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A nossa identidade coletiva pode ser 
reconhecida, construída e fortalecida por 
meio da preservação de nossa história e 
memória que não estão registradas apenas 
em livros ou fotografias, mas também em 
nossos monumentos, arquitetura, obras de 
arte, enfim, em toda forma de expressão 
cultural, seja ela material ou imaterial.
Nesta obra, você é convidado a construir 
e aprofundar seus conhecimentos sobre 
nossos patrimônios materiais e imateriais, 
as formas de proteção, os espaços de 
memória e o papel do profissional de 
História e dos projetos cidadãos.
Fundação Biblioteca Nacional
ISBN 978-85-387-6558-5
9 7 8 8 5 3 8 7 6 5 5 8 5
Código Logístico
59040
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EN
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Patrimônio histórico e 
cultural no Brasil
IESDE BRASIL
2019
Renata Cardoso Belleboni Rodrigues
© 2019 – IESDE BRASIL S/A. 
É proibida a reprodução, mesmo parcial, por qualquer processo, sem autorização por escrito da autora e do detentor 
dos direitos autorais.
Projeto de capa: IESDE BRASIL S/A. 
Imagem da capa: ESB Professional/lazyllama/Fred S. Pinheiro/Ksenia Ragozina/Renan Martelli da Rosa/Fabio 
Imhoff/VanjaO/Elysangela Freitas/Shutterstock.com
CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO 
SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ
R616p
Rodrigues, Renata Cardoso Belleboni
Patrimônio histórico e cultural no Brasil / Renata Cardoso Belleboni Rodrigues. - 
1. ed. - Curitiba: IESDE, 2019.
102 p. : il.
Inclui bibliografia
IISBN 978-85-387-6558-5
1. Brasil - História. 2. Patrimônio cultural - Brasil. 3. Memória - Aspectos sociais - 
Brasil. I. Título.
19-60653 CDD: 981
CDU: 930.85(81)
Todos os direitos reservados.
IESDE BRASIL S/A. 
Al. Dr. Carlos de Carvalho, 1.482. CEP: 80730-200 
Batel – Curitiba – PR 
0800 708 88 88 – www.iesde.com.br
Renata Cardoso Belleboni Rodrigues
Pós-doutora pela École des Hautes Études en Sciences Sociales (EHESS), em Sorbonne, 
França. Doutora em História Cultural pelo Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da 
Universidade Estadual de Campinas (IFCH-Unicamp). Licenciada e bacharel em História pela 
Universidade Estadual Paulista (Unesp). Atua como professora de História há mais de 20 anos. 
É autora de artigos científicos e de livros destinados à modalidade de ensino a distância (EaD). É 
coordenadora institucional do Programa de Residência Pedagógica em parceria com a Coordenação 
de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), professora adjunta e coordenadora do 
curso de História em uma instituição de ensino superior.
Sumário
Apresentação 7
1 Memória, história e identidade 9
1.1 Memória e história: conceitos indissociáveis 9
1.2 A noção de identidade: pertencimento e filiação histórica 21
1.3 Dever ou direito à memória 24
2 Patrimônio histórico e cultural: trajetória e legislação 31
2.1 A origem do patrimônio 31
2.2 O patrimônio no mundo e no Brasil 34
2.3 Patrimônio brasileiro: órgãos e legislações de preservação 43
3 Patrimônio material e imaterial no Brasil: formas de proteção 53
3.1 Patrimônio material ou tangível 53
3.2 Patrimônio imaterial ou intangível 59
3.3 Formas de proteção patrimoniais 68
4 Educação patrimonial e o papel do profissional de História 77
4.1 Educação patrimonial: um direito e um dever da nação e do cidadão 77
4.2 O profissional de História frente ao patrimônio: funções e ações 85
4.3 Patrimônio e projetos cidadãos no Brasil 91
Gabarito 101
Apresentação
A sociedade atual, globalizada, nos traz a rica experiência das trocas culturais. Cada vez 
mais estamos nos habituando a diferentes tradições, costumes, visões de mundo, modos de pensar. 
Essa vivência com o outro, com aquele que é diferente, força-nos a pensarmos em quem somos, em 
como nos definimos. 
A nossa identidade coletiva pode ser reconhecida, construída e fortalecida por meio da 
preservação de nossa história e memória que não estão registradas apenas em livros ou fotografias, 
mas também em nossos monumentos, arquitetura, obras de arte, enfim, em toda forma de expressão 
cultural, seja ela material ou imaterial. 
Todos nós temos direito a essa expressão de cultura que chamamos de patrimônios, assim 
como temos deveres. Preservá-los, valorizá-los e divulgá-los é tarefa de todo e qualquer cidadão, 
assim como do Estado. No Brasil, o órgão responsável pelas questões patrimoniais é o Instituto do 
Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, mais conhecido como Iphan. É esse órgão que busca 
garantir que nossos bens culturais recebam a devida atenção dos cidadãos brasileiros.
A união de todas as instâncias responsáveis pela preservação e divulgação somada à 
atuação das diferentes mídias, dos espaços de memória e o esforço coletivo das comunidades de 
preservarem seus patrimônios vêm evidenciando, cada vez mais, que nosso país possui uma cultura 
tão complexa que nos coloca frente a um questionamento: o Brasil tem apenas uma identidade ou 
é constituído de diversidades múltiplas? 
Vamos juntos refletir sobre esse questionamento e buscar uma resposta? Nesta obra, a cada 
página, você é convidado a construir e aprofundar seus conhecimentos sobre nossos patrimônios 
materiais e imateriais, as formas de proteção, os espaços de memória e o papel do profissional de 
História e dos projetos cidadãos. 
Bons estudos!
1
Memória, história e identidade
O trabalho do professor e do pesquisador em História é inseparável das questões 
patrimoniais, uma vez que esses profissionais tomam como fontes de pesquisa os elementos 
culturais que fazem parte do patrimônio de um grupo, de uma dada nação ou da humanidade. Do 
mesmo modo, ao abordar essa temática, concomitantemente adentrarão no campo da memória. 
E como se não bastasse a complexidade desses temas, de modo inevitável, esses profissionais 
serão levados a se aproximarem das discussões a respeito de identidade. Resumidamente, 
falar de patrimônio é falar de história, de memória e de identidade. Vamos aprofundar nossos 
conhecimentos acerca desses conceitos?
1.1 Memória e história: conceitos indissociáveis
Para compreendermos a estreita relação entre os conceitos de história e memória, vamos 
conhecê-los ou relembrá-los e analisá-los, a princípio, separadamente. Iniciemos pelos conceitos 
de história apresentados por pesquisadores dos centros acadêmicos estrangeiro e nacional.
“A História dizia Michelet é a ressurreição do passado”. Bernheim nos fins do 
século definia a História como a ciência da evolução do homem considerado 
como ser social e Huizinga num ensaio sobre o conceito da História 
considerava-a como a forma espiritual pela qual uma cultura se dá conta de seu 
passado. (COSTA, 1963, p. 434)
Pelas definições anteriores, podemos entender a História como algo a ser ressuscitado, uma 
ciência que estuda a evolução do ser humano na sociedade, História como forma espiritual. Esses 
modos de compreender a História derivam do século XIX, quando várias linhas historiográficas 
discutiam qual deveria ser o método da História, como tratar as fontes e que tipo de questionamentos 
dirigir a elas, além de divergências sobre a noção de fatos históricos: Eles seriam inventados pelo 
historiador ou apresentados pelas fontes?
Em terreno francês, os debates a respeito das questões históricas ganharam nova roupagem 
com a Escola dos Annales. Embora a historiografia divida seus integrantes e suas visões da 
História em três gerações (1929-1946; 1946-1968; 1968-1989), é importante destacar que os 
estudos historiográficos ganharam novos objetos, novas abordagens e novos problemas. E, mais 
do que nunca, ganhou força a compreensão de que o passado passou e não pode ser recuperado, 
ou ressuscitado, tal como foi. Um dos representantes desse grupo, Bloch (2001, p. 79), definiu a 
História como a ciência que estuda “o homem no tempo”, afirmando que “tudo que o homem diz 
ou escreve, tudo que fabrica, tudo que toca pode e deve informar sobre ele”.
Patrimônio histórico e cultural no Brasil10Portanto, como vimos, o objeto da História é o ser humano no tempo, e não o próprio tempo. 
E mais, todas as obras produzidas por ele importam ao historiador, visto que foi adotada uma nova 
concepção de documento: tudo é documento. Entre os escritos: bilhetes, cartas, diários, inscrições 
parietais, notícias de jornais, revistas, letras de música, mensagens de e-mail ou WhatsApp, livros 
impressos, e-books, registros de cartórios, balancetes administrativos etc. Referentes à cultura 
material: ferramentas, armamentos, vasos, utensílios ritualísticos ou domésticos, brinquedos, 
fósseis, fotografias, vídeos, ruínas, vestimentas, moedas etc., além de todas as representações 
figuradas e suas simbologias.
