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Direito Penal I Aula 13, 14, 15 e Prova AV2 26/11 7 questões objetivas + 1 discursiva estudo de caso Tema: Culpabilidade Livro: teorias da culpabilidade. Autor Cristiano Rodrigues. Culpabilidade ● Culpabilidade como princípio ● Culpabilidade como elemento do crime ● Culpabilidade como fator limitador da pena (Art. 59, CP) ● Culpabilidade como elemento subjetivo Teorias da Culpabilidade ● TEORIA NORMATIVA PURA DA CULPABILIDADE ● TEORIA PSICOLÓGICA NORMATIVA DA CULPABILIDADE Elementos da Culpabilidade ● Imputabilidade ● A potencial consciência da ilicitude ● Exigibilidade de conduta diversa. Introdução Greco (2017) apresenta o conceito de culpabilidade como um juízo de reprovação que incide sobre a conduta típica e ilícita. Dessa maneira, partindo de uma concepção tripartida de crime, a análise da culpabilidade é a última a ser realizada para se verificar se estamos, de fato, diante de um delito. Caso não seja possível identificar um dos fatores arrolados como elementos da culpabilidade, entende-se que a atitude que teve como resultado um fato típico e ilícito não se reveste das características inerentes a um fato criminoso. Nessas hipóteses, portanto, o que observamos é a presença de uma excludente de culpabilidade. (Elementos da culpabilidade) Os elementos que compõem a culpabilidade enumerados pela doutrina são a imputabilidade, a potencial consciência da ilicitude e a exigibilidade de conduta diversa. ● Imputabilidade Greco assevera que a imputabilidade se traduz na possibilidade de atribuir ao agente o fato típico e ilícito. A lei penal brasileira traz as situações nas quais não se considera que o agente responsável pelo fato é de fato imputável, que veremos a seguir. Art. 26, CP A primeira das causas que podem levar ao reconhecimento da inimputabilidade do agente é aquela trazida pelo caput do Art. 26, CP: Art. 26 - É isento de pena o agente que, por doença mental ou desenvolvimento mental incompleto ou retardado, era, ao tempo da ação ou da omissão, inteiramente incapaz de entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse entendimento. Observem que não basta a causa abordada pelo legislador como "doença mental" ou "desenvolvimento mental completo ou retardado" para que se verifique a inimputabilidade. Figura como requisito também a incapacidade completa de compreender que a conduta perpetrada é proibida ou mesmo a impossibilidade de se abster de sua prática, mesmo sabendo que a ação ou omissão em questão configura um fato típico e ilícito. Greco aduz que a necessidade de conjugação desses dois pressupostos leva à conclusão de que o legislador adotou o critério biopsicológico para aferir a imputabilidade com base nessa hipótese. A solução jurídica dada pelo ordenamento para zelar pela segurança da sociedade sem deixar de considerar a circunstância que conduz à inimputabilidade é a absolvição imprópria. Assim, o juiz que julga a ação penal na qual figura como réu um inimputável de acordo com o artigo acima transcrito deverá absolvê-lo e determinar que cumpra medida de segurança. No caso concreto, porém, é possível que se esteja diante de uma situação que se amolda ao que vem descrito no Art. 26, parágrafo único do CP: Art. 26. [...] Parágrafo único - A pena pode ser reduzida de um a dois terços, se o agente, em virtude de perturbação de saúde mental ou por desenvolvimento mental incompleto ou retardado não era inteiramente capaz de entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse entendimento. Nessa última hipótese, portanto, não se verifica inteiramente a presença do aspecto psicológico que compõe o critério mencionado. A solução dada é a redução da pena do agente em questão em vez de sua absolvição. A doutrina considera que nesses casos se está diante de um agente semi-imputável. Ademais, Greco lembra que à luz das peculiaridades do caso o juiz pode determinar o cumprimento de medida de segurança também por um agente semi-imputável. O autor faz referência à autorização contida no Art. 98 do CP, ressaltando que é necessário aferir se o condenado precisa passar por tratamento curativo especial para se cogitar da substituição. Art. 27, CP: Dispõe o mencionado dispositivo que os menores de dezoito anos são considerados penalmente inimputáveis. Esse é o único requisito elencado pelo legislador para concluir pela inimputabilidade do agente. Dessa maneira, Greco sintetiza o que a doutrina constata: em termos de inimputabilidade devido à menoridade penal, o critério legal é puramente biológico. O artigo remete à legislação especial para definição do tratamento a ser dispensado aos menores de dezoito anos que venham a praticar um ato infracional. O diploma em questão é o Estatuto da Criança e do Adolescente - Lei nº 8.069 de 1990. Essa hipótese de inimputabilidade foi endereçada também pelo constituinte. Vejam a seguir o teor do Art. 228 da Constituição: Art. 228. São penalmente inimputáveis os menores de dezoito anos, sujeitos às normas da legislação especial. De tempos em tempos surgem propostas de diminuição da idade a ser considerada para o reconhecimento da inimputabilidade pelo critério etário. A doutrina se divide no que tange à polêmica questão. Há autores que se filiam à tese de que a fixação da idade para fins de imputabilidade penal em dezoito anos se trata de uma garantia individual, que, pelo que dispõe o Art. 60, §4º, IV da Constituição, não poderia ser abolida nem mesmo por emenda constitucional. Outra parte da doutrina entende que a disposição constitucional em comento não se reveste das características de um direito ou de uma garantia fundamental, motivo pelo qual seria plenamente possível mudar o texto da CF para que se pudesse considerar também uma parte dos adolescentes com menos de dezoito anos penalmente imputáveis. Art. 28, CP - Não excluem a imputabilidade penal: I - a emoção ou a paixão; II - a embriaguez, voluntária ou culposa, pelo álcool ou substância de efeitos análogos. § 1º - É isento de pena o agente que, por embriaguez completa, proveniente de caso fortuito ou força maior, era, ao tempo da ação ou da omissão, inteiramente incapaz de entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse entendimento. § 2º - A pena pode ser reduzida de um a dois terços, se o agente, por embriaguez, proveniente de caso fortuito ou força maior, não possuía, ao tempo da ação ou da omissão, a plena capacidade de entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse entendimento. Pelo teor da lei podemos perceber que, ao contrário do que observa em relação à emoção, à paixão e à embriaguez voluntária ou culposa (incisos I e II), a embriaguez involuntária (§1º) figura como causa capaz de excluir a imputabilidade penal. Sendo assim, especificamente quanto à embriaguez, para que se considere o agente imputável não importa que ele tenha tido a intenção de se embriagar (embriaguez voluntária) ou mesmo que não o tenha pretendido, mas tenha feito uso consciente da substância capaz de levá-lo a esse estado (embriaguez culposa). Inimputável será apenas aquele que, contra a sua vontade, chegou a um estado de embriaguez completa que o impediu de se comportar conforme o direito, tendo essa circunstância conduzido o agente à prática de um fato típico e ilícito. As lições de Greco reforçam a maneira como a doutrina distingue o que se entende por caso fortuito do que é comumente denominado de força maior. O caso fortuito é uma causa atribuída à natureza, enquanto que o conceito de força maior é usado em situações nas quais se percebe que a atitude de um ser humano concorreu para a produção do resultado. A embriaguez involuntária incompleta foi tratada pelo legislador no §2º, figurando não como circunstância que leva à inimputabilidade, mas somente como causa de redução de pena. ● Potencial consciência da ilicitude No que diz respeito a esseelemento da culpabilidade, há de se verificar se o agente incorreu em um erro de proibição ao praticar o fato típico e ilícito. Dispõe o Art. 21 do Código Penal: Art. 21 - O desconhecimento da lei é inescusável. O erro sobre a ilicitude do fato, se inevitável, isenta de pena; se evitável, poderá diminuí-la de um sexto a um terço. Parágrafo único - Considera-se evitável o erro se o agente atua ou se