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Como lidar com comportamentos difíceis na sala de aula Módulo 7 “A maior riqueza do homem é a sua incompletude. Nesse ponto sou abastado. Palavras que me aceitam como sou - eu não aceito. Não aguento ser apenas um sujeito que abre portas, que puxa válvulas, que olha o relógio, que compra pão às 6 horas da tarde, que vai lá fora, que aponta lápis, que vê a uva etc. etc. Perdoai Mas eu preciso ser Outros. Eu penso renovar o homem usando borboletas.” Manoel de Barros (1916 -) 4 5 • Aproximando-se dos alunos: reconhecendo características individuais. • Genética e meio ambiente: o papel da escola. • Identificando o que está por trás dos comportamentos que interferem na aprendizagem. • Como lidar com esses comportamentos em sala de aula. ConteúdoApresentação Cada vez mais se tem valorizado a necessidade do reconhecimento das ca- racterísticas individuais do aluno em sala de sala para que se realizem inter- venções focadas na expectativa de melhorar o desenvolvimento acadêmico e que se cuide também da realidade emocional, social e das necessidades fí- sicas dos alunos na escola. Essa tarefa é delegada a você, professor, que recebeu um ótimo treinamento, porém com ênfase maior para se trabalhar com o grupo do que com o indivíduo. Até pouco tempo atrás, a criança e seu desenvolvimento acadêmico eram áreas restritas à pedagogia. Atualmente, uma avalanche de conceitos, derivados das observações funcionais das áreas cerebrais e do desenvolvi- mento da psiquiatria da infância e adolescência (área nova que tem como ponto importante o reconhecimento das especificidades da criança), invadiu o ambiente escolar. Esse fluxo de conhecimento, apesar de enri- quecer muito a prática de todas as áreas envolvida, tanto a pedagógica quanto a saúde mental, também traz dificuldades. Em toda área em cons- trução ou em pleno desenvolvimento existe certa polêmica em torno dos conceitos, muitas vezes simplificados ou distorcidos, que torna a relação entre a prática do professor e a expectativa da sociedade em relação ao papel que ele exerce quase uma zona de conflito. Ao criar os módulos, o Instituto ABCD espera tornar acessível ao professor os pontos fundamentais dos conceitos que ficam na interface do discurso en- tre os profissionais da educação e da saúde. Nesse módulo, especificamente, tentaremos sumarizar os principais tópicos do comportamento infantil que podem promover empecilhos para o desenvolvimento do aluno e do grupo (sala de aula). A meta é dar ao professor instrumentos para o reconhecimen- to de algumas características importantes que estão associadas a alguns pa- drões comportamentais e, a partir delas, delinear intervenções (no ambiente escolar, feitas pelo profissional da educação). 6 7 Aproximando-se do aluno: reconhecimento das características individuais Na sala de aula, o professor vive intensamente em contato com seus alunos. Faz parte do processo de ensino que os professores percebam diferenças nos estilos dos alunos, tanto em relação à aprendizagem quanto ao comporta- mento. É importante que o professor esteja atento às características que po- dem afetar desde o aprendizado individual de um aluno até toda a dinâmica da classe durante a aula. Além disso, um professor atento ao comportamento de seus alunos pode ajudar a identificar de forma precoce algum problema na vida da criança, que pode não ter se manifestado em outros ambientes que ela frequenta ou pode não ter sido percebido pelos adultos da sua família. Separar aquilo que é particularidade individual daquilo que é indicativo de um problema não é uma tarefa fácil. Espera-se que o professor possa reco- nhecer, além das nuances do desenvolvimento normal, as peculiaridades do desenvolvimento afetado por alguma particularidade (temporária ou não), intervir de forma efetiva sobre cada aluno e, ao mesmo tempo, sobre o grupo. Ou seja, além de reconhecer, deve-se intervir de forma efetiva. A sala de aula é o ambiente que propicia uma situação única: “o privilégio do olhar para o grupo e para o indivíduo”. Acreditamos que, apesar de ser uma tarefa difícil, se for oferecido um treinamento adequado, o professor é tan- to a pessoa fundamental para o reconhecimento de situações que podem servir de alerta para problemas assim como peça-chave na diminuição do impacto de qualquer problema psíquico na vida do seu aluno. Por isso, o Instituto ABCD pensou nesse módulo. Acreditamos que, se o pro- fessor for instrumentalizado para identificar os sinais e sintomas relaciona- dos a alterações comportamentais e emocionais, poderá encaminhar tanto o processo de aprendizado geral do grupo quanto o individual de forma mais abrangente, segura e benéfica para todos. Além do reconhecimento, pretendemos que o módulo ajude a instrumenta- lizar o professor para intervenções em sala de aula que possam ser propícias para os diversos desafios das alterações de comportamento e emocionais. 8 9 Para identificar o que acontece dentro da cabeça de seus alunos, o professor tem de se aproximar do aluno e entender o que está por trás de seu com- portamento. Tarefa nada fácil, mas necessária, porque uma mesma reação pode ser causada por diferentes situações ou sensações. A agressividade, por exemplo, pode tanto ser intencional e por falta de limites quanto ser desencadeada por uma grande sensação de medo e vulnerabilidade. Porém, agressão provoca uma situação que geralmente amedronta, ameaça o grupo, paralisa reações. Todos, inclusive o professor, têm a tendência natural de se afastar, o que dificulta compreender o problema. Para ajudar nessa tarefa de reconhecer o que está por trás de um compor- tamento que preocupa o professor, descreveremos as principais situações comportamentais relacionadas aos problemas psíquicos que aparecem no ambiente escolar. Psiquismo é tudo o que pensamos, sentimos e expressamos pelo comportamento. Entre os genes e o meio ambiente. O que conta mais? Ultimamente, somos bombardeados por notícias que enfatizam a carga ge- nética ou os fatores ambientais na determinação de situações patológicas no desenvolvimento infantil. Por exemplo, fala-se tanto que depressão é de origem hereditária quanto é causada por bullying em sala de aula. Qual das duas versões seria a real? Ambas, pois os problemas emocionais e comporta- mentais não resultam de um único fator, mas sim da combinação de múltiplos fatores de risco. A escola pode contribuir como um ambiente protetor ou precipitador de pro- blemas. Por exemplo, uma criança com dificuldade de aprendizagem, se não estimulada e amparada adequadamente na escola, pode se sentir muito inca- paz e inferior em relação aos pares. Essa situação pode representar um fator que predispõe a criança a um