Na década de 1990, mais uma vez a historiografia se viu em meio a mudanças. A chamada 
História Cultural reforçou algumas questões que vinham sendo discutidas desde os anos 1960: a 
importância da interdisciplinaridade para os estudos históricos e as imagens como textos a serem 
lidos. Até o campo das sensibilidades (as emoções) tornou-se objeto de estudo do historiador que 
assumiu, definitivamente, que não existe a História, mas histórias; não existe o homem no tempo, 
mas os homens, em toda a sua diversidade, nos tempos sociais, econômicos, políticos etc. Um dos 
representantes dessa linha historiográfica é Keith Jenkins, para quem a História:
constitui um dentre uma série de discursos a respeito do mundo. Embora 
esses discursos não criem o mundo (aquela coisa física na qual aparentemente 
vivemos), eles se apropriam do mundo e lhe dão todos os significados que têm. 
O pedacinho do mundo que é o objeto (pretendido) de investigação da história 
é o passado. (JENKINS, 2007, p. 23)
Em outras palavras, Jenkins afirmou que História é discurso, interpretação e construção do 
passado. Para ele, História e historiografia são praticamente sinônimas.
No contexto nacional, Pedro Paulo Abreu Funari definiu a História como o “estudo do 
passado por meio de documentos” (FUNARI, 2014). No vídeo Por que gosto de História?, disse 
que a História é o veículo que permite às pessoas sonhar e viajar no tempo, em outros espaços, 
possibilita conhecer outras civilizações e outros costumes. A História é o que nos permite entender 
as pessoas de nossa época, respeitar e perceber o valor e a beleza que está nos outros, além de ser o 
meio pelo qual podemos conhecer a nós mesmos (FUNARI, 2013).
Leandro Karnal, outro historiador brasileiro, afirma que a História é o que nos “mostra a 
desnaturalização de todas as coisas que antes considerávamos naturais; […] mostra a liberdade que 
os homens têm de construir e destruir todas as instituições”. Para ele, a História também é “a base 
da liberdade” (KARNAL, 2013).
Portanto, ao retomar todas as definições apresentadas, vemos que a História é o passado, é 
ciência, vida e resgate de memórias, uma vez que nos permite revisitar outros tempos e espaços 
para conhecer os outros e nós mesmos.
Memória, história e identidade 11
Observe a Figura 1 em que Clio está no carro alado da História representando a passagem 
do tempo.
Figura 1 – Clio, a musa da História
FRANZONI, C. Clio no carro da História. Mármore. 1819. 
Antiga Câmara do Senado no Capitólio, EUA.
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Essa estátua, por exemplo, é um documento a ser analisado e interpretado, visto que é 
uma obra de um homem em um dado tempo. Ela mescla elementos diversos, como a Clio da 
Antiguidade e o relógio da modernidade. Mesmo com simbologias tão distantes, o modo pelo qual 
foram associadas nos permite compreender a ideia do escultor. Essa é a tarefa da História: tomar 
uma fonte para pesquisa, analisá-la e interpretá-la. Quer fazer esse exercício? Se tomarmos para 
nós essa tarefa e dirigirmos nossa atenção para o livro que está nas mãos de Clio, musa da História, 
podemos afirmar que ela escreve a história enquanto acontecimentos e eventos que vivenciamos? 
Ou pelo fato de estar registrando por escrito esses acontecimentos, ela está escrevendo a História 
enquanto historiografia? Eis um trabalho complexo, todavia, que fascina.
Do mesmo modo que a História, essas mesmas fontes ou documentos, como o exemplo da 
estátua, são utilizadas muitas vezes para que possamos pensar na questão da memória. É muito 
provável que você associe esse conceito ao de lembrança. Quantas vezes pediram para que você 
puxasse pela memória algum nome, fato ou data, letra de música ou cena de filme e você respondeu: 
“Lembro-me de que...” O cheiro de um bolo quentinho saindo do forno, por exemplo, faz com que 
você se lembre de sua avó, mãe ou tia? E aquela foto com os seus amigos ou primos traz a lembrança 
de algo especial? A memória, enquanto lembrança, é subjetiva; traz a marca de nossas experiências 
particulares. Já notou que, às vezes, quando você e outra pessoa estão recordando algum fato que 
presenciaram juntos nem sempre concordam com o que descrevem? É a subjetividade atuando.
Patrimônio histórico e cultural no Brasil12
Observe este trecho da música composta por Belchior e brilhantemente interpretada por 
Elis Regina:
Já faz tempo eu vi você na rua
Cabelo ao vento, gente jovem reunida
Na parede da memória
Esta lembrança é o quadro que dói mais1. (COMO..., 1976)
Ao iniciar a leitura, você se lembrou da melodia e começou a cantar, mesmo que mentalmente? 
Não estranhe caso isso tenha acontecido. É a sua memória mostrando que está viva. Aproveitando 
o contexto da canção, o da ditadura, será que todos os brasileiros que viveram naquele período 
têm os mesmos acontecimentos registrados na memória? Certamente, se pedir a alguém que foi 
torturado para que se lembre de algo para lhe contar, as emoções que se aflorarão e o que lhe 
contará não serão as mesmas situações lembradas por alguém que não viu tais ações de perto. Mas 
memória não é apenas lembrança ou recordação, esse conceito vem se transformando e sendo 
estudado desde a Antiguidade.
E é na Antiguidade Grega que vamos resgatar o mito do nascimento da memória (como 
lembrança). O mito narra que o poeta Simônides de Céos foi convidado pelo rei de Tessália, Scopas, 
a fazer um poema em sua homenagem. Ao escrever tal poema, Simônides o dividiu em duas partes: 
na primeira, o rei foi louvado; e na segunda, o poeta fez o mesmo com os filhos de Zeus, os deuses 
Castor e Polux. Durante um banquete oferecido pelo rei, o poema foi lido e, ao ser cobrado pelos 
serviços, o rei respondeu que pagaria apenas a metade, pois nem todo o poema fora dedicado a ele, 
devendo a outra metade ser cobrada dos deuses. Pouco depois, um mensageiro informou ao poeta 
que havia dois jovens lhe aguardando do lado de fora do palácio. Ao sair, Simônides não encontrou 
ninguém e, ao procurar pelos rapazes, viu quando o palácio desabou desfigurando e matando 
todos. Sem poder reconhecer os seus entes, os familiares se desesperaram, mas o poeta se lembrou 
das roupas e dos lugares ocupados pelos convidados e ajudou na identificação dos corpos. Assim 
nascia a arte da memória (LEONARDELLI, 2008).
Observe que Simônides fez uso do reconhecimento do toppoi (lugar) e de objetos (as roupas) 
para ativar a sua memória. Ela precisou de algo concreto para ser resgatada, embora a emoção do 
momento tenha contribuído para tal.
Ainda no contexto da mitologia grega, a memória era uma deusa, Mnemosine (nome 
derivado do verbo mimnéskein, que significa lembrar-se de), que, em seu relacionamento com 
Zeus, gerou as nove musas: Calíope (poesia lírica), Clio (história), Polímnia (música), Euterpe 
(música para a flauta), Terpsícore (dança), Érato (música para lira), Melpómene (tragédia), Talia 
(comédia) e Urania (astronomia). O fato de a memória ser uma deusa evidencia a importância 
desse conceito para aquela cultura que tinha, a princípio, a oralidade como fonte de transmissão e 
perpetuação das tradições (BRANDÃO, 1991).
O exercício do “lembrar” era de grande importância para o cidadão grego, e, de 
fato, para todo grupamento humano cujas tradições são transmitidas oralmente. 
Em umaépoca em que a escrita e os registros artísticos em geral eram restritos a 
1 Disponível em: https://www.vagalume.com.br/elis-regina/como-nossos-pais.html. Acesso em: 7 out. 2019.
https://www.vagalume.com.br/elis-regina/como-nossos-pais.html
Memória, história e identidade 13
poucos, a imprensa e nenhuma outra forma de reprodução mecânica existiam, 
aquele que tivesse o dom da lembrança adquiria poderes especiais diante da 
coletividade: é o historiador, o poeta e, para Platão, o filósofo que acessa o 
mundo perdido do conhecimento das vidas passadas. O avanço da oratória a 
partir de Homero se alinha ao desenvolvimento dos estudos da mnemotécnica. 
(LEONARDELLI, 2008, p. 22)
A memória também foi tema de estudo dos filósofos gregos Platão e Aristóteles. O primeiro 
fez a distinção entre a memória passiva (que não é voluntária e alimenta apenas a opinião) e a 
reminiscência (recordação voluntária que alimenta o conhecimento inteligível). Já para Aristóteles, 
a memória era a capacidade de conservar o passado trazido à tona, voluntariamente, por meio de 
um esforço intelectual (QUADROS; FONSECA-SILVA, 2016).
Para finalizar nosso percurso em terreno grego, Heródoto, segundo Vidal-Naquet (2002, 
p. 37), escreveu a história para “impedir que o tempo elimine da memória tudo o que fizeram os 
homens” e Tucídides, bem ao contrário, rejeitava a ideia de memória.
