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Apostila Botanica no Inverno 2019

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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO 
INSTITUTO DE BIOCIÊNCIAS 
 
BOTÂNICA NO INVERNO 2019 
 
Organizadores 
 
 
Laboratório de Anatomia Vegetal 
Ellenhise Ribeiro Costa 
 
Laboratório de Fitoquímica 
Juliana Cajado Souza Carvalho 
 
Laboratório de Fisiologia Vegetal 
Marcos Marchesi da Silva 
 
 
Laboratório de Fisiologia Ecológica de 
Plantas 
Bruno Viana Navarro 
Débora Pagliuso 
Lauana Pereira de Oliveira 
Marina Câmara Mattos Martins 
Laboratório de Sistemática, Evolução e 
Biogeografia de Plantas Vasculares 
Eduardo Damasceno Lozano 
 
 
Professora responsável 
Profa. Dra. Cláudia Maria Furlan 
 
Autores dos capítulos
Adriana Grandis 
Alexandre Junio Borges Araujo 
Aline Possamai Della 
Antonio Deusany de Carvalho Junior 
Augusto Giaretta 
Bruno Viana Navarro 
Caian Souza Gerolamo 
Débora C.C. Leite 
Débora Pagliuso 
Eduardo Damasceno Lozano 
Filipe Christian Pikart 
Frederico Rocha Rodrigues Alves 
Gisele Alves 
Henrique Moura Dias 
Higor Antonio Domingues 
Israel Lopes da Cunha Neto 
Janaina da Silva Fortirer 
Janayne Gagliano 
Joice Iamara Nogueira 
Kelma Cristina de Freitas 
Leandro Francisco de Oliveira 
Luis Carlos Saito 
Marcelo Tomé Kubo 
Mariana Maciel Monteiro 
Marília de Freitas Silva 
Marina C.M. Martins 
Marta Rodríguez Ruiz 
Nuno Tavares Martins 
Paloma Damiana Rosa Cru 
Pamela Cristina Santan 
Paula Maria Elbl 
Renata Callegari Ferrari 
Sabrina Gonçalves Raimundo 
Ulisses Gonçalves Fernandes 
Vania G. Partida Sedano 
Wilton Ricardo Sala de Carvalho 
 
 
 
 
 
 
São Paulo 
2019 
 
 
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IX Botânica no Inverno 2019 / Org. Eduardo Damasceno Lozano [et al.]. – São Paulo: 
Instituto de Biociências da Universidade de São Paulo, Departamento de Botânica, 2019. 238 
p. : il. 
ISBN Versão online: 978-85-85658-80-9 
Inclui bibliografia 
1. Biodiversidade e Evolução. 2. Estrututa e Desenvolvimento. 3. Recursos Econômicos 
Vegetais. 4. Ensino em Botânica. 
VIII Botânica no Inverno 2018. 
 
 
 
6 
 
PREFÁCIO 
 
Fundado em 1934 pelo professor Felix Kurt Rawitscher, o Departamento de Botânica do 
Instituto de Biociências da Universidade de São Paulo atualmente é referência em nível internacional 
de pesquisa e ensino. Possui uma equipe formada por 28 docentes (3 aposentados), os quais estão 
distribuídos em 8 áreas de conhecimento. Apresenta como infraestrutura 11 laboratórios, um herbário 
com a coleção de plantas vasculares, algas e madeiras estimado em 300.000 espécimes, um fitotério 
com uma coleção de plantas vivas para uso didático, estufas e casas de vegetação. Somando-se ao 
grande número de pós-graduandos (dentre esses, estrangeiros) e a alta atividade científica dessa 
comunidade, a Pós-Graduação de Botânica possui conceito CAPES 7, o mais alto entre as pós 
graduações em botânica do Brasil. 
Realizado desde o ano de 2011, o curso de Botânica no Inverno, é uma iniciativa dos pós-
graduandos que visa divulgar os trabalhos realizados no Departamento de Botânica, possibilitando o 
acolhimento de potenciais alunos e pesquisadores ao seu corpo discente. 
Na IX edição, o Curso de Botânica no Inverno pretende, com os alunos de graduação e recém-
formados, revisar e atualizar conceitos fundamentais de diversas subáreas da botânica, além de 
proporcionar a experiência de vivenciarem as atividades realizadas em nossos laboratórios, 
despertando o primeiro interesse dos possíveis futuros acadêmicos em projetos de pesquisa do 
Departamento. 
Para a realização do IX Botânica no Inverno, agradecemos à Universidade de São Paulo, à 
direção do Instituto de Biociências, à chefia do Departamento de Botânica, à Comissão Coordenadora 
do Programa de Pós-graduação em Botânica, as agências de fomento FAPESP, CAPES e CNPq. 
 
O conteúdo dos capítulos é de responsabilidade dos respectivos autores. 
 
Desejamos a todos um bom curso. 
Comissão Organizadora do IX Botânica no Inverno 
 
 
 
7 
 
ÍNDICE 
 
PREFÁCIO. ......................................................................................................................................................................06 
PARTE I: DIVERSIDADE E EVOLUÇÃO 
Capítulo 1: Mudanças climáticas e os efeitos sobre macroalgas marinhas..........................................................................09 
Capítulo 2: Licófitas e Samambaias: evolução, morfologia e ecologia................................................................................15 
Capítulo 3: Inovação-chave das Angiospermas: A FLOR...................................................................................................32 
Capítulo 4: Inflorescência: Conceitos e organização...........................................................................................................49 
Capítulo 5: Evolução floral e ecologia da polinização.........................................................................................................59 
Capítulo 6: A Palinologia e suas aplicações para a Taxonomia...........................................................................................74 
Capítulo 7: Dendrologia de árvores da Mata Atlântica........................................................................................................86 
Capítulo 8: Physcomitrella patens: organismo modelo no estudo de genes de plantas......................................................108 
 
PARTE II: ESTRUTURA E DESENVOLVIMENTO 
Capítulo 9: Embriogênese vegetal: construindo uma planta a partir de uma célula...........................................................116 
Capítulo 10: Anatomia e desenvolvimento caulinar como subsídio à sistemática das plantas vasculares..........................130 
Capítulo 11: Transporte de água em plantas: da anatomia às funções do xilema...............................................................149 
Capítulo 12: Introdução à fotobiologia em plantas: luz, fotossíntese e fotorreceptores.....................................................160 
Capítulo 13: A Dieta Detox das Plantas.............................................................................................................................171 
Capítulo 14: Óxido nítrico como regulador de processos metabólicos em plantas............................................................182 
 
PARTE III: RECURSOS ECONÔMICOS VEGETAIS 
Capítulo 15: A parede celular: do cafezinho ao etanol celulósico......................................................................................191 
Capítulo 16: Rastreio de moléculas bioativas provindas de extratos de plantas.................................................................204 
Capítulo 17: Monitorando temperatura e umidade em experimentos com árvores utilizando Internet das Coisas.............222 
 
PARTE IV: ENSINO EM BOTÂNICA 
Capítulo 18: A formação de professores seria uma forma de minimizar a Cegueira Botânica?.........................................232 
 
 
 
 
 
8 
 
Parte I 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
DIVERSIDADE E EVOLUÇÃO 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
9 
 
 
 
Mudanças climáticas e os efeitos sobre macroalgas marinhas 
 
Nuno Tavares Martins (Universidade Estadual de São Paulo) 
Sabrina Gonçalves Raimundo (Universidade Estadual de São Paulo) 
 
Mudanças climáticas se referem às variações do clima em escala global ao longo do tempo 
(ver box 1), podendo ser definida como variações estatisticamente significativas na média do clima 
ou sua variabilidade, persistindo por um longo período (tipicamente décadas ou mais). As alterações 
climáticas, podem ser causadas por processos naturais, eventos externos ao Planeta Terra (exemplo: 
meteoros) ou por alterações antropogênicas.
Ou seja, as mudanças climáticas são fenômenos naturais 
que ocorrem na Terra. Essas variações abrangem diversas alterações, como mudanças de temperatura, 
precipitação, umidade relativa do ar, aumento do nível dos oceanos, derretimento das calotas polares 
e outras. Contudo, ao longo das últimas décadas, têm se percebido aumento na velocidade dessas 
mudanças, devido às ações antropogênicas desde a Revolução Industrial (principalmente aumento da 
atividade industrial, desmatamento e aumento populacional). As mudanças climáticas antropogênicas 
referem-se a qualquer mudança no clima causada pelo efeito cumulativo da atividade humana. A 
magnitude da mudança climática global antropogênica é atualmente considerada irreversível em 
escalas de tempo humanas. Por exemplo, para o ano de 2100 é especulado um aumento de temperatura 
média da Terra em 2 a 4C, uma diminuição do pH oceânico de 0,3 até 0,5 e um aumento dos índices 
de UV entre 12-17%. 
 
 
 
As mudanças climáticas ocorrem tanto no ambiente terrestre quanto marinho. Os oceanos 
cobrem 2/3 da Terra, e por isso, absorvem 80% do calor incidente. O que faz com que as linhas de 
temperatura nos oceanos (isotermas) migrem mais rápido do que em ambientes terrestres, culminando 
em comunidades marinhas inteiras a migrarem mais rapidamente (alterando sua distribuição). O 
CAPÍTULO 1 
 
Box 1: Tempo meteorológico x tempo geológico. 
Ambos estão dentro do conceito de mudanças climáticas 
Tempo geológico: escala de tempo medida em milhões de anos, sendo classificada 
em eras geológicas e seus respectivos períodos. 
Tempo meteorológico: escala de tempo em horas/dias, mensurado nas últimas décadas. 
. 
 
 
 
 
 
10 
 
aumento da temperatura é um dos principais processos resultantes de mudanças climáticas 
antropogênicas no ambiente marinho. Esse aquecimento vem sendo confirmado por dados de 
temperatura dos oceanos registrados nos últimos anos. O aumento da temperatura nos oceanos tem 
diversas consequências (Fig. 1), como aumento de eventos extremos, alterações nos padrões de 
ocorrência de tempestades e secas, aumento da umidade relativa do ar entre outras. 
 
Figura 1. Alguns eventos alterados em consequência do aumento da temperatura nos oceanos. 
 
