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Vantagens e desvantagem do financiamento eleitoral no Brasil trabalho eleitoral

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Financiamento eleitoral no Brasil vantagens e desvantagens
Para falar a respeito das vantagens e desvantagens do financiamento de campanha eleitorais é necessário primeiramente separá-las pela forma de financiamento, já que, a origem da fonte doadora muda profundamente as regras do jogo. 
No Brasil a Constituição Federal de 1988 não estipulou um modelo de financiamento específico, porém, criou, no entendimento de Daniel Sarmento, uma moldura que deve servir de orientação para essas regras. Esse direcionamento está exatamente no princípio democrático, republicano e no princípio da igualdade política.
Para compreender o sistema de financiamento eleitoral é necessário se atentar a todos os aspectos que estão envolvidos, o financiamento de uma campanha engloba todos os recursos materiais que um candidato ou partido empregam com a finalidade de captar votos. Podendo esse financiamento ser público, privado ou de caráter misto, cada um com características específicas. 
 Financiamento público
A característica fundamental do financiamento público é a disponibilização de recursos financeiros pelo Estado, tendo como fonte um manancial de recursos públicos. 
No Brasil, o exemplo de recursos públicos para o financiamento político é o Fundo Partidário, regulamentado pela Lei 9.096/1995, composto de multas e penalidades pecuniárias aplicadas nos termos da legislação eleitoral; recursos financeiros destinados por lei; doação de pessoa jurídica efetuada diretamente na conta do Fundo Partidário; dotações orçamentárias da União. Outra forma de financiamento público são as provisões direcionadas à propaganda eleitoral gratuita.
É importante salientar que o financiamento público não inclui doações financeiras de entidades ou governos estrangeiros. Ou seja, o partido ou candidato não podem receber de forma de direta ou indireta nenhum financiamento em dinheiro ou estimável em dinheiro dessas instituições.
Ficam também vedadas as doações por órgão da administração pública direta ou indireta ou fundação mantida com recursos provenientes do Poder Público; concessionário ou permissionário de serviço público; entidade de direito privado que receba, na condição de beneficiária, contribuição compulsória em virtude de disposição legal; entidade de utilidade pública; entidade de classe ou sindical; pessoa jurídica sem fins lucrativos que receba recursos do exterior; entidades beneficentes ou religiosas; entidades esportivas; organizações não-governamentais que recebam recursos públicos; organizações da sociedade civil de interesse público (art. 24 da Lei 9.504/1997).
A ideia subjacente à concessão de financiamento público é que este garanta um nível adequado de recursos para que a competição eleitoral contenha opções reais para as partes que disputam o acesso a posições de governo, ou espaços de representação parlamentar com base em oportunidades equitativas, e não em função de maiores ou menores recursos financeiros, que poderiam transformar os processos eleitorais em meros ritos democráticos, com ganhadores e perdedores pré-determinados. A intenção é conjurar, até onde seja possível, os riscos palpáveis que significa para a competição democrática o fato de que os partidos possam ser prisioneiros de grandes agentes do mercado, ou inclusive, de grupos de interesse que operam à margem da legalidade (WOLDENBERG, 2003, p. 20-21).
Conforme David Samuels, o financiamento público possui argumentos a seu favor, como o fato de ser altamente “democrático”, já que “garante um nível de financiamento para todos os partidos, independentemente de os seus eleitores serem ricos ou pobres’. (SAMUELS, 2003, P.384; 2006, P. 149).
De acordo com Rubio, o financiamento público de partidos políticos e campanhas eleitorais produz os seguintes incentivos:
Gera condições de competição eleitoral equitativa a participação de partidos ou candidatos que carecem de recursos e não tem capacidade de arrecadação; evita a pressão direta ou indireta dos capitalistas e doadores sobre os atores políticos; diminui a necessidade de fundos dos partidos e candidatos; reduz o potencial de corrupção; contribui para a sustentação e o fortalecimento dos partidos com atores fundamentais para o funcionamento das democracias representativas.(RUBIO, 2005, p.8).
Além disso, em tese, o financiamento público reduziria o impacto dos interesses econômicos na política e fortaleceria os partidos políticos, pois eliminaria a busca desenfreada dos candidatos por dinheiro do interesse econômico privado e forçaria os partidos a adotar estratégias de campanhas voltadas para programas de políticas nacionais mais claras para o eleitorado.(SAMUELS, 2003, P.384; 2006, P. 149).
Portanto, o financiamento exclusivamente público poderia ser defendido tão somente como uma possível aposta para promover a autonomia dos partidos frente ao poder econômico, disputas mais equitativas e o combate à corrupção eleitoral, sem, no entanto, ignorar os poderosos inconvenientes aos quais está associado. 
