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DIREITOS HUMANOS – CAS 2020 2 Autoridades Governador do Estado do Rio de Janeiro Exmº Sr Wilson Witzel Secretário de Estado de Polícia Militar Exmº Sr Coronel Rogério Figueredo de Lacerda Subsecretário de Estado de Polícia Militar Ilmº Sr Coronel Márcio Pereira Basílio Diretor-Geral de Ensino e Instrução Ilmº Sr Coronel Rogério Quemento Lobasso Comandante do CFAP 31 de Voluntários Ilmº Sr Tenente-Coronel PM Marcelo Andre Teixeira da Silva Comandante do Centro de Educação a Distância da Polícia Militar - CEADPM Ilmº Sr Tenente-Coronel PM Alexandra Ferraz de Oliveira DIREITOS HUMANOS – CAS 2020 3 APRESENTAÇÃO Estamos vivendo a era da tecnologia, na qual a informação está cada dia mais latente e veloz em nossa rotina diária. Este curso tem por objetivo , aperfeiçoar os 2º Sargentos da Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro. Para tal, o Curso ocorrerá na modalidade semipresencial, através de módulos, sendo destes um disponibilizado no ambiente virtual de aprendizagem, por intermédio da Escola Virtual, no Centro de Educação a Distância da Polícia Militar (CEADPM)e um módulo de disciplinas práticas ministrado do Centro de Formação e Aperfeiçoamento de Praças (CFAP 31 Vol.). É fundamental o seu empenho no curso, pois você terá na parte EaD autonomia de estudos e de horários, mas também é necessário disciplina e dedição para o êxito dessa jornada, pois depende do esforço coletivo e também individual para que tenhamos policiais cada vez mais qualificados,bem treinados e aperfeiçoados para cumprirmos nossa missão, buscando cada vez mais a excelência de nossas ações. O bom treinamento envolve aspectos físicos e cognitivos, na era da informação e da tecnologia, precisamos nos aprimorar cada vez mais a fim de garantir uma tropa consciente, respeitosa, pautada em valores morais e institucionais, garantindo assim o cumprimento de suas funções com dignidade e excelência. Esperamos que você aproveite ao máximo os conhecimentos adquiridos através deste curso e busque uma reflexão acerca de suas funções perante a sociedade, seus companheiros de profissão. Que seja um momento de repensar as práticas e fortelecer seu vínculo profissional, ampliando cada vez mais seus conhecimentos para lidar com as particularidades de ser um Policial Militar no Estado do Rio de Janeiro. Desejamos a todos bons estudos! Rogério Quemento Lobasso - Coronel PM Diretor-Geral de Ensino e Instrução Marcelo André Teixeira da Silva – Ten. Coronel PM Comandante do CFAP DIREITOS HUMANOS – CAS 2020 4 Desenvolvedores CEADPM Supervisão Geral EAD CAP PM Ped Vania Pereira Matos da Silva Equipe Técnica SUBTEN PM Wilian Jardim de Souza 3º SGT PM Edson dos Santos Vasconcelos Diagramação 2º SGT PM Wallace Reis Fernandes CB PM Michele Pereira da Siva de Oliveira CB PM Thiago Silva Amaral Design Instrucional CAP PM Ped Vania Pereira Matos da Silva CB PM Michele Pereira da Siva de Oliveira Vídeo e animação CB PM Joyce Gaspar de Almeida Designer Gráfico 2º SGT PM Wallace Reis Fernandes SD PM Leonardo da Silva Ramos Suporte ao Aluno 2º SGT PM Anderson Inacio de Oliveira CFAP Supervisão Geral do Curso MAJ PM Maria Isabel Conceição Silva Sardinha Coordenação Pedagógica CAP PM Ped Patrícia Kalife Paiva Equipe Técnica TEN PM Ped Paulo Alexandre Baptista 2ºSGT PM Elaine Xavier Oliveira Alves de Lima CB PM Juliana Pereira de Carvalho Conteudista MAJ PM Maria Clara Alves Lima Revisor de Conteúdo 2º TEN RR Carlos Vieira DIREITOS HUMANOS – CAS 2020 5 SUMÁRIO INTRODUÇÃO ............................................................................................................................ 6 DIREITOS HUMANOS .............................................................................................................. 7 OS DIREITOS HUMANOS SÃO GARANTIDOS PELA NOSSA CONSTITUIÇÃO ....... 19 ESTUDOS DOS PRINCIPAIS TRATADOS E DEMAIS INSTRUMENTOS GLOBAIS REFERENTES AOS DIREITOS HUMANOS ....................................................................... 22 TEORIA GERAL DOS DIREITOS HUMANOS / CONSTITUIÇÃO DE 1988-BRASIL .. 26 DIREITOS HUMANOS – CAS 2020 6 INTRODUÇÃO O conceito de dignidade da pessoa humana é central para a problemática dos direitos humanos. Falar dessa questão é inseparável de uma reflexão sobre o alcance e o sentido da ideia de pessoa. Trata-se de pensar o conceito de pessoa a partir de duas contribuições importantes: a de Boécio (480 – 524) e a de Boaventura de Bagnoregio (1217 – 1274). Enquanto na definição de Boécio – talvez a mais conhecida e privilegiada – o homem se caracteriza como substância racional, em Boaventura essa ênfase é para a dimensão relacional da criatura humana. Dizer pessoa humana é falar de um ser de relação, que ganha sentido quando estabelece e vive em constante relação com outros homens; é, portanto, falar de uma criatura que somente alcança a sua plenitude numa vida de relação com o outro. O fato de ser pessoa (desde sempre relação com o outro) expressa, segundo Boaventura, a própria noção de dignidade. “A dignidade é atributo intrínseco, da essência, da pessoa humana, único ser que compreende um valor interno, superior a qualquer preço, que não admite substituição equivalente. Assim a dignidade entranha e se confunde com a própria natureza do ser humano”. (SILVA, 1998, pág. 91) Nesse sentido, toda violência pode ser entendida como uma forma de violação da dignidade humana, porque redutora do outro a si mesmo. DIREITOS HUMANOS – CAS 2020 7 DIREITOS HUMANOS O que são os direitos Humanos? Os direitos humanos são direitos inerentes a todos os seres humanos, independentemente de raça, sexo, nacionalidade, etnia, idioma, religião ou qualquer outra condição. Auditório da ONU Estudantes da Escola Secundária Butkhak em Cabul, no Afeganistão, participam da Semana de Ação Global, uma campanha internacional que defende uma educação gratuita e de qualidade para todas e todos. Foto: ONU/Fardin Waezi Os direitos humanos incluem o direito à vida e à liberdade, à liberdade de opinião e de expressão, o direito ao trabalho e à educação, entre e muitos outros. Todos merecem estes direitos, sem discriminação. Sargento, você sabia que o Direito Internacional dos Direitos Humanos estabelece as obrigações dos governos de agirem de determinadas maneiras ou de se absterem de certos atos, a fim de promover e proteger os direitos humanos e as liberdades de grupos ou indivíduos? https://nacoesunidas.org/acao/direito-internacional/ https://nacoesunidas.org/acao/direito-internacional/ DIREITOS HUMANOS – CAS 2020 8 Desde o estabelecimento das Nações Unidas, em 1945 – em meio ao forte lembrete sobre os horrores da Segunda Guerra Mundial –, um de seus objetivos fundamentais tem sido promover e encorajar o respeito aos direitos humanos para todos, conforme estipulado na Carta das Nações Unidas: “Considerando que os povos das Nações Unidas reafirmaram, na Carta da ONU, sua fé nos direitos humanos fundamentais, na dignidade e no valor do ser humano e na igualdade de direitos entre homens e mulheres, e que decidiram promover o progresso social e melhores condições de vida em uma liberdade mais ampla, … a Assembleia Geral proclama a presente Declaração Universal dos Diretos Humanos como o ideal comum a ser atingido por todos os povos e todas as nações…” Preâmbulo da Declaração Universal dos Direitos Humanos, 1948 Contexto e definição dos direitos humanos Os direitos humanos são comumente compreendidos como aqueles direitos inerentes ao ser humano.O conceito de Direitos Humanos reconhece que cada ser humano pode desfrutar de seus direitos humanos sem distinção de raça, cor, sexo, língua, religião, opinião política ou de outro tipo, origem social ou nacional ou condição de nascimento ou riqueza. Os direitos humanos são garantidos legalmente pela lei de direitos humanos, protegendo indivíduos e grupos contra ações que interferem nas liberdades fundamentais e na dignidade humana. Estão expressos em tratados, no direito internacional consuetudinário, conjuntos de princípios e outras modalidades do Direito. A legislação de direitos humanos obriga os Estados a agir de uma determinada maneira e proíbe os Estados de se envolverem em atividades específicas. No entanto, a legislação não estabelece os direitos humanos. Os direitos humanos são direitos inerentes a cada pessoa simplesmente por ela ser um humano. Tratados e outras modalidades do Direito costumam servir para proteger formalmente os direitos de indivíduos ou grupos contra ações ou abandono dos governos, que interferem no desfrute de seus direitos humanos. Algumas das características mais importantes dos direitos humanos Você saberia citar algumas das características mais importantes dos direitos humanos? Que tal aprender? São elas: Os direitos humanos são fundados sobre o respeito pela dignidade e o valor de cada pessoa; https://www.youtube.com/watch?v=frae04L0k7M https://www.youtube.com/watch?v=frae04L0k7M https://nacoesunidas.org/carta/ https://nacoesunidas.org/carta/ http://www.un.org/en/universal-declaration-human-rights/index.html http://www.un.org/en/sections/issues-depth/human-rights/index.html DIREITOS HUMANOS – CAS 2020 9 Os direitos humanos são universais, o que quer dizer que são aplicados de forma igual e sem discriminação a todas as pessoas; Os direitos humanos são inalienáveis, e ninguém pode ser privado de seus direitos humanos; eles podem ser limitados em situações específicas. Por exemplo, o direito à liberdade pode ser restringido se uma pessoa é considerada culpada de um crime diante de um tribunal e com o devido processo legal; Os direitos humanos são