Dessa forma, o aquecimento global deverá produzir grandes mudanças no ambiente marinho, 
como na distribuição e abundância de espécies além de mudança na estrutura de comunidades, 
incluindo extinções locais. Macroalgas marinhas são as bases ecológicas da maioria dos ecossistemas 
marinhos costeiros e sua diversidade tem implicações fundamentais para a vida e os serviços 
ecossistêmicos (ver Box 2) na zona costeira. As macroalgas ocorrem principalmente nas regiões 
costeiras, localidade em que está mais susceptível às mudanças, devido à sua proximidade com o 
ambiente terrestre. As mudanças climáticas deverão alterar diversas características dessas regiões, 
devido às alterações no padrão de ondas, pluviosidade, elevação do nível do mal, diminuição das 
faixas de areias, erosão e outros. 
 
 
 
Apesar de algumas espécies de macroalgas terem mostrado alta tolerância, ou até mesmo se 
beneficiarem de mudanças climáticas, o aumento na temperatura tende a trazer mudanças drásticas 
para comunidades bentônicas. Há diversos estudos acerca dos processos ecológicos em macroalgas, 
Box 2: Serviços ecossistêmicos 
São benefícios que podemos obter a partir dos ecossistemas de forma direta ou indireta. 
Exemplos: proteção contra desastres, controle da erosão, alimentos, manutenção do 
clima, purificação da água, controle de inundações, além do uso recreativo. 
 
 
 
11 
 
contudo, poucos abordam a distribuição de espécies. A temperatura influencia drasticamente 
processos biológicos, atuando em diversas escalas (Fig. 2): desde moléculas a biotas inteiras. Os 
efeitos da temperatura em reações químicas, estruturas moleculares e fisiologia das algas são bem 
documentados, apesar de não tão bem elucidados. Essas lacunas no conhecimento são atribuídas à 
grande dificuldade em isolar o fator temperatura de outros em ambiente natural. Em teoria, por efeitos 
que ocorrem nos níveis químicos e moleculares, as algas são beneficiadas com o aumento da 
temperatura. Contudo, alteração da temperatura pode ser fatal para macroalgas que possuem seu 
rendimento máximo próximo ao seu limite fisiológico. O aumento de temperatura observado na 
natureza nos dias de hoje pode não evidenciar nenhuma diferença fisiológica nesses indivíduos, 
muitas vezes levando a uma falsa interpretação de que toleram tal situação. Por esse motivo, 
experimentos laboratoriais se fazem necessários. 
 
 Figura 2: Consequências do aumento da temperatura nos oceanos em diversas escalas. 
 
Os oceanos absorvem cerca de um terço (1/3) de todo CO2 emitido antropologicamente - desde 
a revolução industrial. O impacto antropogênico é de tamanha magnitude de forma que é esperada 
que a uma diminuição de pH mais significativa ao longo dos próximos séculos do que nos últimos 
300 milhões de anos, tendo drásticas consequências para organismos marinhos. A absorção de CO 2 
pelos oceanos aumenta a concentração (ver Box 3) de ácido carbônico (HCO3
−), o que além de 
diminuir o pH, diminui também a disponibilidade dos íons carbonato de cálcio. A maioria das 
macroalgas marinhas têm acesso tanto ao CO2 quanto ao ácido carbônico para conduzir a fotossíntese. 
Todavia, algumas macroalgas vermelhas só podem absorver CO2. Por esses motivos, apesar da 
mudança no pH, a maior disponibilidade de carbono tem se mostrado benéfica. No entanto, diversas 
macroalgas vermelhas, por não conseguirem absorver o ácido carbônico, a mudança de pH tem se 
 
 
12 
 
mostrado prejudicial. Ainda, muitas macroalgas vermelhas (assim como os corais) possuem parede 
celular com carbonato de cálcio, que também tem sua disponibilidade diminuída devido à alteração 
do pH. 
 
 
 
Até o ano de 2100, é especulado um aumento dos índices de UV entre 12-17%. A radiação 
UV pode afetar as macroalgas marinhas de diversas maneiras, principalmente causando diminuição 
da fotossíntese e fixação de CO2. UV-A tem efeitos ambíguos nas macroalgas, podendo ser usado 
como fonte de luz para a fotossíntese, direcionando a utilização fotossintética do bicarbonato, tendo 
efeito positivo na morfogênese e crescimento de algumas espécies de macroalgas. No entanto, níveis 
altos de UV-A podem causar diminuição da fotossíntese, alterar a diversidade e a biomassa da 
comunidade bentônica marinha. Por outro lado, UV-B raramente mostra efeito positivo. Podem 
causar alterações nas mitocôndrias, cloroplastos e outras organelas, além de aumentar a espessura da 
parede celular, reduzir o espaço intracelular e até mesmo alterar os contornos das células e 
morfologias. 
Como descrito acima, diversas são as mudanças ambientais que atuam concomitantemente 
nos organismos e os fatores são de difícil dissociação em estudos controlados. Um exemplo da ação 
de diversos fatores é o impacto dos herbívoros sobre as comunidades de macroalgas. Os herbívoros 
são agentes estruturantes fundamentais nas comunidades de macroalgas, influenciando, desde a 
sobrevivência do indivíduo até a totalidade da biodiversidade. Os resultados das interações entre 
plantas e herbívoros dependem das características da alga e do herbívoro, incluindo a palatabilidade 
das algas, as taxas de consumo per capita de herbívoros e as taxas de crescimento individual e 
populacional e a abundância total de ambos. Fatores abióticos associados à mudança climática são 
conhecidos por afetar todos esses atributos. A temperatura pode reduzir as defesas dos herbívoros 
enquanto que alterações na disponibilidade de nutrientes alteraram a palatabilidade das algas (além 
do carbonato de cálcio, que é uma importante defesa anti-herbívoro). Ainda, apesar do aquecimento 
beneficiar algumas populações de herbívoros, a acidificação é geralmente prejudicial
para muitos 
herbívoros invertebrados, particularmente espécies fortemente calcificadas, tais como ouriços do mar 
e moluscos. Dessa forma, as mudanças climáticas também terão efeitos diretos sobre os herbívoros 
que por efeito em cascata influenciará nos produtores primários. 
Box 3: 𝐶𝑂2 + 𝐻2𝑂 
 
↔ 𝐻2𝐶𝑂3 
𝐻2𝐶𝑂3 
 
↔ 𝐻+ + 𝐻𝐶𝑂3
− 
𝐻𝐶𝑂3
− 
 
↔ 𝐻+ + 𝐶𝑂3
2− 
 
 
13 
 
Possíveis respostas fisiológicas de uma espécie e de suas populações podem decorrer de 
processos de aclimatação ou adaptação (ver Box 4). Estudos fisiológicos em populações naturais, não 
permitem a distinção entre esses processos, pois as variáveis ambientais são distintas e mascaram 
possíveis conclusões sobre os efeitos de determinados fatores abióticos. É importante, portanto, 
realizar estudos de variação em condições controladas e determinar o padrão de variação fisiológica 
em condições laboratoriais em associação com dados de campo. Esses dados devem possibilitar uma 
melhor previsão dos efeitos das mudanças climáticas em comunidades marinhas futuras. Todo esse 
aspecto promissor mencionado faz com que os estudos acerca da fisiologia e ecologia sejam de 
extrema importância para o conhecimento dos ecossistemas marinhos num cenário especulado para 
o futuro de aumento de temperatura média dos oceanos. 
 
 
 
Referências 
Burrows, M.T.; Schoeman, D.S.; Buckley, L.B.; Moore, P.; Poloczanska, E.S.; Brander, K.M.; 
Brown, C.; Bruno, J.F.; Duarte, C. M.; Halpern, B. S.; Holding, J.; Kappel, C. V.; Kiessling, 
W.; O’Connor, M. I.; Pandolfi, J. M.; Parmesan, C.; Schwing, F. B.; Sydeman, W. J.; 
Richardson, A. J. 2011. The Pace of Shifting Climate in Marine and Terrestrial Ecosystems. 
Science 334:652–655. 
Cheung, W.W.L.; Lam, V.W.Y.; Sarmiento, J.L.; Kearney, K.; Watson, R.; Pauly, D. 2009. 
Projecting global marine biodiversity impacts under climate change scenarios. Fish and 
Fisheries 10:235–251. 
Field, C.B.; Barros, V.R.; Dokken, D.J.; Mach, K.J.; Mastrandrea, M.D.; Bilir, T.E.; Chatterjee, M.; 
Ebi, K.L.; Estrada, Y.O.; Genova, R.C.; Girma, B.; Kissel, E.S.; Levy, A.N.; MacCracken, S.; 
Mastrandrea, P.R.; & White, L.L. 2014. Climate Change 2014: Impacts, Adaptation, and 
Vulnerability. Part A: Global and Sectoral Aspects. Contribution of Working Group II to the 
Fifth Assessment Report of the Intergovernmental Panel on Climate Change. 
Harley, C.D.G.; Anderson, K.M.; Demes, K.W.; Jorve, J.P.; Kordas, R.L.; Coyle, T.A.; Graham, 
M.H. 2012. Effects Of Climate Change On Global Seaweed Communities. Journal of 
Phycology 48:1064–1078. 
Box 4: Adaptação e aclimatação de forma extremamente resumida: 
Adaptação é alteração no genoma e ocorre ao longo de gerações. 
Aclimatação é ajuste fenotípico e ocorre no indivíduo. 
 
 
 
14 
 
Hobday, A.; Alexander, L.V.; Perkins, S.E.; Smale, D.A.; Straub, S.C.; Oliver, E.; Benthuysen, J.A.; 
Burrows, M.T.; Donat, M.G.; Feng, M.; Holbrook, N.J.; Moore, P.J.; Scannell, H.A.; Sen 
Gupta, A.; Wernberg, T. 2016. A hierarchical approach to defining marine heatwaves. 
Progress in Oceanography 141:227-238. 
Poloczanska, E.S.; Brown, C.J.; Sydeman, W.J.; Kiessling, W.; Schoeman, D.S.; Moore, P.J.; 
Brander, K.; Bruno, J. F.; Buckley, L. B.; Burrows, M.T.; Duarte, C.M.; Halpern, B.S.; 
Holding, J.; Kappel, C.V.; O’Connor, M.I.; Pandolfi, J.M.; Parmesan, C.; Thompson, F.S.A.; 
& Richardson, A.J. 2013. Global Imprint of Climate Change on Marine Life. Nature Climate 
Change 3: 919–25. 
Trenberth K.E. 2012. Framing the way to relate climate extremes to climate change. Climatic Change 
115:283–290. 
Ji, Y.; Xu, Z.; Zou, D.; Gao, K. 2016. Ecophysiological responses of marine macroalgae to climate 
change factors. Journal of Applied Phycology 28: 2953-67. 
 