problema psíquico como a depressão. Quanto maior a presença de outros fatores que também estão relacionados com o aumento de chances para o adoecimento psíquico, como predisposição ge- nética, outros eventos estressores, família pouco afetiva ou estruturada, ne- gligência etc., maior a chance de que a criança desenvolva de fato um quadro depressivo. No entanto, uma criança que tem uma família pouco estrutura- da pode encontrar na escola um ambiente saudável e acolhedor a ponto de ajudar a minimizar as consequências que a desestrutura familiar traria. É de certa forma uma soma ou subtração de fatores que protegem ou precipitam o sofrimento psíquico. As questões não são tão simples como exemplificadas, mas deve-se ter em mente que o ambiente em geral ou o escolar podem ser modificados para im- pactar de forma positiva os desenvolvimentos emocional, comportamental e cognitivo das crianças. Por isso a ênfase em intervenções que enriqueçam o ambiente escolar. Interface meio ambiente versus desenvolvimento Qual a importância da escola nesse processo? Identificandoo problema 10 11 Para aquietar-se, escutar, focar e compreender uma orientação, as crianças precisam dispor de alguns processos mentais que ainda estão em desenvol- vimento. Ou seja, pela imaturidade cerebral, a impulsividade é uma caracte- rística presente na infância e diminuirá durante o crescimento. O controle de inibição de um impulso é a habilidade de resistir a um forte de- sejo de não realizar algo priorizando aquilo que é mais apropriado ou neces- sário em uma ocasião específica. Exemplos cotidianos são resistir à tentação de comer mais uma porção de algo gostoso em prol do controle de peso, resistir à tentação de brincar ao invés de terminar a tarefa escolar, de não di- zer algo socialmente agressivo ou inadequado em uma situação de irritação, manter a concentração no que o professor está falando e não no que os cole- gas estão conversando, não responder a primeira coisa que vem à sua mente. Impulsividade A impulsividade deve diminuir gradativamente com a aquisição da lingua- gem e outras habilidades de reação que o desenvolvimento proporciona. A possibilidade de pensar e elaborar uma estratégia (que vem junto com a linguagem) permite à criança outras modalidades de reação. Mas e se a criança não consegue diminuir a sua impulsividade ao longo do amadurecimento? Devemos então pensar em algumas possibilidades: • Ela tem habilidades sociais para compreender o que é esperado dela em diferentes contextos sociais e planeja uma resposta? • Ela já era mais impulsiva que a média das crianças desde pequena e, mesmo com a melhora ao longo do desenvolvimento, a aquisição não foi o suficiente para acompanhar as necessidades esperadas para um contexto mais organizado e com maior demanda? • Ela não foi estimulada e não recebeu treinamento para aprender a se engajar e agir de acordo com o contexto social? É importante lembrar que o cérebro em formação prioriza as vias mais estimuladas, portanto pais e professores podem ter um papel central ao estimular as compe- tências de inibição de impulsos. Você sabe por que seu aluno espera sentado na cadeira enquanto recebe uma orientação? Quais capacidades ele tem de dispor para conseguir rea- lizar essa tarefa que parece tão simples ao adulto (alguns), mas não é para as crianças? Se a impulsividade é normal na infância, quando devemos nos preocupar? Por que algumas crianças são mais impulsivas? O que é inibir impulso? Para que serve? Você se recorda das funções executivas de que falamos no Módulo 5? Pois é, falar de impulsividade é falar de planejamento para iniciar ações, sustentar atenção, monitorar o rendimento, controlar (inibir) impulsos e realizar tarefas com foco e persistência. Ou seja, são as funções executivas agindo na prática do dia a dia. Na história de vida escolar, crianças que apresentam menor capacidade de controle de impulsos desde o ensino infantil têm maior tendência a pior desempenho acadêmico durante todo o seu histórico (Duncan et al., 2007). Ao mesmo tempo, intervenção para aumentar o controle dos impulsos no ensino infantil tem um efeito positivo ao longo da vida inteira. (Diamondet al., 2007). 12 13 Técnicas de estímulo das funções inibitórias podem ajudar muito as crian- ças a estimular essa habilidade no seu desenvolvimento. Na sala de aula, algumas medidas simples podem ajudar a incentivar o controle de impul- sos. Aqui listaremos algumas possibilidades (Barkley, 2002; Packer, 2010; Diamond & Lee, 2011; Dias, 2012; Dias, 2013) tentando as adaptar para a realidade brasileira. 1. Oferecer mediadores concretos e externos Para crianças menores, oferecer cartões indicando visualmente a sua fun- ção em cada atividade. Por exemplo, dividir a sala em duplas para atividade de leitura, cada dupla recebe um cartão com um desenho de orelha e outro com desenho de boca. Quem recebeu a orelha escuta e quem recebeu a boca lê. As atividades são intercaladas entre os pares. 2. Referências externas para as etapas de uma atividade Crie uma música que sinalize as etapas a ser seguidas para ajudar a criança a regular seus impulsos e manter-se em uma atividade, principalmente em momentos de trocas de demandas, como o retorno à sala de aula após o lanche ou o início da uma nova tarefa. Coloque na letra da música os itens a ser seguidos, estimule que a sala toda cante. 3. Estimular a autorregularão da impulsividade • Crie um lugar calmo na sala onde qualquer aluno possa ir quando sentir que precisa de um ambiente com menor estímulo sonoro para se acalmar ou para se concentrar. • Incentive a procura desse espaço como uma medida importante de auto- controle e de manejo das próprias sensações. • Possibilite pausas para autoavaliação do comportamento. Por exemplo, combinar com os alunos que quando o professor disser uma palavra es- pecífica (estátua, por exemplo), todos interromperão a atividade em curso e farão uma autorreflexão de como estão envolvidos, ou não, na colaboração e o que poderiam fazer para melhorar a situação. 4. Estimular a regulação do comportamento pelos pares • Coloque a criança impulsiva próxima de um colega que possa funcionar como um bom modelo e como uma ajuda externa ao controle. • Estimule a classe toda com incentivos para quando uma atividade é com- pletada a tempo. Por exemplo, sugira algo tentador como tempo para atividades recreativas nos últimos vinte minutos do período se as tarefas do dia forem realizadas sem necessidade de interrupção disciplinar do professor para toda a sala. Escreva na lousa os números de 1 a 20, sendo que cada número refere-se aos minutos da atividade prometida. A cada interrupção para regular comportamento, todo o grupo perde um minu- to. Deixe bem demarcado na lousa (risque os minutos perdidos). Permita que os alunos se organizem em duplas ou trios de forma que os menos impulsivos ajudem os mais impulsivos a se organizarem. 