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APOSTILA DIREITO AMBIENTAL

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1 
 
DIREITO AMBIENTAL E SEU CONTEÚDO HISTÓRICO 
1. A EVOLUÇÃO JURÍDICA E LEGISLATIVA DO DIREITO AMBIENTAL NO 
PAÍS1 
1.1. CONSIDERAÇÕES INICIAIS 
Antes de mais nada, cabe dizer que o direito ambiental brasileiro (conjunto de 
regras e princípios, formais e materiais, que regulam está ciência) é recente. 
Muito embora seus componentes e até seu objeto de tutela estejam ligados à própria 
origem do ser humano, não se pode negar que o tratamento do tema visto sob uma 
perspectiva autônoma, altruísta e com alguma similitude com o sentido que se lhe tem 
dado atualmente não é tão primevo assim. É por isso que se diz que o direito ambiental é 
uma ciência nova. Noviça, mas com objetos de tutela tão velhos... 
Como todo e qualquer processo evolutivo, a mutação no modo de se encarar a 
proteção do meio ambiente é feita de marchas e contramarchas. Não se pode, assim, 
identificar, com absoluta precisão, quando e onde terminaram ou se iniciaram as diversas 
fases representativas da maneira como o ser humano encara a proteção do meio ambiente. 
Na verdade, esse fenômeno pode ser metaforicamente descrito como uma mudança no 
ângulo visual com que o ser humano enxerga o meio ambiente. 
1.2. INDIVIDUALISTA - 1º FASE: A TUTELA ECONÔMICA DO MEIO 
AMBIENTE 
Porquanto os bens ambientais (água, fauna, flora, ar, etc.) já tenham sido objeto de 
proteção jurídico-normativa desde a antiguidade, importa dizer que, salvo em casos 
isolados, o que se via era uma tutela mediata do meio ambiente, tendo em vista que o 
entorno e seus componentes eram tutelados apenas na medida em que se relacionavam 
às preocupações egoísticas do próprio ser humano. 
Durante muito tempo, assim, os componentes ambientais foram relegados a um 
papel secundário e de subserviência ao ser humano, que, colocando-se no eixo central do 
universo, cuidava do entorno como se fosse senhorio de tudo. É sob essa visão que surgem 
 
1 RODRIGUES, Marcelo Abelha. Direito ambiental esquematizado; coordenação Pedro Lenza. – 3. ed. – São Paulo: Saraiva, 
2016. 
2 
 
as primeiras “normas ambientais” no ordenamento jurídico brasileiro. Esse período 
pode ser aproximadamente identificado como o que abrange da época do descobrimento 
até a segunda metade do século XX. 
Nessa primeira fase, a proteção do meio ambiente tinha uma preocupação 
meramente econômica. O ambiente não era tutelado de modo autônomo, senão apenas 
como um bem privado, pertencente ao indivíduo. Essa forma de proteção pode ser 
vislumbrada no antigo Código Civil Brasileiro de 1916, por exemplo nas normas que 
regulavam o direito de vizinhança (arts. 554, 555, 567, 584, etc.). 
Basta uma rápida e aleatória leitura do Código Civil revogado para se perceber, 
claramente, que a preocupação com os bens ambientais foi de índole exclusivamente 
individualista, sob o crivo do direito de propriedade e tendo em vista o interesse econômico 
que tal bem representa para o homem. Tais bens, tidos até então como res nullius, passavam 
a ser vistos como algo de valor econômico e, por tal motivo, mereceriam uma tutela. 
O que se percebe, entretanto, é que, conquanto sua tutela fosse voltada para uma 
finalidade utilitarista ou econômica, é inegável que o fato de os bens ambientais receberem 
uma proteção do legislador já era um sensível sinal da percepção do homem no sentido de 
que só tinham valor econômico porque seu estado de abundância não era eterno ou ad 
infinitum. 
Afinal, a valoração econômica de um bem está ligada à sua oferta e à essencialidade. 
Sendo um bem essencial, com oferta limitada ou limitável, o legislador certamente 
vislumbrou a possibilidade do esgotamento dos recursos naturais e, de certa forma, a 
incapacidade do meio ambiente de absorver todas as transformações (degradações) 
provocadas pelo homem. 
1.3. FRAGMENTÁRIA – 2º FASE: A TUTELA SANITÁRIA DO MEIO 
AMBIENTE 
O segundo momento dessa evolução também é marcado pela ideologia egoística e 
antropocêntrica pura. A diferença é que, agora, a legislação ambiental era balizada não 
mais pela preocupação econômica, mas pela preponderância na tutela da saúde e da 
qualidade de vida humana. 
3 
 
Mais uma vez, o legislador claramente reconhecia a insustentabilidade do ambiente 
e a sua incapacidade de assimilar a poluição produzida pelas atividades humanas. E a tutela 
da saúde é o maior exemplo, e reconhecimento, de que o homem, ainda que para tutelar a 
si mesmo, deveria repensar sua relação com o ambiente que habita. Ficava cada vez 
mais claro que o desenvolvimento econômico desregrado era nefasto à existência de um 
ambiente sadio. 
Destacam-se nesse período, que pode ser didaticamente delimitado de 1950 a 1980, 
o Código Florestal (Lei n. 4.771/65),26 o Código de Caça (Lei n. 5.197/67), o Código de 
Mineração (Decreto-lei n. 227/67), a Lei de Responsabilidade Civil por Danos Nucleares 
(Lei n. 6.453/77), etc. 
A rasa leitura desses diplomas permite a franca identificação de uma preocupação 
do legislador com o aspecto da saúde, embora não se possa desconsiderar o fato de que 
ainda sobrevivia (como ainda hoje ocorre) o aspecto econômico-utilitário da proteção do 
bem ambiental. 
1.4. HOLÍSTICA – 3.º FASE: A TUTELA AUTÔNOMA DO MEIO AMBIENTE E 
O SURGIMENTO DO DIREITO AMBIENTAL 
Se nas duas fases anteriores a preocupação maior das leis ambientais, apesar da 
evolução, era sempre o ser humano, o que se viu a partir da década de 1980 foi uma 
verdadeira mudança de paradigma: não seria mais o homem o centro das atenções, mas 
o meio ambiente em si mesmo considerado. 
1.4.1. Lei n. 6.938/81 — Política Nacional do Meio Ambiente 
Para tanto, pode-se afirmar que a Lei n. 6.938/81 (Política Nacional do Meio 
Ambiente) foi, por assim dizer, o marco inicial dessa grande virada. Foi ela o primeiro 
diploma legal que cuidou do meio ambiente como um direito próprio e autônomo. 
Nunca é demais lembrar que, antes disso, a proteção do meio ambiente era feita de modo 
mediato, indireto e reflexo, na medida em que ocorria apenas quando se prestava tutela a 
outros direitos, tais como o direito de vizinhança, propriedade, regras urbanas de ocupação 
do solo, etc. 
4 
 
Inicialmente, vale dizer que a Lei n. 6.938/81 foi concebida sob forte influên cia 
internacional, oriunda da Conferência Internacional sobre o Meio Ambiente, realizada 
em Estocolmo, Suécia, no ano de 1972. Também foi influenciada, inegavelmente, pela 
experiência legislativa norteamericana, especialmente pela lei do ar puro, pela lei da 
água limpa e pela criação do estudo de impacto ambiental, todos da década de 1970. 
Como o próprio nome já diz, a referida lei criou uma verdadeira Política Nacional 
do Meio Ambiente, sendo muito mais do que um simples conjunto de regras, mas 
estabelecendo uma política com princípios, escopos, diretrizes, instrumentos e 
conceitos gerais sobre o meio ambiente. 
O leitor deve estar se perguntando o que a Lei n. 6.938/81 tem de diferente. Por que 
ela é considerada tão importante e até mesmo um marco de uma nova fase de se enxergar 
o meio ambiente? 
A verdade é que a Lei n. 6.938/81 introduziu um novo tratamento normativo para 
o meio ambiente. Primeiro, porque deixou de lado o tratamento atomizado em prol de uma 
visão molecular, considerando o entorno como um bem único, imaterial e indivisível, 
digno de tutela autônoma. 
O próprio conceito de meio ambiente adotado pelo legislador (art. 3º, I) 31 extirpa 
a noção antropocêntrica, deslocando para o eixo central de proteção do ambiente todas as 
formas de vida. A concepção passa a ser, assim, biocêntrica, a partir da proteção do 
entorno globalmente considerado (ecocentrismo). Há, ratificando, nítida intenção do 
legislador em colocar a proteção da vida no plano primário das normas ambientais. 
Repita-se: todas as formas de vida. 
Dessa forma, é apenas a partir da Lei n. 6.938/81 que podemos falar verdadeiramente 
emum direito ambiental como ramo autônomo da ciência jurídica brasileira. A proteção 
do meio ambiente e de seus componentes bióticos e abióticos (recursos ambientais) 
compreendidos de uma forma unívoca e globalizada deu-se a partir desse diploma. 
 
