão política pautada no republicanismo ou no parlamentarismo, sistemas em que se permitia a divisão dos poderes, retirando das mãos do monarca o poder absoluto. Charles de Montesquieu, um filósofo francês que influenciou o liberalismo e a Revolução Industrial, defendia a divisão dos poderes estatais em: 1. Poder Legislativo: responsáveis pela criação das leis; 2. Poder Executivo: encarregado de executar a lei e governar; 3. Poder Judiciário: a quem cabe punir crimes e aplicar as sanções necessárias. Fonte: Página Politize!7 Nesta formulação, Montesquieu não deixa em uma única mão a tarefa de legislar, administrar e julgar, uma vez que acredita que a concentração de poder tende a gerar um abuso do mesmo, suprimindo as liberdades individuais. Em resumo, os ideais do liberalismo político são: Defesa dos direitos e liberdades individuais: o liberalismo não reconhece os direitos coletivos, para ele o indivíduo é o agente das relações jurídico-sociais, detendo de direitos individuais. Estado mínimo: a intervenção do Estado é limitada ao plano legal, não podendo, este, atuar ou intervir em todas as esferas sociais. Deste modo, o poder estatal atua em função de promover as condições mínimas necessárias para o livre desenvolvimento de cada cidadão, o que significa também a ausência de assistencialismo. Igualdade perante a lei: todos são iguais perante a lei, tratados como tais pelo Estado, não existindo privilégios. Governos representativos e constitucionais. 7 Disponível em: https://www.politize.com.br/separacao-dos-tres-poderes-executivo-legislativo-e- judiciario/ . Acesso em: 22 out. 2020 Liberalismo econômico Fonte: BEZERRA (2020?)8 Apesar das primeiras manifestações do liberalismo terem se dado nas Revoluções Americanas, seu grande estopim ocorreu com a Revolução Francesa, em 1789, que transformou a forma de pensar de grande parte da Europa. Muito embora tenha tido início no século XVII, com John Locke, foi por meio de Adam Smith que esta doutrina foi ampliada também para a economia, criando-se o denominado Liberalismo Econômico. O liberalismo econômico consiste na ideia de que o Estado não deve intervir na economia, uma vez que esta deve ser dada por meio da livre iniciativa dos cidadãos, que devem ter liberdade para produzir e fazer comércio, sendo os únicos responsáveis por sua riqueza e sucesso. Dentro disto, em seu livro “A Riqueza das Nações”, Adam Smith coloca o livre mercado como o grande “regulador” da sociedade, sendo as falhas corrigidas naturalmente por meio daquilo que ele chamou de “mão invisível”, que faria com que a economia se desenvolvesse autonomamente através da iniciativa privada, sem a necessidade de intervenção estatal. Em resumo, dentre os principais ideais do liberalismo econômico estão: Reconhecimento da propriedade privada: não há obrigação de objetivos sociais para a propriedade privada, sendo ela utilizada exclusivamente por quem a adquiriu. 8 Toda Matéria. Disponível em: https://www.todamateria.com.br/adam-smith/. Acesso em: 24 out. 2020 Figura- Adam Smith Livre mercado e concorrência: diz respeito a liberdade para o comércio produzir, determinar seus preços e controlar seu padrão de produção, sendo o próprio mercado, por meio da lei da oferta e procura, regulador da demanda e do valor das mercadorias, sem a necessidade de intervenção do Estado. Tributaçãomínima: o imposto sobre as empresas quase não existia. Em suma, enquanto pensamento político, o liberalismo atua na garantia das liberdades individuais, e, enquanto doutrina econômica, na liberdade de propriedade e comércio. No entanto, o sistema é duramente criticado no século XIX pelo marxismo, corrente de pensamento que aponta o liberalismo como responsável pela grande concentração de riqueza nas mãos da burguesia e a pobreza da classe operária. Além disso, os ideais liberalistas passam a perder força após a Segunda Guerra Mundial (1939-1945), quando o Estado teve o papel de reorganização das economias nacionais. Consequências do liberalismo O liberalismo teve inúmeras consequências para o mundo moderno. Além de romper com as estruturas sociais vigentes na época de sua ascensão, o mesmo influenciou movimentos revolucionários como as Revoluções Inglesas, que resultaram na ascensão da classe burguesa na Inglaterra e a Revolução Francesa, movimento que acabou com o Antigo Regime na França e marcou a transição da Idade Moderna para a Contemporânea. Além disso, as teorias liberais foram amplamente difundidas na Europa, em territórios altamente industrializados, permitindo a manutenção de um sistema capitalista onde as regras de manutenção econômica eram regidas pelo mercado e os salários, modos de contratação, preço e venda eram determinados por instituições privadas. 