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Histórias sobre profissionalização, sucessão, alinhamento de interesses, entrada de sócio e IPO GOvernança em emPresa famIlIar R $ 19 ,5 0 COLETÂNEA DE CASOS Esta publicação contou com o patrocínio de: 7 8 9 8 9 2 1 9 7 5 2 0 9 Sumário Abertura Os segredos da longevidade 08 Estágios de governança Primeiros passos – Halex Star 14 Conselho de família formado – Laselva 16 A caminho de um IPO – Cerradinho 18 Sucessão Sem solução à vista – Casa da Bóia 20 Crise superada – Salton 22 Tudo planejado – Seculus 24 Gestão Executivos com cabeça de sócio – Ultrapar 26 Retomando as rédeas – Schincariol 28 Muitas famílias O desafio da conciliação – Aché 30 Um acordo de acionistas poderoso – Cedro Cachoeira 32 Parcerias para crescer Sócio para somar experiência – Ancar 34 Sócio para consolidar – Ser Educacional 36 Sócio para se multiplicar – Droga Raia 38 Editorial A adoção de boas práticas de governança corporativa torna-se mais impor-tante quanto maior é o número de participantes no capital. Elas permitem disciplinar comportamentos e prevenir surpresas desagradáveis, deixando o ambiente corporativo mais estável e os acionistas mais tranquilos. Por isso a governança é um tema tão recorrente na vida de uma companhia aberta. E, pelas mesmas razões, deveria fazer parte do dia a dia das empresas familiares, princi- palmente aquelas que atravessaram gerações e atingiram um elevado número de herdeiros e agregados. Nesta edição especial, reunimos casos de empresas familiares em diversos estágios de governança. Para chegar a eles, definimos previamente as situações que gostaríamos de retratar — por exemplo, a formação de um conselho de famí- lia, os preparativos para um IPO, a decisão de sair ou ficar na gestão, o processo sucessório, a busca de um sócio capitalista ou estratégico. A seleção dos casos apresentados partiu de uma série de indicações feitas por consultores e espe- cialistas em empresas familiares. Não nos propomos a contar apenas histórias de excelência, ao contrário. O objetivo é expor as diversas experiências de uma empresa familiar, com suas virtudes e seus defeitos. Esta é a sexta edição da série Coletânea de Casos, que já contou histórias de IPOs, relações com investidores (RI), investimentos de private equity, governan- ça corporativa, conselhos de administração e, agora, governança em empresas familiares. Esperamos que os acontecimentos aqui revelados venham a servir de inspiração e ensinamento para outras empresas familiares engajadas — ou, ao menos, interessadas — em aperfeiçoar seus modelos de organização. Simone Azevedo Histórias de família Editores Simone Azevedo - sazevedo@capitalaberto.com.br - e Danilo Gregório • Editora-assistente Luciana Tanoue • Reportagem André Sendoda, Carolina Bridi, Chris Martinez, Juliana Ennes, Luciana Del Caro, Natália Mello, Rodrigo Rodrigues • Diagramação Manoel Carlos - manoel@macro.ppg.br • Ilustrações Alex Silva - artalexsilva@uol.com.br • Infografias Eric Peleias - epeleias@ capitalaberto.com.br • Impressão Duograf Gráfica e Editora • Impresso em papel Couche Matte L2, 115 g/m² da Suzano Papel e Celulose, produzido a partir de florestas renováveis de eucalipto - Cada árvore utilizada foi plantada para este fim • Tiragem 6.200 exemplares • Data de fechamento 05/05/2010 GovERnança Em EmpREsa FamIlIaR é uma publicação da Revista Capital Aberto • Ano 2 / Número 16 • Endereço Rua Schilling, 413, Cj. 1405, Vila Leopoldina, São Paulo, SP, Brasil, CEP 05302-001 • Contatos Tel. 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Conflitos entre parentes podem levar um próspero negócio à decadência, e uma forma de evitar isso é separando a família da proprie- dade e da gestão. No Brasil, tal segregação avança aos poucos. Se, por um lado, a conscientização sobre essa necessidade é crescente, por outro os progressos em governança corporativa nem sempre são feitos sobre bases sólidas. Apesar de muitas empresas terem aberto o capital na última década, criando conselhos de administração e de família, falta fazer com que esses órgãos funcionem de forma efetiva. A boa governança se torna uma questão ainda mais complexa nas empresas familiares. Além de afinar a relação entre gestão e propriedade, como em qualquer companhia, é preciso administrar questões da família. “O risco dessas compa- nhias é maior, pois a família pode se colocar em primeiro lugar”, diz Alexandre di Miceli, professor doutor da FEA-USP. Para ele, muitas empresas familiares brasileiras viram na governança corporativa um caminho para abrir o capital. Chamaram bancos de investimento, mudaram estatutos e criaram conselhos, mas não fizeram um trabalho mais profundo para modificar as relações entre as três esferas de poder — família, propriedade e gestão. 10 Governança em empresa familiar • MAIO 2010 A avaliação de Luiz Marcatti, da consultoria Mesa Corporate Governance, vai na mesma di- reção: “Mesmo nos IPOs feitos recentemente, ainda encontramos familiares que tomam decisões de forma centralizada e que reagem com irritação ao terem de prestar informações e ao serem criticados por analistas”, afirma. Até por con- ta das regras e pressões do merca- do, eles estão sendo forçados a se enquadrar. Mas, quando se trata de mudança de comportamento, a conscientização é lenta. “Ainda é preciso haver uma mudança real de atitude e de percepção do valor que a governança traz para a em- presa. Os resultados não aparecem rapidamente”, diz. Wagner Teixeira, sócio da Höft Consultoria, lembra que os aspectos de governança corporativa tam- pouco são levados em conta com seriedade por todos os investidores. Enquanto alguns, geralmente com foco no longo prazo, costumam se debruçar sobre os acordos de acionistas para verificar o grau de ingerência da família no negócio, outros dão maior peso à história da companhia e ao resultado das emis- sões de ações recentes, acreditando que não haverá conflito enquanto os lucros estiverem enchendo os bolsos dos familiares. Esquecem que, se a família se en- tender de forma precária e não houver mecanismos de salvaguarda funcionando, a empresa corre forte risco de sucumbir no médio prazo. poucos sobreviventes — A elevada mortandade de empresas familiares é um fenômeno mundial. Estima-se que somente 60% dessas companhias passam para os filhos dos fundadores e, destas, 30% chegam até os netos. Ou seja, somente 18% delas atingem a terceira geração, e a principal causa da baixa sobrevivência são as brigas entre familiares. Abrir o capital pode ser uma forma de elevar os ní- veis de governança corporativa, reduzindo conflitos e aumentando as possibilidades de que a empresa perdure. No entanto, especialistas consideram que a ida ao mercado deve ser o resultado de um processo consciente e profundo de reformulação. “A abertura de capital pode se tornar uma armadilha quando os sócios não conseguem se entender como tal. É um suicídio se não houver um modelo de governança familiar”, afirma o professor Edu- ardo Najjar, coordenador daárea de educação executiva da ESPM. Para ele, existe uma profunda falta de informação das famílias empresá- rias sobre a necessidade de separar família, sociedade e gestão. A ad- missão de novos sócios, via mercado de capitais, só deveria ocorrer após essa separação. Família, propriedade e gestão costumam ser um emaranhado, principalmente, no estágio inicial da empresa. O benefício da se- gregação é evitar que conflitos na família atinjam a companhia e o patrimônio de todos. Especialis- tas na área dizem que isso pode ser feito por meio da criação — e do efetivo funcionamento — de fóruns específicos: a diretoria, o conselho de família e o conselho de administração. Com cada assunto circunscrito a um grupo, os atritos se reduzem. Questões emocionais e os históricos de relacionamento que tanto influenciam os executivos da família passam a pesar menos. A gestão se torna mais técnica. Não se fala mais sobre a firma nos almoços de domingo. Para se chegar a esse ponto, é necessário per- correr um árduo caminho. O primeiro passo é a compreensão, pela família, da importância dessa separação — o que só ocorre quando há abertura para o diálogo. Nos demais casos, quem conversa são os advogados. Quando a família está sensibilizada para a questão, ela discute regras, comportamentos e condutas desejáveis e aceitáveis. Pode redigir um protocolo com a sua estrutura de governança e, depois, formalizar tudo num acordo de acionistas. Criar conselhos que façam sentido, como os de administração e de família ou sócios. O processo inverso, no qual a criação dos conselhos precede os entendimentos familiares, pode resultar em pouca governança e falta de funcionamento efetivo dos órgãos. “A abertura de capital pode se tornar uma armadilha quando os sócios não se entendem como tal” Apenas 60% das empresas familiares passam para os filhos dos fundadores e, destas, 30% chegam aos netos O Bonsai reflete perfeitamente nossa proposta de atuar como uma “boutique”: uma empresa que quer permanecer pequena e potencializar as características de uma grande empresa, como solidez, comprometimento, evolução, método, qualidade, maturidade e credibilidade. Consultoria em Transações Societárias e Auditoria Independente Rua Flórida, 1.758 – 1º andar – CEP 04565-001 – São Paulo – SP Tel 55 11 5102-0007 Fax 55 11 5102-0094 www.hirashima.com.br Contábil Finanças Corporativas Tra bal his ta e Pre vid enc iári a Consultorias Especiais Tributária anuncio_hirashima_meia_pag.indd 1 29/4/2010 12:19:00 intenções formalizadas — O acordo de acionistas é crucial para as empresas que querem elevar seu nível de governança. “O processo de elaboração do texto é mais importante até que o próprio