omite sem a consciência da ilicitude do fato, quando lhe era possível, nas circunstâncias, ter ou atingir essa consciência. O referido erro sobre a ilicitude do fato é expressão sinônima ao conceito de erro de proibição. Tem-se, por conseguinte, que o erro de proibição, independentemente da modalidade, pode ser suficiente para figurar como causa capaz de afastar a culpabilidade. O parágrafo único do artigo explicita a diferença entre a consciência da ilicitude em potencial e a real consciência da ilicitude. É indiferente para constatar a presença desse elemento da culpabilidade que o agente efetivamente soubesse no momento da ação ou da omissão que o comportamento adotado por ele correspondia a uma contrariedade ao que é determinado pela lei penal. No caso concreto, portanto, basta que se conclua que o agente tinha acesso ao conteúdo da lei e capacidade de entender seu teor para se afastar a exclusão da culpabilidade por ausência de potencial consciência da ilicitude. O afastamento da culpabilidade com base na ausência desse elemento só ocorre se o erro de proibição for do tipo inevitável, que também é referido como escusável ou invencível. ● Exigibilidade de conduta diversa De acordo com Greco, a exigibilidade da conduta diversa deve ser entendida como a possibilidade que o agente tinha de agir de acordo com o direito no momento da ocorrência do fato típico e ilícito. O autor afirma que não é possível estabelecer um padrão aplicável a todas as pessoas para definir se cada qual delas poderia ter se comportado de maneira a evitar a ocorrência do fato na ocasião. Dessa forma, a análise da exigibilidade de conduta diversa deverá levar em consideração as circunstâncias pessoais dos agentes no caso concreto. A despeito disso, existem causas de exclusão da culpabilidade que decorrem da inexigibilidade de conduta diversa que foram trazidas de forma expressa pelo legislador no CP. Art. 22, CP - Se o fato é cometido sob coação irresistível ou em estrita obediência a ordem, não manifestamente ilegal, de superior hierárquico, só é punível o autor da coação ou da ordem. Cabe destacar, partindo do que traz Greco em seus escritos, que a coação irresistível é necessariamente uma coação moral. A coação física tem o condão de afastar a própria conduta. Assim, é a coação moral irresistível que leva à prática de fato típico e ilícito sem que se possa falar em culpabilidade. Essa é a hipótese na qual alguém pratica em um ato que sabe ser contrário ao direito devido à conduta de outra pessoa. Esse outro sujeito não deixa escolha para o agente responsável pelo fato que não a de agir de forma contrária ao disposto na lei. Não seria justo que o coagido fosse considerado culpável, motivo pelo qual o coator é quem responde pelo resultado criminoso. A outra causa de exclusão da culpabilidade por inexigibilidade de conduta diversa abordada pelo dispositivo em tela é a obediência hierárquica. A doutrina indica que a hierarquia a que se faz referência somente se apresenta entre agentes que integram a Administração Pública. Dessa forma, não é certo concluir que as relações entre as pessoas em posição de comando que atuam na iniciativa privada e os seus subordinados encontram-se abrangidas pelo disposto no Art. 22 do CP. O subordinado não pode alegar inexigibilidade de conduta diversa se a ordem que partiu de seu superior hierárquico tiver sido manifestamente ilegal. Deve o subordinado se recusar a cumprir o comando se for capaz de identificar que se trata de ato ilegal, mesmo que tema por represálias por parte de seu superior. A obediência deve ser também estrita, o que significa que se a atitude for ilegal somente devido ao excesso praticado pelo subordinado, não se está diante de uma excludente de culpabilidade. Por conseguinte, se o que o superior ordenou de forma alguma poderia se confundir com um ato ilegal, ele não será, de maneira geral, responsabilizado pelo delito cometido por seu subordinado. ● Causas supralegais Há ainda o que se entende por causas supralegais de exclusão da culpabilidade por inexigibilidade de conduta diversa. São hipóteses não previstas pelo legislador que levam à conclusão de que seria irrazoável demandar do agente o cumprimento da lei em dada situação, igualmente ao que se reconhece diante das causas de exclusão contempladas na lei penal. Greco cita a objeção de consciência como exemplo de causa supralegal que poderia afastar a culpabilidade no caso concreto. O autor explica que a objeção de consciência pode ser alegada quando se apresenta para o agente um conflito entre as convicções pessoais que lhe sejam de inestimável importância e a adoção de um comportamento de acordo com o que determina a lei. ● Co-culpabilidade O tema em estudo trata de uma questão em voga e de primordial importância, principalmente em relação aos menos favorecidos, os quais, muitas vezes, são deixados de lado pela justiça brasileira. Isso porque, o atual ordenamento jurídico ainda sofre forte influência do sistema processual inquisitório (ALMEIDA JÚNIOR, 2009), sistema este muito comum na idade média, no qual o juiz é o acusador e julgador ao mesmo tempo, e o delito recai sobre a pessoa, gerando um estigma de delinquente, muitas vezes para sempre. https://masterjuris.com.br/classificando-os-agentes-publicos/ https://masterjuris.com.br/classificando-os-agentes-publicos/ Não obstante, com o advento do iluminismo e as novas ideias, surgiu o sistema garantidor, no qual o juiz deve ser imparcial e o crime recai sobre o fato, buscando-se encontrar as razões que levaram ao indivíduo praticá-lo, bem como adequar a pena à medida da culpabilidade. Ademais, segundo Moura (2016), surgiram, no mesmo período do iluminismo, as ideias marxistas, com a finalidade de acabar com as desigualdades econômicas muito presentes na época do iluminismo. O que ocorreu, outrossim, por intermédio do direito, criticando-o como uma superestrutura com função ideológica para a manutenção do Estado Capitalista. Por conta disso, muitos autores situam a co-culpabilidade no direito socialista. Nesse sentido, de acordo com Moura (2016), o Direito Penal socialista tem como enfoque não só a igualdade formal, mas sim a material, sendo o direito um produto das condições econômicas de um país. Além do mais, o mencionado autor ainda diz que o surgimento da co-culpabilidade se confunde com o do Estado Liberal pautado em ideais iluministas, visto que a corresponsabilidade estatal na perpetração de ilícitos emergiu no momento da criação do Estado Liberal e seu contratualismo, sendo o delito uma forma de quebra do contrato social. Contudo, o Estado também quebra o contrato social quando deixa de propiciar condições mínimas de vida para os indivíduos. Sendo assim, pela teoria da coculpabilidade, tem-se que ela nada mais é do que a quebra do contrato social por parte do Estado, devendo ele reconhecer a sua inadimplência, com a co-culpabilidade estatal. Noutra esteira, o Código de Processo Penal Brasileiro, editado na década de 1940, é predominantemente inquisitivo, em razão de, àquela época, viger o período ditatorial. Todavia, com todos os eventos ocorridos ao longo do século XX e a prevalência dos direitos humanos, a Constituição Brasileira adotou o sistema garantidor, recaindo o crime predominantemente ao fato e buscando-se encontrar as razões que levaram o sujeito a cometê-lo. Cumpre mencionar que o Estado possui o poder de buscar a persecução penal e, consequentemente, punir o sujeito que comete crimes. Em contrapartida, estemesmo Estado, em sua Constituição Federal, prevê direitos fundamentais e condições mínimas para a dignidade da pessoa humana, princípio este positivado na própria Carta Magna, em seu artigo 1º, inciso III, caracterizado como fundamento basilar do Estado Democrático de Direito da República Federativa do Brasil, pelo que deve ser estritamente observado e aplicado pelos operadores do direito. Ademais, é notável a grande desigualdade social existente no Brasil, bem como a enorme quantidade de pessoas passando fome e abaixo da linha da pobreza. A título de exemplo, pode-se citar os dados do IBGE, publicados pela Agência Brasil, por Oliveira (2017), segundo os quais em torno de 50 milhões de brasileiros vivem até a linha da pobreza, o que equivale a 25,4% da