3. Consolidação da sociedade capitalista 3.1. As fases do capitalismo Fonte: SOUZA (2020)9 O capitalismo começou a emergir no século XV, com a decadência do sistema feudal. Desde então, passou por diversas fases, apresentando múltiplas faces até se transformar naquilo que conhecemos hoje. Apesar das divergências ainda encontradas entre os estudiosos quanto sua origem e relação com o mercantilismo do Antigo Regime, podemos decompor o modo de produção capitalista em 3 fases: 1ª fase: Capitalismo Comercial (século XV- XVII) Na primeira fase do capitalismo, também denominada de pré-capitalista, o modelo econômico vigente era o mercantilismo, que apresentava como principais características: o controle estatal da economia, a proteção do mercado interno, o acumulo de metais preciosos e a balança comercial favorável, ocorrendo mais exportação do que importação. Acreditava-se que a riqueza no mundo não poderia ser aumentada, mas sim redistribuída. Dentro disto, os países buscavam a acumulação de riquezas por meio do protecionismo e acumulo de metais oriundos de trocas comerciais com outros países. Foi nesse período que as nações europeias passaram a explorar recursos de suas colônias, como aconteceu no Brasil. Nessa fase, os privilégios das classes sociais já era uma marca das atividades econômicas. Enquanto a Igreja Católica, a monarquia e a nobreza, enriqueciam com as 9 Descomplica. Disponível em: < https://descomplica.com.br/artigo/capitalismo-como-funciona-surgimento-e- caracteristicas/6KQ/>. Acesso em: 21 out.2020. práticas mercantilistas e exploração das colônias, a nova classe burguesa emergente era condenada. 2ª fase: Capitalismo Industrial (século XVIII-XIX) Fonte: SOUZA (2020)10 A transição do Capitalismo Comercial, no século XVII, para o Capitalismo Industrial, ocorreu em meio a revoluções políticas e tecnológicas, como a Revolução Francesa, iniciada em 1789 e a Revolução Industrial, que começou na Inglaterra em 1760, tendo como seu principal marco a introdução da máquina a vapor, o que possibilitou a transição da produção manufatureira para a produção industrial. Além de alterar a forma de produção vigente, a Revolução Industrial provou significativas transformações em todas as esferas globais, inclusive nas paisagens, podendo esta ser vista por meio do denominado êxodo urbano, responsável pela formação de massas de trabalhadores. Assim, a produção industrial se fazia cada vez mais necessária, pois, devido ao crescimento demográfico e expansão das cidades, era preciso que mercadorias fossem produzidas e distribuídas de maneira mais eficiente e em maior escala. Nesse período, o poder passou para as mãos da burguesia, que cresceu e se desenvolveu com a intensificação do comércio. A economia, nessa fase do capitalismo industrial, era fundamentada pelos ideais do liberalismo econômico, cujo maior representante foi Adam Smith. Para o economista, o bom desenvolvimento econômico e o enriquecimento estavam vinculados ao livre comércio, a não intervenção estatal na economia e a garantia da propriedade privada. Segundo ele, a lei da oferta e procura por si só seria capaz de regular o mercado, sem a necessidade da intervenção do Estado. 10 Descomplica. Disponível em: < https://descomplica.com.br/artigo/capitalismo-como-funciona-surgimento-e- caracteristicas/6KQ/>. Acesso em: 21 out.2020. O modo de produção em vigor nessa fase resultou no aumento da produtividade, diminuição no valor das mercadorias e acumulação de capital. Contudo, tais avanços só foram possíveis por meio de condições de trabalho precárias, com cargas horárias exorbitantes e diminuição dos salários. 