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Prévia do material em texto

APOSTILA TEÓRICA 
ABIN 2018 
OFICIAL TÉCNICO - PSICOLOGIA 
 
 
 
 
 
 
 
- REPRODUÇÃO PROIBIDA – 
Janeiro/2018 
 
RAFAEL TREVIZOLI NEVES 2 
CRP 06/107847 
ELABORADOR 
 
 
 
Elaborador: Rafael Trevizoli Neves 
Texto de apresentação do material 
As apostilas específicas da Educa Psico abordam os conteúdos de Psicologia 
publicados no edital para o qual o material foi elaborado. 
A elaboração tem como base os conteúdos das apostilas (temáticas e 
específicas) da Educa Psico. Estes conteúdos são revisados por especialistas de cada 
área buscando a máxima adequação ao que é exigido no edital. Além disso, estes 
especialistas elaboram textos inéditos, caso haja esta necessidade pelas exigências do 
edital. 
A proposta desse material é auxiliá-lo na organização dos seus estudos, 
possibilitando que você se dedique aos principais conteúdos de psicologia que foram 
sugeridos no edital. Importante que você busque também outras fontes de estudo para 
que possa potencializar seu desempenho na prova. 
Bons estudos! 
 
 
 
RAFAEL TREVIZOLI NEVES 3 
CRP 06/107847 
ELABORADOR 
 
 
SUMÁRIO 
 
PARTE I – A PESSOA E O COMPORTAMENTO ORGANIZACIONAL..........................5 
 
UNIDADE I – TEORIAS PSICODINÂMICAS E O DESENVOLVIMENTO DA 
PERSONALIDADE.........................................................................................................5 
UNIDADE II – PSICOPATOLOGIAS: DIAGNÓSTICO, EVOLUÇÃO E LAUDOS........69 
UNIDADE III – POSSIBILIDADES DE INTERVENÇÃO NA ÁREA PSICOSSOCIAL: 
PSICOERAPIA BREVE, TERAPIA GRUPAL.............................................................142 
UNIDADE IV – POLÍTICAS INCLUSIVAS E DEFICIÊNCIA........................................192 
UNIDADE V – DST/AIDS E ATUAÇÃO EM PROGRAMAS DE PREVENÇÃO E 
TRATAMENTO...........................................................................................................228 
UNIDADE VI – RELAÇÕES HUMANAS – AS FONTES DE TENSÃO; 
RELACIONAMENTO INTERPESSOAL; LIDERANÇA; CONFLITO..........................240 
UNIDADE VII – TEORIAS DA MOTIVAÇÃO...............................................................270 
UNIDADE VIII – VALORES E ATITUDES...................................................................280 
UNIDADE IX – PROCESSO DE COMUNICAÇÃO NAS ORGANIZAÇÕES...............284 
UNIDADE X – EQUIPES DE TRABALHO E GRUPOS NAS ORGANIZAÇÕES; 
DINÂMICA DE GRUPO...............................................................................................290 
UNIDADE XI – ORGANIZAÇÕES: ESTRUTURA, PROCESSOS E DINÂMICA.........303 
UNIDADE XII – SAÚDE E QUALIDADE DE VIDA NO TRABALHO: ESTRESSE, 
BURNOUT, ASSÉDIO MORAL E SEXUAL E ACIDENTES DE TRABALHO.............324 
UNIDADE XIII – CULTURA E CLIMA ORGANIZACIONAL........................................366 
UNIDADE XIV – PESQUISA NAS ORGANIZAÇÕES: QUANTITATIVA E 
QUALITATIVA E O DELINEAMENTO DO PROJETO DE PESQUISA.......................372 
UNIDADE XV – ORIENTAÇÃO PARA APOSENTADORIA........................................380 
 
PARTE II – MODELOS DE PROCESSOS DE GESTÃO DE PESSOAS.....................385 
 
UNIDADE I – GESTÃO DE PESSOAS NAS ORGANIZAÇÕES.................................385 
UNIDADE II – GESTÃO POR COMPETÊNCIAS........................................................392 
UNIDADE III – RECRUTAMENTO E SELEÇÃO DE PESSOAL.................................402 
UNIDADE IV – CONDIÇÕES E ORGANIZAÇÃ DO TRABALHO: TRABALHO 
PRESCRITO, AMBIENTE FÍSICO, PROCESSOS DE TRABALHO E RELAÇÕES 
 
RAFAEL TREVIZOLI NEVES 4 
CRP 06/107847 
ELABORADOR 
 
 
SOCIOPROFISSIONAIS (ANÁLISE PROFISSIOGRÁFICA); AVALIAÇÃO DO 
PERFILVCOMPORTAMENTAL.................................................................................417 
UNIDADE V – TESTES PSICOLÓGICOS...................................................................432 
UNIDADE VI – DESENVOLVIMENTO DE PESSOAS: TREINAMENTO, 
DESENVOLVIMENTO E EDUCAÇÃO; DIAGNÓSTICO DE NECESSIDADES, 
PLANEJAMENTO, EXECUÇÃO E AVALIAÇÃO DAS ATIVIDADES DE 
TREINAMENTO; TIPOS DE AVALIAÇÃO, EDUCAÇÃO CORPORATIVA; TRILHAS 
DE APRENDIZAGEM; COACHING AND MENTORING.............................................485 
UNIDADE VII – AVALIAÇÃO E GESTÃO DE DESEMPENHO..................................505 
 
PARTE III – O PSICÓLOGO NAS ORGANIZAÇÕES.................................................514 
 
UNIDADE I – O PAPEL E ATRIBUIÇÕES DO PSICÓLOGO NA ÁREA 
ORGANIZACIONAL....................................................................................................514 
UNIDADE II – ÉTICA PROFISSIONAL.......................................................................519 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
RAFAEL TREVIZOLI NEVES 5 
CRP 06/107847 
ELABORADOR 
 
 
PARTE I – A PESSOA E O COMPORTAMENTO ORGANIZACIONAL 
 
UNIDADE I – TEORIAS PSICODINÂMICAS E O DESENVOLVIMENTO DA 
PERSONALIDADE 
 
 
1.1. A Obra de Freud1 
 
 Resgatemos agora os principais conceitos postulados pelo pai da Psicanálise, 
que servirão de base para diversas outras teorias, seja desenvolvendo conceitos, seja 
se afastando da Psicanálise proposta por Freud. 
 
"Se é verdade que a causação das enfermidades histéricas se 
encontra nas intimidades da vida psicossexual dos pacientes, e 
que os sintomas histéricos são a expressão de seus mais 
secretos desejos recalcados, a elucidação completa de um caso 
de histeria estará fadada a revelar essas intimidades e denunciar 
esses segredos." Trecho de Fragmento da Análise de Um Caso 
de Histeria (Freud, 1977). 
 
1.1.1. Introdução 
 
Sigmund Freud nasceu em 1856 na pequena cidade de Freiberg, na Morávia, 
então parte do Império Austro-Húngaro (atualmente República Tcheca). Aos três anos 
de idade, a família Freud se mudou para Viena. Estudou em Paris, onde conhece o 
médico Charcot2 que já pesquisava o tratamento da histeria por meio de técnicas com 
o uso de hipnose e sugestão pela palavra. 
Retorna à Viena em 1886 com suas observações e é ironizado no círculo médico 
por suas ideias. Conhece Breuer3, renomado médico vienense e passa observar e 
estudar seus atendimentos clínicos com o uso de hipnose. 
 
1 Texto extraído e adaptado por Rafael Trevizoli Neves, da Apostila Teorias da Personalidade, 
originalmente elaborado por Ana Carolina Naves Magalhães; Daniela Ré Franguelli; Fernanda 
Gonçalves; e Paulo Keish. Revisado por Domitila Shizue Kawakami Gonzaga. 
2 Jean-Martin Charcot, médico e cientista francês (1825-1893) responsável por catalogação e 
denominação de enfermidades psiquiátricas como Mal de Parkinson e Síndrome de Tourette, 
entre outras. 
3 Josef Breuer, médico e fisiologista austríaco (1842-1925). Atribui-se a ele o mérito de ser um 
dos fundadores da psicanálise. 
 
RAFAEL TREVIZOLI NEVES 6 
CRP 06/107847 
ELABORADOR 
 
 
Juntos aprimoram o denominado método catártico que se refere à técnica em que a 
paciente, sob hipnose, fala sobre lembranças traumáticas retidas num suposto núcleo 
isolado da consciência. 
Freud aprofunda os seus conhecimentos sobre a histeria e desenvolve o método 
da livre associação de ideias que consiste em convidar os pacientes a relatarem 
continuamente quaisquer pensamentos que lhes vier à mente, sem levar em 
consideração sua importância, mesmo que essa situação lhes pareça embaraçadora. 
Abandona assim o método da hipnose e da sugestão. Freud percebe em sua 
clínica que a partir do momento em que se calava seus pacientes começavam a associar 
ideias livremente e, também, lhe contavam os seus sonhos. É a partir da análise do 
conteúdo desses relatos que ele percebe o papel da sexualidade na formação da 
personalidade. Em 1900, Freud escreve então “Interpretação dos Sonhos” e em 1905 
publica os seus “Três Ensaios sobre a Teoria da Sexualidade”. 
Toda a teoria de Freud está baseada no pressuposto de que o corpo é a fonte 
básica de toda a experiência mental. E afirmou que não hádescontinuidade nos eventos 
mentais, isto é, estes - conscientes ou não - são influenciados por fatos que os 
precederam no passado e estão ligados uns aos outros. Para Freud, o inconsciente é 
atemporal. Eis o pressuposto do Determinismo Psíquico em sua obra. 
Freud empregou a palavra “aparelho” para caracterizar uma organização mental 
dividida em sistemas ou instâncias psíquicas com funções específicas para cada uma 
destas que estão interligadas ocupando certo lugar ou topos. Em grego, “topos” quer 
dizer “lugar”, daí que o modelo tópico designa um “modelo de lugares”, sendo que Freud 
descreveu dois deles: a “Primeira Tópica” conhecida como Topográfica e a “Segunda 
Tópica”, como Estrutural4. 
 
1.1.2. A Primeira Tópica 
 
Nesse modelo tópico, o aparelho psíquico é composto por três sistemas: o 
inconsciente (Ics), o pré-consciente (Pcs) e o consciente (Cs) (também 
denominado, eventualmente, de sistema de percepção-consciência). 
 
