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09 A HISTÓRIA E OS LUGARES DE MEMÓRIA

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INTRODUÇÃO 
AOS ESTUDOS 
HISTÓRICOS
Simone de Oliveira 
A história e os lugares 
de memória
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:
  Analisar o conceito de lugares de memória.
  Discutir a contribuição dos lugares de memória para a construção 
da identidade nacional.
  Relacionar os lugares de memória no Brasil às suas implicações 
políticas.
Introdução
A história e os lugares de memória são importantes para a construção e a 
preservação do passado de um povo. Os lugares de memória representam 
a organização da história oficial. Eles dão origem à identidade nacional, 
conforme os interesses da classe no poder. Além disso, os lugares de 
memória resgatam a história de um povo ou de uma nação. Eles podem 
estar presentes por meio de museus, memoriais, arquivos históricos, 
monumentos e até bens imateriais, como rituais, culturas e tradições.
Contudo, ainda que os lugares de memória representem a história 
oficial, eles não são necessariamente verdades absolutas. Sempre há 
espaço para a análise e a interpretação dos saberes históricos. Neste ca-
pítulo, você vai estudar o conceito de lugares de memória na perspectiva 
histórica e na atualidade. Você também vai conhecer as contribuições 
desses lugares para a construção da identidade nacional. Por fim, vai ver 
as implicações políticas dos lugares de memória no Brasil.
Lugares de memória
Para refl etir sobre os lugares de memória, você precisa primeiro analisar 
o diálogo perpétuo entre história e memória. Como você sabe, as pessoas 
costumam revisitar o passado por alguma necessidade do presente. Assim, é 
a partir de experiências e olhares do presente que elas analisam a memória do 
passado. Nesse sentido, é importante você perceber a dialética entre o passado 
e o presente, as suas relações complexas, dinâmicas e sistêmicas.
Para Nora (1993), a necessidade de memória é uma necessidade de história. 
Portanto, a proximidade entre memória e história as torna complementares e, 
algumas vezes, indissociáveis. Contudo, Le Goff (1984) lembra que história 
não é memória e que memória não é história. Ambas se fundem na dimensão 
localizada entre o passado e o presente. Tal dimensão articula o presente com 
elementos do passado resgatados pela memória.
Mas, afinal, o que são lugares de memória? O conceito de lugares de 
memória surgiu na década de 1970 com alguns teóricos da área, entre eles o 
historiador francês Pierre Nora, que estudou o contexto específico da sociedade 
francesa. Para ele, do encontro entre a história e a memória surge outro tempo, 
que mistura o presente com elementos do passado. É aí que se materializa o 
passado com fundamento atribuído pelo presente. Essa dimensão é conhecida 
e definida por Nora (1993) como lugar de memória.
Para Hartog (2014), o tempo é um elemento relevante quando se fala em 
lugares de memória, no sentido de delinear uma perspectiva histórica. O 
historiador tenta simultaneamente confiar na história magistra (notadamente 
de modo polêmico) e, ao mesmo tempo, questioná-la profundamente, ou, ainda 
pior, usá-la e solapá-la. Mas por que, a despeito disso, a história magistra 
permaneceu, afinal de contas, em destaque? Para responder a essa pergunta, 
o autor se refere à história tradicional, que é, ao mesmo tempo, usada pela 
história — a fim de preservar os lugares de memória — e problematizada 
pela área — com o intuito de refletir sobre a intencionalidade da preservação 
e sobre quem está no processo de construção da memória coletiva para criar 
ou fortalecer a identidade nacional.
Nesse contexto, você pode considerar a preocupação crescente com o pa-
trimônio mundial. Há muita discussão acerca da questão da identidade, numa 
busca pelas raízes. Existe também uma ânsia pela memória, relacionada com o 
“patrimônio”, a conservação de monumentos e a preservação da natureza. Um 
exemplo é a memória da Segunda Guerra Mundial. Recentemente, surgiram 
inúmeros monumentos relacionados ao holocausto que ocorreu durante o 
conflito. Na França se destaca, por exemplo, o impacto do filme A tristeza 
e a piedade (1971), de Marcel Ophüls. Portanto, rememoração, conservação 
ampla ou renovação e reabilitação nas políticas urbanas têm valido contra a 
simples modernização, desafiando a sua até então inquestionada predominância 
(HARTOG, 2014).