3ª fase: Capitalismo Financeiro (a partir do Século XX) A terceira fase do capitalismo, também denominada Capitalismo Financeiro, teve inicio no século XX, com o final da Segunda Guerra Mundial, quando bancos e empresas se uniram para maior obtenção de lucros. Neste período, as indústrias deixam para trás seus moldes originais e, com o apoio das instituições financeiras, internacionalizam-se. É nesse contexto que surgem as multinacionais e transnacionais, fortalecendo práticas monopolistas. Nesse modelo, quem dita as leis do mercado são as instituições financeiras e os grandes grupos empresariais. Sua denominação – Capitalismo Financeiro – ocorre em função das empresas passarem a vender parcelas de suas ações na chamada bolsa de valores, produzindo riqueza por especulação. Dentre as principais características dessa fase estão a elevada concorrência internacional, a evolução tecnológica, globalização, monopólio comercial, elevadas taxas de urbanização e exploração da mão de obra. 3.2. Keynesianismo Figura- Economista inglês John Maynard Keynes Fonte: Página Politize! (2019) 11 11 Disponível em: https://www.politize.com.br/keynesianismo/. Acesso em: 24/10/2020 Em decorrência da adoção de políticas liberais na terceira fase do capitalismo, o sistema passa por uma das piores crises econômicas da história – a crise de 1929. Essa recessão se deu, sobretudo, por conta de uma excessiva produção dos Estados Unidos associada a redução da demanda de produtos, fazendo com que as empresas perdessem seu valor e houvesse uma quebra na bolsa de valores. Para salvar o mercado, foi necessária a intervenção do Estado na economia, fugindo dos moldes liberalistas de regulação da mesma. Assim, um novo modelo econômico precisou ser adotado: o Keynesianismo. Criado pelo economista britânico John Maynard Keynes, o modelo Keynesiano defendia a intervenção do Estado na economia com o fim de evitar crises, garantir o consumo e o emprego, sendo, por isso, também chamado de Welfare state ou Estado do bem-estar social. O sistema perde força a partir dos anos 1980, dando lugar ao denominado neoliberalismo, com seus ideais de Estado mínimo e pouca participação estatal na economia, onde as regras do mercado são suficientes para garantir o crescimento econômico e o desenvolvimento social. 4. Uma análise dos clássicos A formação da sociologia também é resultado do processo de consolidação da sociedade capitalista. Sua origem, como todo e qualquer acontecimento histórico, tem ligação direta com as necessidades sociais que se manifestaram no momento de seu nascimento, que está ligado a forma como o capitalismo se difundiu nos séculos XIX e XX, especialmente com seu desenvolvimento social e político e a consequente necessidade de se explicar as transformações sociais ocorridas noperíodo. Dentre os primeiros pensadores da sociologia estão: Mostesquieu, Saint-Simon e Comte. Já entre os reconhecidos como clássicos se encontram: Marx, Weber e Durkheim. Estes, partindo de diferentes métodos de análise, desenvolveram grandes estudos acerca da sociedade capitalista e seus mecanismos de funcionamento. 4.1. Karl Marx Karl Marx contribuiu para a análise do capitalismo ao formular uma teoria na qual a sociedade é tida como resultado de embates de grupos sociais distintos. Sua análise social é marcada pelo exame das relações de força dos indivíduos. Em sua obra “O capital”, Marx expõe a lógica de valorização do capital com base na exploração do trabalho. Segundo o autor, a chave para explicar as transformações sociais é a relação conflituosa entre classes sociais distintas e com interesses contrários. Essa divisão é fruto de um processo histórico de lutas em que, uma das classes sociais se torna dominante e acaba por controlar os interesses da outra. Fonte: BELÉM (2012)12 Para ele, a sociedade moderna é dividida em duas grandes classes: a burguesia (classe capitalista, proprietária dos meios de produção) e o proletariado (trabalhadores), sendo a última subordinada a primeira. Essa relação tem como base a retirada, pela burguesia nascente no século XVIII, dos meios de produção dos produtores livres. Ou seja, a classe trabalhadora foi expropriada de suas terras, ferramentas, casas e locais de trabalho, sendo forçada a vender sua força aos burgueses, em troca de um salário, para garantia de seu sustento. Segundo Marx, é com base na exploração do trabalho assalariado que a sociedade capitalista produz e reproduz sua existência. O trabalhador, tendo somente sua força para vender, trabalha mais horas do que o necessário para produzir algo referente ao valor de seu salário. O excedente produzido é chamado por Marx de mais-valia, termo criado por ele para explicar a diferença entre o valor do que o trabalhador produz e o seu salário. O valor das horas trabalhadas e não pagas ao trabalhador, isto é, a mais-valia, é reaplicado na produção, resultando na denominada acumulação de capital, a qual enriquece ainda mais o proprietário dos meios de produção, perpetuado as relações de dominação e exploração do trabalhador pela burguesia. 