5. Localização na sala de aula • Coloque seu aluno mais impulsivo em local próximo para que possa ser supervisionado e amparado por você. • Permita também que ele possa se movimentar sem atrapalhar as ativida- des. Modifique a disposição da carteira conforme a atividade. • Promova um canto de relaxamento na sala e estimule o uso por todos do grupo quando necessário. O que fazer com um aluno impulsivo? Como estimular o controle de impulsos? Comportamentos precisam de tempo, insistência e paciência para ser modificados. Por isso, professor, não desista! 14 15 6. Orientação individual de um aluno evitando exposição • Crie um espaço de comunicação direta entre você e o aluno permitindo que a impulsividade seja reconhecida como um problema de difícil con- trole, algo que ele não deve negligenciar ou esconder, mas sim enfrentar, e que a dupla “professor-aluno” tem em comum a meta de traçar estra- tégias para diminui-la. • Combine um código que possa funcionar como ferramenta de controle externo sem exposição. Como “João, você poderia buscar um copo de água para mim, por favor”. Assim você promoveria que o aluno saia da sala de aula, caminhe um pouco, extravase sua energia, consiga perceber que estava se excedendo e retorne à sala sem expô-lo. 7. Permita algum grau de controle na realização da atividade Sugira ao aluno que ele tem alguma autonomia sobre a forma como realiza uma atividade, se quer iniciar pelas partes mais interessantes, se precisa de pausas etc. A criança e o adolescente estão construindo a sua forma de compreensão e reação ao mundo e podem reagir de forma explosiva quando se deparam com situações em que têm dificuldades para compreender ou programar uma estratégia de reação no plano dos pensamentos (ou planejamento ver- bal). Assim, além de comuns, irritabilidade e agressividade são inespecíficas e podem ser manifestações de diferentes situações de sofrimento psíquico, transitório ou persistente (Craney & Geller,2003). Por isso, não podemos nos precipitar e considerar uma reação agressiva ou irritável como indício de gravidade ou de patologia. Mas podemos conside- rar que, ao reagir dessa forma, a criança ou o adolescente encontram um impedimento para utilizar formas mais elaboradas de reação (um planeja- mento, por exemplo). Um estudo analisou o modo de reação do professor frente a comportamen- tos agressivos por parte da classe e observou-se que altos índices de com- portamento agressivo podem desencadear reações rígidas e inflexíveis do professor na tentativa de controle da conduta. Paradoxalmente, esse tipo de reação, principalmente quando acompanhado de restrição da relação empática entre aluno e professor, aumenta a resistência dos alunos e piora o comportamento na sala de aula (Pianta, 2004). Ou seja, irritação gera irritação e pode contaminar todo o ambiente esco- lar. Não é fácil lidar com um aluno assim, apesar de ser uma característica comum na infância. A seguir, descreveremos as principais intervenções que podem ser realiza- das pelo professor para abordar comportamentos agressivos e irritáveis no ambiente escolar. De forma geral, o professor poderá diminuir o impacto se conseguir adotar atitudes que evitem situações de conflito ou de explosões afetivas. Para tanto, precisa observar o contexto afetivo em cada situação, treinar a auto- percepção do grupo e de cada aluno. Ao reconhecer situações de risco emi- nente, deve evitar um desfecho com excessiva carga afetiva e retomar o tópico em um segundo momento. Irritabilidade e agressividade Professor, você sabia que a reação de agressividade e irritabilidade na infância e na adolescência é uma regra, não uma exceção? Professor, como você reage a um aluno agressivo ou irritado? O que fazer com a irritação? 16 17 Podemos listar algumas dicas práticas: • Irritabilidade caminha junto com impulsividade; então, tudo o que es- crevemos anteriormente pode se aplicar aqui também. • Possibilite ao aluno irritado uma forma de proteção antes que agrida o grupo ou a você. Permita algum relaxamento nas atividades, autorize que se isole do grupo nas situações mais intensas. • Sempre que possível, elogie ou tente se aproximar da criança irritada. Isso estimula uma forma de comunicação e que ela veja no professor um instrumento de ajuda. 1. Desde que não esteja colocando em risco a integridade física de outro aluno, profissionais da escola ou a própria • Procure manter distância física do aluno. Tentar contê-lo pode aumen- tar as chances de que ele ou o profissional da escola se machuquem. • Evite estímulos que podem piorar a explosão, como discutir ou argumentar. • Afaste as pessoas ao redor. Não tente remover o aluno em questão. • Mantenha em mente que as explosões verbais com xingamentos ex- pressam mais uma situação de descontrole do que necessariamente o que está sendo expresso pelo conteúdo. • Explosões geralmente são autolimitadas. Tentar interrompê-las ou en- curtá-las geralmente causa o efeito oposto. • Preocupe-se em promover a segurança dos alunos e dos profissionais da escola e não em interromper o quadro de explosão. • Lembre-se de que todos nós perdemos a cabeça de vez em quando e o quanto isso é embaraçoso. Ajude seu aluno a se recompor depois da explosão. Converse com o grupo mostrando como isso pode acontecer com qualquer um, diminuindo o estigma e o impacto no grupo. 2. Se for uma situação que coloque em risco a integridade física de alguém • Não é uma situação para o professor lidar sozinho. Chame o responsá- vel pela segurança da escola. E se seu aluno irritado explodir em agressões verbais ou físicas? O que fazer? 18 19 Alguns alunos insistem em não fazer o que é solicitado ou mantêm um com- portamento de questionamento às regras. Muitas situações diferentes po- dem desencadear esse tipo de comportamento, desde a “não compreensão do que é solicitado ou das regras” (ver habilidades sociais a seguir), até “irri- tabilidade, falta de engajamento com o meio, disputa de poder, dificuldade de aceitar estruturas com hierarquia”. Mais difíceis do que a irritabilidade, esses comportamentos tornam a ati- vidade em sala de aula ainda mais desafiadora. Abaixo listamos algumas sugestões de atitudes que podem ajudar o professor. 