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UNIVERSIDADE FEDERAL DE LAVRAS Departamento de Engenharia ENGENHARIA CIVIL GNE 282-Geologia HIDROGEOLOGIA Alice G. R. Carvalho (31A) Angélica G. Nogueira (31A) Caio Henrique O. Batista (31B) Letícia Coelho Silva (31A) Michel C. de Souza (31B) Lavras- MG Maio/ 2019 UNIVERSIDADE FEDERAL DE LAVRAS Departamento de Engenharia ENGENHARIA CIVIL 2 Sumário 1. Introdução.................................................................................................................. 3 2. Desenvolvimento do tema ......................................................................................... 3 2.1. Ciclo Hidrológico .............................................................................................. 3 2.2. A origem e os estados da água nos solos e rochas ............................................. 4 2.3. Aquíferos, Aquicludos e Aquitardos.................................................................. 5 2.4. Diferença entre nível d’água e pressão d’água. ................................................. 7 3. Exemplo de aplicação - O Aquífero Guarani ............................................................ 9 4. Referências Bibliográficas ...................................................................................... 12 UNIVERSIDADE FEDERAL DE LAVRAS Departamento de Engenharia ENGENHARIA CIVIL 3 1. Introdução A Hidrogeologia é o ramo da Geologia que estuda Águas Subterrâneas, o estudo destas é de suma importância uma vez que no planeta Terra, aproximadamente 97% da água está nos oceanos, 2% encontra-se congelada em geleiras e apenas 1% encontra-se como água superficial (rios, córregos, etc) e água subterrânea. Da água doce disponível no Planeta, a maior parte é subterrânea. As águas subterrâneas são de grande importância para o consumo doméstico, principalmente, devido ao fato de poder ser captada em meio urbano. Além disso tendo em vista que o aquífero não saturado, local através do qual a água infiltra, funciona como um filtro, a água subterrânea é protegida dos agentes de degradação da sua qualidade. Com a evolução tecnológica, as técnicas de construção de poços e o desempenho das bombas foram melhorados, assim já não há águas subterrâneas inacessíveis aos meios tecnológicos disponíveis. Nos países relativamente mais desenvolvidos, tornou-se crescente a extração de águas subterrâneas para o abastecimento humano, principalmente por ser a alternativa mais barata, pois quando captada de forma correta não há necessidade de grandes investimentos em transporte ou tratamento prévio. Porém algumas obras de captação de águas subterrâneas quando mal construídas, podem ser foco de contaminação destas. O uso descontrolado dessas no Brasil traz sérios impactos nos sistemas naturais de fluxos subterrâneos e problemas de recalque diferenciado do subsolo. 2. Desenvolvimento do tema 2.1. Ciclo Hidrológico A água evaporada dos oceanos, rios e lagos sobe para a atmosfera, onde forma as nuvens que, ao se condensarem, promovem a precipitação (chuva). Nem toda a água evapora novamente. Parte dela é armazenada nos oceanos, lagos, rios e geleiras e parte penetra em superfície, originado a água subterrânea. Esse fenômeno é conhecido como Ciclo Hidrológico. UNIVERSIDADE FEDERAL DE LAVRAS Departamento de Engenharia ENGENHARIA CIVIL 4 Imagem 01: Ciclo hidrológico. 2.2. A origem e os estados da água nos solos e rochas Conforme sua origem, distinguem-se várias classes de águas subterrâneas: de infiltração, fóssil e de condensação. A água de infiltração é originada pela infiltração da água das chuvas (águas meteóricas). Praticamente toda água subterrânea tem essa origem. A água físsil é proveniente de tempos geológicos passados, quando ocorreu a deposição dos sedimentos que aprisionam essa água. A água juvenil é a água de origem magmática; é ascendente, rica em sais e termais (LEINZ; LEONARDO, 1977), já a água de condensação é aquela que condensa nos poros a partir do vapor de água. Os estados da água nos solos e rochas são os seguintes: higroscópico, pelicular, livre, gelo e vapor. A água higroscópica forma uma camada muito fina, considerada geralmente mono ou bimolecular, e que, por ficar tão aderida ao grão sólido, não se movimenta. Para sua retirada é necessário