12 Disponível em: https://acervo.revistabula.com/posts/livros/o-segredo-de-karl-marx. Acesso em: 24 out. 2020 Nessas relações, Marx percebe a divisão do trabalho como um fator de exploração e alienação do trabalhador na sociedade capitalista. Segundo ele, quanto mais específico e repetitivo for um trabalho, mais alienado o operário ficará de sua atividade e condições trabalhistas, não percebendo a exploração que vêm sofrendo ao vender sua força. Os trabalhadores, ao perceberem a desproporção entre seu trabalho e o salário recebido, entram em conflito com os proprietários dos meios de produção, sendo, o processo de desenvolvimento do capitalismo, marcado por inúmeros enfrentamentos entre as classes sociais. 4.2. Émile Durkheim Durkheim foi particularmente influenciado pelos desdobramentos históricos dos séculos XVIII e XIX, contribuindo para a análise do sistema capitalista ao tentar explicar a desordem provocada pelas transformações industriais e políticas, dentro de um mundo cada vez mais tomado pela divisão do trabalho. Sua sociologia buscou entender e ordenar uma sociedade caótica, ao tentar encontrar o denominado estado de equilíbrio social. Nos termos de Durkheim, a sociologia deve ter como foco o estudo dos fatos sociais, isto é, formas de pensar, sentir e agir que exercem uma força externa sobre os indivíduos. Para ser considerado um fato social, o fenômeno Fonte: PORFÍRIO13 observado deveria apresentar as seguintes características: 1. Ser geral: estar presente e ser reconhecível em toda sociedade ou grupo social; 2. Ser dotado de externalidade: se apresentar de forma exterior às consciências individuais, existindo independentemente das vontades e anseios das mesmas. 3. Ser uma força coercitiva externa aos indivíduos, moldando suas vontades individuais às coletivas. Um exemplo de fato social é a crescente especialização do trabalho, promovida pela produção industrial que, para Durkheim, resultou em uma forma superior de solidariedade, e não de conflito, como postulado por Marx. Para o autor, existem duas formas de solidariedade: 13 Brasil Escola. Disponível em: https://brasilescola.uol.com.br/biografia/emile-durkheim.htm. Acesso em: 24 de out. 2020. 1. Solidariedade mecânica: aquela que une as pessoas pelas crenças, tradições e costumes comuns. 2. Solidariedade orgânica: aquela que une as pessoas em virtude da divisão social do trabalho, ou seja, o fato de dependerem uma das outras para seu trabalho. Nas palavras de Durkheim: “[...] a divisão do trabalho [...] não servia apenas para dotar nossas sociedades de luxo, invejável talvez, mas supérfluo; ela seria uma condição de existência da sociedade. Graças à divisão social do trabalho, ou pelo menos por seu intermédio, se garantiria a coesão social; ela determinaria os traços essenciais da constituição da sociedade. Por isso mesmo [...] caso seja essa realmente a função da divisão do trabalho, ela deve ter um caráter moral, porque as necessidades de ordem, de harmonia e de solidariedade social são geralmente consideradas morais”. Em suma, segundo Durkheim, a interdependência em razão da divisão do trabalho gera solidariedade, fazendo a sociedade funcionar e garantindo a chamada coesão social. Dentro disto, as relações de trabalho devem ser preservadas. 