1. Ao realizar as atividades Estar seguro de qual estratégia seguir para a situação em questão. Alunos opositores e desafiadores tentarão ao máximo questionar cada conduta do professor, descredenciando-o e desmerecendo o desfecho proposto. Oposição e desrespeito às regras • Garantir que o aluno opositor esteja engajado na atividade, sem per- mitir brechas para que ele se coloque à margem do grupo. Elaborar atividades motivadoras e participativas, engajar o aluno no grupo, re- ferenciá-lo ao longo da atividade e responsabilizá-lo com o desfecho. • Manter as atividades do dia o mais visível possível de forma que impos- sibilite ao aluno opositor se colocar como não informado das etapas e regras a ser seguidas. • Deixar claro, desde o início, o desfecho esperado e o comportamento desejado em cada atividade. • Dividir a sala em grupos menores e heterogêneos. 2. Disciplina • Impor o seguimento das regras de forma persistente e consistente, não permitir brechas ou negociações. Deixar claro as consequências para aqueles que optarem por não seguir as etapas proposta. • Certificar-se de que todos estão cientes dos compromissos e expecta- tivas antes de iniciar cada atividade. • Evitar que o aluno desafiador tenha tempo livre ou longas pausas entre cada atividade. Responsabilize-o por pequenas metas que você tenha certeza de que ele pode cumprir e que serão observadas de forma po- sitiva para o grupo. 3. Questionamentos • Evitar assuntos polêmicos que abram margem para discussões e múlti- plas interpretações, principalmente no que concerne às regras. Deixar esse tipo de tópicos para momentos mais tranquilos. • Manter o foco das discussões em tópicos positivos. 4. Evitar disputas de poder • Evitar disputas, principalmente quando não são necessárias. Não dê ar- gumentos que possam inflamar uma discussão. Deixe claro o seu ponto de vista, a regra e mude de tópico. • Se sentir que é importante ressaltar um comportamento negativo de um aluno, evite fazê-lo na sala de aula. Converse de forma discreta e em particular. Nunca levante a voz, fale calmamente, repita a mesma informação de forma pausada e calma, quantas vezes forem necessá- rias. Não argumente. 20 21 A atenção, assim como o controle de impulsos, são atividades que amadure- cem durante o desenvolvimento. Por isso, espera-se que uma criança de até 3 anos consiga manter-se focada em uma atividade única por um período míni- mo de dez minutos e, para crianças entre 7 e 12 anos, espera-se um período mínimo de trinta minutos. Existem várias situações relacionadas com a impossibilidade de uma criança ou de um adolescente ter dificuldade em manter o foco de atenção do início até a finalização de uma atividade. Vamos listar aqui as mais comuns e as mais importantes. • Problemas físicos como dor, cansaço, fome, dificuldade para enxergar, dificuldade para escutar. • Padrão de sono pobre ou irregular com sonolência diurna. • Problemas emocionais como situação familiar complicada, abandono, negligência, tristeza, ansiedade, medo. • Dificuldade de compreensão do contexto social como nos quadros autistas (ver seção de habilidades sociais). • Patologias psiquiátricas específicas como o Transtorno de Déficit de Atenção. • Patologias neurológias como epilepsia. Entre todas essas possibilidades citadas, algumas causarão uma dificuldade de foco de atenção mantido, outras serão transitórias. Não cabe ao professor iden- tificar o motivo que causa a desatenção, mas ele pode sensibilizar os pais para a necessidadede uma avaliação. Crianças desatentas têm muita dificuldade para organizar suas atividades, es- cutar uma orientação, planejar ações, prever e gerenciar etapas para concluir uma atividade. Elas se distraem facilmente com estímulos do ambiente (baru- lho, uma lembrança, objetos ao seu redor), esquecem objetos (mesmo muito importantes para elas, mas ainda mais o que tem menor importância). Tendem a procrastinar as atividades até o último momento. Como subestimam o tempo necessário para completar as atividades, muitas vezes não conseguem comple- tar o que se propuseram e falham com seus pares nas demandas em grupos. Falta de atenção O que causa uma dificuldade de focar a atenção? Como se comporta um aluno que está desatento? Se uma atividade for de grande interesse para a pessoa ou ofereça estímulos muito sedutores (videogame, um tópico especial, algo que desempenha mui- to bem), a alteração da atenção se mostra de uma forma sutil. A pessoa se foca excessivamente naquilo que está realizando e literalmente se esquece do mundo a sua volta. A expressão “o mundo pode cair na sua cabeça” nesses casos é real. A atenção perde a capacidade de se modular entre a atenção volitiva (aquela que eu foco) e a espontânea (aquela que observa o mundo a minha volta e me coloca em contato com o externo) com um prejuízo impor- tante da segunda. Ou seja, ter uma criança que passa horas no videogame não significa que ela tenha capacidade de atenção sem alterações. O médico é quem faz a avaliação da necessidade ou não do uso de medicação. Independentemente disso, muitas intervenções podem ser feitas na sala de aula para ajudar o aluno que é desatento (no caso do TDA ou de algumas patologias neurológicas, por exemplo) ou que está desatento (no caso de situações transitórias) a focar sua atenção. Está certo dizer que se uma criança con- segue se focar e prestar atenção por períodos longos em outras atividades que não os estudos (como videogame) ela não é desatenta? O que fazer para ajudar uma criança desatenta a melhorar sua atenção na sala de aula? Só o remédio que funciona? Algumas dicas práticas 1. Localização espacial na sala de aula • Coloque o aluno o mais próximo possível da lousa se ele precisa realizar atividades de cópia do conteúdo. • Sente-o em local próximo de forma que ele possa ser constantemente supervisionado. • Deixe-o longe de potenciais fontes de distração como janelas, portas, outros colegas agitados. Procure alocá-lo onde o foco seja o contato com o professor. • Tente colocá-lo próximo de um colega que possa funcionar como um bom modelo, assim como uma ajuda externa ao controle (ver interven- ções para o controle de impulsos na seção anterior). 22 23 • Modifique a disposição das carteiras de acordo com o tipo de atividade (pequenos grupos para atividades cooperativas, círculo com a sala toda, em fileiras para tópicos mais expositivos). 