indivisíveis, inter-relacionados e interdependentes, já que é insuficiente respeitar alguns direitos humanos e outros não. Na prática, a violação de um direito vai afetar o respeito por muitos outros; Todos os direitos humanos devem, portanto, ser vistos como de igual importância, sendo igualmente essencial respeitar a dignidade e o valor de cada pessoa. Normas internacionais de direitos humanos A expressão formal dos direitos humanos inerentes se dá através das normas internacionais de direitos humanos. Uma série de tratados internacionais dos direitos humanos e outros instrumentos surgiram a partir de 1945, conferindo uma forma legal aos direitos humanos inerentes. A criação das Nações Unidas viabilizou um fórum ideal para o desenvolvimento e a adoção dos instrumentos internacionais de direitos humanos. Outros instrumentos foram adotados a nível regional, refletindo as preocupações sobre os direitos humanos particulares a cada região. A maioria dos países também adotou constituições e outras leis que protegem formalmente os direitos humanos básicos. Muitas vezes, a linguagem utilizada pelos Estados vem dos instrumentos internacionais de direitos humanos. As normas internacionais de direitos humanos consistem, principalmente, de tratados e costumes, bem como declarações, diretrizes e princípios, entre outros. Tratados Um tratado é um acordo entre os Estados, que se comprometem com regras específicas. Tratados internacionais têm diferentes designações, como pactos, cartas, protocolos, convenções e acordos. Um tratado é legalmente vinculativo para os Estados que tenham consentido em se comprometer com as disposições do tratado – em outras palavras, que são parte do tratado. https://treaties.un.org/ DIREITOS HUMANOS – CAS 2020 10 Um Estado pode fazer parte de um tratado através de uma ratificação, adesão ou sucessão. A ratificação é a expressão formal do consentimento de um Estado em se comprometer com um tratado. Somente um Estado que tenha assinado o tratado anteriormente – durante o período no qual o tratado esteve aberto a assinaturas – pode ratificá-lo. A ratificação consiste de dois atos processuais: a nível interno, requer a aprovação pelo órgão constitucional apropriado – como o Parlamento, por exemplo. A nível internacional, de acordo com as disposições do tratado em questão, o instrumento de ratificação deve ser formalmente transmitido ao depositário, que pode ser um Estado ou uma organização internacional como a ONU. A adesão implica o consentimento de um Estado que não tenha assinado anteriormente o instrumento. Estados ratificam tratados antes e depois de este ter entrado em vigor. O mesmo se aplica à adesão. Um Estado também pode fazer parte de um tratado por sucessão, que acontece em virtude de uma disposição específica do tratado ou de uma declaração. A maior parte dos tratados não são auto-executáveis. Em alguns Estados tratados são superiores à legislação interna, enquanto em outros Estados tratados recebem status constitucional e em outros apenas certas disposições de um tratado são incorporadas à legislação interna. Um Estado pode, ao ratificar um tratado, formular reservas a ele, indicando que, embora consinta em se comprometer com a maior parte das disposições, não concorda com se comprometer com certas disposições. No entanto, uma reserva não pode derrotar o objeto e o propósito do tratado. Além disso, mesmo que um Estado não faça parte de um tratado ou não tenha formulado reservas, o Estado pode ainda estar comprometido com as disposições do tratado que se tornaram direito internacional consuetudinário ou constituem normas imperativas do direito internacional, como a proibição da tortura. Todos os tratados das Nações Unidas estão reunidos em treaties.un.org. Costume O direito internacional consuetudinário – ou simplesmente “costume” – é o termo usado para descrever uma prática geral e consistente seguida por Estados, decorrente de um sentimento de obrigação legal. Assim, por exemplo, enquanto a Declaração Universal dos Direitos Humanos não é, em si, um tratado vinculativo, algumas de suas disposições têm o caráter de direito internacional consuetudinário. Normas gerais do direito internacional – princípios e práticas com os quais a maior parte dos Estados concordaria – constam, muitas vezes, em declarações, proclamações, regras, diretrizes, recomendações e princípios. https://treaties.un.org/ DIREITOS HUMANOS – CAS 2020 11 Apesar de não ter nenhum feito legal sobre os Estados, elas representam um consenso amplo por parte da comunidade internacional e, portanto, têm uma força moral forte e inegável em termos na prática dos Estados, em relação a sua conduta das relações internacionais. O valor de tais instrumentos está no reconhecimento e na aceitação por um grande número de Estados e, mesmo sem o efeito vinculativo legal, podem ser vistos como uma declaração de princípios amplamente aceitos pela comunidade internacional. A Declaração das Nações Unidas sobre os Direitos dos Povos Indígenas, por exemplo, recebeu o apoio dos Estados Unidos em 2010, o último dos quatro Estados-membros da ONU que se opuseram a ela. Ao adotar a Declaração, os Estados se comprometeram a reconhecer os direitos dos povos indígenas sob a lei internacional, com o direito de serem respeitados como povos distintos e o direito de determinar seu próprio desenvolvimento de acordo com sua cultura, prioridades e leis consuetudinárias (costumes). Já se passaram 70 anos desde que líderes mundiais determinaram explicitamente quais direitos todos no planeta poderiam esperar e exigir simplesmente por serem humanos. Nascida do desejo de impedir outro Holocausto,a Declaração Universal dos Direitos Humanos continua a demonstrar o poder das ideias para mudar o mundo. DECLARAÇÃO UNIVERSAL DOS DIREITOS HUMANOS DA ONU- HISTÓRICO http://unicrio.org.br/docs/declaracao_direitos_povos_indigenas.pdf https://www.ohchr.org/EN/NewsEvents/Pages/DisplayNews.aspx?NewsID=23856&LangID=E DIREITOS HUMANOS – CAS 2020 12 Sargento, você sabia que a Declaração Universal dos Direitos Humanos (DUDH) foi adotada em 10 de dezembro de 1948? O que são Direitos Humanos, segundo a Sociologia? Direitos Humanos são uma categoria de direitos básicos assegurados a todo e qualquer ser humano, não importando a classe social, raça, nacionalidade, religião, cultura, profissão, gênero, orientação sexual ou qualquer outra variante possível que possa diferenciar os seres humanos. Apesar de o senso comum acreditar que Direitos Humanos são uma espécie de entidade que dá suporte a algumas pessoas ou que são uma invenção para proteger alguns tipos de pessoas, eles, na verdade, são muito mais do que isso. Para entender melhor, precisamos fazer algumas distinções conceituais necessárias antes de nos aprofundar no assunto. Mitos e verdades sobre os Direitos Humanos Os Direitos Humanos não foram criados por alguém - Em primeiro lugar, os Direitos Humanos não são uma invenção, e sim o reconhecimento de que, apesar de todas as diferenças, existem aspectos básicos da vida humana que devem ser respeitados e garantidos. A Declaração Universal dos Direitos Humanos foi redigida a fim de resguardar os direitos já existentes desde que houve qualquer indício de racionalidade nos seres humanos. Assim sendo, ela não criou ou inventou direitos em seus artigos, mas se limitou a escrever oficialmente aquilo que, de algum modo, já existia anteriormente à sua redação. Portanto, quando o senso comum fala que “os Direitos Humanos foram criados para...”, já podemos identificar algo de errado no comentário. Os Direitos Humanos são assegurados a toda e qualquer pessoa. Os Direitos Humanos são universais - Em segundo lugar, a extensão dos Direitos Humanos é universal, aplicando-se a todo e qualquer tipo de pessoa. Portanto, eles não servem para proteger ou beneficiar alguém e condenar outros, mas tem aplicação geral. Então, frases repetidas pelo senso comum, como “Direitos Humanos servem para proteger bandidos”, não estão corretas, visto que os Direitos Humanos são uma proteção a todos os humanos. Alegações com base na Declaração Universal dos Direitos Humanos podem ser feitas para evitar ações que violem os direitos de réus ou criminosos, como o cárcere injustificado, a tortura ou o assassinato. https://brasilescola.uol.com.br/filosofia/senso-comum.htm https://brasilescola.uol.com.br/geografia/declaracao-universal-dos-direitos-humanos.htm DIREITOS HUMANOS – CAS 2020 13 Os Direitos Humanos não são uma pessoa - Por último, os Direitos Humanos não são uma entidade, uma ONG ou uma pessoa que se apresenta fisicamente e tem vontade própria. Portanto, a frase repetida pelo senso comum, “Mas quando morre um policial, os Direitos Humanos não vão dar apoio à família. ” Está duplamente incorreta, visto que os Direitos Humanos não são entidade ou pessoas e que eles se estendem a todos, inclusive policiais. Você saberia dizer como surgiram os Direitos Humanos? Podemos fazer uma primeira incursão na Revolução Americana, em que a carta Bill of Rights (ou Declaração dos Direitos dos Cidadãos dos Estados Unidos) assegura certos direitos aos nascidos no país. Entre eles, garante o direito à vida, à liberdade, à igualdade e à propriedade. Assim, o governo não poderia atacar um desses direitos de alguém sem o devido processo e julgamento dentro dos parâmetros da lei. Na mesma época em que essa emenda americana foi oficialmente aceita, estourou a Revolução Francesa, em 1789, e foi redigida a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão. De cunho liberal e baseada nos ideais iluministas que pregavam a igualdade, a liberdade