 
 
 
 
15 
 
 
 
Licófitas e Samambaias: evolução, morfologia e ecologia 
 
Aline Possamai Della (Universidade de São Paulo) 
 
Nesse capítulo abordaremos alguns aspectos relacionados à evolução, classificação, 
reprodução, morfologia, ecologia, distribuição, conservação e importância econômica das licófitas e 
samambaias. 
 
Introdução 
Licófitas e samambaias são termos que se referem à todas 
as plantas vasculares que não produzem sementes, as quais, são 
popularmente conhecidas como samambaias, avencas e 
cavalinhas. No ensino básico, elas são tradicionalmente tratadas 
como “pteridófitas”, no entanto, a reunião desses dois grupos de 
plantas sob o termo “pteridófita” é reconhecidamente uma 
classificação artificial. Isso se dá, pois embora samambaias e 
licófitas possuam um ancestral comum, o termo não engloba 
todas as espécies derivadas desse ancestral, uma vez que não 
abrange as plantas com sementes (ou seja, é um agrupamento 
parafilético). Como atualmente um dos critérios para se 
estabelecer um grupo biológico é este ser considerado 
monofilético (em oposição ao termo parafilético), ou seja, incluir 
o ancestral comum e todos os descendentes daquela linhagem, o 
termo “pteridófita” encontra-se praticamente em desuso pela comunidade científica. 
A grosso modo, as licófitas se diferenciam pela presença de microfilos (folhas geralmente 
pequenas, que apresentam uma nervura central não ramificada, associadas a caules que apresentam 
xilema e floema organizados na forma de protostelo – Fig. 1 e 2) e esporângios, situados nas axilas 
entre folhas e caules. Já as samambaias apresentam folhas do tipo megafilo (geralmente grandes, com 
nervuras ramificadas, formando uma rede bastante complexa no tecido laminar, associadas a caules 
que apresentam sifonostelo, portanto, com medula e lacuna foliar), e esporângios localizados na face 
abaxial ou na margem da folha. 
CAPÍTULO 2 
 
Plantas vasculares: 
correspondem a um grupo 
monofilético, que engloba as 
licófitas, samambaias, 
gimnospermas e angiospermas. 
São caracterizadas pela fase 
esporofítica dominante, com 
esporófito ramificado, pela 
presença de xilema, floema e 
esclerênquima. 
Grupo monofilético ou clado: 
grupo formado pelo ancestral e 
todos os descendentes. 
 
Grupo parafilético ou grado: 
grupo formado pelo ancestral e 
parte dos descendentes. 
 
 
16 
 
 
Figura 1. Esquema dos tipos de folhas, microfilos e megafilos, das licófitas e samambaias, respectivamente. Elaborado 
por: A.P. Della 
 
 
Figura 2. Esquema demonstrando os tipos de cilindro vasculares presentes nas licófitas (protostelo) e nas samambaias 
(sifonostelo). Elaborado por: A.P. Della. 
 
Diversos estudos têm demonstrado que as samambaias são mais aparentadas 
filogeneticamente com as espermatófitas (plantas com semente, angiospermas e gimnospermas) do 
que com as licófitas. Na Figura 3 podemos constatar que as licófitas foram a primeira linhagem a 
divergir das plantas vasculares (isso considerando apenas espécies atuais), e que está linhagem é 
grupo irmão do clado (grupo monofilético) das eufilófitas, que é formado pelas samambaias e pelas 
espermatófitas (Fig. 4 mostrando imagens de alguns representantes desses grupos de plantas atuais). 
 
 
17 
 
 
Figura 3. Esquema simplificado demonstrando as relações filogenéticas dos principais grupos de plantas atuais. O grupo 
das briófitas (plantas avasculares) é irmão de todas as plantas vasculares. No clado das vasculares (flecha roxa), o grupo 
das licófitas é irmão das eufilófitas (clado representado pela flecha verde). E dentro das eufilófitas temos espermatófitas 
(gimnospermas e angiospermas) e as samambaias. Elaborado por: A.P. Della. 
 
 
Figura 4. Representantes dos grupos de plantas vasculares atuais. A: Cycas L. (Cycadaceae, Gimnosperma); B: 
Malvaviscus Fabr. (Malvaceae, Angiosperma); C: Serpocaulon A.R. Sm. (Polypodiaceae, Samambaia); D: Cyathea Sm. 
(Cyatheaceae, Samambaia). Fotos: A.P. Della. 
 
 As eufilófitas são caracterizadas pela presença de protoxilema da raiz exarco (ou seja, os 
primeiros traqueídes ou elementos de vaso estão dispostos na
porção periférica do feixe vascular), 
pelas folhas do tipo megafilo, por feixes vasculares formando sistemas complexos que apresentam 
medula parenquimática (sifonostelo ou eustelo), e pela presença de 30 kpb duplicadas invertidas no 
DNA do cloroplasto. 
 
 
18 
 
 
Evolução 
 A origem das licófitas e samambaias é muito antiga. Os primeiros fósseis de organismos 
semelhantes a elas datam de 425 milhões de anos, no período geológico conhecido como Siluriano. 
Porém foi supostamente no Carbonífero (a cerca de 360 milhões de anos atrás), que houve uma ampla 
diversificação e irradiação desse grupo, momento em que possivelmente se tornaram os elementos 
dominantes nas florestas. Esse período do Siluriano/Carbonífero é reconhecido como a primeira 
grande radiação das licófitas e samambaias. 
A segunda grande radiação é do Carbonífero/Triássico, até cerca de 245 milhões de anos atrás, 
onde registros fósseis indicam a existência de verdadeiras florestas formadas, principalmente, por 
licófitas arbóreas com até 25 metros de altura. Nesse período, as licófitas deviam corresponder a cerca 
de 50% das espécies. 
 Na era Mesozóica tivemos o aparecimento e a irradiação de angiospermas, isso provavelmente 
promoveu a extinção de muitas linhagens de samambaias e licófitas (derivadas das duas grandes 
radiações destacadas acima), assim como de muitas gimnospermas. No entanto, ao mesmo tempo que 
houve extinções de muitas linhagens, ocorreu o surgimento de outras, como a linhagem de 
samambaias polipodiódes (correspondem a ordem Polypodiales, ver próximo tópico), que acabaram 
por se diversificar “na sombra das angiospermas” (é a chamada terceira grande radiação das licófitas 
e samambaias). 
As florestas de angiospermas que foram surgindo, principalmente entre o final da era 
Mesozóica e o início da era Cenozóico, eram muito mais diversas que as florestas de gimnospermas 
existentes até então. Além disso, tinham diferentes estratos (plantas de dossel, de sub-bosque, etc.), 
assim o estabelecimento das angiospermas deve ter proporcionado grande mudanças ambientais, e o 
surgimento de novos ecossistemas potencialmente ocupáveis pelas samambaias e licófitas. 
Hoje as samambaias polipodióides, que se diversificaram principalmente nos últimos 50 
milhões de anos, correspondem a cerca de 80% das espécies existentes. Esse grupo de plantas deve 
ter se estabelecido, principalmente, sob o dossel florestal, onde provavelmente havia poucas 
gimnospermas e angiospermas, ou seja, onde havia menor competição. 
 Como visto nos parágrafos acima, as licófitas e samambaias atuais correspondem a grupos 
muito recentes, ao contrário do que se imaginava antigamente, que elas eram “plantas fósseis” e 
remanescentes das linhagens antigas. 
 
Classificação 
 
 
19 
 
 A classificação das licófitas e samambaias passou por muitas alterações ao longo do tempo. 
Desde as primeiras classificações baseadas somente em caracteres morfológicos (tais como: 
características do rizoma, da fronde, a disposição dos soros, a presença ou a ausência de indúsio, etc.), 
as quais, em geral não levavam em conta as relações filogenéticas, a classificações que passaram a 
incorporar dados moleculares (as quais, partem de uma filogenia, e usam o princípio de 
monofiletismo para o estabelecimento dos grupos). 
 O Pteridophyte Phylogeny Group I (PPG I, 2016), a classificação mais recente desses grupos, 
é de certa forma um resumo das diversas filogenias, que vem sendo obtidas a partir de dados 
moleculares. As licófitas são tradadas como a classe Lycopodiopsida, e as samambaias como 
Polypodiopsida (Fig. 5). 
 Dentro de Lycopodiopsida há três ordens, as quais apresentam 1.338 espécies. A maior ordem 
é Selaginellales (com 700 espécies), seguida por Lycopodiales com 388 e Isoëtales com 250. Em 
Polypodiopsida há 10 ordens, totalizando 10.578 espécies. Polypodiales é a maior ordem com 8.714 
espécies, seguida por Cyatheales com 713 e Schizaeales com 190. Assim, há atualmente 11.916 de 
licófitas e samambaias. 
 
 
Figura 5. Esquema simplificado demonstrando as relações filogenéticas das ordens de Lycopodiopsida (licófitas em azul) 
e Polypodiopsida (samambaias em vermelho) segundo o PPG I (2016). Entre parênteses o número de espécies de cada 
ordem. Elaborado por: A.P. Della. 
 
 
20 
 
 
 
 
Reprodução 
Reprodução sexuada 
O ciclo de vida das licófitas e samambaias, assim como as demais plantas terrestres, é 
haplodiplobionte, ou seja, envolve a alternância de gerações. A geração gametofítica, a qual produz 
os gametas, é haplóide (x=n) e efêmera, já a geração esporofítica, que produz os esporos, é diplóide 
(x=2n) e de longa duração (Fig. 6). 
 Apresentaremos agora o ciclo de vida, tomando como exemplo uma samambaia 
leptoesporangiada (que corresponde a maioria das samambaias). Na maturidade de um esporófito 
(diplóide) são produzidos os soros, que estão localizados, frequentemente, na parte inferior das folhas. 
Os soros correspondem ao agrupamento de esporângios, os quais contém numerosos esporos, que por 
sua vez são células haplóides, formadas por meiose. 
 
