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PSICOLOGIA DA EDUCAÇÃO Carla Flores Carvalho Variações individuais: estilos de aprendizagem, personalidade e temperamento Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: � Explicar os diversos estilos de aprendizagem e pensamento. � Definir os conceitos de personalidade e temperamento. � Listar três tipos de temperamento infantil e avaliar estratégias de ensino para cada um deles. Introdução Neste capítulo, estudaremos os diversos estilos de aprendizagem e pen- samento, os conceitos de personalidade e temperamento, bem como os tipos de temperamento infantil e as formas de avaliar as estratégias de ensino para eles. As principais teorias da aprendizagem são: o behaviorismo de Skinner, o construtivismo de Piaget e o humanismo de Rogers. Cada pessoa tem o seu estilo de aprender e pensar, bem como apresenta personalidade e temperamento diferentes, variações individuais que podem ser perce- bidas em diferentes estilos de aprendizagem. Estilos de aprendizagem e pensamento Estilos de aprendizagem e pensamento não são capacidades, mas, sim, maneiras preferidas de utilização das capacidades (STERNBERG, 1997). Dessa forma, podemos aprender e pensar por meio de diversas maneiras. Aprender é construir “[...] seus conhecimentos e sua afetividade na interação [...]” com outros sujeitos e “[...] por meio de influências recíprocas que vão estabelecendo cada sujeito constrói o seu conhecimento de mundo e o conhecimento de si mesmo como sujeito histórico [...]” (LOPES, 1996, p. 111). Cada pessoa apresenta diferenças individuais, sendo assim, a sua história de vida irá influenciará no modo pelo qual ela organizará e processará as informações recebidas pelo meio. É inegável que cada pessoa apresente interesses, valores, motivações, cultura, aspirações diferentes umas das outras, pois a forma como assimila os dados recebidos do meio onde está inserida é percebida de maneira diferente, ou seja, individual. Os estudos sobre os estilos cognitivos foram desenvolvidos com base em interesses nas diferenças individuais da capacidade de pensar, perceber, lembrar de fatos e situações e resolver problemas. Santos, Bariani e Cerqueira (2000) afirmam que, desde o século IX, estudiosos já tinham interesse pelas variações individuais nos modos de pensamento, porém a expressão “estilo cognitivo” foi usada pela primeira vez por Allport, em 1937. Esse autor considerava que todas as pessoas tinham tendências ou predisposições cognitivas e afetivas, que seriam os modos básicos para atuar e pensar e determinariam as percepções e os julgamentos, sendo denominados de estilos cognitivos (ALLPORT, 1973). Bariani (1998) destaca que os estilos cognitivos, além de serem carac- terísticas da estrutura cognitiva do indivíduo, também são modificados direta ou indiretamente pela influência de novos eventos, como os fatores biológicos, a própria cultura e as experiências de vida. Para o autor, os estilos são estruturas relativamente estáveis e podem sofrer impacto de experiências vividas durante os anos de escolaridade, inclusive na etapa do ensino superior. Santos, Bariani e Cerqueira (2000) estudaram os estilos cognitivos por meio de seus fatores psicológicos, adotando quatro dimensões. Veja, a seguir. Campo dependente versus campo independente Campo dependente: este estilo cognitivo caracteriza indivíduos que re- querem reforçamento extrínseco em suas atividades e têm como base uma estrutura externa de referência; assim, optam por conteúdos e sequências preestabelecidos. Preferem trabalhar em grupo e atribuem importância a uma Variações individuais: estilos de aprendizagem, personalidade e temperamento2 interação informal no ambiente escolar (relação professor-aluno); no entanto, apresentam dificuldades em fazer avaliações críticas. Quando nos referimos que o indivíduo requer um reforço extrínseco, estamos dizendo que ele precisa de um apoio externo. Campo independente: característica própria de indivíduos que tomam como base estruturas internas de referência e, por isso, optam por participar da organização de conteúdos e sequências. Preferem trabalhar individualmente e importam-se mais com o conteúdo do que com a interação professor-aluno. Não apresentam dificuldades em fazer análises críticas referentes às outras pessoas. Impulsividade de resposta versus reflexividade Impulsividade de resposta: característica comum às pessoas que costumam responder sem uma prévia reflexão. Não dão importância à ponderação e à organização que precede a ação. Reflexividade de resposta: diz respeito