A história e os lugares de memória2
O conceito de lugares de memória proposto por Nora (1993) partiu de 
uma perspectiva francesa. Contudo, no decorrer dos estudos da temática 
pela historiografia, percebeu-se que tal conceito poderia ser replicado em 
qualquer sociedade. Por ser um tema transversal, o lugar de memória ganhou 
investigações mundiais. Conforme Nora (1993), o lugar de memória é uma 
estrutura tricéfala. Tal estrutura é:
  material — ocorre a seleção dos meios em que o lugar será materializado;
  funcional — há dinâmicas de funcionamento para o lugar cumprir o 
seu propósito;
  simbólica — existe um motivo que assegura a manutenção do lugar.
Essas três dimensões possibilitam “[...] fixar um estado de coisas” que 
tem como intuito “[...] bloquear o trabalho de esquecimento” (NORA, 1993, 
p. 22). Essa é a principal finalidade dos lugares de memória. Entre seus outros 
propósitos, dois se destacam:
  preservar do esquecido a memória que forma a identidade de um povo;
  responder ao sentimento de descontinuidade entre o tempo presente e 
o tempo passado, sentimento este que acaba surgindo com as transfor-
mações e evoluções constantes das sociedades.
No contexto de criação e preservação dos lugares de memória, você deve 
considerar que tais lugares possuem um conjunto de intenções. Isso ocorre 
porque os lugares de memória representam também símbolos da identidade 
de um povo. O lugar de memória torna visível o invisível do passado, apesar 
das transformações e mutações que pode sofrer. Os lugares de memória não 
são estáticos, fechados em si mesmos; eles preservam a organicidade que a 
memória possui. Assim, embora esses lugares façam referência ao tempo 
passado, são construídos por sujeitos da contemporaneidade, que vivem as 
crises e reinvenções dos tempos atuais, mas que criam e preservam espaços 
importantes de identidade e memória de um povo.
Em síntese, da mesma maneira que um elemento religioso possibilita a 
ligação do sujeito com o divino, os lugares de memória permitem o encontro 
de tempos diversos (o presente e o passado). É relevante você notar também 
que, semelhante à religião, o lugar de memória possui um caráter sagrado, que 
lhe é dado por sua relevância. O termo “sagrado” funciona aqui no sentido 
de “simbólico”. Portanto, a sobrevivência dos lugares de memória depende 
da capacidade que as pessoas têm de alimentar o simbolismo desses espaços.
3A história e os lugares de memória
Leia o artigo de Guilherme Lopes Veiga “O museu como lugar de memória: o conceito 
em uma pespectiva histórica”, disponível no link a seguir.
https://bit.ly/2uEdasb
Os lugares de memória e a construção da 
identidade nacional
Para analisar as contribuições dos lugares de memória, você precisa ter em 
mente o objetivo desses espaços, ou seja, o intuito com o qual eles são constru-
ídos. Geralmente, os lugares de memória são criados para recordar a sociedade 
daquilo que ela não quer esquecer, ou daquilo que determinado grupo não 
quer que um povo esqueça. Assim, como você já viu, os lugares de memória 
possuem uma intencionalidade. Eles são criados a partir de fatos vivenciados 
direta ou indiretamente por indivíduos. Além disso, você deve lembrar-se de 
que os lugares de memória são, em sua maioria, patrimônios de um povo, de 
uma nação, e servem para preservar uma história.