o aquecimento acima de 100°C. O solo que possui apenas água higroscópica é um solo aparentemente seco. UNIVERSIDADE FEDERAL DE LAVRAS Departamento de Engenharia ENGENHARIA CIVIL 5 A água pelicular forma uma película de espessura variável sobre o grão solido. Pode migrar de um grão para o outro, saindo de um, onde a espessura da película é maior, para outro, onde ela é menor. Pode ser retirada pelas raízes de plantas ou pela absorção, mas movimentada pela gravidade. A água livre ou gravitacional é aquela que não pode mais ser retirada pelos grãos sólidos e que circula no solo conforme a lei da gravidade. É sobre a água nesse estado que se aplicam as leis do movimento da água no subsolo. O gelo pode ser encontrado em regiões suficientemente frias para congelar a água dentro do solo e traz sérios problemas geotécnicos para essas regiões. Já o vapor ocorre nos poros que contém ar. Esse vapor pode passar à fase liquida e vice-versa, conforme varia a temperatura ou outros fatores. De acordo com Manoel Filho (2008 apud FEITOSA et al., 2008), a água infiltrada no solo pode ser dividida em três partes. A primeira permanece na zona não saturada ou zona de fluxo não saturado, isto é, a zona em que os vazios do solo estão parcialmente preenchidos por água e ar, acima do nível freático. A segunda parte, denominada interfluxo (escoamento subsuperficial), pode continuar a fluir lateralmente na zona não saturada a pequenas profundidades, quando existem níveis pouco permeáveis imediatamente abaixo da superfície do solo e, nessas condições, alcançar os leitos dos cursos d’água. A terceira parte pode percolar até o nível freático, constituindo a recarga ou os recursos renováveis dos aquíferos. 2.3. Aquíferos, Aquicludos e Aquitardos De acordo com Todd (1959), aquíferos rochas ou solos saturados de água e permeáveis, isto é, que permitem o fluxo de água. Têm uma estrutura com capacidade suficiente de armazenamento e libertação de água subterrânea para ser retirada em poços. Os aquíferos são alimentados, normalmente, por água da chuva infiltrada no solo. A descarga natural se processa através de fontes que são surgências do lençol freático (ou piezométrico) na superfície topográfica. Esse ponto marca a passagem da água de escoamento subterrâneo para escoamento superficial. UNIVERSIDADE FEDERAL DE LAVRAS Departamento de Engenharia ENGENHARIA CIVIL 6 Aquicludos são rochas ou solos impermeáveis que podem ou não conter água, muitas vezes atingindo até seu grau de saturação, mas não permitem a sua circulação. E aquitardos são estrados semipermeáveis, embora armazenem quantidades significativas de água no seu interior, permitem a circulação apenas de forma muito lenta. Aquífero livre, não confinado, freático ou não artesiano é aquele em que o nível da água serve como limite superior da zona de saturação, ou seja, é limitado pelo nível freático. O aquífero livre corresponde à zona saturada da figura a seguir, se está for permeável. Aquífero confinado, artesiano ou sob pressão é aquele em que o nível superior da água está confinado, sob pressão maior que a atmosférica, por estratos sobrejacentes relativamente impermeáveis. Imagem 02: Tipos de Aquíferos. Aquífero suspenso é um caso especial de aquífero não confinado que ocorre quando o volume de água subterrânea principal por um extrato relativamente impermeável, normalmente em pequenaextensão de área, e por uma zona de aeração acima do grupo do corpo principal da água subterrânea. Geralmente, ocorre em crosta de serra. UNIVERSIDADE FEDERAL DE LAVRAS Departamento de Engenharia ENGENHARIA CIVIL 7 Imagem 03: Esquema de uma situação geológica em que pode se desenvolver um aquífero suspenso. 