A) Consciente 
 
4 Biógrafos de Freud, como Peter Gay “Freud, uma Vida para o Nosso Tempo” (São Paulo, Companhia das 
Letras, 2012) afirmam que a Terceira Tópica teria sido esboçada nos últimos anos de sua vida, que não 
chegou a ser concluída. 
 
RAFAEL TREVIZOLI NEVES 7 
CRP 06/107847 
ELABORADOR 
 
 
 É através deste sistema que se dá o contato do sujeito com o mundo exterior. 
Incluem-se aqui as sensações e experiências das quais há a percepção a cada 
momento. O sistema consciente tem a função de receber informações provenientes das 
excitações oriundas do exterior e do interior, que ficam registradas qualitativamente de 
acordo com o prazer e/ou desprazer que elas causam, porém não é a consciência que 
retém esses registros e representações. 
Assim, a maior parte das funções perceptivo-cognitivas motoras do ego – como 
as de percepção, pensamento, juízo crítico, evocação, antecipação, atividade motora, 
etc. – processam-se no sistema consciente, embora esse funcione intimamente 
conjugado com o sistema inconsciente. É de se ressaltar que entre estes sistemas há 
uma tensão, por vezes uma oposição. 
Freud não considerava este aspecto consciente da vida mental como o mais 
importante uma vez que há uma pequena parte de nossos pensamentos, sensações e 
lembranças perceptíveis todo o tempo. Por isso, subverte os postulados do pensamento 
racionalista e iluminista que priorizavam a razão como o centro da existência humana. 
 
B) Pré-consciente 
 O sistema pré-consciente foi concebido em articulação ao sistema consciente e 
funciona como uma espécie de peneira que seleciona aquilo que pode (ou não deve) 
chegar à consciência. Situa-se, portanto, entre o consciente e o inconsciente. 
Parte do inconsciente pode se tornar consciente com facilidade, na medida em que 
a consciência precisa de lembranças para desempenhar suas funções (como exemplos: 
nomes de pessoas, datas importantes, endereços etc.) e isso se dá nessa tópica 
intermediária – ou pré-consciente – que funciona também como um pequeno arquivo de 
registros e sede da fundamental função de conter as representações de palavras. 
 
C) Inconsciente 
 É a parte do funcionamento mental onde estão depositados os desejos instintivos 
e as necessidades ou ações fisiológicas. Para Freud, ao longo da vida do sujeito, o 
inconsciente torna-se um local para as ideias sociais inaceitáveis, memórias traumáticas 
e emoções dolorosas colocadas fora do sistema consciente pelo mecanismo da 
repressão psicológica. 
Na visão psicanalítica em Freud, o inconsciente se expressa no sintoma. 
Pensamentos inconscientes não são diretamente acessíveis por uma ordinária 
introspecção, mas podem ser interpretados por métodos especiais e técnicas como a 
 
RAFAEL TREVIZOLI NEVES 8 
CRP 06/107847 
ELABORADOR 
 
 
livre-associação, análise de sonhos e atos falhos presentes na fala uma vez examinados 
e conduzidos durante o processo analítico. 
O inconsciente cabe ressaltar, é o ponto central da teoria psicanalítica no que 
esta se diferencia das demais psicologias. Outros autores seguidores ou dissidentes de 
Freud partirão do entendimento do inconsciente para ratificar ou reformular a sua 
compreensão da psicanálise. Apresentadas as tópicas fundamentais do aparelho 
psíquico, detalharemos alguns dos conceitos usualmente empregados por Freud: 
 
1.1.3. Instinto e Pulsão 
 
A) Instinto (Instinkt) 
 Esquema de comportamento herdado (próprio de uma espécie animal) que 
pouco varia de um indivíduo para outro e que se desenrola segundo uma sequência 
temporal pouco suscetível de alterações, pois correspondem a uma finalidade 
específica: sua satisfação. O termo instinto tem implicações nitidamente definidas e 
estão distantes da noção freudiana de pulsão, como veremos. 
 
B) Pulsão (Trieb) 
Processo dinâmico que consiste numa pressão ou força (carga energética, fator 
de motricidade) que faz o organismo tender para um objetivo. Segundo Freud, uma 
pulsão tem a sua fonte numa excitação corporal (estado de tensão); o seu objetivo ou 
meta é suprimir o estado de tensão que reina na fonte pulsional e é no objeto – ou 
graças a ele – que a pulsão pode atingir a sua meta. 
Toda pulsão tem quatro componentes: uma fonte, uma finalidade, uma pressão 
e um objeto. A fonte é quando emerge uma necessidade de uma parte ou de todo corpo. 
A finalidade da pulsão é reduzir essa necessidade até que nenhuma ação seja mais 
necessária, e dar ao organismo a satisfação que ele deseja no momento. A pressão é 
a quantidade de energia ou de força empregadas para satisfazer a pulsão e é 
determinada pela intensidade ou urgência da necessidade subjacente. O objeto de uma 
pulsão é qualquer coisa, ação ou expressão que permite a satisfação pulsional. 
Certos autores parecem empregar indiferentemente os termos Instinkt ou Trieb5; outros 
parecem fazer uma distinção implícita reservando Instinkt para designar, em zoologia, 
 
5 A este respeito, vale ressaltar que as edições brasileiras das Obras de Freud foram traduzidas das versões 
inglesas e só recentemente, com a versão coordenada por Paulo Cesar de Souza pela Companhia das 
Letras (a partir de 2010) é que os termos foram traduzidos diretamente da versão alemã. Contudo as 
 
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CRP 06/107847 
ELABORADOR 
 
 
por exemplo, um comportamento hereditariamente fixado e que aparece sob uma forma 
quase idêntica em todos os indivíduos de uma espécie. 
Em Freud encontramos os dois termos em acepções nitidamente distintas. 
Quando Freud fala de Instinkt, qualifica um comportamento animal fixado por 
hereditariedade, característico da espécie, pré-formado no seu desenvolvimento e 
adaptado ao seu objeto. O termo pulsão tem como mérito por em evidencia o sentido 
de impulsão. 
As pulsões básicas foram divididas por Freud (1940) em duas forças 
antagônicas, representadas pelas pulsões de vida (responsáveis pela sobrevivência do 
indivíduo e da espécie) e pelas pulsões de morte (vetores agressivos e/ou destrutivos). 
Por estas pulsões, uma energia pode fluir, fazendo com que uma satisfação 
pulsional possa ser substituída por outra e se submeter a adiamentos. Ressaltamos que 
esta é a grande diferença do conceito da pulsão para o entendimento de instinto, visto 
que a este não cabe tal recurso, sofisticação, desvio ou adiamento. Por isso o 
mecanismo pulsional é rico em complexidades. 
Segundo Freud: “As pulsões sexuais fazem-se notar por sua plasticidade, sua 
capacidade de alterar suas finalidades, sua capacidade de se substituírem, que permite 
uma satisfação pulsional ser substituída por outra, e por sua possibilidade de se 
submeterem a adiamentos...” (Freud, 1933). As pulsões seriam então, canais pelos 
quais a energia pudesse fluir. 
As pulsões são a origem da energia psíquica que se acumula no interior do ser 
humano, gerando uma tensãoque exige ser descarregada. O objetivo do indivíduo seria, 
assim, atingir um baixo nível de tensão interna. Nesse processo de descarregamento 
de tensões psíquicas, as três estruturas da mente (id, ego e super ego) desempenham 
um papel primordial, determinando a forma como esse descarregamento se 
manifestará. Todos esses processos se desenvolvem inconscientemente. 
 
C) Pulsão de vida e pulsão de morte 
A Pulsão de Morte (compulsão à repetição) foi descrita inicialmente por Freud 
em 1899 ao analisar sonhos (A Interpretação dos Sonhos) com o entendimento de que 
eventos desagradáveis, como lembranças de guerra, poderiam ser constantemente 
repetidos. 
 
polêmicas ou divergências não foram dizimadas, visto que nesta mesma edição, Paulo Cesar de Souza e 
seus colaboradores optam pelo termo instinto ao se traduzir pulsão (Trieb). 
http://pt.wikipedia.org/wiki/Id
http://pt.wikipedia.org/wiki/Ego
http://pt.wikipedia.org/wiki/Super_ego
http://pt.wikipedia.org/wiki/Inconsciente
 
RAFAEL TREVIZOLI NEVES 10 
CRP 06/107847 
ELABORADOR 
 
 
Freud batiza esses conceitos de pulsões de autoconservação e pulsões sexuais. 
Explica que as repetições em sonhos ou mesmo em atos podem ser frutos da pulsão de 
morte e estas estariam em contradição com o princípio do prazer – regidos a partir das 
pulsões de vida. 
As descobertas de Freud referentes ao descentramento do sujeito, que 
determinam o psiquismo foram importantes para que os conceitos de Pulsão de Vida e 
Pulsão de Morte fossem formulados. A partir da elaboração das teorias ligadas ao 
inconsciente, fundamentais para o surgimento da perspectiva do deslocamento da 
soberania do consciente e do eu para os registros do inconsciente e das pulsões, novas 
concepções foram escritas. 
Para Freud (1933), as pulsões não estariam localizadas no corpo e nem no 
psiquismo, mas na fronteira entre os dois, e teriam como fonte o Id (será descrito na 
segunda tópica). A pulsão de morte estaria presente no interior da vida psíquica dos 
indivíduos (sob a forma de autodestruição, masoquismo etc.), podendo ser projetada 
para o mundo externo sob a forma de agressividade, destruição, sadismo, entre outras. 
A pulsão de vida (Eros) seria representada pelas ligações amorosas que o 
sujeito estabelece com o mundo, com as outras pessoas e consigo mesmo, enquanto a 
pulsão de morte (Thânatos) seria manifestada pela agressividade que poderá estar 
voltada para si mesmo e para o outro. 
O princípio do prazer e as pulsões eróticas são outras características da pulsão 
de vida. Já a pulsão de morte, além de ser caracterizada pela agressividade, traz a 
marca da compulsão à repetição e do movimento de retorno à inércia (ou morte). 
Embora pareçam concepções opostas, a pulsão de vida e a pulsão de morte 
estão conectadas, fundidas e, portanto, são exemplos dos postulados da ambivalência 
emocional em Freud. Podemos concluir que onde há pulsão de vida encontramos 
também a pulsão de morte. A conexão só finaliza com a morte física do sujeito. 
Em breve, conceituaremos mais alguns dos termos frequentemente empregados 
por Freud e que se transformaram em conceitos chaves para o entendimento da 
psicanálise: 
 Impulso: Energia que possui uma origem interna, situada entre o corpo somático 
(uma região onde nasce uma excitação) e o aparelho psíquico. 
 Libido: impulsos sexuais e impulsos de autoconservação. Os primeiros são os 
responsáveis pela manutenção da vida da espécie e estão relacionados à 
reprodução, já os segundos são os responsáveis pela manutenção da vida do 
indivíduo (comer, beber, dormir etc.). 
 
