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GEsTÃo eLiDErANÇA EMPREENDER EM TEMPOS DE CRISE Curso GEsTÃo eeLiDErANÇALiDErANÇALiDErANÇALiDErANÇALiDErANÇALiDErANÇALiDErANÇALiDErANÇALiDErANÇALiDErANÇALiDErANÇALiDErANÇALiDErANÇA EMPREENDER EM TEMPOS DE CRISEEMPREENDER EM TEMPOS DE CRISEEMPREENDER EM TEMPOS DE CRISEEMPREENDER EM TEMPOS DE CRISEEMPREENDER EM TEMPOS DE CRISE A GEsTÃo DA PEQuENA EmPrEsA FAmiLiAr: ADmiNisTrANDo CoNFLiTos E CoLHENDo rEsuLTADos ViViANNE mENDoNÇA 11 FAsCÍCuLo Apresentação 1. A empresa e a dinâmica familiar – dançando conforme a cultura 2. Conflitos nas empresas familiares: “ruim com eles, pior sem eles” 3. Profissionalizando a empresa familiar – família, família. Negócios, à parte! Referências 163 164 167 171 175 sumário 163 O ano de 2020 surpreendeu o mundo com a chegada da pandemia ocasionada pelo novo coronavírus. O isolamento social gerou grandes transformações em diver- sas áreas da vida dos indivíduos; com essas transformações, o coronavírus vem afetan- do as fi nanças de todo o mundo. Uma saída encontrada por muitas pessoas para se reer- guer fi nanceiramente foi começar a investir em um negócio próprio envolvendo basica- mente parentes e amigos nesta empreitada. Assim, a empresa familiar chega com força maior na confi guração destas novas formas de empreender. Sabendo que empreender em família possui certas peculiaridades, o presente fas- cículo traz refl exões e contribuições sobre a compreensão da cultura e dinâmica da em- presa familiar, discute acerca da administra- ção dos confl itos gerados pelos laços afeti- vos e aponta como cuidar da governança e da profi ssionalização da gestão familiar. APrEsENTAÇÃo FUNDAÇÃO DEMÓCRITO ROCHA | UNIVERSIDADE ABERTA DO NORDESTE164 1 No Brasil, a origem das empresas familiares data de 1543, quando o rei de Portugal dom João III organiza, em capitanias hereditárias, as terras encontradas por Pedro Álvares Cabral em 1500. Na divisão das capitanias hereditárias, a primogenitura regia a gestão das propriedades. O obje- tivo central era preservar a unidade, evitando sua fragmentação. Com o tempo, a primogenitura sai de foco e a herança é dividida entre todos os fi lhos (BERNHOEFT, 1999). SAIBA MAIS Não existe um conceito universal para explicar o que são empresas familiares, porém o que se pode dizer é que são organizações fun- dadas e compostas por membros de uma mesma ou mais famílias, envolvendo até amigos mais próximos. Não signifi ca ne- cessariamente que todos os colaboradores tenham parentesco. O negócio pode contar com profi ssionais de fora da família, incluin- do o responsável pela gestão, contanto que o grupo familiar detenha o maior percentual do quadro societário da empresa e/ou do conselho administrativo. As empresas familiares costumam come- çar com um empreendedor ou um casal que deseja mudar de vida. Esta empresa começa a crescer e, aos poucos, vai necessitando de mais colaboradores. Dentre eles, muitas vezes, vão agregando outros membros da família. De forma global, as empresas familia- res (de grande, médio ou pequeno porte) predominam sobre as empresas não fami- liares, tendo um papel signifi cativo no de- senvolvimento econômico, social e político de vários países. De acordo com a KPMG – Board Leadership Center, em uma pesquisa realizada em 2017, as empresas familiares chegam a aproximadamente 80% do total de empresas no mundo, representando cerca de 70% do PIB global. Segundo o Ins- tituto Brasileiro de Geografi a e Estatística (IBGE), 90% das empresas no Brasil têm perfi l familiar, representando cerca de 65% do PIB e são responsáveis por empregar 75% dos trabalhadores no País. No Brasil e no mundo, esta confi gu- ração de empresa traz um maior retorno econômico e apresenta celeridade em seu crescimento, o que a torna atraente para o mercado fi nanceiro –independentemente de ser um pequeno ou médio negócio, ou ainda uma grande corporação. No Brasil podemos citar alguns exemplos: Novartis, Rede Globo, Itaú-Unibanco, TAM, Volkswa- gen, Grupo Votorantim, Gerdau, Grupo Aço Cearense, Grupo Pague Menos, Grupo Ed- son Queiroz, Grupo M. Dias Branco, Pinhei- ro Supermercado, Super Mercadinhos São Luiz, dentre outros (as seis últimas são de origem familiar cearense). O que possibilita toda esta lucrativida- de é a cumplicidade e os objetivos em comum entre os membros pertencentes à empresa familiar. Apesar