4.3. Max Weber Max Weber, assim como Durkheim, também se empenhou em sistematizar a Sociologia, contudo, diferentemente deste, não considerava a sociedade superior e exterior aos indivíduos. Seu pensamento tem como base a ideia de que a compreensão dos fenômenos estruturais – como o capitalismo – deve partir da análise de ações individuais, uma vez que, segundo ele, as normas sociais só se tornam concretas no momento em que cada indivíduo se manifesta. Assim, a ação social individual é sempre orientada pela ação de outra pessoa, ou seja, os fenômenos sociais são consequência das ações individuais. O indivíduo, segundo o autor, não é considerado produto de um Fonte: OLIVEIRA14 meio coercitivo, mas sim responsável pelos seus próprios atos. A sociedade não tem um sentido próprio, mas é reproduzida pelos indivíduos, que por meio de suas ações lhe dão sentido. Weber, bem como Marx, analisava o trabalho sobre um ponto de vista histórico. Para ele, cada sociedade opera e se forma por meio de condições específicas, tornando o trabalho, na sociedade capitalista, uma atividade fundamental para a preservação da mesma. Embora reconhecesse o impacto do trabalho e da economia sobre a vida social, Weber teve como foco a análise de como outros aspectos da sociedade, como a religião, por exemplo, tinham forte influência sobre a economia. Em sua obra mais famosa “A ética protestante e o espírito do capitalismo”, Weber faz uma análise acerca de como o desenvolvimento do capitalismo foi favorecido em países 14 Disponível em: https://brasilescola.uol.com.br/sociologia/introducao-teoria-max-weber.htm. Acesso em: 27 out. 2020. onde o protestantismo era mais forte. Isto ocorreu, segundo ele, pelo fato de que alguns ideais do protestantismo, como a valorização do trabalho e a doutrina da predestinação de Calvino, favoreciam o sistema. Dentro disto, o autor defende que a ascensão e desenvolvimento do capitalismo só foi possível devido a sede de lucro e ética religiosa. Assim, nasce aquilo que Weber chamou de “espírito do capitalismo”, no qual o trabalho duro e disciplinado aparece como uma virtude, sendo um caminho não só para o sucesso, mas para a salvação espiritual. Isto é, a sociedade capitalista sedesenvolve por meio de uma lógica em que a dignidade do homem passa a estar diretamente relacionada ao seu trabalho e, a vida material, ganha grande importância. 5. Exercícios 1. (ENEM-2016) TEXTO I – Cidadão Tá vendo aquele edifício, moço? Ajudei a levantar Foi um tempo de aflição Eram quatro condução Duas pra ir, duas pra voltar Hoje depois dele pronto Olho pra cima e fico tonto Mas me vem um cidadão E me diz desconfiado “Tu tá aí admirado Ou tá querendo roubar?” Meu domingo tá perdido Vou pra casa entristecido Dá vontade de beber E pra aumentar meu tédio Eu nem posso olhar pro prédio Que eu ajudei a fazer. BARBOSA, L. In: ZÉ RAMALHO. 20 Super Sucessos. Rio de Janeiro: Sony Music, 1999 (fragmento). TEXTO II O mais trabalhador fica mais pobre à medida que produz mais riqueza e sua produção cresce em força e extensão. O trabalhador torna-se uma mercadoria ainda mais barata à medida que cria mais bens. Esse fato simplesmente subentende que o objeto produzido pelo trabalho, o seu produto, agora se lhe opõe como um ser estranho, como uma força independente do produtor. MARX, K. Manuscritos econômicos (Primeiro manuscrito). São Paulo: Boitempo Editorial, 2004 (adaptado). Com base nos textos, a relação entre trabalho e modo de produção capitalista é: a) baseada na desvalorização do trabalho especializado e no aumento da demanda social por novos postos de emprego. b) fundada no crescimento proporcional entre o número de trabalhadores e o aumento da produção de bens e serviços. c) estruturada na distribuição equânime de renda e no declínio do capitalismo industrial e tecnocrata. d) instaurada a partir do fortalecimento da luta de classes e da criação da economia solidária. e) derivada do aumento da riqueza e da ampliação da exploração do trabalhador 2. (ENEM-2015) O impulso para o ganho, a perseguição do lucro, do dinheiro, da maior quantidade possível de dinheiro não tem, em si mesma, nada que ver com o capitalismo. Tal impulso existe e sempre existiu. Pode-se dizer que tem sido comum a toda sorte e condição humanas em todos os tempos e em todos os países, sempre que se tenha apresentada a possibilidade objetiva para tanto. O capitalismo, porém, identifica-se com a busca do lucro, do lucro sempre renovado por meio da empresa permanente, capitalista e racional. Pois assim deve ser: numa ordem completamente capitalista da sociedade, uma empresa individual que não tirasse vantagem das oportunidades de obter lucros estaria condenada à extinção. WEBER, M. A ética protestante e o espírito do capitalismo. São Paulo: Martin Claret, 2001 (adaptado). O capitalismo moderno, segundo Max Weber, apresenta como característica fundamental a a) competitividade decorrente da acumulação de capital. b) implementação da flexibilidade produtiva e comercial. c) ação calculada e planejada para obter rentabilidade. d) socialização das condições de produção e) mercantilização da força de trabalho. 