às pessoas que se atêm mais às pon- derações e organizações que antecedem uma resposta. Seus pensamentos são mais ordenados e contínuos. A dimensão impulsividade/reflexividade de resposta está ligada à organi- zação da atenção. A impulsividade tende a dar respostas imediatas e, conse- quentemente, muitas vezes, imprecisas, com pouca ponderação e organização prévia. Já a reflexividade se refere a uma tendência para analisar e diferenciar estímulos complexos. Convergência de pensamento versus divergência Convergência de pensamento: constitui um aspecto que identifica indivíduos, cujo pensamento obedece ao raciocínio lógico, que têm habilidades para lidar com questões que exigem uma solução determinada a partir das informações fornecidas. Têm mais facilidade em trabalhar com tarefas mais convencionais e estruturadas, que requerem lógica. São pessoas disciplinadas, acomodadas e conservadoras. Há uma identificação do pensamento convergente com o pensamento lógico e o raciocínio. Indivíduos com essa dimensão acentuada são hábeis em lidar 3Variações individuais: estilos de aprendizagem, personalidade e temperamento com problemas que requerem uma clara resposta convencional (uma solução correta), com base nas informações fornecidas. São inibidos emocionalmente e identificados como mais conformistas, disciplinados e conservadores (BA- RIANI, 1998; BARIANI; SISTO; SANTOS, 2000). Divergência de pensamento: é relativo à imaginação, criatividade, origina- lidade e fluência. São indivíduos que apresentam pouca sociabilidade e traba- lham melhor com problemas menos estruturados, que requerem quantidade, variedade, originalidade e generalidade das respostas. O pensamento divergente é associado à criatividade, a respostas imagina- tivas, originais e fluentes. Os indivíduos com essa predominância preferem problemas informais, sendo hábeis em tratar de problemas que demandam a generalização de várias respostas igualmente aceitáveis. Socialmente, são considerados irritadiços, disruptivos e até ameaçadores (BARIANI, 1998; BARIANI; SISTO; SANTOS, 2000). Holista versus serialista Holista: caracteriza aqueles que analisam uma tarefa sob o ponto de vista global, tentando estabelecer relações entre suas partes com a elaboração de hipóteses complexas. Indivíduos com pensamento holista dão maior ênfase ao contexto global desde o início de uma tarefa, preferem examinar uma grande quantidade de dados, buscando padrões e relações entre eles. Usam hipóteses mais complexas, às quais combinam diversos dados (RIDING; WHEELER, 1995; SANTOS; BARIANI; CERQUEIRA, 2000; BARIANI; SISTO; SANTOS, 2000; ZHANG, 2002). Serialista: são os indivíduos que trabalham com um problema, partindo de aspectos específicos e separados, que posteriormente serão integrados para a confirmação ou refutação de hipóteses simples, as quais, “passo a passo”, possibilitarão a resolução de um problema. Os serialistas dão maior ênfase a tópicos separados e em sequências lógicas, buscando padrões e relações somente mais tarde no processo, para confirmar ou não suas hipóteses, as quais são mais simples, além de uma abordagem lógico- -linear (RIDING; WHEELER, 1995; SANTOS; BARIANI; CERQUEIRA, 2000; BARIANI; SISTO; SANTOS, 2000; ZHANG, 2002). Variações individuais: estilos de aprendizagem, personalidade e temperamento4 Salienta-se que o estilo cognitivo indica a tendênciada pessoa a se comportar de determinada maneira, o que, por exemplo, influencia nas suas atitudes. Sendo assim, eles representam o modo preferido da pessoa processar a informação e descrevem o modo de ela pensar, relembrar ou resolver problemas. Percebe-se a importância dos estilos cognitivos para o desenvolvimento da aprendizagem, pois eles possibilitam a valorização das características de cada indivíduo, oferecendo a oportunidade de se adaptarem as diversas exigências do mundo contemporâneo. Para saber mais sobre as teorias de aprendizagem, leia o livro Teorias de aprendizagem, escrito por Marco Antonio Moreira, 2. ed. (2011). Conceitos de personalidade e temperamento Vários são os conceitos atribuídos à personalidade e ao temperamento. Para a Associação Americana de Psicologia - APA (AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION, 2002, p. 771), a personalidade é constituída por “[...] padrões persistentes de perceber, se relacionar e pensar sobre o ambiente e sobre si mesmo [...]”