população, os quais têm renda familiar de até R$387,07 (trezentos e oitenta e sete reais e sete centavos). Tamanho estado de necessidade propiciado pela pobreza e ausência de condições mínimas de vida, bem como oportunidades e educação, faz com que o indivíduo retorne ao seu estado de natureza, por vezes deixando de lado a ética subjetiva e a moral existentes em nossa sociedade. Sendo assim, como o Estado, ao não proporcionar condições mínimas para a sobrevivência do ser humano, bem como diante da ausência de políticas públicas e da desigualdade social vivenciada por muitos, poderia exigir conduta diversa daquele que, em desespero, comete delitos? Tal questionamento foi feito, inicialmente, por Marat (apud BAYER, 2013, online), que, em uma visão extremista, “defendia que os indivíduos marginalizados da sociedade, que não possuem seus direitos fundamentais garantidos, não são obrigados a respeitar a lei, nem suscetíveis às suas sanções”. A referida ideia inspirou Zaffaroni e Pierangelli (p. 545, 2019) a elaborarem a teoria da coculpabilidade estatal, segundo os quais: Todo sujeito age numa circunstância dada e com um âmbito de autodeterminação também dado. Em sua própria personalidade há uma contribuição para esse âmbito de autodeterminação, posto que a sociedade – por melhor organizada que seja – nunca tem a possibilidade de brindar a todos os homens com as mesmas oportunidades. Em consequência, há sujeitos que têm um menor âmbito de autodeterminação, condicionado desta maneira por causas sociais. Não será possível atribuir estas causas sociais ao sujeito e sobrecarregá-lo com elas no momento da reprovação de culpabilidade. Costuma-se dizer que há, aqui, uma ‘co-culpabilidade’, com a qual a própria sociedade deve arcar. Tem-se afirmado que este conceito de co-culpabilidade é uma ideia introduzida pelo direito penal socialista. Cremos que a co-culpabilidade é herdeira do pensamento de Marat e, hoje, faz parte da ordem jurídica de todo Estado Social de Direito, que reconhece direitos econômicos e sociais, e, portanto, tem cabimento no Código Penal mediante a disposição genérica do art. 66. Pertinente ao tema, ademais, é o que leciona Greco (2011, p. 425): Sabemos, como regra geral, a influência que o meio social pode exercer sobre as pessoas. A educação, a cultura, a marginalização e a banalização no cometimento de infrações penais, por exemplo, podem fazer parte do cotidiano. Sabemos, também, que a sociedade premia poucos em detrimento de muitos. [...] A teoria da coculpabilidade ingressa no mundo do Direito Penal para apontar e evidenciar a parcela de responsabilidade que deve ser atribuída à sociedade quando da prática de determinadas infrações penais pelos seus “supostos cidadãos”. Contamos com uma legião de miseráveis que não possuem um teto para se abrigar, morando embaixo de viadutos ou dormindo em praças ou calçadas, que não conseguem emprego, pois o Estado não os preparou ou qualificou para que pudessem trabalhar, que vivem a mendigar por um prato de comida, que fazem uso de bebida alcoólica para fugir à realidade que lhes é impingida. Quando tais pessoas praticam crimes, devemos apurar e dividir sua responsabilidade com a sociedade. Nesse sentido, pode-se dizer que a teoria da coculpabilidade caracteriza-se por tornar o Estado corresponsável pelo cometimento dos delitos daqueles que são menos favorecidos e não tiveram o mínimo existencial. PRINCÍPIO DA COCULPABILIDADE Tal conceito foi recepcionado no ordenamento jurídico brasileiro como o princípio da coculpabilidade estatal, tratando-se de princípio constitucional implícito, conforme Moura (2016), o qual caracteriza a corresponsabilidade do Estado pelo cometimento de delitos, que são perpetrados por indivíduos que têm menor âmbito de autodeterminação no que tange às circunstâncias do caso, mormente diante das condições econômicas e sociais do agente, que enseja uma menos elevada reprovação social, o que traz consequências na aplicação da pena. Ademais, Espinoza, ao comentar o artigo 45 do Código Penal peruano, exemplifica a coculpabilidade: O artigo 45 do Código Penal consagra o princípio Jus Poenali da Co-culpabilidade da sociedade e do Estado na perpetração do delito, como causa eficiente ou condicionante das causas sociais, materiais e culturais da conduta criminal dos homens; por isso, se prescreve que o julgador deverá ter em conta no momento de fundamentar a culpa e determinar a pena, as carências sociais que teriam afetado o agente. Nesta forma de sociedade e Estado, que toleram que imperem as desigualdades econômicas, as injustiças sociais, politicas e culturais, estariam reconhecendo que não brindam com iguais possibilidades de superação a todos os homens, para lhes exigir um comportamento com adequação à lei os interesses gerais coletivos da comunidade regulados pelo direito positivo; portanto, se está aceitando uma responsabilidade da sociedade e do Estado, no que se refere à conduta delitiva dos infratores penais, como mea-culpa, conceitua o artigo 45 do Código Penal em reconhecimento oficial do Estado, que a delinquência é gestada nas condições sociais de injustiça que imperam na sociedade. Em atenção ao estatuto, diminui ou desaparece a co-culpabilidade na mesma medida em que o delinquente tenha tido condições materais, sociais e culturais para realizar-se como ser humano honrado e se comportar os mandos e proibições normativas e normas culturais de convivência social que requerem ao homem socialmente útil, o que também conduz ao direito e a condutas éticas. Por “mea-culpa” que tem o efeito de enfraquecer ou atenuar o direito de castigar (Jus Puniendi) que o Estado exerce em nome da sociedade (tradução livre). Sendo assim, trata-se de uma mea-culpa da sociedade, devendo-se aplicar menor reprovabilidade quando o autor do crime é hipossuficiente, caracterizando-se o Estado, nesse caso, como inadimplente em sua obrigação, devendo, assim, responder conjuntamente pelo delito. Desta feita, o questionamento a ser realizado é: como, então, aplicar o princípio da coculpabilidade estatal ao ordenamento jurídico brasileiro? Responde-se, inicialmente, a tal pergunta utilizando-se o princípio da individualização da pena, o qual pressupõe que a pena se adeque a cada caso concreto (SILVA, 2009). Nesse sentido, salienta-se que já existem elementos no ordenamento jurídico brasileiro que propiciam a referida individualização, prescindindo, assim, de inovação legislativa. Pode-se dizer que tais elementos estão previstos no artigo 187, § 1º, do Código de Processo Penal[1] e no artigo 59 do Código Penal[2], em que ambos se relacionam, podendo-se ainda, em substituição a este, aplicar-se a denominada circunstância atenuante inominada, positivada no artigo 66 do Código Penal. Desta forma, em relação ao primeiro artigo mencionado, aplica-se o referido princípio analisando-se, já no momento do interrogatório em juízo, as oportunidades sociais que o indivíduo teve ao longo de sua vida. A análise em comento é aplicada na fase da dosimetria da pena, utilizando-se do segundo elemento mencionado, o artigo 59 do Código Penal, no qual o juiz, ao aplicar a pena, atenderá à culpabilidade do agente,que, como já mencionado, deve ser minorada, por conta da corresponsabilidade estatal, gerando assim uma diminuição da pena. O artigo 66, por sua vez, pode ser adotado na segunda fase da dosimetria da pena, a qual, consoante o entendimento de Greco (2017), denota o caráter exemplificativo das circunstâncias atenuantes, previstas no artigo 65 do Código Penal. A título de exemplo de aplicação do mencionado princípio, pode-se citar os dizeres de Greco (2017, p. 321), segundo o qual “pode o juiz considerar o fato de que o ambiente no qual o agente cresceu e se desenvolveu psicologicamente o influenciou no cometimento do delito”. Isto posto, deve-se considerar que o Estado responde por sua omissão, quando deixou de propiciar o mínimo existencial ao indivíduo, e responde conjuntamente com este, por diminuir a pena na fase da persecução criminal. No entanto, insta mencionar o grande empecilho à aplicação coculpabilidade: os julgados dos tribunais, visto que a jurisprudência pátria é majoritariamente contrária à utilização do princípio da coculpabilidade estatal, justificando que fere o