acordo, pois nele a família aprende a conversar”, afirma Najjar. Consultores dizem que um acordo de acio- nistas bem feito deve tratar das questões mais prosaicas e ser extremamente detalhado. Marcatti costuma dividir o acordo em três grandes blocos: o dos aspectos legais da sociedade, o das combina- ções e acordos entre família e o das condições da participação dos sócios. No bloco das combinações, devem constar assuntos como as condições para o ingresso dos familiares no quadro de funcionários da empresa, o funcionamento e a composição do conselho de ad- ministração, a forma de aprovação do orçamento e dos investimentos da companhia, como será definida a distribuição de lucros, e as operações com partes relacionadas (como a possibilidade de a empresa fazer empréstimos para os parentes). Na parte que trata do mercado, são especifica- das regras de saída dos sócios: a obrigatoriedade de vender as cotas ou ações para os demais membros da família, se o acionista que está saindo pode abrir um negócio no mesmo ramo de atuação e, ainda, as regras para cálculo do valor da participação de quem está indo embora. Quanto mais acionistas participarem do pro- cesso de elaboração do acordo, e quanto mais bem mediadas forem as discussões, maior a probabili- dade de que os signatários tenham disposição de cumpri-lo. O bom acordo, diz Marcatti, é aquele que, além de tecnicamente perfeito do ponto de vista jurídico, representa a vontade dos sócios: “O acordo deve ser um consenso da maioria, no qual cada familiar abre mão de algum ponto, mas sente que sua vontade está representada”. O acordo é o ponto de partida para o estabeleci- mento do conselho de administração — que pode, nas companhias fechadas, ser apenas consultivo, sem ter caráter deliberativo. “O conselho consultivo pode ser uma forma de aprendizado”, afirma Rober- ta Nioac Prado, da GV Law. Ou seja, serve para que o controlador aprenda a escutar opiniões de pessoas de fora da família, com experiência no mercado. um olhar de fora — Para que sua atuação seja mais efetiva, no entanto, o ideal é que o conselho seja deliberativo, exercendo o papel de avaliar a direção e de estabelecer diretrizes de longo prazo. Além disso, é recomendável que ele tenha mem- bros independentes, nos moldes preconizados pelo 12 Governança em empresa familiar • MAIO 2010 Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC). “No conselho de administração de uma empresa familiar, a figura do conselheiro independente adquire ainda mais importância”, diz di Miceli. Além de trazer sua bagagem e visão de mercado, o independente constrange os demais membros a discutir somente os assuntos rele- vantes para a empresa. Sua opinião adquire um peso maior e retira muito dos aspectos emocionais que levam os conselheiros da família a apoiarem ou rejeitarem propostas dos parentes. Ele também amplia a isenção no processo de avaliação do desempenho dos executivos da famí- lia. Frequentemente, os conselheiros são parentes do principal executivo, o que torna a sua avaliação, no mí- nimo, enviesada. Fortalecer os conselhos de admi- nistração é um dos desafios para as empresas brasileiras: “Muitos dos conselhos são constituídos só por acionistas e não têm a independência e a disciplina necessária para cum- prir seu papel”, afirma Elismar Alva- res da Silva Campos, coordenadora do núcleo de governança corporativa da Fundação Dom Cabral. “Precisamos evoluir na forma- ção de conselheiros de administra- ção”, acredita Marcatti. Cabe aos conselheiros da família entender o seu papel, estudar mais sobre finanças e contabilidade e sobre o merca- do em que a empresa atua. Aos poucos, a percepção sobre a importância de buscar a qualificação dos conselheiros cresce nas companhias familiares, tanto abertas quanto fechadas. No ano passado, 40% dos participantes do curso de formação de conselheiros do IBGC eram de empresas familiares. menos confiança, mais desempenho — No âmbito da gestão, consultores concordam que uma condi- ção essencial para elevar o patamar de governança corporativa é a profissionalização — entendida não necessariamente como a demissão dos parentes, mas sim como a instituição de critérios para o ingresso de familiares, com política de remuneração e plano de carreira condizentes aos dos demais funcionários. Algumas companhias optam por uma postura mais radical e vetam o acesso de qualquer familiar a cargos executivos. Uma pesquisa feita pela Fun- dação Dom Cabral sobre a longe- vidade de dez empresas familiares brasileiras que estão na terceira geração identificou que, em todas, houve ruptura de modelos baseados na confiança e na lealdade entre os membros da família para aqueles em que prevalecem os critérios de desempenho. “Essas famílias des- cobriram que os cargos de gestão podem ser supridos pelo mercado, e que o principal problema é a pre- paração para isso”, afirma Elismar Campos. O terceiro órgão que promove a segregação é o conselho de família, que visa a discutir assuntos que só dizem respeito aos seus integrantes, evitando que essas questões in- fluenciem a empresa. O conselho de família ainda não é frequentemente adotadono Brasil. E, mesmo nos conselhos existentes, há tendência para a inoperância. A Höft, por exemplo, foi contratada no ano passado para colocar em funciona- mento conselhos que já existiam, mas não funcionavam. “O conselho de família é impor- tante para resolver os casos de con- fusão patrimonial”, afirma Roberta Prado. É comum os bens de uso dos sócios estarem misturados aos da sociedade. Casas de praia e fazendas, por exemplo, mesclados aos ativos da empresa. Acionistas retirando dinheiro no caixa para passar o fim de semana. Tudo isso deve ser resolvido pelo conselho de família. Outra vantagem desse instituto é a redução da assimetria de informa- ções entre os familiares que trabalham na empresa e aqueles que são somente acionistas. Geralmente, cada ramo da família escolhe o seu representante para o conselho de família. Esse organismo funciona com maior ou menor grau de formalidade dependendo do tamanho da família. Alguns consideram que sua instalação vale a pena quando há mais de 30 membros, ou seja, quando a empresa já está por volta da terceira gera- ção, e os interesses dos parentes são muito díspares. Nesses casos, recomenda-se que as reuniões sejam formais, inclusive com redação de ata. Profissionalizar não é necessariamente demitir os parentes, mas sim instituir critérios para o ingresso de familiares na gestão O conselheiro independente constrange os demais membros a discutir somente os assuntos relevantes para a empresa 14 Governança em empresa familiar • MAIO 2010 Resultado da união de duas famílias diferentes, e com três gerações na gestão, laboratório Halex Istar inicia um projeto de governança corporativa Por Juliana Ennes EstágIOs dE gOvErnAnçA O nome já conta um pouco da história. O laboratório farmacêutico Halex Istar é o resultado da união da indústria química Istar, fundada em 1959, e do laboratório Halex, de 1967. Desde 1970, as duas empresas familiares juntaram-se em um único grupo, controlado meio a meio pelas famílias de seus fundadores, Zanone de Carvalho e Heno Jácomo Perillo. A indústria Decisão tomada química que fabrica as chamadas soluções paren- terais — como a produção de bolsas de sangue e a industrialização de soro em frasco plástico — nas- ceu com o objetivo de alcançar o mercado nacional. Começou a deslanchar nos anos 1990 e, hoje, tem mais de 900 funcionários, uma área superior a 50 mil metros quadrados construída no Estado de Goiás e filiais comerciais em São Paulo, Rio de C A r lO s C O st A MAIO 2010 • Governança em empresa familiar 15 Zanone de Carvalho Junior, filho do fundador: o primeiro passo é a implementação de um acordo de acionistas, de um conselho de administração e de um conselho de família HAlEX IstAr Janeiro e Recife. A gestão, no entanto, não acom- panhou os investimentos tecnológicos realizados na linha de produção. O comando composto de duas famílias não se encaixa mais na estrutura alcançada, e os sócios reconhecem que é preciso profissionalizar as tomadas de decisão. A necessidade de captar recursos também estimula um novo modelo de governança. A Halex Istar busca expansão para além do crescimento orgânico e, se houver neces- sidade, vai atrás de parceiros para isso, afirma o superintendente comercial, filho de um dos fun- dadores, Zanone Júnior. A empresa vem ampliando seus negócios a um ritmo acima de 20% nos últimos anos. Em 2009, o avanço foi de 25%. Para este ano, a expectativa é de mais 25%. “Queremos estar com a empresa pronta para aproveitar as oportunidades que surgirem”, diz Zanone. A Halex Istar foi líder no segmento de soluções parenterais de grande volume até 2008 e quer retomar esse posto. O plano é alcançar mais de 20% de market share em 2011, quando uma nova fábrica, capaz de dobrar a sua capacidade produti- va, estará em funcionamento pleno. Em construção, a unidade conta com recursos do BNDES. A visão sobre uma nova forma de governança surgiu há dois anos, mas só em outubro passado foi contratada uma consultoria para orientar esse caminho. Até hoje, a companhia não conta com a figura de um presidente executivo, e a gestão vem sendo feita de forma quase instintiva pelas famílias. “Os sócios não conheciam governança corporativa. A consultoria ainda está mostrando quais são as vantagens, enquanto passamos pelo processo de im- plementação”, admite Zanone. Os primeiros passos são a implementação de um acordo de acionistas, de um conselho de administração e de um conselho de família. O projeto total tem previsão de 18 meses. Zanone Júnior trabalha na companhia desde 1991, quando entrou na faculdade. Os