Para Hartog (2003), o patrimônio é uma construção social, resultado de 
um processo histórico que surgiu no início da Modernidade. Ele é “[...] uma 
categoria eminentemente ocidental e que acompanha a história dessa civili-
zação” (HARTOG, 2003, p. 163-206). Portanto, um patrimônio não é algo da 
natureza, nãoé eterno e não é estático. Tal noção foi produzida historicamente 
na configuração dos Estados modernos, em que se defende a existência de 
uma herança pública a ser preservada para o futuro.
Como você pode notar, existe uma relação estreita entre patrimônio e iden-
tidade. A pertinência e os desafios dessa relação estão em jogo nos processos 
de ativação patrimonial. Assim, a incorporação de elementos da vida cotidiana 
como patrimônio cultural está associada à identidade social. Nesse sentido, 
entram em cena noções como a de que “[...] nosso patrimônio é a memória 
de nossa história e símbolo de nossa identidade nacional” (HARTOG, 2006, 
p. 266).
Partindo da premissa de que os lugares de memória são patrimônios e, 
algumas vezes, patrimônios construídos por instituições oficiais, Gonçalves 
(2007) apresenta uma das contribuições principais dos lugares de memória: 
a sistematização que possibilita o enquadramento da memória oficial e a 
A história e os lugares de memória4
construção da identidade de um povo. Contudo, perceba o seguinte: apesar 
de ser representado como oficial, um lugar de memória não possui necessa-
riamente um compromisso com a verdade histórica. Considere, por exemplo, 
que muitas memórias de guerra foram construídas por governos para lembrar 
a população dos fatos que ocorreram em determinado lugar com o intuito de 
incentivar o nacionalismo.
Assim, a intencionalidade intrínseca ou explícita constitui os lugares de 
memória. Tais lugares também podem sofrer transformações ao longo do 
tempo e em decorrência da constituição da própria sociedade. É possível, 
por exemplo, criar uma identidade nacional a partir de interesses de um 
sujeito ou de um grupo dominante. Conforme Gonçalves (2007), os dis-
cursos do patrimônio cultural presentes em todas as sociedades nacionais 
modernas nascem em meio aos intelectuais e são construídos e divulgados 
por empreendimentos políticos e ideológicos de criação de “identidades” e 
“memórias”, sejam eles de sociedades nacionais, de grupos étnicos ou de 
outras coletividades.
Com isso, identidades podem ser partilhadas em sistemas mais vastos. 
É o caso da identidade nacional, que tem uma relação direta com a noção 
de patrimônio cultural. Considere a consolidação dos Estados nacionais: ela 
resultou de processos (ocorridos ao longo dos séculos XVII, XVIII e XIX) 
que envolveram disputas e estratégias diversas para o estabelecimento de um 
sentimento de cultura partilhada entre os membros de uma nação.
A identidade nacional depende, sobretudo, do reconhecimento de um “passado 
comum” sustentado por “tradições inventadas” (HOBSBAWM; RANGER, 2012) ou 
reapropriadas, mitos fundadores da nação, lendas de tradição oral, versões oficiais 
da história no espaço geograficamente delimitado do Estado-nação. Os bens que 
formam o patrimônio histórico e artístico viriam objetivar, conferir realidade e legitimar 
a “comunidade imaginada” (ANDERSON, 2008) que é a nação, materializando a sua 
ancestralidade (GONÇALVES, 1996).
Os lugares de memória, se vistos como patrimônios culturais, são essen-
ciais para apoiar a construção da identidade nacional de um povo. Em outras 
palavras, eles são símbolos e rituais, monumentos, museus, festas e hinos, 
heróis nacionais, costumes ou culturas que fazem parte de uma nação. Eles 
5A história e os lugares de memória
expressam profundamente o sentimento de pertencimento dos indivíduos por 
meio da memória de determinado acontecimento que ajudou a constituir o povo.
No entanto, você não pode se esquecer de que o lugar de memória que 
forma a identidade nacional também pode estar imbuído de intencionalidades. 