A escolha de Tucídides em escrever sobre o presente se dá pela incredibilidade no 
passado mítico e na fragilidade da memória, pois, para ele, somente aquilo que 
é visível (a audição e a oralidade são rejeitadas por Tucídides) e testemunhável é 
plausível de ser relatado. (DEVECHIO; SEIXAS, 2008, p. 6)
No período medieval, esse tema também foi objeto de análise de São Tomás de Aquino. 
Para ele, é preciso que ativemos o intelecto para fazer uso da memória, portanto, ela não é um 
atributo natural ao homem. Ele complementou que a memória está relacionada à nossa capacidade 
de ligar os fatos (só lembramos daquilo que nos marcou, de modo particular, afetivamente). E, por 
último, o teólogo afirmou que se meditamos sobre algo, esse algo sempre estará em nossa memória 
(OLIVEIRA, 2007).
Até agora a memória foi muito associada à recuperação, ao resgate e à preservação de 
informações. Mas temos sempre que atentar para uma assertiva de Detienne: “O ouvido é infiel 
e a boca é sua cúmplice. Frágil, a memória é igualmente enganadora: ela seleciona, interpreta, 
reconstrói” (DETIENNE, 1998, p. 226-227).
Prosseguindo no tempo, já nos anos finais do século XVIII e início do século XIX, 
começamos a ver um movimento para a formação dos Estados-nação que se caracterizaria por 
um povo que partilhasse um território histórico, mito de ancestralidade, memórias históricas, 
economia, direito e cultura comuns (SMITH, 1997). É justamente com o desenvolvimento da 
noção de memórias comuns que teremos estudos que definirão a memória coletiva. Um dos 
principais autores dessa linha foi o sociólogo Maurice Halbwachs. Para esse autor, a memória 
coletiva é o “processo social de reconstrução do passado vivido e experimentado por um 
determinado grupo, comunidade ou sociedade” (HALBWACHS, 2013, p. 25). A memória coletiva 
existe porque estamos e somos inseridos em uma comunidade maior, em uma sociedade.
Desse modo, a constituição da memória de um indivíduo resulta da combinação 
das memórias dos diferentes grupos nos quais está inserido e consequentemente 
é influenciado por eles, como por exemplo, a família, a escola, igreja, grupo de 
amigos ou ambiente de trabalho. Nessa ótica, o indivíduo participa de dois tipos 
de memória, a individual e a coletiva. (SILVA, 2016, p. 248)
Patrimônio histórico e cultural no Brasil14
História e memória fazem uso do passado. História e memória precisam de suportes para 
serem ativadas, interpretadas e divulgadas e são construídas em torno da noção de tempo. Por isso, 
são indissociáveis. No entanto, há autores que colocam esses conceitos em um octógono: quem 
vencer levará o cinturão. Vamos nos debruçar um pouquinho sobre essa problemática? Observe o 
Quadro 1.
Quadro 1 – Divergências entre história e memória
História Memória
É a reconstrução incompleta do que não existe mais 
(não é vida).
É a vida, carregada por grupos vivos e, por isso, em 
permanente evolução, podendo ser lembrada, esquecida, 
deformada, manipulada ou revitalizada.
Representação do passado. Fenômeno atual.
É uma operação intelectual e demanda tanto uma 
análise quanto um discurso crítico.
É afetiva, alimenta-se de lembranças vagas, gerais, 
simbólicas etc.
Liberta a lembrança do campo do sagrado. Instala a lembrança no campo do sagrado.
Pertence a todos e a ninguém, vocação para o 
universal.
É coletiva (HALBWACHS, 2013), múltipla e, ao mesmo 
tempo, individual.
Liga-se às continuidades temporais, às evoluções e 
às relações das coisas.
Enraíza-se no concreto, no espaço, no gesto, na imagem e 
no objeto.
Só conhece o relativo. É um absoluto.
Fonte: Elaborado pela autora com base em Nora, 1993, p. 9.
Para Nora (1993), História e memória estão longe de serem sinônimas. No entanto, se 
tomarmos algumas de suas afirmativas para reflexão, principalmente aquelas relacionadas ao 
conceito de História, baseados no que dispõem os historiadores culturalistas, podemos apontar:
1. reconstrução incompleta do passado: não por opção, mas porque nem todos os 
passados nos deixaram fontes e mesmo que tenhamos uma quantidade enorme delas, 
os historiadores selecionam aquelas que estão relacionadas aos seus interesses teóricos, 
pessoais e atuais;
2. representação do passado: reconstrução, interpretação, uma dada visão do passado, mas 
baseada nos interesses do presente, contexto do historiador, por isso, também atual (como 
a memória);
3. liberta a lembrança do campo do sagrado: na atualidade, as sensibilidades também são 
estudadas e, por isso, a questão do sagrado é objeto da História;
4. pertence a todos e a ninguém: se pertence a todos, assim como a memória, é coletiva 
e, quanto ao ninguém, a História pertence sempre a alguém (mesmo que ao grupo de 
historiadores);
5. tempo, evolução, relação: esses não são os únicos campos da História, suas fontes também 
são os gestos, as imagens, os objetos;
6. só conhece o relativo: porque o absoluto não é alcançável, o passado já passou, mas a 
memória também não é, pois é subjetiva.
Memória, história e identidade 15
Nora (1993) ainda complementa que, mesmo que diferenças cruciais possam ser apontadas, 
a memória não existe, pois foi apropriada pelo registro da História. O que existem são os espaços 
de memória, ou seja, são lugares em que ela se concretiza e se asila, como museus, arquivos, 
bibliotecas, entre outros espaços e tudo o que há em seus interiores, isso devido ao fato de que não 
se vive mais o que eles participam, informam e comunicam.
Tomados como sinônimos ou como contrários, os conceitos de história e memória precisam 
ser assimilados para que nossa compreensão sobre o patrimônio histórico seja construída e 
aprofundada. Todo homem, pensado individual ou coletivamente, tem uma história e uma 
memória a ser resgatada, divulgada e defendida.
1.1.1 Os suportes da memória
Os autores aqui citados, direta ou indiretamente, apesar das divergências nos conceitos de 
memória, afirmam que ela depende, também, de registros, de suportes materiais. Você saberia 
indicar alguns exemplos desses suportes? Se estiver lendo este material em forma de livro físico 
ou digital ou mesmo assistindo a um vídeo, está usando exemplos de suportes da memória. Para 
Seixas (2000, p. 81), “a memória inscreve-se nos objetos e apenas estes (através das sensações que 
despertam) podem fazê-la reaparecer”.
Podemos fazer uma distinção em suportes de memórias individuais, como fotografias, 
diários pessoais, presentes, souvenirs de lugares turísticos, convites de aniversário ou casamento, 
por exemplo, assim como arquivos pessoais gravados em dispositivos como celulares, pen drives etc. 
Ao mesmo tempo, alguns dessesexemplos também podem ser inseridos no quadro dos suportes 
de memória coletiva, como as fotografias. Nesse grupo, ainda incluímos documentos e objetos que 
estão guardados em arquivos, museus ou bibliotecas que representam a memória de um grupo, de 
uma sociedade.
Há um caso específico de suporte da memória (e da História) que merece ser destacado: o 
monumento. Acerca desse conceito,
o sentido original do termo é o do latim monumentum, que por sua vez deriva 
de monere (“advertir”, “lembrar”), aquilo que traz à lembrança alguma coisa. 
A natureza afetiva do seu propósito é essencial: não se trata de apresentar, de 
dar uma informação neutra, mas de tocar, pela emoção, uma memória viva. 
Nesse sentido primeiro, chamar-se-á monumento tudo o que for edificado 
por uma comunidade de indivíduos para rememorar ou fazer que outras 
gerações de pessoas rememorem acontecimentos, sacrifícios, ritos ou crenças. 
A especificidade do monumento deve-se precisamente ao seu modo de atuação 
sobre a memória. (CHOAY, 2001, p. 17-18)
No entanto, é preciso fazer uma distinção entre monumento como suporte de memória 
e monumento histórico. O segundo diz respeito a um tipo de construção que não foi feita com 
a intenção de perpetuar um acontecimento. Ele já estava construído quando algo importante 
para uma dada sociedade aconteceu. Vejamos um exemplo: é comum haver palacetes que foram 
habitados pelos fundadores de uma dada cidade, o mesmo pode acontecer com prédios públicos 
ou mesmo casas comuns que por sua arquitetura e seu tempo são considerados monumentos 
Patrimônio histórico e cultural no Brasil16
históricos. O Coliseu romano é um desses casos, assim como o prédio do Mercado Municipal de 
São Paulo e o Teatro Amazonas em Manaus.
O conceito de monumento histórico pode ser encontrado na Carta de Veneza2, de 1964, em 
seu artigo 1º:
A noção de monumento histórico engloba a criação arquitetônica isolada, bem 
como o sítio urbano ou rural que dá testemunho de uma civilização particular, de 
uma evolução significativa ou de um acontecimento histórico. Estende-se não só 
às grandes criações, mas também às obras modestas, que tenham adquirido, com 
o tempo, uma significação cultural. (IPHAN, 1964)
Vejamos alguns monumentos históricos brasileiros, a seguir, nas Figuras 2, 3 e 4. São 
exemplos arquitetônicos que contam parte da História do Brasil, são lugares de memória.