 
 
5 
 
Em resumo, o fato de marcar uma nova fase do direito ambiental deve-se, 
basicamente, aos seguintes aspectos: 
■ Adotou um novo paradigma ético em relação ao meio ambiente: colocou em 
seu eixo central a proteção a todas as formas de vida. Encampou, pois, um conceito 
biocêntrico (art. 3º, I). 
■ Adotou uma visão holística do meio ambiente: o ser humano deixou de estar ao 
lado do meio ambiente e passou a estar inserido nele, como parte integrante, dele 
não podendo ser dissociado. 
■ Considerou o meio ambiente um objeto autônomo de tutela jurídica: deixou 
este de ser mero apêndice ou simples acessório em benefício particular do homem, 
passando a permitir que os bens e componentes ambientais fossem protegidos 
independentemente dos benefícios imediatos que poderiam trazer para o ser 
humano. 
■ Estabeleceu conceitos gerais: tendo assumido o papel de norma geral ambiental, 
suas diretrizes, objetivos, fins e princípios devem ser mantidos e respeitados, de modo 
que sirva de parâmetro, verdadeiro piso legislativo para as demais normas ambientais, 
seja de caráter nacional, estadual ou municipal. 
■ Criou uma verdadeira política ambiental: estabeleceu diretrizes, objetivos e 
fins para a proteção ambiental. 
■ Criou um microssistema de proteção ambiental: contém, em seu texto, 
mecanismos de tutela civil, administrativa e penal do meio ambiente. 
1.4.2. Constituição Federal de 1988 
Se a Lei n. 6.938/81 representou um marco inicial, o advento da Constituição de 
1988 trouxe o arcabouço jurídico que faltava para que o Direito Ambiental fosse içado à 
categoria de ciência autônoma. Isso porque é no Texto Maior que se encontram insculpidos 
os princípios do Direito Ambiental (art. 225). A CF/88 deu, além do status constitucional 
de ciência autônoma, o complemento de tutela material necessário à proteção sistemática 
do meio ambiente. 
6 
 
Assim, seguindo a tendência mundial, a tutela do meio ambiente foi içada à 
categoria de direito expressamente protegido pela Constituição, tendo o legislador 
reservado um capítulo inteiro para o seu tratamento (art. 225). Antes disso, em 
constituições anteriores, o assunto era tratado de modo esparso e sem a menor preocupação 
sistemática. Apenas na Carta de 1969 é que se utilizou pela primeira vez a palavra “
ecológico”, quando se cuidava da função agrícola das terras (art. 172). 
 
 
 
 
 
7 
 
2. CONCEITO DE MEIO AMBIENTE E DIREITO AMBIENTAL2 3 
A Lei nº 6.938/1981 foi a primeira norma brasileira a definir legalmente meio 
ambiente e o considera como “o conjunto de condições, leis, influências e interações de 
ordem física, química e biológica, que permite, abriga e rege a vida em todas as suas 
formas” (art. 3º, I). 
O conceito jurídico de meio ambiente é totalizante, com abrangência dos elementos 
bióticos (seres vivos) e abióticos (não vivos) que permitem a vida em todas as suas formas 
(não exclusivamente a vida humana). 
Para José Afonso da Silva, o meio ambiente é “a interação do conjunto de elementos 
naturais, artificiais e culturais que propiciem o desenvolvimento equilibrado da vida em 
todas as suas formas. A integração busca assumir uma concepção unitária do ambiente, 
compreensiva dos recursos naturais e culturais”. 
No Brasil, a proteção do ambiente como um todo teve seu marco no ordenamento 
jurídico com a edição da Lei 6.938/81, que estabelece princípios, objetivos e instrumentos 
para a implementação da Política Nacional do Meio Ambiente e instituiu o Sistema 
Nacional de Meio Ambiente - SISNAMA. 
A Política Nacional do Meio Ambiente tem por objetivo a preservação, melhoria e 
recuperação da qualidade ambiental propícia à vida, visando assegurar no País condições 
ao desenvolvimento socioeconômico, aos interesses da segurança nacional e à proteção da 
dignidade da vida humana (Esse é o objetivo geral da PNMA). 
Antes da Lei 6.938/81 já tínhamos leis ambientais, mas que tutelavam de forma 
fragmentada o ambiente como o Código Florestal e o Código de Águas. 
A Constituição Federal de 1988 foi a primeira das Constituições brasileiras a dedicar 
um capítulo exclusivo para tratar especificamente sobre o meio ambiente. O art. 225 traz 
as diretrizes do direito ambiental. 
No entanto, a abordagem ambiental da CF/88 não fica restrita a esse artigo, estando 
presente ao longo de toda a Carta referências à proteção e defesa do meio ambiente. 
 
2 OLIVEIRA, Fabiano Melo Gonçalves de. Direito ambiental. – 2. ed. rev., atual. e ampl. – Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: 
Método, 2017. 
3 JÚNIOR, Rosenval. Curso de Direito Ambiental para o Exame da Ordem de 2017. Estratégia Concursos. 
8 
 
A Constituição Federal de 1988 declarou o direito ao meio ambiente ecologicamente 
equilibrado como um direito fundamental, mesmo grupo de direitos em que consta o direito 
à vida. 
Assim, segundo Édis Milaré, o Direito do Ambiente conta com princípios próprios, 
assento constitucional e regramento infraconstitucional moderno e complexo. 
Para a Resolução do CONAMA 306/02, "meio ambiente é o conjunto de 
condições, leis, influências e interações de ordem física, química, biológica, social, 
cultural e urbanística que permite, abriga e rege a vida em todas as suas formas." 
Notem que aqui temos um conceito mais amplo do que o apresentado pela Lei 6.938/81, 
pois houve a inclusão de influências e interações de ordem social, cultural e urbanística. 
Assim o Direito Ambiental visa à proteção não somente dos bens vistos de uma 
forma unitária, como se fosse microbens isolados, tais como rios, ar, fauna, flora, mas 
como um macrobem (ambiente como um todo), que englobaria todos os microbens em 
conjunto assim como as suas relações e interações. 
Como macrobem, o meio ambiente é incorpóreo e imaterial e, dessa forma, 
insusceptível de apropriação. Nas palavras de Morato Leite3, “visualiza-se o meio 
ambiente como um macrobem, que além de incorpóreo e imaterial se configura como bem 
de uso comum do povo. Isso significa que o proprietário, seja ele público ou particular, 
não poderá dispor da qualidade do meio ambiente ecologicamente equilibrado, devido à 
previsão constitucional, considerando-o macrobem de todos”. 
O macrobem ambiental não se confunde com os microbens, que constituem a parte 
corpórea do meio ambiente, tais como as florestas, os rios, a fauna etc. Conforme 
Lorenzetti5, “os microbens são partes do meio ambiente, que em si mesma tem a 
característica de subsistemas, que apresentam relações internas entre suas partes e 
relações externas com o macrobem”. Na abordagem como “microbem” é possível falar em 
regime jurídico de titularidade pública ou privada, isso porque um recurso ambiental como 
uma floresta pode ser de titularidade pública ou privada e passível de exploração. 
Assim, a tutela do meio ambiente ocorre tanto como macrobem (incorpóreo, 
indisponível) quanto como microbem (os elementos corpóreos). Nesse sentido, as palavras 
de Cappelli, et al6: “a consequência da autonomização jurídica do bem ambiental é a 
9 
 
possibilidade de sua tutela como bem independentemente dos diversos elementos 
corpóreos que o integram, versando a proteção jurídica sobre a qualidade ambiental e 
sobre as características físicas, químicas e biológicas do ecossistema. Trata-se de um 
‘macrobem’ jurídico, incorpóreo, inapropriável, indisponível e indivisível, cuja qualidade 
deve ser mantida como íntegra a fim de propiciar a fruição coletiva. Apropriáveis são os 
elementos corpóreos e, mesmo assim, conforme limitações e critérios previstos em lei, e 
desde que essa utilização não conduza à apropriação individual (exclusiva) do meioambiente, como bem imaterial”. 
O objeto final do Direito ambiental seria a garantia da vida humana em perfeita 
harmonia com o ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo. 
Apenas subsidiariamente a garantia a todas as formas de vida essenciais à manutenção da 
vida humana no planeta seria protegida por sua finalidade servil. Essa seria a concepção 
Antropocêntrica. 
No entanto o Direito Ambiental vem evoluindo de tal modo a garantir proteção à 
vida em todas as suas formas. Mesmo que secundariamente face à presença humana. Não 
apenas como forma de garantir a vida humana, mas com o intuito de efetivamente proteger 
outras formas de vida, tornando o objeto do Direito Ambiental a proteção à vida em toda 
sua extensão. 
São várias as nomenclaturas conferidas a essa disciplina jurídica, como por 
exemplo: Direito Ambiental, Direito do Meio Ambiente, Direito do Ambiente, Direito 
Ecológico, Direito de Proteção da Natureza. Sendo predominante entre os doutrinadores o 
uso do termo Direito Ambiental. Assim como o fazem Luís Paulo Sirvinskas, Paulo Afonso 
Leme Machado, e Paulo de Bessa Antunes. Já Édis Milaré utiliza Direito do Ambiente. 
Direito Ambiental é um conjunto normativo que possuiu uma essência mais 
preventiva do que reparatória ou punitiva e um enfoque sistêmico, multidisciplinar e 
coletivo. Impõe limites com o intuito de garantir que as atividades humanas não causem 
danos ao ambiente, impondo responsabilidades e sanções aos poluidores. Busca garantir o 
meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia 
qualidade de vida. 
10 
 