das difi culda- des inerentes a este tipo de confi guração e dinâmica empresarial, o fator família gera um compromisso diferenciado devido a vantagens como: confi ança mútua e autori- dade defi nida e reconhecida; facilidade na transmissão da informação; fl exibilidade de processos; projetos a longo prazo; per- manência da cultura e dos valores; e maior dedicação e envolvimento pessoal. A cultura de uma empresa familiar se inicia com a idealização do fundador. Mes- mo o pequeno negócio tocado por paren- tes de maneira informal (um barzinho na frente da casa; costura e reforma de rou- pas realizada no quarto de hóspedes; um pequeno restaurante) tem sua estrutura baseada nas ideias e valores daquele que dá início ao negócio. Essas crenças são infl uenciadas pela cultura e ideias locais (bairro, cidade, estado, país), e consequen- temente compartilhadas com os membros familiares empreendedores. A soma destas culturas compõe o DNA organizacional, carrega uma história com o sobrenome da empresa – que, para muitos, é motivo de orgulho e zelo –, formando vínculos e laços que geram a união dos colaboradores em torno da identidade da empresa. A EmPrEsA E A DiNÂmiCA FAmiLiAr – DANÇANDo CoNFormE A CuLTurA EMPREENDER EM TEMPOS DE CRISE: GESTÃO E LIDERANÇA 165 O caso da Ypióca (da famosa cachaça), que permaneceu por mais de 100 anos nas mãos da mesma família, é uma exceção quanto ao tempo de existên- cia no Brasil. Pesquisa realizada pela KPMG mostrou que 31% das empresas familiares têm longevidade de 21 a 40 anos, 18% delas fi caram no mercado por mais de 70 anos e 43% das em- presas chegam à segunda geração da família. O número cai drasticamente até chegar à quinta geração: 2% (MOURA, 2020, p.27). SAIBA MAIS A cultura organizacional está em cons- tante mutação, sua linguagem, expressões e valores são adaptados no transcorrer do tempo, de acordo com os avanços tecno- lógicos e socioeconômicos e o cenário do mercado. Assim, o maior desafi o de uma empresa familiar no mundo inteiro é quan- to ao seu tempo de existência. Geralmente elas chegam até a terceira e quarta geração nas mãos da mesma família. De cada 100 empresas familiares brasileiras, 30% che- gam à segunda geração e apenas 5% à ter- ceira geração. A passagem da gestão da empresa de uma geração para outra, mesmo sendo uma tendência natural, é um processo complexo e delicado, pois envolve não apenas um negócio, mas laços familiares e afetivos, já que os objetivos organiza- cionais (missão, visão e valores) estão di- retamente relacionados com a cultura da estrutura familiar. Os padrões afetivos na família e suas funções se entrelaçam com os papéis e funções designados na empre- sa. As tensões e os desencontros de comu- nicação existentes nas relações familiares infl uenciam o desempenho e os resultados da empresa familiar. FUNDAÇÃO DEMÓCRITO ROCHA | UNIVERSIDADE ABERTA DO NORDESTE166 Como nas famílias, as empresas familia- res passam por fases de estruturação e de- senvolvimento, o que chamamos de ciclo de vida empresarial familiar. Cada fase contempla características específi cas, an- seios, difi culdades e superações de aconte- cimentos estressores. Adizes (1990) compa- ra as fases de desenvolvimento da empresa às fases de desenvolvimento de um indiví- duo. Para melhor entendimento, apresen- tamos a seguir os estágios descritos por Ichac Adizes (1998 apud SEBRAE, E-Book: Etapas das empresas familiares, p.3-4): 1. Namoro (amadurecimento da ideia do empreendimento): organização ainda é um “caso” prestes a se tornar real. 2. Infância(fase de grande vulnerabili- dade, com risco de mortalidade): pou- ca ou nenhuma diretriz; administração centralizadora com poucas reuniões; assumem-se vários compromissos e há difi culdade para satisfazer as ne- cessidades dos clientes; grande neces- sidade de capital operacional. 3. Toca–Toca (a organização se vol- ta para o mercado, aproveitando as oportunidades): estabilidade de forne- cedores e conhecimento do processo produtivo; muito entusiasmo do fun- dador com o aumento das vendas; não há planejamento de vendas; os novos funcionários ainda não compartilham dos valores, princípios e políticas; falta de controle na institucionalização. 4. Adolescência (a organização está buscando sua independência longe do fundador): delegação de autorida- de; necessidade de contratar uma ad- ministração profi ssional; elaboração de regras; surgimento de hierarquia; existência de confl itos pode gerar di- vórcio entre os sócios. 