Figura 2 – Monumento histórico de Ouro Preto
Igreja Matriz de Nossa Senhora da Conceição de Antônio Dias. 
1705. Ouro Preto – MG.
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Um dos monumentos históricos brasileiros mais visitados de Minas Gerais é a Igreja Matriz 
de Nossa Senhora da Conceição de Antônio Dias, em Ouro Preto (Figura 2). De relevância artística 
e religiosa, teve sua construção iniciada em 1705, sendo ampliada em 1727, cujas obras ainda 
perduraram no decorrer dos anos sob a direção dos mestres Manuel Francisco Lisboa e Aleijadinho.
2 Carta internacional sobre a conservação e o restauro de monumentos e sítios aprovada durante o II Congresso 
Internacional de Arquitetos e Técnicos dos Monumentos Históricos, reunido em Veneza, de 25 a 31 de maio de 1964. 
Disponível em: http://portal.iphan.gov.br/uploads/ckfinder/arquivos/Carta%20de%20Veneza%201964.pdf. Acesso em: 
7 out. 2019.
http://portal.iphan.gov.br/uploads/ckfinder/arquivos/Carta%20de%20Veneza%201964.pdf
Memória, história e identidade 17
Figura 3 – Registro das Missões no Brasil
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Sítio Arqueológico de São Miguel Arcanjo. 1687-1750. São Miguel das Missões – RS.
O Sítio Arqueológico de São Miguel Arcanjo (Figura 3), mais conhecido por Ruínas de São 
Miguel das Missões, é o que restou de uma das reduções3 jesuíticas de São Miguel Arcanjo, que 
fazia parte dos Sete Povos das Missões4. Essa redução foi fundada enquanto essa parte do território 
estava sob o domínio espanhol. A construção de toda a estrutura teve início em 1687, mas apenas 
após a edificação da igreja, entre 1735 e 1750, é que o lugar ganhou força. Mais ou menos no 
mesmo período, disputas entre Portugal e Espanha geravam conflitos no local, como a Guerra 
Guaranítica, conflito armado que envolveu tribos Guarani das Missões contra tropas desses dois 
países. Sua primeira destruição aconteceu em 1756 e a derradeira, no início do século XIX.
Figura 4 – Monumento do saber
Biblioteca Pública do Estado do Amazonas. 1905-1910. Manaus – AM.
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3 Outro nome para missões jesuíticas.
4 Conjunto de sete aldeamentos indígenas construído pelos padres jesuítas na região do Rio Grande de São Pedro, 
atualmente, Rio Grande do Sul.
Patrimônio histórico e cultural no Brasil18
Um incêndio em 1945 quase destruiu todo o prédio da Biblioteca Pública do Estado do 
Amazonas construída entre 1905 e 1910 (Figura 4). Essa obra foi projetada pelo arquiteto paraense 
José Castro de Figueiredo e, em seu interior, existe uma escadaria de ferro forjado em rendilhado, 
vinda de Liverpool, na Inglaterra.
Reforçando os conceitos abordados anteriormente, esses são exemplos de monumentos 
históricos que ganharam tal historicidade por conta de seu valor artístico e cultural. Foram 
escolhidos como marcos de uma parte da história local ou nacional.
Quanto aos monumentos de memória, sua principal característica é serem construídos, 
intencionalmente, para rememorar, lembrar, perpetuar ou celebrar algum acontecimento em 
específico, como uma vitória em uma guerra, a chegada de imigrantes, uma dada atividade 
econômica, a morte de alguém etc. No Brasil e no mundo temos inúmeros exemplos. Comecemos 
com um dos monumentos de memória mais famosos do mundo, conforme a Figura 5 a seguir.
Figura 5 – Relembrando Napoleão
Arco do Triunfo. 1806-1836. Paris, França.
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O Arco do Triunfo foi construído para comemorar as vitórias militares de Napoleão 
Bonaparte, especialmente aquela em Austerlitz. Localizado na praça Charles de Gaulle, é um dos 
pontos turísticos da avenida Champs-Élysées. O próprio Napoleão o encomendou ao arquiteto 
francês Jean Chalgrin. Para a sua edificação, o arquiteto se inspirou no Arco de Tito, que, por sua 
vez, foi construído para comemorar a vitória de Roma sobre Jerusalém, no século I d.C. Sua 
construção foi iniciada em 1806, no entanto a conclusão se deu apenas em 1836.
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Marco de Touros. 1501. Touros – RN.
Figura 6 – O Brasil é dos portugueses
Memória, história e identidade 19
Um incêndio em 1945 quase destruiu todo o prédio da Biblioteca Pública do Estado do 
Amazonas construída entre 1905 e 1910 (Figura 4). Essa obra foi projetada pelo arquiteto paraense 
José Castro de Figueiredo e, em seu interior, existe uma escadaria de ferro forjado em rendilhado, 
vinda de Liverpool, na Inglaterra.
Reforçando os conceitos abordados anteriormente, esses são exemplos de monumentos 
históricos que ganharam tal historicidade por conta de seu valor artístico e cultural. Foram 
escolhidos como marcos de uma parte da história local ou nacional.
Quanto aos monumentos de memória, sua principal característica é serem construídos, 
intencionalmente, para rememorar, lembrar, perpetuar ou celebrar algum acontecimento em 
específico, como uma vitória em uma guerra, a chegada de imigrantes, uma dada atividade 
econômica, a morte de alguém etc. No Brasil e no mundo temos inúmeros exemplos. Comecemos 
com um dos monumentos de memória mais famosos do mundo, conforme a Figura 5 a seguir.
Figura 5 – Relembrando Napoleão
Arco do Triunfo. 1806-1836. Paris, França.
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O Arco do Triunfo foi construído para comemorar as vitórias militares de Napoleão 
Bonaparte, especialmente aquela em Austerlitz. Localizado na praça Charles de Gaulle, é um dos 
pontos turísticos da avenida Champs-Élysées. O próprio Napoleão o encomendou ao arquiteto 
francês Jean Chalgrin. Para a sua edificação, o arquiteto se inspirou no Arco de Tito, que, por sua 
vez, foi construídopara comemorar a vitória de Roma sobre Jerusalém, no século I d.C. Sua 
construção foi iniciada em 1806, no entanto a conclusão se deu apenas em 1836.
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Marco de Touros. 1501. Touros – RN.
Figura 6 – O Brasil é dos portugueses
Em relação ao Brasil, podemos exemplificar com belos monumentos. Observe, a seguir, 
as Figuras 6 e 7.
O Marco Colonial de Touros é um padrão5 
(coluna) de 1,62 m de altura e 32,5 cm de largura, que 
foi fixado, em 1501, pelo reino de Portugal na atual 
Touros, cidade litorânea do Rio Grande do Norte. 
Seu objetivo era atestar e perpetuar que Portugal 
era o descobridor da terra que posteriormente 
seria chamada de Brasil. Ele é considerado o nosso 
monumento colonial mais antigo.
Figura 7 – Descortinando o Brasil
Monumento às Bandeiras. 1953. São Paulo – SP.
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Construído em homenagem aos bandeirantes, o Monumento às Bandeiras relembra e 
glorifica aqueles que desbravaram os sertões brasileiros entre os séculos XVII e XVIII. Ele 
se encontra no Parque do Ibirapuera, na cidade de São Paulo, e foi inaugurado durante as 
comemorações do IV Centenário dessa cidade. Embora seu escultor, Victor Brecheret, tenha 
iniciado os desenhos em 1920, devido às questões políticas do país, a obra só foi inaugurada 
em 1953.
5 Colunas de pedra marcadas com as armas portuguesas e mais alguma inscrição, cuja finalidade era afirmar a 
soberania de Portugal no local onde eram assentadas.
Patrimônio histórico e cultural no Brasil20
Figura 8 – Homenagem à nossa literatura
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Grupo escultórico Dois poetas. Em pé está Carlos Drummond de 
Andrade e sentado, Mário Quintana. Porto Alegre – RS.
Essa obra esculpida em bronze, conhecida como Monumento à Literatura, foi criada por 
Eloisa Tregnago e Xico Stockinger e inaugurada em 2001, na Praça da Alfândega, em Porto Alegre, 
relembrando a origem gaúcha dos autores. O livro, também em bronze, que ficava nas mãos de 
Carlos Drummond, foi roubado. Desde então, frequentemente algumas pessoas colocam um 
exemplar impresso no lugar, como podemos observar na imagem (Figura 8).
É importante ter em mente que há outras formas de se homenagear e perpetuar uma 
memória, além da inauguração de prédios e estátuas, podemos incluir construção de bibliotecas 
e igrejas, nomeação de ruas, exposições de arte, banquetes, bailes, festivais, concursos variados 
(monografias, literatura etc.), concertos de música e mesmo torneios esportivos.