sócios ori- ginais, além de três pessoas da segunda geração das famílias e duas da terceira, participam con- juntamente dos processos decisórios e atuam, na prática, como conselheiros, mesmo sem haver um conselho de administração formalmente constituí- do. A ideia é que este órgão, quando implementado, atue com cinco pessoas, sendo três das famílias e dois externos. Outro objetivo é definir as bases para um plano de sucessão dos executivos, além de implementar regras para o ingresso de novos membros das famílias. Até então, não há orientação vocacional dos mais jovens. O próprio Zanone fez a escolha pessoal de cursar faculdade e pós-graduação, mas toda sua experiência profissional foi na empresa. Ele aproveitou o acúmulo de conhecimento da companhia no ramo farmacêutico, de mais de 40 anos, para se especializar. Espera-se também que a governança melhore as relações entre os sócios. A gestão por duas famílias, com integrantes da primeira, segunda e terceira gerações, provoca, em várias situações, alguns atritos. “Toda sociedade tem seus conflitos, mas isso tem sido perfeitamente administrado por nós”, garante o superintendente. Ele está certo, porém, de que a instituição de um conselho de adminis- tração vai facilitar as coisas. Álbum de família Halex Istar Família(s) controladora(s) Carvalho e Perillo Participação da família 100% Setor de atuação Farmacêutico Faturamento líquido em 2009 n.d. Ano de fundação 1970 16 Governança em empresa familiar • MAIO 2010 Segunda geração da Laselva aposta na criação de um conselho para alinhar os interesses das três famílias herdeiras Por Carolina Bridi EstágIOs dE gOvErnAnçA Em meados de 1998, a primeira e a segun-da geração da família de Onofrio Laselva perceberam que tinham dois caminhos: ou a empresa se profissionalizava ou os conflitos poderiam jogar por terra a organização fundada a partir da visão empreendedora do patriarca italiano. Fez-se, então, um pacto: agir somente em prol da empresa, com base nos valores do “ser” (que incluem honestidade, coragem, autodisciplina e fidelidade, Pacto de valores conforme a definição dos Laselva) e da “doação” (lealdade, respeito, justiça e perdão). Estava selado um acordo entre irmãos e primos. A companhia era administrada pelos três filhos de Onofrio. “Percebemos que aquele cabide de empregos familiar não faria bem para a saúde da empresa�, diz Marcia Laselva, membro do conselho de família. Boas práticas de governança corporativa começaram a ser implementadas de forma intuitiva. g r Eg s A lI b IA n MAIO 2010 • Governança em empresa familiar 17 Marcia Laselva, membro do conselho de família, re- conhece o longo caminho que tem à frente quando o assunto é a implantação de melhores práticas de gestão. “Antes tarde do que nunca”, afirma lAsElvA De comum acordo, foi eleito um representante de cada uma das famílias dos três filhos do fundador para representá-las num conselho de família. Os primos Marcia, Onofrio e Fernando passaram por um processo de seleção e avaliação comandado por uma consultoria especializada até se tornarem os três representantes escolhidos. Desde então, a rotina de conflitos faz parte do passado. O faturamento saiu de R$ 36 milhões, em 2000, para R$ 140 milhões, em 2009. “A partir do momentoem que instituímos um representante por família, tudo melhorou. Cada um deles leva para a sua família os pontos principais a serem discutidos e decide com esse grupo”, avalia Marcia. As mudanças intensas e a disposição da nova geração para expandir os negócios motivaram a con- fiança de pais e tios que, aos poucos, desligavam-se da gestão. Em 2000, a empresa já era completamente administrada pela segunda geração. Todas as deci- sões eram compartilhadas, assim como a sala em que trabalhavam. Com energia de sobra, a nova gestão deu início ao crescimento e à modernização dos pontos de venda. Até que percebeu a hora certa de formar um conselho de administração. Em 2009, mais uma vez, a família teve a necessidade de evoluir. Era preciso cuidar da estratégia da empresa e contratar execu- tivos de mercado para as operações do dia a dia. Com 100% do capital compartilhado entre as três famílias, a Laselva tem a sua estrutura de gestão também dividida: a diretoria executiva (es- truturada em diretoria comercial e de operações); a diretoria administrativa financeira; e uma equipe de gestores internos, que compõem os comitês de gestão de riscos e de compras. Mais um comitê está em fase de estruturação — o da editora do grupo. Não existe a figura do presidente executivo, mas esse é o próximo passo na evolução da governança, segundo Marcia. São os diretores de cada área que remetem aos familiares as informações para a tomada de deci- sões. Com pelo menos uma reunião semanal entre conselho e diretoria, Marcia e os primos continuam muito ligados à rotina da administração. “Ainda é di- fícil para nós, mas estamos aos poucos trabalhando o distanciamento do dia a dia da empresa”. Desde 2008, a Laselva vem passando por um pro- cesso de reestruturação financeira, organizacional e de governança. O balanço de 2009 será o primeiro a ser auditado. Marcia reconhece o longo caminho que tem à frente quando o assunto é a implantação de melhores práticas de gestão. “Antes tarde do que nunca”, afirma. Dentre os próximos desafios, está a instituição de um plano de sucessão, previsto para começar em 2011. Existe também o projeto de buscar um conselheiro independente para integrar o conselho de administração, recém-criado e com- posto, por enquanto, apenas de familiares. “Não faríamos uma outra Laselva nos dias de hoje”. Marcia refere-se à trajetória de construção de um negócio prestes a completar 63 anos de existên- cia a partir da visão empreendedora do avô — um imigrante italiano que vendia jornais no centro de São Paulo e morava nos arredores do aeroporto de Congonhas, cercado de ruas de terra batida na época. Em um dia do ano de 1947, ele foi com a família ao aeroporto assistir a um voo inaugural e se deparou com um vendedor ambulante de jornais na porta do saguão. Ágil e certo de sua visão de futuro, negociou o ponto e iniciou uma nova história para a família. Hoje, três netos cuidam do relacionamento fami- liar, com o intuito de perpetuar o negócio do avô. A todo custo, lutam para manter a empresa sem interfe- rência financeira de partes relacionadas, atuando de forma independente das famílias e vice-versa. “Não queremos abrir precedentes. Privilégios? Nem pen- sar”, defende Marcia. Sua palavra-chave para crescer é criatividade. Mas ela sabe que ainda há um voca- bulário inteiro de boas práticas a trilhar. Laselva Família(s) controladora(s) Laselva Participação da família 100% Setor de atuação Livreiro Faturamento líquido em 2009 R$ 140 milhões Ano de fundação 1947 Á lbu m de fa mí lia 18 Governança em empresa familiar • MAIO 2010 Sem intenção de deixar a empresa, fundadores da Cerradinho profissionalizam a gestão para captar recursos em bolsa — e não serem alvos de uma consolidação Por Juliana Ennes EstágIOs dE gOvErnAnçA Ser o consolidador, não o consolidado”. Foi esse o desejo que levou a pequena unidade de produção de açúcar, comprada por José Fer- nandes em 1970, a transformar-se em um complexo industrial de açúcar, álcool e cogeração de energia elétrica que projeta faturar quase R$ 1 bilhão no próximo ano fiscal. É também essa ambição que move o presidente da Cerradinho, Luciano Sanches Fernandes, filho do fundador, a planejar o passo Preparativos para o IPO seguinte. Agora ele quer abrir o capital, para crescer ainda mais. Não por acaso a empresa vem passando por uma série de transformações. Foram criados um conselho de família e um conselho de administração, contra- tados diretores e conselheiros externos — tudo para sustentar o crescimento de quase 30% registrado em 2009. No ano passado, o faturamento líquido projeta- do alcançou R$ 730 milhões (o valor efetivo ainda não “ g r Eg s A lI b IA n MAIO 2010 • Governança em empresa familiar 19 Luciano Sanches, presidente, e Denise Francisco, diretora: objetivo dos sócios é abrir cerca de 30% do capital para investidores. “Esse é o caminho natural. Estamos nos estruturando, porque nunca sabemos quando o mercado estará propício” cErrAdInhO foi contabilizado, porque o ano fiscal da companhia, baseado na safra da cana, vai de maio a abril). Para o mesmo período entre 2010 e 2011, o faturamento é estimado em R$ 930 milhões. A profissionalização da Cerradinho começou em 2004, quando a família Fernandes, detentora de 100% do negócio, decidiu construir uma nova unidade de produção. O projeto de ampliação levou à contratação de uma consultoria para desenhar as mudanças na estrutura empresarial. Naquele ano, foi instituída uma diretoria profissionalizada. O conselho de família foi formado há pouco mais de seis meses, para segregar os interesses familiares dos empresariais. A holding Cerradinho abriga a Usina Cerradinho, a unidade Catanduva e a unidade Potirendaba, ambas em São Paulo, além da Usina Porto das Águas, em Chapado do Céu, no Estado de Goiás. Luciano começou a trabalhar na empresa em 1986, aos 18 anos, quando assumiu a presidência, ainda no primeiro ano da faculdade de Agronomia da USP. Havia sofrido a morte precoce do irmão, que entrara no lugar do pai, o fundador da companhia, já falecido. Hoje, aos 42 anos, Luciano não planeja sair da companhia, nem pensa em alguém para ocupar a presidência em seu lugar. Mas o conselho de família começou a tratar o tema da sucessão, cuidando da formação acadêmica dos mais jovens. “Temos regras definidas para a entrada de novos familiares na empresa”, conta. No processo de profissionalização, foi criado o conselho de administração, composto de três mem- bros