5. Plenitude (a organização atinge o equilíbrio entre o autocontrole e a fl exibilidade): sistemas e estruturas or- ganizacionais funcionais defi nidos; vi- são e criatividade institucionalizadas; orientação para os resultados; plane- jamento; supera as expectativas de de- sempenho e mantém o crescimento das vendas; gera novas organizações. 6. Estabilidade (primeiro estágio do en- velhecimento; o fi m do começo): perda de fl exibilidade; assumem-se menos riscos; menos estímulos para manter a sua visão original; expectativas meno- res de crescimento; concentra-se nas realizações do passado; maior interes- se nas relações interpessoais. 7. Aristocracia (estágio em que os pro- blemas começam a aparecer): investi- mento em sistemas de controle mais do que em inovação; há grande formalida- de; diminuição da sua fatia do mercado. 8. Burocracia insipiente (nesta fase os aspectos culturais e éticos dos diri- gentes favorecem o aparecimento de confl itos): muitas brigas e confl itos: a paranoia paralisa a organização; nin- guém quer mostrar o jogo; existência de guerras territoriais internas; o clien- te externo torna-se um aborrecimen- to; os melhores e mais competentes membros, por serem os mais temidos, são desligados ou pedem demissão. 9. Burocracia e morte (pouca funcio- nalidade e descontrole; as organiza- ções burocráticas podem continuar vivendo um prolongado estado de coma): sistemas numerosos, comple- xos e pouca funcionalidade; não há compromissos com clientes a serem honrados; interesses políticos man- têm viva a organização; a extinção ou morte pode levar anos. O conhecimento destas fases nos au- xilia a compreender em que momento as empresas familiares se encontram e que possíveis confl itos estão acontecendo ou prestes a acontecer. De posse dessas in- formações, pode-se pensar em estratégias para solucioná-las. Também servirá para os planejamentos da governança familiar e corporativa. A empresa familiar mais longeva do mundo (chegou à 40ª geração com os herdeiros) foi a Kongo Gumo (539- 2006), responsável pela construção de vários templos no Japão. No Brasil, a empresa familiar de maior atuação no mercado foi a fabricante de destilados Ypióca (na cidade de Maranguape, no Ceará, 1846-2012), que chegou à 4ª geração com a mesma família. SAIBA MAIS EMPREENDER EM TEMPOS DE CRISE: GESTÃO E LIDERANÇA 167 2 CoNFLiTos NAs EmPrEsAs FAmiLiArEs: “ruim Com ELEs, Pior sEm ELEs” Os confl itos familiares continuam sendo a principal ameaça para as empresas familiares. O negócio cresce e em conjunto crescem os confl itos. A maioria dos confl itos envolve as relações entre dinheiro e/ou poder entre os membros da família. Quando perguntaram a Freud o que ele considerava o segredo da vida plena, sua resposta tinha três palavras: “Lieben und arbeiten” (amar e trabalhar). As- sim, para a maioria das pessoas, esses dois fatores apontados por Freud são os mais im- portantes para sua vida; daí podemos calcu- lar o potencial que é uma empresa familiar, que alia as duas coisas. De acordo com Ger- sick (2017, p.2-3), [...] estar em uma empresa familiar é algo que afeta a todos os participan- tes. O papel do presidente do con- selho é diferente quando a empresa foi fundada por seu pai, e sua mãe e seus irmãos participam das reuniões, assim como se sentam em torno da mesa de jantar. O trabalho de um CEO é diferente quando o vice-presidente, na porta do lado, é também uma irmã mais nova. O papel de sócio é diferen- te quando o outro sócio é um cônjuge ou fi lho. O papel de representante de vendas é diferente quando uma pes- soa cobre o mesmo território que vinte FUNDAÇÃO DEMÓCRITO ROCHA | UNIVERSIDADE ABERTA DO NORDESTE168 anos atrás era coberto por seu pai e, vinte e cinco anos antes dele, por seu avô. Até mesmo passar pela porta da empresa em seu primeiro dia de traba- lho, seja em uma linha de montagem ou no setor de faturamento, é diferen- te se o nome acima da porta é o seu. Por volta do início dos anos 1980, o pro- fessor Renato Tagiuri, da Universidade de Harvard, e o então doutorando John Davis elaboraram a “Teoria dos Três Círculos”, cuja estrutura expunha a empresa em três dimensões: família, propriedade e gestão (GERSICK, 2017). Neste modelo, a dinâmica do relacionamento entre os parentes, os