3. (ENEM-2013) Na produção social que os homens realizam, eles entram em determinadas relações indispensáveis e independentes de sua vontade; tais relações de produção correspondem a um estágio definido de desenvolvimento das suas forças materiais de produção. A totalidade dessas relações constitui a estrutura econômica da sociedade fundamento real, sobre o qual se erguem as superestruturas política e jurídica, e ao qual correspondem determinadas formas de consciência social. MARX, K. Prefácio à Critica da economia política, In: MARX, K.: ENGELS, F. Textos 3. São Paulo: Edições Sociais, 1977 (adaptado). Para o autor, a relação entre economia e política estabelecida no sistema capitalista faz com que a) o proletariado seja contemplado pelo processo de mais-valia. b) o trabalho se constitua como o fundamento real da produção material. c) a consolidação das forças produtivas seja compatível com o progresso humano. d) a autonomia da sociedade civil seja proporcional ao desenvolvimento econômico. e) a burguesia revolucione o processo social de formação da consciência de classe. 4. (ENEM, 2000) O texto abaixo, de John Locke (1632-1704), revela algumas características de uma determinada corrente de pensamento: Se o homem no estado de natureza é tão livre, conforme dissemos, se é senhor absoluto da sua própria pessoa e posses, igual ao maior e a ninguém sujeito, por que abrirá ele mão dessa liberdade, por que abandonará o seu império e sujeitar-se-á ao domínio e controle de qualquer outro poder? Ao que é óbvio responder que, embora no estado de natureza tenha tal direito, a utilização do mesmo é muito incerta e está constantemente exposto à invasão de terceiros porque, sendo todos senhores tanto quanto ele, todo o homem igual a ele e, na maior parte, pouco observadores da equidade e da justiça, o proveito da propriedade que possui nesse estado é muito inseguro e muito arriscado. Estas circunstâncias obrigam-no a abandonar uma condição que, embora livre, está cheia de temores e perigos constantes; e não é sem razão que procura de boa vontade juntar-se em sociedade com outros que estão já unidos, ou pretendem unir-se para a mútua conservação da vida, da liberdade e dos bens a que chamo de propriedade. (Os Pensadores. São Paulo: Nova Cultural, 1991.) Do ponto de vista político, podemos considerar o texto como uma tentativa de justificar: a) A existência do governo como um poder oriundo da natureza. b) A origem do governo como uma propriedade do rei. c) O absolutismo monárquico como uma imposição da natureza humana. d) A origem do governo como uma proteção à vida, aos bens e aos direitos. e) O poder dos governantes, colocando a liberdade individual acima da propriedade. Referências MACHADO, Igor José de Renó; AMORIM, Henrique; BARROS, Celso Rocha. Sociologia hoje. 1ª. ed. São Paulo: Ática, 2013. 424 p. v. Único. ISBN 978850816311-3. CASTALDI, Maria José Zanardi Dias (Coord.). Sociologia: Ensino Médio/ SESI-SP (Movimento do Aprender). 1. ed. São Paulo: SESI, 2012. 264 p. v. Único. ISBN 978-85- 8170-021-2. SANTANA, Gustavo. A separação dos três poderes: Executivo, Legislativo e Judiciário. [S. l.], 1 mar. 2016. Disponível em: https://www.politize.com.br/separacao- dos-tres-poderes-executivo-legislativo-e-judiciario/. Acesso em: 19 out. 2020. COELHO, Larissa. Mapa mental: liberalismo. Disponível em: https://descomplica.com.br/artigo/mapa-mental-liberalismo/4ys/. Acesso em: 15 de outubro de 2020. GUIA DO ESTUDANTE. John Locke. [S. l.], 16 ago. 2017. Disponível em: https://guiadoestudante.abril.com.br/especiais/john-locke/. Acesso em: 20 out. 2020. SOUZA, Guilherme. Capitalismo: como funciona, surgimento e características. [S. l.], 9 jul. 2020. Disponível em: https://descomplica.com.br/artigo/capitalismo-como- funciona-surgimento-e-caracteristicas/6KQ/. Acesso em: 20 out. 2020. SOUZA, Amanda de. Liberalismo: entenda essa corrente política. [S. l.], 11 maio 2016. Disponível em: https://www.politize.com.br/liberalismo-o-que-e/. Acesso em: 19 out. 2020.
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