. O senso comum utiliza o termo personalidade para referir uma característica marcante de uma pessoa, e esse apresenta muitas variações de significado, mas, em geral, dá uma noção da unidade que integra o ser humano. Tavares (2006) diz que a personalidade pode ser conceituada como um conjunto de características que conferem uma identidade única a cada indi- víduo, determinando os padrões de pensar, sentir e agir. Essas característi- cas são moldadas pela interação entre disposições naturais do indivíduo e experiências ao longo da vida. Embora elas sejam relativamente estáveis ao longo do tempo, têm certa flexibilidade a fim de permitir um bom ajuste do indivíduo ao ambiente. 5Variações individuais: estilos de aprendizagem, personalidade e temperamento Uma das formas de diferenciar um ser humano do outro é a personali- dade, que se estrutura a partir das experiências e vivências concretas das pessoas no meio onde estão inseridas, considerando seus aspectos culturais, educacionais, seus hábitos, suas crenças, entre outros. Uma das teorias da personalidade mais conhecidas é a psicanálise, postulada por Sigmund Freud, em 1890, a qual afirma que a estrutura da personalidade já está formada aos quatro ou cinco anos de idade. A personalidade engloba assuntos como temperamento e caráter. Delisle (1999) caracteriza a personalidade como um específico e relati- vamente estável modo de organizar os componentes cognitivos, emotivos e comportamentais da própria experiência. O significado (cognitivo) que uma pessoa atribui aos eventos (de comportamento) e os sentimentos (emocional) que acompanham esses eventos permanecem relativamente estáveis ao longo do tempo e proporcionam um senso individual de identi- dade. Personalidade é esse senso de identidade e o impacto que ele provoca nas outras pessoas. Segundo Cloninger, Svrakic e Przybeck (1993), a personalidade é concebida como uma interação dinâmica entre dimensões de temperamento, componente constitucional herdado, e dimensões de caráter, que são características adqui- ridas por meio do aprendizado e da experiência. O temperamento reflete diferenças individuais no aprendizado de hábitos por meio de recompensa e punição e é representado por quatro dimensões: busca de novidades, esquiva ao dano, dependência de gratificação e persistência. De acordo com o modelo de Cloninger, Svrakic e Przybeck (1993), o caráter é desenvolvido a partir das relações do eu: eu - comigo, eu - com o outro e eu – com o meio, cujo objetivo é adaptar o indivíduo ao meio. As dimensões de caráter são: � Autodirecionamento (AD): diz respeito à relação do sujeito consigo próprio e refere-se à força de vontade, autodeterminação, habilidade de controle das situações, adaptação de comportamentos de acordo com as metas estabelecidas e os valores pessoais, ao adiamento de gratificação imediata, à aceitação de suas fraquezas e ao reconhecimento de suas qualidades. Variações individuais: estilos de aprendizagem, personalidade e temperamento6 � Cooperatividade (CO): representa a relação do indivíduo com o outro e envolve empatia, tolerância, aceitação social, prontidão para ajudar e amabilidade. � Autotranscendência (AT): refere-se à relação do indivíduo com o meio — isto é, sentir-se parte integrante da natureza, do universo — e envolve sentimentos de contemplação, meditação, aceitação espiritual e misticismo. A personalidade é resultado da interação entre temperamento e caráter, que salientam e dão significado a toda experiência (CLONINGER; SVRAKIC; PRZYBECK, 1993). Freud, em 1923, começa a escrever sobre as estruturas da personalidade, ou seja, sobre o id, ego e superego (Figura 1). Para Freud, o id é o reservatório inconsciente das pulsões, as quais estão sempre ativas, e é regido pelo prin- cípio do prazer, exigindo satisfação imediata desses impulsos, sem levar em conta a possibilidade de consequências indesejáveis. Cabe lembrar que o id representa o nosso mundo interno, ou seja, a experiência subjetiva, não tendo conhecimento da realidade, que é a nossa experiência objetiva. Já o ego funciona geralmente a nível consciente e pré-consciente, embora também contenha elementos inconscientes, pois evoluiu do id. Ele é regido pelo princípio da realidade, buscando, assim, agir de maneira adequada frente às diversas situações apresentadas, reprimindo os impulsos do id. O ego se manifesta por meio da memória, dos sentimentos, pensamentos, ou seja, ele estrutura a personalidade do indivíduo. O superego é a estrutura que serve como um sensor das funções do ego, sendo a fonte dos sentimentos de culpa e do medo de punição. Ele é a interna- lização do julgamento moral e a percepção das normas e dos valores sociais e morais, que nos foram transmitidos quando crianças, bem como os nossos conceitos de certo e errado, sendo a arma moral da personalidade. Ele costuma nos controlar e nos punir, tendo como principais funções: inibir os impulsos do id e lutar pela perfeição. O id, o ego e o superego são estruturas que não atuam com propósitos diferentes, pois trabalham juntas, interagindo entre si, sob a liderança do ego. É sempre bom lembrar que a personalidade funciona como uma unidade, sendo o id o seu componente biológico, o ego o seu componente psicológico e o superego o seu componente de personalidade. 