princípio da igualdade, constituindo-se este como premissa máxima do art. 5º, caput, da Constituição Federal, conforme se vê pelo seguinte julgado: DESNECESSIDADE DE VISTA AO MINISTÉRIO PÚBLICO EM SEGUNDA INSTÂNCIA. PRELIMINAR REJEITADA. PROVAS DA AUTORIA E MATERIALIDADE. ABSOLVIÇÃO. IMPOSSIBILIDADE. DECOTE DA MAJORANTE. IMPOSSIBILIDADE. PRINCÍPIO DA COCULPABILIDADE. APLICAÇÃO DA ATENUANTE GENÉRICA DO ART. 66 DO CÓDIGO PENAL. DESCABIMENTO. PARTICIPAÇÃO DE MENOR IMPORTÂNCIA. IMPOSSIBILIDADE. CONDENAÇÃO MANTIDA. OBSERVÂNCIA DO PRINCÍPIO DA PROPROCIONALIDADE E DO “NON REFORMATIO IN PEJUS”. RÉU REINCIDENTE E PORTADOR DE MAUS ANTECEDENTES. FIXAÇÃO DE REGIME FECHADO. – A ausência de abertura de vista ao representante do Ministério Público em segunda instância é causa de nulidade do processo, devendo por isso, até manifestação em sentido contrário da Corte Suprema, se realizada. – Se as provas se mostram suficientes para demonstrar a materialidade e autoria do delito de roubo majorado pelo concurso de pessoas, não há como absolver o acusado por negativa de autoria, devendo prevalecer a palavra do próprio agente na fase policial, do comparsa e das testemunhas, admitindo a participação no crime. – Utilizar o princípio da coculpabilidade para justificar a aplicação da atenuante genérica do art. 66 do CP significa violar o princípio da igualdade, já que como é sabido, e por demais honroso, nem todas as pessoas pobres, que passam por sérias dificuldades financeiras para garantir sua sobrevivência, buscam no mundo do crime a saída para todas as suas mazelas. (TJ-MG, 2013, online). CÓDIGO PENAL. CRIMES CONTRA O PATRIMÔNIO. ART. 155, § 4º, INCISOS II E IV. FURTO QUALIFICADO. FRAUDE. CONCURSO DE AGENTES. ART. 244-B DA LEI Nº 8.069/90. CORRUPÇÃO DE MENORES. EXISTÊNCIA DO FATO E AUTORIA. [...] PRINCÍPIO DA COCULPABILIDADE. Não prospera a tese defensiva em atribuir ao Estado responsabilidade pela vida criminosa do agente. Teoria de viola o princípio da igualdade e não tem previsão na legislação pátria. Réu que teria condições de agir de modo diverso, pois não há nexo causal entre sua conduta e sua condição financeira [...] (TJ-RS, 2013, online). Contudo, ao aplicar desta maneira o mencionado princípio, deixa-se de observar a efetiva igualdade, porquanto os desiguais, no caso, os menos favorecidos e que não obtiveram acesso a benefícios mínimos que deveriam ser prestados pelo Estado, devem ser tratados desigualmente e na medida de suas desigualdades (MOURA JÚNIOR, 2013), por meio de uma diminuição da pena, utilizando-se, assim, da igualdade material, ou aristotélica, visto que apenas assim seria possível aplicar a igualdade de uma maneira verdadeiramente justa. Não obstante, o juiz, ao deixar de aplicar a igualdade material, em virtude dos próprios valores, torna-se, como mencionado na doutrina de Streck (2010), o denominado sujeito solipsista, ou individualista, que decide conforme a própria consciência, de forma discricionária, o que deve ser repelido do ordenamento jurídico, sob pena de prejudicar, sobremaneira, a segurança jurídica. Assim, com o presente trabalho não se busca a aplicação efetiva da ideia de Marat, ao dizer que os indivíduos menos favorecidos não devem ser punidos, tampouco vitimizá-los, mas apenas aplicar a pena de maneira justa, porquanto o Estado, ao deixar de propiciar as condições mínimas de vida e dignidade, torna-se corresponsável pelo crime. A seguir, mostra-se, a título de exemplo, um caso favorável e outro parcialmente favorável da jurisprudência: APELAÇÃO CRIMINAL – ROUBO IMPRÓPRIO EM CONCURSO DE PESSOAS. [...] 2. ABRANDAMENTO DE PAN PELA COCULPABILIDADE ESTATAL [...] A coculpabilidade do Estado não pode ser reconhecida e aplicada de modo indistinto, devendo ser reconhecida com parcimônia, apenas se comprovado, de modo inequívoco, que o agente seja fruto de sociedade injusto e que lhe propiciou desiguais oportunidades, se comparadas às de seus pares. [...] (TJ-MT, 2010, online). Como pode-se notar, no primeiro caso, diz-se que, embora o princípio da coculpabilidade não pode ser aplicado de modo indistinto, ele deve sim ser aplicado quando surgir uma situação que se subsume ao princípio. Outrossim, no caso delineado adiante, diz-se, de igual forma, que quando ocorrer um caso equivalente ao princípio da coculpabilidade estatal, ele deve, sim, ser aplicado. APELAÇÃO – FURTO – PROVAS SUFICIENTES DA AUTORIA E MATERIALIDADE – CONDENAÇÃO MANTIDA – PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA – NÃO APLICAÇÃO – TENTATIVA – RECONHECIMENTO – IMPOSSIBILIDADE – CO-CULPABILIDADE – RECONHECIMENTO PARA FINS DE PROPORCIONALIDADE – NÃO-APLICABILIDADE – PENA-BASE EXACERBADA – DIMINUIÇÃO – REINCIDÊNCIA – AUMENTO EXACERBADO DA PENA-BASE – PRINCÍPIO DA RAZOABILIDADE – AUMENTO MÁXIMO DE 1/6 SOBRE A PENA-BASE. Sendo o conjunto probatório idôneo a comprovar a autoria e materialidade deve ser mantida a sentença condenatória. Não se pode reconhecer a incidência do princípio da insignificância quando o valor da res furtiva é de quarenta reais, superando, em muito, o critério balizador do crime de bagatela, ou seja, dez por cento do salário mínimo vigente à época dos fatos. A consumação do crime de furta verifica-se quando o agente retira o bem da esfera de disponibilidade da vítima, ainda que por pouco tempo, não sendo necessária a posse mansa e pacífica. Sendo a maioria das circunstâncias judiciais favoráveis ao réu, a pena-base da privativa de liberdade deve ser fixada no mínimo legal. É de se reconhecer a circunstância atenuante inominada, descrita no art. 66 do Código Penal, quando comprovado o perfil social do acusado, desempregado, miserável, sem oportunidades na vida, devendo o Estado, na esteira da co-culpabilidade citada por Zaffaroni, espelhar a sua responsabilidade pela desigualdade social, fonte inegável de delitos patrimoniais, no juízo de censura penal imposto ao réu. Tal circunstância pode e deve, também, atuar como instrumento da proporcionalidade na punição, imposição do Estado Democrático de Direito. Apesar de nosso Código Penal não determinar qual a quantidade de aumento ou de diminuição das agravantes e atenuantes, doutrina e jurisprudência majoritárias tem aceitado que a variação dessas circunstâncias, atendido o princípio da razoabilidade, não deve modificar a pena-base, em mais de 1/6 (um sexto). (TJ-MG, 2007, online). Sendo assim, a mencionada jurisprudência corrobora o que se busca demonstrar no presente trabalho, ao aplicar a atenuante inominada na aplicação da pena de um indivíduo hipossuficiente, o que se pretende evidenciar com este artigo. Ademais, por ser o Estado o responsável pela punição dos indivíduos que descumprem a lei, bem como pela persecução criminal, faz-se mister aplicar uma diminuição de pena aos hipossuficientes, ao utilizar-se da igualdade material, respondendo, assim, conjuntamente por sua omissão.● Co-culpabilidade às avessas Um tema bastante recorrente em bancas examinadoras de concursos e, certamente, de grande impacto no universo jurídico é a “teoria da coculpabilidade às avessas”. Neste contexto, quando nos referimos isoladamente ao termo “coculpabilidade”, devemos correlacioná-lo à ideia de “corresponsabilidade”, ou seja, divisão de responsabilidade. Segundo a teoria da coculpabilidade, muito difundida por Eugênio Raúl Zaffaroni em suas obras, o Estado, responsável pela erradicação das desigualdades econômicas e sociais e também pela adoção de políticas públicas de combate à pobreza, teria parcela de responsabilidade na prática do delito quando perpetrado por pessoas marginalizadas, menos favorecidas e que tiveram menos oportunidades diante da sociedade. Desse modo, de acordo com esse ilustre jurista argentino, “coculpabilidade é corresponsabilidade do Estado no cometimento de determinados delitos, praticados por cidadãos que possuem menor âmbito de autodeterminação diante das circunstâncias do caso concreto, principalmente no que se refere a condições sociais e econômicas do agente, o que enseja menor reprovação social“. Segue dizendo ainda que “a sobrecarga de reprovação que se deve impor a quem padece de uma carência social, deve ser retransmitida à sociedade que motiva essa carência e não ao carenciado que não pode prover a sua própria superação“. Desta