2.1 Classificação de Meio Ambiente 
Meio ambiente possui titularidade indeterminada, objeto indivisível, interesse 
difuso, sendo o meio ambiente ecologicamente equilibrado essencial à sadia qualidade de 
vida das presentes e futuras gerações considerado direito de 3ª dimensão ou geração, 
chamados direitos de fraternidade ou solidariedade. 
O meio ambiente é uno, indivisível e, como tal, não há que falar em fragmentação 
ou divisão. Contudo, para fins didáticos, a classificação de meio ambiente proposta por 
José Afonso da Silva tornou-se uma referência albergada tanto pela doutrina quanto pelos 
tribunais, como se verá. Contribui na compreensão da abrangência do meio ambiente, que 
não se restringe ao natural, mas inclui os elementos culturais, artificiais e do trabalho. 
Nesse sentido, a classificação de meio ambiente, em sentido amplo e para fins 
didáticos, congrega quatro componentes: 
a) meio ambiente físico ou natural; 
b) meio ambiente cultural; 
c) meio ambiente artificial; 
d) meio ambiente do trabalho. 
Entende-se como meio ambiente físico ou natural aquele integrado pela flora, 
fauna, os recursos hídricos, a atmosfera, os estuários, o mar territorial, o solo, o subsolo, 
os elementos da biosfera. 
O meio ambiente cultural, por sua vez, constitui-se do patrimônio cultural, 
artístico, arqueológico, paisagístico, etnográfico, manifestações culturais, folclóricas e 
populares brasileiras. O meio ambiente cultural é composto tanto pelo patrimônio cultural 
material quanto pelo patrimônio cultural imaterial. Considera-se patrimônio cultural 
material aqueles bens móveis e imóveis relevantes no processo cultural, como imóveis 
tombados, obras de artes etc. Já o patrimônio cultural imaterial é constituído pelos saberes, 
lugares, celebrações e formas de expressão. Como exemplos, as festas religiosas (Círio de 
Nazaré em Belém-PA, Festa do Divino Espírito Santo em Paraty-RJ e em Pirenópolis-GO), 
as danças (frevo, samba de roda do Recôncavo baiano, as manifestações do samba carioca), 
as manifestações folclóricas (Bumba meu Boi), os saberes na elaboração de algumas 
comidas (queijo minas, acarajé etc.). 
11 
 
O meio ambiente artificial é aquele decorrente das intervenções antrópicas, ao 
contrário do meio ambiente natural, que existe por si só. O artificial é o espaço urbano, as 
cidades com os seus espaços abertos, com ruas, praças e parques; e os espaços fechados, 
com as edificações e os equipamentos públicos urbanos, como de abastecimento de água, 
serviços de esgotos, energia elétrica, coletas de águas pluviais, rede telefônica e gás 
canalizado. É necessário atenção com as edificações, uma vez que, se forem destinadas às 
manifestações artístico-culturais ou forem objeto de tombamento, a melhor classificação é 
como meio ambiente cultural. Isso demonstra a fragilidade dessa classificação que, como 
se pontuou, é para fins didáticos. 
O meio ambiente do trabalho, por fim, possui vinculação com a saúde e a 
segurança do trabalhador. O art. 200 da CF cuida das competências do Sistema Único de 
Saúde, dentre as quais a de “colaborar na proteção do meio ambiente, nele compreendido 
o do trabalho” (inciso VIII). Além disso, o inciso XXII do art. 7.º da CF dispõe sobre a 
“redução dos riscos inerentes ao trabalho, por meio de normas de saúde, higiene e 
segurança”. O meio ambiente do trabalho preocupa-se, assim, com o obreiro em seu local 
de trabalho, por meio de prescrições de saúde, salubridade, condições atmosféricas, 
ergonomia etc. Essa classificação teve albergue no Superior Tribunal de Justiça com o 
REsp 725.257/MG, em voto unânime da lavra do Ministro Relator José Delgado, in verbis: 
“Com a Constituição Federal de 1988, passou-se a entender também que o meio ambiente 
divide-se em físico ou natural, cultural, artificial e do trabalho. Meio ambiente físico ou 
natural é constituído pela flora, fauna, solo, água, atmosfera etc., incluindo os ecossistemas 
(art. 225, § 1º, I, VII). Meio ambiente cultural constitui-se pelo patrimônio cultural, 
artístico, arqueológico, paisagístico, manifestações culturais, populares, etc. (art. 215, § 1º 
e § 2º). Meio ambiente artificial é o conjunto de edificações particulares ou públicas, 
principalmente urbanas (art. 182, art. 21, XX, e art. 5º, XXIII), e meio ambiente do trabalho 
é o conjunto de condições existentes no local de trabalho relativos à qualidade de vida do 
trabalhador (art. 7º, XXXIII, e art. 200)”. 
Não foi diferente com o Supremo Tribunal Federal na ADI nº 3.540, ao consignar 
que a defesa do meio ambiente “traduz conceito amplo e abrangente das noções de meio 
12 
 
ambiente natural, de meio ambiente cultural, de meio ambiente artificial (espaço urbano) 
e de meio ambiente laboral”. 
CLASSIFICAÇÃO DE MEIO AMBIENTE PARA FINS DIDÁTICOS 
 
 
3. DIRETO AMBIENTAL INTERNACIONAL - EVOLUÇÃO DA PROTEÇÃO 4 
É comum as provas cobrarem conhecimento sobre as conferências internacionais 
realizadas na seara ambiental. Por isso, serão arroladas as principais: 
1) Conferência Mundial sobre Meio Ambiente Humano (1972); 
2) Relatório “Nosso Futuro Comum” (1987); 
3) Conferência Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (Rio/92 ou 
Eco/92 - 1992); 
4) Cúpula Mundial sobre Desenvolvimento Sustentável (Rio+10 - 2002); 
5) Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável (Rio+20 - 
2012). 
3.1. Conferência Mundial sobre o Meio Ambiente Humano (1972) 
O Direito Ambiental tem início com a Conferência de Estocolmo (1972), realizada 
pela ONU, com o intuito de discutir sobre o meio ambiente humano. A sua importância foi 
 
4 CADERNO SISTEMATIZADO DE DIREITO AMBIENTAL 2018.1. DISPONÍVEL EM: https://docero.com.br/doc/x8e00n 
13 
 
a realização da “Declaração de Estocolmo”, que colocou o meio ambiente como direito 
humano, acarretando numa grande influência na CF/88, que o colocou como direito 
fundamental (direito difuso). Vale dizer, os socialistas não participaram desta Conferência. 
Esta conferência é importante porque inaugurou a presença de questões ambientais na 
pauta política mundial. Um marco para o direito ambiental internacional. A Declaração de 
Estocolmo é uma declaração de princípios, e prevê o direito a uma vida saudável. 
Consequência desta conferênciafoi a formação de dois grupos: 
 a) Preservacionistas: buscavam manter o grau máximo de atividade; diziam que se 
tinha que colocar um final ao crescimento desordenado. 
 b) Desenvolvimentistas: querem o crescimento econômico a qualquer custo. Tese 
adotada pelos países em desenvolvimento, dentre eles o Brasil. 
OBS.: Houve uma formação de um terceiro grupo ― os conservacionistas, que querem o 
desenvolvimento econômico, porém se preocupando com o meio ambiente. 
Estabeleceu duas premissas básicas: 
• O homem possui direito ao desenvolvimento; 
• O meio ambiente deve ser preservado. 
3.2. Relatório nosso Futuro Comum (1987) 
Em 1987 houve a criação da Comissão sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento 
(ONU), na qual se editou o relatório “Nosso futuro comum” (ou “Brundtland”). Este 
relatório sistematizou o Desenvolvimento Sustentável, que é utilizado até hoje. 
O desenvolvimento sustentável consiste em atender às necessidades da geração 
presente sem comprometer às gerações futuras. 
Em 1983, a ONU montou uma comissão especial para estudar o meio ambiente e o 
desenvolvimento. A comissão foi presidida pela Gro Brundtland, ex-primeira ministra da 
Noruega. Daí o “apelido” dado ao Relatório Nosso Futuro Comum. 
Cuidado com este conceito de desenvolvimento sustentável. O Relatório Brundtland 
é de 1987, mas em 1988 o constituinte incluiu a preocupação com “presentes e futuras 
gerações” no nosso ordenamento jurídico, conforme art. 225 da CF. 
14 
 