e a fraternidade, essa declaração tinha por objetivo assegurar que nenhum homem deveria ter mais poder ou direitos que outro – o que representava o ideal republicano e democrata, que à época ameaçava o Antigo Regime, no qual apenas uma pessoa concentrava poderes. Nesse primeiro momento, tanto a declaração americana quanto a francesa não asseguravam direitos amplos a todos os membros da raça humana, pois, no período, mulheres ainda não possuíam todos os seus direitos civis garantidos e ainda havia escravidão. Somente em 1948 foi publicada a carta oficial contendo a Declaração Universal dos Direitos Humanos, a qual asseguraria, para todos e todas, os seus direitos básicos. A história desse documento acompanha a história do início da Organização das Nações Unidas (ONU), que iniciou suas atividades em fevereiro de 1945. https://brasilescola.uol.com.br/o-que-e/historia/o-que-foi-revolucao-americana.htm https://brasilescola.uol.com.br/historiag/revolucao-francesa.htm https://brasilescola.uol.com.br/historiag/onu1.htm DIREITOS HUMANOS – CAS 2020 14 O que se queria naquele ano era evitar novas tragédias, como as ocorridas durante a Segunda Guerra Mundial — por exemplo, a chamada “solução final” do governo nazista contra o povo judeu ou os atos anteriores ao início oficial da guerra, como as prisões arbitrárias e o exílio de judeus, bem como a escravização de povos, outros genocídios etc. Com o fim da Segunda Guerra, o cenário resultante continha milhões de mortos, milhões em situação de miséria e fome, e milhares de civis que tiveram algum direito violado por ataques, ações ou crimes de guerra. Para elaborar estratégias que evitassem novas tragédias, representantes de 50 países reuniram-se para elaborar um organismo mundial que visava a garantir a paz e o respeito entre os povos. A primeira ação elaborada foi a formação de uma Comissão de Direitos Humanos da ONU, que ficaria responsável pela redação de um documento prescritivo para listar todos os direitos fundamentais dos seres humanos. A declaração foi concluída em 18 de junho de 1948 e aprovada pela Assembleia Geral da ONU em 10 de dezembro de 1948. Hoje, 193 países são signatários da ONU. Isso significa que, entre outras coisas, eles devem garantir em seus territórios o respeito aos direitos básicos dos cidadãos. Não há uma maneira expressa e objetiva da organização fiscalizar e regular o cumprimento dos Direitos Humanos, mas as legislações da maioria dos países ocidentais democráticos, bem como seus sistemas judiciários, recorrem aos artigos expressos na Declaração Universal dos Direitos Humanos para formularem seus textos legais e aplicarem as decisões e medidas jurídicas. Direitos humanos e a ONU Além de ter redigido o documento central que trata dos Direitos Humanos no mundo, a ONU tem a tarefa de garantir a aplicação de tais direitos. Porém, a organização não pode atuar como uma fiscal ou central reguladora ordenando ações dentro dos países e dos governos. O que a ONU pode fazer é, no máximo, recomendações para que os países signatários sigam os preceitos estabelecidos no documento. Além de recomendações, são comuns ações estratégicas envolvendo os países signatários para pressionar governos para que respeitem os Direitos Humanos dentro de seus territórios, como embargos econômicos, cortes de relações comerciais, restrições em zonas de livre comércio e restrições ou cortes de relações exteriores. https://brasilescola.uol.com.br/historiag/segunda-guerra-mundial.htm DIREITOS HUMANOS – CAS 2020 15 Direitos Humanos no Brasil Há muito o que se discutir a respeito dos Direitos Humanos no Brasil: Em primeiro lugar: existem inúmeros desrespeitos a tal categoria de direitos em nosso território por parte de governos, de agentes de Estado e de empresas. Em segundo lugar: há uma relutância do senso comumem aceitar essa categoria de direitos, percebendo-se, inclusive, que quem critica tais direitos também está assegurado por eles. Em terceiro lugar: podemos perceber que personalidades que dedicaram as suas vidas a lutar por tais direitos foram ameaçadas, mortas ou silenciadas. Ao longo do tempo, percebemos que as constituições foram, gradativamente, adequando-se e sendo aperfeiçoadas quanto às garantias dos Direitos Humanos dos cidadãos brasileiros. Tomemos, como exemplo, os saltos qualitativos representados pela Constituição Federal de 1934, que garantiu avanços para a classe trabalhadora e estabeleceu o sufrágio feminino, e pela Constituição Federal de 1988, que está totalmente alinhada com a Declaração Universal dos Direitos Humanos. Também esbarramos em alguns problemas em relação à garantia dos Direitos Humanos em território brasileiro hoje. Os principais fatores que evidenciam essas falhas são as altas taxas de homicídios, em especial de jovens, moradores de periferias e negros; o abuso policial e as execuções cometidas por policiais ou milícias; o falho sistema prisional, que se encontra em crise; as ameaças aos defensores dos Direitos Humanos; a miséria e a alta desigualdade social; a violência contra a mulher; e o trabalho em situações análogas à escravidão. https://brasilescola.uol.com.br/historiab/constituicao-1934.htm https://brasilescola.uol.com.br/historiab/constituicao-1934.htm https://brasilescola.uol.com.br/historiab/constituicao.htm DIREITOS HUMANOS – CAS 2020 16 Artigos da Declaração Universal de Direitos Humanos Policial, você sabia que o documento oficial da ONU chamado Declaração Universal dos Direitos Humanos possui 30 artigos antecedidos por um preâmbulo? Vamos estudá-los? O preâmbulo traz as justificativas para a redação de tal documento e estabelece as bases sobre as quais os artigos foram pensados. Abaixo, explicamos cada um dos artigos da Declaração Universal dos Direitos Humanos. Artigo 1º — trata da liberdade e da igualdade, que devem estender-se a todos os seres humanos. Artigo 2º — todas as pessoas podem requerer para si os direitos apresentados no documento. Nenhuma discriminação, de qualquer origem, pode ser feita. Artigo 3º — são apresentados os direitos mais fundamentais: à vida, à liberdade e à segurança pessoal. Artigo 4º — diz que ninguém pode ser mantido em regimes de escravidão ou servidão. Artigo 5º — diz que ninguém pode ser submetido à tortura, à crueldade ou a qualquer tipo de tratamento degradante. Artigo 6º — a personalidade jurídica (ou seja, o reconhecimento legal e jurídico de todos como cidadãos) deve ser reconhecida em todo e qualquer lugar. Artigo 7º — a lei deve ser igual para todos, deve proteger a todos, e o documento da declaração também vale para todos, não importando as diferenças. Artigo 8º — toda pessoa pode recorrer ao sistema de justiça contra as violações da lei que as atingirem. Artigo 9º — proíbe as prisões, detenções ou exílios arbitrários, ou seja, que não foram resultados de um processo legal que comprove o ato como determinação de uma sentença judicial ou de algum tipo de medida judicial válida. Artigo 10º — todo mundo tem direito a um julgamento oficial, público, imparcial e justo. Artigo 11º — com dois incisos, o artigo afirma que alguém que é acusado de um delito é inocente até que se prove o contrário e que não se pode condenar alguém por uma ação que, no momento em que foi cometida, não era crime em âmbito nacional ou internacional. Artigo 12º — a lei deve proteger para que ninguém sofra intromissões no âmbito privado de suas vidas. Artigo 13º — tratando de fronteiras e territórios, os dois incisos desse artigo falam que DIREITOS HUMANOS – CAS 2020 17 todo mundo tem o direito de residir onde quiser dentro de um Estado e que todos podem abandonar ou retornar ao seu Estado de origem quando quiserem. Artigo 14º — os dois incisos desse artigo garantem o direito à busca de asilo em outros países por perseguição, salvo em caso de processo legal legítimo. Artigo 15º — os dois incisos desse direito dizem que a nacionalidade é um direito de todos e que ninguém pode ser privado dele. Artigo 16º — os três incisos desse artigo dizem que: a partir da idade em que o casamento é permitido, todos têm o direito de se casar, independente de qualquer diferença existente entre eles, desde que haja o consentimento de ambas as partes; e que o Estado deve garantir a proteção à família, entendendo que essa é o elemento fundamental da sociedade. Artigo 17º — diz que toda pessoa tem direito à propriedade e que ninguém pode ser arbitrariamente privado dela. Artigo 18º — trata da liberdade religiosa, garantindo o direito a todos de escolherem e mudarem seus credos religiosos, bem como manifestá-los em âmbito público ou privado. Artigo 19º — diz que todos têm o direito à liberdade de expressão, ninguém pode ser censurado ou discriminado por suas opiniões, e todos têm o direito de divulgá-las. Artigo 20º — todo mundo pode reunir-se pacificamente, e ninguém pode ser obrigado a participar de qualquer tipo de reunião. Artigo 21º — todo mundo pode participar da política e da vida pública de seu país, seja diretamente, seja por meio de representantes eleitos por votação. O terceiro inciso desse artigo diz ainda que a vontade popular é o fundamento primeiro que confere legitimidade aos poderes públicos. Artigo 22º — todos têm direito à segurança e à seguridade social e podem exigir esses direitos em suas diversas formas possíveis. Artigo 23º — tratando do trabalho, os quatro incisos desse artigo garantem a todas as pessoas: a possibilidade de escolha do trabalho; o trabalho digno; a remuneração compatível, justa e digna por qualquer tipo de trabalho; a remuneração igual pelo trabalho igual; e a possibilidade de fundação e filiação a sindicatos. Artigo 