RAFAEL TREVIZOLI NEVES 11 
CRP 06/107847 
ELABORADOR 
 
 
 Catexia do objeto: processo de investimento da energia libidinal em ideias, 
pessoas, objetos. A mobilidade original da libido é perdida quando há a catexia 
voltada para um determinado objeto. A catexia está relacionada aos sentimentos 
de amor, ódio, raiva, como exemplos que podem ser relacionados aos objetos. 
Freud, ainda entre as amostras deste conceito em sua obra, debruça-se sobre o 
estudo do luto em oposição ao sentimento de melancolia. O luto, quando do 
desinteresse por parte do indivíduo pelas ocupações normais e a preocupação com o 
recente finado pode ser interpretado como uma retirada de libido dos relacionamentos 
habituais e cotidianos e caracteriza-se, assim, como uma extrema catexia da pessoa 
perdida. 
 Princípio do Prazer/Processo primário: Explicado pelo mecanismo psíquico 
em que as pulsões agem no sentido de busca de prazer e evita o desprazer 
(prazer causado pela redução da tensão, desprazer causado pelo acúmulo de 
tensão produzida no interior do aparelho psíquico). 
Este princípio rege as primeiras experiências da vida de um bebê recém-nascido, 
tendo como característica central a ausência de contradição: o bebê ainda não é capaz 
de levar em conta a realidade. Freud nominou este funcionamento de processos mentais 
primários. Há satisfações alucinatórias neste período em que o bebê, na ausência do 
objeto de satisfação, revive perceptivamente (reaparecimento de estados de 
consciência esquecidos ou bloqueados) de algo que proporcionou prazer no passado. 
 Princípio de Realidade/Processo secundário: As experiências pelas quais o 
bebê vai passando, faz com que esse sujeito passe a considerar a realidade 
para que suas satisfações sejam obtidas sem que a alucinação seja o meio de 
alcançá-las. A satisfação passa a considerar adiamentos e atrasos, porém desta 
maneira se mostra mais segura e provoca menor risco para a integridade do 
indivíduo. Este mecanismo foi denominado processo secundário e coexiste ao 
lado dos processos primários, isto é, um processo não substitui o outro, os dois 
formam um complexo mecanismo de funcionamento psíquico. 
 Fantasia: Modo de pensar inconsciente que não leva em conta a realidade. Está 
presente nas brincadeiras infantis, sonhos, sintomas neuróticos. É regida pelo 
processo primário. 
 
1.1.4. A Segunda Tópica 
 
 
RAFAEL TREVIZOLI NEVES 12 
CRP 06/107847 
ELABORADOR 
 
 
Freud a fim de apreender a complexidade do dinamismo do aparelho psíquico 
reelaborou a sua concepção sobre a estrutura da personalidade, produto de uma longa 
elaboração, iniciada em 1914 no artigo “Sobre o narcisismo: uma introdução”. 
Entretanto, a primeira concepção com o aparelho psíquico dividido em consciente (cs), 
(ics) e pré-consciente (pré-cs) não foi abandonada. Pelo contrário, ela foi integrada à 
nova concepção, denominada segunda tópica. 
Nesta, a personalidade é dividida em três partes que mantém relações mútuas 
entre si. São elas o ID, o EGO e o SUPEREGO. Além disso, Freud sistematiza, revisa 
e amplia alguns de seus conceitos. 
 
A) Id (“es” em alemão, é a forma latina do pronome neutro “isto”). 
Refere-se à parte inacessível da personalidade. Corresponde ao conceito inicial 
de inconsciente, apesar de também o ego e o superego possuírem aspectos 
inconscientes. Além disso, o ID é o reservatório dos instintos (tanto de vida quanto de 
morte) e da energia libidinal. É ele que satisfaz as exigências do Ego e do Superego, 
fornecendo toda a energia para eles. Apesar de seus conteúdos serem quase todos 
inconscientes, o Id tem o poder de agir na vida mental de um indivíduo. 
Características do Id: 
 Caótico e Desorganizado: As leis lógicas do pensamento não se aplicam a ele. 
Impulsos contraditórios coexistem lado a lado, sem que um anule ou diminua o 
outro. 
 Atemporal: Fatos que ocorreram no passado convivem paralelamente e sem 
desvantagem de intensidade, com relação a fatos que ocorreram recentemente. 
 É orientado pelo princípio do prazer: isto é, seu objetivo é reduzir a tensão sem 
levar em consideração os atrasos, adiamentos e o outro. Não leva em conta a 
realidade. Assim é regido pelo processo primário, em que as satisfações são 
obtidas por meio de atosreflexos e fantasias. 
 
B) Ego (ich, em alemão, forma do pronome “eu”) 
 Segundo Freud, o Ego é desenvolvido com o passar da vida do indivíduo. Parte 
do ID que passa a ser influenciada pelo mundo externo, e passa a funcionar como uma 
defesa protetora contra o que ameaça a vida psíquica do sujeito. É regido segundo o 
processo secundário, onde predominam a realidade e a razão. Tem por objetivo ajudar 
o Id a satisfazer suas pulsões, porém de forma racional, planejada, escolhendo lugares, 
objetos e momentos socialmente aceitos. 
 
RAFAEL TREVIZOLI NEVES 13 
CRP 06/107847 
ELABORADOR 
 
 
 É receptivo tanto às excitações internas quanto externas ao indivíduo. Os 
investimentos libidinais, embora oriundos do Id, passam necessariamente pelo Ego. 
 Embora muitas características do Ego coincidam com o consciente, muitos 
conteúdos inconscientes também o compõe. É o caso dos mecanismos de defesa, 
instrumentos do Ego para lidar com a tensão emanada pelo Id. O ego, portanto, exerce 
função de síntese, contato e defesa. 
 
C) Superego ("Uber-Ich", em alemão; visto em algumas traduções como “supereu”) 
 Forma-se a partir do Ego. Exerce função crítica e normativa e também de 
formação de ideais. Sua gênese se dá com o declínio do Complexo de Édipo, a partir 
da interiorização das imagens idealizadas dos pais. Age conscientemente e também 
inconscientemente. Restrições inconscientes são indiretas podendo aparecer sob a 
forma de compulsões e proibições. 
É o responsável pela autoestima, consciência moral e sentimentos de culpa. Em relação 
ao Ego pode-se dizer que o superego age como modelo e obstáculo. O Superego é o 
modelo com relação ao ideal e obstáculo com relação ao proibido. 
 
D) Ideal do ego ou Ideal do eu 
 Instância da personalidade resultante da convergência do narcisismo 
(idealização do ego) e das identificações com os pais, com os seus substitutos e com 
os ideais coletivos. Enquanto instância diferenciada, o ideal do ego constitui um modelo 
a que o sujeito procura conformar-se. 
 Em O ego e o id (1923), Freud coloca o ideal de ego e o superego como 
sinônimos, enquanto em outros textos a função do ideal é atribuída a uma instância 
diferenciada, ou pelo menos a uma subestrutura especial no seio do superego. É em 
Sobre o narcisismo: uma introdução (1914), que aparece, pela primeira vez, a expressão 
“ideal do ego” para designar uma formação intrapsíquica relativamente autônoma que 
serve de referência ao ego para apreciar as suas realizações efetivas. 
 
E) Ego Ideal ou Eu Ideal 
 Formação intrapsíquica que define Ego Ideal como um ideal narcísico de 
onipotência forjado a partir do modelo do narcisismo infantil. Nas obras de Freud, não 
se encontram qualquer distinção conceitual entre ego ideal e ideal do ego, porém outros 
autores o designam como formações diferentes. Além das divergências, todos os 
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autores estão de acordo quanto à afirmação da formação inconsciente do ego ideal, 
colocando em primeiro plano o caráter narcísico desta formação. 
 
F) Ansiedade e angústia 
 Provocada por um aumento de tensão ou desprazer desencadeado por um 
evento real ou imaginário. Traz uma ameaça para o Ego. Exemplo de estressores que 
podem levar à ansiedade: perda de um objeto desejado, perda de amor (rejeição), perda 
de identidade (prestígio), perda da autoestima (desaprovação do superego que resultam 
em culpa ou ódio em relação a si mesmo). 
 
G) Mecanismos de defesa 
 O ego muitas vezes não consegue lidar com as demandas do Id e com as 
cobranças do superego. Quando isto acontece, provocando ansiedade, alguns 
mecanismos de defesa aparecem. 
 A psicanálise supõe a existência de forças mentais que se opõem umas às 
outras e que batalham entre si. Freud utilizou a expressão pela primeira vez no seu "As 
neuroses e psicoses de defesa" (1894). 
 Citaremos agora conceitos de alguns destes mecanismos de defesa tal qual 
vistos por Laplanche em seu Dicionário de Psicanálise (1991): 
 
1) Sublimação 
 É a defesa bem-sucedida contra a ansiedade, pois diminui a tensão, com o 
desvio do aumento de tensão ou desprazer para outros canais de expressão 
socialmente aceitáveis como, por exemplo, a criação artística. 
 