potenciais pontos de tensão e o impacto sobre os negócios podem ser verifi cados, por intermédio de suas intersecções. O mo- delo é aplicável em empresas de todos os portes, em qualquer segmento econômico e com a presença de diversas gerações na composição da família empresária. São muitas as causas que podem levar a confl itos e à queda de uma empresa fami- liar. As mais comuns prendem-se sobretudo à difi culdade em separar o plano pessoal do profi ssional. Levando em consideração a “Teoria dos Três Círculos”, os problemas surgem quando existe confusão de papéis e funções na estruturação da empresa familiar. As pessoas podem ocupar ao mesmo tempo obrigações presentes em mais de um círculo. Por exemplo: membros que são da família e proprietários (sócio ou acionista), mas que não participam da gestão podem estar volta- dos mais para os lucros e a sobrevivência da empresa; membros que são gestores, mas não são proprietários (sócio ou acionista) nem membros da família focam mais o avan- Gestores familiares proprietários (em geral o fundador) Gestores proprietários não familiares Gestores não familiares e não proprietários Proprietários familiares não gestores Gestores familiares não proprietários Proprietários não gestores e não familiares familiares não gestores e não Proprietários Propriedade Família 62 3 7 1 4 5 Governança na empresa familiar ço da carreira e a administração e sucesso da empresa; ou membros que são familiares, porém não são gestores nem proprietários, têm necessidades relativas à sustentação econômica da família e ao bem-estar pesso- al. Esses confl itos de interesses abrem espa- ço para uma série de divergências e deses- truturações familiares e organizacionais se não forem bem trabalhadas. Algumas características das empresas familiares, como o conservadorismo, a cen- tralização na tomada de decisões, o ciúme do negócio, o protecionismo, os confl itos geracionais, a confusão entre os laços de afeto e os laços contratuais, dentre outros, potencializam os desentendimentos. O Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pe- quenas Empresas (Sebrae) listou, no texto “Empresas familiares: resolvendo confl itos com soluções efi cientes”, alguns confl itos mais comuns presentes na rotina das em- presas familiares. Dentre eles: EMPREENDER EM TEMPOS DE CRISE: GESTÃO E LIDERANÇA 169 1. Os pais acreditam que todos os fi lhos devem trabalhar na empresa e um ou mais dos fi lhos não têm interesse e/ ou aptidão para o negócio. 2. Um dos irmãos se sente preterido nas decisões da empresa em rela- ção aos demais ou sente que traba- lha mais que os outros e deveria ser mais valorizado. 3. Filhos que não trabalham na empresa queremopinar nos negócios e outros membros da família discordam. 4. Os fi lhos constituem suas próprias fa- mílias, agregando novos membros na relação empresa-família, que come- çam a opinar ou trabalhar na empresa. 5. As novas gerações desejam alterar a forma como a empresa é adminis- trada e implantar inovações; contu- do, os mais velhos acreditam que “em time que está ganhando não se mexe”, por exemplo. 6. Parentes (tios, primos, sobrinhos) são escolhidos para trabalhar na empresa por causa do grau de parentesco, e não pela competência em contribuir com o negócio. 7. Há divergência na escolha do suces- sor do fundador da empresa. Podemos falar também dos casos em que, devido a ligações afetivas, os fundado- res, gestores e/ou proprietários, agregam familiares e/ou amigos à empresa sem que eles tenham habilidade para a condução do cargo designado – o que pode ocasionar resultados catastrófi cos para a companhia. Ainda podemos relatar a difi culdade do fundador em se preparar para a sucessão ou, então, quando este opta por um gestor sucessor que está fora do núcleo familiar. Esses fatos podem desencadear uma sé- rie de desentendimentos, desestruturando toda a rotina da empresa. Divórcio e morte do fundador são outros fatores que podem levar ao desmembramento das empresas e/ou a decadência das propriedades. A palavra confl ito, que constantemente está associada a problema, crise ou des- conforto, precisa ser vista como viabiliza- dora de possibilidades e transformações, já que os confl itos são inerentes à existência humana. Os confl itos, muitas vezes, exter- nam o que não se consegue expressar, ex- põe a diversifi cação de pensamentos e é um termômetro