Portanto, se na prova a expressão “presentes e futuras geração” vier vinculada ao 
âmbito internacional, deve-se deduzir que se trata do DESENVOLVIMENTO 
SUSTENTÁVEL. Porém, se a expressão “presentes e futuras gerações” aparecer 
vinculada ao art. 225 da CF, pode-se falar também em PRINCÍPIO DA 
SOLIDARIEDADE INTERGERACIONAL. São semelhantes, mas a nomenclatura 
pode causar confusão na hora da prova. 
O relatório “Nosso Futuro Comum” precedeu o RIO/92 ou ECO/92 (“Cúpula da 
Terra”), na qual foi realizada a Conferência Mundial sobre Meio Ambiente e 
Desenvolvimento (desenvolvimento sustentável). 
3.3. Conferência Mundial Sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (ECO/92 OU 
RIO/92) 
Foi realizada no Rio de Janeiro, em junho de 1992 (Eco 92 ou Rio 92). Desta 
conferência, resultaram: 
a) Agenda 21; 
b) Declaração do Rio; 
c) Convenção-Quadro sobre Mudanças do Clima; 
d) Protocolo de Kyoto; 
e) Convenção sobre Diversidade Biológica. 
f) Declaração de Florestas (princípios aplicáveis às florestas); 
3.3.1. Agenda 21 
É um programa de ação com diretrizes para implementação do desenvolvimento 
sustentável. É uma tentativa de promover, em escala planetária, um novo padrão de 
desenvolvimento, conciliando métodos de proteção ambiental, justiça social e eficiência 
econômica. É documento PROGRAMÁTICO. 
3.3.2. Declaração do Rio 
É uma declaração de princípios do direito ambiental. 
 
15 
 
3.3.3. Convenção-Quadro sobre Mudanças do Clima 
É um acordo multilateral voluntário, adotado em 09 de maio de 1992, em Nova 
York, um mês antes da Conferência do Rio, mas que pode ser vinculado (por conta da 
abertura das assinaturas, ocorrida no Rio). Trata-se de uma convenção nascida da 
necessidade de reduzir as atividades poluentes. 
3.3.4. Protocolo de Kyoto 
Assinado na COP-3 (Conferência das Partes). É um protocolo adicional vinculado 
à Convenção-quadro sobre Mudanças do Clima, e tem por objetivo a redução da emissão 
de gases antropogênicos, que geram o efeito estufa (GEE – Gases de efeito estufa). Meta: 
reduzir, em média, 5% das emissões do ano de 1990. 
O Brasil não assumiu compromissos específicos quanto à redução de percentuais de 
emissão de gases. Isso porque, quando assinado o Protocolo de Kyoto, o Brasil era 
considerado um “país em desenvolvimento”. Porém, em 2009 foi sancionada a Lei 
12.187/2009 (Política Nacional de Mudanças Climáticas), em que há previsão de 
redução de emissões. Assim, apesar de não estar vinculado à redução de emissões por 
instrumentos internacionais, o Brasil obrigou-se voluntariamente a reduções de emissões 
de GEE, conforme art. 12 da Lei 12.187/2009. 
Art. 12. Para alcançar os objetivos da PNMC, o País adotará, como compromisso 
nacional voluntário, ações de mitigação das emissões de gases de efeito estufa, com vistas 
em reduzir entre 36,1% (trinta e seis inteiros e um décimo por cento) e 38,9% (trinta e oito 
inteiros e nove décimos por cento) suas emissões projetadas até 2020. 
Parágrafo único. A projeção das emissões para 2020 assim como o detalhamento 
das ações para alcançar o objetivo expresso no caput serão dispostos por decreto, tendo 
por base o segundo Inventário Brasileiro de Emissões e Remoções Antrópicas de Gases 
de Efeito Estufa não Controlados pelo Protocolo de Montreal, a ser concluído em 2010. 
3.3.5. Convenção sobre Diversidade Biológica 
É o principal documento mundial sobre biodiversidade. Os objetivos dessa 
convenção são: 
 a) Conservação da diversidade biológica; 
16 
 
 b) Uso sustentável dos recursos biológicos e seus componentes; 
 c) Distribuição justa e equitativa dos benefícios do uso dos recursos genéticos, com 
a transferência adequada de tecnologias pertinentes, levando em conta todos os direitos 
sobre tais recursos e tecnologias, mediante financiamento adequado. 
 Por meio do Decreto 4.339/2002, o Brasil instituiu a Política Nacional de 
Biodiversidade. 
3.3.6. Declaração de Florestas (princípios aplicáveis às florestas) 
Esta tem pouca importância para provas, sendo sequer mencionada em alguns livros 
de doutrina. Basta saber que foi firmada no Rio-92. 
OBS: Tanto a Agenda 21 quanto a Declaração do Rio consistem no que se chama 
de soft law, ou seja, direito flexível, não vinculante. 
3.4. Cúpula Mundial sobre Desenvolvimento Sustentável (RIO+10 – 2002) 
Aconteceu em Joanesburgo em 2002, na África do Sul. Dela resultaram dois 
documentos oficiais: 
• Declaração política; 
• Plano de Implementação, que tem como objetivos: 
- O combate à pobreza, que guarda estreita relação com os problemas 
ambientais; 
- A mudança dos padrões de produção e consumo (já são utilizados recursos 
em quantia 30% superior à capacidade planetária). 
3.5. Cúpula Mundial sobre Desenvolvimento Sustentável (RIO+20 – 2012) 
A declaração final da Rio+20 (Conferência das Nações Unidas sobre 
Desenvolvimento Sustentável), submetida dia 22 de junho de 2012 à ratificação de chefes 
de Estado e de governo das Nações Unidas, é um texto de 53 páginas, com boas intenções 
e o lançamento dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável. 
O texto reafirma os princípios processados durante conferências e cúpulas anteriores 
e insiste na necessidade "de acelerar os esforços" para empregar os compromissos 
17 
 
anteriores, homenageando as comunidades locais, que "fizeram esforços e progressos". 
Vejamos os pontos principais: 
• "Políticas de economia verde" (3 páginas e meia do texto): "Uma das 
ferramentas importantes" para avançar rumo ao desenvolvimento sustentável. 
Elas não devem "impor regras rígidas", mas "respeitar a soberania nacional 
de cada país", sem constituir "um meio de discriminação", nem "uma restrição 
disfarçada ao comércio internacional". Eles devem, também, "contribuir para 
diminuir as diferenças tecnológicas entre países desenvolvidos e em 
desenvolvimento". "Cada país pode escolher uma abordagem apropriada". 
• Governança mundial do desenvolvimento sustentável: o texto decide "reforçar 
o quadro institucional". A comissão de desenvolvimento sustentável, totalmente 
ineficaz, é substituída por um "fórum intergovernamental de alto nível". O 
PNUMA (Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento) terá seu papel 
reforçado e valorizado como "autoridade global e na liderança da questão 
ambiental", com os recursos "assegurados" (os depósitos atualmente são 
voluntários) e uma representação de todos os membros das Nações Unidas 
(apenas 58 participamatualmente). 
• “Quadro de ação": em 25 páginas, correspondentes à metade do documento, o 
texto propõe setores onde haja "novas oportunidades" e onde a ação seja 
"urgente", notavelmente devido ao fato de as conferências anteriores terem 
registrado resultados insuficientes. Os 25 temas particularmente abordados 
incluem erradicação da pobreza, segurança alimentar, água, energia, saúde, 
emprego, oceanos, mudanças climáticas, consumo e produção sustentáveis. 
• “Objetivos de desenvolvimento sustentável”: nos moldes dos Objetivos do 
Milênio para o desenvolvimento, a cúpula insiste na importância de se 
estabelecer os ODS (objetivos do desenvolvimento sustentável) "em número 
limitado, conciso e voltado à ação", aplicáveis a todos os países, mas levando 
em conta as "circunstâncias nacionais particulares". 
• Os meios de realização do desenvolvimento sustentável: "é extremamente 
importante reforçar o apoio financeiro de todas as origens, em particular para os 
18 
 
países em desenvolvimento". "Os novos parceiros e fontes novas de 
financiamento podem desempenhar um papel". A declaração insiste na 
"conjugação de assistência ao desenvolvimento com o investimento privado". O 
texto insiste, também, na necessidade de transferência de tecnologia para os 
países em desenvolvimento e sobre o "reforço de capacidades" (formação, 
cooperação, etc.). 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
19 
 
