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AULA 6 Manuella Soussa Braga Disciplina de Trauma Dental - 2020/2 SEQUELAS DE DENTES TRAUMATIZADOS: Calcificação e Necrose Pulpar As principais sequelas pós-traumáticas são: calcificação, necrose pulpar e reabsorção. CALCIFICAÇÃO PULPAR Os termos calcificação pulpar, obliteração do canal radicular e metamorfose cálcica da polpa são sinônimos e se referem a uma mesma condição. A metaplasia celular é um fenômeno celular que acontece quando uma célula, frente a um estímulo, se transforma em outra célula da mesma linhagem. Quando acontece um trauma, pode ocorrer o comprometimento do feixe vásculo-nervoso, podendo ser irreversível (na avulsão de dentes com ápice fechado, por exemplo) ou não. Em traumas leves, há um comprometimento parcial do feixe vásculo-nervoso e, consequentemente, uma hipóxia, ou seja, menor disponibilidade de oxigênio e nutrientes chegando às células da polpa. Para sobreviver à mudança de ambiente, as células reduzem seu metabolismo. Muitas células da polpa (fibroblastos e outros tipos celulares), para resistir a essa situação, se transformam em odontoblastos. Esses novos odontoblastos produzem tecido mineralizado semelhante à dentina desorganizada/displásica. A dentina causa obliteração da câmara pulpar e canal radicular. Em síntese, a calcificação é uma resposta da polpa a esse comprometimento parcial do feixe vásculo-nervoso. Menos de ¼ de dentes traumatizados desenvolvem calcificação pulpar. Fraturas coronárias não complicadas (trincas e fraturas de esmalte e fraturas de esmalte e dentina) apresentam baixa prevalência de calcificação pulpar. Os traumatismos que acometem os tecidos de suporte (concussão, subluxação e luxação extrusiva) estão mais associados a episódios de calcificação. ESTÁGIO DE RIZOGÊNESE x CALCIFICAÇÃO Dentes com rizogênese incompleta que sofreram algum tipo de traumatismo de suporte tem mais chance de sofrerem com a calcificação do que dentes com rizogênese completa, de acordo com achados na literatura. O tecido mineralizado formado no canal pode se assemelhar (1) à dentina terciária altamente irregular em padrão e cicatrização, (2) ao osso, dentina ou apresentar natureza fibrótica ou (3) apresentar-se como osteodentina com inclusões celulares e formações em anel. Essas três características já foram relatadas na literatura. O primeiro sinal clínico é a descoloração/alteração de cor. O dente fica mais amarelado, pois há uma deposição maior de dentina que altera a translucidez do dente. Outro sinal é dentes com uma coloração mais acinzentada. Dentes calcificados costumam não responder bem aos testes de sensibilidade. Estes testes costumam falhar, pois como a câmara pulpar e o canal estão calcificados, o estímulo não consegue chegar até as fibras nervosas. Radiograficamente, pode haver uma calcificação parcial (em que consegue visualizar um pouco de espaço do canal/câmara) ou uma calcificação total (em que não consegue visualizar nem a câmara e nem o espaço do canal radicular). No entanto, nem sempre quando se visualiza uma calcificação total é porque realmente o canal está todo calcificado. Também pode ser por conta de uma imagem bidimensional fornecida pela radiografia (confirma com TC). O tratamento endodôntico não está indicado em todos os casos. A frequência de dentes com calcificação que sofrem necrose pulpar é baixa. Então, o TE só está indicado quando for diagnosticado a necrose pulpar. É importante lembrar que não se pode confiar apenas no teste de sensibilidade, pois pode falhar. Observa-se a radiografia, os sinais clínicos de necrose (como fístula), se o paciente relata dor espontânea ou dor à percussão. Em geral, utiliza de todos os recursos semiotécnicos. POR QUE A CALCIFICAÇÃO PULPAR OCORRE? PREVALÊNCIA ACHADOS HISTOPATOLÓGICOS CARACTERÍSTICAS CLÍNICAS E RADIOGRÁFICAS CONDUTAS CLÍNICAS AULA 6 Manuella Soussa Braga Disciplina de Trauma Dental - 2020/2 Em casos de dentes vitais, a conduta clínica é acompanhar o paciente e avaliar a condição pulpar. Também pode lançar mão de uma abordagem estética: clareamento externo, clareamento interno após TE, clareamento externo e interno sem TE e restaurações diretas ou indiretas. 