2) Mecanismos de defesa patogênicos 
 Defesas que não eliminam a tensão: apenas a encobrem. O ego protege o 
indivíduo inconscientemente com distorções da realidade. Nutrem-se este efeito 
“protetor”, por um lado, os mecanismos de defesa patogênicos, contudo, são nocivos à 
medida que não possibilitam um conhecimento real sobre os desejos, medos e 
necessidades do sujeito. São eles: 
 Recalcamento/Recalque 
“Operação pela qual o sujeito procura repelir ou manter no inconsciente 
representações (pensamentos, imagens, recordações) ligadas a uma pulsão. O 
recalque produz-se nos casos em que a satisfação de uma pulsão – suscetível de 
 
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proporcionar prazer por si mesma – ameaçaria provocar desprazer relativamente a 
outras exigências” (Lapanche, 1991). 
Por força de um contrainvestimento um ato psíquico ou uma ideia são excluídos 
da consciência e jogados para o inconsciente. Por exemplo, esquecimento de fatos 
traumáticos acontecidos na infância como atos de violência, acidentes, entre outros. 
Assim, estes fatos só poderão ser acessados por meio de análise ou interpretações de 
sonhos. 
 Repressão 
“Operação psíquica que tende a fazer desaparecer da consciência um conteúdo 
desagradável ou inoportuno: ideia, afeto etc. Os conteúdos tornam-se pré-conscientes” 
(Laplanche, 1991). 
Equivale ao mecanismo consciente que atua como censura. A moral do sujeito 
está ligada a este mecanismo: envolve a não percepção, a consciência de algo que traz 
constrangimento ou sofrimento. Pode atuar nas lembranças, na percepção do presente 
quando o sujeito não percebe algo da realidade. 
Podemos exemplificar a repressão com um caso da morte de alguém pelo qual 
o sujeito teria sentimentos de amor e ódio. Na ocasião de seu falecimento os 
sentimentos tanto de hostilidade quanto de perda podem não ser percebidos e este 
sujeito pode mostrar-se indiferente à perda. A repressão também se manifesta até 
mesmo no funcionamento do corpo: uma mulher pode reprimir tanto um desejo sexual 
até, em um extremo, tornar-se frígida. 
 Negação 
Está relacionado à repressão. O sujeito nega a existência de alguma ameaça ou 
evento traumático ocorrido. Por exemplo: negação de um diagnóstico grave, negação 
da iminência de morte de um ente querido, negação de algo que aconteceu no passado 
com respectivas fantasias de que alguns fatos não ocorreram daquela forma. 
 Racionalização 
Redefinição da realidade. Processo de colocar motivos aceitáveis para atos ou 
ideias inaceitáveis. Culpar um objeto por falhas pessoais ao invés de culpar-se a si 
mesmo. Por exemplo: dar explicações racionais para a perda de um emprego ou 
relacionamento convencendo-se de que estes objetos perdidos possuíam defeitos. 
 Formação Reativa 
Inversão da realidade. Aqui o impulso é cada vez mais ocultado e um sentimento 
contrário é colocado no lugar de outro para disfarçá-lo. Por exemplo, atribuir 
 
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repugnância e nojo ao sexo, quando os impulsos sexuais não podem ser satisfeitos. 
Impulsos agressivos podem dar lugar a comportamentos solícitos e amigáveis. 
 Isolamento 
Uma ideia ou ato sofre o rompimento de suas conexões com outras ideias e 
pensamentos. O fato isolado passa, então, a receber pouca ou nenhuma reação 
emocional, como se tivessem relacionados a outro sujeito. 
Fatos podem ser relatados sem sentimento quando um sujeito fala de conteúdos que 
foram isolados de sua personalidade. Tomamos como exemplo um sujeito que fala 
sobre traição conjugal demonstrando compreensãoe indiferença ao assunto quando, 
no passado, este sujeito vivenciou sofrimentos decorrentes de uma traição conjugal em 
sua trajetória. 
 Projeção 
Colocar algo do mundo interno no mundo externo: desejos, intenções e 
sentimentos que são ignorados em si mesmo são atribuídos a outras pessoas, objetos 
ou animais. Um exemplo clássico: um pai que diz ao seu filho que este não cumpre suas 
tarefas e que jamais será bem-sucedido referindo-se, inconscientemente, aos seus 
temores quanto aos seus cumprimentos de tarefas e seus fracassos. 
 Regressão 
Trata-se aqui de escapar da realidade com o retorno do sujeito às etapas 
anteriores de seu desenvolvimento em que pode vivenciá-las de forma mais agradável, 
com menos frustração e ansiedade. Exemplos: falar como criança, destruir 
propriedades, roer unhas, por o dedo no nariz, dirigir de forma rápida e 
imprudentemente, entre outros. 
 Deslocamento 
Acontece quando o objeto que satisfazia um impulso do Id não está presente e 
o sujeito então desloca este impulso para outro objeto. Por exemplo: gritar com um 
cachorro, quando a tensão foi provocada por outro estressor, ou bater em uma criança 
quando uma agressividade não pode ser expressa em direção ao fator desencadeante. 
 Neurose 
Os mecanismos de defesa contra a ansiedade podem ser encontrados em 
indivíduos saudáveis, porém quando estão fortemente associados e trazem dificuldades 
sociais caracterizam-se como neuroses cujos exemplos são encontrados nos casos de: 
fobias, transtorno obsessivo-compulsivo (TOC), histeria, entre outros. 
 
1.1.5. O Desenvolvimento Psicossexual 
 
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Freud (1905) revelou a presença de uma sexualidade infantil. Seria esta a 
responsável pela compreensão de toda a vida psíquica posterior na fase adulta. Por 
meio de suas observações, ele categorizou o desenvolvimento infantil em fases 
psicossexuais do desenvolvimento. 
O corpo é cercado de regiões (zonas) erógenas que, sob estimulação, provocam 
sensações prazerosas. Ao nascer o bebê vai descobrindo tais áreas pelas fases de 
desenvolvimento infantil. São elas: fase oral, fase anal, fase fálica, período de latência 
e fase genital. 
O termo fixação foi designado para descrever um estado em que parte da libido 
permanece investida em uma das fases psicossexuais, em razão de uma frustração na 
fase atual ou satisfação excessiva na fase anterior. 
Traçaremos conceitos principais destas respectivas fases psicossexuais do 
desenvolvimento: 
A) Fase Oral: A primeira zona erógena é a boca, língua e mais tarde dentes, 
estimulada por meio da amamentação e do seio materno. Além disso, ao ser 
amamentada, a criança também é confortada, acalentada e acariciada. A boca 
neste momento é a única parte do corpo que a criança pode controlar. A fase 
oral desenvolvida tardiamente pode incluir a gratificação de instintos agressivos 
com o uso dos dentes para morder o seio. 
B) Fase Anal: Por volta dos dois anos de idade a criança aprende a controlar os 
esfíncteres anais e a bexiga. A obtenção deste controle fisiológico provoca 
sensações de prazer. Além disso, as crianças vão percebendo que este controle 
pode ser alvo de elogios e atenção por parte dos pais. Acontece, porém, que a 
criança pode perceber que ir ao banheiro é algo “sujo” e traz repugnância, uma 
vez que hábitos de higiene são treinados cercando esta zona erógena de tabus 
e proibições. 
C) Fase Fálica: Acontece quando as crianças se dão conta da diferença sexual. As 
meninas se dão conta da falta de um pênis, enquanto os meninos se dão conta 
da presença de um. O foco do prazer deixa de ser o ânus e passa a ser o genital. 
As crianças demonstram interesse em explorar e manipular esses genitais. 
Dúvidas e fantasias aparecem, como por exemplo, por que as meninas não tem 
pênis, se elas conseguem urinar etc. O pai e a mãe passam a ser objetos de 
curiosidade e interesse também. Podem manifestar ciúmes da atenção dada um 
pelo outro no casal, é comum que brinquem ou questionem se podem se casar 
 
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com os pais. Neste momento, frente aos desejos incestuosos e à masturbação, 
a realidade e a moral colocada pelos pais entram em conflito com os impulsos 
do Id. Nesta fase aparece o conflito de substituir os pais e a rivalidade contra 
aquele que “está tomando o seu lugar”. Este conflito foi denominado por Freud 
de Complexo de Édipo, inspirado no mito grego do Édipo Rei, de Sófocles no 
séc. V antes de Cristo. O jovem Édipo, sem saber de quem era filho realmente, 
mata o pai e se casa com a mãe, mais tarde quando descobre a verdade, ele 
próprio arranca seus olhos. 
D) Complexo de Édipo – A Lei, a Castração: O Complexo de Édipo acontece 
diferentemente para as meninas e meninos. Freud explicou o Complexo de 
Édipo masculino mais detalhadamente, de forma parecida com o que acontece 
no mito do Édipo rei. Para o menino, que deseja estar próximo de sua mãe, o 
pai aparece como um rival. Ao mesmo tempo ele também deseja o amor e 
afeição de seu pai e desta forma vive um conflito de desejar o amor dos pais e 
ao mesmo tempo temê-los. Junto com o desejo de tomar o lugar do pai está o 
medo de ser machucado. Ele interpreta este anseio como um temor de que seu 
pênis seja cortado, que é nesta época o órgão de sua satisfação de prazer. Este 
é o chamado temor de castração. Esse complexo acaba sendo reprimido, 
permanece inconsciente. É tarefa do superego (que está em desenvolvimento) 
impedi-lo de aparecer ou até mesmo que haja uma reflexão sobre ele. Para as 
meninas o complexo foi chamado de Complexo de Electra. Assim como para os 
meninos, para as meninas o primeiro objeto de amor é a mãe, uma vez que ela 
é a fonte de alimento, afeto e segurança. Mas ela perceberá que a mãe não pode 
lhe dar aquilo que falta: um pênis. Surge aí uma hostilidade frente à mãe e seu 
interesse será destinado ao pai, àquele que pode lhe dar um pênis ou um 
substituto deste. No conflito das meninas, parece haver uma menor repressão e 
o que foi observado é que elas permanecem nesta situação edipiana por mais 
tempo e até mesmo a resolução deste complexo pode ser incompleta. Para os 
meninos é a metáfora da castração que os faz superar o complexo de Édipo, 
quando é instaurada a lei da proibição gerando a interdição paterna. Para as 
meninas é justamente a castração que faz iniciar Complexo de Édipo. A 
resolução do Complexo: a ansiedade de castração nos meninos fará com que 
eles abandonem seus desejos incestuosos pela mãe e superem o complexo 
identificando-se ao pai. As meninas também passam a identificar-se com a mãe 
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Nota
a resolução ou passagem por essa fase forma-se o surperego
 
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e assumem uma identidade feminina. Passa a buscar nos homens similaridades 
do pai. 
E) Período de Latência: Independentemente de como se dará a resolução deste 
conflito com os pais, a maioria das crianças por volta dos cinco anos passa a 
demonstrar interesse em outros relacionamentos, como nas amizades, esportes, 
entre outros. A repressão feita pelo superego neste momento é bem-sucedida e 
os desejos não resolvidos da fase fálica não perturbam mais. A sexualidade não 
avança mais e os anseios sexuais até diminuem. 
F) Fase Genital: Nesta fase final do desenvolvimento psicossexual, meninos e 
meninas, conscientes de suas identidades sexuais distintas começam a buscar 
formas de satisfazer suas necessidades eróticas e interpessoais. Os impulsos 
sexuais pré-genitais que acabem não tendo êxito na sexualidade genital podem 
então ser recalcados ou sublimados, isto é, transformados em atividades 
socialmente produtivas. 
 