24º — todo mundo tem direito ao descanso, ao lazer, a uma jornada de trabalho compatível com o descanso e a férias remuneradas periódicas. Artigo 25º — o primeiro inciso diz que todo mundo tem direito a condições básicas de vida que garantam, para si e para a sua família, as condições básicas de subsistência (saúde, bem-estar, alimentação, vestuário, moradia e serviços sociais necessários). No caso de perda dos meios de subsistência involuntária, também é assegurada a assistência social. O segundo inciso garante o amparo à maternidade e à infância, que devem ser protegidas. DIREITOS HUMANOS – CAS 2020 18 Artigo 26º — tratando da educação, esse artigo diz que todas as pessoas têm o direito ao ensino elementar, universal e gratuito. Diz também que o ensino superior deve estar aberto a todos em igualdade, que a educação deve promover o respeito e os Direitos Humanos, e que cabe aos pais a escolha do tipo de educação que seus filhos vão receber. Artigo 27º — todos têm o direito de participar e usufruir da cultura, das artes e da ciência produzidas em sua comunidade. Artigo 28º — todos, sem distinção, têm direito à ordem e à garantia dos direitos estabelecidos na Declaração. Artigo 29º — todos têm deveres para com as comunidades e, seguindo o cumprimento dos deveres, têm seus direitos garantidos. Artigo 30º — os direitos e garantias apresentados na Declaração não podem ser utilizados para destruir ou atacar qualquer direito fundamental. Resumo Os Direitos Humanos são uma categoria de direitos básicos e inalienáveis. Garantem direitos básicos a todos os membros da espécie humana. Seus primeiros reconhecimentos ocorreram na Revolução Americana e na Revolução Francesa. Foram oficializados, no século XX, por meio da Declaração Universal dos Direitos Humanos, da ONU. Possuem como objetivo garantir direitos fundamentais, como a vida, a liberdade, a saúde e a segurança das pessoas, bem como o direito à defesa e ao justo julgamento a quem seja acusadode um crime. Evolução dos direitos humanos no brasil Sargento, vamos estudar a evolução dos Direitos Humanos no Brasil? Os direitos humanos são um importante instrumento de proteção a toda e qualquer pessoa no mundo. Por isso, são garantidos por inúmeros tratados e documentos jurídicos em diversos países, um deles o Brasil. Neste texto falaremos especificamente sobre os direitos humanos no Brasil. Nosso país conta com uma série de ferramentas para garantir que os direitos humanos sejam estendidos a todos os nossos cidadãos. Mas infelizmente na prática ainda não atingimos este objetivo. DIREITOS HUMANOS – CAS 2020 19 OS DIREITOS HUMANOS SÃO GARANTIDOS PELA NOSSA CONSTITUIÇÃO No Brasil, os direitos humanos são garantidos na Constituição Federal de 1988, o que pode ser considerado um grande avanço jurídico, já que o país conta com uma história marcada por episódios de graves desrespeitos a esses direitos. A mais recente constituição garante os direitos civis, políticos, econômicos, sociais e culturais dos nossos cidadãos. Essas garantias aparecem, por exemplo, logo no primeiro artigo, onde é estabelecido o princípio da cidadania, da dignidade da pessoa humana e os valores sociais do trabalho. Já no artigo 5º é estabelecido o direito à vida, à privacidade, à igualdade, à liberdade e outros importantes direitos fundamentais, sejam eles individuais ou coletivos. Visando garantir a cidadania e a dignidade humana, a Constituição defende princípios como: Igualdade entre gêneros; Erradicação da pobreza, da marginalização e das desigualdades sociais; Promoção do bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, gênero, idade ou cor; Racismo como crime imprescritível; Propôs direito de acesso à saúde, à previdência, à assistência social, à educação, à cultura e ao desporto; Reconhecimento de crianças e adolescentes como pessoas em desenvolvimento; Estabelecimento da política de proteção ao idoso, ao portador de deficiência e aos diversos agrupamentos familiares; Orientação de preservação da cultura indígena. Ainda que a Constituição de 1988 seja o marco mais evidente dos direitos humanos no Brasil, eles já apareciam anteriormente, até mesmo em outras constituições. https://www.politize.com.br/constituicao-de-1988/ http://www.egov.ufsc.br/portal/conteudo/os-direitos-humanos-no-brasil-e-constitui%C3%A7%C3%A3o-de-1988-o-desafio-da-efetiva%C3%A7%C3%A3o-dos-direitos-h https://www.politize.com.br/constituicao-de-1988/ DIREITOS HUMANOS – CAS 2020 20 ATUAIS DESAFIOS DOS DIREITOS HUMANOS NO BRASIL. Você já parou para pensar quais são os atuais desafios dos Direitos Humanos no Brasil? Saberia dizer quais são eles? Os direitos fundamentais resguardados pela atual constituição colocam o Brasil como um dos países com o mais completo ordenamento jurídico em relação aos direitos humanos. Com isso, os direitos humanos tornaram-se um compromisso do Governo Federal e hoje são conduzidos como uma política pública. Contudo, décadas após a instauração da nova constituição, ainda existem muitas dificuldades em tirar esses princípios do papel. Segundo o assessor de direitos humanos da Anistia Internacional, Maurício Santoro, os direitos humanos no Brasil são uma questão marcada por contradições. Para ele, o país apresenta ótimas leis sobre o assunto, mas o grande problema é que elas ainda não são cumpridas. O relatório Estado dos Direitos Humanos no Mundo, organizado pela Anistia Internacional, mostra que entre as principais falhas do Brasil em direitos humanos, aparecem problemas como: A alta taxa de homicídios no país, sobretudo de jovens negros; Os abusos policiais e as execuções extrajudiciais, cometidas por policiais em operações formais ou paralelas, em grupos de extermínio ou milícias; A crítica situação do sistema prisional; A vulnerabilidade dos defensores de direitos humanos, principalmente em áreas rurais; A violência sofrida pela população indígena, sobretudo pelas falhas em políticas de demarcação de terras; e As várias formas de violência contra as mulheres. A grande preocupação é que estes problemas persistem no país há cerca de 30 anos, sem que as autoridades tenham criado soluções efetivas para mudar o cenário. Para o diretor executivo da Anistia Internacional no Brasil, Atila Roque, o Brasil vive em um estado permanente de violação de direitos humanos. Mesmo que o país tenha avançado em algumas áreas, como na redução da pobreza, a situação se manteve crítica em diversos outros setores. Segundo Roque, a boa notícia é que, apesar das falhas governamentais em melhorar a situação dos direitos humanos, a sociedade tem investido em transformar esse cenário. A mudança vem ocorrendo na mobilização das periferias e favelas, principais vítimas das violações de direitos humanos, e nas diversas manifestações de pessoas saindo às ruas ou lançando campanhas para reivindicar seus direitos. https://www.politize.com.br/politicas-publicas-o-que-sao/ https://anistia.org.br/ https://anistia.org.br/wp-content/uploads/2017/02/AIR2017_ONLINE-v.2-2.pdf https://www.politize.com.br/crise-do-sistema-prisional-brasileiro-causas/ https://www.nexojornal.com.br/expresso/2017/03/01/Por-que-cresce-o-n%C3%BAmero-de-mortes-de-defensores-de-direitos-humanos-no-Brasil https://www.politize.com.br/movimento-indigena/ http://brasil.elpais.com/brasil/2016/02/23/politica/1456259176_490268.html http://brasil.elpais.com/brasil/2016/02/23/politica/1456259176_490268.html http://brasil.elpais.com/brasil/2016/02/23/politica/1456259176_490268.html DIREITOS HUMANOS – CAS 2020 21 DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA. Sargento, você sabe o que é dignidade da pessoa humana? Vamos aprender? O conceito de dignidade da pessoa humana é central para a problemática dos direitos humanos. Falar dessa questão é inseparável de uma reflexão sobre o alcance e o sentido da ideia de pessoa. Trata-se de pensar o conceito de pessoa a partir de duas contribuições importantes: a de Boécio (480 – 524) e a de Boaventura de Bagnoregio (1217 – 1274). Enquanto na definição de Boécio – talvez a mais conhecida e privilegiada – o homem se caracteriza como substância racional, em Boaventura essa ênfase é para a dimensão relacional da criatura humana. Dizer pessoa humana é falar de um ser de relação, que ganha sentido quando estabelece e vive em constante relação com outros homens; é, portanto, falar de uma criatura que somente alcança a sua plenitude numa vida de relação com o outro. O fato de ser pessoa (desde sempre relação com o outro) expressa, segundo Boaventura, a própria noção de dignidade. “A dignidade é atributo intrínseco, da essência, da pessoa humana, único ser que compreende um valor interno, superior a qualquer preço, que não admite substituição equivalente. Assim a dignidade entranha e se confunde com a própria natureza do ser humano”. (SILVA,1998, pág. 91) Nesse sentido, toda violência pode ser entendida como uma forma de violação da dignidade humana, porque redutora do outro a si mesmo. Balestreri conceitua o agente de Segurança Pública como um cidadão qualificado que representa o Estado, em seu contato mais imediato com a população, o qual porta a singular permissão para o uso da força e das armas, no âmbito da lei. Dessa forma, a fim de não incorrer em nenhuma violação de direitos junto à sociedade, torna-se imprescindível agir em consonância as leis, normas e tratados internacionais dos direitos humanos. O Policial, no exercício de sua cidadania, tem o direito de ser bem assistido pelo Estado, estar bem equipado, preparado e ter boas condições de trabalho refletindo, assim, a imagem da Instituição e de seu País. O Policial