2.4. Diferença entre nível d’água e pressão d’água. Como visto anteriormente praticamente toda água subterrânea tem origem pela infiltração da água da chuva, essa água se infiltra nos solos e se movimenta pela ação da gravidade, onde chega em regiões que se encontram vazios, podendo ser poros ou fraturas. Uma região onde todos os vazios se encontram preenchidos por água é chamada de Zona Saturada, podemos também encontrar acima regiões parcialmente preenchidas por água, tendo os vazios preenchidos por partes de água e ar, chamamos essa região de Zona Insaturada. A região que delimita a Zona Insaturada da Zona Saturada é chamada de nível freático ou nível d’agua. Foi visto também que possuímos aquíferos livres ou freáticos e aquíferos confinados ou artesianos, essas duas terminologias são importantes quando tratamos de um sistema de capitação de água subterrânea, quando essa possui um valor econômico. Chamamos de superfície piezométrica a superfície que delimita os níveis estáticos de um aquífero, quando um poço é freático o nível de água formado em volta do poço forma a UNIVERSIDADE FEDERAL DE LAVRAS Departamento de Engenharia ENGENHARIA CIVIL 8 superfície piezométrica. Quando o poço é confinado os níveis piezométricos formam uma superfície imaginaria que é a superfície piezométrica. Quando trabalhamos a parte de capitação de águas subterrâneas, devemos entender melhor alguns conceitos de hidráulica nos poços. Quando instalamos um poço e o mesmo ainda não está sob a ação de nenhum bombeamento, o nível de água em equilíbrio no poço é chamado Nível Estático, se o poço for livre o nível estático é o mesmo nível do lençol freático, se for artesiano o nível estático se situará acima do lençol freático. Quando o poço está sob a ação de bombeamento, o nível da água que está sendo bombeada no poço é o Nível Dinâmico do poço, em qualquer poço, freático ou artesiano, o nível dinâmico situa-se abaixo do nível estático no poço. Imagem 04: Esquema onde um poço está sofrendo a ação de bombeamento. O abaixamento de nível, rebaixamento ou depressão de nível, mostrado na figura é a diferença de cota entre o nível estático e o nível dinâmico no poço. ‘Q’ indica a vazão de bombeamento. Em cada ponto do terreno, estando a água em equilíbrio estático, há uma pressão agindo no interior das descontinuidades das rochas ou nos poros de um solo, que corresponde à altura que a água ascende no interior de um piezômetro colocado neste ponto. A pressão exercida será então expressa pelo produto entre a massa específica de UNIVERSIDADE FEDERAL DE LAVRAS Departamento de Engenharia ENGENHARIA CIVIL 9 água (γ) e a altura (h) alcançada pela água, sendo denominada poropressão ou pressão neutra. No interior do solo ocorrem ainda pressões intergranulares, chamadas pressões efetivas, de tal forma que a pressão total é a somatória das pressões efetivas e das pressões neutras. 3. Exemplo de aplicação - O Aquífero Guarani O Aquífero Guarani é a segunda maior fonte de água doce subterrânea do planeta, ocupando cerca de 1.195.000 km². Estendendo-se desde a Bacia Sedimentar do Paraná até a Bacia do Chaco–Paraná, estando presente em quatro países da América do Sul: Brasil, Paraguai, Uruguai e Argentina. No Brasil, esse aquífero se estende pelo subsolo de Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Goiás, Minas Gerais, São Paulo, Paraná, Rio Grande do Sul e Santa Catarina. Não se sabe com precisão a quantidade de água armazenada no Aquífero Guarani, no entanto, conforme a Agência Nacional de Águas (ANA), as reservas permanentes de água são da ordem de 45 mil quilômetros cúbicos, sendo que aproximadamente 65% desse total está localizado no território brasileiro. Imagem 05: Localização do Aquífero Guarani. UNIVERSIDADE FEDERAL DE LAVRAS Departamento de Engenharia ENGENHARIA CIVIL 10 O Aquífero Guarani é um importante manancial para o consumo humano. Atualmente, existem mais de dois mil poços perfurados no Sistema Aquífero Guarani, com profundidades que variam entre 100 e 300 metros. No Brasil, esse reservatório de água está localizado numa das áreas de maior concentração populacional do país. Apesar de ser considerado um dos maiores reservatórios de água subterrânea em todo o mundo, nem toda água nele armazenado é própria para consumo humano sem um prévio processo de tratamento, devido ao elevado teor de resíduos sólidos nas porções de maior profundidade. A região onde esse aquífero se encontra é caracterizada por apresentar solos, em sua maioria, férteis ou de fácil correção, registrando um elevado índice de práticas agrícolas. Por esse motivo, alerta-se contra o uso indiscriminado de agrotóxico nas lavouras, pois se infiltra no solo e polui o reservatório em questão com elementos tóxicos. Como, por exemplo, Ribeirão Preto, cidade do estado de São Paulo, o aquífero vem sofrendo contaminação por agrotóxicos e pelo vinhoto (resíduo proveniente