De acordo com Nora (1993), o espaço onde a memória está representada é 
construído a partir de uma intenção específica, que pode ser investida de 
simbolismos e significações. Com isso, a representação do lugar de memória 
está, antes de tudo, na vontade e na seleção de memórias feita por um indivíduo 
ou um grupo.
A Figura 1 mostra o Museu do Ipiranga, que tem como nome oficial Museu 
Paulista da Universidade de São Paulo (USP). Ele é uma instituição científica, 
cultural e educacional com atuação no campo da história e cujas atividades 
têm como referência permanente um acervo. O Museu Paulista da USP foi 
inaugurado em 7 de setembro de 1895 como Museu de História Natural e marco 
representativo da independência e da história do Brasil. Ele está localizado 
nas margens do córrego do bairro do Ipiranga, na cidade de São Paulo, e faz 
parte do patrimônio histórico-cultural brasileiro. Foi lá que, conta-se, D. Pedro 
I deu voz ao famoso grito de independência do País.
Figura 1. Museu do Ipiranga.
Fonte: Museu... ([2013]).
A história e os lugares de memória6
O Museu do Ipiranga, como lugar de memória, preserva a história da 
independência do Brasil. O museu tem como função apoiar a construção do 
nacionalismo dos sujeitos brasileiros, com o intuito de que tenham orgulho 
da sua história. Esse lugar de memória foi constituído para criar um mito 
de herói na pessoa de D. Pedro I, mito este contado de geração em geração. 
Atualmente, sabe-se que a história não foi bem assim: a independência não 
foi proclamada, e sim foi comprada de Portugal, o que gerou a primeira dí-
vida externa brasileira. Além disso, D. Pedro I proclamou a independência 
para continuar a manter o poder diante das revoltas populares que estavam 
ocorrendo. Você pode estudar essa história com mais profundidade em outro 
momento, mas perceba que ela mostra como um lugar de memória pode servir 
à construção da identidade nacional (MORAES, 2004).
Apesar de suas intencionalidades muitas vezes dúbias, os lugares de me-
mória preservam um passado. Eles contam a história de um indivíduo ou de 
um grupo, são símbolos que afloram um sentimento, que dão significados e 
compõem a unidade do coletivo. Mas os lugares de memória só contribuem 
com a identidade nacional quando lhes é atribuído um valor simbólico, para 
que eles representem as ideias, os valores, as imagens e a recordação de um 
fato do passado significativamente relevante para um povo.
Os lugares de memória no Brasil e suas 
implicações políticas
Os lugares de memória têm uma intencionalidade que justifi ca e legitima a 
sua construção. Esses lugares, como você viu, podem ter a intenção de evitar 
o esquecimento, de criar ou reforçar a identidade de um povo, bem como de 
preservar fatos da história de uma nação. Para Hartog (2014), há um passado 
que as pessoas precisam referendar para preservar a sua história, que algumas 
vezes está oculta, esquecida ou simplesmente falsifi cada.
Rememorar e não esquecer são como deveres de todos. Nesse sentido, me-
mória não é transmissão, mas reconstrução, história. Um passado imprevisível 
significa algo mais: novas questões a fazer e, se possível, novas respostas a 
obter. O passado, assim, é um campo de potencialidades, das quais algumas 
começaram a acontecer, foram interrompidas, evitadas ou destruídas. Várias 
tentativas historiográficas recentes apontam nessa direção ou oferecem indi-
cações de pontos de partida diferentes.
7A história e os lugares de memória
Para desenvolver seriamente a temática dos lugares de memória, é necessário 
aprender algo com os cientistas e os historiadores das ciências. A reabertura do 
passado implica levar em consideração a dimensão do futuro. Mais modesta-
mente, é preciso restaurar alguma forma de comunicação entre presente, passado 
e futuro, sem admitir a tirania de qualquer um deles. É necessário estabelecer 
a ponte entre a experiência e o horizonte de expectativa.
Com isso tudo em mente, que tal refletir sobre os lugares de memória no 
Brasil e as suas implicações políticas? A história do Brasil indica que, entre o 
final do século XIX e o início do século XX, o País viveu muitas e profundas 
transformações sociais e culturais. Além disso, houve a transição política do 
sistema monárquico para o sistema republicano.