 
Figura 6. Ciclo de vida de uma samambaia leptoesporangiada. Elaborado por: A.P. Della. 
 
Os esporângios são constituídos, geralmente, por uma haste (porção inferior) e uma cápsula 
globosa (porção superior). Nessa cápsula há uma linha de células espessadas em forma de “U”, a qual 
chamamos de ânulo. Quando há redução de umidade do ambiente (seca), as paredes do ânulo se 
comprimem e acabam rompendo o esporângio, promovendo, dessa forma, a liberação dos esporos (os 
 
 
21 
 
quais são passíveis de serem carregados pelo vento). Num ambiente propício, os esporos podem 
germinar e se desenvolver em prótalos, e posteriormente em gametófitos (haplóides). 
Os esporos são muito pequenos (em torno de 0,05 mm) e são produzidos em grande 
quantidade. Geralmente, a produção de esporos varia de mil a um milhão por planta, mas já foram 
registrados até 1 bilhão de esporos. A maioria dos esporos acaba não sendo levada para localidades 
muito distantes da planta mãe. Distâncias maiores dependem de correntes de vento. Grande parte dos 
esporos não possui clorofila, e pode permanecer viável durante vários anos. 
Os gametófitos, que por sua vez, são geralmente pequenos, com formato cordiforme e 
coloração verde clara (a morfologia do gametófito será vista em detalhes no próximo tópico), 
apresentam em sua porção inferior órgãos sexuais. Os órgãos masculinos são chamados de anterídios 
e produzem os anterozoides (gametas masculinos flagelados). Já os órgãos femininos são chamados 
de arquegônio e produzem as oosferas (gametas femininos). A água é essencial para a fecundação, 
tendo em vista que o anterozóide é flagelado. Os anterozoides das licófitas são biflagelados, já o das 
samambaias (assim como de outras eufilófitas que apresentam flagelo) são multiflagelados. 
Os gametófitos podem ser unissexuados (apresentam órgãos sexuais masculinos e femininos 
em indivíduos diferentes) ou bissexuados/hermafroditas (apresentam órgãos sexuais masculinos e 
femininos num mesmo indivíduo). Quando o anterozóide chega até o arquegônio e fecunda a oosfera, 
é gerado o zigoto, iniciando-se assim a fase diplóide. O gametófito permanece vivo até a formação 
dos primórdios foliares, e em seguida morre. O zigoto, formado pela fecundação, sofre sucessivas 
divisões mitóticas gerando um novo indivíduo (esporófito), que apresenta raízes, caule e folhas, e ao 
atingir a maturidade produzirá os esporos. 
É extremamente importante aqui ressaltar um detalhe que diversos livros texto de botânica 
descrevem e enfatizam erroneamente: a autofecundação (quando um gameta masculino fecunda um 
gameta feminino do mesmo indivíduo) como a forma mais comum de reprodução do gametófito. Isso 
é apresentado tanto em explicações no texto como em figuras. No entanto, a maioria dos eventos de 
fecundação que ocorrem nesses grupos é
por meio de fecundação cruzada (quando gametas 
masculinos fecundam gametas femininos de indivíduos diferentes) gerando maior variabilidade 
genética. 
 
Reprodução assexuada 
A reprodução assexuada pode ocorrer por meio de apomixia e/ou de propagação vegetativa. 
No ciclo de vida de uma samambaia apomítica, há produção de 32 esporos diploides (por meio de 
falhas na disjunção dos cromossomos na meiose), ao invés dos 64 esporos haploides formados 
normalmente (ciclo de vida não apomítico). Dessa forma, não há fecundação (fusão de gametas), uma 
 
 
22 
 
vez que os esporos já são diploides. Estes esporos diplóides germinam e se desenvolvem em 
gametófitos menores do que os normais, além disso, esses gametófitos formados não produzem 
gametângios. Então, a partir de uma célula do gametófito há o desenvolvimento de um esporófito, 
que apresenta raiz, caule e folhas. O gametófito morre a medida que essa nova plântula se desenvolve. 
O esporófito apomítico poderá produzir esporos, também apomíticos, fechando o ciclo. 
A propagação vegetativa é uma alternativa mais rápida do que a reprodução sexuada. As 
plantas (esporófito) produzem gemas, as quais podem estar localizadas tanto na raque, quanto na 
lâmina foliar. Essas gemas se desenvolvem e dão origem a plântulas, que são clones da planta mãe. 
Ao tocarem o chão (quando folhas da planta mãe murcham) e/ou quando se desprendem da planta 
mãe, tornam-se indivíduos independentes, sem a necessidade de reprodução sexuada. Além das 
gemas, partes de um indivíduo podem se desprender e dar origem a novas planta. 
Outro fenômeno comum entre as licófitas e samambaias é a hibridização, que consiste no 
cruzamento de duas espécies distintas, gerando descendentes com características combinadas de 
ambos parentais. A hibridação ocorre quando o anterozóide do gametófito de uma espécie fecunda a 
oosfera do gametófito de outra espécie. Identificam-se híbridos com certa facilidade por estes 
apresentarem características intermediárias entre os parentais, no entanto, nem sempre são expressas 
de forma proporcional. Indivíduos híbridos geralmente apresentam esporos abortados, o quais podem 
inclusive ser maiores que os esporos dos parentais. Esporos abortados têm a aparência de uma 
“sujeira” sob o microscópio estereoscópico, pois eles são irregulares, enegrecidos e sem forma 
definida. Os híbridos são estéreis na maioria dos casos, uma vez que não ocorre o pareamento correto 
dos cromossomos provenientes dos diferentes parentais. 
A hibridização entre espécies do mesmo gênero é chamada de intragenérica, e é a mais 
comum. A hibridação também pode ocorrer entre gêneros diferentes, neste caso é chamada de 
hibridação intergenérica. Na nomenclatura botânica, deve-se usar o símbolo × para indicar que um 
táxon é um híbrido. Por exemplo: Blechnum × rodriguezii Aguiar, Quintanilla & Amigo. 
 
Morfologia do gametófito e do esporófito 
Fase gametofítica 
Os gametófitos das licófitas e das samambaias nem sempre são cordiformes, como os livros 
didáticos frequentemente ilustram. Eles apresentam diferentes morfologias, cujos tipos morfológicos 
são relacionados ao hábitat do esporófito. Os gametófitos cordiformes (Fig. 7) são geralmente anuais 
e típicos da maioria das espécies terrestres de Polypodiales. Os gametófitos em forma de fita são 
ramificados, perenes, apresentam crescimento indeterminado, alongamento gradual e 
desenvolvimento mais lento que o cordiforme. O talo dos gametófitos em forma de fita pode dar 
 
 
23 
 
origem a outros indivíduos por meio de reprodução assexuada. Esse tipo de gametófito é encontrado 
em epífitas da família Polypodiaceae, Dryopteridaceae, Hymenophyllaceae e Pteridaceae, e em 
plantas terrestres pertencentes a Osmundaceae. 
Os gametófitos cordiformes, anuais e de crescimento rápido são adaptados para viver em 
ambientes com perturbações constantes, como barrancos, que sofrem erosão, e solo com contínuo 
acúmulo de serapilheira. Já os gametófitos em forma de fita, perenes e de crescimento lento adaptam-
se a habitats mais maduros e estáveis, como troncos de árvores e cavernas. 
 
Figura 7. Gametófito terrícola e cordiforme. Fotos: A.P. Della 
 
Fase esporofítica 
O esporófito da maioria das licófitas e samambaias é perene, ou seja, vive mais do que um 
ano. Não sabemos quantos anos a maioria das espécies pode viver, mas há registros de espécies com 
32 até 150 anos. Em regiões tropicais as samambaias crescem lentamente, o que significa que podem 
levar anos para se reproduzirem sexuadamente. A morfologia do esporófito é bastante variável, e em 
geral, licófitas e samambaias apresentam raízes, caule e folhas (também chamadas de frondes). 
Contudo, as licófitas e as samambaias possuem diferenças morfológicas entre si (como comentado 
anteriormente). As licófitas apresentam microfilos, que são folhas inteiras, geralmente, menores que 
1 cm de comprimento, sésseis, com apenas uma nervura, e um esporângio por microfilo (este 
localizado na superfície superior do microfilo). Já as samambaias possuem megafilos, que são folhas 
simples ou compostas, sésseis ou pecioladas, com várias nervuras, e numerosos esporângios por folha 
(geralmente na face inferior da folha) 
 
 
24 
 
As folhas das samambaias são divididas em lâmina (porção geralmente verde e expandida) e 
pecíolo (porção alongada e cilíndrica), sendo estas partes ausentes nas licófitas (Fig. 8). A lâmina 
pode ser inteira ou parcialmente dividia, em graus crescentes de dissecção até uma lâmina totalmente 
composta. A lâmina que apresenta alguns lobos e/ou incisões (as quais chegam a nervura central) é 
chamada de pinatissecta, se não chegar a nervura central é considerada pinatífida. Se a lâmina é 
completamente dividida até a nervura central ela é chamada pinada, onde cada unidade da lâmina é 
uma pina e o eixo entre as pinas é a raque. Se a pina é dividida mais uma vez, a lâmina é bipinada, se 
esta se divide mais uma vez, é tripinada e assim sucessivamente. 
 
 
Figura 8. Diferentes formas e dissecções das folhas de samambaias. A: folha inteira, simples. B: folha pinatissecta, 
simples. C e D: folha pinada, composta. E: folha pinada-pinatífida. F: folha 2-pinada-pinatífida. Fotos: A.P. Della. 
 