4. PRINCÍPIOS INFORMADORES DO DIREITO AMBIENTAL5.6 
 O Ministro Herman Benjamin, uma das maiores autoridades do STJ na área 
ambiental, preleciona que princípios “são os princípios que servem de critério básico e 
inafastável para a exata inteligência e interpretação de todas as normas que compõem o 
sistema jurídico ambiental, condição indispensável para a boa aplicação do Direito nessa 
área.” 
 Em outras palavras, os princípios, especialmente com o advento do chamado pós-
positivismo, são hoje reconhecidos como verdadeiras normas jurídicas, capazes de criar 
direitos, obrigações, etc., nas mais variadas situações concretas, ainda que não seja 
constatada qualquer lacuna. 
A grande diferença, contudo, para as tradicionais regras jurídicas, é que os 
princípios são dotados de uma carga de abstração muito grande. 
É claro que, como aprendemos desde os primeiros períodos do curso de direito, toda 
norma jurídica caracteriza-se por ser abstrata, ou seja, por prever hipoteticamente uma 
situação da vida que, uma vez que ocorra, faz com que se produzam as consequências 
previstas pelo ordenamento. 
Ocorre que nos princípios é muito maior o grau de abstração. Sua estrutura não 
descreve simples situações fáticas, de fácil constatação, mas valores considerados 
essenciais ao direito. E esses valores, como não poderia deixar de ser, são descritos por 
meio de conceitos vagos ou indeterminados. 
Os princípios são norteadores, orientadores na implementação do Direito Ambiental, 
além de exercerem profunda influência na interpretação deste. O nosso sistema jurídico-
ambiental por não ser codificado, mais parece uma colcha de retalhos, com normas 
dispersas em inúmeras leis, decretos, resoluções. É exatamente nesse ponto que os 
princípios nos auxiliam a organizar, harmonizar e adotar soluções coerentes sobre o 
ordenamento considerado, no intuito de alcançar um sistema lógico e racional. 
 
5 JÚNIOR, Rosenval. Curso de Direito Ambiental para o Exame da Ordem de 2017. Estratégia Concursos. 
6 RODRIGUES, Marcelo Abelha. Direito ambiental esquematizado; coordenação Pedro Lenza. – 3. ed. – São Paulo: Saraiva, 
2016. 
20 
 
Conforme ensinam os professores Marcelo Alexandrino e Vicente Paulo, os 
princípios são ideias centrais de um sistema, estabelecem as diretrizes e conferem a ele 
um sentido lógico, harmonioso e racional, o que possibilita a adequada compreensão de 
sua estrutura. Os princípios nos auxiliam na interpretação e na própria produção 
normativa. 
Tais princípios podem ser encontrados, por exemplo, na Constituição Federal de 
1988; na Lei 6.938/81, que institui a Política Nacional do Meio Ambiente; e nas 
Declarações Internacionais, como as Declarações da ONU de Estocolmo de 1972, sobre o 
meio Ambiente Humano; e do Rio de Janeiro de 1992, sobre meio Ambiente e 
Desenvolvimento. 
Como se sabe, toda ciência é sustentada por princípios informativos e 
fundamentais, e com o direito ambiental isso não é diferente. Os princípios fundamentais, 
como o nome mesmo já diz, são permeados de uma tessitura ideológica que direciona o 
modo de ser, de pensar, de agir e de realizar a referida ciência para o qual tal princípio 
serve de fundamento. Por serem dotados de carga ideológica, submetem-se a variações 
culturais formativas de seu conteúdo no tempo e no espaço em que são aplicados. 
Por sua vez, os princípios informativos são verdadeiros axiomas, ou seja, premissas 
que são evidentes e verdadeiras, atuando como “fundamento de uma demonstração, 
porém ela mesma indemonstrável, originada, segundo a tradição racionalista, de princípios 
inatos da consciência ou, segundo os empiristas, de generalizações da observação empírica
” (Dicionário Eletrônico Houaiss). Os princípios informativos resultam de uma obviedade 
imanente à racionalidade lógica que lhe outorga uma imutabilidade imanente. O princípio 
da proibição do retrocesso ambiental é um bom exemplo de princípio axiomático do 
direito ambiental. 
Passando para a análise dos princípios fundamentais, dotados de carga ideológica, 
tomando como ponto de partida o texto constitucional de qualquer nação, é possível dividir 
os princípios em três categorias: 
■ Estruturantes: referem-se à estrutura do Estado de Direito (soberania, 
dignidade da pessoa humana, etc. — art. 1º da CF/88). 
21 
 
■ Gerais: correspondem às garantias individuais e coletivas, voltadas à tutela da 
vida, da isonomia, da liberdade, etc. (CF/88, art. 5º e seguintes). 
■ Específicos: são aqueles ligados a um determinado ramo do direito em particular 
(p. ex.: os previstos no art. 170 da CF para o Direito Econômico; ou os previstos no art. 37 
para o Direito Administrativo, etc.). 
Quando se fala em princípios do Direito Ambiental, devemos ter a exata noção do 
que está sendo exposto. 
É que, conquanto possam ser identificados princípios específicos do Direito do 
Ambiente, não se pode perder de vista que absolutamente tudo o que se relaciona ao meio 
ambiente está ligado a valores outros, como ao próprio direito à vida. Por tal motivo, há 
uma grande relação do objeto de tutela do ambiente com o das demais ciências. 
Importante, então, deixar claro que serão aqui analisados apenas os princípios 
específicos do Direito Ambiental. 
Por ser uma ciência autônoma, o Direito Ambiental é informado por princípios 
próprios, que regulam seus objetivos e diretrizes e, acima de tudo, dão-lhe coerência. 
Devem eles se projetar sobre todos os campos deste ramo do direito, norteando seus 
operadores e salvando-os de dúvidas ou lacunas na interpretação das normas ambientais. 
Tais princípios encontram-se enraizados na Constituição Federal, e deles 
decorrem outros que lhes são derivados. 
Como NÃO há consenso entre os doutrinadores acerca dos princípios do direito 
ambiental. A quantidade, terminologia e definição dos princípios sofrem variações dentro 
da doutrina. Vamos a partir de agora analisar os princípios mais recorrentes em provas da 
OAB e em concursos. 
a) Princípio do Ambiente Ecologicamente Equilibrado como Direito Fundamental 
da Pessoa Humana 
O meio ambiente sadio está intimamente relacionado ao direito à vida. Uma vez que 
sem um ambiente adequado, a própria existência humana estaria comprometida. 
O meio ambiente ecologicamente equilibrado é um bem de uso comum do povo 
e, portanto, direito difuso, conforme disposto no art. 225 da CF/88. 
22 
 
É um bem jurídico é indisponível, fundamental, poissem ele não há vida, nem saúde, 
nem trabalho, nem lazer. 
Trata-se de direito humano fundamental, mesmo não estando previsto no art.5º 
da CF/88, haja vista que os direitos e garantias expressos em nossa constituição não 
excluem outros decorrentes do regime e dos princípios por ela adotados, ou dos tratados 
internacionais em que a República Federativa do Brasil seja parte (Art. 5º, parágrafo 2º, da 
CF/88). 
O direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado está disposto no Título VIII, 
Capítulo VI, art. 225, da CF/88. 
Esse princípio, também, já foi reconhecido pela Conferência das Nações Unidas 
sobre o Ambiente Humano - Estocolmo/72 e reafirmado pela Declaração do Rio sobre 
Meio Ambiente e Desenvolvimento - Rio/92 e pela Carta da Terra de 1997. 
b) Ubiquidade 
Segundo o Dicionário Aurélio Buarque de Holanda, ubiquidade é palavra que tem 
o seguinte significado: “propriedade ou estado de ubíquo ou onipresente; ubiquação, 
onipresença”. Por sua vez, ubíquo significa: “que está presente em toda parte, 
onipresente”. Assim, pelo próprio significado da palavra, já se pode ter a noção do que 
significa dizer que a ubiquidade é princípio do Direito Ambiental. 
Como já se teve oportunidade de pontuar, o direito a um meio ambiente 
ecologicamente equilibrado está diretamente ligado ao direito à vida e, mais ainda, a 
uma vida com dignidade (art. 1º, III; art. 5º, caput, e art. 6º da CF/88). Não apenas à vida 
humana, aliás, é ele essencial, senão porque o meio ambiente “abriga e rege a vida em 
todas as suas formas” (art. 3º, I, da Lei n. 6.938/81). 
Também já se viu que, por sua característica difusa de bem onipresente e de 
titularidade fluida, o bem ambiental jamais fica delimitado a uma determinada 
circunscrição espacial ou temporal. 
Não é nenhum exagero dizer que os recursos ambientais tenham nítida índole 
planetária. 
23 
 