Militar, inequivocamente, é sujeito de Direitos Humanos; respeitar e conceber sua cidadania são fundamentos imprescindíveispara o crescimento de todos. Ainda, pela normativa internacional de Direitos Humanos, o Estado tem obrigações fundamentais para a formação continuada do Policial Militar, onde observaremos mais adiante quando trataremos dos Princípios Básicos sobre a Utilização da Força e de Armas de Fogo pelos funcionários responsáveis pela aplicação da lei (PBUFAF). No estudo da normativa internacional fica claramente evidenciado que o Policial Militar é sujeito de Direitos Humanos, cabendo ao Estado promover sua execução nos parâmetros internacionais contratados, preservando individualidades e fortalecendo, profissionalmente, capacidades física, psicológica, intelectual e social. DIREITOS HUMANOS – CAS 2020 22 ESTUDOS DOS PRINCIPAIS TRATADOS E DEMAIS INSTRUMENTOS GLOBAIS REFERENTES AOS DIREITOS HUMANOS Durante o estudo da disciplina DIREITOS HUMANOS, possibilitaremos a discussão dos principais valores inseridos nos Instrumentos Internacionais de Direitos Humanos relacionados à atividade policial, a saber: a. Declaração Universal dos Direitos Humanos (DUDH); b. Código de Conduta para os Funcionários Responsáveis pela Aplicação da Lei (CCEAL); c. Princípios Básicos sobre a Utilização da Força e de Armas de Fogo pelos Funcionários Responsáveis pela Aplicação da Lei; d. Convenção contra a Tortura e outros Tratamentos ou Penas Cruéis, Desumanos ou Degradantes; e. Conjunto de Princípios para a Proteção de Todas as Pessoas sujeitas a qualquer forma de Detenção ou Prisão. Presidência da República Secretaria-Geral Subchefia para Assuntos Jurídicos DECRETO Nº 10.255, DE 27 DE FEVEREIRO DE 2020 Convoca a Quinta Conferência Nacional dos Direitos da Pessoa com Deficiência. O PRESIDENTE DA REPÚBLICA, no uso da atribuição que lhe confere o art. 84, caput, inciso VI, alínea “a”, da Constituição, DECRETA: Art. 1º Fica convocada a Quinta Conferência Nacional dos Direitos da Pessoa com Deficiência, sob a coordenação do Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, a realizar-se em Brasília, Distrito Federal, no mês de dezembro de 2020, em data a ser estabelecida em ato do Ministro de Estado da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, com o tema “Cenário atual e futuro na implementação dos direitos da pessoa com deficiência: construindo um Brasil mais inclusivo”. http://legislacao.planalto.gov.br/legisla/legislacao.nsf/Viw_Identificacao/DEC%2010.255-2020?OpenDocument DIREITOS HUMANOS – CAS 2020 23 Art. 2º As diretrizes gerais para a organização e a realização da Quinta Conferência Nacional dos Direitos da Pessoa com Deficiência serão objeto de ato do Ministro de Estado da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, a ser publicado no prazo de trinta dias, contado da data de publicação deste Decreto. Art. 3º A convocação das conferências municipais, estaduais e distrital dos direitos da pessoa com deficiência é da competência dos governos municipais, estaduais e distrital, respectivamente. Parágrafo único. A eventual impossibilidade de realização das conferências regionais não interferirá na realização da Quinta Conferência Nacional dos Direitos da Pessoa com Deficiência. Art. 4º A Quinta Conferência Nacional dos Direitos da Pessoa com Deficiência será presidida pelo Ministro de Estado da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos e, em suas ausências ou seus impedimentos, pelo Presidente do Conselho Nacional dos Direitos da Pessoa com Deficiência. Art. 5º O Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos dará publicidade aos resultados da Quinta Conferência Nacional dos Direitos da Pessoa com Deficiência, no prazo de trinta dias, contado da data de seu encerramento. Art. 6º Este decreto entra em vigor na data de sua publicação. Brasília, 27 de fevereiro de 2020; 199º da Independência e 132º da República. JAIR MESSIAS BOLSONARO Tatiana Barbosa de Alvarenga DIREITOS HUMANOS – CAS 2020 24 Características dos direitos humanos ou especificidades dos direitos humanos Indivisibilidade: Os direitos humanos não podem ser divididos ou cindidos, pois são um conjunto único de direitos. Interdependentes: Significa que dependem de outros, possuem interseções para atingirem finalidades, como por exemplo, os direitos humanos de 1º, 2º, 3º, 4º e 5º gerações/dimensões. Interrelacionalidade: Os direitos humanos estão relacionados com os sistemas de proteção dos direitos humanos, ou seja, não há hierarquia. (O posicionamento hierárquico dos tratados de direitos humanos no ordenamento jurídico sempre geram discussões, no entanto, existem doutrinas com posicionamentos divergentes a respeito. Sendo assim, é imprescindível analisar todos os posicionamentos para se obter um estudo geral perante ao jurídico da questão- Professora Adriane Ouverney) Há ainda os sistemas de proteção Global e os sistemas de proteção Regional. O sistema Global é o sistema da ONU de proteção de direitos humanos. Como exemplo se pode citar o Lula quando peticionou perante o órgão de Comissão de direitos humanos da ONU. O sistema Regional da OEA – Corte Interamericana de Direitos Humanos e Comissão Interamericana (Lei Maria da Penha). Petição, art. 44 do Pacto de São José da Costa Rica, conforme dispositivo abaixo: Art.44º Qualquer pessoa ou grupo de pessoas, ou entidade não governamental legalmente reconhecida em um ou mais Estados membros da Organização, pode apresentar à Comissão petições que contenham denúncias ou queixas de violação desta Convenção por um Estado- parte. Imprescritibilidade: Significa dizer que a pretensão de respeito e concretização de direitos humanos não se esgota pelo passar dos anos, podendo ser exigida a qualquer momento, assim, não sofre o decurso do tempo. O art. 46, §1º, alínea “b” da Convenção Americana de Direitos Humanos, dispõe que a petição ou a comunicação internacional deve respeitar 6 (seis) meses a partir da data em que o prejudicado (vítima) tenha recebido a notificação da decisão definitiva do seu país. Artigo 46º 1. Para que uma petição ou comunicação apresentada de acordo com os artigos 44 ou 45 seja admitida pela Comissão, será necessário: que seja apresentada dentro do prazo de seis meses, a partir da data em que o presumido prejudicado em seus direitos tenha sido notificado da decisão definitiva; Os tribunais internacionais não podem ser considerados como grau de recurso, por uma questão simples de direito internacional, além de soberania. Vedação do Retrocesso ou Regresso (efeito “Cliquet”): Uma vez estabelecido os Direitos Humanos, não se admite o retrocesso visando limitação ou diminuição DIREITOS HUMANOS – CAS 2020 25 do direito, como por exemplo, as cláusulas pétreas, em que os direitos não podem ser retirados ou diminuídos, mas podem ser aumentados ou melhorados. Históricos: Significa que os direitos humanos não surgiram todos ao mesmo tempo, são frutos de conquistas históricas, e foram construídos gradualmente. Como marco temos a 2ª Guerra Mundial (1945) e a Declaração Universal dos Direitos Humanos (1948). (É de suma importância interagir com o surgimento dos ideais dos Direitos Humanos para um entendimento mais concreto da formação dos mesmos em sociedade, questão histórica e social dos acontecimentos em detrimento das nações- Profª Adriane Ouverney). DIREITOS HUMANOS – CAS 2020 26 TEORIA GERAL DOS DIREITOS HUMANOS / CONSTITUIÇÃO DE 1988-BRASIL Interpretação dos Direitos Humanos. Máxima Efetividade: Os Direitos Humanos devem ter aplicação direta, imediata e integral. Não necessita de complemento, não tem prazo e não tem restrição. Primazia da norma mais favorável: É a aplicação da norma mais favorável. Margem de apreciação: É baseada no sistema Europeu de proteção dos Direitos Humanos, a corte europeia se utiliza da margem deapreciação para a reparação do dano ou lesão no seu tempo, modo e disposição. Obs.: Essa teoria não se utiliza no sistema americano. O que é possível é o controle de convencionalidade, ou seja, a compatibilidade das leis do país com as convenções ou tratados internacionais de Direitos Humanos. Direitos Humanos na Constituição Federal Art.4º, CF, são os princípios chamados de abertura para o Direito Internacional. Art. 4º A República Federativa do Brasil rege-se nas suas relações internacionais pelos seguintes princípios: II - Prevalência dos direitos humanos; VI - Defesa da paz; VIII - repúdio ao terrorismo e ao racismo; X - Concessão de asilo político. Art.5º, §1°, 2°, e 3°, CF/88, aplicação imediata, ou seja, os Direitos são autoaplicáveis, vinculam os três poderes. Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo- se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: § 1º As normas definidoras dos direitos e garantias fundamentais têm aplicação imediata. § 2º Os direitos e garantias expressos nesta Constituição não excluem outros decorrentes do regime e dos princípios por ela adotados, ou dos tratados internacionais em que a República Federativa do Brasil seja parte. § 3º Os tratados e convenções internacionais sobre direitos humanos que forem aprovados, em cada Casa do Congresso Nacional, em dois turnos, por três quintos dos votos dos respectivos membros, serão equivalentes às emendas constitucionais. ” Os direitos previstos DIREITOS HUMANOS – CAS 2020 27 na Constituição Federal não excluem outros decorrentes de tratados internacionais de Direitos Humanos. Isso é chamado de Cláusula de abertura dos Direitos Humanos. Artigo 5º, caput CF/88 – todos são iguais perante a lei sem distinção de qualquer natureza. Art. 5º da CF/88. Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: Artigo 5º, § 1º CF/88 os direitos humanos são autoaplicáveis. Art. 5º da CF/88 (...) § 1º. As normas definidoras dos direitos e garantias fundamentais têm aplicação imediata. Artigo 5º, § 2º CF/88 – os direitos aqui previstos não excluem outros decorrentes de Tratados (também chamados de Convenções) de Direitos Humanos. Cláusula de abertura para os Direitos Humanos. Art. 5º da CF/88 (...) § 2º. Os direitos e garantias expressos nesta Constituição não excluem outros decorrentes do regime e dos princípios por ela adotados, ou dos tratados internacionais em que a República Federativa do Brasil seja parte. Artigo 5º, § 3º CF/88 – foi introduzido pela EC 45/2004 – diz que Tratados Internacionais de Direitos Humanos que foram aprovados com quórum de 3/5, em turnos, nas 2 casas do Congresso, serão equivalentes as Emendas Constitucionais. Art. 5º da CF/88 (...) § 3º. Os tratados e convenções internacionais sobre direitos humanos que forem aprovados, em cada Casa do Congresso Nacional, em dois turnos, por três quintos dos votos dos respectivos membros, serão equivalentes às emendas constitucionais. Mas com o Pacto de São José da Costa Rica, também chamado de Convenção Americana de Direitos Humanos, há previsão de somente uma prisão civil que seria a do devedor de alimentos. 1969 vigor 1978 BR 1992 Tratado Internacional Direitos Humanos – se for matéria de DH exige quórum de 3/5, em 2 turnos, nas 02 casas do Senado – EC= (norma constitucional). Poderá ser também de matéria simples = norma supralegal. (PSJCR) Comum – matéria simples – norma infraconstitucional. Página 2 de 2 CF/88 Convenção das Pessoas com Deficiência e seu protocolo facultativo Normas Supralegais (PSJCR) Normas Supralegais (PSJCR) Artigo 5º, § 4º CF/88 – o Brasil também se submete ao Tribunal Penal Internacional (TPI) – EC 45/2004. Art. 5º da CF/88 (...) §4º. O Brasil se submete à jurisdição de Tribunal Penal Internacional a cuja criação tenha manifestado adesão. Este Tratado foi criado pelo Estatuto de Roma. DICA: artigo 5º do Estatuto fala dos crimes que são julgados pela TPI São 4 crimes: genocídio, guerra, agressão x Estado Artigo 109, inciso V - A, § 5º da CF/88 Art. 109 da CF/88. Aos juízes federais compete processar e julgar: As causas relativas a direitos humanos a que se refere o § 5º deste artigo; § 5º. ATENÇÃO: 1) Bloco de Constitucionalidade; 2) Recurso Extraordinário 466343/2008; e 3) Súmula Vinculante 25 CF/88 – dizia que tínhamos 02 tipos de prisão civil: Prisão civil por dívidas; Prisão para o devedor de alimentos. DIREITOS HUMANOS – CAS 2020 28 Nas hipóteses de grave violação de direitos humanos, o Procurador-Geral da República, com a finalidade de assegurar o cumprimento de obrigações decorrentes de tratados internacionais de direitos humanos dos quais o Brasil seja parte, poderá suscitar, perante o Superior Tribunal de Justiça, em qualquer fase do inquérito ou processo, incidente de deslocamento de competência para a Justiça Federal. Federalização dos crimes graves contra os Direitos Humanos. Federalizar é deslocar a competência. Presunção de inocência. Todo homem acusado de um ato delituoso tem o direito de ser presumido inocente até que sua culpabilidade tenha sido provada., art. 14 PDCP. “ XII. Direito a privacidade. Art. 5º, X da CF. XIII. Direito à liberdade de locomoção e residência dentro do País, Remédio efetivo: solução/devido processo legal - contraditório e ampla defesa, art. 5º LV, XXXIV e XXXV. Presumido inocente até que sua culpabilidade tenha sido provada: Ninguém será culpado até o trânsito em julgado da sentença penal condenatória. Proibição da tortura, da servidão e escravidão (sem exceções). Podemos dividir em duas partes: Valores - Valores como igualdade, fraternidade, presunção da inocência, propriedade, privacidade, liberdade de pensamento, opinião, consciência e religião, segurança social, esforço nacional pela cooperação internacional, direitos econômicos, sociais e culturais indispensáveis à dignidade humana e ao livre desenvolvimento de sua personalidade, são elementos constitutivos da Declaração Universal dos Direitos Humanos. Nota-se que o Brasil, na Constituição de 05 Out. 1988, incluiu em seu bojo os valores acima estudados, principalmente no Art. 5º, como Direitos e Garantias Fundamentais. Assim, passou a resgatar credibilidade internacional como membro da ONU. b) Violações - Ações como escravagismo, tortura e prisão ilegal são tratadas como violações da dignidade humana. As leis brasileiras passaram a tratar esses atos de forma específica, cominando penas aos transgressores, todavia acreditamos que, apenas o conhecimento da lei e punições não constituam motivações determinantes para que tais violações não ocorram. Conclusão O Brasil, perante a comunidade internacional, a partir de 1988, ao promulgar a Carta Constitucional, deixou claro que adoção e apoio aos tratados significariam bem mais que agregar ―letras mortas‖. DIREITOS HUMANOS – CAS 2020 29 A CONDIÇÃO HUMANA E ABORDAGENS HISTÓRICO – CULTURAIS DOS DIREITOS HUMANOS Você certamente já ouviu falar em Cidadania? Sabe o que é? Podemos entender cidadania como o verdadeiro alicerce para a concretização dos direitos humanos, ou seja: O amplo conjunto de direitos e obrigações da pessoa, sob a vigência do Estado Democrático de Direito. Para concretização da cidadania, no Brasil, o poder público deverá promover para todas as pessoas os Direitos: Civis: onde os princípios de liberdade, opinião, expressão e de pensamento são definidos pelo Estado como imprescindíveis; Políticos: onde o cidadão tem o direito de votar e ser votado; Sociais: onde o bem estar econômico e social, contemplados pela segurança e demais políticas sociais básicas, apresenta qualidade de vida saudável. Conduta Ética e Legal na Aplicação da Lei Sargento, você sabia que a conduta do Policial Militar deverá estar pautada no Estado Democrático de Direito, com enfoque moral e ético centrado nos valores da cidadania, na promoção e defesa dos Direitos Humanos? Esses valores éticos, legais, morais e emocionais devem estar presentes em toda sua vida profissional e pessoal. Como representante do Estado, ao Policial Militar cabe o exercício exemplar em todas as suas ações, diante da sociedade em que é partícipe. ÉTICA – (Ethikos) Palavra de origem grega, cujo significado pertence ao (ethos), ou seja, "bom costume", ―com caráter‖, ―bons hábitos‖ etc. LEGAL – Estado Democrático de Direitos, ou seja, em conformidade com as leis vigentes, aprovada no Congresso e sancionadas pelo chefe do poder Executivo, todos escolhidos pelo povo. Estudiosos assinalam que Ética e moral podem ser diferenciados. Moral tem fundamentos em valores na obediência a costumes e hábitos criados. Ética fundamenta as ações morais especificamente pela razão, ou seja, pela racionalidade humana. No que tange ao Emocional, o Policial Militar tem o Direito de estar equipado apropriadamente e possuir um treinamento condizente com as suas atividades de forma eficaz e contínua, possuir condições dignas de trabalho e ter a preocupação institucional pelo seu bem- DIREITOS HUMANOS – CAS 2020 30 estar físico, psicológico e social, para que possa desempenhar de maneira equilibrada, consciente e coerente as suas atividades policiais. No conjunto de matérias elencadas para a formação do Policial Militar encontramos o ―Controle de estresse‖ e ―Ética‖, onde serão ministrados assuntos valorosos por profissionais competentes. Código de Conduta para os Funcionários Responsáveis pela Aplicação da Lei (CCEAL); Conduta Ética e Legal na Aplicação da Lei”. Resolução 34/169 da Assembleia Geral das Nações Unidas em 17 de dezembro de 1979. Artigo 1 - Os funcionários responsáveis pela aplicação da lei devem cumprir, a todo o momento, o dever que a lei lhes impõe, servindo a comunidade e protegendo todas as pessoas contra atos ilegais, em conformidade com o elevado grau de responsabilidade que a sua profissão requer. Comentário: A. A expressão «funcionários responsáveis pela aplicação da lei» inclui todos os agentes da lei, quer nomeados, quer eleitos, que exerçam poderes de polícia, especialmente poderes de prisão ou detenção. B. Nos países onde os poderes policiais são exercidos por autoridades militares, quer em uniforme, quer não, ou por forças de segurança do Estado, a definição dos funcionários responsáveis pela aplicação da lei incluirá os funcionários de tais serviços. C. O serviço à comunidade deve incluir, em particular, a prestação de serviços de assistência aos membros da comunidade que, por razões de ordem pessoal, econômica, social e outras emergências, necessitam de ajuda imediata. D. A presente disposição visa, não só todos os atos violentos, destruidores e prejudiciais, mas também a totalidade dos atos proibidos pela legislação penal. É igualmente aplicável à conduta de pessoas não susceptíveis de incorrerem em responsabilidade criminal. Artigo 2. - No cumprimento do seu dever, os funcionários responsáveis pela aplicação da lei devem respeitar e proteger a dignidade humana, manter e apoiar os direitos fundamentais de todas as pessoas. Comentário: A. Os direitos do homem em questão são identificados e protegidos pelo direito nacional e internacional. De entre os instrumentos internacionais relevantes contam-se a Declaração Universal dos Direitos Humano, o Pacto Internacional sobre os Direitos Civis e Políticos, a Declaração sobre a Proteção de Todas as Pessoas contra a Tortura e Outras Penas ou DIREITOS HUMANOS – CAS 2020 31 Tratamentos Cruéis, Desumanos ou Degradantes, a Declaração das Nações Unidas sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação Racial, a Convenção Internacional sobre a Supressão e Punição do Crime de Apartheid, a Convenção sobre a Prevenção e Punição do Crime de Genocídio, as Regras Mínimas para o Tratamento de Reclusos, e a Convenção de Viena sobre Relações Consulares. B. Os comentários nacionais a esta cláusula deve indicar as provisões regionais ou nacionais que definem e protegem estes direitos. Artigo 3 - Os funcionários responsáveis pela aplicação da lei só podem empregar a força quando tal se afigure estritamente necessário e na medida exigida para o cumprimento do seu dever. Comentário: A. Esta disposição salienta que o emprego da força por parte dos funcionários responsáveis pela aplicação da lei deve ser excepcional. Embora admita que estes funcionários possam estar autorizados a utilizar a força na medida em que tal seja razoavelmente considerado como necessário, tendo em conta as circunstâncias, para a prevenção de um crime ou para deter ou ajudar à detenção legal de delinquentes ou de suspeitos, qualquer uso da força fora deste contexto não é permitido. B. A lei nacional restringe normalmente o emprego da força pelos funcionários responsáveis pela aplicação da lei, de acordo com o princípio da proporcionalidade. Deve-se entender que tais princípios nacionais de proporcionalidade devem ser respeitados na interpretação desta disposição. A presente disposição não deve ser em nenhum caso, interpretada no sentido da autorização do emprego da força em desproporção com o legítimo objetivo a atingir. C. O emprego de armas de fogo é considerado uma medida extrema. Devem fazer-se todos os esforços no sentido de excluir a utilização de armas de fogo, especialmente contra as crianças. Em geral, não deverão utilizar-se armas de fogo, exceto quando um suspeito ofereça resistência armada, ou quando, de qualquer forma coloque em perigo vidas alheias e não haja suficientes medidas menos extremas para dominá-lo ou deter. Cada vez que uma arma de fogo for disparada, deverá informar-se prontamente às autoridades competentes. Artigo 4 - As informações de natureza confidencial em poder dos funcionários responsáveis pela aplicação da lei devem ser mantidas em segredo, a não ser que o cumprimento do dever ou as necessidades da justiça estritamente exijam outro comportamento. Comentário: A. Devido à natureza dos seus deveres, os funcionários responsáveis pela aplicação da lei obtêm DIREITOS HUMANOS – CAS 2020 32 informações que podem relacionar-se com a vida particular de outras pessoas ou ser potencialmente prejudiciais aos seus interesses e especialmente à sua reputação. Deve-se ter a máxima cautela na salvaguarda e utilização dessas informações as quais só devem ser divulgadas no desempenho do dever ou no interesse. Qualquer divulgação dessas informações para outros fins é totalmente abusiva. Artigo 5 - Nenhum funcionário responsável pela aplicação da lei pode infligir, instigar ou tolerar qualquer ato de tortura ou qualquer outra pena ou tratamento cruel, desumano ou degradante, nem invocar ordens superiores ou circunstanciais excepcionais, tais como o estado de guerra ou uma ameaça à segurança nacional, instabilidade política interna ou qualquer outra emergência pública como justificação para torturas ou outras penas ou tratamentos cruéis, desumanos ou degradantes. Comentário: A. Esta proibição decorre da Declaração sobre a Proteção de Todas as Pessoas contra a Tortura e outras Penas ou Tratamentos Cruéis, Desumanos ou Degradantes, adotada pela Assembleia Geral, de acordo com a qual: «tal ato é uma ofensa contra a dignidade humana e será condenado como uma negação aos propósitos da Carta das Nações Unidas e como uma violação aos direitos e liberdades fundamentaisafirmados na Declaração Universal dos Direitos do Homem (e noutros instrumentos internacionais sobre os direitos do homem)». B. A Declaração define tortura da seguinte forma: Tortura significa qualquer ato pelo qual uma dor violenta ou sofrimento físico ou mental é imposto intencionalmente a uma pessoa por um funcionário público, ou por sua instigação, com objetivos tais como obter dela ou de uma terceira pessoa informação ou confissão, puni-la por um ato que tenha cometido ou se supõe tenha cometido, ou intimidá-la a ela ou a outras pessoas. “Não se considera tortura a dor ou sofrimento apenas resultante, inerente ou consequência de sanções legítimas, na medida em que sejam compatíveis com as Regras Mínimas para o Tratamento de Reclusos”. C. A expressão «penas ou tratamento cruéis, desumanos ou degradantes» não foi definida pela Assembleia Geral, mas deve ser interpretada de forma a abranger uma proteção tão ampla quanto possível contra abusos, quer físico, quer mental. Artigo 6 - Os funcionários responsáveis pela aplicação da lei devem assegurar a proteção da saúde das pessoas à sua guarda e, em especial, devem tomar medidas imediatas para assegurar a prestação de cuidados médicos sempre que tal seja necessário. DIREITOS HUMANOS – CAS 2020 33 Comentário: A. «Cuidados Médicos», significando serviços prestados por qualquer pessoal médico, incluindo médicos diplomados e paramédicos, devem ser assegurados quando necessários ou solicitados. B. Embora o pessoal médico esteja geralmente adstrito aos serviços de aplicação da lei, os funcionários responsáveis pela aplicação da lei devem tomar em consideração a opinião de tal pessoal, quando este recomendar que deva proporcionar-se à pessoa detida tratamento adequado, através ou em colaboração com pessoal médico não adstrito aos serviços de aplicação da lei. C. Subentende-se que os funcionários responsáveis pela aplicação da lei devem assegurar também cuidados médicos às vítimas de violação da lei ou de acidentes que dela decorram. Artigo 7 - Os funcionários responsáveis pela aplicação da lei não devem cometer qualquer ato de corrupção. Devem, igualmente, opor se rigorosamente e combater todos os atos desta índole. Comentários: A. Qualquer ato de corrupção, tal como qualquer outro abuso de autoridade, é incompatível com a profissão de funcionário responsável pela aplicação da lei. A lei deve ser aplicada na íntegra em relação a qualquer funcionário que cometa um ato de corrupção, dado que os Governos não podem esperar aplicar a lei aos cidadãos se não a puderem ou quiserem aplicar aos seus próprios agentes e dentro dos seus próprios organismos. B. Embora a definição de corrupção incumba a sujeição à legislação nacional, devem entender-se como incluindo tanto a execução ou a omissão de um ato, praticado pelo responsável, no desempenho das suas funções ou com estes relacionados, em virtude de ofertas, promessas ou vantagens, pedidas ou aceitos, como a aceitação ilícita destas, uma vez a ação cometida ou omitida. C. A expressão «ato de corrupção», anteriormente referida, deve ser entendida no sentido de abranger tentativas de corrupção. Artigo 8 - Os funcionários responsáveis pela aplicação da lei devem respeitar a lei e o presente Código. Devem, também, na medida das suas possibilidades, evitar e opor-se vigorosamente a quaisquer violações da lei ou do Código. DIREITOS HUMANOS – CAS 2020 34 Os funcionários responsáveis pela aplicação da lei que tiverem motivos para acreditar que se produziu ou irá produzir uma violação deste Código, devem comunicar o fato aos seus superiores e, se necessário, a outras autoridades com poderes de controle ou de reparação competentes. Comentários: A. Este Código será observado sempre que tenha sido incorporado na legislação ou na prática nacionais. Se a legislação ou a prática contiverem disposições mais limitativas do que as do atual Código, devem observar-se essas disposições mais limitativas. B. O presente artigo procura preservar o equilíbrio entre a necessidade de disciplina interna do organismo do qual, em larga escala, depende a segurança pública, por um lado, e a necessidade de, por outro lado, tomar medidas em caso de violações dos direitos humanos básicos. Os funcionários responsáveis pela aplicação da lei devem informar das violações os seus superiores hierárquicos e tomar medidas legítimas sem respeitar a via hierárquica somente quando não houver outros meios disponíveis ou eficazes. Subentende-se que os funcionários responsáveis pela aplicação da lei não devem sofrer sanções administrativas ou de outra natureza pelo fato de terem comunicado que se produziu ou que está prestes a produzir-se uma violação deste Código. C. A expressão «autoridade com poderes de controle e de reparação competentes» refere-se a qualquer autoridade ou organismo existente ao abrigo da legislação nacional, quer esteja integrado nos organismos de aplicação da lei quer seja independente destes, com poderes estatutários, consuetudinários ou outros para examinarem reclamações e queixas resultantes de violações deste Código. D. Nalguns países pode considerar-se que os meios de comunicação social («mass media») desempenham funções de controle, análogas às descritas na alínea anterior. Consequentemente, os funcionários responsáveis pela aplicação da lei poderão como último recurso e com respeito pelas leis e costumes do seu país e pelo disposto no artigo 4 do presente Código, levar as violações à atenção da opinião pública através dos meios de comunicação social. E. Os funcionários responsáveis pela aplicação da lei que cumpram as disposições deste Código merecem o respeito, o total apoio e a colaboração da comunidade em que exercem as suas funções, do organismo de aplicação da lei no qual servem e dos demais funcionários responsáveis pela aplicação da lei. DIREITOS HUMANOS – CAS 2020 35 PRINCÍPIOS BÁSICOS SOBRE A