forma, segundo o princípio da coculpabilidade, o Estado-juiz haveria de considerar como atenuante as condições sócio-econômicas do réu no momento na aplicação da pena. Veja que o artigo 66 do Código Penal autoriza ao Juiz esse postulado, através da, chamada pela doutrina, atenuante inonimada: Art. 66 – A pena poderá ser ainda atenuada em razão de circunstância relevante, anterior ou posterior ao crime, embora não prevista expressamente em lei. Essa é a teoria da coculpabilidade. Mas o que seria coculpabilidade às avessas, então ? Como o próprio nome sugere, seria a inversão dessa corresponsabilidade do Estado, tratado até então. O Estado, ao invés de atenuar a pena aplicada aos menos favorecidos, por vezes, chega, inclusive, a tipificar infrações penais punindo a marginalidade, como eram os casos das contravenções penais de vadiagem (artigo 59) e mendicância (artigo 60), ambos artigos revogados pela Lei 11.983/2009. Desta forma, a coculpabilidade às avessas se divide em duas perspectivas: 1ª – É o abrandamento da aplicação da pena nos crimes praticados por pessoas de alto poder sócio-econômico, como é o caso da extinção da punibilidade pelo pagamento da dívida nos crimes contra a ordem tributária, previstos na Lei 8.137/90, quando na verdade, essas mesmas pessoas deveriam sofrer um maior rigor na aplicação da pena, porquanto tiveram maiores oportunidades perante a sociedade. 2ª- É a criação pelo Estado de leis que incriminem as condutas passíveis de estarem sujeitas somente as pessoas de menor capacidade sócio-econômica, como é caso da vadiagem e mendicância, já mencionadas acima. Apesar das mais variadas críticas, inclusive minhas, essa teoria exerce muita influência no direito brasileiro. Suas proposições vão muito ao encontro do pensamento abolicionista penal, ao qual reúne inúmeros juristas no Brasil e no mundo. conteúdo alternativo ERRO DE TIPO Tipo é a descrição legal da norma proibitiva, vale dizer, é a norma que descreve condutas (previstas abstratamente) que são criminosas. Quando o indivíduo pratica um fato e ele se subsume na descrição legal, tem-se o crime, surgindo ai o “ius puniendi” do Estado. Porém, podem ocorrer circunstâncias que, se objetivamente constatadas, excepcionam o poder de punir do Estado e dentre estas exceções encontra-se o erro de tipo. O erro de tipo está no art. 20, “caput”, do Código Penal. Ocorre, no caso concreto, quando o indivíduo não tem plena consciência do que está fazendo; imagina estar praticando uma conduta lícita, quando na verdade, está a praticar uma conduta ilícita, mas que por erro, acredite ser inteiramente lícita. O erro sobre o fato típico diz respeito ao elemento cognitivo, o dolo, vale dizer, a vontade livre e consciente de praticar o crime, ou assumir o risco de produzi-lo (Dolo Direto e Eventual respectivamente, CP art. 18, I). http://www.jusbrasil.com.br/topicos/10637722/artigo-20-do-decreto-lei-n-2848-de-07-de-dezembro-de-1940 http://www.jusbrasil.com.br/legislacao/1033702/c%C3%B3digo-penal-decreto-lei-2848-40 http://www.jusbrasil.com.br/legislacao/1033702/c%C3%B3digo-penal-decreto-lei-2848-40 http://www.jusbrasil.com.br/topicos/10637924/artigo-18-do-decreto-lei-n-2848-de-07-de-dezembro-de-1940 http://www.jusbrasil.com.br/topicos/10637890/inciso-i-do-artigo-18-do-decreto-lei-n-2848-de-07-de-dezembro-de-1940 Por isso, de acordo com o que dispõe o art. 20, caput, do CP, o erro de tipo exclui o dolo e, portanto, a própria tipicidade (como visto, o dolo foi deslocado para Tipicidade de acordo com a Teoria Finalista). Observe não há qualquer mácula à culpabilidade, por força disso, se o erro for vencível, haverá punição por crime culposo desde que previsto no tipo penal. Trata-se de um consectário lógico do Princípio da Excepcionalidade do crime culposo, art. 20, CP, modalidade examinada mais adiante. Formas de Erro de Tipo O Erro de Tipo pode apresentar-se de duas formas, quais sejam, o erro “essencial” e “acidental”. Passaremos agora ao exame sucinto, porém, não destituído de caráter dogmático, que é o escopo do ensaio. A) Erro Essencial Ocorre o erro essencial quando ele recai sobre elementares, qualificadoras, causas de aumento de pena e agravantes, ficando-as excluídas se o erro foi escusável. Portanto, nesta forma, o agente não tem plena consciência ou nenhuma de que esta praticando um conduta típica. O erro essencial por sua vez se desdobra em duas modalidades, a saber: a) Escusável ou Invencível – está previsto no art. 20, “caput”, 1.º parte. Verifica-se quando o resultado ocorre, mesmo que o agente tenha praticado toda diligencia necessária, em suma, naquela situação todos agiriam da mesma forma. Ocorrendo esta modalidade, ter-se-á por excluído o dolo e também a culpa. Logo, se o erro recai sobre uma elementar, exclui o crime, se recai sobra qualificadora, exclui a qualificadora e assim por diante. As conseqüências processais são de suma importância pois, havendo inquérito, deve o membro do “parquet”pedir seu arquivamento, e se houver ação penal, deve pedir o trancamento. b) Vencível ou Inescusável – previsto no art. 20, 1º parte, CP. Se dá quando o agente, no caso concreto, em não agindo com a cautela necessária e esperada, acaba atuando abruptamente cometendo o crime que poderia ter sido evitado. Ocorrendo essa modalidade de erro de tipo, há a exclusão do dolo, porém subsiste a culpa. Portanto o réu responde por crime culposo se existir a modalidade culposa, em decorrência do Princípio da Excepcionalidade do Crime culposo. Alguns doutrinadores chamam essa modalidade de “culpa imprópria” e como o próprio nome sugere ela é excepcional, não seguindo os regramentos da modalidade comum, motivo pelo qual, v. G, admite-se tentativa. À guisa de exemplo, para que melhor se entenda o erro vencível, ocorre quando, tio e sobrinho saem para uma caçada, cansados de esperar pela presa o sobrinho resolve sair para buscar água. Ao retornar, já no crepúsculo vespertino, seu tio acha que é sua caça e sem tomar as cautelas necessárias, acaba atirando. Ao se dirigir à suposta presa alveja, percebe que é o sobrinho. Neste caso o tio responde por homicídio culposo. B) Erro de Tipo Acidental Art. 73, CP O erro acidental, que recai sobre circunstâncias secundárias do crime. Não impede o conhecimento sobre o caráter ilícito da conduta, o que por consectário lógico não obsta a responsabilização do agente, devendo responder pelo crime. Esse erro possui várias espécies, a saber: a) Erro sobre o objeto Art.74,CP: o agente supõeestar praticando a conduta contra o objeto material que deseja, mas por erro acaba atingindo outro. Ex: uma pessoa querendo furtar um aparelho de televisão que encontra-se http://www.jusbrasil.com.br/topicos/10637722/artigo-20-do-decreto-lei-n-2848-de-07-de-dezembro-de-1940 http://www.jusbrasil.com.br/legislacao/1033702/c%C3%B3digo-penal-decreto-lei-2848-40 http://www.jusbrasil.com.br/topicos/10637722/artigo-20-do-decreto-lei-n-2848-de-07-de-dezembro-de-1940 http://www.jusbrasil.com.br/legislacao/1033702/c%C3%B3digo-penal-decreto-lei-2848-40 http://www.jusbrasil.com.br/legislacao/1033702/c%C3%B3digo-penal-decreto-lei-2848-40 em embalagem fechada, entra na loja da vítima, acaba, porém, levando uma máquina de lavar. Observe que o erro do agente é acidental e irrelevante, consoante mencionado supra, respondendo assim pelo crime. b) Erro “ in persona”: o agente com sua conduta criminosa visa certa pessoa, mas por erro de representação, acredita ser aquela em que efetivamente deseja atingir. Um exemplo ajuda entender essa espécie: Júnior, atirador de elite, resolve dar cabo na vida de José, seu pai. Para tanto usa de seus conhecimentos de atirador, esperando que seu pai passe, como de costume, pelo local onde o aguarda. Então vem um indivíduo com os mesmos caracteres físicos de seu pai. João prepara sua melhor mira e atira, mas acaba matando Pedro, irmão gêmeo de José, seu pai. Observe que não houve falha na execução do delito, apenas ocorreu uma falsa representação da realidade, dado a semelhança física entre os irmãos. Ocorrendo o erro de pessoa, o agente responde como se tivesse atingindo a pessoa que pretendia e não as que efetivamente atingiu. No exemplo supra citado o agente responde como se tivesse atingido o pai, e não o tio. Outra não é exegese do art 20 § 3.