de que algo não vai bem. Logo, se aproveitarmos o confl ito para am- pliarmos nossa visão, encontraremos um grande aliado para quebrarmos antigos pa- radigmas e reinventarmos os processos das empresas familiares, mantendo-as compe- titivas no mercado. Para alcançar resulta- dos positivos dos confl itos, é importante: a. Melhorar a comunicação: espaço para falar, disposição para ouvir e respeito às diferentes visões. b. Encontrar pontos em comum: equilí- brio no interesse dos sócios. c. Fazer um acordo familiar – gover- nança corporativa: conjunto de re- gras e de normas (estabelecido e acordado por todos) que determina como será a relação entre a família, os sócios e a empresa. Dessa forma, como aproveitamos os confl itos como aliados no processo de ges- tão? Como gerir e como evitar os confl itos na empresa familiar? Compreendendo que a governança corporativa é diferente da go- vernança familiar e quais providências de- vem ser tomadas para a profi ssionalização da sua empresa. Fica a Dica Livros sobre o tema: 1) “Cartas a um jovem herdeiro”, de Renato Bernhoeft e Renata Bernhoeft ; 2) “Sucessão e confl ito na empresa familiar”, de João Bosco Lodi; 3) “Empresa familiar – é sim – um bom negócio!”, de José Renato de Miranda; 4) “Empresas familiares: como salvar ou destruir? – Casos práticos sob a análise da governança corporativa”, de Cláudio Fróes Peña e Robert Juenemann. Fica a Dica Livros sobre o tema: FUNDAÇÃO DEMÓCRITO ROCHA | UNIVERSIDADE ABERTA DO NORDESTE170 Fica a Dica Vale assistir à série “Dynasty” (“Dinastia”), um estudo de caso sobre confl itos familiares e sua repercussão na empresa. Disponível em: www.netfl ix.com Fica a Dica Vale assistir à série EMPREENDER EM TEMPOS DE CRISE: GESTÃO E LIDERANÇA 171 3 ProFissioNALiZANDo A EmPrEsA FAmiLiAr – FAmÍLiA, FAmÍLiA. NEGÓCios, À PArTE! A profi ssionalização das empresas fa-miliares, cada vez mais, está sendo exigida pelo mercado. O essencial para o sucesso do empreendimen- to familiar é o alinhamento dos sócios e da família em temas fundamentais, como a vi- são de futuro do negócio, do patrimônio e da família empresária. No entanto, a com- preensão do que seja profi ssionalizar não se mostra muito precisa, pois em geral envolve apenas a gestão fi nanceira, o marketing e o contrato social, deixando de profi ssionalizar a própria família. Segundo o Instituto Brasileiro de Go- vernança Corporativa (IBGC) e as prin- cipais consultorias de gestão familiar, a profi ssionalização da empresa só ocorrerá mediante a interação equilibrada entre: fa- mília-gestão-propriedade. Corre-se o risco de falência do negócio, pois é comum os familiares tratarem a empresa como uma herança e lidarem com foco na sustentabi- lidade do seu próprio padrão de vida. Para tal, é fundamental as empresas desenvol- verem suas estratégias de governança. Vale destacar que a governança familiar aliada à governança corporativa é essencial para o sucesso de uma empresa, visto que esta- belece fronteiras e facilita os canais de co- municação entre os gestores. De acordo com Gabriela Baumgart, em- presária familiar e membro do Conselho de Administração do IBGC, a governança fa- miliar tem entre seus principais objetivos a harmonização da família, a integração dos membros, a preservação dos valores, do le- gado e da história familiar, a manutenção do sentimento de pertencimento, o acom- panhamento dos processos sucessórios, a educação e o aperfeiçoamento dos acio- nistas e dos herdeiros (IBGC, 2019). Logo, A governança familiar é importan- te para a longevidade do empreendi- mento familiar. Não basta somente implementar a governança corporativa; é preciso cuidar da família. Empresas familiares são construídas em torno de valores e com um propósito aspiracio- nal. É a governança familiar que dá sus- tentação a esse legado. As regras de go- vernança dependem de muitos fatores, como o estágio do negócio, a cultura FUNDAÇÃO DEMÓCRITO ROCHA | UNIVERSIDADE ABERTA DO NORDESTE172 corporativa, os valores e o histórico da família. O desenvolvimento de regras antes que elas sejam necessárias é uma oportunidade para as famílias lidarem com problemas potencialmente sensí- veis antes que eles se tornem pessoais. As regras devem ser construídas de for- ma participativa, com o envolvimento de diversas gerações para que tenham legitimidade (IDEM, p.32). De acordo com o IBGC (2016, p.32-37), as