 Uma vez situadas estas fases do desenvolvimento psicossocial do sujeito, 
iniciadas não a partir do amadurecimento das gônadas genitais,como cria a sociedade 
científica e moral à época destes escritos – fato que custou diversas taxações e 
julgamentos à psicanálise – Freud debruçou-se também, nesta etapa de seu edifício 
teórico, a esboçar seus conceitos sobre o narcisismo: 
 
A) Narcisismo primário: 
Foi explicado por Freud (1914) como autoerotismo. Durante as primeiras 
experiências do bebê o seu ego ainda não está formado e o autoerotismo (satisfação 
pelo e no próprio corpo: chupar o dedo; morder o pé) vem como uma forma de satisfação 
libidinal. 
Depois, na impossibilidade de manter-se como seu próprio objeto de amor, este 
indivíduo volta-se finalmente para um objeto externo, desenvolvendo o que Freud 
chamou de amor objetal. Neste amor objetal, o sujeito deve fazer escolhas e para que 
isto ocorra o indivíduo deve ter percorrido os estágios psicossexuais do 
desenvolvimento e até mesmo elaborado o complexo de Édipo. O narcisismo primário 
termina quando o desenvolvimento psicossexual se completa. 
 
B) Narcisismo secundário: 
 
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A escolha objetal pode dar-se de duas maneiras: existe a escolha analítica e a 
escolha narcisista. Na escolha analítica, o indivíduo busca no objeto de amor a mulher 
ou o homem que uma vez o protegeu. Há, portanto, uma renúncia ao próprio narcisismo 
que o sujeito viveu. 
Já na escolha narcisista, o indivíduo busca no amor objetal a sua própria 
imagem: ele ama alguém que apresenta características bem semelhantes às que ele 
próprio possui ou possuiu ou, ainda, características que gostaria de possuir. 
 
1.1.6. As Manifestações do Inconsciente 
 
Freud percebeu, pelo método da associação-livre e a partir dos relatos de sonhos 
de seus pacientes que o inconsciente não se revela diretamente, por meio da 
consciência e sim de forma encoberta. O inconsciente emerge então nos sonhos, 
aparentemente sem nexo e sentido, nos chistes e atos-falhos. 
 
A) Sonhos e elaboração onírica 
 Forma de satisfação de desejos que não foram ou não puderam ser realizados. 
De acordo com Freud (1900), os conteúdos do sonho são conteúdos manifestos, isto 
é, são manifestados, diferentemente de conteúdos latentes, que não conseguem 
aparecer. Nos sonhos, embora apareçam de maneira não clara, os conteúdos aparecem 
disfarçados, distorcidos pelos mecanismos de deslocamento e da condensação. Esta 
distorção permite que o desejo seja aceitável ao ego, uma vez que no estado de vigília 
muitas ações são inaceitáveis por causa da repressão e moral, não temendo punições. 
Fisiologicamente a função do sonho é manter o sono, proporcionar um momento 
de satisfação para que o indivíduo não desperte. Assim, durante o sonho há uma 
satisfação adicional ou uma redução da tensão, pois energias acumuladas são 
descarregadas, mesmo que não tenha havido uma realização na realidade físico-
sensorial dos desejos. 
Nos sonhos traumáticos, nos pesadelos, também há redução de tensão e 
produção de prazer. Muitos sonhos traumáticos de guerra que aconteciam 
repetidamente durante o sono de soldados, foram interpretados por Freud como uma 
necessidade de elaboração da situação traumática. Essas repetições podem ajudar o 
indivíduo de alguma forma a elaborar suas angústias, temores e ódio. 
 
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A interpretação de um sonho para Freud só terá sentido no próprio discurso do 
indivíduo. Regras gerais podem não ser válidas. É trabalho do analista, ajudar o 
paciente a interpretar o sonho. 
O livro de Freud publicado em 1900, “A interpretação dos Sonhos” é considerado 
dentro de sua obra, um dos livros mais importantes. 
 
B) Chistes, ato falhos 
 Assim como nos sonhos o inconsciente se manifesta nos chistes (brincadeiras, 
piadas) e atos falhos (trocas de nome aparentemente acidentais, erros de endereço, 
entre outros). Esta aparição do inconsciente é dada pelos mecanismos de condensação 
e deslocamento. 
No decorrer de seus atendimentos e a partir de alguns casos de abandono de 
tratamento, Freud percebeu a importância de analisar e perceber a expectativa 
projetada e os sentimentos – tanto negativos quanto positivos – do paciente para com 
seu analista e do analista para com seu paciente. Tais sentimentos estariam 
contribuindo para o sucesso do tratamento ou fracasso, dependendo de como fossem 
manejados. A partir daí, ele criou o conceito de transferência e contratransferência: 
 
C) Transferência 
 Transferência é um fenômeno na psicologia, caracterizado pelo direcionamento 
inconsciente de sentimentos de uma pessoa para outra. Em princípio, foi descrita por 
Freud, quem reconheceu sua importância para a psicanálise para uma melhor 
compreensão dos sentimentos dos pacientes. 
A relação paciente-terapeuta sob o contexto da livre-associação, sem risco de 
juízos alheios, permite a construção de um relacionamento inédito para o paciente. A 
transferência que surge nesta relação torna-se então, o instrumento terapêutico 
principal, na medida em que permite a atualização dos conteúdos inconscientes que 
permeiam as relações interpessoais do paciente. 
 
D) Contratransferência 
 O analista deve tomar cuidado com a contratransferência, isto é, com o processo 
contrário em que afetos do analista são transferidos para o paciente, o que pode 
dificultar a relação terapêutica. Pode-se exemplificar a contratransferência com as 
projeções, sentimentos de empatia ou tédio que o paciente, por vezes, desperta no 
 
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terapeuta e Freud já alertava para a necessidade do analista manter-se crítico e ciente 
deste mecanismo. 
 
1.2. Jacques Lacan e o Inconsciente e a Linguagem6 
 
Lacan foi o protagonista do movimento psicanalítico francês. Como será 
observado a seguir, ele tem como base a Teoria Psicanalítica de Freud. No entanto, ele 
propõe uma releitura dos textos de Freud. 
Jacques Marie Émile Lacan (1901-1981) nasceu em 13 de abril de 1901, em uma 
família católica da classe média parisiense. Por volta de 1916, contrariando a opinião 
de seu pai, pensa em tornar-se médico. Ele não renega a cultura religiosa que recebeu, 
mas abandona toda a crença em Deus e toda a participação na prática cristã. Nesse 
momento, deixa de usar o prenome Marie, ligado a Jacques. No entanto, isso não 
impede que se case na igreja e mande batizar os seus filhos (PENACHI, 1992). 
Os principais mestres inspiradores do jovem Lacan são, incialmente, Espinosa, na 
Filosofia; Maurras, no amor à língua; Clérambault, na observação dos doentes; Édouard 
Pichon, na conceituação dos instrumentos teóricos; René Crevel e Salvador Dali, na 
experiência surrealista da linguagem; Henri Ey, como colega “com quem falar”; e, por 
último, Freud, quanto aos textos e ao lugar distante do pai fundador (PENACHI, 1992). 
Lacan continua seus estudos e conclui sua tese em psiquiatria orientada por 
Henri Claude. A sua tese de doutorado em medicina entitulada “Da psicose paranoica 
em suas relações com a personalidade” buscava constituir uma teoria na qual clínica, 
reflexão social e tematização da produção estética se articulam de maneira orgânica. 
Desde o começo, essa teoria é um programa interdisciplinar cuidadosamente montado 
que, por meio da reconstrução dos modos de determinaçao do normal e do patológico, 
oferece subsídios para uma crítica da razão que guarda semelhança com as 
expectativas de ruptura da vanguarda estética (SAFATLE, 2009). 
Em um primeiro momento, era integrante da IPA (International Psicoanalises 
Association), mas, depois, acabou saindo e afirmando que os pós-freudianos haviam se 
desviado da proposta Freudiana. Lacan, em conjunto com um grupo de jovens analistas 
de uma dissidência interna da Societé Psychanalitique de Paris, que, intolerante à 
concessão médica, ao ordenamento rigidamente hierárquico e à modalidade burocrática6 Texto extraído e adaptado por Rafael Trevizoli Neves da Apostila Teorias da Personalidade, originalmente 
elaborado por Ana Carolina Naves Magalhães, Daniela Ré Franguelli, Fernanda Gonçalves e Paulo Keish 
Kohara. Revisado por Domitila Shizue Kawakami Gonzaga. 
 
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da análise didática, promove, em 1953, uma cisão. Propõe, então, um retorno a Freud 
(PENACHI, 1992). 
Em 1953, devido a essa cisão do movimento psicanalítico francês, Lacan 
introduziu a proposição “inconsciente estruturado como uma linguagem” e a distinção 
do real, o imaginário e o simbólico, que seguirá sendo a pedra de seu ensino, o qual 
não mudará ao longo de todas as suas variações (MILLER, 1988). 
 