Memória é o vivido e História é o elaborado, interpretado. Memórias, lugares de memória, 
suportes de memória; histórias, lugares de histórias, suportes da história. A relação é intrínseca, 
mesmo que cada conceito possa ser tomado separadamente. E a ideia de patrimônio deve ser 
entendida como mais um elo entre história e memória. Por isso, os suportes da memória (e mesmo 
da história) devem ser preservados.
Memória, história e identidade 21
1.2 A noção de identidade: pertencimento e filiação histórica
Tomando os exemplos dos monumentos de memória, você pode perceber que para além de 
rememorar um acontecimento ou um nome, eles criaram ligação com o lugar, com uma história 
específica. O Marco de Touros nos diz que somos herdeiros dos portugueses, o Monumento às 
Bandeiras revela que somos herdeiros de homens que buscaram ampliar as terras brasileiras e os 
Dois Poetas glorificam o fato de aqueles escritores serem gaúchos. Esses exemplos nos permitem 
prosseguir em nossos estudos sobre as questões de identidade, de pertencimento e filiação histórica. 
Em outras palavras, os mesmos suportes da História e da memória podem ser utilizados para 
definirmos nossa identidade.
Para começar a discutir esse conceito, vamos lembrar que no nosso dia a dia ele é recorrente. 
Quantas vezes, ao pagar uma compra, ao entrar em um estabelecimento, ao se registrar em um 
consultório médico ou mesmo ao se inscrever em um vestibular ou concurso, foi-lhe solicitado 
apresentar seu documento de identidade ou RG? Inúmeras vezes, não? Ele traz informações que 
o identificam, como nome completo, data de nascimento, naturalidade, nacionalidade, filiação, 
digital e mesmo CPF. Esse documento, portanto, informa o que temos de único, de autêntico, de 
singular. O mesmo ocorre com grupos familiares, comunidades ou países. Embora não tenham seu 
RG, possuem lugares, objetos, monumentos, histórias e memórias comuns. Em resumo, podemos 
dizer que a identidade pode ser definida pela posse de determinados bens (materiais ou imateriais, 
individuais ou coletivos, culturais).
Vimos que nos séculos XVIII e XIX procurou-se formar a ideia de Estado-nação. É nesse 
contexto que as discussões sobre identidade coletiva nascem. Quando os historiadores buscavam 
na Antiguidade suas origens, seus antepassados traziam, juntamente, características culturais que 
os identificariam dali para frente.
A segunda metade do século [XVIII] e as primeiras décadas do século XIX 
foram pródigas naquilo que Hobsbawm chamou de “tradições inventadas” 
(1983, p. 1-14). Monumentos, relíquias, locais de peregrinação cívica, 
cerimônias, festas, mitologias nacionais, folclore, mártires, heróis e heroínas 
nacionais, soldados mortos em batalhas, um vasto conjunto de tradições foi 
inventado com o objetivo de criar e comunicar identidades nacionais (Mosse, 
1975; Koselleck, 1979; Augulhon, 1979; Herzfeld, 1982; Hutton, 1981; OzouC, 
1976). Nesse contexto, o passado nacional é simbolicamente usado com o 
objetivo de fortalecer a identidade pessoal e coletiva presente. (GONÇALVES, 
1988, p. 267-268)
Complementando essa assertiva, Smith (1997, p. 14) afirma que a nação se constitui de “uma 
população humana identificada que partilha um território histórico, mitos comuns e memórias 
históricas, uma cultura pública comum e de massas, uma economia comum e direitos e deveres 
legais comuns para todos os seus membros”.
Patrimônio histórico e cultural no Brasil22
No entanto, muitas vezes foi necessário “esquecer” passagens históricas que os nacionalistas 
acreditavam colocar em risco a identidade da nação. Em alguns livros de História desse período, as 
derrotas em batalhas e a miscigenação da população eram ignoradas, por exemplo. Isso foi o que 
aconteceu com o Brasil, quando buscou, no século XIX, criar suas origens e sua identidade.
Para entendermos como se deu a busca pela formação da identidade brasileira 
precisamos recorrer às teorias raciais do século XIX. O oitocentos em sua busca 
pelas origens nacionais acaba por segregar algumas populações e aculturar 
determinadas práticas baseada nas características fenotípicas de seus defensores 
e praticantes. Para exemplificar melhor isso tomamos como exemplo Francisco 
Adolpho de Varnhagen, um conhecido teórico que se empenhou em escrever 
uma história das origens da cultura brasileira em seus dois volumes de História 
Geral do Brasil. Varnhagen privilegia a ação portuguesa na formação do povo 
brasileiro e banaliza os traços dos nativos e principalmente dos negros tão 
importantes dentro da miscigenação cultural. (AZEVEDO, 2014, p. 27, grifo 
do original)
Varnhagen, como nos mostra Azevedo (2014), buscou criar uma identidade brasileira 
branca, europeia, superior. E complementando os argumentos de Azevedo, Sales (2015) afirma que
a memória é fundamento tanto individual quanto coletivo. Sem memória 
ocorre a desorientação, a falta de referenciais, de conhecer, compreender e 
criar. Segundo Izquierdo, a memória compartilhada coletivamente, ou seja, 
a memória social resulta de uma necessidade de associação dos indivíduos, 
formada a partir de afinidades e transmitida pela comunicação. Não ter essa 
memória coletiva, instituidora de identidades, é certeza da desintegração do 
tecido social e da destruição de valores. (SALES, 2015, p. 163)
A preocupação com a desintegração social brasileira fez com que outros autores, no início 
do século XX, resgatassem nossas raízes indígenas e negras, porém,nesse primeiro momento, ao 
destacar os problemas de nossa identidade, apontavam a culpa para essas etnias: se não somos 
superiores é porque temos o sangue do índio e do escravizado correndo em nossas veias. Somente 
a partir de 1960, e essencialmente depois de 1990, nossa multiculturalidade foi reconhecida como 
ponto positivo. Esse não foi um privilégio brasileiro. Com o fim da Segunda Guerra Mundial, os 
países se viram na obrigação de repensarem as questões nacionalistas. Será que era possível manter 
a ideia de uma identidade nacional única e imutável? Ou era necessário reconhecer que os países 
possuem identidades múltiplas porque são constituídos de diferentes identidades individuais, 
sociais, culturais, religiosas, étnicas, de gênero etc.?
Os historiadores, sociólogos, antropólogos e demais cientistas sociais que tomaram, 
no final do século XX e início do XXI, a História e a memória para buscar essas múltiplas 
identidades, observaram que, mais do que monumentos históricos ou de memória nacionais, 
cada grupo tomava para si suportes de memória que o identificasse. Vejamos um exemplo: 
descendentes da cultura africana passaram a construir e a reconstruir suas identidades por 
meio do uso de roupas, acessórios e penteados típicos desse grupo. O cabelo cacheado ou 
crespo foi assumido como elemento identificador, não mais como algo a ser escondido ou 
modificado porque a mídia impôs. É claro que não podemos generalizar esse exemplo, mas as 
transformações na sociedade são visíveis.
Memória, história e identidade 23
A nova realidade histórica impõe que é preciso ampliar os olhares sobre a questão do 
pertencimento ou da filiação histórica. Ainda tomando o Brasil como exemplo, não há como negar 
que todos os cidadãos nascidos aqui compartilham da identidade de brasileiros, mas o território 
é continental, imenso. O pertencimento deve ser considerado por novos ângulos: ele é brasileiro 
e capixaba, ela é brasileira e carioca, nós somos brasileiros e amazonenses, vós sois brasileiros e 
tocantinenses. E ainda podemos mostrar maiores complexidades nessa construção de identidades: 
eu, brasileira, paulista, parda, budista etc. Não é mais o Estado ou a nação que estabelece nossa 
identidade, mas os diferentes contextos e grupos nos quais estamos inseridos. Enfim,
vivemos em um ambiente onde convivem e se relacionam múltiplas culturas, 
assim, para Valle (2000, p. 20), não há, pois, uma, mas várias “cidadanias”, ou 
vários graus de pertencimento, que correspondem a diferentes possibilidades de 
acesso ao poder e ao “patrimônio comum” construído pelo desenvolvimento. 
(LORENZON, 2015, p. 23)
Estamos falando em identidades múltiplas e a divulgação e a afirmação das diferenças têm 
sido construídas cada vez mais com o aporte das mídias. Estas, de um forma geral, e de modo 
específico o jornalismo, no decorrer do século XX, começaram a buscar a objetividade, na qual 
a verdade dos fatos passou a ser uma grande preocupação. É comum ouvirmos que a mídia 
tem a função de informar para formar e não a função de opinar (ENNE, 2004). Uma vez que os 
jornais escolhem fatos a serem informados, eles criam lugares de memória e ao renegar outros ao 
esquecimento (temática que trabalharemos na próxima seção) eles contribuem para a seleção de 
memórias e histórias e, portanto, de identidades.