estruturas de governança familiar mais recorrentes são: a. Reunião e/ou assembleia familiar: fórum de caráter informativo, orien- tativo e/ou deliberativo, no qual são discutidos o alinhamento e o posicio- namento familiares. Participam todos os membros da família. b. Conselho de família: formado por um grupo de familiares, é responsável por propor e monitorar as atividades da família e pela interface com os ou- tros órgãos de governança. c. Family off ice: estrutura que apoia a governança da família e presta servi- ços aos familiares. d. Comitê de sócios: órgão sem papel deliberativo que discute temas socie- tários ou que dizem respeito exclusi- vamente aos sócios. Veja dicas do Sebrae, extraídas do texto “Empresas familiares: resolvendo confl itos com soluções efi cientes”, para a constituição de um conselho familiar: Participantes: podem ser incluídos todos os membros da família ou alguns que representam o interesse de todos e pessoas externas à empresa, como outros empresários e consultores. Não esqueça: familiares que não trabalham na empre- sa não recebem salário (pró-labore), mas legalmente têm direitos sobre a empresa. Por isso, pode ser importante incluí-los nas grandes decisões do negócio, tanto nas de- fi nições do Acordo Familiar quanto do Con- selho Familiar. Periodicidade: é importante deci- dir quando o conselho vai se reunir e por quanto tempo, levando em consideração o objetivo dessas reuniões. Objetivo: por meio do conselho, mui- tas empresas familiares decidem o código de ética, fazem o planejamento estratégico, avaliam como está o cumprimento das me- tas estabelecidas, defi nem os critérios para ingresso de membros da família na empre- sa, decidem o processo de preparação de herdeiros e de sucessão na gestão da em- 173EMPREENDER EM TEMPOS DE CRISE: GESTÃO E LIDERANÇA A governançacorporativa é uma série de regras que alinha os interesses de todos os envolvidos no processo de gestão de uma empresa, tendo como objetivo maior o sucesso da empresa a longo prazo. Sua implantação [...] protege a corporação dos pro- blemas causados pela divergência de interesses entre executivos e acionis- tas e permite a eliminação dos riscos e redução de fraudes. Algumas medidas podem ser tomadas por este tipo de governança: contratação de audito- ria independente, implementação de medidas de controle, contratação de seguros contra danos provocados por atos desonestos de administradores, estabelecimento da remuneração dos agentes vinculada ao aumento da ri- queza dos acionistas, a ampla divulga- ção de informações, entre outras regras (MOURA, 2020, p.89-91). Inserido na governança corporati- va, há o processo sucessório. A sucessão é fundamental para a longevidade das empresas familiares. Conforme Pesquisa Global da PwC sobre empresas familiares referente ao ano de 2018, 44% das empre- sas desse tipo não têm um plano de suces- são e 72,4% não apresentam uma sucessão defi nida para cargos-chave como os ligados a diretoria, presidência, gerência e gestão. Em uma empresa familiar, o processo sucessório deve ser planejado levando em consideração as particularidades de cada grupo familiar e empresarial. É fundamen- tal planejar antecipadamente a sucessão de pessoas na empresa familiar, para que se tenha tempo hábil de se preparar o su- cessor e não ser pego de surpresa pelos Fica a Dica Mulheres ainda são minoria no grupo de executivos e no alto escalão empresarial. Alguns casos brasileiros de sucesso são um sinal de que isso está mudando: Luiza Helena Trajano, da Magazine Luiza; Sônia Regina Hess de Souza, da Dudalina; Janete Vaz e Sandra Soares Costa, da Sabin Medicina Diagnóstica. Para se aprofundar sobre o assunto, leia o livro “Supergovernança: Um olhar ampliado sobre os desafi os das empresas familiares” (2020), escrito por Mariana Moura, vice-presidente do Instituto Conceição Moura (herdeira da “Baterias Moura”). Lá você encontra outras referências sobre casos de sucesso. Fica a Dica Mulheres ainda são presa. É também o momento de resolver problemas, confl itos e crises da empresa. Inclusão de terceiros na resolução de confl itos: ao surgirem confl itos, é pos- sível optar por buscar ajuda de terceiros, ou seja, pessoas que não são membros da família e não fazem parte da gestão do negócio, para mediar os confl itos, como consultores terceirizados, empresários parceiros, mentores. O