Entretanto, pode se dizer que um ponto negativo desse modelo é um excesso de burocracia causado pela dependência exclusiva dos fundos públicos, o que pode, inclusive, causar uma diminuição da liberdade de atuação das organizações partidárias, uma vez que os competidores estariam inteiramente dependentes do Estado.
Outra posição contrária ao financiamento público exclusivo atenta, inicialmente ao fato de que o financiamento privado não é um problema quando feito em um volume razoável e com transparência. A possibilidade em alguma medida de financiamento privado possibilita um engajamento político maior da sociedade, exigindo que as propostas dos representantes estejam em sintonia com a sociedade. Ou seja, parte-se da premissa que o financiamento bom ou ruim não está na modalidade escolhida, mas na forma como ocorre. 
 Financiamento privado
O primeiro ponto positivo a se considerar sobre o financiamento privado é que este se constitui como uma fonte democrática de contribuição, sendo uma forma do cidadão exercer sua participação política. Assim, é uma maneira de relacionar o indivíduo e os partidos, como representantes oficiais da sociedade. Neste sentido, quando o cidadão decide fazer uma doação a determinado partido, interpreta-se que existe ali uma similaridade ideológica e que a agremiação o representará de maneira satisfatória. Ou seja, esse pode ser mais um meio que a sociedade tem de demonstrar seus anseios.
No entanto, temos que considerar toda a problemática que pode envolver o financiamento privado, como a dependência dos partidos de determinadas fontes de financiamento de empresas e pessoas físicas com alto poder aquisitivo, fazendo com que estes entes ganhem um poder de influência desmedido nas decisões das organizações partidárias. Assim como a busca para obter o maior volume de recursos financeiros sem que se considere a origem desses valores.
Em virtude dessa preocupação, no Brasil, as atividades políticas podem contar com as doações privadas. Porém, essa possibilidade se restringe, hoje, às pessoas físicas, pois na ADI 4650, sob a relatoria do Ministro Luiz Fux, ficaram vedadas as doações feitas por pessoas jurídicas, a partir das eleições de 2016.
Para pessoas físicas, o limite de doação pode ser até 10% do seu rendimento bruto do ano anterior ao da campanha (§ 1º do art. 23 da Lei 9.504/1997 atualizada pela Lei 13.165/2015). Além de doações em dinheiro dos cidadãos, pessoas físicas podem doar bens estimáveis em dinheiro relativas à utilização de bens móveis ou imóveis de propriedade do doador, desde que não ultrapasse o limite de R$ 80.000,00.
 Financiamento misto
O financiamento misto, aquele que pode ser feito por recursos públicos e privados, é apontado hoje como uma das melhores opções para construir um equilíbrio que responde às necessidades de um processo eleitoral saudável. Haja vista ser esse o maior desafio do financiamento partidário. Pois tanto no campo público ou privado, a utilização do dinheiro na política produz, automaticamente, uma má distribuiçãodos recursos.
Logo, o objetivo é que essa combinação entre as duas modalidades de financiamento possa constituir uma possibilidade que reduza os maiores danos de cada um. No Brasil o financiamento das eleições tem um caráter misto, divididos em fundo partidário e propaganda eleitoral gratuita no rádio e na televisão, e recursos de pessoas físicas e próprios dos candidatos. Pode-se encontrar a sua regulamentação na Lei 9.504/1997, conhecida como Lei das Eleições, e na Lei 9.096/1995, a chamada Lei Orgânica dos Partidos Políticos.
Referências Bibliográficas
BACKES, Ana Luiza. Legislação sobre Financiamento de Partidos e de Campanhas Eleitorais no Brasil, em Perspectiva. Brasília: Consultoria Legislativa da Câmara dos Deputados, 2001. 
NASSMACHER, Karl-Heinz. O financiamento de partidos na Alemanha posto à prova. In: SPECK, Bruno Wilhelm et all. Os custos da Corrupção. São Paulo: Fundação Konrad Adenauer, 2000.
RUBIO, Delia F. Financiamento de partidos e campanhas fundos políticos versus fundo privados in Novo Estudo Cebrap, São Paulo, nº 73, nov, pp.5-15. 2005.
SAMUELS, David. “Financiamento de campanhas no Brasil e propostas de reforma” in SOARES, Gláucio A. O. &RENNÓ, Lucio R. (ongs). Reforma política lições da história recente. São Paulo: Editora FGV, pp. 133-153. 2006.
WOLDENBERG, J. Relevancia y actualidad de la contienda político-electoral. In: CARRILLO, M. et al. Dinero y contienda político-electoral. México: Fondo de Cultura Económica, 2003.

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