É exatamente esse o princípio da ubiquidade: o bem ambiental não encontra 
qualquer fronteira, seja espacial, territorial ou mesmo temporal. 
 Diga-se, inclusive, que o Superior Tribunal de Justiça já reconheceu o caráter 
ubíquo do meio ambiente: 
“(...) A conservação do meio ambiente não se prende a situações geográficas ou 
referências históricas, extrapolando os limites impostos pelo homem. A natureza 
desconhece fronteiras políticas. Os bens ambientais são transnacionais. (...)” (STJ, 1ª 
Turma, REsp 588.022/SC, rel. Min. José Delgado, DJ 5-4-2004). 
 Basta pensar, por exemplo, que, se o entorno não encontra fronteiras, também não é 
fácil delimitar a extensão de um dano ao meio ambiente. Como consequência, eventual 
reparação deve ser a mais ampla possível, levando em consideração não apenas o 
ecossistema diretamente afetado, mas todos aqueles outros que sofrem consequências 
negativas, ainda que reflexas, da poluição. 
E, ainda mais: essa compensação deve atender aos interesses não apenas das 
gerações atuais, mas das que estão por vir, porque também a elas interessa a manutenção 
do mesmo equilíbrio ecológico. 
Mas não é esta a única face deste princípio: dado o fato de que a tutela ambiental 
interessa diretamente à manutenção da qualidade de vida, sua ubiquidade faz com que, 
regra geral, o exercício de todo e qualquer direito subjetivo — principalmente os de 
natureza privada — deva obediência aos postulados do Direito Ambiental. 
É sob esta ótica que se situa, por exemplo, o mandamento constitucional de que, para 
atender à sua função social, a propriedade rural proceda a uma “utilização adequada 
dos recursos naturais disponíveis e preservação do meio ambiente” (CF, art. 186, II). Ou, 
ainda, a exigência das avaliações prévias de impacto ambiental para toda obra que seja 
potencialmente degradante do meio ambiente (art. 225, § 1º, IV). 
c) Desenvolvimento Sustentável 
 A ideia de desenvolvimento econômico e social em harmonia com a preservação do 
meio ambiente ganhou força com a Conferência de Estocolmo em 1972, marco histórico 
das discussões sobre as questões ambientais. 
24 
 
Para o Relatório Brundtland "Nosso Futuro Comum" de 1987, elaborado pela 
Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, o desenvolvimento 
sustentável é definido como aquele que atende as necessidades das gerações presentes 
sem comprometer a capacidade das gerações futuras na satisfação de suas próprias 
necessidades. 
No Brasil o conceito já estava presente antes da CF/88 e da Rio/92. Em 1981, a Lei 
6.938, que institui a Política Nacional do Meio Ambiente, já prescrevia como um de seus 
objetivos a compatibilização do desenvolvimento econômico e social com a 
preservação da qualidade do meio ambiente e do equilíbrio ecológico. 
O Princípio 04 da Declaração do Rio de 1992 dispõe que para se alcançar o 
desenvolvimento sustentável, a proteção do meio ambiente deve constituir parte 
integrante do processo de desenvolvimento e não pode ser considerado separadamente. 
Ademais, a tarefa de erradicar a pobreza constitui requisito indispensável para o 
desenvolvimento sustentável. 
O princípio do desenvolvimento sustentável tem previsão constitucional, devendo a 
ordem econômica observar, conforme os ditames da justiça social, entre outros, os 
princípios da função social da propriedade e a defesa do meio ambiente, inclusive 
mediante tratamento diferenciado conforme o impacto ambiental dos produtos e serviços 
e de seus processos de elaboração e prestação. 
Em ADI o STF reconheceu expressamente o princípio do desenvolvimento 
sustentável. 
"O princípio do desenvolvimento sustentável, além de impregnado de caráter 
eminentemente constitucional, encontra suporte legitimador em compromissos 
internacionais assumidos pelo Estado brasileiro e representa fator de obtenção do justo 
equilíbrio entre as exigências da economia e as da ecologia, subordinada, no entanto, a 
invocação desse postulado, quando ocorrente situação de conflito entre valores 
constitucionais relevantes, a uma condição inafastável, cuja observância não comprometa 
nem esvazie o conteúdo essencial de um dos mais significativos direitos fundamentais: o 
direito à preservação do meio ambie nte, que traduz bem de uso comum da generalidade 
25 
 
das pessoas, a ser resguardado em favor das presentes e futuras gerações". (ADI 
3.540/DF, Rel. Min. Celso de Mello, DJ 03/02/06). 
 
 
 
 
A defesa do meio ambiente é um dos princípios da ordem econômica e está expresso 
no art. 170, VI da CF/88. Sendo assim, o item deve ser considerado errado. 
Confiram: 
"A ordem econômica, fundada na valorização do trabalho humano e na livre iniciativa, tem por 
fim assegurar a todos existência digna, conforme os ditames da justiça social, observados os 
seguintes princípios: 
I - soberania nacional; 
II - propriedade privada; 
III - função social da propriedade; 
IV - livre concorrência; 
V - defesa do consumidor; 
VI - defesa do meio ambiente, inclusive mediante tratamento diferenciado conforme o impacto 
ambiental dos produtos e serviços e de seus processos de elaboração e prestação; 
VII - redução das desigualdades regionais e sociais; 
VIII - busca do pleno emprego; 
IX - tratamento favorecido para as empresas de pequeno porte constituídas sob as leis brasileiras 
e que tenham sua sede e administração no País." 
d) Princípio da Prevenção x Princípio da Precaução 
Alguns autores consideram esses princípios como sendo sinônimos. Entretanto, a 
doutrina majoritária e a Jurisprudência vêm adotando entendimento de que são princípios 
distintos e, portanto, com características próprias. 
O princípio da prevenção apoia-se na certeza científica do impacto ambiental. 
Assim, adotam-se todas as medidas para mitigar ou eliminar os impactos conhecidos sobre 
o ambiente. É com base nesse princípio que nós temos o licenciamento e o monitoramento 
ambiental, que buscam evitar ou minimizar possíveis danos ao ambiente. 
O Princípio da Prevenção parte da premissa de que os danos ao ambiente são, em 
regra, de difícil ouimpossível reparação. Uma vez consumada uma degradação ao meio 
ambiente, a sua reparação é excessivamente onerosa e demorada, sendo muito difícil 
recuperarmos as condições originais. Daí a necessidade de atuação preventiva para evitar 
danos e prejuízos ao meio. 
DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL 
CONSERVAÇÃO AMBIENTAL 
CRESCIMENTO ECONÔMICO 
JUSTIÇA SOCIAL 
26 
 
Já o Princípio da Precaução é uma garantia contra os riscos potenciais, incertos, 
que de acordo com o estágio atual do conhecimento não podem ser ainda identificados. 
Apoia-se na ausência de certeza científica, ou seja, quando a informação científica é 
insuficiente, incerta ou inconclusiva. 
No âmbito das Convenções Internacionais, o princípio da precaução encontra-se 
disposto, entre outros, no artigo 15 da Declaração do Rio de Janeiro, elaborada pela 
Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente e Desenvolvimento, realizada no 
Rio de Janeiro em 1992. 
Princípio 15: “De modo a proteger o meio ambiente, o princípio da precaução 
deve ser amplamente observado pelos Estados, de acordo com suas capacidades. Quando 
houver ameaça de danos sérios ou irreversíveis, a ausência de absoluta certeza 
científica não deve ser utilizada como razão para postergar medidas eficazes e 
economicamente viáveis para prevenir a degradação ambiental”. 
Importante observar, ainda, que ambos os princípios estão expressamente 
previstos na legislação brasileira, como na Política Nacional de Resíduos Sólidos (Lei 
12.305/10) e na Política Nacional sobre Mudança do Clima (Lei 12.187/09). 
Uma aplicação do princípio da prevenção e da precaução seria o Estudo de Impacto 
Ambiental (EIA). Quando da realização de um EIA poderá haver a necessidade de 
aplicação de um ou de outro princípio, que determinará a concessão ou não da licença 
ambiental. Assim, se o risco é conhecido, certo, a análise pode indicar medidas preventivas 
no intuito de mitigar os impactos ou até mesmo a não aprovação da obra ou 
empreendimento. 
Por outro lado, se identificados apenas riscos potenciais, incertos, em que não haja 
certeza científica quanto à extensão ou o grau dos mesmos, a atividade poderá não ser 
aprovada por conta da aplicação do princípio da precaução, haja vista que devemos adotar 
a opção mais favorável à manutenção do equilíbrio ambiental (in dubio pro natura) e da 
saúde (in dubio pro salute). 
ATENÇÃO! É importante conhecer os posicionamentos das Bancas 
Examinadoras. Para a Banca FGV, o licenciamento ambiental é uma aplicação do princípio 
da prevenção! 
27 
 