7Variações individuais: estilos de aprendizagem, personalidade e temperamento Figura 1. Demonstração da teoria de id, ego e superego. Fonte: Adaptada de Crystal Eye Studio/Shutterstock.com. Inconsciente Consciente Preconsciente Para saber mais, assista ao filme Freud além da alma, que mostra todo o percurso que Freud fez, por meio de observações, estudos e tratamentos de pacientes até chegar à criação da psicanálise. Variações individuais: estilos de aprendizagem, personalidade e temperamento8 Os três tipos de temperamento infantil e as estratégias de ensino para cada um deles Segundo LaHaye (1997), não existe outra coisa, humanamente falando, que possa influenciar tanto a nossa vida quanto o temperamento ou a combinação deles. “O temperamento influencia tudo o que você faz – desde os hábitos de sono e de estudo, o estilo de alimentação, até a maneira que você se relaciona com outras pessoas [...]” (LAHAYE, 1997, p. 9). Primeiramente, vamos conhecer as fases do desenvolvimento infantil, preconizadas por Freud e Piaget, para posteriormente compreendermos melhor os tipos de temperamento infantil e as estratégias de ensino que devem ser trabalhadas com elas. Para Freud (1984), são cinco as fases do desenvolvimento infantil. � Fase oral (do nascimento aos 12-18 meses): fase importantíssima para o desenvolvimento da personalidade. Nesta fase, a exploração e a grati- ficação são orais. Os lábios, a boca e a língua são os principais órgãos de prazer da criança. Seus desejos e suas satisfações se manifestam na oralidade, e ela começa a conhecer e explorar o próprio corpo. � Fase anal (12-18 meses aos 3 anos): fase importantíssimapara o desen- volvimento da personalidade. A criança apresenta interesse nas relações familiares, aprende a controlar os seus esfíncteres, ou seja, suas fezes e urina, sua atenção se localiza no funcionamento anal. Dessa forma, a criança começa a controlar o ambiente. � Fase fálica (3 a 6 anos): fase importantíssima para o desenvolvimento da personalidade. Nesta fase, dá-se o complexo de Édipo. A menina tem sua identificação com a mãe e ligação romântica com o pai, e o menino se identifica com o pai, e a ligação romântica é com a mãe. Apresentam interesse pelas diferenças anatômicas entre os sexos. � Fase de latência (6 anos até puberdade): o relacionamento se dá com crianças do mesmo sexo, onde podemos citar o “clube da Luluzinha” e o “clube do Bolinha”, fortalecendo, assim, a identidade sexual. Aqui, o complexo de Édipo é suspenso, e a criança se volta ao conhecimento do mundo e inicia o ensino fundamental, quando se inicia a aprendizagem dos valores e dos papéis culturalmente aceitos. � Fase genital (puberdade até fase adulta): inicia-se a adolescência e ocorrem mudanças físicas, psicológicas e sociais. O desejo se volta para o objeto externo, ou seja, para o outro, desenvolvendo a consciência de identidades sexuais distintas. 9Variações individuais: estilos de aprendizagem, personalidade e temperamento Piaget, entre os anos de 1940 e 1945, escreveu, em seus livros, que o desenvolvimento infantil se dá por meio de quatro estágios. � Sensório-motor (do nascimento aos 2 anos): neste estágio, a criança começa a construir esquemas de ação para assimilar o meio e desenvolve noções de espaço e tempo, e a inteligência se dá de forma prática. � Pré-operatório (2 a 7/8 anos): a criança aqui está num estágio ego- cêntrico, ou seja, centrada em si mesma, não sabe e não consegue se colocar no lugar do outro. Neste estágio ocorre o desenvolvimento da linguagem e do pensamento. � Operatório-concreto (8 a 11 anos): o desenvolvimento ocorre a partir do pensamento pré-lógico para as soluções de problemas concretos. A criança desenvolve noções de tempo, espaço, velocidade, ordem, causalidade. Não se limita à representação imediata, mas ainda depende do mundo concreto para chegar à abstração. Inicia-se a capacidade do raciocínio do concreto para o abstrato. � Operatório-formal (11 anos a toda idade adulta): neste estágio, a criança começa a desenvolver soluções lógicas de todas as classes de