1.2.1. O ensino de Lacan 
 
Segundo Miller (1988), a partir de 1953, o ensino de Lacan pode ser dividido da 
seguinte forma: 
a) entre 1953 e 1963, seu ensino toma a forma de uma seminário de textos 
freudianos. Cada ano está dedicado a um conceito, a uma ou duas obras de Freud, e a 
validade das estruturas de linguagem é verificada em toda a extensão do campo legado 
pela experiência de meio século de psicanálise. Nesse período, a categoria que é dada 
como a dimensão essencial da experiência é a do simbólico. 
b) entre 1964-1974, por causa da segunda cisão do movimento psicanalítico 
francês e o deslocamento do seu ensino para a Escola Normal Superior, a convite de 
Louis Althusser, já não comenta diretamente os texto de Freud. Ao contrário: são os 
seus próprios termos que serão utilizados em seu ensino; o sujeito barrado; o objeto a 
minúsculo; e A (outro com maiúscula). Nesse momento, suas teses ocupam o centro de 
sua elaboração. 
c) a partir de 1974, ocorre o ensino propriamente dito, e ele toma por objeto o 
próprio fundamento de seu discurso e, especialmente, a tripartição do real, o simbólico 
e o imaginário. Ele evoca nesses termos a sua experiência e, neste último período, ainda 
vigente, o real se converteu na categoria essencial. 
Segundo a psicanálise, a subjetividade não aparece ao mesmo tempo que o 
nascimento. Segundo Lacan, ela se dá por meio de processos identificatórios que 
permitirão, desde que algumas situações sejam garantidas a constituição do eu. Essa 
constituição subjetiva está ligada diretamente ao estádio do espelho. 
O estádio do espelho visa demonstrar como a formação do Eu depende 
fundamentalmente de um processo ligado à constituição da imagem do corpo próprio. 
Nos primeiros meses de vida de uma criança, não há nada parecido a um Eu, com suas 
funções de individualização e de síntese da experiência. [...] Na verdade, falta ao bebê 
o esquema mental de unidade do corpo como totalidade, assim como operar distinções 
entre interno e externo, entre individualidade e alteridade. É só entre o sexto e o 18o 
 
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mês de vida que tal esquema mental será desenvolvido. Para tanto, faz-se necessário 
o reconhecimento de si na imagem especular ou a identificação com a imagem de outro 
bebê. Ao reconhecer pela primeira vez sua imagem no espelho, a criança tem uma 
apreensão global e unificada do seu corpo. Desta forma, essa unidade do corpo será 
em princípio visual. Uma unidade da imagem que antecipará a descoordenação 
orgânica e que, por isso, induzirá ao desenvolvimento do bebê. (SAFATLE, 2009, p. 27) 
Para que o bebê possa ocupar um papel dentro de uma estrutura familiar, ele 
passa, inicialmente, a agir de acordo com uma imagem do tipo ideal. Safatle (2009) 
afirma isso no trecho a seguir: 
 
Essa teoria da gênese do Eu através da imagem do corpo é, no 
fundo, a descrição do Eu como lugar privilegiado de alienação. 
Lacan quer mostrar como a formação do Eu só se daria por 
identificações: processos pelos quais o bebê introjeta uma 
imagem que vem de fora e que é oferecida por um Outro. Assim, 
para se orientar no pensar e no agir, para a aprender a desejar, 
para ter um lugar na estrutura familiar, o bebê inicialmente 
precisa racionar por analogia, imitar uma imagem de tipo ideal 
adotando, assim, a perspectiva de um outro. (SAFATLE, 2009, 
p. 29) 
 
Segundo Safatle (2009), essas ações de imitação não são importantes apenas 
para a orientação das funções cognitivas, elas têm valor essencial na constituição e no 
desenvolvimento subsequente do Eu em outros momentos da vida madura. Lacan 
afirmava que “nada separa o eu de suas formas ideais” absorvidas no seio da sua vida 
social. Segundo o autor, “eu é um objeto feito como uma cebola, podemos descascá-lo 
e encontraremos as identificações sucessivas que o constituiram”. Portanto, para Lacan, 
podemos afirmar que não há nada de próprio na imagem de si. 
 
1.2.2. O Imaginário, o Simbólico e o Real 
 
Agora que já tratamos brevemente da constituição do Eu, passaremos a tratar 
das três instâncias que dão conta do campo possível de experiências subjetivas. 
 
A) O imaginário 
Em princípio, podemos falar do Imaginário. De acordo com Roudinesco e Plon 
(1998), o imaginário é definido por Lacan como o lugar do Eu por excelência, com seus 
fenômenos de ilusão, captação e engodo. 
 
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Já Safatle (2009) diz que, a grosso modo, pode-se dizer que o Imaginário é 
aquilo que o homem tem em comum com o comportamento animal, tratando-se de um 
conjunto de imagens ideais que guiam tanto o desenvolvimento de personalidade do 
indivíduo quanto sua relação com seu ambiente próprio. Como podemos perceber, o 
imaginário está relacionado intimamente com o estádio do espelho. Segundo Miller 
(1988), o estádio do espelho resume-se no interesse lúdico que a criança dá mostra 
entre os 6 e os 18 meses, por sua imagem especular, aspecto pelo qual a criança se 
distingue do animal. 
Segundo Roudinesco e Plon (1988), em um primeiro momento, Lacan mostrou 
que o estádio do espelho era a passagem do especular para o imaginário, 
posteriormente, em 1953, veio a definir o imaginário como um engodo ligado à 
experiência de uma clivagem entre o eu “moi” e o eu “jê” (o sujeito). Já o simbólico: “[...] 
foi então definido como o lugar do significante e da função paterna, o imaginário como 
o das ilusões do eu, da alienação e da fusão com o corpo da mãe, e o real como um 
resto impossível de simbolizar” (ROUDINESCO; PLON, 1998, p. 371). 
 
1) O estádio do espelho 
Descrito, anteriormente, como o momento em que a criança descobre, constrói 
uma imagem de si. Pode prescindir de um espelho, onde uma imagem é projetada ou 
não necessariamente, pois o outro também faz a função de espelho – caso de uma 
pessoa cega, por exemplo. 
É o ponto decisivo na origem do ser ou o momento da constituição do ser, já que 
antes há somente a noção de um corpo despedaçado. É no estádio do espelho que este 
corpo fragmentado dá lugar a uma imagem totalizada do corpo: passa a haver uma 
divisão entre um mundo interno e externo. Não há um eu antes do estádio do espelho. 
A brecha, a hiância que havia antes entre o corpo e sua imagem pode ser então 
preenchida. 
O estádio do espelho é uma oportunidade de formar-se uma unidade e uma 
subjetivação e também a alienação, a subjugação da criança à sua imagem, aos seus 
semelhantes, ao desejo de sua mãe. 
Lacan descreve uma identificação primária da criança com a sua própria imagem e a 
qualifica de imaginária, uma vez que a criança identifica-se com algo que não é ela 
própria, mas que lhe permite reconhecer-se. 
 1ª etapa: a criança reconhece na imagem do espelho uma realidade ou pelo 
menos a imagem de outro. 
 
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2ª etapa: A criança não mais tenta pegar este objeto real, este outro que estaria 
detrás do espelho. 
3ª etapa: A criança reconhece este outro como sendo sua própria imagem. 
 Esta relação com o espelho, ou relação especular, tem traços em comum com a 
relação da criança com suamãe. Traços imaginários, cujas características são: relação 
imediata, indistinção, identificação narcísica, alienação. A criança deseja não só receber 
os cuidados e afeto de sua mãe, mas também que seja o que falta a essa mãe: deseja 
ser um todo, um complemento. Há uma indistinção da criança com a mãe. 
Em termos lacanianos esta criança deseja ser o Falo desta mãe, aquele que 
detém o poder de possuir o que falta ao outro. O falo na obra lacaniana vale aqui 
ressaltar, não deve ser confundido, portanto, com o órgão sexual, como o pênis. 
O indivíduo tem por desejo ser o desejo de sua mãe. E é por isto que a definição de 
desejo na teoria lacaniana é: “o desejo é o desejo do outro”. 
 
B) O simbólico 
O termo simbólico foi extraído da antropologia e utilizado como substantivo 
masculino por Jacques Lacan, a partir de 1936, para definir um sistema de 
representação com base na linguagem, isto é, signos e significações que determinam o 
sujeito a sua revelia, possibilitando referir-se a ele, consciente e inconscientemente, ao 
exercer sua faculdade de simbolização. 
O simbólico designa tanto a ordem (ou função simbólica) a que o sujeito está 
ligado quanto à própria psicanálise, na medida em que ela se fundamenta na eficácia 
de um tratamento que se sustenta na fala (ROUDINESCO; PLON, 1988). De acordo 
com Miller (1988), “[...] é próprio da psicanálise operar sobre o sintoma mediante a 
palavra, que seja esta a palavra da pessoa em análise, quer seja a interpretação do 
analista” (p. 12). 
O conceito de simbólico é inseparável de uma série composta por outros três 
conceitos: o significante, a foraclusão e o Nome-do-Pai. O significante é, de fato, a 
própria essência da função simbólica (sua “letra”); a foraclusão é o processo psicótico 
pelo qual o simbólico desaparece; e o Nome-do-Pai é o conceito mediante o qual a 
função simbólica integra-se em uma lei que significa a proibição do incesto 
(ROUDINESCO; PLON, 1988). 
 
1) O simbólico e o Complexo de Édipo 
Acesso à ordem simbólica: a partir do Complexo de Édipo. 
 
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1º tempo do Édipo: Coincide com a terceira etapa do estádio do espelho. A 
criança que queria ser o falo da mãe, onde havia uma indistinção dela com a própria 
mãe, é privada disto pelo pai. Este priva a mãe de um Falo, uma vez que a criança 
percebe que este pai é desejo da mãe. O pai, portanto, é quem tem o falo. Acontece aí 
o encontro com a Lei do Pai. 
2º tempo do Édipo: interdição do pai; castração (ser castrado significando não 
ter o Falo). Esta castração mostra ao sujeito que há uma falta, uma falta de ser. 
Passagem do ser ao ter. Se a mãe aceita a lei paterna, a criança então se identificará 
ao pai, aquele quem tem o falo e, então, haverá a entrada da criança na ordem 
simbólica. A criança sai da relação dual com a mãe para entrar na tríade familiar. O 
simbólico traz consigo a cultura, a linguagem e a civilização. 
3º tempo do Édipo: acesso ao Nome-do-Pai e à ordem simbólica. Já com a 
simbolização adquirida por intermédio da metáfora da castração, o sujeito tem aqui as 
condições de acessar também aos outros códigos da cultura: normas, leis, costumes. 
É por isso que, para Lacan, um sujeito constituído por psicose seria aquele que não 
conseguiu, por alguma questão, acessar a ordem simbólica: estaria condenado a ter 
sua estrutura fragmentada (esquizo em grego significa divisão, fragmentação) usando 
de outros recursos para entender e apreender à realidade, diferente dos recursos que 
um neurótico emprega. Assim, o delírio seria para aquele o elo de articulação entre sua 
estrutura e o mundo tal qual as leis, interditos e normas o são para os neuróticos. 
 