Nessa efervescência da sociedade brasileira, em meio às transições desis-
temas políticos e à expansão dos costumes advindos dos países europeus, o 
Brasil buscava se afirmar como um país moderno. Para isso, o Estado, aliado às 
grandes elites do País, criava e fortalecia uma memória histórica com o propósito 
de despertar nos indivíduos um sentimento de identidade nacional. O Estado 
brasileiro precisava construir lugares de memória para criar uma identidade para 
a nação, de forma a modelar o País com relação aos costumes e valores antepostos 
pelos setores dominantes. Foi em meio a essa realidade e à necessidade de criar 
uma identidade oficial brasileira que surgiu, por exemplo, o Museu Histórico 
Nacional (MHN), que você pode ver na Figura 2, a seguir (SILVA, 2016).
Figura 2. Museu Histórico Nacional.
Fonte: Museu... (2017).
A história e os lugares de memória8
O Museu Histórico Nacional foi fundado em 1922, no centenário da inde-
pendência do Brasil. Numa ponta que avançava sobre o mar, posteriormente 
batizada como Ponta do Calabouço, entre as praias de Piaçaba e Santa Luzia, 
no centro histórico do Rio de Janeiro, os portugueses construíram em 1603 
a Fortaleza de Santiago, origem do conjunto arquitetônico que hoje abriga o 
Museu Histórico Nacional.
O Museu Histórico Nacional foi um dos lugares de memória construídos 
pelo governo republicano para promover o Brasil como um país moderno e 
progressista, mas com base numa história de império e heróis nacionais. A 
partir desse propósito, outras edificações e lugares de memória foram cons-
truídos, buscando consolidar a identidade nacional e fortalecer a cultura da 
classe dominante.
Você pode perceber as implicações políticas da construção dos lugares 
de memória nas próprias comemorações nacionais. É o caso, por exemplo, 
da comemoração dos 100 anos da independência do Brasil, que envolveu 
cerimônias e festas durante a Exposição Internacional de 1922. As exposições 
internacionais estavam acontecendo desde o século anterior e tinham como 
objetivo divertir e também disciplinar a população (ABREU, 1996).
Foi no contexto das comemorações e da exposição que nasceu o Museu 
Histórico Nacional. Com a sua criação, a ideia era demonstrar que o Brasil 
era uma nação moderna, voltada para o futuro, mas com base na tradição 
imperial. Para que o objetivo da criação do Museu Histórico Nacional fosse 
cumprido, era necessário construir uma série de simbolismos que envolvesse 
a história do Brasil. Assim, até o local escolhido possui uma intencionalidade.
O Museu foi fundado no centro do Rio de Janeiro, num lugar de grande 
representação histórica. Lá também estão localizados o Paço Imperial, a 
Santa Casa de Misericórdia, a Casa do Trem, entre outras propriedades de 
valor significativo para a memória do País. No prédio em que o Museu foi 
instalado, ficava o Arsenal de Guerra da Corte, que, após a fundação do 
MHN, foi dividido entre vários órgãos da burocracia federal (ABREU, 1990).
Veja: para analisar os lugares de memória no Brasil e suas implicações 
políticas, você conheceu melhor o Museu Histórico Nacional, mas essa di-
nâmica poderia ser exemplificada com outros lugares e outras intenções. É 
possível estudar ou repensar a história do Brasil a partir de diversos lugares 
de memória. Tal estudo mostra a construção da identidade nacional. Alguns 
dos lugares de memória se tornam fonte de história e cultura, o que resgata e 
preserva a história da nação para o acesso das futuras gerações, constituindo 
o patrimônio cultural brasileiro.
9A história e os lugares de memória
A Constituição Nacional é um dos documentos que destacam a importância da 
preservação do patrimônio cultural do Brasil, ou seja, dos bens materiais ou imateriais 
que fazem parte do patrimônio e formam a identidade nacional.