2. Orientação individual de um aluno evitando exposição • Selecione para quais atividades o aluno precisará de mais apoio; por exemplo, quanto mais monótona e longa, mais difícil será a manutenção da atenção. • Nessas atividades, como uma leitura, passe pelo aluno e toque discreta- mente na página que está sendo lida. • Solicite que o aluno indique para quais atividades ele precisa de mais supervisão e como poderia ser fornecida. Faça esses questionamen- tos em particular. Se ele não conseguir se organizar para sugerir, dê sugestões com exemplos e permita que ele coloque como se sentiria em cada situação. • Combine previamente um sinal com o seu aluno para resgatar a sua aten- ção ao tema da aula sem expô-lo. 3. Medidas que podem aumentar a atenção para o conteúdo • Permita ao aluno algum grau de controle sobre a atividade solicitada. Isso, de forma geral, diminui ansiedade e procrastinação e aumenta o desempenho. Por exemplo, pergunte por qual parte da atividade ele gostaria de começar; se gostaria de sair para caminhar um pouco a cada quinze minutos, e diga que você ajudaria a controlar o tempo; se prefere fazer em grupo ou individualmente (quando possível). • Fragmente as atividades em vários tópicos de até quinze minutos de duração contínua. Use os espaços entre as atividades para ajudar a aluno a extravasar sua energia física, no caso dos agitados, ou para poder compartilhar o fluxo dos pensamentos dos sonhadores. Con- trole o tempo de descanso (lembre-se de que eles percebem mal o passar do tempo e têm dificuldade para se organizar). Antes de retornar à lição, ajude a direcionar o foco para as partes mais impor- tantes do tópico a ser iniciado e fazer as ligações entre os tópicos anteriores. Uma atenção fragmentada pode determinar conteúdos fragmentados na mente. • Ajude a direcionar a atenção acentuando a importância de pontos- -chave do conteúdo. Por exemplo, interrompa o fluxo do discurso e diga “agora isso é muito importante”, deixe uma pausa de um ou dois segundos antes de retomar. • Explore os outros sentidos. Use outros estímulos sensoriais além do estímulo sonoro. Imagens, objetos, curiosidades, qualquer coisa que estimule os sentidos e faça o assunto aumentar de interesse. Você se lembra de como falamos, nos módulos 1 e 2, da importância para o aprendizado dos estímulos que envolvem mais de uma via de sensação? 24 25 • Mantenha um resumo em tópicos e ilustrações sinalizando pontos-cha- ve, e uma linha cronológica do desenvolvimento de um tema. Chame a atenção para esse resumo a cada nova etapa, ajudando o aluno a organi- zar em sua mente o conteúdo de maneira coesa. • Estimule o contato visual do aluno com você. Perceba quando ele se distraiu pelo olhar e faça qualquer movimento ou atitude que chame a atenção. Não o repreenda, valorize a retomada de foco com um sorri- so, faça uma pequena retomada do conteúdo (por exemplo, lembre o tópico: “falando sobre Dom Pedro II, o imperador do Brasil, podemos continuar dizendo que...”). • Permita que o aluno use fone de ouvido com a música que ele acredita que o ajuda a se concentrar, principalmente em atividades que ele pre- cisa fazer sozinho. Essa medida diminui o potencial de se distrair com os barulhos do ambiente. • Deixe o aluno usar objetos que o ajudem a diminuir estímulos externos vi- suais: boné quando precisa olhar apenas para o seu caderno, por exemplo. • Enriqueça o material de estudo com outras informações além do conteúdo. Por exemplo, divida as etapas de uma lição em cores, criando metas a ser cumpridas. • Lembre-se de que o ruído externo atrapalha muito a concentração de todos, mas inviabiliza a de quem é desatento. Monitore constantemente o barulho na sala de aula. • Promova um ambiente de sala de aula estimulante do ponto de vista aca- dêmico. Se o aluno se distrair e passar a vagar o olhar pela sala, permita que possa se focar em imagens, objetos, trechos de textos que o ajudem a compreender o conteúdo do que está sendo ensinado. • Atividade em grupo pode ser mais prazerosa que a atividade solitária. O engajamento afetivo ajuda no foco da atenção e na tendência em perma- necer na mesma atividade por um período maior. 4. Compreender um tópico inteiro • Sempre que retomar um tópico (de uma aula para a outra, após uma in- terrupção por comportamentos inadequados ou outras situações), faça um pequeno resumo do tema e em que ponto estava. Lembre-se de que, muitas vezes, o aluno desatento não consegue ter uma visão coesa sobre um assunto por ter apreendido trechos fragmentados. A falta de com- preensão do assunto inibe ainda mais a atenção e promove comporta- mentos opositores em relação ao assunto. • Forneça orientações em partes fragmentadas tanto orais como escritas. Use outros incentivos sensoriais (cores, desenhos, organização espacial) para salientar cada tópico. • Antes de passar para uma próxima etapa,averigue o que foi compreendi- do e absorvido da anterior. • Mostre aos alunos desde o início qual a sua expectativa final de aquisição ou de desempenho. 5. Rotina • Deixar as etapas da rotina diária em local de fácil visualização para todos os alunos. Lembrar que o aluno pode ter se distraído em etapas importantes de instrução e, por isso, ficou perdido em relação às próximas etapas e em como se organizar para elas. • Encoraje o uso de checagem de itens antes do trocar para uma nova ativi- dade, da análise do que foi concluído e do que é preciso para a próxima. Isso ajuda o aluno a reconhecer e se organizar em relação às etapas e metas. • Use sinalizadores sensoriais na troca. Palavras de ordem (sonoro) descre- vendo as etapas, setas, desenhos (visuais), objetos a ser entregues (tátil). • Dê ao aluno desatento uma função especial que o incentive e motive. Por exem- plo, que ele seja o responsável por carregar algum objeto com o professor. • Promova supervisão de um adulto próximo ao aluno de forma que, caso ele se perca entre as etapas, possa ser orientado. Processo de socialização se apresenta ao longo de todo desenvolvimento infantil, envolve a apreensão por parte da criança de quem ela é (noção de eu, ideia de sua identidade), de onde faz parte, quem é sua família, sua comunidade, sua escola, enfim em que “mundo” está inserida. Empatia e espectro autista Empatia é a capacidade de se colocar no lugar do outro, de entender o que o outro sente ou como reage. Ela determina as possibilidades de relações sociais. No autismo, a capacidade de ter empatia está alterada. Mesmo em graus leves, com a possibilidade de criar bons vínculos com algumas pessoas de seu convívio, as crianças do espectro autista demonstraram muita dificuldade para expressar e reconhecer o afeto que estará presente na relação e as emoções que surgem a partir de cada experiência que vive. Costuma ser bem difícil e estranho identificar o que e como se sentem; e muito mais a possibilidade de identificar o que o outro sente. Você sabe o que é autismo? É uma alteração de desenvolvimento que se caracteriza por déficits simultâneos nas habilidades “social, de comunicação e de simbolização”. As diversas características que podem estar presentes ou não em cada caso apresentam variação em grau de intensidade. É por isso que surgiu o termo “espectro autista”. 