1. Realize radiografias em diferentes angulações (mesialização e distalização da radiografia para melhor procura do canal calcificado). 2. Na radiografia digital, é possível utilizar filtros na imagem para tentar visualizar melhor o canal. 3. Solicite uma TCFC (imagem tridimensional). 4. O uso de microscópio operatório promove uma magnificação e melhor iluminação do campo operatório, facilitando a localização do canal. 5. Os insertos ultrassônicos (pontas) favorecem a realização de um preparo mais conservador, pois permitem o controle do desgaste (a broca pode desgastar demais a dentina). 6. Realize o acesso mais próximo da incisal, pois assim é possível respeitar o longo eixo do dente. 7. Utilizar limas exploratórias mais resistentes. Essas limas possuem a conicidade da ponta um pouco maior e, portanto, mais grossa (0.04 mm), fazendo com que seja mais rígidas. 8. O uso de hipoclorito pode ajudar na localização do canal. Ao observar uma certa efervescência ao pingar hipoclorito no acesso, significa que está próximo ou na entrada do canal radicular. 9. A cirurgia paraendodôntica e o tratamento por via retrógrada são opções em alguns casos em que a calcificação vai até o terço apical da raiz. NECROSE PULPAR Quando um dente sofre um trauma, principalmente os severos, pode ocorrer o rompimento do feixe vásculo-nervoso (comprometimento irreversível). As células da polpa ficam sem o suprimento necessário,resultando em uma necrose de coagulação/asséptica. A partir disso, para se estabelecer uma infecção, os microrganismos podem chegar via anacorética (as bactérias são atraídas pelo tecido necrosado quando ocorre uma bacteremia e colonizam o tecido) ou pelas microtrincas do esmalte (servem de porta de entrada pros microrganismos da cavidade oral no complexo pulpar). Necrose Pulpar e Fraturas Coronárias Quando não complicadas geralmente não estão associadas a episódios de necrose pulpar, se comparadas com fraturas complicadas. Quando associado a traumatismos nos tecidos de suporte, a chance de necrose aumenta. Necrose Pulpar e Fraturas Radiculares Há um bom prognóstico pulpar em fraturas horizontais (principalmente em terço apical e médio, pois são áreas livres de contaminação). Quando a necrose ocorre, a abordagem endodôntica é até a linha de fratura se o fragmento apical permanecer vital. Necrose Pulpar e Fraturas em Tecido de Suporte Estão mais associados à necrose. Necrose Pulpar e Estágio da Rizogênese Dentes com rizogênese completa estão mais associados a episódios de necrose pulpar do que com rizogênese incompleta. Apicificação e revascularização pulpar para dentes com rizogênese incompleta e tratamento endodôntico para dentes com rizogênese completa. Em traumatismos severos (luxações e avulsões), é importante utilizar medicação intracanal a base de DICAS CLÍNICAS PORQUE O DENTE TRAUMATIZADO NECROSA? PREVALÊNCIA TRATAMENTO AULA 6 Manuella Soussa Braga Disciplina de Trauma Dental - 2020/2 hidróxido de cálcio, pois ajuda a controlar a infecção e prevenir a reabsorção inflamatória. São esses tipos de trauma que sofrem mais com as reabsorções. - Cerca de 25% dos dentes anteriores traumatizados podem desenvolver a calcificação pulpar. - A descoloração é uma complicação clínica comum em dentes anteriores calcificados. - A maioria dos casos que apresentam calcificação pulpar pós-trauma são assintomáticos e não requerem intervenção endodôntica. - A necrose pulpar é mais comum em dentes luxados e reimplantados com rizogênese completa. - A apicificação e a revascularização pulpar são opções de tratamento para dentes necrosados com rizogênese incompleta. - No tratamento endodôntico de dentes luxados e reimplantados, recomenda-se o uso de hidróxido de cálcio como medicação intra-canal. CONSIDERAÇÕES FINAIS
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