º CP. c) Erro na execução ou “aberratio ictus”: ocorre quando o agente por execução imperfeita acaba atingindo um terceiro que, em regra, não fazia parte do seu “animus”. Ex: Júnior, um desastrado, resolve matar seu irmão. Quando este passa pelo local esperado Júnior atira, mas por erro de pontaria, acaba não por atingir seu irmão, mas a namorada deste, que estava ao seu lado. Havendo resultado único o agente responde por um só crime, mas levando-se em conta as condições pessoa que queria atingir, nesse sentido art. 73 CP. Porém, pode ocorrer resultado duplo, vale dizer, atingiu dolosamente a pessoa que queria e culposamente um terceiro, neste caso há concurso formal perfeito (ou normal ou próprio), uma vez que não existe desígnios autônomos, devendo ser considerada uma só pena aumentando-se de 1/6 a ½. É o Sistema da Exasperação. Pode ocorrer também, como afirmamos retro, que esteja no “animus” do agente atingir as duas pessoas, portanto um resultado duplo doloso. Neste caso afirma-se haver desígnios autônomos, devendo então as penas serem somadas, é o Sistema do Cúmulo Material. Tem-se na hipótese manejada o concurso formal impróprio (ou anormal ou imperfeito). De notar-se que o erro na execução difere do “erro in persona” porque neste, o agente atinge a vítima pensando que a desejada. Ou seja, há uma falsa representação da realidade. No erro na execução, o agente quer atingir a vítima desejada e sabe que é ela, só que erra na execução, e atinge outra pessoa (vítima alvejada). d) “aberratio causae”: neste caso o erro recai sobre o nexo causal, é a hipótese do dolo geral. Um exemplo nos leva à compreensão da espécie, ex: A dá várias facadas em B e, presumindo que esteja morto, atira-o de um precipício, mas B vem a morrer com a queda e não em razão das facadas – nesses casos, não haverá exclusão do dolo, punindo-se o autor por crime doloso. e) Resultado diverso do Pretendido ou “aberratio delicti” – nesta espécie de erro do tipo, o agente quer atingir determinado bem jurídico, mas atinge outro. Ex: Júnior quer atingir a vidraça, mas por erro de pontaria acaba por acertar a cabeça de José. Neste caso o agente só responde por lesões culposas, que absorve a tentativa de dano. Porém se ocorrer duplo resultado, ou seja, atinge a vidraça e pessoa, o agente responde por crime de dano consumado em concurso formal com crime de lesões corporais culposas, aplicando-se o Sistema da Exasperação, já explicado anteriormente, e para onde remetemos o leitor. Por fim, não pode-se deixar de mencionar, responde pelo crime o terceiro que determina o erro, na forma do art. 20, § 2º do CP. Colhamos aqui o exemplo dado pelo professor Mirabete, para melhor compreensão da hipótese aventada: “ suponha-se que o médico, desejando matar o paciente, entrega à enfermeira uma injeção contendo veneno, afirma que se trata de um anestésico e fez com que ela aplique”. Conclui-se que a enfermeira não agiu dolosamente, mas por um erro que terceiro determinou, neste caso apenas o médico responde pelo crime de homicídio. http://www.jusbrasil.com.br/topicos/10637722/artigo-20-do-decreto-lei-n-2848-de-07-de-dezembro-de-1940 http://www.jusbrasil.com.br/topicos/10637616/par%C3%A1grafo-3-artigo-20-do-decreto-lei-n-2848-de-07-de-dezembro-de-1940 http://www.jusbrasil.com.br/legislacao/1033702/c%C3%B3digo-penal-decreto-lei-2848-40 http://www.jusbrasil.com.br/topicos/10631289/artigo-73-do-decreto-lei-n-2848-de-07-de-dezembro-de-1940 http://www.jusbrasil.com.br/legislacao/1033702/c%C3%B3digo-penal-decreto-lei-2848-40 http://www.jusbrasil.com.br/topicos/10637722/artigo-20-do-decreto-lei-n-2848-de-07-de-dezembro-de-1940 http://www.jusbrasil.com.br/topicos/10637648/par%C3%A1grafo-2-artigo-20-do-decreto-lei-n-2848-de-07-de-dezembro-de-1940 http://www.jusbrasil.com.br/legislacao/1033702/c%C3%B3digo-penal-decreto-lei-2848-40 ERRO DE PROIBIÇÃO Assim dispõe o art. 21, CP: “O desconhecimento da lei é inescusável. O erro sobre a ilicitude do fato, se inevitável, isenta de pena; se evitável, poderá diminuir a pena de um sexto a um terço”. É de suma importância que neste instante já tenhamos uma idéia exata da distinção entre a ignorância da lei e ausência de conhecimento da ilicitude, tema que já fora comentado quando da introdução e para onde remetemos o leitor. Faz-se nodal se ter em mente um premissa, qual seja, o que se exige não é uma consciência induvidosa da ilicitude, pôs se assim o fosse, somente os sábios operadores do direito a teriam, o que se exige é uma potencial consciência ( ou como afirmava Mezger: “Violação Paralela do Profano”), que decorre necessariamente do conjunto de valores éticos e morais de cada individuo. É preciso que isso fique bem claro já que, nosso parlamento é uma metralhadora legiferante – basta observar que hoje existem mais de mil tipos penais – o que acarreta inexoravelmente uma multiplicidade de leis, diga-se de passo, desprovidas de qualquer cunho técnico, isso para dizer o mínimo. Motivo pelo qual torna-se por vezes impossível, até para nós operadores do direito, saber o que é permitido ou que é proibido. O nosso CP, na primeira parte do art. 21 foi fiel a regra de que o desconhecimento da lei não é escusável, ou seja, se o agente desconhece a lei que proíbe abstratamente aquele comportamento, essa ignorância não o exime de responsabilidade. Regra essa que guarda total compatibilidade com o art. 3º LICC, que reza: a ninguém é dado descumprir a lei alegando que não à conhece. Até por quê, se se pudesse alegar o desconhecimento da lei, para alguém excusar-se da responsabilidade, não haveria possibilidade positiva de aplicação, tantas seriam as desculpas de desconhecimento. O legislador determinou que o erro de proibição exclui a culpabilidade, por inexistência de potencial conhecimento de ilicitude. É mister verificarmos que o agente atua com vontade, ou seja, dolo, portanto o primeiro requisito do fato típico punível encontra-se superado. A solução da questão se dará na culpabilidade. Esta não há, uma vez que se pratica o fato por erro quanto a antijuridicidade de sua conduta. Observe que podemos falar em injusto penal,que é o fato já valorado como típico e antijurídico, mas não punível, por faltar a culpabilidade. O erro de proibição se faceta nas seguintes formas: direto, indireto (erro de permissão), ambos denominados de discriminantes. Alguns autores falam em erro mandamental, mas não teceremos comentários sobre eles O erro de proibição direto recai sobre seu comportamento, o agente acredita sinceramente que sua conduta é lícita. Pense, por exemplo, turista que trazia consigo maconha para consumo próprio, pois em seu país era permitido tal uso. Por seu turno, o erro de proibição indireto se dá quando o agente supõe que sua ação, ainda que típica, é amparada por alguma excludente de ilicitude pode ocorrer em duas situações, quais sejam: 1. Quando aos limites- o agente pratica o fato porém desconhece seus limites, como por exemplo, João ameaça José, este por sua vez vai à sua casa, pega a arma e mata João. Se enganou, pois pensou que a legítima defesa poderia se dar em relação a mal futuro. Desconhecia José que a referida excludente de ilicitude se refere à agressão atual e iminente. 