As folhas das samambaias nascem enroladas em uma espiral, ou seja, apresentam venação 
circinada, e ao longo do tempo vão se desenrolando gradualmente. A folha jovem (enrolada) das 
samambaias é chamada de báculo, pela similaridade do báculo (cajado) dos papas da igreja católica. 
O formato da folha também pode variar muito entre os grupos, assim como as nervuras das 
folhas, as quais são importantes para identificar algumas famílias. As nervuras podem ser: lineares 
(livres ao longo de toda lâmina), furcadas (em forma de Y) ou reticuladas (nervuras unem-se em 
aréolas). 
Na superfície das folhas, pecíolos ou caule pode haver escamas ou tricomas, ambos de origem 
epidérmica. As escamas são estruturas laminares com mais de uma célula de espessura e podem ter 
formatos e cores variados. Tricomas são formados por uma célula de espessura e também podem 
apresentar cores diversas. Escamas e tricomas podem apresentar glândulas secretoras, com as mais 
variadas substâncias químicas, as quais auxiliam na proteção contra herbivoria. 
 
 
25 
 
Existem dois tipos de esporângio em licófitas e samambaias: o eusporângio e o 
leptoesporângio. O eusporângio é formado a partir da divisão de várias células da epiderme da folha, 
e o leptoesporângio é originado a partir de uma única célula epidérmica. O eusporângio está presente 
nas licófitas e nas ordens Equisetales, Psilotales, Ophioglossales, Marattiales e parte das Osmundales 
(dentro de Polypodiopsida). Já o leptoesporângio é encontrado em alguns grupos de Osmundales e 
em todas as outras seis ordens de Polypodiopsida, dessa forma, as samambaias leptoesporangiadas 
são muito mais numerosas. 
As folhas podem ser de dois tipos (dimorfas): férteis
ou estéreis. As folhas férteis contêm os 
soros, conjunto de leptoesporângios, cujo formato e posição são muito importantes para a 
identificação dos grupos. Os soros são castanhos quando maduros e podem ter formato arredondado, 
cônico, lunar, linear, ou podem ainda recobrir toda a superfície da folha (neste caso o soro é chamado 
de acrosticóide). O indúsio é uma membrana epidérmica, frequentemente fina, que recobre parcial ou 
totalmente os soros até a maturidade dos esporos, pode estar presente ou ausente, sendo também um 
importante caráter taxonômico. O indúsio frequentemente apresenta formato compatível com o soro 
(cônico, redondo, em forma de lua, linear, etc.) 
O caule pode ser reptante (quando este é paralelo ao substrato), ou ser ereto (em alguns casos 
chegando a formar um “caule” com diâmetro e altura consideráveis, como nas samambaias 
arborescentes). As licófitas e samambaias são plantas herbáceas, uma vez que não apresentam 
crescimento secundário. 
 
Distribuição 
As licófitas e samambaias apresentam ampla distribuição geográfica (plantas consideradas 
cosmopolitas), ocorrendo desde as tundras geladas, acima do círculo polar ártico, até as florestas 
tropicais quentes e úmidas na linha do equador. O número de espécies aumenta no sentido polos para 
trópicos (há um gradiente de riqueza), como pode ser visto nesses exemplos: na Groelândia há cerca 
de 30 espécies, 100 na Inglaterra, 130 na Flórida, 652 na Guatemala, 1160 na Costa Rica e 1250 no 
Equador. Na América do Sul há estimativas de ocorrência de 3500 espécies, e no Brasil 1307, sendo 
que grande parte desses táxons, que ocorrem em nosso país, estão na Mata Atlântica e na Amazônia. 
Em menor proporção ocorrem nas regiões serranas, nas matas de galeria, nas florestas nebulares e 
nas áreas de Cerrado e Caatinga. 
Além do maior número de espécies, é na região tropical onde elas apresentam maior 
diversidade de formas de vidas, havendo plantas: terrícolas (plantas que nascem e passam todo o 
ciclo de vida em contato com o solo), rupícolas (em contato com rochas), epífitas (nunca em contato 
com o solo, nascem e passam todo o ciclo de vida em tronco de árvores), hemiepífitas (nascem no 
 
 
26 
 
solo, mas crescem subindo em outras plantas, só se reproduzem depois de atingir certa altura) e 
aquáticas (todo ciclo de vida flutuando sobre a água). 
O calor excessivo pode causar o ressecamento destas plantas, por isso a maioria das espécies 
ocorrem em condições microclimáticas de umidade constante, principalmente nas áreas próximas a 
cursos de água, como riachos, igarapés e rios. Muitas plantas dessas áreas úmidas são exclusivas 
(endêmicas) destes ambientes. No entanto, apesar das licófitas e samambaias atingirem maior 
frequência e abundância em florestas úmidas, elas também crescem em habitats secos. Uma das 
regiões secas no norte do México é considerada como um centro de riqueza e de endemismo de certos 
grupos, principalmente, da família Pteridaceae. As plantas que ocorrem nessas áreas secas apresentam 
adaptações, tais como reprodução somente assexuada (tendo em vista que a sexuada necessita de 
água), além de escamas que absorvem umidade, e capacidade de perda de até 95% da água do corpo, 
sem causar danos fisiológicos ao organismo. 
 
Interações com outros seres vivos 
 Como vimos, as licófitas e samambaias se reproduzem por meio de gametas e esporos, os 
quais são dispersos por vento e/ou água, assim o ciclo de vida desses organismos é praticamente 
independente de animais, tais como polinizadores e dispersores (que são extremante importante para 
angiospermas). Assim temos outros tipos de interação dessas plantas com animais, tais como: o uso 
de partes de rizoma e folhas das samambaias por passarinhos na construção de ninhos, sendo que já 
foram observados estes animais coletando escamas de Phlebodium (R. Br.) J. Sm. e de Cyathea Sm., 
além de caules de Microgramma C. Presl. 
Além disso, o uso de partes de samambaias (rizoma ou folhas) como alimento. Antigamente 
se imaginava que as samambaias eram menos consumidas por herbívoros, quando comparadas com 
angiospermas, no entanto, estudos mostraram um valor de 5 a 38% de herbivoria, o que é semelhante 
ao observado para as plantas com flores. Esses estudos também têm mostrado que muitos herbívoros 
são especialistas em samambaias. 
 É muito comum também a predação de partes de samambaias, como pecíolos e raque, por 
mariposas, que são posteriormente colonizadas por formigas, como visto para Acrostichum 
danaeifolium Langsd. & Fisch. Também já foi verificado associações mutualísticas entre samambaias 
e formigas, onde a planta oferece abrigo, e às vezes alimento, e as formigas protegem as samambaias 
contra os predadores. 
 As samambaias apresentam algumas estratégias visando reduzir a herbivoria e a predação. 
Uma dessas estratégias, é conhecida em angiospermas como “atraso verde”, onde a coloração verde 
da folha é obtida somente após algumas semanas de desenvolvimento, e não imediatamente ao nascer. 
 
 
27 
 
As folhas jovens em geral são muito finas e delicadas quando nascem, bem como apresentam menos 
compostos secundários (substâncias tóxicas aos herbívoros), assim são alvos fáceis para os 
herbívoros. Dessa forma, sabendo que esses animais são atraídos pela coloração verde, a alteração da 
cor para vermelho ou branco em estágios inicias pode ser uma defesa dessas plantas. No entanto, ter 
outra coloração se torna um pouco desvantajoso, uma vez que estas folhas possuem pouca capacidade 
de realizar fotossíntese, já que a clorofila (pigmento responsável pela absorção de luz) não está 
presente. 
 As samambaias influenciam o estabelecimento de outras plantas no sub-bosque, uma vez que 
reduzem o nível de iluminação existentes sob a copa em até 32%. O solo onde crescem samambaias, 
em geral, é mais profundo comparado com áreas livres de samambaias, o que pode atuar como uma 
barreira mecânica para sementes que alcançam o solo e para as plântulas emergentes. 
 A famílias Dryopteridaceae e Dennstaedtiaceae são 
ricas em metabólitos secundários como terpenos e fenóis, que 
são compostos tóxicos para a maioria dos mamíferos. Todas 
samambaias com exceção de Ophioglossales tem capacidade 
de sintetizar taninos. 
 As samambaias apresentam associações micorrizicas desde o Paleozoico, com as quais 
formam uma simbiose especializada na transferência de nutrientes e carbono orgânico. 
 
Conservação 
 A diversidade de licófitas e samambaiais, assim como de quase todos os organismos presentes 
em florestas tropicais, é fortemente ameaçada pelo desmatamento. As espécies que ocorrem no 
interior de florestas maduras dificilmente conseguem sobreviver em ambientes alterados, tais como: 
pastagens, plantações, e florestas secundárias. Assim, muitos táxons correm o risco de serem extintos. 
 Na Mata Atlântica, uma grande ameaça às licófitas e samambaias é a redução e fragmentação 
dos ambientes florestais. O uso dos solos, antes ocupados por florestas, é histórico, sendo que hoje a 
floresta cobre menos de 10% da área original, que existia antes da chegada dos europeus. Muitas 
espécies endêmicas desse ecossistema estão fortemente ameaçadas, pois já sofreram uma drástica 
redução no tamanho de suas populações. Aqui vale ressaltar que as licófitas e samambaias são muito 
sensíveis às alterações microclimáticas, que ocorrem, nas bordas de matas. 
 Na Amazônia, essas plantas são ameaçadas pelo desmatamento executado principalmente 
para atividades agropecuárias e de extração de madeira. A fronteira sul da Amazônia vem sendo 
fortemente ameaçada nos últimos anos. Diversos estudos realizados na Amazônia constaram que as 
Taninos são uma das defesas 
químicas mais importantes 
das plantas, uma vez que são 
antifúngicos, antibacterianos 
e antivirais, atuando também 
contra herbívoros. 
 
 
28 
 
licófitas e samambaias são bons indicadores ecológicos, sendo inclusive importantes
para o 
planejamento da conservação da biodiversidade desse ecossistema. 
 