da destilação fracionada da cana-de-açúcar). Outras substâncias também podem provocar a poluição desse reservatório subterrâneo, pois a água da chuva entra em contato com esses elementos e, posteriormente, é infiltrada. No Brasil, as cidades de Ribeirão Preto, Estrela, e outras 19 cidades gaúchas são totalmente abastecidas pelo Aquífero Guarani. Já em Santa Catarina e Paraná, extensas áreas do aquífero têm águas com alta salinidade (salobras), não sendo potáveis. Mato Grosso, Goiás e Minas Gerais requerem mais estudos, mas as águas tendem a ter boa qualidade nesses três estados. No Uruguai o Aquífero tem alta salinidade próximo ao Rio Uruguai. Na Argentina o aquífero encontra-se em grandes profundidades e na Província de Entre Rios a salinidade chega a ser tão alta que, em alguns pontos, é quase três vezes maior que a da água do mar. No Paraguai o aquífero mostra-se heterogêneo, com extensa área aflorante e águas de boa qualidade, mas com uma extensa faixa de águas salobras nas proximidades do Rio Paraná. Sua estrutura geológica é sedimentar, composta por camadas de arenito, intercaladas com camadas mais argilosas, depositadas por processos eólicos durante o UNIVERSIDADE FEDERAL DE LAVRAS Departamento de Engenharia ENGENHARIA CIVIL 11 período Triássico da era Cenozoica (cerca de 248 milhões de anos atrás). Pela ação química da água, temperatura e pressão os sedimentos arenosos se transformaram em uma rocha sedimentar chamada arenito, que permite o acúmulo de água em seu interior por ser porosa e permeável. Grande parte do aquífero é recoberto por lavas de basalto, rocha ígnea e de baixa permeabilidade, depositada durante o período Cretáceo na fase do vulcanismo fissural, agindo sobre o Aquífero Guarani como um aquitardo, diminuindo a infiltração de água e dificultando seu subsequente recarregamento, mas também o isola da zona mais superficial e porosa do solo, evitando a evaporação e evapotranspiração da água nele contida. O basalto também influencia diretamente na potabilidade da água, pois quando a água das chuvas passa por ele para chegar ao arenito, absorve cálcio e perde qualidade. Imagem 06: Estrutura Geológica do Aquífero Guarani. Devido à sua heterogeneidade litológica e estrutural, é, na verdade, um Sistema Aquífero. Sua porosidade e permeabilidade são muito variáveis, o que influencia em sua potencialidade. A vazão, por exemplo, nos arenitos Alto Rio Uruguai, no Rio Grande do Sul, é de 200m³/h, nos Mata e Caturrita, no mesmo estado, fica abaixo de 5 m³/h. e em outros estados, já foram registradas vazõespróximas à 800 m³/h. Tratando- se da qualidade da água, há áreas onde ela é potável e em outras não: quanto mais profunda a região em que se situa o Aquífero, pior a potabilidade da água devido à absorção de basalto, mesmo estando mais protegida contra contaminações provenientes da atividade humana. UNIVERSIDADE FEDERAL DE LAVRAS Departamento de Engenharia ENGENHARIA CIVIL 12 Apesar de boa parte dos estudos geológicos e geográficos sobre o Aquífero Guarani ainda estarem em desenvolvimento, podemos dizer que a sua presença concentrada, em maior parte, no território brasileiro, torna-se importante para o abastecimento de distribuição de água no país. Por esse motivo, é necessária a sua correta preservação e exploração a fim de obter os recursos hídricos com a máxima qualidade sem danificar o ambiente. 4. Referências Bibliográficas [1] MACIEL FILHO, C. L.; NUMMER, A. V. Introdução à Geologia de Engenharia. 5. Ed. rev. e ampl. – Santa Maria: Ed. Da UFSM, 2014. [2] CHIOSSI, N. Geologia de Engenharia. 3. Ed.– São Paulo: Ed. Oficina de Textos, 2013. [3] SANTOS OLIVEIRA, A. M.; ALVES BRITO, S. N. Geologia de Engenharia. – São Paulo: Associação Brasileira de Geologia de Engenharia, 1998. [4] Aquífero Guarani. Disponível em: <http://www.cprm.gov.br/publique/Redes- Institucionais/Rede-de-Bibliotecas---Rede-Ametista/Canal-Escola/Aquifero-Guarani- 2617.html>. Acesso em 24 de maio de 2019. [5] Aquífero Guarani. Disponível em: <https://mundoeducacao.bol.uol.com.br/geografia/aquifero-guarani.html>. Acesso em 26 de maio de 2019. [6] Aquífero Guarani. Disponível em: <https://alunosonline.uol.com.br/geografia/aquifero-guarani.html>. Acesso em 26 de maio de 2019.
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