da família — os irmãos Luciano, Andréa e Silma- ra Sanches Fernandes — e um conselheiro indepen- dente, o ex-presidente da Suzano Petroquímica, João Nogueira Batista. Embora o grupo dê por encerradas as principais reformas de governança, pretende ainda contratar um quinto conselheiro, também de fora da família controladora. Em setembro passado, Denise Francisco foi con- tratada como diretora administrativa e financeira. “Meu papel é fazer com que o grupo se perpetue, independente da família”, afirma. Ela conta que a im- plementação de práticas de governança na Cerradinho surgiu com a necessidade de acessar novas fontes de captação, para sustentar o crescimento. Foi aí que eles começaram a se estruturar para um dia ofertar ações na bolsa de valores. Hoje, o objetivo dos sócios é abrir cerca de 30% do capital para investidores. “Esse é o caminho natural. Estamos nos estruturando para isso, porque nunca sabemos quando o mercado estará propício”, diz Luciano. No seu horizonte, o lançamento pode acontecer dentro de um a três anos. O grupo processa 10 milhões de toneladas de cana por safra atualmente. O objetivo é chegar a 12,5 milhões, atingindo a plenitu- de da capacidade industrial. A companhia detém apenas 7% das terras utilizadas para o cultivo da cana necessária para moagem e é dona de cer- ca de 70% da cana cultivada em terras arrendadas por ter- ceiros, em parcerias de longo prazo. Seguindoesse modelo, a captação de recursos não tem como objetivo aumen- tar a quantidade de terras próprias, mas sim a compra de cana. “Mas para isso pre- cisamos de uma governança evidente”, ressalta Denise. Grupo Cerradinho Família(s) controladora(s) Fernandes Participação da família 100% Setor de atuação Açúcar, álcool e cogeração de energia elétrica Faturamento líquido em 2009 R$ 730 milhões (projetado para o exercício social encerrado em abril de 2010) Ano de fundação 1970 20 Governança em empresa familiar • MAIO 2010 Único acionista e pai de uma menina de 12 anos aspirante a estilista, Mário Rizkallah não tem substituto para assumir o comando da centenária Casa da Bóia Por Chris Martinez SuceSSãO O neto do fundador da Casa da Bóia, Mário Roberto Rizkallah, tem um ponto de inter-rogação em sua mente. Nada que lhe tire o sono, ainda. Mas, de uns tempos pra cá, ele começou a pensar que o comércio fundado em 1898 por seu avô, o imigrante sírio Rizkallah Jorge Tahan, está sem candidatos ao posto de principal executivo, hoje ocu- pado por ele próprio. Aos 59 anos, com apenas uma filha — de 12 anos e, ao que tudo indica, propensa a seguir a carreira de estilista ou de artista plástica, como a mãe —, o herdeiro se vê sem sucessor. Não se sabe, portanto, se a empresa chegará à quarta geração. Desde 2007, o controle da Casa da Bóia está con- centrado nas mãos de Mário. Ao longo da última déca- Sem candidatos da, ele veio comprando participação de seus parentes, incluindo primos e seus outros três irmãos, sendo duas mulheres. Ficou praticamente sozinho no capital da empresa, que nasceu como a primeira fabricante de artigos de cobre do Brasil, mas atualmente se limita a uma loja que vende mais de 5 mil itens (entre conexões hidráulicas, fios de cobre, vergalhões e até peças de de- coração feitas em cobre) e tem 40 funcionários. Detém 85% da Milas Participações, a holding que abarca a Casa da Bóia. Os 15% restantes cabem ao seu irmão que, na condição de interdito por problemas de saúde, é representado por uma das irmãs, a Maria Tereza. A solidão de Mário no comando e na concentração dos negócios começou por vontade própria, em 1993, G r eG S A lI b IA n MAIO 2010 • Governança em empresa familiar 21 Mário Roberto Rizkallah, neto do fundador: sua solidão no comando começou por vontade própria, quando ele fez um acordo com os familiares para ficar com a empresa cASA dA bóIA quando ele, aos 42 anos, achou que era hora de dar uma virada na empresa. “Era um negócio pequeno e não dava para sustentar o crescimento da família”, diz o caçula de um dos filhos do fundador. “A empresa chegou a passar por dificuldades”, recorda. Foi então que ele, com o consentimento da família, solicitou à consultoria PricewaterhouseCoopers uma avaliação detalhada dos ativos. “Queríamos um respaldo técnico.” O patriarca e mentor da Casa da Bóia, Rizkallah Jorge Tahan (em famílias árabes é comum o primei- ro nome virar, depois, sobrenome) teve três filhos: Jorge, Nagib e Salim. O tronco constituído por Jorge nunca participou ativamente da Casa da Bóia — de seus cinco filhos, um deles, Alfredo, foi presidente da Bovespa duas vezes (de 1973 a 1976 e de 1996 a 2001). A filha dele, Renata Rizkallah, hoje está no conselho da BM&FBovespa. Os negócios ficaram, então, nas mãos de Nagib e Salim. Tudo correu bem enquanto o comando estava po- larizado entre os dois. Os problemas vieram depois. E, segundo Mario, o empecilho foi um “generation gap” que houve entre os descendentes desses dois irmãos. A diferença de idade de Mario (filho de Nagib) para o primo Antonio é de 21 anos. “É natural que tivés- semos modos de pensar distintos”, justifica. “Havia dificuldades de comunicação.” Os antagonismos na metodologia de gestão entre os primos que assumiram a Casa da Bóia começa- ram a interferir nos negócios e, de um certo modo, nas relações familiares. “Levava esses conflitos para a terapia”, revela Mário. Ele lembra que empresas familiares carregam muitos componentes emocionais que regem os conceitos dos laços de sangue — com a família não se pode brigar. “Eu não estava feliz e propus mudanças.” Foi assim que ele fez um acerto de contas com o primo e as irmãs e ficou com a Casa da Bóia. Mario diz que ainda não houve oportunidade e tampouco estrutura financeira para uma empresa de porte médio, como a sua, implementar as estruturas de governança corporativa. Os negócios da Casa da Bóia seguem, agora, um ritmo tranquilo. A loja continua no mesmo endereço — um casarão estilo “art noveau”, na rua Florêncio de Abreu, centro de velho de São Paulo. Uma casa que, até 1920, tinha a parte superior reservada à residência da família. É a mais antiga loja comercial da cidade, e sua fachada foi tombada pelo patrimônio. Apesar da fama, a boia (usada em sistemas hi- dráulicos, como caixas d’água) não é mais o principal produto vendido na loja. Desde 1950, a empresa deixou de ser indústria. Daquela época, o empresário preserva as vendas feitas no antigo balcão, mas o coração do negócio está numa central de telema- rketing que responde por 90% das comercializações para todo o País. Ir até a loja pode ser um passeio no tempo. Na parte superior, um pequeno museu conta um pouco da história daquela que foi a pri- meira fundição de cobre do Brasil. Ali, produziam-se arandelas, gradis e candelabros. A grande oportunidade da Casa da Bóia surgiu em 1903, quando o governo de Rodrigues Alves, pre- sidente do Estado de São Paulo, decidiu melhorar as condições de limpeza da cidade e erradicar a febre amarela, abrindo espaço para que a empre- sa começasse a produzir material sanitário. Hoje, embora o seu principal negócio seja a distribui- ção de metais não ferro- sos vendidos por telema- rketing, o consumidor fi- nal pode adquirir, na loja, produtos como tornei- ras, boias, ferramentas e artefatos elétricos. Casa da Boia Família(s) controladora(s) Rizkallah Participação da família 100% Setor de atuação Comércio varejista Faturamento líquido em 2009 n.d. Ano de fundação 1898 22 Governança em empresa familiar • MAIO 2010 Com o apoio de um colegiado bem estruturado para comandá-la, a Salton superou a morte de seu presidente e ainda aumentou as vendas Por Rodrigo Rodrigues SuceSSãO No alicerce das empresas familiares bem-su-cedidas encontra-se, quase que invariavel-mente, a figura de um grande líder. É ele o responsável por promover mudanças fundamentais na trajetória da empresa, que sob sua influência se solidifica como uma extensão dele próprio, de seus sonhos e de sua personalidade. A presença desse personagem é crucial, e sua ausência também o é. A Vinícola Salton conscientizou-se plenamente disso quando Ângelo Salton, diretor-presidente e um dos herdeiros do grupo, faleceu em fevereiro de 2009. Muitos clientes pensaram que seria o fim da empresa. Vítima de um enfarte, o empresário Um brinde ao conselho foi o principal responsável pelo salto de qualidade da Salton nos últimos dez anos. Com faro apurado para os negócios, transformou a velha fábrica de imigrantes italianos, fundada por seu avô em 1910, numa das maiores vinícolas do País, responsável por 40% do mercado de espumantes. Conquistando prêmios internacionais com seus produtos, contri- buiu para romper o dogma de que o vinho brasileiro era de baixa qualidade. Após sua morte, a grande dúvida não era apenas quem seria o sucessor, mas se este teria compe- tência para manter a excelência conquistada pela Salton. Mas a crise foi superada apenas dois me- d Iv u lg A ç ã O MAIO 2010 • Governança em empresa familiar 23 Daniel Salton, presidente: “Num momento difícil como aquele, sabíamos que a decisão mais acertada seria aquela tomada em conjunto.” SAltOn ses após a morte do líder, com a eleição de Daniel Salton, primo de Ângelo, para o cargo de diretor- presidente. A nomeação se deu por unanimidade no conselhode administração, que é 100% composto de familiares herdeiros. O processo forçado de sucessão expôs, segundo o vencedor do pleito, o papel fundamental do con- selho no gerenciamento dos negócios da família. “Num momento difícil como aquele, tentamos deixar a dor de lado porque sabíamos que a decisão mais acertada seria aquela tomada em conjunto. Independente de quem fosse indicado, era certo que o eleito daria continuidade ao planejamento deixado