Outra mídia que contribuiu bastante para a construção de identidades com base na 
recuperação da memória e da História é a televisão, como afirmam Strohschoen et al. (2004, p. 2): 
“na sociedade contemporânea, a atividade do ‘fazer lembrar’ também se faz através da tecnologia 
televisiva”. Para além de criar lugares de memória, a televisão torna-se, ela própria, um lugar de 
memória. Como exemplo, podemos citar a minissérie A casa das sete mulheres, exibida pela Rede 
Globo em 2003, que abordou a Guerra dos Farrapos, tema caro à construção da identidade gaúcha 
ou mesmo a novela Terra nostra, exibida entre 1999 e 2000, também pela Rede Globo, que tratava 
da identidade dos imigrantes italianos. Assim, mesmo com as licenças de adaptação e inspiração da 
realidade das quais as minisséries e novelas fazem uso, já que são obras ficcionais, há uma dinâmica 
de referências de memória e identidade.
No entanto, há outros elementos culturais que afirmam a identidade de um sujeito ou grupo 
ao qual pertence, além da arquitetura, citamos receitas culinárias, atividades festivas (religiosas 
ou não), artesanato e estilos musicais. Se temos uma identidade múltipla, podemos tomar como 
nossos vários desses elementos ao mesmo tempo.
História, memória e identidade são conceitos interligados e, por serem polissêmicos, 
favorecem o entendimento de que somos sujeitos múltiplos porque somos fruto do que preservamos. 
Patrimônio histórico e cultural no Brasil24
1.3 Dever ou direito à memória
A expressão dever de memória foi tecida no decorrer dos anos 1990 na França. Nesse período 
havia um esforço de familiares e de vítimas francesas do holocausto em recuperar a memória de 
seus antepassados e de suas próprias histórias escritas nas celas dos campos de concentração. 
A ideia era lembrar para que não fossem repetidos os erros cometidos pelos governos nazistas 
responsáveis por torturas e genocídios e desarmar os governos seguintes que queriam propor o 
esquecimento desses fatos que maculavam as histórias nacionais.
Ainda em terreno francês, a noção do dever de memória ganhou força no início dos anos 
2000, quando um grupo de historiadores, ao todo dezenove, entre eles Jean-Pierre Vernant e Pierre 
Vidal-Naquet, lançou o manifesto Liberté pour l’Histoire (Liberdade para a História) evidenciando 
total desagravo a uma lei promulgada em fevereiro de 2004 pelo parlamento daquele país, que 
obrigava os currículos escolares a reconhecerem o papel positivo da colonização francesa no norte 
da África e em outras regiões. Tal proposta configurava o esquecimento das atrocidades praticadas 
contra os colonizados. Os autores do manifesto defendiam que não era função do Estado estabelecer 
verdades históricas que não poderiam ser comprovadas por fontes, bem pelo contrário, pois as 
fontes evidenciavam o quão negativa e devastadora foi a submissão.
Esses movimentos, para além de criar a noção de dever à memória, geraram a ideia de direito à 
memória e à História que ganhou eco no Brasil. Vários grupos iniciaram suas lutas pelo reconhecimento 
de suas histórias e seus personagens. Um exemplo que podemos citar é a promulgação da Lei n. 
10.639/03, que dispõe sobre o ensino da História da África e cultura afro-brasileira nos currículos do 
ensino fundamental e médio. Isso causou um aumento das pesquisas de mestrado e doutorado no 
país acarretando a publicação em massa de livros sobre a cultura africana e a abertura da disciplina 
História da África nos cursos superiores de História. Nesse contexto, figuras como a de Zumbi dos 
Palmares como herói nacional foram retomadas.
Muito recentemente, outro movimento que ganhou força em território brasileiro foi aquele 
pelo dever e direito à memória e à história das vítimas da ditadura. Proposições de que ela não teria 
ocorrido vêm gerando desconforto em grupos de pesquisadores de várias áreas que lutam pelos 
direitos daqueles que são a prova viva de ações do Estado.
Como podemos observar, o dever e o direito à memória e à história dentro de diferentes 
contextos, como nos exemplos francês e nacional, é assunto político. Rememorar e perpetuar 
nomes e acontecimentos não são ações que se referem apenas aos aspectos culturais, como resgate 
de tradições de Folias de Reis, Congadas etc., porque envolvem, também, o reconhecimento pelo 
dano sofrido e a necessidade de se pensar em estratégias de reparação. “Assim, a defesa ao direito à 
memória seria, antes de tudo, a defesa ao direito à identidade e à História, ao passado constituinte 
de cada povo, região, de cada pessoa” (SALES, 2015, p. 158).
Ou ainda, como nos esclarece Ivano (2015), ao analisar as proposições de Paul Ricoeur sobre 
a memória,
Odever de memória é o dever de fazer justiça, pela lembrança, a um outro 
que não o si.
Memória, história e identidade 25
O dever de memória, em segundo lugar, é referente à dívida, que por sua vez 
é inseparável da de herança. “Somos devedores de parte do que somos aos 
que nos precederam”. Por fim, a memória possui dever para com as vítimas 
(RICOEUR, 2007, p. 101-103). É neste momento, de “prioridade moral” do 
dever de memória a quem sofreu derrotas e humilhações que se impõe as regras 
históricas e sociais que tensionam a memória coletiva, ou as memórias coletivas 
que se debatem por justiça. (IVANO, 2015, p. 127)
Falar em identidade também é falar em cidadania. Por isso, é preciso que o Estado que se 
pretende e se afirma democrático proponha-se a reconhecer e a respeitar os direitos políticos, 
dentre eles o direito à memória, como também respeitar a cidadania:
acreditamos que a memória pode interferir no exercício da cidadania no mundo 
atual e no local em que vivemos, porque atribui existência ao sujeito, fazendo-o 
sentir-se agente histórico e social, o que lhe garante poder nas relações, resgata 
sua identidade, cria valores sociais relacionados ao grupo e ao espaço de 
convivência. (GOULAR; FERREIRA PERAZZO; LEMOS, 2005, p. 160)
Em suma, é certo que a prática da cidadania com base nas diferentes formas de resgatarmos 
e expressarmos nossas memórias torna-se mais evidente quando passamos a compreender que a 
memória é um direito e um dever de todos: meu, seu, nosso e do Estado.
1.3.1 O esquecimento
Se memória e história são conceitos indissociáveis, devemos, mesmo que nos pareça 
estranho, relacionar a eles um novo conceito: o de esquecimento. Já dizia Nietzsche (2005, p. 77-78): 
“é possível viver quase sem se lembrar, e mesmo viver feliz […], mas é absolutamente impossível 
viver sem esquecer”.
Mas se estamos falando em resgate da História e da memória, se vimos que temos dever e 
direito à memória, por que falar em esquecimento? Justamente porque não nos lembramos de tudo, 
porque a História passou e porque os temas tratados pelos estudiosos da História e do ser humano 
são recortados tanto pelos profissionais que “esquecem” alguns fatos e personagens quanto pela 
prática estatal de escolher o que deve ser memorado, resgatado.
Para entendermos melhor o conceito de esquecimento, vejamos como ele foi definido por 
Ricoeur (2007) conforme é possível observar, a seguir, no Quadro 2.
Quadro 2 – Paul Ricoeur e o esquecimento
Esquecimento como 
memória impedida
Esquecimento como 
memória manipulada
Esquecimento comandado
ou institucional
Nosso inconsciente “escolhe” o 
que será lembrado.
Reescrita do passado (historiografia) 
com vistas à construção de uma 
memória hegemônica.
Imposto por grupos com interesses 
evidentes ou camuflados, por 
exemplo: anistia.
Fonte: Elaborado pela autora com base em Ricoeur, 2007.
Vejamos com mais atenção a questão do esquecimento comandado. O termo anistia vem do 
grego amnestía, cujo significado é “esquecimento” e, quando derivado do latim tardio, amnestia, 
Patrimônio histórico e cultural no Brasil26
passa a significar “perdão” (GUÉRIOS, 1985). Assim, a etimologia nos remete diretamente aos 
verbos esquecer e perdoar. Se lançarmos o conceito na web, encontraremos: “Sf. 1 – Perdão geral, 
esquecimento. 2 JUR Ato do poder público que declara impuníveis determinados delitos, em geral 
por motivos políticos e, ao mesmo tempo, suspende diligências persecutórias e anula condenações” 
(TREVISAN, 2015).
No Brasil, por exemplo, a anistia foi utilizada desde o período colonial, no entanto, é com 
a Lei da Anistia promulgada em 1979 (Lei n. 6.683) que passamos a entender melhor o que é o 
esquecimento comandado ou controle da memória: o representante do Poder Executivo de um 
país seleciona, escolhe, elege os tipos de atos ilegais que lhe são convenientes para perdoar, anistiar.
Estando ciente de que existem várias tipologias ou categorizações de esquecimento, você saberia 
indicar qual seria uma das primeiras formas encontradas pelos seres humanos para não permitir que 
tudo fosse apagado da memória? A escrita. Isso mesmo. Com ela, os gregos, por exemplo, objetivaram 
registrar as tradições para que não fossem esquecidas: o registro escrito da memória levava para 
longe o esquecimento. Conceito caro aos gregos e a nós. O helenista Jean-Pierre Vernant trata do 
esquecimento referindo-se a ele como “a segunda morte”. A primeira é aquela em que o sopro da 
vida foge ao corpo e a segunda é quando os nomes e feitos são esquecidos (VERNANT, 2002). Algo 
impensável para os helenos. Os nossos costumes de visitar o túmulo de entes queridos, de colocar 
nomes e fotos nas estelas funerárias, de rezarmos em datas específicas para os mortos não são recentes. 