C) O real 
O Real foi um termo utilizado como substantivo, extraído do vocabulário da 
filosofia e do conceito freudiano de realidade psíquica para designar uma realidade 
fenomênica que é imanente à representação e que é impossível de simbolizar. Esse 
termo fez sua primeira aparição em 1953, ainda sem ser conceituada, em uma 
conferência intitulada “O Simbólico, o Imaginário e o Real”. Depois disso, Lacan adquiriu 
o hábito de escrever as três palavras com maiúsculas. Lacan deu o nome de R.S.I. 
(Real, Simbólico, Imaginário) ao tríptico em que o real é assimilado a um “resto” 
impossível de transmitir, e que escapa à matematização (ROUDINESCO; PLON, 1998). 
 
1.2.3. O Inconsciente lacaniano 
 
De acordo com a teoria lacaniana, o inconsciente é estruturado como linguagem: 
ao adquirir a linguagem, o sujeito é dominado e constituído pela ordem simbólica. O 
sujeito entra na trama da linguagem. 
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 Lacan enquanto pesquisador no campo da linguística traz a contribuição de F. 
de Saussure sobre significantes e significados, inerentes a esta trama da linguagem. 
A língua, o código, refere-se aos significantes. Significantes são desde oposições 
fonemáticas até locuções compostas (frases...) – (Semiologia). O discurso pronunciado 
refere-se aos significados. – (Semântica). 
 
A) A supremacia do significante 
 Os significados são apenas variações individuais e só ganham coerência dentro 
da coerência da rede significante. 
 
 Lacan trata, portanto, do quanto os significantes ou as vivências do sujeito têm 
prioridade sobre os significados entendidos pela cultura. Um exemplo: o sonho com uma 
cobra poderia ter um significado para a cultura com denotações sexuais implícitas. Mas 
se o sonhador em questão tem uma vivência com cobras até certo ponto salutar – pode 
ser um criador, ou mesmo um agricultor vitimado por ataques, ou ainda um cristão que 
associa o animal ao mito bíblico da traição – são estes os significantes a serem 
investigados, considerados, traçados. 
 
B) Rede ou cadeia significante 
 Significantes expressos possuem outros significantes associados, muitos 
inconscientes. Por exemplo: as inscrições: Homem/Mulher nas portas de banheiros 
públicos têm, por traz destes significantes, muitos outros relativos à cultura da 
segregação dos sexos. 
Há leis que regem a linguagem e o inconsciente, são elas: a metáfora e a metonímia. 
 
1) Metáfora 
 Correspondente do termo Freudiano de condensação. É a parte pelo todo. Há 
uma substituição. Sincronia. Por exemplo, dizer a um homem: “Você é um touro”. O 
significante Touro engloba outros: força, resistência, braveza etc. 
2) Metonímia 
 Correspondente do termo Freudiano de deslocamento. É o todo pela parte. Há 
uma combinação. Diacronia. Exemplo: “Sou Estagiário”. Este significante esconde 
outros tantos como, “ainda não possuo um título”, “minha responsabilidade ainda não é 
a de um profissional”, “Estou numa fase de transição, um estágio pelo qual devo passar 
para alcançar algo”. 
 
 
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1.2.4. As estruturas clínicas 
 
Segundo Fiorini (2004), quando falamos de uma organização psicodinâmica 
profunda, estamos falando de posições que dizem respeito ao processo edípico, do 
desenvolvimento do processo de identificações, de angústias e defesas. 
 
A) Perversão: 
No Édipo só aceitará a castração se houver a possibilidade de transgredi-la. Frente à 
angústia de castração há a mobilização de recursos defensivos para contorná-la. 
Defesas: fixação e a regressão e denegação da realidade. Dificuldade de 
perceber a ausência do pênis na mãe. Mecanismos constitutivos da homossexualidade 
e do fetichismo. Perversão feminina traz uma discussão problemática. Perversão 
descrita e percebida nos homens. 
Traços: desafio e transgressão. Não consegue assumir a sua parte perdedora. 
Desejo: orientado pela questão da castração. Não há o desejo do desejo do 
outro. Não há a renúncia ao objeto primordial. A única lei do desejo é a sua e não do 
outro. 
 
B) Neurose: 
Aceita a obrigatoriedade da castração, se submetendo a ela debom ou mal 
grado, mas desenvolve uma nostalgia sintomática diante da perda sofrida. 
1) Neurose Obsessiva: Nostálgicos do ser. Sentem-se amados demais pela mãe. 
A mãe poderia encontrar nesta criança o que supostamente espera do pai. A 
criança se coloca em uma posição de suplência à satisfação do desejo materno, 
como se esta satisfação lhe tivesse sido uma falha: quer assegurar o controle 
onipotente do objeto. Ocupa o lugar de gozo do outro. Competição e rivalidade. 
Traços: economia obsessiva do desejo. Caráter imperioso da necessidade e do 
dever. Obstinação. Organização obcecante do prazer. Ambivalência. Isolamento, 
Anulação Retroativa. 
2) Neurose Histérica: Questão do passo a dar na assunção da conquista do falo, 
que se dá no declínio do Complexo de Édipo. O pai tem direito ao falo e é por 
isso que a mãe o deseja. Mas aqui a criança acredita que o pai só o tem porque 
tirou da mãe, que é quem o possuía anteriormente. Há assim uma reivindicação 
permanente pelo fato de a mãe também poder tê-lo e o próprio sujeito também 
 
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poder tê-lo. Implicitamente há uma sensação no histérico de que ele não pode 
ter o falo. 
Traços: reivindicação do ter. Sedução: mais colocada a serviço do falo do que 
de seu desejo. Evita o encontro com a falta. Indecisão permanente. No desejo histérico 
há uma constante: permanecer insatisfeita. 
 
C) Psicose 
A psicose está relacionada com uma passagem malsucedida pelo estádio do 
espelho. Os psicóticos estariam presos ao corpo despedaçado, que existe antes da 
identificação do corpo à imagem especular. 
Como já anunciado no estudo sobre o estádio do espelho, o sujeito constituído 
por psicose é aquele que não tem internalizada a metáfora paterna: é foracluído desta, 
como se esta questão não lhe coubesse. 
Vale ressaltar que a Lacan são atribuídos os méritos de ter desenvolvido da 
teoria das psicoses esboçada na teoria freudiana. Diz-se que Freud nunca teve contato 
com um psicótico: o que soubera e o que usou para pensar a respeito foram as 
“Memórias de um Doente de Nervos”, livro de Daniel Paul Schreber, um jurista 
acometido por surtos psicóticos. Lacan não só estudou a fundo a questão como teve 
amplo contato com psicóticos em seus diversos ofícios, incluindo o manicômio francês 
de Salpêtrière. 
 
1.3. A Psicanálise Kleiniana 
 
 Melanie Klein (1882–1960) nasceu em Viena, em uma família judia pobre. 
Estudou Arte e História, mas assim que iniciou sua incursão nas ideias de Freud, 
delegou suas atividades à Psicanálise de crianças. Protagonista das ditas Grandes 
Controvérsias internas à Sociedade Britânica de Psicanálise, em que estabeleceu 
grande rivalidade em relação às ideias de Anna Freud sobre a análise com crianças, 
organizou em torno de si uma verdadeira escola de Psicanálise, contribuindo para o 
surgimento de reconhecidos autores pós e neo-kleinianos (ZIMERMAN, 2001). 
 Entre os postulados advindos de um princípio próprio de Psicanálise com 
crianças, Klein afirma ser possível a transferência na análise infantil, tornando então 
desnecessária qualquer atitude pedagógica em relação aos pais (FUNDAMENTOS, 
2008). Essa questão foi o alvo do embate teórico travado entre Klein e Anna Freud. 
Contudo, o reconhecimento do trabalho de Klein advém da criação da Psicanálise da 
 
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criança por meio da técnica do brincar. Ela o considerou como processo equivalente à 
associação livre do adulto, sendo o conteúdo emocional do brincar correspondente ao 
sonho do adulto. É deste modo que a compreensão da estrutura emocional do bebê 
possibilitou a investigação das atividades mentais primitivas de psicóticos e pacientes 
regressivos (ZIMERMAN, 1999; BARROS, E. M. R.; BARROS E. L. R., 2006). 
 Klein postula que as fantasias estão presentes desde muito cedo na vida do bebê 
e se constituem enquanto representantes mentais das pulsões instintivas, tomando 
forma em representações figurativas que evocam estados e significados afetivos, os 
quais organizam as emoções enquanto a vivemos. Todo impulso instintivo é dirigido a 
um objeto interno (representação figurativa capaz de evocar afetos), que nada mais é 
que uma imagem distorcida dos objetos reais, mas que se instalam não só no mundo 
externo, como também internamente incorporando-se ao ego (BARROS, E. M. R.; 
BARROS E. L. R., 2006). 
 O primeiro objeto interno do bebê é a mãe, ou sua representação parcial como 
seio alimentador, e pode adquirir qualidades boas e más. A fome, por exemplo, é vivida 
pelo bebê como a presença de um objeto que frustra como fruto de uma ação de algo 
existente dentro dele, e que provoca sentimentos bons, quando alimentado, e 
sentimentos maus, quando não satisfeitos. Com a progressiva associação de moções 
pulsionais com os objetos internos representantes do mundo externo são gerados os 
significados para as experiências vividas, dando sentido às ações, crenças e 
percepções, bem como uma tonalidade afetiva às relações com o mundo externo e 
interno (expressos em fantasias inconscientes) (BARROS, E. M. R.; BARROS E. L. R., 
2006). 
 Concomitante ao nascimento, já se inicia o embate permanente entre o instinto 
de vida e o de morte: “[...] diante da pressão exercida no nível mental pelas 
necessidades físicas ligadas à sobrevivência, o bebê é colocado diante de duas 
possibilidades: ou se organiza para satisfazê-las (pulsão de vida) ou para negá-las 
(pulsão de morte)” (BARROS, E. M. R.; BARROS E. L. R., 2006). 
 A pulsão de morte se expressa por meio de ataques invejosos (inveja primária) 
e sádico-destrutivos contra o seio materno. Essas pulsões provocam internamente a 
“angústia de aniquilamento” ou “ansiedade de morte”. É neste contexto que o ego 
rudimentar do recém-nascido assume a posição de defesa contra a angústia por meio 
de mecanismos primitivos, como a negação onipotente, a dissociação, a identificação 
projetiva, a introjeção e a idealização (como veremos em alguns destes conceitos mais 
adiante) (ZIMERMAN, 1999, 2001). 
 