Apesar dos inúmeros pontos positivos dos lugares de memória, você 
deve considerar que existe a possibilidade de analisar a relação entre 
esses lugares e a noção de verdade. Isso ocorre pois muitos dos lugares 
de memória são construções desenvolvidas para fortalecer ideias políticas 
de alguns grupos sociais e indivíduos, ou seja, são memórias impregnadas 
de intencionalidade.
Em síntese, os lugares de memória brasileiros possuem implicações polí-
ticas principalmente porque sua construção foi idealizada por quem ocupava 
postos de poder na época. Assim, esses lugares puderam fortalecer um novo 
sistema político, resgatar a história do País, ou reforçar princípios e doutrinas, 
por exemplo. Como você viu, os lugares de memória não são construídos com 
base na neutralidade; eles estão embutidos de alguma verdade criada ou que se 
pretende informar. Decorre daí a importância de exercitar um olhar histórico 
e crítico sobre os lugares de memória, identificando e compreendendo as 
intenções que levaram à sua criação.
Acesse o link a seguir para conhecer melhor a história da fundação do Museu Histórico 
Nacional.
https://bit.ly/2ILfXZe
A história e os lugares de memória10
ABREU, R. Museu, história e coleção. Anais do Museu Histórico Nacional, v. 28, 
p. 37-64 1996. Disponível em: http://docvirt.com/docreader.net/DocReader.
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GONÇALVES, J. R. S. Antropologia dos objetos: coleções, museus e patrimônios. Rio de 
Janeiro: Garamond, 2007.
GONÇALVES, J. R. S. A retórica da perda: os discursos do patrimônio cultural no Brasil. 
Rio de Janeiro: UFRJ/Iphan, 1996.
HARTOG, F. Régimes d’historicité: présentisme et expériences du temps. Paris: Editions 
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nível em: http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0104-87752006000200002&script=sci_
abstract&tlng=pt. Acesso em: 4 abr. 2019.
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rizonte: Autêntica, 2014.
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MORAES, A. J. de M. A independência e o império do Brasil. Brasília: [s.n.], 2004. Disponível 
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com.br/estabelecimento/museu-do-ipiranga/. Acesso em: 4 abr. 2019.
MUSEU Nacional reabre galerias fechadas há quatro anos. In: Veja. Rio de Janeiro: [s.n.], 
2017. Disponível em: https://vejario.abril.com.br/cidades/museu-nacional-reabre-
-galerias-fechadas-a--quatro-anos. Acesso em: 5 abr. 2019.
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1993. Disponível em: https://revistas.pucsp.br/index.php/revph/article/view/12101. 
Acesso em: 4 abr. 2019.
11A história e os lugares de memória
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Anais [...]. Nova Iguaçu: [s.n.], 2016. Disponível em: http://www.encontro2016.rj.anpuh.
org/resources/anais/42/1465587252_ARQUIVO_ST-Anpuh_MarianaPastanaBatista.
pdf. Acesso em: 5 abr. 2019.
Leituras recomendadas
CATROGA, F. A representificação do ausente. In: CATROGA, F. Os passos do homem 
como restolho do tempo: memória e fim do fim da história. 2. ed. Lisboa: Almedina, 2011. 
HALL, S. A identidade cultural na pós-modernidade. Rio de Janeiro: DP&A, 2001.
HALL, S. A identidade cultural na pós-modernidade. 11. ed. Rio de Janeiro: DP&A, 2006.
MUSEU HISTÓRICO NACIONAL. Rio de janeiro: [s.n.], 2019. Disponível em: http://mhn.
museus.gov.br/. Acesso em: 5 abr. 2019.
VIEIRA, G. L. O museu como lugar de memória: o conceito em uma perspectiva histórica. 
Mosaico, v. 8, n. 12, 2017. Disponível em: http://bibliotecadigital.fgv.br/ojs/index.php/
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A história e os lugares de memória12

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