São ecos da Antiguidade. Na religião católica, por exemplo, há o Dia de Finados, comemorado no 
dia 2 de novembro, enquanto na Grécia existiam as Genésias, culto anual em homenagem a todos 
os mortos, quando ocorriam as visitas aos túmulos com ofertas de flores. Nesses túmulos estavam 
escritos os nomes daqueles que não deveriam ser esquecidos.
Mas não existe memória sem esquecimento. Mesmo que a escrita venha gravar nossa história 
em rochas, madeira, bronze, ferro, papiros, pergaminho, papel e até em dispositivos eletrônicos 
variados, não há a possibilidade do “tudo”. Porém, o que pode ser resgatado não pode ser enquadrado 
no bloco do “quase nada”. Se o nosso inconsciente escolhe o que deverá ser lembrado, juntemos 
o maior número de inconscientes para ao menos tentar resgatar o máximo de nossa história. 
Mesmo que historiadores ou outros profissionais façam escolhas de acontecimentos para analisar e 
interpretar, deixando outros de lado, essas lacunas estão sendo buscadas por estudiosos para tentar 
resgatar as histórias perdidas. Quanto ao esquecimento comandado, cabe a nós colocarmos em 
prática nossa cidadania reivindicando o nosso direito à História e à memória visto que são partes 
de nossa identidade.
A luta pelo direito à memória e por uma nova História contra o forçoso 
esquecimento (uma luta por Mnemosine e por Clio contra Cronos) é lutar pelos 
devidos valores de uma sociedade. Aquela que esquece está abrindo espaço para 
violações; a que lembra e reconhece seus erros reencontra a si, pois respeita o 
coletivo e o diferente. Tal luta deve estar balizada pelo entendimento de que 
a memória é um direito fundamental, pois memória é aquisição e acesso ao 
passado, é o direito de reconhecer-se como indivíduo e como agente social, é, 
em suma, o direito à dignidade humana. (SALES, 2015, p. 163)
Memória, história e identidade 27
O fantasma do esquecimento não deixará de existir. Temos que aprender a lidar com 
o que não foi resgatado ou que não pode ser, entretanto, não podemos nos conformar com os 
esquecimentos impostos.
Talvez você esteja se perguntando: Falou-se tanto em História, memória, identidade, suportes 
de memória e de História, direito e dever de memória e até mesmo de esquecimento, em qual 
desses itens se encaixa o patrimônio? Em todos eles, como podemos observar na Figura 9 a seguir.
Figura 9 – Um conceito polissêmico
Faz memorar.
É suporte da memória.
Patrimônio
É um direito.
Constrói a identidade.
Promove o pertencimento.
É suporte da História.
Traz História.
Impede o esquecimento. 
Fonte: Elaborada pela autora.
Patrimônio é História, é memória, é marca de cidadania e de identidade. Patrimônio é 
suporte de memória, é suporte da História e promove o pertencimento. Patrimônio é nosso direito 
e temos o dever de preservá-lo. O patrimônio é a arma contra o esquecimento.
Considerações finais
Você foi apresentado a alguns conceitos que precisam ser assimilados para que se 
compreendam todos os aspectos que envolvem a questão patrimonial. É importante refletir sobre 
como você se vê como um sujeito histórico, porque está na história e faz história, sua própria 
história e de todos que estão à sua volta e, consequentemente, contribui para a formação da 
identidadecoletiva que tem direito e dever à memória e à história.
Ampliando seus conhecimentos
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Khoury. Projeto História, São Paulo, n. 10, p. 7-28, dez. 1993. Disponível em: https://
revistas.pucsp.br/revph/article/viewFile/12101/8763. Acesso em: 7 out. 2019.
Nesse artigo, Pierre Nora aborda a memória das sociedades e a memória obtida por meio 
de estudos historiográficos, tratando memória e História como versões diversas de um 
mesmo evento. Em seguida, discorre sobre a memória tomada como história e os lugares 
de memória.
https://revistas.pucsp.br/revph/article/viewFile/12101/8763
https://revistas.pucsp.br/revph/article/viewFile/12101/8763
Patrimônio histórico e cultural no Brasil28
• SANTOS, T. H. N. A memória, a história, o esquecimento. RACIn, João Pessoa, v. 1, n. 
1, p. 1-8, jan./jun. 2013. Disponível em: http://racin.arquivologiauepb.com.br/edicoes/
v1_n1/racin_v1_n1_resenha01.pdf. Acesso em: 7 out. 2019.
Esse artigo é uma resenha da obra A memória, a história, o esquecimento do filósofo francês 
Paul Ricoeur, publicada no Brasil em 2007, que, de acordo com a autora, é “considerada 
uma ‘síntese’ de todas as […] obras [de Ricoeur]”. Na resenha, ela descreve e sintetiza 
todos os capítulos, apresentando o percurso realizado por Ricoeur para explicitar os três 
conceitos do título da obra.
Atividades
1. Há autores que apontam uma estreita relação entre os conceitos de história e memória, 
outros, no entanto, afirmam que há um afastamento nítido entre eles. Pierre Nora foi um 
dos grandes estudiosos da memória que se posicionou do lado daqueles que defendem o 
afastamento. Com base em seus estudos, apresente um resumo das principais proposições 
de Nora acerca desse distanciamento conceitual.
2. Em que medida os conceitos de história, memória e identidade estão relacionados?
3. Pensar em memória implica pensar em esquecimento. Esse conceito foi trabalhado de várias 
formas por diferentes autores. Qual foi a distinção estabelecida por Jean-Pierre Vernant 
sobre as duas mortes?
Referências
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Memória, história e identidade 29
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2
Patrimônio histórico e cultural: trajetória e legislação
Diante da compreensão da relação entre história, memória e identidade e do patrimônio 
como um de seus principais suportes, vamos conhecer um pouco do trajeto percorrido para que o 
patrimônio fosse tomado como uma forma de preservação do passado. Vamos entender como ele 
se materializou em nossa sociedade.
Talvez você esteja familiarizado com as expressões patrimônio cultural, patrimônio histórico, 
patrimônio da humanidade, afinal, já há algum tempo, as diferentes mídias buscam valorizar esses 
lugares, mostrando seus potenciais turísticos ou nos informando sobre acontecimentos referentes 
a eles. No ano de 2018, por exemplo, a notícia do incêndio no Museu Nacional, no Rio de Janeiro, 
provocou comoção na população pela destruição do prédio tombado em 1938 como patrimônio 
histórico e das milhares de peças que ali se encontravam.
Mas será que todos entendemos nosso conjunto patrimonial como elemento vital da nossa 
identidade? Como é a relação dos amazonenses com Ouro Preto, em Minas Gerais? E a relação 
dos paranaenses com Olinda, em Pernambuco? Será que nós, brasileiros, temos ciência de que 
o patrimônio nacional nos pertence? Esse trabalho de construção de uma identidade tomando 
por base o reconhecimento de nosso patrimônio ainda é incipiente. Que tal iniciá-la ou dar 
prosseguimento a ela entendendo a questão da origem do patrimônio?
2.1 A origem do patrimônio
Tudo o que consideramos patrimônio, seja ele cultural, histórico, natural, brasileiro ou 
da humanidade, nem sempre foi compreendido dessa maneira. Cada patrimônio tem sua data 
de nascimento e, assim como nós, para nascer, passou por um período de gestação. Em outras 
palavras, para que algo seja considerado patrimônio, é preciso que se crie um processo junto a 
órgãos específicos e que esse processo seja deferido. Alguns processos duram meses e outros, anos. 
Mesmo assim, hoje, essa possibilidade é concreta, real e garantida pela legislação dos países. 
O próprio termo patrimônio nos é familiar. E nós o utilizamos nos seus mais diferentes 
significados: “Aquela indústria viu seu patrimônio ser duplicado nos últimos anos”; “Minha família 
é o meu maior patrimônio”; “Este berço foi usado por cinco gerações, é patrimônio da nossa 
família”; “Ela trabalha aqui desde a fundação, já virou patrimônio da empresa”. Porém, isso nem 
sempre foi assim.
Esses exemplos evidenciam que o uso do conceito em nosso cotidiano como sinônimo de 
bem econômico ou propriedade particular foi historicamente construído e, com o tempo, associado 
não somente às edificações, mas também a objetos, formas de expressão, lugares e celebrações que 
dão suporte à identidade coletiva.