papel desses me- diadores é auxiliar as partes interessadas a chegar a um consenso. FUNDAÇÃO DEMÓCRITO ROCHA | UNIVERSIDADE ABERTA DO NORDESTE174 acontecimentos e fatalidades da vida. O processo sucessório deve ser iniciado com a presença do fundador da empresa e a participação ou aval de todos os envolvi- dos. Tudo deve ser documentado e forma- lizado, e os herdeiros devem ser conscienti- zados de que não vão herdar uma empresa, mas uma sociedade composta por pessoas que não se escolheram. Para auxiliar nesta empreitada de su- cessão, pode-se se recorrer a um mentor. O mentor e sua equipe exercem um papel fundamental na formação dos gestores e dos herdeiros. Alguns quesitos devem ser levados em consideração neste processo: preparar não só o sucessor, mas também o sucedido; cuidar dos confl itos individuais e das pessoas; preparar a família para os de- safi os da empresa. Antes de planejar um processo de su- cessão, deve-se perguntar: • Quem será o novo responsável pelo co- mando da empresa? • Quando acontecerá a transição? • Como será o processo de sucessão? • Quem pode e quem não pode fazer parte da empresa? • Qual é o limite para a admissão de mem- bros da família na empresa? • Como será exercida a autoridade? • Que preparação será necessária para o processo de transição? • O que será feito se o processo sucessório não for bem-sucedido? • Quem pode ter cotas da empresa? • Como serão avaliados e pagos os mem- bros da família? • O que acontecerá em caso de divórcio ou falecimento? • Que responsabilidades há em relação à comunidade? • Que responsabilidades há em relação aos funcionários mais antigos? • Que responsabilidades há em relação aos outros membros da família? Fonte: SEBRAE, “Negócios familiares: entenda como eles funcionam”. Dessa forma, podemos obter como aprendizado neste fascículo a importância de se preparar a família empresária para o manejo dos confl itos que possam surgir no decorrer de seus empreendimentos e relações (familiares e de negócios). A es- truturação de uma governança corporativa e familiar é essencial para os trâmites ad- ministrativos, logísticos e relacionais dos negócios. A prevenção, por meio de diálo- gos e planejamentos – dos papéis, funções e limites de cada membro da família –, é a melhor forma de se encontrar equilíbrio na gestão de uma empresa familiar. EMPREENDER EM TEMPOS DE CRISE: GESTÃO E LIDERANÇA 175 Referências ADIZES, I. Os ciclos de vida das organizações: Como e por que as empresas crescem e morrem e o que fazer a respeito. São Paulo: Pioneira, 1998. BERNHOEFT, Renato R. et al. Empresas familiares brasilei- ras: Perfi l e perspectivas. São Paulo: Negócio, 1999. GERSICK, Kelin E.; DAVIS, John A.; HAMILTON, Marion Mc- Collom; LANSBERG, Ivan. De geração para geração: Ciclos de vida da empresa familiar. Rio de Janeiro: Alta Books, 2017. _____. De geração para geração: Ciclos de vida da empre- sa familiar. Boston: Harvard Business School, 1997. IBGC – Instituto Brasileiro de Governança Corporativa. Go- vernança em empresas familiares: evidências brasileiras. São Paulo: IBGC, 2019. _____. Governança em Empresas Familiares: um estudo qualitativo. São Paulo: IBGC, 2020. _______. Governança da Família Empresária: conceitos básicos, desafi os e recomendações. São Paulo: IBGC, 2016. INSTITUTO BRASILEIRO DE GOVERNANÇA CORPORATIVA. Governança em empresas familiares: evidências bra- sileiras. São Paulo, SP: IBGC, 2019. (Série IBGC Pesquisa). 60p. Disponível em: https://www.pwc.com.br/pt/estudos/ setores-atividades/pcs/2019/pesquisa-gov-emp-fam-19.pdf. Acesso em: 25 set. 2020. KPMG – Board Leadership Center. Retratos de família: um panorama do histórico e perspectivas das empresas fami- liares brasileiras. 2017, 2ª ed. Disponível em: https://assets. kpmg/content/dam/kpmg/br/pdf/2017/06/br-retratos-de- familia-2017.pdf. Acesso em: 25 agosto 2020. MOURA, Mariana. Supergovernança: um olhar ampliado sobre os desafi os das empresas familiares. São Paulo: Tre- visan Editora, 2020. SEBRAE. Negócios em família. Disponível em: https:// www. sebrae.com.br/integra_noticia?noticia=10526463. Acesso em: 10 set. 2020. SEBRAE. É importante planejar a sucessão na empresa familiar. Disponível em: https:// www.sebrae.com.br/ sites/PortalSebrae/artigos/e-importante-planejar-a-su- cessaona-empresa familiar,d5e89e665b182410VgnVCM- 100000b272010aRCRD. Acesso em: 10 set. 