pelo Ângelo e acordado entre os conselhei- ros”, afirma Daniel. O plano de negócios deixado pelo antecessor contribuiu para que a empresa aumentasse suas vendas em cerca de 15% em 2009, atingindo o fatu- ramento bruto recorde de R$ 207 milhões, mesmo em luto pela fatalidade. De acordo com o novo pre- sidente, os números resultaram do esforço coletivo do núcleo familiar em não se abater. “Conseguimos superar a morte do Ângelo porque mantivemos o negócio exatamente como ele deixou. Houve uma continuidade que, na verdade, nada mais era do que o jeito que a família aprendeu a trabalhar ao longo das últimas décadas”, lembra. O conselho de administração da Salton é hoje composto de seis representantes das três primeiras gerações da família. São profissionais que, além de familiares, atuam ou já atuaram na empresa. Eles compõem 80% do capital. “Apesar de as reuniões não seguirem um cronograma, o conselho é a instância máxima, em que as divergências, pres- tações de contas e os planos de investimentos são resolvidos”, conta Daniel. Ao conselho de administração também compete a aprovação de novos diretores. Dos cinco cargos de diretoria, apenas a presidência e a vice-presidência são preenchidas por membros da família. As de- mais vagas são ocupadas por profissionais de mer- cado. Alguns desses diretores adquiriram, ao longo dos anos, parte dos 20% das ações da Salton que não estão em poder dos controladores. Os papéis foram fruto de doações ou vendas promovidas por antigos familiares, que demonstraram interesse em se desfazerem de parte de suas participações. Além da família, o grupo de executivos tinha a preferência nas negociações dos papéis. Dentre as grandes decisões do conselho está a instalação de uma segunda linha de produção na vinícola da empresa em Bento Gonçalves, no Rio Grande do Sul. O projeto exigirá investimen- tos de R$ 10 milhões e dobrará a capacidade de engarrafamento da empresa, que hoje é de cerca de 38 milhões de unidades por ano, entre vinhos, espumantes, sucos e conhaque. “É um investimento ambicioso, mas fundamental para os planos de elevar as importações e explorar o Nordeste brasi- leiro, onde ainda somos pouco conhecidos”, revela o presidente da Salton. Com menos de um ano no cargo, Daniel já pensa em formar seus sucessores, que pertencerão à quarta geração de familiares. Para tanto, apro- vou com o conselho de administração uma série de diretrizes voltadas à formação dos substitutos. Constam como pré-requisitos para os futuros comandantes a obrigatoriedade de formação su- perior, o aprendizado de uma segunda língua e a experiência profissional em outras empresas. “Não é porque se trata de familiares que abriremos mão da profissionalização, ainda mais em um mercado competitivo como o nosso”, afirma Daniel. A grande missão da nova geração, segundo o exe- cutivo, será a abertura de capital. “Muitos dizem que esse patamar de R$ 200 milhões em faturamento é o ideal para a abertura do negócio. Na nossa avaliação, ainda não é a hora. Mas tenho certeza de que, no futuro, eles precisarão debater o assunto”, profetiza Daniel. Salton Família(s) controladora(s) Salton Participação da família 80% Setor de atuação Fabricação de vinhos e espumantes Faturamento líquido em 2009 R$ 207 milhões (bruto) Ano de fundação 1910 Á lbu m de fa mí lia 24 Governança em empresa familiar • MAIO 2010 Seculus organiza sua governança preventivamente, de olho nos problemas de sucessão e nos desafios do futuro Por Luciana Del Caro SuceSSãO A maioria das empresas de capital fechado abre os olhos para a necessidade de aprimorar a governança corporativa só quando surgem con- flitos societários ou querem captar recursos. O grupo Seculus, de Minas Gerais, não esperou os problemas aflorarem para agir. A história do grupo começou de forma singela e tem raízes na atividade de mineração e ourivesaria, tradicio- nais em Minas Gerais. Em 1960, sete irmãos de 12 a 21 anos saíram de Datas, cidade de apenas 2 mil habitantes perto de Diamantina, e foram para Belo Horizonte. Em Datas, eles vendiam quadros de santos, mas desejavam trabalhar no ramo do avô paterno, o de garimpo e joias. Tudo planejado Artur Geraldo de Azevedo — que hoje é presidente do conselho de administração do grupo Seculus — lem- bra-se do momento em que a companhia foi fundada. Sentados em duas camas no quarto da casa da família Azevedo, eles idealizaram a empresa e também coloca- ram a irmã mais velha, então com 34 anos, na sociedade. No início, compravam joias em fábricas e faziam algo impensável no Brasil de hoje: vendiam-nas de porta em porta. Na época com 16 anos, Artur Azevedo trabalhava como mascate. Viajava para cidades do interior levando as joias para vender. Aos poucos, os irmãos Azevedo foram progredindo. O primeiro salto foi montar uma loja de três metros de d Iv u lg A ç ã O MAIO 2010 • Governança em empresa familiar 25 Atualmente, o Seculus tem oito acionistas da primeira geração e nove da segunda. Da esq. para dir.: Jairo, Ilvio, Maria Augusta, Maria José, Elcio, Marcio, Aguinaldo e Artur (todos com o sobrenome Azevedo) SeculuS frente e três de profundidade. Depois, veio uma pequena indústria. Em 1970, começaram a importar relógios com a marca Seculus, aproveitando as sinergias entre relógios e joias. Oito anos mais tarde, inauguraram uma fábrica de joias de 5 mil m2, a maior do Brasil naquele tempo. Em 1989, iniciaram a fabricação de relógios, na Zona Franca de Manaus. A partir da década de 1980, o grupo começou a diversificar suas atividades. Entrou nos setores imobi- liário, financeiro e de tecnologia da informação, e cada irmão assumiu responsabilidade por um negócio. Eles se reuniam todas as sextas-feiras pela manhã para discutir o rumo das empresas. Tudo permaneceu assim até 2000, quando os irmãos começaram a se preocupar com a sucessão. “Percebemos que precisávamos ter mais organiza- ção, pois as coisas estavam mudando”, diz Azevedo. Em 2001, o irmão mais velho, que era o cabeça de todos, resolveu sair da gestão dos negócios para se dedicar a obras sociais. Foi aí que começou o processo de profissionalização do grupo. Artur Azevedo assumiu a presidência e promoveu mudanças. Gestores se reciclaram e fizeram um curso de dois anos sobre desenvolvimento de acionistas na Fundação Dom Cabral. O grupo redigiu um acordo de acionistas, implementou o planejamento estratégico e profissionalizou a gestão. A mudança era necessária. Ao longo dos anos, a família, que já era grande, foi se multiplicando. Filhos, genros, cunhados e outros pa- rentes trabalhavam no Seculus. Ao todo, 60 familiares batiam cartão na empresa nos anos 80. Hoje são 12. “Aumentamos o grau de exigência para admitir paren- tes”, afirma Azevedo. Em 2006, o Seculus contratou a consultoria Pro- xycon para montar sua estrutura de governança corpora- tiva. Em 2007, foi criado um conselho de administração da holding, com quatro membros da família e três conse- lheiros externos. O conselho faz reuniões mensais. “Falo com orgulho que temos um conselho de administração atuante. Estamos no caminho certo”, avalia Azevedo. No entanto, ele diz que novos ajustes devem ser feitos. Atualmente, o presidente do conselho de administração é também presidente da holding. Mas, no ano que vem, as tarefas deverão ser exercidas por pessoas diferentes. Azevedo sairá da holding e permanecerá como presi- dente do conselho. Em 2007, foi criado o conselho de família, do qualtodos os familiares participam. Atualmente, o Seculus tem oito acionistas da primeira geração e nove da segun- da. “Nosso objetivo é continuar como empresa familiar. Não melhoramos a governança para abrir o capital, e sim para dar tranquilidade aos sócios e para assegurá- los de que seu capital está sendo bem administrado”, diz Azevedo. No entanto, ele não descarta que, em um futuro distante, à medida que o número de herdeiros aumente, a realização de uma oferta pública de ações de algumas das empresas do grupo seja feita. Outra possibilidade é atrair sócios em alguns em- preendimentos. Na Gran Viver, uma das companhias do Seculus que atua no setor imobiliário, existe uma participação minoritária de 9% de acionista que não é da família. Ele considera que os avanços na governança já trouxeram frutos, pois a gestão se tornou mais parti- cipativa e transparente, os gestores e conselheiros são mais cobrados e, como consequência, o índice de acertos das decisões empresariais aumentou. O Seculus é uma sociedade anônima de capital fechado. Atualmente, fazem parte do grupo nove em- presas, que são controladas por uma holding. Duas são do setor de relógios, quatro do imobiliário, duas da área financeira, uma de tecnologia da informação e nenhuma no segmento de joias. Em 2005, eles saí- ram do ramo por considerar que outras áreas ofere- ciam melhores perspectivas. Seculus Família(s) controladora(s) Azevedo Participação da família 100% Setor de atuação Fabricação de relógios (Seculus da Amazônia e Seculus Internacional), financeiro (Banco Semear, Serra da Moeda Securitizadora), imobiliário (Gran Viver Urbanismo, Seculus Empreendimentos e Participações, Seculus Empreendimentos Gerais, Seculus Con- struções) e tecnologia da informação (Prime Systems) Faturamento líquido em 2009 n.d. Ano de fundação 1960 Á lbu m de fa mí lia 26 Governança em empresa familiar • MAIO 2010 Fundador da Ultrapar inovou ao conceder ações para seus principais diretores tornarem-se donos Por André Sendoda GestãO Na Ultrapar, a visão de alinhar interesses entre propriedade e gestão começou muito antes de esse tema ganhar as cartilhas da boa gestão corporativa. Mais precisamente na dé- cada de 80, quando Pery Igel, presidente executivo e do conselho de administração e acionista contro- lador