problemas. O raciocínio passa a ser abstrato, e é possível formar esquemas con- ceituais abstratos, como amor, fantasia, justiça. Com isso, ela adquire capacidade para criticar os valores sociais e propor novos códigos de conduta; discute valores morais de seus pais e constrói os seus próprios; torna-se capaz de aceitar suposições pelo gosto da discussão, é capaz de levantar hipóteses e testá-las. No campo de estudo do temperamento, uma primeira abordagem adveio de um trabalho pioneiro realizado por Thomas e Chess, denominado Estudo Longitudinal de Nova Iorque (THOMAS et al., 1963 apud MURIS; OL- LENDICK, 2005). Nela, o temperamento é entendido como uma categoria derivada de comportamentos exibidos em um determinado momento de vida, resultantes de todas as influências passadas e presentes, as quais os modelam e modificam em um processo constante e interativo. Agora que você já conhece como se dá o desenvolvimento humano, vamos abordar as nove categorias de temperamento, segundo Muris e Ollendick (2005): nível de atividade, ritmo, aproximação ou retraimento, adaptabilidade, limiar de responsividade, intensidade de reação, qualidade de humor, distraibilidade e período de atenção e persistência. Variações individuais: estilos de aprendizagem, personalidade e temperamento10 � Nível de atividade é referente ao componente motor presente no funcio- namento de uma criança e na proporção diurna de períodos de ativação e passividade. � Ritmo é direcionado à previsibilidade e/ou imprevisibilidade no tempo de qualquer função. � Aproximação ou retraimento estão ligados à resposta inicial a um estímulo novo, por exemplo, uma nova comida ou um novo brinquedo. � Adaptabilidade se refere à facilidade com que a criança modifica uma situação nova ou alterada na direção desejada. � Limiar de responsividade está voltada à intensidade do nível de esti- mulação necessária para evocar uma resposta deliberada, independen- temente da forma específica que esta pode assumir ou da modalidade sensorial afetada. � Intensidade de reação diz respeito ao nível de energia da resposta, independentemente da sua qualidade ou direção. � Qualidade de humor fala da quantidade de prazer, divertimento ou comportamento amistoso em comparação ao desprazer, choro e com- portamento não amistoso. � Distraibilidade está direcionada à efetividade de um estímulo ambiental externo em interferir no comportamento vigente e alterar sua direção. � Período de atenção e persistência é referente, respectivamente, ao pe- ríodo de tempo que uma atividade particular é realizada pela criança e à continuação de uma na presença de obstáculos para a manutenção da direção da atividade. Segundo Rothbart et al. (2003), essas categorias deram origem às seguintes classificações de tipos de temperamento: � Temperamento fácil, que é caracterizado por regularidade nas funções biológicas, respostas de aproximação positiva a estímulos novos, alta adaptabilidade à mudança, assim como intensidade de humor de leve à moderada e preponderantemente positiva. � Temperamento difícil, e se caracteriza por sinais de irregularidade nas funções biológicas, respostas de retraimento negativo a novos estímulos, não adaptação ou adaptação lenta a mudanças e expressões de humor intensas, frequentemente negativas. � Temperamento lento para reagir, que é caracterizado pela combinação de respostas negativas a estímulos novos com adaptabilidade lenta após contatos repetidos. 11Variações individuais: estilos de aprendizagem, personalidade e temperamento Podemos dizer, segundo as ideias de Rothbart et al. (2003), que as crianças de temperamento fácil têm a tendência de se adaptarem rapidamente a novas demandas do ambiente, enquanto as de temperamento difícil apresentam dificuldades de adaptação a novas situações e humor negativo. Já as crianças de temperamento lento apresentavam dificuldades moderadas de adaptação frente a novas demandas. O artigo “Temperamento e desenvolvimento da criança: revisão sistemática da literatura”, de Vivian Caroline Klein e Maria Beatriz Martins Linhares, fala sobre os diferentes autores que trabalham o tema. Acesse o link a seguir ou o código ao lado. https://goo.gl/9CTQzu ALLPORT, G. W. Personalidade: padrões e desenvolvimento. São Paulo: EDUSP, 1973. AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION. DSM-IV-TR: manual diagnóstico e estatístico dos transtornos mentais. 4. ed. rev. Porto Alegre: Artmed, 2002. BARIANI, I. C. D. Estilos cognitivos de universitários e iniciação científica. 1998. 170 f. 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