Importância econômica 
Diversas espécies de licófitas e samambaias são usadas em todo o mundo, com diferentes 
finalidades, por diferentes populações tradicionais. Na China, é muito comum o emprego de espécies 
desses grupos na alimentação, sendo consumido tanto folhas e báculos, quanto rizomas. Há estimativa 
de que 50 espécies sejam usadas para essa finalidade nesse país. Em regiões tropicais podem ser 
usadas como cosmético (desodorante), também como tempero, ou mesmo para usos medicinais e na 
produção de tintas e fibras. 
Na Amazônia, elas são usadas principalmente para fins medicinais, havendo registro de uso 
de licófitas e samambaias no tratamento de dor de estômago, diarréia, dor de dente, dores no corpo e 
nos rins, gripe, cicatrização de feridas, e inclusive para uso veterinário. 
A cavalinha (Equisetum L.) é comumente encontrada em casas de produtos naturais para o 
emprego de infusões em problemas renais. Antigamente o talo de Equisetum também era usado para 
polir panelas em virtude da alta concentração de sílica. O extrato de E. arvense L. tem sido usado a 
fabricação de xampu, o qual é usado no tratamento de dermatites seborreicas. 
Extrato de Polypodium leucotomos L., planta que cresce nos Andes entre 700 a 2.500 metros 
era usada na medicina popular por suas propriedades anti-inflamatórias cutâneas, bem como 
fotoprotetoras prevenindo o fotoenvelhecimento. Selaginella denticulata (L.) Spring. era usada como 
anti-helmíntico. Botrychium lumaria (L.) Swartz., segundo os alquimistas, era capaz de coalhar o 
mercúrio, além de apresentar propriedades afrodisíacas em gado bovino. Asplenium trichomanes L. 
era usado para afecções do baço e do fígado, Asplenium ruta-muraria Michx. para curar problemas 
de baço, rins e peito, Asplenium scolopendrium L. como diurético e expectorante, e Lycopodium 
clavatum L. para combater catarros e inflamações das vias urinárias. Cyathea medullaris G. Forst, 
conhecida na Nova Zelândia como Mamaku, tem ação de ativar os queratinócitos e a divisão celular, 
o que reflete no aumento do número de células na derme. Huperzia selago (L.) Bernh é uma planta 
muito venenosa para humanos pela sua alta concentração de alcolóides, e para animais tem 
capacidade de liberar parasitas de qualquer tipo de animal. 
O gênero Pteridium Gled. ex Scop., que apresenta ampla distribuição mundial, é 
frequentemente consumido (principalmente os báculos) por chineses, japoneses e brasileiros (em 
Minas Gerais). Contudo, o consumo excessivo de plantas desse gênero aumenta os riscos de câncer 
de estômago em humanos, e intoxicação no gado. 
 
 
29 
 
Samambaias também são utilizadas para fitorremediação, ou seja, para descontaminação de 
ambientes naturais poluídos por substâncias químicas e/ou metais pesados. Pteris vittata L. é uma 
espécie com grande potencial fitorremediador. Essa planta usa mecanismos de evasão ou exclusão, 
os quais minimizam a incorporação dos metais pela célula. Assim, através de processos de 
detoxificação intracelular, compartimentalização ou biotransformação, a planta consegue sobreviver 
na presença de elevada concentração do metal. 
Recentemente, tem-se discutido o potencial de algumas proteínas extraídas de samambaias 
serem usadas no tratamento contra o câncer. 
As samambaias também apresentam grande potencial ornamental, sendo as mais utilizadas 
em jardinagem e paisagismo as espécies dos gêneros: Adiantum L. (avencas), Cyathea Sm. 
(samambaiaçu), Dicksonia L'Hér. (xaxim-bugio), Davallia Sm. (renda-portuguesa), Platycerium 
Desv. (chifre-de-veado), Nephrolepis Schott (samambaia-de-metro) e Selaginella P. Beauv. 
(erroneamente chamado de musgo). As samambaias aquáticas Salvinia Ség., Azolla Lam. 
(samambaia-mosquito) e Marsilea Adans. (trevo-de-quatro-folhas) são usadas em aquários ou em 
lagoas. O caule da Dicksonia sellowiana Hook., planta nativa da Mata Atlântica, já foi muito utilizado 
como substrato para cultivo de orquídeas pela capacidade de retenção de água, no entanto, em virtude 
da intensa exploração comercial, atualmente essa planta é ameaçada de extinção. 
A samambaia mais utilizada comercialmente é a Azolla, uma planta pequena, aquática, 
flutuante, que se reproduz rapidamente por meio de propagação vegetativa. Plantas desse gênero 
possuem simbiose com uma cianobactéria, Anabaena azollae Strasb., que fixa nitrogênio em troca de 
proteção e abrigo. Ao longo dos últimos 1000 anos, e até os dias atuais, a Azolla é cultivada em 
campos de arroz no sudeste asiático para incremento de nitrogênio nos cultivares. Ela é cultivada nos 
campos inundados, onde chega a recobrir toda a superfície e após a drenagem dos campos a 
samambaia é retida para ser incorporada ao solo. Posteriormente, o arroz é plantado, dessa forma todo 
o nitrogênio será fornecido ao cultivar (através da samambaia) sem a necessidade de adubação 
química. O uso da Azolla reduz o número de fertilizantes nitrogenados químicos. 
 Do ponto de vista nutritivo, as prefoliações são uma ótima fonte de vitaminas A e C. Conteúdo 
de vitaminas é similar ao citado para a batata. Nas folhas maduras também se verifica uma grande 
quantidade de vitaminas A e C. O amido contido na raque e na lâmina pode ser usado na produção 
de farinha, a qual pode ser usada na confecção de pães sem fermento. 
 
Conclusões 
Licófitas e samambaias são dois grupos filogeneticamente distintos, que tradicionalmente são 
tratadas pelo termo “pteridófita”. São plantas vasculares, que apresentam ciclo de vida 
 
 
30 
 
haplodiplobionte, com fase esporofítica dominante sobre a gametofítica. Foram grupos muito 
diversos e predominantes em todos os ecossistemas terrestre no período Carbonífero ao Triássico. 
Atualmente apresentam cerca de 12 mil espécies, ocorrentes em praticamente todo o globo, sendo, 
no entanto, a região tropical a mais diversa. A maioria das espécies de licófitas e samambaias que 
vemos atualmente são plantas muito recentes (pertencentes a Polypodiales, que se originaram 
principalmente no Cenozóico), as quais apresentam morfologia muito variada, principalmente, 
quanto as secções da lâmina foliar. Essa morfologia laminar atrai muita atenção (pela sua beleza), por 
isso são plantas muito usadas como ornamentais. Hoje, no entanto, com o desmatamento 
descontrolado e a fragmentação de habitats há um grande risco de muitas dessas espécies serem 
extintas, principalmente, plantas endêmicas. 
 
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32 
 
 
 
Inovação-chave das Angiospermas: A FLOR 
 
Marcelo Tomé Kubo (Universidade de São Paulo) 
Mariana Maciel Monteiro (Universidade de São Paulo) 
Gisele Alves (Universidade de São Paulo) 
Augusto Giaretta (Universidade de São Paulo) 
 
A flor é um ramo caulinar de crescimento determinado que apresenta folhas modificadas, 
dispostas em nós próximos ente si (achatamento dos entrenós). Estas folhas modificadas constituem 
então os órgãos florais, organizados de maneira geral em quatro verticilos, cada um inserido em um 
dos nós do ramo (reduzido a um receptáculo), sustentada ou não por um pedicelo (sésseis). Dois 
destes verticilos apresentam estruturas reprodutivas (verticilos férteis) e os outros dois verticilos 
apresentam estruturas estéreis (verticilos de proteção). Quando uma flor é dita “completa” (Fig. 1) 
(monoclina ou bissexuada), apresenta todos os verticilos (férteis e estéreis). Já a flor “incompleta” 
(diclina ou unissexuada) apresenta apenas um dos verticilos férteis. Nos verticilos estéreis, as 
estruturas mais externas são denominadas sépalas (usualmente de coloração verde, ou seja, ainda 
realizam fotossíntese) e que quando em botão exercem a função de proteção das estruturas mais 
internas. Estruturalmente apresentam anatomia similar às folhas. 
Mais internamente encontram-se as pétalas, geralmente coloridas e chamativas, que podem 
apresentar modificações em sua forma; quando chamativas podem executar a função de atração para 
facilitar o evento de polinização. Anatomicamente as pétalas apresentam células denominadas 
papilas, que são projeções das células epidérmicas que conferem à pétala um aspecto aveludado, às 
vezes brilhante, podendo também produzir e secretar substâncias diversas que atuam na atração do 
polinizador. 
Os órgãos reprodutivos masculinos (androceu) são representados pelo conjunto de estames, 
que também podem variar muito em formato e abrigam os grãos-de-pólen (gametófitos masculinos, 
portando dois gametas reduzidos: as células espermáticas). No centro da flor, encontramos os órgãos 
reprodutivos femininos (gineceu) que são representados por um ou mais carpelos (folhas 
modificadas que se dobraram envolvendo e protegendo os óvulos). Destes carpelos então teremos a 
formação do fruto envolvendo a(s) semente(s). A flor é sustentada por um pedicelo (eixo caulinar 
que nasce na axila de uma ou mais brácteas) quando completa é denominada pedunculada, mas pode 
ser séssil na ausência de pedicelo. Este é claro, um dos tipos básicos de estrutura floral. 
CAPÍTULO 3 
 
 
 
33 
 
 
 
Figura 1: Constituição básica de uma flor bissexuada (monoclina, completa). 
Uma das estratégias marcantes na evolução e diversidade das Angiospermas está no conjunto 
de mudanças e adaptações das estruturas florais que potencializaram a relação estrutura floral versus 
 
 
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polinizador, selecionando atributos relacionados a um tipo específico de polinizador que permitiram 
o amplo sucesso reprodutivo das Angiospermas de uma forma geral [ver capítulo 5 “Evolução floral 
e ecologia da polinização” para maiores detalhes]. 
 