2020. SEBRAE. Como resolver confl itos em empresas familia- res. Disponível em: http://www. Referências Bibliográfi cas sebrae.com.br/sites/PortalSebrae/artigos/como-resolver- -confl itos-em-empresas-fami liares,48e7b08847c9a510VgnV CM1000004c00210aRCRD. Acesso em: 18 set. 2020. SEBRAE. Minha empresa é familiar. E agora? Disponível em: http://www.sebrae.com. br/sites/PortalSebrae/artigos/ minha-empresa-e-familiar-e-agora,5b98cc19f40e5510 Vgn- VCM1000004c00210aRCRD. Acesso em: 21 set. 2020. SEBRAE. As características dos negócios familiares. Dis- ponível em: http://www. sebrae.com.br/sites/PortalSebrae/ar- tigos/as-caracteristicas-de-negocios-familiares,4 8e89e665b- 182410VgnVCM100000b272010aRCRD. Acesso em: 21 set. 2020. SEBRAE. O futuro de seu negócio: Empresas familiares. E agora? Disponível em: http:// www.sebrae.com.br/sites/ PortalSebrae/bis/o-futuro-de-seu-negocio-empresas-familia res,0e78000e96127410VgnVCM1000003b74010aRCRD. Aces- so em 10 set. 2020. SEBRAE. Etapas dasempresas familiares. Disponível em: https://www.sebrae.com.br/sites/PortalSebrae. Acesso em 15 set. 2020. E-book. VRIES, Kets de; Manfred F. R.; CARLOCK, Randel S; FLORENT- -TREACY, Elizabeth. A empresa familiar no divã: uma pers- pectiva psicológica. Tradução André de Godoy Vieira. Porto Alegre: Bookman, 2009. Fica a Dica Para fi car atualizado sobre governança em empresas familiares, acesse o site do Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC) e leia as pesquisas: “Governança em empresas familiares: evidências brasileiras” e “Governança em Empresas Familiares: um estudo qualitativo”. Em: https://www.ibgc.org.br/ Fica a DicaTemos de aprender a separar o “lar” da “empresa”. Assim, o estabelecimento de reuniões e/ou assembleia familiar, conse- lho de família, family off ice, comitê de só- cios, processos sucessórios, dentre outros, viabiliza a profi ssionalização. Esta profi s- sionalização, além de reduzir os confl itos familiares/empresariais tão temidos, in- fl uenciará positivamente nos resultados da empresa e contribuirá para uma maior lu- cratividade de seus investimentos, produ- zindo um bom desempenho no mercado. Patrocínio Realização Correalização Apoio ViViANNE mENDoNÇA (autora) É mestre em Memória Social e Documentos pela Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (Unirio-RJ) e especialista em Teoria Psicanalítica pelo Instituto Brasileiro de Medicina de Reabilitação (IBMR-RJ). Tem formação em Gestalt-Terapia pelo Instituto Gestalt do Ceará e é psicóloga formada pela Universidade de Fortaleza (Unifor). É especializanda em Terapia Sistêmica de Família e Casal e membro da Associação Cearense de Terapia. rAFAEL LimAVErDE (ilustrador) Nascido em Belém/PA, naturalizado cearense, formado em Artes Visuais pelo Instituto Federal do Ceará (IFCE), é xilogravurista e ilustrador. Possui mais de 40 livros ilustrados em diversas editoras do país. É um dos organizadores do “Festival de Ilustração de Fortaleza”, evento que já está em sua quarta edição e é realizado dentro da Bienal do Livro do Ceará. Um ano de atividades e conteúdos para você criar ou impulsionar o seu negócio. webcontentsLives webinar podcasts programas de TV programas de rádio CONHEÇA MAIS EM SEMINARIOEMPREENDER.COM.BR 2020 FUNDAÇÃO DEMÓCRITO ROCHA (FDR) Diretora-Presidente: Luciana Dummar Diretor Administrativo-Financeiro: André Avelino de Azevedo Gerente Geral: Marcos Tardin Gerente Editorial e de Projetos: Raymundo Netto Analistas de Projetos: Aurelino Freitas, Emanuela Fernandes e Fabrícia Góis | UNIVERSIDADE ABERTA DO NORDESTE (UANE) Gerente Pedagógica: Viviane Pereira Coordenadora de Cursos: Marisa Ferreira Designer Educacional: Joel Bruno | CURSO GESTÃO E LIDERANÇA: EMPREENDER EM TEMPOS DE CRISE Coordenador Técnico: Nazareno Albuquerque Coordenadora Executiva: Valéria Xavier Coordenadora de Conteúdo: Flávia Chagas Coordenadora Editorial e Revisão: Daniela Nogueira Projeto Gráfico: Andrea Araújo Editores de Arte: Andrea Araújo e Welton Travassos Designer Gráfico: Welton Travassos Ilustrador: Rafael Limaverde Coordenadora de Marketing: Natercia Melo Designer (campanha): Jansen Lucas Webdesigner (campanha): Clemilson Souza Editora Criativa de Marketing: Renata Viana Analista de Marketing: Fernando Diego Sioli Todos os direitos desta edição reservados à: Fundação Demócrito Rocha Av. 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