26 27 Algumas crianças apresentam quadros que impactam no aprendizado das ha- bilidades sociais (aquilo que aprendemos intuitivamente ao longo do desen- volvimento e que nos permite agir socialmente de acordo com o contexto). Habilidades sociais não é algo que aprendemos na escola, mas em todos os lugares. Não é algo ensinado, espera-se que, ao longo das experiências, todos nós percebamos qual reação física indica que o outro está chateado (cenho franzido) ou triste (chorando) e como seria o esperado que se rea- gisse às sensações do outro. A empatia (capacidade de perceber o outro) é uma ferramenta essencial para essa atividade e, quando funcionando bem, promove a percepção naturalmente ao longo do desenvolvimento. A empatia também é acompanhada pela linguagem. Você se lembra de quando falamos sobre essa habilidade no Módulo 3? Naquela ocasião, des- tacamos a relação da linguagem com os processos de aprendizagem de leitura e escrita. Pensamos em maneiras de auxiliar melhor o aluno a ouvir, entender e falar. Agora no Módulo 7, vamos entender como a linguagem também é essencial para o desenvolvimento social. Você já pensou no que acontece com as crianças que têm dificuldade de perceber essas dicas sociais que são tão importantes para a comu- nicação? O que acontece quando a entonação de voz não é percebida, apenas a palavra nua e crua no seu significado concreto? Essas crianças apresentarão dificuldades no desenvolvimento das suas habilidades so- ciais, terão muita dificuldade de compreender o ambiente e, logo, de comportar-se como o esperado. Dificuldades nas habilidades sociais Esse é um tópico complexo, com várias possibilidades de apresentações. Apesar de sabermos que não vamos conseguir esmiuçar todas as possi- bilidades de comportamento em sala de aula, vamos listar em tópicos as principais situações e como o professor pode reagir a elas. Apesar da maior parte das alterações que promovem dificuldades no processo de compreensão não ter cura, o quanto antes se identifica e se estimula essa função, melhor a capacidade do aluno. O nosso cérebro é bastante plástico e pode treinar outras áreas para assumir o papel da região deficitária, desde que ajudado. 28 29 O que seus alunos compreendem a partir daquilo que lhes é explicado? O que pode causar esse tipo de situação? Como o professor pode perceber esse tipo de situação? A expectativa normal é que a criança apreenda o conteúdo daquilo que lhe é explicado desde que seja realizado de forma compreensível e com voca- bulário adequado. Porém existem alguns quadros determinantes em que a criança terá dificuldade de compreender a linguagem oral mesmo quando expressado da forma mais cuidadosa possível. Esses quadros são menos co- muns que as situações de que falamos anteriormente, mas estão presentes na população infantil e é importante que o professor saiba que existam. Várias possibilidades estão relacionadas a esse tipo de dificuldade. • Problemas físicos como alteração na audição. Aqui vale a pena ressaltar que não existe apenas a surdez entre os problemas de audição. Existem as crianças que escutam bem, mas têm dificuldade de decodificar os sons em significados. • Problemas neurológicos que afetam as áreas da linguagem como epilepsia. • Problemas psiquiátricos como autismo. Certifique-se de que seu aluno compreendeu o que lhe foi explicado. Uma dica simples é pedir que ele fale com exemplos (alguns podem apenas re- petir as palavras sem compreensão do significado) o que ele entendeu do que foi explicado. Dificuldades no processo de compreensão? O que fazer? Converse com a família. Muitas vezes, os pais, por não terem convívio com outras crianças na mesma idade do filho, não percebem que ele tem um pa- drão de compreensão diferente do esperado para sua idade. Exemplifique para os pais as dificuldades que você vem observando no ambiente escolar. Sensibilize-os a procurar atendimento especializado para uma avaliação. Algumas dicas práticas • Antes de considerar o aluno como alguém que não coopera nas ativida- des diárias, certifique-se de que ele as compreendeu. • Utilize símbolos visuais como apoio para as explicações. Por exemplo, faça um resumo em imagens conectadas às palavras da rotina do dia e deixe visível para toda a sala. Use o apoio nas explicações ou nas instru- ções. Lembre-se: eles não conseguem gravar os significados das pala- vras, então o apoio com as imagens precisa ser usado repetidamente. • Evite usar figuras de linguagem ou metáforas. Se palavras com significa- do concreto já são difíceis, imagine as com significado não literal. A ten- dência do seu aluno é fazer uma compreensão concreta do significado do que foi dito e a partir daí se confundir ainda mais ou, simplesmente, es- cutar, mas não associar nenhum significado ao som (som como barulho e não como palavras). Por exemplo, “acordar com as galinhas” que pode ser usado para exemplificar que os alunos precisam acordar bem cedo (cedo como as galinhas acordam geralmente), pode ser compreendido como uma orientação que o aluno vá dormir no galinheiro. • Encurte as explicações. Faça em tópicos bem delimitados. Use imagens. • Incremente todo o material escolar do aluno com imagens. • Monte com o aluno sua agenda de forma visível, em etapas e com apoio de imagens para que ele possa compreender a rotina e o que é esperado. Dificuldade de compreensão Uma criança autistacostuma se expressar de modo extremamente objetivo, o que faz que tenha dificuldade em prever as reações dos outros ou identificar maneiras de comportamento social. Para a pessoa que convive com um autista fica a sensação de que ele é desajeitado e pouco sensível. Contudo, um autista pode ser muito capaz de apreender o significado de atitudes e condutas sociais e pode inclusive explorar possibilidades de interação com auxílio de uma pessoa que seja sua referência. 30 31 Assim como algumas crianças têm dificuldade de compreensão, também existe a dificuldade de expressão pela linguagem de seu estado interno e suas vontades ou preferências, mesmo para as crianças que adquiriram lin- guagem. Muitas vezes, a criança não tem percepção de que é ela que não se expressa adequadamente e irrita-se com frequência com o ambiente, pois se sente incompreendida. É usual que a dificuldade de expressão esteja associada com a dificuldade de compreensão, o que atrapalha muito o con- tato e a troca com o ambiente. Várias possibilidades estão relacionadas a esse tipo de complicação: • problemas físicos como alteração na audição e na expressão da fala; • problemas neurológicos que afetam as áreas da linguagem como epilepsia (Landau Kleffner é um exemplo típico); • problemas psiquiátricos como alguns quadros ansiosos (mutismo seletivo, por exemplo) e autismo. Dificuldade de expressão Dificuldades no processo de expressão? O que fazer? • Pergunte à família o formato de comunicação que se estabeleceu. Mes- mo tendo em mente que a meta é estimular a comunicação pela lin- guagem, para entender a criança, é necessário