do grupo, criou um programa de distribui- ção de ações aos principais executivos. Os papéis lhes seriam entregues entre 10 a 20 anos depois. Igel sabia que era importante planejar o futuro da companhia, hoje atuante nos setores químico, petroquímico e petrolífero. Seus descendentes po- deriam não estar à frente do negócio. Nenhum de Executivos que viraram sócios seus cinco filhos demonstrava interesse em assumir a administração. Com o plano de outorga de compra de ações, Igel garantiu um processo sucessório pacífico. As famílias Igel e Beltrão (do ex-ministro da des- burocratização, Hélio Beltrão) se retirariam da administração e passariam para o conselho, e os executivos profissionais que receberam ações fica- riam encarregados de dar continuidade à empresa. Dentre esses administradores estavam Paulo Cunha, presidente executivo que sucedeu Igel em 1984, e Pedro Wongtschowski, que a partir 2007 assumiu o mesmo cargo. Le O n A r d O C u n h A / V A LO r F O Lh A pr es s MAIO 2010 • Governança em empresa familiar 27 Paulo Cunha, hoje presidente do conselho de administração, foi um dos beneficiados com o plano de outorga de ações cujos papéis só seriam entregues 10 ou 20 anos depois uLtrApAr Em 2007, Cunha passou a se dedicar apenas à pre- sidência do conselho, posição que também ocupava desde 1998, ano da morte de Pery Igel. A outorga de ações abriu espaço para a ingerência de uma geração de executivos profissionais — que tinham possibili- dade de chegar a donos — no comando do negócio. Anos mais tarde, a Ultrapar começou a buscar recursos para se modernizar. Seus executivos de- cidiram pela abertura de capital em 1999, época em que o mercado de capitais movimentava-se lentamente, e o interesse dos investidores estava concentrado em empresas de internet e telecomu- nicações, a chamada nova economia. Eram elas a grande promessa de crescimento. André Covre, atual diretor financeiro e de re- lações com investidores (RI) da companhia, conta que, durante o processo de abertura de capital, um potencial investidor afirmou que, se a Ultrapar tinha a pretensão de ser uma empresa de capital aberto, teria de trabalhar o alinhamento de interesses econômicos entre seus diversos acionistas. Foi assim que a empre- sa decidiu, a partir de 2000, conceder aos acionistas não controladores “tratamento equitativo” em caso de alienação de controle acionário, o chamado tag along. Ou seja, os detentores de ações ordinárias e preferenciais receberiam uma oferta de 100% do valor que um eventual futuro comprador oferecesse por ação do bloco controlador. Isso numa época em que o tag along não era obrigatório, lembra Covre. Entre 1997 e 2002, época das privatizações, vigorou a Lei 9.457, que extinguiu o tag along para facilitar a venda de controle das companhias estatais. “Conce- der esse direito era muito difícil”, conta o executivo. Ao mesmo tempo em que passava a negociar ações na então Bolsa de Valores de São Paulo – hoje BM&FBovespa —, em 1999, a Ultrapar listou reci- bos de ações (ADRs, na sigla em inglês) na Bolsa de Valores de Nova York. Isso significava que, além de cumprir as regras para captação de recursos no mercado brasileiro, a empresa preenchia requisitos de disclosure (esclarecimento de informações) e transparência mais exigentes que os do País. A Ultrapar adaptou sua estrutura à Lei Sarba- nes-Oxley, lançada nos Estados Unidos em 2002 para aumentar a segurança e a transparência das informações financeiras. Criou um conselho fiscal, que acumula as funções de comitê de auditoria, e um departamento de auditoria interna, sob supervisão do conselho fiscal. O mercado costuma valorizar empresas que pra- ticam boa governança corporativa. Prova disso é um levantamento feito, entre 2005 e 2008, pelo Círculo de Companhias na América Latina, presidido por André Covre. O estudo, que teve como amostra as 12 empre- sas integrantes do grupo — incluindo a Utrapar —, revelou que elas tiveram um aumento médio atípico de 8% no seu valor de mercado nos dez dias seguintes ao anúncio de boas práticas. Criado em 2005, pela Corporação Financeira Internacional (IFC) e pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), o Círculo tem como objetivos o monitoramento do progresso da governança na região, o estímulo à formação de especialistas e o desenvolvimento do diálogo entre os setores privado e público para a troca de experiências. O próximo passo é ingressar no Nível 2 de governança corporativa da BM&FBovespa. O com- promisso, assumido em 2008 pela Ultrapar, deve se concretizar nos próximos meses. O objetivo é aumentar a visibilidade diante dos investidores. “Nosso tag along é bem melhor que o do Nível 2”, as- sinala. Neste segmento, o tag along mínimo estipu- lado ao acionista minoritário é de 80%. Ultrapar Família(s) controladora(s) Igel, Beltrão, Cunha, Wongtschowski Participação da família 23,99% Setor de atuação Distribuição de GLP (Ultragaz), especialidades químicas e petroquímicas (Oxiteno), logística (Ultracargo) Faturamento líquido em 2009 R$ 36,1 bilhões Ano de fundação 1937 Á lbu m de fa mí lia 28 Governança em empresa familiar • MAIO 2010 Donos da Schincariol retomam o comando da empresa durante a crise e definem planos de crescimento sem a presença de investidores Por Luciana Del Caro GestãO Uma companhia agressiva no marketing e con-servadora na gestão. É assim que Fernando Mitri, presidente do conselho de adminis- tração da Schincariol, define a empresa de bebidas. Mitri é um dos poucos conselheiros independentes a presidir o conselhode administração de uma em- presa familiar. Entrou lá em 2008, quando o board foi implantado. Fundada em 1939 por Primo Schincariol, a em- presa era comandada, no início dos anos 2000, por seus filhos José Nelson e Gilberto. O primeiro era encarregado pela parte comercial. O segundo, pela área industrial. Em 2003, Nelson foi assassinado a De volta ao controle apenas uma semana do lançamento da Nova Schin, cerveja que viria a ser um grande sucesso e cujas ven- das dobrariam o faturamento da empresa. Até aquele momento, sucessão era um tema que ainda não havia sido discutido na Schincariol, embora todos os filhos de Nelson e Gilberto tivessem crescido na fábrica — o que os faz dizer que têm cerveja nas veias — e passado por um processo de preparação para tomar conta do leme algum dia. Um dos filhos de Nelson, Adriano, que havia participado intensamente do projeto da Nova Schin, foi o escolhido para assumir o cargo de principal executivo. Estava com 27 anos. “Naquela época, contratamos uma consultoria e nos Le O n A r d O C u n h A / V A LO r F O Lh A pr es s MAIO 2010 • Governança em empresa familiar 29 Da esq. para a dir.: Alexandre Schincariol e José Augusto Schincariol — netos de Primo Schincariol e membros do conselho de administração — e Fernando Mitri, presidente do conselho: “Queremos o melhor time para a demanda do momento. Mas não temos preconceito em trazer pessoas do mercado”. sChInCArIOL sentamos com acionistas de importantes famílias empresárias para escutar suas experiências no pro- cesso de sucessão”, lembra José Augusto Schincariol, membro do conselho de administração. A partir da sucessão traumática, e também do episódio batizado como “Operação Cevada”, no qual dirigentes e herdeiros da Schincariol foram acusados de sonegação de impostos e presos em 2005, o grupo fez uma transição. Ampliou a presença de profissionais do mercado nos postos de direção, buscou mais trans- parência e investiu na melhoria das práticas de gover- nança corporativa. Em junho de 2007, um profissional de mercado renomado, Fernando Terni, com histórico no segmento de telecomunicações e bens de capital, assumiu o posto de principal executivo da Schincariol. A experiência, no entanto, foi breve. No fim de 2008, Adriano retomou o comando. “A Schincariol não voltou atrás no processo de profissionalização da gestão. O que aconteceu foi que a crise exigia res- postas muito rápidas, pois o cenário era indefinido, e a empresa iria investir R$ 500 milhões em 2009”, explica Mitri. Em 2010, a companhia tem um plano de investir R$ 1 bilhão. “Ainda não temos a expressão que gostaríamos de ter no Sul e no Sudeste”, observa. Por essa razão, Adriano continuará sentado na cadei- ra de principal executivo por tempo indeterminado: “Queremos o melhor time de executivos para a de- manda do momento. Mas não temos preconceito em trazer pessoas do mercado”. Dado o porte que a Schincariol tem atualmente — cerca de 9 mil funcionários — não se poderia esperar que ela não estivesse, em boa parte, profissionalizada. Além de Adriano, trabalha na gestão apenas Gilberto Schincariol Jr, como vice-presidente de operações, e fazem parte do conselho de administração Alexandre e José Augusto. Eles formam a terceira geração, dos netos de Primo Schincariol, e ainda são muito jovens, com idades entre 27 a 33 anos. Dessa geração, há ainda Daniela, que é apenas acionista. Segundo Mitri, o salário dos familiares é compatí- vel com o dos demais profissionais do mercado, e eles são submetidos aos mesmos programas de avaliação destinados aos outros executivos. O conselho de ad- ministração da Schincariol é composto por apenas três membros (Mitri, Alexandre e José Augusto), mas deverá aumentar. O trabalho do conselho é avaliado de duas formas: por autoavaliação e também pela diretoria executiva, que analisa itens como a visão estratégica dos conse- lheiros e sua eficiência na gestão de talentos e risco. Uma das necessidades identificadas na última avalia- ção é a entrada de mais um conselheiro independente, cujo perfil deverá corresponder a um levantamento que a empresa está fazendo de suas demandas. O conselho procura decidir pelo consenso: “Até agora, não tivemos nenhuma decisão contenciosa. Tentamos olhar o que é positivo para o negócio e decidimos”, diz Mitri. O conselho de administração é assessorado por cinco comitês: recursos humanos (atualmente focado no plano de sucessão da família e dos executivos); auditoria (que faz a interface com a auditoria externa da empresa, a PricewaterhouseCoopers); finanças; relações institucionais; e família/empresa. Este úl- timo visa a analisar as demandas dos membros da família Schincariol e é composto pelo presidente do conselho, Mitri, e pelo presidente da holding, que não é da família. “A companhia não tem planos de abrir o capital. Seu endividamento é baixo e ela consegue gerar muito caixa para crescer”, afirma Mitri. Constituída como uma sociedade anônima de capital fechado, a Schin- cariol recentemente publicou suas demonstrações financeiras e, em breve, deverá distribuir o relatório anual de 2009. Os números do ano passado fazem José Augusto e Mitri considerar que a decisão de manter os investi- mentos em 2009 e de trazer de volta Adriano ao posto de principal executivo foram acertadas: o Ebitda aumen- tou 160,9% de 2008 para 2009 (de R$ 178,3 milhões para R$ 287 milhões). As vendas cresceram 11,1%. Schincariol Família(s) controladora(s) Schincariol Participação da família 100% Setor de atuação Fabricação de bebidas Faturamento líquido em 2009 R$ 2,6 bilhões Ano de fundação 1939 Á lbu m de fa mí lia 30 Governança em empresa familiar • MAIO 2010 Com uma relação cooperativa entre executivos e conselheiros de administração, Aché deixa para trás ruidosos conflitos entre as famílias controladoras Por Felipe Falleti MuItAs fAMílIAs Dono de um faturamento líquido, em 2009, de R$ 1,19 bilhão, e de uma rede de distribuição capaz de levar medicamentos aos rincões mais remotos do Brasil, o Aché é hoje um ícone do capita- lismo brasileiro. Chegou a ser sondado, há dois anos, por representantes do BNDES e do governo federal para expandir seus negócios para o exterior. Assim como fez com Sadia/Perdigão e Oi/Brasil Telecom, o governo viu na Aché uma oportunidade de patrocinar Governança pacificadora a formação de uma grande companhia nacional de produtos farmacêuticos. Mas nem sempre foi assim. O laboratório fundado pelas famílias Siaulys, Baptista e Depieri, nos anos 60, viveu períodos de aguda crise em sua administração. Acostumado ao modelo de copiar fórmulas químicas estrangeiras para produzir localmente medicamentos chamados “similares”, o Aché foi duramente afetado pela adoção da Lei de Patentes pelo Brasil, em 1997. d Iv u lg A ç ã O MAIO 2010 • Governança em empresa familiar 31 Laboratório Aché: Duas aquisições foram debatidas pelo board nos últimos anos e sequer houve a necessidade de votar. Antes disso, os conselheiros entraram em consenso Aché Sem poder usar fórmulas pesquisadas por terceiros, a Aché viu o seu modelo de negócios se deteriorar. Nas reuniões de diretoria, a falta de consenso sobre como reagir no novo cenário opôs representantes dos Depieri e Baptista. As divergências se agravaram em 2001, quando os norte-americanos da Schering Plough Corporation fizeram uma proposta para recomprar a fatia de 42% na Schering Plough do Brasil adquirida em 1990 pela Aché. No auge dos debates sobre aceitar ou não a oferta da corporação norte-americana — que, dizia-se, embutia um prêmio de 25% sobre o valor eco- nômico dos papéis —, Depieris e Baptistas trocaram acusações de incompetência e falsidade ideológica, apontando até atas de reunião que supostamente foram forjadas. Carlos Eduardo Depieri, um dos acionistas do Aché, chegou a definir as reuniões na empresa como “coisa de novela” e palco de “muita baixaria”.Desde 2003, no entanto, o laboratório recruta pro- fissionais no mercado para tocar as tarefas executivas. Eloi Bosio foi o primeiro presidente não sócio da Aché desde sua fundação, em 1965, cargo hoje ocupado por José Ricardo Mendes da Silva. Ele preside a empresa desde 2006, ano em que o grupo reestruturou sua ad- ministração. Atualmente, o laboratório se organiza em torno de um conselho de administração composto de seis membros, sendo dois indicados por cada uma das três famílias sócias. Há dentre eles a figura do “conselhei- ro independente”, mas que não vale na prática. Ele é escolhido por uma família e responde a ela por suas posições nas reuniões do colegiado. De acordo com Mendes da Silva, a nova estrutura pacificou a empresa e assegura regras claras para os debates entre os sócios. “Todos os cargos de diretoria executiva são compostos de profissionais recrutados no mercado e, nas nossas reuniões com o conselho de admi- nistração, há um debate sincero e não conflituoso entre as partes”, afirma. Durante a sua gestão, duas aquisições foram debatidas pelo board e, segundo ele, sequer houve a necessidade de votar as questões mais controversas. Antes disso, os conselheiros entraram em consenso. “Meu método é conversar longamente com os conselheiros e expor as análises que nossos executivos produzem, exibir os gráficos feitos por consultorias externas e auditadas. Com informações claras, sólidas e confiáveis nas mãos, o nível do debate é sempre elevado, e os conselheiros podem tomar decisões amparados por dados objetivos, o que reduz as chances de conflito”, explica Mendes. Embora tenha adotado um modelo de governança e caminhe para se tornar uma companhia de capital aberto, o Aché ainda guarda peculiaridades em sua estrutura. O presidente do conselho, por exemplo, não exerce efetivamente essa função. O cargo é invariavel- mente cedido ao decano dos sócios, o que Mendes define como “uma homenagem” a quem construiu a empresa. Atualmente, a presidência do board é do patriarca da família Baptista, Delmiro Baptista. Na prática, o vice- presidente executa as funções administrativas que caberiam ao presidente do conselho. No Aché, os executivos (normalmente o presidente e algum diretor) participam das reuniões do conselho. Segundo Mendes, essa é uma atuação proativa dos diretores que não interfere nos trabalhos do colegiado. “Nos momentos em que os conselheiros devem conver- sar a sós, todos deixamos a sala”, diz. O modelo é visto por executivos e conselheiros do Aché como o mais eficaz, pois confere agilidade às decisões e não engessa os debates. Nas planilhas contábeis, a gestão tripartite do conselho e a atuação “proativa” dos executivos revela-se bem-sucedida. Sem conflitos entre os sócios, o Aché acumula quatro anos seguidos de crescimento em vendas e faturamento. Em 2009, quando o PIB brasileiro encolheu, e o setor farmacêutico estagnou, o Aché viu suas vendas crescerem 10%. Álbum de família Aché Família(s) controladora(s) Siaulys, Baptista e Depieri Participação da família Cada família detém 1/3 Setor de atuação Farmacêutico Faturamento líquido em 2009 R$ 1,196 bilhão Ano de fundação 1965 32 Governança em empresa familiar • MAIO 2010 Pertencente a sete famílias, a fabricante cente- nária de tecidos Cedro Cachoeira é regida por um acordo de acionistas de 254 signatários Por Chris Martinez MuItAs fAMílIAs Em 1883, quando Getúlio Vargas nascia na gaúcha São Borja, a Cedro Cachoeira já riscava o traçado de sua longeva história. A fabricante de tecidos selava a primeira fusão in- dustrial do Brasil, num formato inédito e inovador para os padrões daquele século. Numa época em que o País estava sob comando imperial e ainda Controle (bem) compartilhado esfolava escravos — a lei da abolição viria cinco anos mais tarde — dois troncos da família uniram suas empresas, a Cedro e a Cachoeira. A junção, que resultou na Companhia de Fiação Cedro Cachoeira, trouxe algumas novidades para a época. Uma delas foi um “acordo de acionistas” no qual o peso do voto era equivalente para todos os G u A lt er N A v es /C ed r O C A C h O eI r A MAIO 2010 • Governança em empresa familiar 33 Agnaldo Diniz Filho, diretor-presidente e herdeiro, ganhará um sucessor em breve. Ele afirma não ter restrições a nomes de fora ou preferências por sobrenomes da casa. “Propriedade não é capacidade”, diz CedrO CAChOeIrA Controle (bem) compartilhado acionistas com mais de 5% do capital. “Nem se fa- lava em governança corporativa, mas aqui já havia um pensamento moderno que permitiu à empresa atravessar a abolição dos escravos, a proclamação da República e as duas grandes guerras mundiais, chegando à quinta geração”, afirma Agnaldo Diniz Filho, diretor-presidente da Cedro Cachoeira — o herdeiro que, desde 2001, faz as vezes de executivo- chefe dessa companhia com 138 anos de vida. Durante a trajetória, os conflitos tradicionais de uma empresa familiar sempre foram aparados com instrumentos de gestão — alguns deles vindos da consultoria do professor João Bosco Lodi, uma peça importante no processo de sucessão. Foram apenas 12 presidentes nesse mais de um século. Diniz, o mais recente, foi conduzido ao cargo por consenso e, se tudo correr conforme o esperado, ele deixa o posto aos 68 anos — ou seja, daqui a poucos meses. Seu substituto será escolhido em um processo de seleção pilotado pelo conselho de administração, possivelmente com assessoramento especializado. Poderá ser uma solução doméstica ou não. A Cedro Cachoeira não tem restrições a nomes de fora ou preferências para sobrenomes da casa. “Propriedade não é capacidade”, repete Diniz, como um mantra. Ele é pai de três filhos, nenhum deles trabalhando na companhia. “Ainda bem”, diz, com graça. Desde 1988, a empresa é gerida por um acordo de acionistas bem alinhavado, que se destaca por um singelo detalhe: foi assinado por 254 pessoas. Por meio desse contrato, sete famílias estão no controle da Cedro Cachoeira, de posse de 64,45% do capital total. Do acordo de acionistas, nasceram vários