UTILIZAÇÃO DA FORÇA E ARMAS DE FOGO PELOS RESPONSÁVEIS PELA APLICAÇÃO DA LEI (PBUFAF). Praticidade Fundamentada na Normativa Internacional de Direitos Humanos e nas Leis Internas, no que Concerne ao Exercício da Função Policial Militar. O exercício profissional responsável pela aplicação da lei constitui altíssima relevância para a Segurança Pública e, em decorrência, para o crescimento de pessoas e instituições. Não há sociedade evolutiva sem segurança, e sua oferta inadequada interfere na qualidade de vida da população, em todos os níveis. O apuro técnico na formação continuada e a constante revisão nas condições de trabalho dos Policiais Militares devem ser temas constantes na agenda dos chefes, diretores e comandantes. A Normativa internacional da ONU (Organização das Nações Unidas), em que o Brasil é membro, prevê, ainda, a responsabilidade dos Governantes para com a Vida e a Liberdade de todos. A ameaça contra a vida e à Segurança dos Policiais é considerada ―[...] uma ameaça à estabilidade da sociedade no seu todo‖. Policial ameaçado, agredido, violado em seus direitos configura Crime contra os Estados Democráticos de Direito e a inarredável DEMOCRACIA. O Papel do Policial Militar, na sociedade, por relevância social e empenho na manutenção da ordem e segurança pública de todos, requer das autoridades constituídas, viabilidade e imposição nas qualificações, formação e conduta dos mesmos. Em situação de conflito, com evidente ameaça de integridade física, própria ou de outrem, o Policial terá a obrigação funcional de atuar. Neste mister, o uso da força e arma de fogo, se houver necessidade, deverão ocorrer dentro dos chamados ―meios necessários‖ para conter a agressão, ou seja, ―[...] funcionários só podem utilizar a força quando for estritamente necessário e somente na medida exigida para o desempenho das suas funções‖. O uso da forçae de armas de fogo por Policiais Militares é restrito ao respeito aos ―Direitos do Homem‖, já que a vida constitui o mais elementar e inalienável bem, defendido pela normativa Internacional da ONU, em que somos membros e devemos ―atenção particular‖, bem como às leis internas do País. Consta na Normativa Internacional, ainda que ―Os Governos devem ter em conta os Princípios Básicos a seguir enunciados, que foram formulados tendo em vista auxiliar os Estados membros a garantirem e a promoverem o verdadeiro papel dos funcionários responsáveis pela aplicação lei, a observá-los no quadro das respectivas legislação e prática nacionais e a submetê-los à atenção dos funcionários responsáveis pela aplicação da lei, bem como de outras pessoas como os juízes, os magistrados do Ministério Público, os advogados, os representantes do poder executivo e do poder legislativo e o público em geral. DIREITOS HUMANOS – CAS 2020 36 Princípios Básicos Sobre a Utilização da Força e de Armas de Fogo pelos Funcionários Responsáveis pela Aplicação da Lei Sargento, que tal estudar esses princípios? Saberia dizer quais são eles? Vamos aprender? DISPOSIÇÕES GERAIS PRINCÍPIO 1 - Os Governos e os organismos de aplicação da lei devem adotar e aplicar regras sobre a utilização da força e de armas de fogo contra as pessoas, por parte dos funcionários responsáveis pela aplicação da lei. Ao elaborarem essas regras, os Governos e os organismos de aplicação da lei devem manter, sob permanente avaliação as questões éticas ligadas à utilização da força e de armas de fogo. PRINCÍPIO 2 - Os Governos e os organismos de aplicação da lei devem desenvolver um leque de meios tão amplos quanto possível e habilitar os funcionários responsáveis pela aplicação da lei com diversos tipos de armas e de munições, que permitam uma utilização diferenciada da força e das armas de fogo. Para o efeito, deveriam ser desenvolvidas armas neutralizadoras não letais, para uso nas situações apropriadas, tendo em vista limitar de modo crescente o recurso a meios que possam causar a morte ou lesões corporais, para o mesmo efeito, deveria também ser possível dotar os funcionários responsáveis pela aplicação da lei de equipamentos defensivos, tais como escudos, viseiras, coletes antibalas e veículos blindados, a fim de se reduzir a necessidade de utilização de qualquer tipo de armas. PRINCÍPIO 3 - O desenvolvimento e utilização de armas neutralizadoras não letais deveria ser objeto de uma avaliação cuidadosa, a fim de reduzir ao mínimo os riscos com relação a terceiros, e a utilização dessas armas deveria ser submetida a um controlo estrito. PRINCÍPIO 4 - Os funcionários responsáveis pela aplicação da lei, no exercício das suas funções, devem, na medida do possível, recorrer a meios não violentos antes de utilizarem a força ou armas de fogo. Só poderão recorrer à força ou a armas de fogo se outros meios se mostrarem ineficazes ou não permitirem alcançar o resultado desejado. PRINCÍPIO 5 - Sempre que o uso legítimo da força ou de armas de fogo seja indispensável, os funcionários responsáveis pela aplicação da lei devem: DIREITOS HUMANOS – CAS 2020 37 A. Utilizá-las com moderação e a sua ação deve ser proporcional à gravidade da infração e ao objetivo legítimo a alcançar; B. Esforçar-se por reduzirem ao mínimo os danos e lesões e respeitarem e preservarem a vida humana; C. Assegurar a prestação de assistência e socorros médicos às pessoas feridas ou afetadas, tão rapidamente quanto possível; D. Assegurar a comunicação da ocorrência à família ou pessoas próximas da pessoa ferida ou afetada, tão rapidamente quanto possível. PRINCÍPIO 6 - Sempre que da utilização da força ou de armas de fogo pelos funcionários responsáveis pela aplicação da lei resultem lesões ou a morte, os responsáveis farão um relatório da ocorrência aos seus superiores, de acordo com o princípio 22. PRINCÍPIO 7 - Os Governos devem garantir que a utilização arbitrária ou abusiva da força ou de armas de fogo pelos funcionários responsáveis pela aplicação da lei seja punida como infracção penal, nos termos da legislação nacional. PRINCÍPIO 8 - Nenhuma circunstância excepcional, tal como a instabilidade política interna ou o estado de emergência, pode ser invocada para justificar uma derrogação dos presentes Princípios Básicos. PRINCÍPIO 9 - Os funcionários responsáveis pela aplicação da lei não devem fazer uso de armas de fogo contra pessoas, salvo em caso de legítima defesa, defesa de terceiros contra perigo iminente de morte ou lesão grave, para prevenir um crime particularmente grave, que ameace vidas humanas, para proceder à detenção de pessoa que represente essa ameaça e que resista à autoridade, ou impedir a sua fuga, e somente quando medidas menos extremas se mostrem insuficientes para alcançarem aqueles objetivos. Em qualquer caso, só devem recorrer intencionalmente à utilização letal de armas de fogo quando isso seja estritamente indispensável para proteger vidas humanas. PRINCÍPIO 10 - Nas circunstâncias referidas no princípio 9, os funcionários responsáveis pela aplicação da lei devem identificar-se como tal e fazer uma advertência clara da sua intenção de utilizarem armas de fogo, deixando um prazo suficiente para que o aviso possa ser respeitado, exceto se esse modo de proceder colocar indevidamente em risco a segurança daqueles responsáveis implicar um perigo de morte ou lesão grave para outras pessoas ou se mostrar manifestamente inadequado ou inútil, tendo em conta as circunstâncias do caso. DIREITOS HUMANOS – CAS 2020 38 PRINCÍPIO 11 - As normas e regulamentações relativas à utilização de armas de fogo pelos funcionários responsáveis pela aplicação da lei devem incluir diretrizes que: A. Especifiquem as circunstâncias nas quais os funcionários responsáveis pela aplicação da lei sejam autorizados a transportar armas de fogo e prescrevam os tipos de armas de fogo e munições autorizados; B. Garantam que as armas de fogo sejam utilizadas apenas nas circunstâncias adequadas e de modo a reduzir ao mínimo o risco de danos inúteis; C. Proíbam a utilização de armas de fogo e de munições que provoquem lesões desnecessárias ou representem um risco injustificado; D. Regulamentem o controle, armazenamento e distribuição de armas de fogo e prevejam nomeadamente procedimentos de acordo com os quais os funcionários responsáveis pela aplicação da lei devam prestar contas de todas as armas e munições que lhes sejam distribuídas; E. Prevejam as advertências a efetuar, sendo caso disso, se houver utilização de armas de fogo; F. Prevejam um sistema de relatórios de ocorrência, sempre que os funcionários responsáveis pela aplicação da lei utilizem armas de fogo no exercício das suas funções. MANUTENÇÃO DA ORDEM EM CASO DE REUNIÕES ILEGAIS PRINCÍPIO 12 - Dado que a todos é garantido o direito de participação em reuniões lícitas e pacíficas, de acordo com os princípios enunciados na Declaração Universal dos Direitos do Homem e no Pacto Internacional sobre os Direitos Civis e Políticos, os Governos e os serviços e funcionários responsáveis pela aplicação da lei devem reconhecer que a força e as armas de fogo só podem ser utilizadas de acordo com os princípios 13 e 14. PRINCÍPIO 13 - Os funcionários responsáveis pela aplicação da lei devem esforçar-se por dispersar as reuniões ilegais, mas não violentas sem recurso à força e, quando isso não for possível, limitar a utilização da força ao estritamente necessário. PRINCÍPIO 14 - Os funcionários responsáveis pela aplicação da lei só podem utilizar armas de fogo para dispersarem reuniões violentas se não for possível recorrer a meios menos perigosos, e somente nos limites do estritamente necessário. Os funcionários responsáveis pela aplicação da lei não devem