2. Quanto à existência: o agente supõe presente uma causa que está ausente, à guisa de exemplo pode-se citar o caso de alguém que, sendo credor de outrem, entende que pode ir à casa deste pegar o dinheiro devido, sendo certo que tal atitude configura crime de Exercício Arbitrário das Próprias Razões (art. º 345 CP) Não se deve olvidar que, apesar de o desconhecimento da lei ser inescusável, é previsto como circunstância atenuante pelo art. 65, II, CP. PROFESSOR CULPABILIDADE No século XVI e XVIII a noção de culpabilidade com base no direito natural, era a possibilidade de se imputar, ao indivíduo, as consequências de seus atos praticados livremente. http://www.jusbrasil.com.br/topicos/10637584/artigo-21-do-decreto-lei-n-2848-de-07-de-dezembro-de-1940 http://www.jusbrasil.com.br/legislacao/1033702/c%C3%B3digo-penal-decreto-lei-2848-40 http://www.jusbrasil.com.br/legislacao/1033702/c%C3%B3digo-penal-decreto-lei-2848-40 http://www.jusbrasil.com.br/topicos/11367761/artigo-3-do-decreto-lei-n-4657-de-04-de-setembro-de-1942 http://www.jusbrasil.com.br/legislacao/103258/lei-de-introdu%C3%A7%C3%A3o-ao-c%C3%B3digo-civil-decreto-lei-4657-42 http://www.jusbrasil.com.br/topicos/10632120/artigo-65-do-decreto-lei-n-2848-de-07-de-dezembro-de-1940 http://www.jusbrasil.com.br/topicos/10632073/inciso-ii-do-artigo-65-do-decreto-lei-n-2848-de-07-de-dezembro-de-1940 http://www.jusbrasil.com.br/legislacao/1033702/c%C3%B3digo-penal-decreto-lei-2848-40 Miguel Reale Júnior diz que na culpabilidade deve-se fazer um juízo acerca da vontade da ação em confronto com a norma. ● Culpabilidade como princípio É advinda do princípio basilar “Nulun crimem sine culpa” do qual se extrai que não há crime sem culpabilidade. Esse princípio da culpabilidade diz não haver crime sem dolo ou sem culpa na conduta, não resolvendo a culpabilidade. Segundo NILO BATISTA “O princípio da culpabilidade impõe a subjetividade da responsabilidade penal. Culpabilidade como princípio é sinônimo de responsabilidade. ● Culpabilidade como elemento do crime É sinônimo de responsabilidade pessoal e que na estrutura não tem menor vínculo com o dolo e culpa. E isso é a sua natureza jurídica. A culpabilidade é da pessoa e não do fato. ● Culpabilidade é tratada na primeira fase de determinação da pena Art. 59 do CP. Funciona como limitador de quantum de pena a ser aplicada. É um fator determinante para a adequação da pena necessária a prevenção geral e específica. ● Culpabilidade normativa Quando retira todos os elementos objetivos e restam apenas os elementos subjetivos. O que fundamenta isso é o livre arbítrio, ou seja, capacidade de autodeterminação do agente JUSTA, de acordo com seus motivos. Portanto, reprova-se a escolha do agente na prática de seus atos, para, por meio da pena, retribuir essa escolha contrária à ordem jurídica, reprovando assim, os fatos. Culpabilidade como crime Hoje, segundo a teoria de Welzel, a culpabilidade na teoria do delito, é elemento do crime indispensável para aplicação da pena. O que é co-culpabilidade? O que é Co-culpabilidade às avessas? ● TEORIA NORMATIVA PURA DA CULPABILIDADE ● TEORIA PSICOLÓGICA NORMATIVA DA CULPABILIDADE Teorias da culpabilidade Teoria psicológica – para essa teoria, considerava culpabilidade como simples liame psicológico existente entre o autor e o fato por ele praticado. Para essa teoria, a existência do fato típico e ilícito se limita a uma causalidade física. A culpabilidade entendia-se ser uma manifestação de natureza psicológica intrínseca ao homem, constituindo-se por dois elementos: dolo, vontade livre e consciente; culpa como prática do ato previsível. Analisa-se a forma com o agente se colocava em relação aos seus atos. Teoria psicológica normativa – seria a culpabilidade com juízo de valor com base na reprovabilidade da conduta. Em outras palavras, seria a vontade contrária ao dever, mas baseando-se o dolo e a culpa na culpabilidade. Teoria normativa pura da culpabilidade – (MAJORITÁRIA) o dolo seria elemento da conduta e não da culpabilidade, com isso, a culpabilidade passa a ter meramente um juízo de valor, delimitando-se e apurando normativamente, contando apenas com elemento próprios da culpabilidade. Mas a pergunta que se faz é: O QUE É DOLO? Dolo é a vontade livre e consciente; não se preocupa com o conhecimento ou não do caráter ilícito do fato. Por isso, na teoria normativa pura, passa a contar somente dentro da culpabilidade com imputabilidade, potencial consciência da ilicitude e a exigibilidade de conduta diversa. Mas o que é consciência da ilicitude? Na visão finalista, para se atribuir a reprovação a um ato, basta que o seu autor tenha a possibilidade de saber que esse ato vai contra o ordenamento. Esse conhecimento é potencial e deve ser representado pela capacidade concreta de o autor informar-se acerca da proibição. Uma conduta só é culpável porque é censurável e só é censurável se, em função da capacidade de se autodeterminar, puder exigir do agente, naquela situação, uma conduta conforme a norma. Culpabilidade – continuação Início da Aula 14 Elementos que integram a culpabilidade – A) IMPUTABILIDADE – É a capacidade ou aptidão para ser culpável, embora não se confunda com responsabilidade. Ela é uma condição geral de reprovabilidade. Fala-se em capacidade de culpabilidade, que significa capacidade de conhecer o injusto, ou ao menos tem o poder de conhecê-lo e de decidir-se por uma conduta conforme ao direito em virtude do conhecimento (real/possível). B) Possibilidade de conhecimento da ilicitude Para que uma ação contrária ao direito possa ser reprovada ao autor, será necessário que conheça ou possa conhecer as circunstâncias que pertencem ao tipo e a ilicitude. A consciência da ilicitude baseia-se no conhecimento das circunstâncias aludidas. Por isso, ao conhecimento da realização do tipo deve-se acrescentar o conhecimento da antijuridicidade. A doutrina tradicional, causalista, ao situar o dolo na culpabilidade, considerava potencial consciência como integrante do dolo. Segundo a doutrina MAJORITÁRIA, a ausência de conhecimento da proibição NÃO afasta o dolo, mas sim a culpabilidade, no caso de erro de proibição INVENCÍVEL. Porém, quando se tratar de um erro vencível, que poderia ter observado/conhecido, a culpabilidade atenua-se, quando não se tratar de um erro grosseiro. O erro de proibição é aquele erro que se faz sobre o conteúdo proibitivo da norma, ou seja, que se dá sobre a antijuridicidade do fato, com pleno conhecimento da realização do tipo. Por fim, o agente sabe o que faz, mas supõe que tal conduta seria permitida no ordenamento jurídico. Assim, o agente não conhece a norma jurídica, ou não a conhece bem ou a supõe, equivocadamente, que concorre uma causa de justificação. Portanto, segundo WELZEL, essas formas de errar excluía culpabilidade,quando inevitável ou atenua quando evitável. C) Exigibilidade de conduta diversa - Segundo WELZEL, uma vez configurada a imputabilidade e a possibilidade de conhecimento da ilicitude do injusto, fica caracterizada a materialmente a culpabilidade, mas o que não significa que necessariamente haja o elemento culpabilidade. Efetivamente o conhecimento do injusto não quer dizer que há a culpabilidade totalmente provada. Isso somente poderá ocorrer quando o agente, numa situação de fato, puder adotar sua decisão de acordo com esse conhecimento. Trata-se aqui na capacidade concretamente falando de o autor do fato imputável e conhecedor da ilicitude poder escolher sua decisão de acordo com o conhecimento do injusto. Dessa forma, chama-se de inexigibilidade de conduta diversa, que afasta o terceiro elemento da culpabilidade. A possibilidade de se comportar de forma diversa, é que torna a conduta típica. EXIGIBILIDADE DE CONDUTA Coação moral irresistível e obediência hierárquica São duas causas legais que excluem a culpabilidade, Art. 22 do CP, por eliminarem um dos seus elementos constitutivos, ou seja, a exigibilidade de comportamento de acordo com a ordem jurídica. Coação moral é a grave ameaça com idoneidade para afastar a culpabilidade, excluindo a escolha do agente. Se a coação for física, excluirá a conduta, por ausência de vontade de praticar a conduta diretamente. Na coação moral irresistível existe vontade, porém de forma viciada. Essa coação é medida pela extensão do mal imposto a quem pratica a conduta. Sendo assim, a ameaça deve ser grave. Obediência hierárquica – A segunda parte do Art. 22 do CP, que, de acordo com a doutrina majoritária, requer uma relação de direito público e somente de direito público. Se a relação for de direito privado, própria das relações de iniciativa privada, não será abrangida por esse instituto. A crítica que se faz é, que o Art. 22 não se refere claramente a ordem ser privada ou pública, razão pela qual deveria ser indistinta a ordem. Com a reforma de 1984, no Estado Democrático de direito, a estrita obediência a ordem não manifestamente ilegal caracteriza, independentemente de emanar de autoridade pública ou privada, a inexigibilidade de conduta diversa. Ninguém pode ignorar que a ordem hierárquica de seu superior, no plano da iniciativa privada, está sujeita a consequências mais drásticas e imediatas que seu descumprimento no plano público. Com subalterno, no ramo público, dificilmente perderá emprego por não obedecer a ordem, o que