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 Inaugurando, dessa forma, um modo particular de conceber o desenvolvimento 
humano, Klein considera não somente o passado histórico de repressões inconscientes 
acumuladas como fatores intervenientes no desenvolvimento (normal ou patológico). 
Ela amplia o conceito de instinto de morte como principal fonte de ansiedade, 
relacionando-o com o medo de não sobreviver, e esta ansiedade de morte se torna o 
motor do desenvolvimento (BARROS, E. M. R.; BARROS E. L. R., 2006). 
 Essas pulsões provocam um intenso intercâmbio entre o mundo externo e 
interno, por meio de um movimento permanente de projeção e introjeção de estados de 
espírito. É neste cenário de processos projetivos e introjetivos, intrínsecos ao modo de 
operar da mente humana, que são gerados os significados das experiências emocionais 
e os afetos envolvidos nas relações humanas em geral (BARROS, E. M. R.; BARROS 
E. L. R., 2006). Assim, o ego se desenvolve mediante a introjeção de objetos que são 
sentidos como pertencentes a ele. Simultaneamente, os objetos externos se constituem 
por meio da projeção, no mundo externo, de objetos provenientes da fantasia 
inconsciente e de experiências anteriores de objeto, o que indica a combinação de 
aspectos do self com características reais dos objetos presentes e passados 
(GEVERTS, 2006). 
 Estes mecanismos de projeção e introjeção possibilitam a defesa (contra a 
ansiedade) do ego incipiente do bebê, de modo que as estruturas precursoras do ego 
podem dividir-se ou cindir-se e serem projetadas para fora. Deste modo, não são apenas 
projetados os estados perturbadores, mas também partes do próprio self, da própria 
personalidade. Dessa dinâmica decorre que podemos viver parte de nossas vidas 
projetados (em fantasia) no mundo internode outra pessoa, ou podemos ter parte de 
nossas vidas vividas em identificação com aspectos da vida de outrem. Esse 
mecanismo é denominado por Klein de introjeção projetiva, um de seus mais 
importantes legados conceituais. Assim, o que é projetado para fora, isto é, para dentro 
de um objeto, não só é perdido como também confere nova identidade a esse objeto 
(BARROS, E. M. R.; BARROS E. L. R., 2006). 
 Esse mecanismo se faz presente desde o nascimento e, em síntese, se baseia 
na fantasia de que determinados aspectos do self estão situados fora dele, dentro do 
objeto, de forma que tenha a sensação de controlar o objeto desde dentro e que o 
projetor vivencie o objeto como parte dele mesmo (GEVERTS, 2006). Atribui-se ao 
conceito de introjeção projetiva a profunda modificação da técnica psicanalítica, da 
concepção das relações humanas e do desenvolvimento, indicando áreas ainda não 
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consideradas pela Psicanálise em seu foco central (BARROS, E. M. R.; BARROS E. L. 
R., 2006). 
 Por fim, para Klein, a qualidade da natureza da ansiedade pode ser paranoide 
ou depressiva, determinando assim a natureza do conjunto de defesas estruturantes do 
ego. Às integrações possíveis entre o tipo de ansiedade e os modos de defesa ativados 
pelo ego, Klein dá o nome de posição, que caracteriza o modo de o indivíduo ver a si 
mesmo e ao mundo à sua volta. A ansiedade paranoide, ou posição esquizoparanoide, 
é vivida como uma ameaça à integridade do ego, mas a sobrevivência do objeto não 
está em jogo, pois é tido somente como fonte de ameaça e não de amor. Esse tipo de 
ansiedade mobiliza uma defesa para sobrevivência do ego, principalmente pelo 
mecanismo de dissociação (divisão do self ou do objeto) e a identificação projetiva 
(BARROS, E. M. R.; BARROS E. L. R., 2006). Há a necessidade de preservar a 
experiência prazerosa e rechaçar a experiência dolorosa, o que leva à primeira 
dissociação de forma que o psiquismo gira em torno do estruturante (“seio bom”) e de 
um desestruturante (“seio mau”). Nos primeiros meses da vida do bebê, as defesas 
características da posição esquizoparanoide são necessárias, mas a persistência 
exagerada das mesmas a outros períodos da evolução psíquica pode determinar 
condições para uma psicopatologia (ZIMERMAN, 1999). 
 Por outro lado, a posição depressiva é definida por uma ansiedade de perda do 
objeto de seu amor e se organiza a fim de se proteger dessa experiência dolorosa, 
mobilizando defesas de natureza diferente da de caráter paranoide (BARROS, E. M. R.; 
BARROS E. L. R., 2006). Ao contrário da posição esquizoparanoide, caracterizada pela 
dissociação do todo em partes, a posição depressiva consiste na integração das partes 
do sujeito que estão dispersas. A criancinha pode então reconhecer e integrar os 
aspectos clivados da mãe, agora como objeto total. Essa posição é fundamental para o 
desenvolvimento psíquico da criança pequena, possibilitando a criação de núcleos 
básicos de confiança pela introjeção do “seio bom”, e a progressiva aceitação de perdas 
parciais, como um afastamento temporário da mãe (ZIMERMAN, 1999). 
 A partir do seu conceito de posição, Klein realizou uma mudança significativa na 
forma de entender os movimentos evolutivos do psiquismo, a despeito da concepção de 
“fases” como descrita por Freud, então vigente entre os psicanalistas (ZIMERMAN, 
1999). 
 
1.4. A Teoria do Apego de John Bowlby 
 
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 Nascido numa família aristocrática inglesa, John Bowlby (1907–1990) iniciou sua 
formação em Medicina. Interrompeu seus estudos, mas, ao constatar os efeitos 
prejudiciais das experiências interpessoais negativas em crianças, retomou suas 
atividades acadêmicas. Formou-se em Psiquiatria e especializou-se em Psicanálise 
(AUGUSTO; JERÔNIMO, 2008). 
 Investigando as consequências negativas das separações na formação da 
personalidade em jovens delinquentes e em crianças hospitalizadas, Bowlby observou 
que os efeitos das separações permaneciam para além do período de sua ocorrência, 
verificando-se dificuldades comportamentais como agressividade e imaturidade, bem 
como efeitos mais permanentes sobre a capacidade de estabelecimento de vínculos 
afetivos significativos e estáveis no futuro (AUGUSTO; JERÔNIMO, 2008). 
 Assim, suas observações acerca dos cuidados inadequados dispensados às 
crianças na primeira infância, e do desconforto e ansiedade acarretados pela separação 
dos cuidadores, o levaram à análise dos efeitos adversos desse rompimento no 
desenvolvimento infantil (DALBEM; DELL’AGLIO, 2005). Bowlby estabelece então três 
fases pelas quais passam as crianças privadas precocemente das mães: na fase de 
protesto, o bebê chora e esperneia, voltando-se a qualquer som que possa indicar a 
presença da mãe; a desesperança caracteriza a criança apática, cansada de esperar, 
que sente tudo como perda; e o retraimento indica o desapego emocional e a indiferença 
(ZIMERMAN, 2001). 
 Juntamente com a colaboração da norte-americana Mary Ainsworth no início dos 
anos 1950, novos trabalhos vieram confirmar as ideias de Bowlby, culminando no 
aprofundamento de sua teoria em obras de fundamental importância: Cuidados 
maternos e saúde mental (1951) e Apego, perda, separação, em três volumes (1969, 
1973, 1980) (AUGUSTO; JERÔNIMO, 2008; ZIMERMAN, 2001). Dessa forma, suas 
investigações, além dos estudos de outros pesquisadores proeminentes, originaram as 
formulações e os pressupostos iniciais da Teoria do Apego. Sua obra apresenta 
referências aos campos da Psicanálise, da Biologia Evolucionária, da Etologia, das 
Ciências Cognitivas, entre outras (DALBEM; DELL’AGLIO, 2005). 
 Indo além de uma compreensão meramente fisiológica das ações da criança 
para satisfação de suas necessidades vitais, Bowlby defende a prevalência do 
fenômeno de vinculação afetiva entre tais necessidades. Dessa forma, reforçou a 
importância da criação de um vínculo afetivo baseado na confiança em relação à figura 
de vinculação. Entendido como um instinto voltado à proximidade recíproca entre os 
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indivíduos, a vinculação é um importante elemento organizador da atividade 
socioemocional da criança (AUGUSTO; JERÔNIMO, 2008). 
 De acordo com Bowlby7 (apud DALBEM; DELL’AGLIO, 2005), o mecanismo de 
apego se refere a um comportamento biologicamente programado, agindo conforme um 
sistema de controle homeostático, e que funciona em consonância com outros sistemas 
de controle comportamentais. Este vínculo afetivo primário, isto é, as primeiras relações 
de apego estabelecidas pela criança, afetarão o caráter de seu comportamento de 
apego ao longo de sua vida. Assim, a relação entre o bebê e seus cuidadores é 
permeada pelas respostas inatas da criança, que demandam proximidade, 
desenvolvendo-se pouco a pouco um vínculo afetivo. Esse vínculo é então garantido 
pelas capacidades tanto cognitivas quanto emocionais da criança, sendo que podem 
ser influenciadas também pelo cuidado, pela sensibilidade e pela responsividade dos 
cuidadores. Em síntese, o papel do apego no desenvolvimento é definido em termos do 
reconhecimento de que uma figura de apego se faz presente e disponível, oferecendo 
um sentimento de segurança que fortifica a relação. 
 O comportamento de apego, outro conceito fundamental, refere-se às ações de 
um indivíduo em vistas a obter proximidade com outro, claramente considerado como 
mais

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