Perianto 
 A maioria das flores possui órgãos estéreis agrupados ao seu redor que, em conjunto, recebem 
o nome de perianto. Se o cálice for morfologicamente diferente da corola, o conjunto dessas estruturas 
é chamado de perianto (ex.: maioria das eudicotiledôneas, onde o cálice é verde e a corola de cores 
variadas). Se o cálice for morfologicamente semelhante à corola, esse conjunto recebe o nome de 
perigônio. Ex.: Hemerocalis lilioasphodelus L. (Lírio-amarelo, da família Xanthorrhoeaceae). 
Observando a variedade de flores presentes nos diferentes grupos, vemos que o perianto assume papel 
importante nessa diversificação, por exemplo, na flor de Aristolochia grandiflora Sw. (Papo-de-peru, 
Aristolochiaceae), as grandes dimensões florais são devidas principalmente ao perianto, enquanto 
num outro extremo temos flores com ausência total de perianto, como em Piperaceae. 
Uma característica variável nos diferentes clados de Angiospermas é a filotaxia das peças 
florais. No grado ANA (Amborellales+Nymphaeales+Austrobaileyales) e em Magnoliídeas (Fig. 2), 
encontramos flores com filotaxia floral tanto espiralada quanto verticilada, enquanto em 
monocotiledôneas e na maioria das eudicotiledôneas, a filotaxia espiralada está praticamente ausente. 
Apenas em alguns grupos das eudicotiledôneas centrais que possuem muitas peças florais (como 
Cactaceae, Fig. 3e) o perianto apresenta filotaxia espiralada. Observando a distribuição desse 
caractere na filogenia das Angiospermas vemos que aparentemente, a transição de um tipo de filotaxia 
para o outro ocorre diversas vezes durante a evolução, dificultando a inferência de qual deles teria 
surgido primeiro na história evolutiva. Apesar disso, podemos ver uma maior presença da filotaxia 
espiralada nos ramos mais profundos da filogenia das Angiospermas e uma estabilização para o 
padrão verticilado ocorrendo nos grupos com grande grau de sinorganização (fusão de órgãos florais). 
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35 
 
 
Figura 2: Resumo das relações filogenéticas entre as Angiospermas viventes, segundo APG IV. 
 
Em muitas Angiospermas o perianto apresenta dois verticilos (ciclos) e então é chamado de 
diclamídeo. Em geral, a série mais externa (cálice) tem a função de proteção do botão floral enquanto 
a mais interna (corola), a de atração do polinizador. Quando apenas um verticilo está presente, 
chamamos a flor de monoclamídea. A ausência de ambos os verticilos caracteriza as flores 
aclamídeas. Quando a flor é diclamídea e o verticilo mais externo e o mais interno são claramente 
diferenciados, chamamos as flores de heteroclamídeas, com sépalas (mais externas) e pétalas (mais 
internas). Quando os ciclos não são claramente diferenciados, temos flores homoclamídeas com 
tépalas (sépalas e pétalas são semelhantes). Pela distribuição dessas características na filogenia das 
Angiospermas vemos que pétalas surgiram, desapareceram e ressurgiram diversas vezes durante a 
evolução do grupo. Flores heteroclamídeas são comuns nas eudicotiledôneas centrais, enquanto flores 
homoclamídeas são características de Liliales e Asparagales nas monocotiledôneas, por exemplo, 
(Fig. 3a-3c). Em alguns casos, como em Nympheaceae, as peças mais externas do perianto tem 
características de sépala e vão gradualmente adquirindo características petaloides, o que impede a 
clara separação entre cálice e corola (Fig. 3d). A redução ou perda de um dos ciclos ocorreu múltiplas 
vezes na história evolutiva das Angiospermas, principalmente da corola. A perda/redução do cálice 
parece ocorrer apenas quando a função de proteção do botão foi transferida para outra estrutura 
 
 
36 
 
(pétalas ou profilos), como em Thumbergia (Acanthaceae). As sépalas modificadas e sem a função 
de proteção do botão podem
assumir a função de dispersão do fruto, como os pappus em Asteraceae. 
 
 
Figura 3: (a) Perianto homoclamídeo de Scilla peruviana L., Asparagaceae e (b) Amaryllis sp., Amaryllidaceae 
(monocotiledôneas); (c) perianto heteroclamídeo em Melastomataceae (eudicotiledônea), as setas de cores diferentes 
indicam ciclos distintos; (d) peças múltiplas de Nymphea sp. (Nympheaceae, grado ANA) sem distinção entre ciclos e 
(e) flor de Cactaceae (eudicotiledônea) com múltiplas peças e filotaxia espiralada. 
 
A quantidade de peças em cada verticilo do perianto também é de grande valia no estudo das 
flores e sua evolução. O merisma, como é chamado esse caractere, pode ser constante em grandes 
 
 
37 
 
grupos, facilitando o rápido reconhecimento deles. Em monocotiledôneas, por exemplo, o perianto 
trímero é bem conservado (Fig. 4b), assim como o pentâmero nas eudicotiledôneas centrais (Fig. 4d), 
inclusive dando nome a esse grande clado: Pentapetalae. Nas Angiospermas basais, não há tanta 
estabilidade no merisma, ocorrendo flores trimeras (Magnolia), as pentâmeras (Lauraceae) e, nas 
flores de filotaxia espiralada, o merisma é variável. Nas eudicotiledôneas basais, a dimeria (Fig. 4a) 
e a trimeria são as condições mais comuns e a pentameria mais rara (Ranunculaceae). 
 
 
Figura 4: (a) Merisma dímero em Papaver sp., Papaveraceae; (b) trímero em Pseudotrimezia cathartica (Klatt) 
Ravenna, Iridaceae; (c) tetrâmero em Fritzschia erecta Cham. & Schltdl., Melastomataceae; e (d) pentâmero em 
Mandevilla tenuifolia (J.C.Mikan) Woodson, Apocynaceae. 
 
Outra característica importante do perianto é sua simetria. Basicamente, podemos classificar 
o perianto como possuindo simetria zigomorfa (ou bilateral, com apenas um plano de simetria – Fig. 
5a-c), actinomorfa (ou radial, com mais de um plano de simetria – Fig. 5d), ou ser assimétrico 
(nenhum plano de simetria – Fig. 5e). A simetria zigomorfa e a assimetria surgiram múltiplas vezes 
na evolução das Angiospermas, aparentemente sempre ligadas a uma maior especificidade com o 
polinizador. Alguns grupos são caracterizados pela simetria zigomorfa de suas flores, como 
Orchidaceae, dentro das monocotiledôneas, e Fabaceae e Lamiales, nas eudicotiledôneas. 
 
 
 
38 
 
 
Figura 5: (a) Simetria zigomorfa em Cratylia argentea (Desv.) Kuntze, Fabaceae, (b) Phragmipedium sargentianum 
(Rolfe) Rolfe, Orchidaceae e em (c) Pinguicula sp., Lentibulariaceae; (d) simetria actinomorfa de Mandevilla sp., 
Apocynaceae; e (e) flor assimétrica de Qualea multiflora Mart. (Vochysiaceae). As linhas tracejadas indicam o eixo de 
simetria. 
 
No botão floral, a posição relativa das peças do perianto pode tomar diferentes configurações. 
As peças podem ser sobrepostas (prefloração imbricativa, Fig. 6c), justapostas (prefloração 
valvar, Fig. 6b) ou separadas uma das outras (prefloração aberta, Fig. 6a). Em geral, a prefloração 
valvar é mais comum no cálice do que na corola. Nas eudicotiledôneas pentâmeras, a condição mais 
comum é que as sépalas e tépalas apresentem prefloração imbricativa imbricada (Fig. 6c-1), 
enquanto as pétalas sejam, em geral, contortas ou irregulares. Já em monocotiledôneas, é mais comum 
que os dois verticilos apresentem o mesmo tipo de prefloração. A prefloração imbricativa contorta 
(Fig. 6c-2) é especialmente comum nas Rosídeas Malvídeas e nas Gentianales. Nas Lamiales, com 
flores fortemente zigomorfas, a prefloração imbricativa imbricada (Fig. 6c-1) é a mais comum, 
seguindo o mesmo padrão bilateral. 
 
 
 
39 
 
 
Figura 6: Tipos de prefloração: (a) aberta, (b) valvar e em (c) exemplos de imbricativa (1) imbricada, onde uma das 
peças florais é externa às demais; e (2) contorta, onde cada peça floral recobre a próxima e é encoberta pela anterior. 
 
A elaboração e sinorganização do perianto ocorrem geralmente em um contexto mais amplo, 
abarcando a flor toda, incluindo os outros verticilos mais internos (androceu e gineceu). A união 
entre sépalas (cálice gamossépalo ou sinsépalo) e entre pétalas (corola gamopétala ou simpétala), 
porém, é importantíssima na caracterização de grandes grupos, como em Asteridae cujas flores 
tubulares, campanuladas e infundibuliformes são formadas pela união congênita das pétalas (os 
primórdios florais já aparecem unidos desde o início do desenvolvimento do meristema floral). A 
simpetalia pode ocorrer precocemente, quando o tubo se origina antes ou ao mesmo tempo em que 
os lobos da corola (como em Campanulales, Asterales, Rubiales), ou tardiamente, quando os lobos 
se originam livres e só depois são unidos por fusão meristemática (como em Solanales e Lamiales). 
Muitos dos grupos que apresentam gamopetalia também apresentam flores zigomorfas e labiadas ou 
com estandarte, como é o caso da ordem Lamiales e de algumas famílias de Solanales, Campanulales 
e Fabales. A fusão do perianto como um todo também pode ter função de proteção como em 
Eucalyptus (Myrtaceae) onde é formada a caliptra no botão floral. 
Devido a toda essa diversidade, o perianto pode desempenhar funções que fogem às típicas. 
Ambos os verticilos podem produzir secreções, pré e durante a antese. No primeiro caso, geralmente 
com função de proteção do botão e, no segundo, auxiliando na atração de polinizadores com a 
produção de néctar, óleos e substâncias voláteis ou por terem tecidos nutritivos que serão consumidos 
pelos polinizadores, em geral besouros, como ocorre em Annonaceae. O cálice, por exemplo, pode 
auxiliar (ou assumir) a função de atração de polinizadores como em Petrea (Verbenaceae) ou 
desempenhar papel importante depois da antese, estando envolvido no desenvolvimento/dispersão do 
fruto, como acontece em Dillenia (Dilleniaceae) e em Asteraceae. 
 
 
 
 
 
40 
 
Androceu 
 O androceu, definido como a parte masculina da flor, apresenta-se em geral nas 
monocotiledôneas e eudicotiledôneas com estames organizados em dois verticilos, sendo os estames 
do verticilo externo opostos às sépalas e os estames do verticilo interno, opostos às pétalas. Enquanto 
a presença de dois verticilos parece ser constante em muitos clados de Angiospermas, o número de 
estames em cada verticilo por sua vez, varia constantemente, desde famílias como Annonaceae, 
Calophyllaceae (Fig. 7a) e Myrtaceae (Fig. 7b) que apresentam um número amplo de estames em 
suas flores, até famílias como Chlroranthaceae e Piperaceae, com um a 3 estames por flor. 
 