compreender o formato que ela usa para se expressar. • Lembre-se de que a expressão pode ser por meio do comportamento. Um aluno irrequieto, agitado, nervoso, ansioso pode manifestar dessa forma que algum problema está acontecendo, mas que ele não conse- gue nem solucionar sozinho nem pedir ajuda diretamente. • Caso você perceba que o aluno está com alguma dificuldade para ex- pressar algo, procure auxiliá-lo. Por exemplo, diga (ou demonstre de forma que ele entenda) que pode ir ao banheiro. Lembre que, se o alu- no também tiver dificuldade de compreensão, ele pode não ter enten- dido que símbolo se refere ao banheiro. • Tenha em mente que é difícil a generalização das habilidades adqui- ridas, ou seja, se seu aluno aprendeu a se comunicar para expressar que está com sede, não significa que ele saberá se expressar em outras situações como desejo de ir ao banheiro. • Ajude o grupo a compreender que a falta de expressão em linguagem ou comportamentos (um aluno retraído) pode não significar desinte- resse, mas uma dificuldade de se expressar. Algumas dicas práticas 32 33 Professor, você já pensou em quantas coisas são ditas de outras formas que não pelas palavras, por exemplo, pela expressão corporal? Se uma criança está triste, se está aberta para brincadeiras, se está preocupada, as mudan- ças de ritmo e entonação da voz são uma forma de se comunicar. Imagine como seria sua capacidade de compreensão do mundo se você fosse míope para todas essas nuances da expressão corporal que sinalizam a comunica- ção. O mundo poderia ser um caos, complexo e intangível. Como já vimos, rotina e um ambiente previsível são as palavras-chave. Aju- dam seu aluno a criar regras que promovam uma compreensão, ainda que rudimentar, do ambiente. Como ajudar seu aluno a entender melhor o ambiente em que está inserido? 1. Organize o espaço físico • Crie áreas específicas para cada atividade (brincar, trabalhos em grupo ou individuais, lanche, atividades de autocuidados etc.). • Crie uma área de descanso ou de espera para que o aluno possa se recu- perar de situações estressantes e retomar o controle. • Demarque um local para guardar seus pertences individuais. • Delimite a área da mesa da professora. • Crie identificação visual dos materiais utilizados (do professor, das ativi- dades em grupo, das atividades individuais etc.). • Ajude o aluno a identificar visualmente a ordem das atividades de forma que ele possa se orientar na sala de aula. • Crie formas de comunicação explícita para indicar que o aluno terminou o trabalho (área para os trabalhos finalizados). • Sinalize bem os limites de cada área de trabalho de forma a evitar confu- são por parte da criança. Dificuldade de compreensão da comunicação não verbal No autismo, a fala e a compreensão se manifestam de maneira bem específica. Os quadros menos graves, em que a criança tem recursos para se expressar, a comunicação ocorre através de estereotipias e repetições: imitam falas caricaturadas, frases prontas e chavões que muitas vezes podem aparecer sem sentido no contexto em que foram utilizadas. Pela própria dificuldade social, há um empenho na tentativa de se adequarem ao modo de conversar e a fala fica parecendo pedante ou muito formal. A compreensão costuma ser “ao pé da letra” e concreta, a expressão do que foi compreendido de uma situação é empobrecida e carente de simbolismos. A capacidade abstrativa e o estabelecimento de analogia costuma ser restrito, se o nível intelectual estiver na média. Se considerarmos a linguagem não verbal, temos a postura física e o modo de andar também estereotipados, desarmonizados e com pouca naturalidade, pela representação de gestos que são aprendidos. 34 35 2. Figuras de referência É fundamental que haja mais de uma pessoa de referência para um aluno pro- curar quando precisa de um apoio. O professor de classe (ou tutor, se houver mais de um professor) será a primeira pessoa que o aluno irá solicitar quando precisa, mas em sua ausência deve haver outro professor ou profissional da equipe escolar que possa ajudar o aluno a se organizar diante de uma situação de estresse. Ajude o aluno a criar uma estratégia dos momentos que deve procurar ajuda e como proceder (quando e como). Lembre-se sempre de que essas crianças, que já tem dificuldade de compreender o ambiente de forma geral, tornam-se incapacitadas e perdem as poucas estratégias que possuem quando em situação de estresse. 3. Observe o excesso de estímulos no ambiente • Evite muitas informações. Algumas crianças são mais sensíveis a alguns estímulos específicos (isso é comum no autismo, por exemplo). Ou- tras, mesmo não sendo hipersensíveis, podem ter dificuldade de deco- dificação das excitações sensoriais do ambiente (também presente no autismo). Em ambas as situações, excesso de estímulo pode causar um impacto negativo e piorar a interação da criança. • Se não for possível evitar, lembre-se de funcionar como figura de apoio e criar estratégias preventivas para essas crianças nos momentos em que algum excesso de estímulos sensoriais é esperado. Por exemplo, se as crianças tendem a ser muito barulhentas no fim do período escolar e a saída de todos é muito ruidosa, combine com o seu aluno que ele sairá com você cinco minutos depois de todos. Professor, você sabe o é que apego? O termo apego, muito utilizado no senso comum, aparece nas referências teóricas como um modo de vínculo afetivo, caracterizado pela sensação de segurança da criança (ou adulto). Está diretamente associado a um relacionamento interpessoal. O apego para criança se apresenta como uma sensação de confiança e conforto, oferecendo a ela segurança para explorar o mundo e estabelecer novas possibilidades de vínculo. O que é bullying? É um termo anglo-saxão criado na década de 1970 por um pesquisador norueguês, Dan Olweus. Define todas as atitudes agressivas, intencionais e repetitivas adotadas por uma pessoa ou um grupo contra outro(s), causando dor, angústia e sofrimento. Tal forma de violência ocorre em uma relação desigual de poder, caracterizando uma real situação de desvantagem para a vítima. Existe bullying na sua escola? Provavelmente sim.Segundo a Organização Mundial da Saúde, catorze porcento dos adolescentes de 13 anos referiram já ter sofrido bullying nos últimos dois meses em uma pesquisa em quarenta países pelo mundo (Currie, 2012). No Brasil, segundo o IBGE, cerca de 30% dos alunos do 9º ano referiam ter sofrido bullying nos trinta dias antes da pesquisa. O resultado foi o mesmo para as escolas públicas e privadas (Malta, 2012). 