difere no emprego privado. Por fim, independente se for privado ou público, sendo essa ordem não manifestamente legal, excluirá a culpabilidade por inexigibilidade de conduta diversa, leitura necessária do Art. 23 do CP. Emoção e paixão Art. 28 do Código Penal. Teoria do erro Qual conceito de erro? Fala-se em percepção de fato ou regra jurídica, segundo Regis Prado. É importante destacar inicialmente a diferença entre erro, ignorância e dúvida. Ignorância é a ausência de conhecimento. É o ato de o agente não visualizar algo ou alguma coisa. Dúvida, por sua vez, seria a possibilidade de ter várias percepções a respeito de uma mesma coisa. O erro tem previsão legal nos Art. 20, §1º e §2º 21, 73 e 74, ambos do CP. Qual elemento do crime o erro exclui? O erro ele exclui a culpabilidade ou exclui a tipicidade. NUNCA o erro exclui a ilicitude, ainda que seja legítima defesa putativa. A legítima defesa putativa exclui a tipicidade e não a ilicitude. Para definirmos melhor o erro, é necessário se fazer uma análise rápida acerca das teorias da culpabilidade, sob a ótica da teoria do erro. Dessa forma, tem-se várias teorias a respeito do tema. Porém, por motivos didáticos e adotá-la-emos as duas principais teorias clássicas da culpabilidade, quais são: Teoria extremada da culpabilidade e a teoria limitada da culpabilidade. 1- Teoria extremada da culpabilidade A denominação da teoria extremada se deve ao fato de ver “na consciência” atual ou potencial do injusto, um elemento autônomo da culpabilidade. Para essa teoria, todos os erros possuem a mesma consequência, afetar a culpabilidade. Então, essa é a crítica feita pela teoria limitada da culpabilidade. 2- Teoria limitada da culpabilidade Já entendendo que o dolo está na conduta, a teoria limitada da culpabilidade busca diferenciar as hipóteses antes unicamente tratadas como erro de proibição, ou seja, se o erro recair sobre os limites jurídicos, será erro de proibição e se recair sobre pressupostos fáticos de uma causa excludente da ilicitude, será erro de tipo permissivo. A diferença pontual é: A) Erro de proibição direto Art. 21 CP – quando o autor acredita erroneamente que sua conduta simplesmente não está proibida pelo ordenamento jurídico, logo, afasta sua culpabilidade. O agente erra com relação ao conteúdo proibitivo da norma. B) Erro de proibição indireto Art. 21 CP – quando por pensar estar autorizado, comete um erro sobre a proibição que incide sobre limites ou a existência de uma causa excludente de ilicitude e que afasta a culpabilidade. C) Erro de tipo permissivo / descriminante putativa / legítima defesa putativa Art. 20,§1º CP – que atua sobre uma errônea representação do autor a respeito da situação fática, ou seja, elementos objetivos da causa de justificação que realmente existem na norma permissiva. Nesse caso, estaria afastado o dolo como se fosse o erro de tipo. Em outras palavras, exclui-se o dolo e culpa se inevitável. Descriminante putativa é um erro imaginário, por isso se está falando como sinônimo de legítima defesa putativa que está dentro de erro de tipo permissivo. O erro de tipo permissivo é erro do agente com relação à realidade FÁTICA que se existisse, tornaria legítima a ação dele. EX: legítima defesa putativa. Já o erro de proibição indireto o agente erra com relação a valoração daquela conduta de justificação, erra com excesso da legítima defesa que é REAL. Os erros podem ser: 1- ESSENCIAIS – são aqueles que incidem sobre elementos essenciais do conceito de crime. Assim, consideram-se essenciais as seguintes espécies de erro: a) Erro de tipo: Art. 20 caput do CP. b) Erro de tipo permissivo Art. 20, §1º do CP. c) Erro de proibição direto e indireto Art. 21 do CP. ACIDENTAIS - São todos os erros que não dizem respeito à estrutura do crime, mas que se relacionam com um acidente (falha na realização do fato típico). É um equívoco na percepção ou execução por parte do agente. a) Erro determinado por terceiro, Art. 20, 2º do CP. b) Erro quanto à pessoa, Art. 20, §3º do CP. c) Erro na execução – Aberratio ictus, Art. 73 do CP. d) Erro sobre objeto - Aberratio criminis, Art. 74 do CP. e) Erro de causalidade – Aberratio causae. Sem artigo no CP. Em todas as modalidades de erro essencial, ele pode ser: Inevitável/invencível ou escusável - que não poderia de forma alguma ser evitado, afastando o dolo e culpa, não respondendo por nada o agente. EX: Urso sendo cassado na mata e acerto a pessoa. Evitável/vencível ou inescusável – Nesse caso, poderia ser evitado se fosse mais cauteloso e analisando melhor a situação, gerando apenas uma redução da gravidade do fato, punindo na modalidade culposa se houver. No que tange aos demais erros acidentais, a evitabilidade ou não por parte do agente, só terá relevância no chamado erro provocado por terceiros. Se o crime provocado por terceiro for inevitável, o crime não existiria para o agente, respondendo apenas o terceiro, se evitável, responderá na modalidade culposa. ERRO DE TIPO Incide sobre elementos de descrição objetiva típica e que sempre exclui o dolo, impossibilitando o crime doloso. O erro de tipo essencial pode ser vencível e invencível. Invencível excluirá o dolo e culpa, não havendo conduta, o que excluirá o fato típico. Se vencível, exclui o dolo, mas permite a punição por crime culposo, se previsto em lei. EX: eu levo para casaum celular do amigo acreditando ser meu. EX: A pede para B levar um presente para sua irmã até outra cidade. B leva o pacote lacrado. No meio do caminho ele é surpreendido pelo policial que rasga o pacote e constata ser cocaína. Ele sabia que era droga? Transportar drogas configura o crime de tráfico, mas B não conhece a elementar descrita no tipo “droga”. Assim, aa doutrina entende ser erro de tipo essencial. Qual é a consequência? Caso o erro seja inevitável (toda pessoa também erraria), exclui o dolo e a culpa (sendo o fato atípico). Porém, se o erro era evitável, exclui o dolo, mas permitiria a punição na modalidade culposa, se previsto em lei o crime na modalidade culposa. Por fim, no erro de proibição, o agente conhece elementar do fato típico mas não sabe que aquela sua conduta é ilícita. Exercício para fixar a matéria XII Exame de Ordem) Bráulio, rapaz de 18 anos, conhece Paula em um show de rock, em uma casa noturna. Os dois, após conversarem um pouco, resolvem dirigir-se a um motel e ali, de forma consentida, o jovem mantém relações sexuais com Paula. Após, Bráulio descobre que a moça, na verdade, tinha apenas 13 anos e que somente conseguira entrar no show mediante apresentação de carteira de identidade falsa. A partir da situação narrada, assinale a afirmativa correta. (A) Bráulio deve responder por estupro de vulnerável doloso. (B) Bráulio deve responder por estupro de vulnerável culposo. (C) Bráulio não praticou crime, pois agiu em hipótese de erro de tipo essencial. (D) Bráulio não praticou crime, pois agiu em hipótese de erro de proibição direto. ERRO DE PROIBIÇÃO Incide sobre a consciência da antijuridicidade da conduta que é um dos elementos do crime. Portanto, o agente atua sem saber que sua conduta é proibida pelo ordenamento. Assim, basta o potencial conhecimento da ilicitude ou simplesmente ele se enganar a respeito do caráter injusto do ato. É importante dizer que o desconhecimento da lei é inescusável, pois o indivíduo pode saber que tal fato é proibido, independente de conhecer a lei. Assim, no direito penal comum, trata-se de comportamento intrínseco à moral e direitos fundamentais. EX: vida, patrimônio etc. No erro de proibição deve-se fazer uma leitura individual relativa à conduta e o grau de conhecimento do agente, bem como sua compreensão. Se o agente tiver “conhecimento do profano” mínimo de antijuridicidade de sua conduta, estará afastada a relevância do erro de proibição quando o agente não atuou com o mínimo de diligência, tendo como consequência a diminuição do juízo de culpabilidade e a aplicação de uma pena menor ao caso concreto, se realmente comprovada. Erro de subsunção é uma forma diferente de chamar erro de proibição direto erro com relação a complexidade dos termos. O que é mulher honesta no antigo crime de sedução do antigo Art. 217 do CP? Seria esse erro de subsunção.
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