Voltando a falar do princípio da precaução, outro aspecto importante é a inversão 
do ônus da prova. Cabe ao interessado (suposto poluidor) o ônus de provar, com 
anterioridade, que as intervenções pretendidas não são perigosas e/ou poluentes. Esse 
é o entendimento do STJ, conforme transcrito abaixo. 
Segundo o STJ, "aquele que cria ou assume o risco de danos ambientais tem o dever de 
reparar os danos causados e, em tal contexto, transfere-se a ele todo o encargo de provar 
que sua conduta não foi lesiva. Cabível na hipótese, a inversão do ônus da prova que, 
em verdade, se dá em prol da sociedade, que detém o direito de ver reparada ou 
compensada a eventual prática lesiva ao meio ambiente." (REsp 1049822/RS, Rel. Min. 
Francisco Falcão, Primeira Turma, DJe 18/05/2009). 
 
Resumindo: 
O princípio da prevenção aplica-se quando são conhecidos os danos causados ao 
ambiente com a prática de determinada atividade perigosa. Quando há certeza quanto a 
esses danos. Exemplo: mineração. 
Já o princípio da precaução é aplicado quando não há certeza quanto aos 
possíveis efeitos negativos de determinada atividade ou empreendimento. Nesse caso 
impõem-se restrições ou impede-se a intervenção pretendida. Exemplos: OGM 
(Organismos geneticamente modificados); radio frequência de antenas de telefonia celular. 
 
 
e) Princípio do Poluidor-pagador 
Também conhecido como princípio da responsabilidade, exige que o poluidor 
suporte as despesas de prevenção, reparação e repressão dos danos ambientais por 
ele causados. 
Busca internalizar os custos socioambientais do processo de produção, ou seja, 
os custos resultantes da poluição devem ser internalizados nos custos de produção e 
assumidos pelos empreendedores de atividades potencialmente poluidoras. Visa evitar 
a privatização dos lucros e socialização das perdas. 
Em outras palavras, os agentes econômicos devem contabilizar o custo social da 
poluição por eles gerada, e este deve ser assumido, ou internalizado. Isso acontece porque 
28 
 
junto com o processo produtivo também são produzidas externalidades negativas. Dá-se 
esse nome pelo fato de que os resíduos da produção são recebidos por toda a sociedade, 
enquanto o lucro é recebido somente pelo produtor. 
OBSERVAÇÃO: não se deve confundir o Princípio do poluidor-pagado com 
licença ou autorização para poluir. Não é pagador-poluidor, pois ninguém pode comprar o 
direito de poluir. A intenção é criar a consciência de que o meio ambiente deve ser 
preservado, inclusive no processo de produção e desenvolvimento. 
O Princípio 16 da Declaração do Rio/92 enuncia o Princípio do Poluidor-pagador: 
"Tendo em vista que o poluidor deve, em princípio, arcar com o custo decorrente da 
poluição, as autoridades nacionais devem procurar promover a internalização dos custos 
e o uso de instrumentos econômicos, levando na devida conta o interesse público, sem 
distorcer o comércio e os investimentos internacionais." 
A Constituição Federal coloca em prática o princípio do poluidor-pagador quando 
obriga o explorador de recursos minerais a recuperar o meio ambiente degradado (Art. 225, 
parágrafo 3°); e quando estabelece sanções penais e administrativas aos infratores, 
independentemente da obrigação de reparar os danos causados (Art. 225, parágrafo 3°). 
Antes, porém, a Lei 6.938/81 já trazia o princípio em seu artigo 14, parágrafo 1°, 
"é o poluidor obrigado, independentemente da existência de culpa, a indenizar ou 
reparar os danos causados ao meio ambiente e a terceiros, afetados por sua atividade." 
Além disso, a Política Nacional de Meio Ambiente tem como um dos objetivos a 
imposição, ao poluidor e ao predador, da obrigação de recuperar e/ou indenizar os 
danos causados ao meio ambiente e a terceiros, afetados por sua atividade, 
independentemente da existência de culpa (Responsabilidade Civil Objetiva). 
f) Princípio do Usuário-pagador 
Estabelece que o usuário de recursos naturais deve pagar por sua utilização, 
independentemente da ocorrência de poluição. A aplicação desse princípio busca 
racionalizar o uso, além de evitar que o "custo-zero" gere a hiperexploração e o 
desperdício. 
29 
 