Figura 7. Variações morfológicas no androceu. Numerosos estames em flores de (a) Kielmeyera albopunctata Sadii, 
Calophyllaceae e de (b) Eugenia astringens Cambess., Myrtaceae. (c) Flor de Pilosocereus arrabidae (Lem.) Byles & 
G.D. Rowley, Cactaceae; (d) Estames com anteras voltadas para o interior em Hippeastrum reticulatum (L’Hér) Herb., 
Amaryllidaceae; (e) Estaminódio petaloide (seta) em Ischnosiphon gracilis (Rudge) Körn, Marantaceae; (f) Disco de 
estaminódios secretores (seta) na flore feminina de Clusia hilariana Schltdl., Clusiaceae. 
 
 
41 
 
 
 Flores que apresentam um amplo número de estames em geral estão associadas com 
polinizadores de grande porte como aves maiores e morcegos, como por exemplo, em algumas 
espécies de Cactaceae (Fig. 7c), sendo assim, com a aproximação do animal atraído por odores em 
busca do néctar, uma maior quantidade de estames garante uma maior disponibilidade de grãos de 
pólen que ficarão aderidos ao corpo do animal durante a visita e serão transferidos para a próxima 
flor a ser visitada. 
 Além da variação no número de estames a morfologia das anteras, região onde os grãos de 
pólen são produzidos, também pode variar. De forma geral, as Angiospermas apresentam anteras com 
duas tecas laterais, cada uma com dois sacos polínicos e deiscência longitudinal. Entretanto, esse 
padrão morfológico apresenta variações influenciadas principalmente pelo tipo de polinização. Em 
flores polinizadas por aves, mariposas e morcegos, por exemplo, as anteras são maiores,
com o 
estômio (região de liberação dos grãos de pólen) voltados para o interior e abertura mais estreita. 
Essas características permitem uma maior precisão na liberação dos grãos de pólen diretamente em 
partes específicas do polinizador, como bicos e asas, é o caso de flores em Erythrina (Fabaceae), 
Melianthus (Meliaceae) e algumas Amaryllidaceae (Fig. 7d). Flores polinizadas por animais maiores 
apresentam em geral conectivos mais espessos em suas anteras, o que dificulta a ruptura longitudinal 
dessas anteras e requer uma abertura especializada, por valvas por exemplo. Desta forma, acredita-se 
que a deiscência valvar tenha sido uma especialização evolutiva para evitar danos à antera pelos 
polinizadores maiores. Além disso, em algumas espécies de Lamiaceae, Zingiberaceae e 
Acanthaceae, por exemplo, as tecas da antera apresentam modificações e extensões em geral nas suas 
bases que funcionam como plataformas que se erguem para expor as anteras quando os grãos de pólen 
estão férteis. 
 A influência das modificações dos estames não está restrita somente à sua morfologia, mas 
também no que diz respeito à fertilidade. Alguns estames perdem sua função primária na produção 
dos grãos de pólen e passam a ser denominados de estaminódios. Os estaminódios podem não 
apresentar uma função secundária, sendo apenas resultado de uma redução progressiva no número de 
estames férteis na flor, permanecendo como órgãos rudimentares, como em algumas flores de 
Bauhinia (Fabaceae), Lauraceae e em muitas monocotiledôneas. Entretanto, muitas vezes os 
estaminódios apresentam uma função secundária, podendo assumir uma morfologia petaloide (Fig. 
7e) e até secretora, tendo diversas funções como: evitar a autopolinização (p.e.: Nymphaeaceae), na 
atração visual de polinizadores (p.e.: Linaceae) assim como atividade secretora (p.e.: Clusiaceae – 
Fig. 7f) e guia de néctar para polinizadores (p.e.: Jacaranda, Bignoniaceae). 
 As modificações e adaptações dos estames refletem na plasticidade do androceu em resposta 
as mudanças externas e evidenciam seu importante papel na evolução das flores. 
 
 
42 
 
 
Gineceu 
 O gineceu, a parte feminina da flor, é considerado a parte mais complexa dos verticilos florais. 
É constituído por unidades denominadas carpelos, os quais durante o desenvolvimento da flor se 
fundem e fecham os óvulos em seu interior, processo denominado de angiospermia. Na maior parte 
das Angiospermas os carpelos são fundidos uns aos outros (sincarpia) e essa fusão se dá desde o 
início da sua formação, denominada de fusão congênita. Por outro lado, quando os órgãos florais se 
formam separadamente e durante o desenvolvimento eles se fundem, essa fusão é denominada de 
fusão pós-gênita. 
 O gineceu é considerado a parte mais conservativa da flor, com poucas modificações entre os 
grupos. Dentre as modificações mais notáveis, está a alteração no número de carpelos em diferentes 
grupos: enquanto as monocotiledôneas em geral apresentam três carpelos, as eudicotiledôneas variam 
entre dois a cinco carpelos. O fechamento dos carpelos para proteção dos óvulos, a formação e seleção 
de tubos polínicos através do tecido transmissor no estilete e a especialização e adaptação do estigma 
para recepção e germinação dos grãos de pólen, foram inovações chaves na evolução das 
Angiospermas. 
 Com o fechamento dos carpelos, os mesmos estendem suas paredes verticalmente, formando 
um ou mais cilindros denominados estiletes, no ápice dos quais se encontram os estigmas. O número 
e comprimento do estilete, assim como sua posição em relação aos estames, refletem os diferentes 
mecanismos de polinização das Angiospermas. O estigma (porção receptora do gineceu) varia 
constantemente sua morfologia nos diferentes grupos (Fig. 8a-d) em relação ao mecanismo de 
polinização e possuem funções essenciais na reprodução das flores como: secreção de substâncias 
que induzem ou retraem a germinação dos grãos de pólen e direcionamento do crescimento do tubo 
polínico. 
 
Sinorganização 
 A sinorganização é um processo fundamental no entendimento da complexidade das 
estruturas florais, nas quais através de processos de fusão, órgãos de um mesmo verticilo (p. ex. união 
dos carpelos – sincarpia) assim como órgãos de diferentes verticilos (p. ex. união de corola e 
androceu formando a corona) formam novas estruturas com funções variadas. Esse processo de fusão 
se dá por dois mecanismos distintos: fusão congênita (união dos órgãos desde o início do 
desenvolvimento) e fusão pós-gênita (órgãos que iniciam o desenvolvimento separados e se fundem 
secundariamente). 
 
 
43 
 
 
Figura 8. Variações morfológicas no gineceu, fusão e modificação de estruturas florais. (a) Estigma elevado (seta) na 
flor de Passiflora sp., Passifloraceae; (b) Estigma punctiforme (seta) em flor de Eugenia excelsa O.Berg, Myrtaceae; (c) 
Estigmas (seta) em gineceu apocárpico na flor de Unonopsis aurantica Maas & Westra, Annonaceae; (d) Gineceu 
fusionado (seta) na flor feminina de Clusia hilariana Schltdl, Clusiaceae. (e) Anteras fusionadas (seta) em flor de Solanum 
martii Sendtn., Solanaceae; (f) Corola fusionada em Fridericia subincana (Mart.) L.G.Lohman, Bignoniaceae; (g) Corona 
(asterisco) e polinário (seta) em flor de Asclepias curassavica L., Apocynaceae; (h) Polinário de Asclepias currasavica 
composto por duas polínias (seta). (i) Tépala modificada (seta) em Eltroplectris calcarata (Sw.) Garay & H.R.Sweet, 
Orchidaceae. 
 
Sinorganização entre órgãos do mesmo verticilo 
A união entre órgãos do mesmo verticilo pode ocorrer por fusão das peças do gineceu (Fig. 
8d), assim como fusão do androceu (Fig. 8e) e perianto, formando um tubo (Fig. 8f). Em geral a união 
de peças do mesmo verticilo se dá por fusão pós-gênita e pode ocorrer através da epiderme dos órgãos 
em contato, como na formação do tubo da corola em espécies de Apocynaceae, Loranthaceae e 
Santalaceae, ou até mesmo através do contato de tricomas e projeções celulares que funcionam como 
 
 
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um velcro, como no caso das sépalas unidas em espécies de Campanullaceae e Asteraceae. Em 
algumas espécies com flores polinizadas por abelhas como em Gentianaceae, Rubiaceae e 
Orchidaceae, observa-se frequentemente a fusão pós-gênita das anteras, que forma um cone no qual 
a abelha pousa e com sua vibração na flor, os grãos de pólen são transferidos para seu corpo. 
Entretanto, a fusão congênita também pode ocorrer entre órgãos do mesmo verticilo, como na 
sincarpia, resultado da união dos carpelos desde o início de sua formação. 
 
Sinorganização entre órgãos de verticilos diferentes 
 A associação entre órgãos de diferentes verticilos resulta em estruturas complexas que se 
comportam como um órgão único altamente especializado. A sinorganização entre pétalas e estames 
pode ser encontrada em flores de espécies de Rutaceae, por exemplo, assim como flores com 
sinorganização entre estames e carpelos nas famílias Orchidaceae e Apocynaceae. 
 Orchidaceae e Apocynaceae são as famílias das Angiospermas que apresentam as flores mais 
complexas, com altas taxas de sinorganização. Em Apocynaceae é possível observar a formação de 
três estruturas que são características das flores da família: ginostégio (fusão pós-genital da cabeça 
do estilete com as anteras), corona (fusão da corola e androceu) (Fig. 8g) e polinário. Essa 
complexidade de estruturas reflete na polinização altamente especializada nessa família, na qual o 
polinizador ao buscar o néctar acumulado na corona, retira uma estrutura denominada polinário. 
 O polinário é constituído por duas polínias (Fig. 8h), nas quais estão agrupados os grãos de 
pólen. As polínias são ligadas duas a duas por uma secreção chamada translador. O polinário é então 
aderido tanto nas pernas como no aparelho bucal do inseto, que o transporta para próxima flor, onde 
as polínias serão inseridas. Todo o mecanismo de atração do polinizador, produção e acúmulo

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