Patrimônio histórico e cultural no Brasil32
Você foi convidado a conhecer a origem do patrimônio e iniciará a jornada compreendendo 
a origem do conceito em terreno romano. A palavra patrimônio é resultado da junção de alguns 
termos do latim: pater, com seus múltiplos significados (chefe da família, fundador, bens de família, 
posses, herança), nomos (costume, uso, lei, valores) e moneo (lembrança). Desse modo, a palavra 
patrimonium, para os romanos, era tudo o que podia ser deixado a alguém por meio de testamento: 
de objetos a pessoas (escravizados, por exemplo) (FUNARI; PINSKY, 2005). Resumidamente, bem, 
riqueza e herança eram os três significados atribuídos à palavra.
Esses significados atribuem certo valor ao patrimônio e, considerando que ele pertence a 
um grupo, o seu valor deve ser transmitido por gerações, tornando-se a nossa herança do passado 
que, por sua vez, atribuiu a nós a tarefa de continuar transmitindo às futuras gerações esses valores.
A primeira vez que os homens tomaram ciência de que seus bens possuíam valor remonta 
à Antiguidade. Muitos dos povos antigos respeitavam os lugares sagrados de modo especial, a 
pontode procurarem preservar as edificações construídas ou mesmo o local onde um templo 
havia existido. Em terreno romano, por exemplo, a preservação de monumentos (como de arcos do 
triunfo e inúmeras colunas), erguidos para exaltar e perpetuar os triunfos dos imperadores, recebia 
atenção diferenciada (SOARES, 2018).
Ao adentrar na Idade Média, o valor histórico das edificações e demais obras da 
Antiguidade passou a ter significação diferente. Não se pensava no valor histórico das 
heranças da Antiguidade, mas em seus fins utilitários e econômicos. As próprias construções, 
encomendadas pela Igreja ou doadas a ela, como catedrais, monastérios, capelas e mesmo 
cemitérios eram valoradas devido ao fato de serem locais onde a relação com Deus podia ser 
mediada e não devido aos seus aspectos históricos (SOARES, 2018).
Ainda no medievo, em seu período tardio (a partir do século XIII), começaram a surgir 
os primeiros gabinetes de curiosidades nos quais a burguesia procurava expor objetos raros ou 
tidos como exóticos. É o início da revalorização não só de objetos como estátuas, por exemplo, 
mas dos monumentos greco-romanos, símbolos de uma civilização superior. Na Itália dos séculos 
XIV e XV, ainda que muitos edifícios do período do Império Romano tenham sido depredados 
para a retirada de materiais como o mármore, houve, em nome de um sentimento patriótico e de 
identidade, a recuperação de monumentos representativos da antiga arte do saber (SOARES, 2018). 
Observe o texto da bula papal de 28 de abril de 1462, na qual o Papa Pio II fala da preservação dos 
lugares santos da Antiguidade:
Conservar “a Cidade-mãe em sua dignidade e seu esplendor” […], “empenhar-se 
com a atenção mais vigilante”, não apenas para a “manutenção e preservação” das 
basílicas, Igrejas e todos os outros lugares santos dessa cidade, mas também para que 
as gerações futuras encontrem intactos os edifícios da Antiguidade e seus vestígios. 
Com efeito, estes, a um só tempo, “conferem à Cidade sua mais bela vestimenta e seu 
maior encanto”, estimulam a seguir os exemplos gloriosos dos antigos e, “sobretudo, 
o que é mais importante, esses mesmos edifícios nos permitem perceber melhor a 
fragilidade das coisas humanas”. (CHOAY, 2001, p. 54)
Patrimônio histórico e cultural: trajetória e legislação 33
Mas foi no século XVI, com o Renascimento italiano, que a ideia do colecionismo foi acentuada:
De um lado, moedas, inscrições, esculturas e fragmentos diversos, 
colecionados pelos artistas, humanistas e príncipes italianos, são conservados 
nos studioli, nas antecâmaras, nas cortile e nos jardins de suas residências. 
A galeria, espaço específico, só aparece no século XVI, mas acontece de 
amantes da arte do século XV mandarem construir edifícios para abrigar 
suas antiguidades. (CHOAY, 2001, p. 51, grifos do original)
Entre os séculos XVII e XVIII, os antiquários foram os responsáveis por atiçar a curiosidade 
de muitos colecionadores no tocante à história e à arte. Mais do que propiciar meros espaços de 
venda ou serem mercadores de objetos antigos, eles incitaram a necessidade de se preservar o 
passado (SANTOS, 2000).
Podemos sintetizar, assim, o percurso da construção da noção de valor patrimonial: 
primeiro, a preservação de lugares sagrados ou de monumentos voltados para a perpetuação de 
feitos de imperadores; depois, a preservação para outros fins que não os de resgatar a história: 
fins econômicos e fins utilitários; na sequência, posse e exibição de bens da Antiguidade para 
promoção político-social; preservação como símbolo de identidade; e, por fim, preservação 
para resgatar o passado. 
É interessante observar que durante todos esses séculos, na cultura ocidental, a ênfase foi 
dada à preservação de edificações e outras obras móveis (joias, estátuas etc.). Em nenhum momento 
falou-se de manifestações culturais. O que podia ser tocado era o que deveria ser preservado:
Esse quadro permaneceu basicamente inalterado até as vésperas da Segunda 
Guerra Mundial. Depois desta, como resultado da nova concepção de 
documento e dos avanços da antropologia, operou-se no campo grande 
expansão tipológica, passando a ser selecionadas como patrimônio todas as 
formas de arte e construção, eruditas ou populares, urbanas ou rurais, edifícios 
públicos ou privados, suntuosos ou utilitários. (SANT’A NNA, 2001, p. 151-152)
No que se refere à cultura oriental, desde há muito tempo a ênfase se dá ao conhecimento 
cultural, ao patrimônio incorpóreo, ou seja, no Oriente, para que a tradição, a história e a memória 
sejam perpetuadas não é necessário um bem físico, tocável. O patrimônio é constituído pelo 
conhecimento das tradições e pelas formas de reproduzi-las (FEITOZA, 2006).
Embora existam nas culturas ocidental e oriental diferenças significativas na forma de pensar 
e entender a questão da preservação, e mesmo o conceito de patrimônio, é imperativo que saibamos 
que essas noções foram construídas no decorrer da história. Conforme mudavam as visões que os 
homens tinham deles mesmos, dos espaços que habitavam, dos grupos que formavam ou dos quais 
queriam se distanciar, enfim, conforme mudavam as visões de mundo, os homens perceberam 
a necessidade de preservar seus patrimônios, mesmo que, a princípio, apenas os bens móveis e 
imóveis, excluindo-se as manifestações culturais.
studioli: sala 
particular de um 
palácio ou prédio 
destinada a assuntos 
culturais.
cortile: pátios 
internos.
Patrimônio histórico e cultural no Brasil34
2.2 O patrimônio no mundo e no Brasil
Desde que as questões patrimoniais entraram em pauta, as discussões e interesses 
limitavam-se a um grupo específico constituído por imperadores, reis, príncipes, clero, eruditos 
e artistas. Para que a noção de patrimônio ganhasse novos olhares, alguns acontecimentos 
decisivos na história do Ocidente foram basilares: na Europa, a Revolução Francesa e a Revolução 
Industrial; e, no Brasil, a vinda da família real em 1808 e a Semana de Arte Moderna de 1922.
2.2.1 O patrimônio no mundo
Apresentaremos a seguir um breve histórico do tratamento que se dava ao patrimônio antes 
que esse conceito fosse criado.
Por volta de 1750, na Inglaterra, a Revolução Industrial trouxe modificações significativas 
na arquitetura das cidades que passaram a receber, de forma desordenada, novos habitantes à 
procura de emprego nas indústrias incipientes. Muitas famílias se alojaram nas antigas edificações 
(núcleo histórico), além de ocorrer a demolição de estruturas históricas para instalação dos novos 
prédios de concreto armado e vidro. O que se viu foi uma grande transformação e degradação do 
ambiente urbano (ABREU, 2009).
Na França, a situação era de vandalismo, vivenciava-se a destruição de edifícios, parques 
e jardins, além de incêndios provocados em muitas igrejas, saques em castelos e derrubada ou 
decapitação de inúmeras estátuas. Esse era o cenário por volta de 1792, ano em que a França foi 
pioneira em promulgar uma legislação específica que compreendia o patrimônio como herança.
Com a Revolução Francesa, nasceu o conceito de patrimônio público. Esse conceito estava 
ligado àquele de monumento histórico. A ideia era que os bens móveis e os imóveis representativos 
do Antigo Regime deveriam ser considerados e conservados como bens da nação e não destruídos 
com a intenção de apagar uma parte da história da nação que se formava. Segundo Abreu (2009, 
p. 31),
opondo-se a sentimentos revolucionários que ameaçavam destruir todas as 
aquisições de épocas anteriores, alguns intelectuais insurgiram-se contra o 
vandalismo, fomentando o fervor patriótico. Assim, as heranças dos nobres 
eram apropriadas como heranças do povo de cada Estado-Nação, sendo relidas 
como sinais diacríticos. Uma nova história heroica das nações passou a ser 
construída, onde não mais os indivíduos – reis, líderes, heróis – eram os sujeitos. 
A partir de então, o novo sujeito da história era o povo.
Devido à situação degradante pela qual passava na época, toda a Europa fora atingida

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