No Art. 4°, VII, da Lei 6.938/81 temos que a "Política Nacional do Meio 
Ambiente visará: à imposição, ao poluidor e ao predador, da obrigação de recuperar e/ou 
indenizar os danos causados e, ao usuário, da contribuição pela utilização de recursos 
ambientais com fins econômicos." 
Como aplicação desse princípio, temos a cobrança pelo uso da água, que é um 
recurso natural limitado, dotado de valor econômico. 
A cobrança pelo uso de recursos hídricos, um dos instrumentos da Política Nacional 
de Recursos Hídricos, objetiva reconhecer a água como bem econômico e dar ao usuário 
uma indicação de seu real valor; incentivar a racionalização do uso; e obter recursos 
financeiros para o financiamento dos programas e intervenções contemplados nos planos 
de recursos hídricos (Artigos 5°, IV e 19, I, II e III da Lei 9.433/97). 
Com esse princípio, o usuário arca com os custos do uso direto e/ou indiretamente 
para garantir a qualidade e o equilíbrio ambiental. 
g) Princípio da Educação Ambiental 
A educação ambiental como um dos princípios da Política Nacional do Meio 
Ambiente deve ser desenvolvida como uma prática educativa integrada, contínuae 
permanente. 
É considerada como um conjunto de processos por meio dos quais o indivíduo e a 
coletividade constroem valores sociais, conhecimentos, habilidades, atitudes e 
competências voltadas para a conservação do meio ambiente. 
Conforme art.225, parágrafo 1°, VI, da CF/88, incumbe ao Poder Público 
promover a educação ambiental em todos os níveis de ensino e a conscientização 
pública para a preservação do meio ambiente. 
A educação ambiental é um componente essencial e permanente da educação 
nacional, devendo estar presente, de forma articulada, integrada em todos os níveis e 
modalidades do processo educativo, em caráter formal e não formal. 
Os poderes públicos devem definir políticas que incorporem as dimensões 
ambientais e promovam a participação da sociedade na conservação, recuperação e 
manutenção das condições ambientais adequadas. 
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h) Princípio da Informação 
Presente em outros ramos do direito, como direito administrativo, do consumidor, 
dentre outros. Está relacionado aos princípios da Participação e da Publicidade. 
Segundo Art. 5º, XXXIII da CF/88, todos têm direito a receber dos órgãos 
públicos informações de seu interesse particular, ou de interesse coletivo ou geral. 
Os órgãos e entidades da Administração Pública, direta, indireta e fundacional, 
integrantes do Sisnama, ficam obrigados a permitir o acesso público aos documentos, 
expedientes e processos administrativos que tratem de matéria ambiental e a fornecer 
todas as informações ambientais que estejam sob sua guarda, em meio escrito, visual, 
sonoro ou eletrônico. 
Qualquer indivíduo, independentemente da comprovação de interesse 
específico, terá acesso às informações ambientais, mediante requerimento escrito, no 
qual assumirá a obrigação de não utilizar as informações colhidas para fins comerciais, sob 
as penas da lei civil, penal, de direito autoral e de propriedade industrial, assim como de 
citar as fontes, caso, por qualquer meio, venha a divulgar os aludidos dados. 
Importante frisar que é assegurado o sigilo comercial, industrial, financeiro ou 
qualquer outro sigilo protegido por lei, bem como o relativo às comunicações internas 
dos órgãos e entidades governamentais. 
Consoante o Princípio 10 da Declaração da Rio/92, cada indivíduo deve ter 
acesso adequado a informações relativas ao meio ambiente de que disponham 
autoridades públicas. Os Estados devem facilitar e estimular a conscientização e a 
participação pública, colocando a informação à disposição de todos. 
Um dos objetos da Política Nacional do Meio Ambiente é a difusão de tecnologias 
de manejo do meio ambiente, a divulgação de dados e informações ambientais e a 
formação de uma consciência pública sobre a necessidade de preservação da qualidade 
ambiental e do equilíbrio ecológico (Art. 4º, V, da Lei 6.938/81). 
Além disso, a PNMA tem como um dos seus instrumentos o sistema nacional de 
informações sobre o meio ambiente; a instituição do Relatório de Qualidade do Meio 
Ambiente, a ser divulgado anualmente pelo IBAMA; e a garantia da prestação de 
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informações relativas ao Meio Ambiente, obrigando-se o Poder Público a produzi-las, 
quando inexistentes (Art. 9º, VII, X e XI da Lei 6.938/81). 
i) Princípio da Participação Comunitária ou Popular ou Princípio Democrático 
Assegura ao cidadão o direito à informação e a participação na elaboração das 
políticas públicas ambientais, de modo que a ele devem ser assegurados os mecanismos 
judiciais, legislativos e administrativos que efetivam o princípio. 
O Poder Público e a sociedade tem o poder-dever de defender e preservar o meio 
ambiente. São formas de atuação da sociedade na defesa do meio ambiente: audiências 
públicas realizadas nos licenciamentos (EIA/RIMA); ação civil pública; ação popular; 
entre outros. 
Por fim, convém recordarmos o Princípio 10 da Declaração da Rio/92, que 
enuncia o princípio da informação e da participação, defendendo que a melhor 
maneira de tratar as questões ambientais é assegurando a participação, no nível 
apropriado, de todos os cidadãos interessados, bem como a oportunidade de participar 
em processos de tomada de decisões. Deve o Estado, ainda, facilitar e estimular a 
conscientização e a participação pública. 
j) Princípio da Solidariedade ou Equidade Intergeracional 
O desenvolvimento sustentável visa à concretização desse princípio. As gerações 
presentes possuem o direito de utilizar os recursos ambientais, mas de maneira 
sustentável, racional, de forma a não privar as gerações futuras do mesmo direito. 
O homem tem a obrigação de proteger e melhorar o meio ambiente para as 
presentes e futuras gerações. (Princípio 1 da Declaração de Estocolmo). 
A CF/88 também trata desse princípio em seu art.225, caput, ao imputar ao Poder 
Público e a coletividade o dever de defender e preservar o meio ambiente ecologicamente 
equilibrado para as presentes e futuras gerações. 
Passados 20 anos da Conferência de Estocolmo o mesmo princípio é ratificado pela 
Rio/92 em seu princípio 3 "O direito ao desenvolvimento deve ser exercido de modo a 
permitir que sejam atendidas equitativamente as necessidades de desenvolvimento e de 
meio ambiente das gerações presentes e futuras. 
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k) Princípio da Natureza Pública da Proteção Ambiental ou Obrigatoriedade de 
Atuação ou Intervenção Estatal 
É dever do Poder Público e da coletividade a defesa e preservação do meio 
ambiente. 
Deve-se confiar às instituições nacionais competentes a tarefa de planejar, 
administrar ou controlar a utilização dos recursos ambientais dos Estados, com o fim de 
melhorar a qualidade do meio ambiente, conforme enunciado no princípio 17 da 
Declaração de Estocolmo/72. 
Na CF/88 temos diversas atribuições do Estado no intuito de assegurar a 
efetividade do direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, essencial à sadia 
qualidade de vida. Dentre as formas de atuação do Estado na proteção ambiental, 
temos a fiscalização, a aplicação de sanções nos casos de degradação, ou de incentivos 
nos casos de empresas com responsabilidade socioambiental. 
Importante salientar que a intervenção do Estado não é exclusiva, embora seja 
obrigatória. Ou seja, não existe o monopólio do Poder Público na gestão da qualidade 
ambiental. Ao contrário, a defesa e a preservação do meio ambiente deve sempre contar 
com a participação da sociedade, uma vez que preservar o meio ambiente é um dever de 
todos. 
l) Princípio da Função Socioambiental da Propriedade 
A função social da propriedade foi reconhecida expressamente pela Constituição 
de 1988, no art. 5º, XXIII; 170, III; Art. 182 § 2º; e 186, inc. II. 
A Constituição impõe ao proprietário o dever de exercer o seu direito de 
propriedade em conformidade com a preservação do meio ambiente. No sentido de 
que, se ele não o fizer, o exercício do seu direito de propriedade não será legítimo. 
A propriedade rural cumpre a sua função social quando atende, simultaneamente, 
quatro requisitos, entre eles aproveitamento racional e adequado e a utilização adequada 
dos recursos naturais disponíveis e preservação do meio ambiente. 
Já a propriedade urbana para desempenhar a sua função social deve atender às 
exigências fundamentais de ordenação da cidade expressas no plano diretor. Lembrando 
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que o plano diretor, aprovado pela Câmara Municipal, é obrigatório para cidades 
com mais de vinte mil habitantes! 
 
m) Princípio da Cooperação Internacional em Matéria Ambiental ou Cooperação 
entre os Povos 
Os problemas ambientais não conhecem ou respeitam fronteiras. Em muitos casos 
a degradação ambiental causada no interior de um país pode vir a acarretar danos 
ambientais além de suas divisas, podendo atingir todo o planeta. O aquecimento global e a 
chuva ácida são bons exemplos disso. 
É dessa característica específica dos problemas ambientais que surge a necessidade 
de cooperação internacional, na qual todos os paísesdevem empenhar-se na solução das 
questões internacionais relativas à proteção e melhoria do meio ambiente. 
É indispensável a cooperação mediante acordos multilaterais e bilaterais e por 
outros meios conforme preconizado pelo princípio 24 da Declaração de Estocolmo de 
1972. 
Assim, para efetivação desse princípio cabe aos Estados o dever de consultar, 
prestar informações, assistência, auxílio, além do repasse de tecnologias nas situações 
críticas capazes de causar prejuízos econômicos, sociais e ambientais 
transfronteiriços. 
A necessidade de cooperação internacional para a proteção do meio ambiente não 
implica abandono da soberania dos Estados, ao contrário, de acordo com o Princípio 2 da 
Declaração do Rio/92, os Estados têm o direito soberano sobre seus recursos, sendo 
responsáveis por suas atividades, devendo velar para que essas não causem danos que 
atinjam zonas fora dos limites da jurisdição nacional. 
 
 
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n) Princípio do Limite ou do Controle do Poluidor pelo Poder Público 
Segundo este princípio o Poder Público tem o dever de fixar parâmetros 
mínimos de qualidade ambiental com o fim de manter o equilíbrio ecológico, a saúde 
pública e promover o desenvolvimento sustentável. 
Na Lei 6.938/81, art. 9º, I, há como um de seus instrumentos o estabelecimento de 
padrões de qualidade ambiental, tendo o Conama atribuições para estabelecer, 
privativamente, normas e padrões nacionais de controle da poluição por veículos 
automotores, aeronaves e embarcações. Além de normas, critérios e padrões relativos ao 
controle e à manutenção da qualidade do meio ambiente com vistas ao uso racional dos 
recursos ambientais, principalmente os hídricos. 
Observações: CONAMA, Conselho Nacional do Meio Ambiente, é órgão 
consultivo e deliberativo do SISNAMA, Sistema Nacional do Meio Ambiente. 
O CONAMA possui a finalidade de assessorar, estudar e propor ao Conselho de 
Governo, diretrizes de políticas governamentais para o meio ambiente e os recursos 
naturais e deliberar, no âmbito de sua competência, sobre normas e padrões ambientais. 
A estrutura do SISNAMA, a composição e competências do Conama serão 
estudadas na aula sobre a Lei 6.938/81. 
o) Princípio do Progresso Ecológico ou da Proibição do Retrocesso Ecológico ou da 
Vedação ao Retrocesso Ecológico 
Impõe ao Poder Público o dever de não retroagir na proteção ambiental. 
É inadmissível o recuo para níveis de proteção inferiores aos já consagrados, exceto 
se as circunstâncias de fato se alterarem significativamente, como no caso de calamidades 
públicas. 
A proteção ambiental deve sempre avançar, a partir de um piso mínimo, 
aprimorando as leis e as políticas públicas em prol da melhoria e preservação do meio 
ambiente. 
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