filhotes, como comitês de diversas modali- dades. Um deles é o comitê do acordo que serve, como sugere o nome, para consolidar as decisões do grupo. Com sete membros, o comitê tem voto unitário. Ou seja, o voto dos sete vale um ao ser levado para as discussões em curso no conselho de administração. Composto de 12 membros e sob o comando do também herdeiro Cristiano Ratton Mascarenhas, o conselho de administração aprovou, no fim do ano, um programa de investimentos de R$ 43 milhões, a ser executado de 2010 a 2012. A ideia é que os recursos irriguem com eficiência as linhas de produção e, depois, melhorem a produtividade. Também definiu o pagamento de dividendos no valor total de R$ 3 milhões. A companhia possui quatro unidades industriais, de onde saem fornadas de índigos e brins, e um centro de distribuição, responsável por despachar seus tecidos para o Brasil e mundo afora. Com receita bruta de R$ 358 milhões em 2009 (11,4% menor que a do ano anterior), a empresa se equilibra entre altos e baixos. E navega nas incertezas do setor têxtil. Como seus pares no mercado brasileiro, a companhia gaúcha (e ainda nacional) padeceu dos tempos da abertura econômi- ca e, tanto antes como agora, sofre com os produtos chi- neses, escancaradamente mais baratos. A Cedro sabe se manter firme, segundo seus acionistas, pela capacidade de geren- ciar e conhecer seus própr ios anseios. A família no comando e na gestão ajuda, em grande parte, na rapidez do processo decisório. Afinal, acionistas sen- tem no bolso e no valor das suas participações acionárias o imediato efeito de uma crise. Cedro Cachoeira Família(s) controladora(s) Mascarenhas, Magalhães, Diniz, Gonzaga, Haas, Cançado/ Lara Resende, e Ferreira Participação da família 64,45% Setor de atuação Têxtil Faturamento líquido em 2009 R$ 423,3 milhões Anode fundação 1872 Pa u lo Ja b u r 34 Governança em empresa familiar • MaIo 2010 Em sua quarta geração, Ancar enxergou na união com o canadense Ivanhoe uma valiosa soma de experiências Por Luciana Del Caro ParcerIas Para crescer O objetivo era encontrar um sócio estraté-gico. Essa seria a única forma de o grupo de shopping centers Ancar sobreviver em um setor de forte expansão. “Vimos que o mercado estava mudando e que precisávamos aumentar o nosso potencial”, afirma Marcos Carvalho, copre- sidente. Algumas empresas do segmento — BR Malls, Multiplan, Iguatemi e, mais recentemente, Aliansce — abriram o capital. Outras, como a Ancar, Com jeito de multinacional buscaram um sócio estratégico. Em 2006, o plano foi concretizado. Em uma associação com o canadense Ivanhoe Cambridge, nasceu a Ancar Ivanhoe. O novo sócio, segundo Carvalho, não aportou apenas capital para viabilizar os planos de expansão. Trouxe também conhecimento de seus mais de 65 shoppings no Canadá, Europa, Estados Unidos e Ásia. “Fomos procurados para abrir o capital, mas essa nunca foi a nossa prioridade. É uma forma MaIo 2010 • Governança em empresa familiar 35 Marcos Carvalho, copresidente : “Fomos procurados para abrir o capital, mas essa nunca foi a nossa prioridade. É uma forma de crescer, mas não é a única.” ancar Ivanhoe de crescer, mas não é a única”, observa Carvalho. A Ancar Ivanhoe especializou-se em abrir shopping centers em novas praças, e hoje atua em todas as regiões do País. Fazem parte de seu portfólio 16 centros de compras, aí incluídos tanto os próprios quanto aqueles que apenas administra. A experiência dos Andrade de Carvalho no ramo de shopping centers data de 1972, quando a família adquiriu uma participação no Conjunto Nacional de Brasília, o segundo shopping do País e o primeiro da região Centro-Oeste. Antes, o grupo formado pela família atuava no setor bancário, com a Casa Bancária Andrade Arnaud, fundada em 1929. Após entrar em Brasília, a Ancar abriu shoppings em dois novos mercados, Recife e Porto Alegre, e foi paulatinamente expandindo o número de empreendimentos. Quem estava à frente dos negócios era Sergio Carvalho. Em 2004, aos 65 anos, ele saiu do dia a dia e passou a ocupar a presidência do conselho de administração. No mesmo ano, assumiram seus filhos Marcos e Marcelo, atualmente copresidentes do grupo. Enquanto Marcos é o responsável pelas atividades de incorporação, Marcelo gere os negó- cios relativos à administração dos shoppings. Antes de entrarem na Ancar, os dois passaram por temporadas de estudo no exterior e experiên- cias profissionais em outras companhias. Marcos trabalhou cinco anos no extinto Banco Garantia e depois abriu uma consultoria para varejistas. Marcelo trabalhou na Lojas Americanas e em duas empresas de shopping center, uma no Canadá e outra nos Estados Unidos. “Na nossa geração, ainda havia uma forte expectativa de que trabalharíamos no grupo. Isso já não existe mais atualmente. A ideia é que nossos filhos sigam carreiras fora daqui”, afirma Marcos Carvalho. Com o passar do tempo, os familiares entende- ram que a Ancar não era garantia de trabalho para todos. O grupo foi se profissionalizando. Hoje, para que um parente entre na empresa, é necessário antes ter experiência em outras companhias e alcançar uma posição de destaque profissional. “Somos uma empresa de origem familiar, mas com uma governança de multinacional, até em razão do sócio estrangeiro”, justifica Carvalho. Atualmente, é a quarta geração que está no co- mando dos negócios, se considerada como data de início da empresa familiar o ano de 1929, quando fundaram o banco. Para tratar da formação pro- fissional dos familiares da quinta geração — que tem 12 membros, com idades entre 3 e 25 anos —, foi criado um conselho de família. Além do foco na formação dos jovens, o conselho tem a função de in- formar os acionistas que não trabalham na empresa sobre as condições dos negócios. Há alguns anos, contrataram a consultoria de Renato Bernhoeft para estipular regras de comportamento e relacionamen- to entre os familiares e a empresa: “Seguimos toda a cartilha”, assegura Carvalho. A Ancar tem dois conselhos de administração, sendo um deles para deliberar sobre o rumo dos negócios familiares. Composto de três mem- bros da família e três conselheiros externos, o colegiado reúne-se men- salmente para discutir os investimentos e embasar a posição da família nas reuniões do outro con- selho de administração — o da associação com a Ivanhoe Cambridge. Este reuni-se trimes- tralmente e é formado por quatro canadenses e quatro brasileiros da família Carvalho. Ancar Ivanhoe Família(s) controladora(s) Andrade de Carvalho Participação da família n.d. Setor de atuação Shopping centers Faturamento líquido em 2009 n.d. Ano de fundação 1972 C h iC o P ei x o to 36 Governança em empresa familiar • MAio 2010 Com o apoio de um fundo norte-americano, Grupo Ser Educacional quer tornar-se a maior rede de ensino superior do Nordeste Por Natália Mello PArCeriAs PArA CresCer Abrigando 28% da população brasileira, o Nordeste possui apenas 13% das matrículas do ensino privado do País, segundo o Minis- tério da Educação. Mas ainda bem que a carência da região por serviços de educação não escapou ao faro empreendedor de José Janguiê Diniz, fundador do Grupo Ser Educacional. Detentor de três bandeiras de faculdades (Maurício de Nassau, Joaquim Nabuco e Faculdade Baiana de Ciências), uma escola (BJ Es- cola e Curso) e uma empresa de eventos (BJ Feiras e Congressos), o grupo fechou o ano passado com um faturamento de R$ 150 milhões. Diniz fundou sua primeira faculdade, em Recife, há apenas sete anos. Hoje está à frente da maior rede Expansão sustentável de ensino superior do Nordeste, com 29 mil alunos em cinco estados. O crescimento meteórico e a vontade de avançar cada vez mais abriram espaço para algumas mudanças estruturais. “Tivemos de nos profissionalizar para acompanhar o desenvolvimento do Brasil e da globalização. Vamos crescer de forma sustentável”, afirma ele, que emprega seis irmãos em cargos de direção e gerência. O fundador assegura que problemas comuns em empresas familiares, como as disputas por poder e as áreas cinzentas que misturam interesses da família e da corporação, não fazem parte da realidade do grupo. Isso porque os irmãos não herdaram o negócio, nem dividem a sociedade. Ela está quase inteiramente nas MAio 2010 • Governança em empresa familiar 37 José Janguiê Diniz, fundador do Grupo Ser Educacional: “Tivemos de nos profissionalizar para acompanhar o desenvolvimento do Brasil e da globalização. Vamos crescer de forma sustentável” ser eduCACionAl mãos de Diniz, que possui 87,7%, e de seu irmão Janyo Diniz, o CEO, que detém uma pequena parcela das ações — 1%. Os outros 10,3% pertencem a acionistas do Cartesian Capital Group, fundo norte-americano de private equity que investiu R$ 100 milhões na empresa em 2009. “Os familiares que estão empregados são experts em suas áreas de atuação”, conta Herbert Steinberg, membro do Instituto Brasileiro de Governança Cor- porativa (IBGC) e do conselho de administração do Grupo Ser Educacional. Steinberg é também sócio da Mesa Corporate Governance, contratada por Diniz em 2007 para conduzir a implementação de práticas de governança na empresa. Naquele ano, teve início uma intensa reestrutu- ração apoiada por consultorias das áreas jurídica, de gestão, finanças e RH. O resultado foram medidas como a transformação da empresa em sociedade anô- nima (S.A.) e a criação da holding Ser Educacional. A companhia, que já era auditada pela Ernst & Young e pela KPMG, modernizou suas regras de auditoria. Quando as negociações com o Cartesian Capital Group avançaram, foi firmado um acordo com cláusulas so- fisticadas, incluindo algumas do mercado de capitais, apesar de a empresa
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