36 37 Ultimamente, a preocupação com a qualidade e com a forma de interação entre as crianças tem sido cada vez mais alvo de discussão. Nas últimas dé- cadas, o termo bullying apareceu nas discussões de todos os envolvidos no processo educacional (pais, professores, alunos). A introdução desse con- ceito provocou uma mudança nos cuidados e na observação da interação entre os alunos; de problema de criança para algo que é perigoso, pode cau- sar um impacto duradouro negativo na vida e deve ser evitado e combatido a qualquer custo pelos adultos envolvidos. Professor, você sabe quando diferenciar uma situação de bullying de dispu- tas normais da idade entre os alunos? Se você tem dúvidas, sinta-se como a maioria das pessoas relacionadas ao tema. Como todo conceito novo, muitas questões estão em aberto. Exceto em situações muito claras, nem sempre é fácil discernir se existe ou não uma real situação de desvantagem para a vítima. A criança pode sentir- -se em desvantagem hoje e amanhã ser aquela que age agressivamente contra a outra estando no papel daquela em vantagem. Aliás, a ideia de um aluno frágil sempre em situação de desvantagem acontece em uma minoria dos casos de humilhação e intimidação. Na maior parte, esses papéis são flexíveis, a mesma criança é tanto vítima quanto agressora, dependendo da situação. Mas talvez, a ideia central não seja definir se acontece ou não bullying. In- dependente de definição, uma grande vantagem da discussão que se ini- ciou após a criação do termo é o olhar para a qualidade das interações entre as crianças, o quanto pode ser prejudicial tanto para a vítima quanto para o agressor, e que os adultos em todos os ambientes (escolar e familiar, por exemplo) exercem um papel fundamental para ajudar as crianças a aprender a se relacionar. Por exemplo, desde a década de 1990, os estudos que têm observado o impacto das relações de humilhação e intimidação entre os alunos mostraram que: • As crianças envolvidas com a prática de bullying (observadores, agres- sores, vítimas e vítimas/agressores) sentem-se mais inseguras na esco- la e mais entristecidas (Glew, 2008) • Agressores e vítimas apresentaram maiores níveis de interpretação hostil do ambiente, raiva e facilidade a reagir agressivamente (Camodea, 2005) • A ocorrência de bullying está associada a aumento de quadros depres- sivos, ansiosos, dificuldade para controle da urina durante o sono (enu- rese), dores abdominais, dores de cabeça e alterações no padrão de sono (Fekkes, 2006; Williams, 1996; Wolke, 2001). Ou seja, o bullying tem realmente um impacto na vida de todos e merece um olhar cuidadoso por parte dos adultos. Situações de intimidação e humilhação 38 39 Provavelmente sim, na maioria dos casos em que há alguma agressão física, o que é mais comum entre meninos. Porém, quando o bullying acontece com comportamentos mais sutis como agressões verbais ou exclusão social, pro- vavelmente você perceba menos. Esse tipo de agressão mais velada e menos física é mais comum em meninas e é considerada tão importante quanto à física no impacto negativo. Você percebe uma situação de intimidação e humilhação em sua sala de aula ou em sua escola? 1. Em relação às crianças envolvidas • Converse com o grupo sobre como cada um reage quando está diante de uma situação de humilhação ou intimidação. Sem definir nomes ou situações, procure sensibilizar os alunos de que, mesmo que não agindo diretamente na situação, cada um pode ter responsabilidade por incen- tivar (rindo, olhando sem intervir, dando mais poder ao agressor) ou por simplesmente não ajudar o colega em uma situação de risco. • Envolva as famílias, tanto a vítima precisará de ajuda quanto o agressor. Ambos precisarão aprender a se colocar em papéis sociais mais saudáveis. • Sensibilize as famílias para a necessidade de avaliação individual por meio de encaminhamento para profissional da área de saúde mental. 2. Em relação à escola como um grupo coeso • Promova discussão com todos os funcionários da escola com as seguin- tes metas: • Sensibilizar quanto a importância e necessidade de controle por parte dos funcionários. Lembrar que os alunos sabem que serão re- preendidos se observados, então, quase nunca acontece na frente do professor, mas com frequência na frente de outros funcionários. • Aumentar a supervisão dos alunos nos ambientes externos à sala de aula (os mais frequentes para a ocorrência de agressões). • Esclarecer os tipos de agressão que devem ser considerados como pre- ocupantes. Salientar que não são apenas as físicas (brigas, empurrões etc.), mas também as verbais e de exclusão social ou de submissão. • Trocar informações entre todos os funcionários. Muitas estratégias são realizadas de forma individual, propiciar o ambiente para o com- partilhamento de ideias. • Organize encontros com as famílias para sensibilizar sobre o assunto e a possibilidade que em casa seja reforçado a mesma mensagem da escola. • Converse em sala de aula sobre temas como cooperação, responsabi- lidade frente a situações de desproporção de poder, incentivo de rea- ções violentas. • Defina claramente em aula as regras sobre a expectativa de compor- tamento do aluno por parte do professor. Não admitir em sua frente brincadeiras ou piadas que podem subjugar o outro. Algumas dicas práticas 40 41 • Imponha consequência imediata para situações de agressão quando observadas por um funcionário da escola. Exemplos de reações: • exigir um pedido de desculpa pelo comportamento inadequado; • chamar o professor responsável pelo aluno e os pais para relatar o com- portamento agressivo; • repor e responsabilizar-se financeiramente por qualquer dano causado; • outras que a escola considerar apropriada para o seu ambiente. • Organize reuniões semanais com os alunos para avaliar em grupo as mudanças de relacionamentos entre eles. Algumas escolas optam por criar indicações visuais de que a escola diminuiu a incidência de agres- sões (como quadros imitando aqueles de construção civil de tantos dias sem acidentes). • Organize reuniões com alguma frequência para envolvimento das famí- lias na política de diminuir comportamentos agressivos na escola. Abuso sexual acontece e provavelmente já aconteceu na sua escola. Apesar de ser uma realidade incômoda para todos, precisa ser vista. Abuso sexual é todo ato ou jogo sexual, relação heterossexual ou homos- sexual cujo agressor está em estágio de desenvolvimento psicossexual mais adiantado que a criança ou adolescente. Tem por intenção estimulá-la sexu- almente ou utilizá-la para obter satisfação sexual. São práticas eróticas ou sexuais impostas à criança e ao adolescente pela vio- lência física, ameaças ou indução de sua vontade. Não precisa ter o contato sexual direto, pois voyeurismo, exibicionismo, produção de fotos também são práticas abusivas. A maior parte da violência sexual, contra crianças e adolescentes, é pratica- da por pessoas do convívio familiar, fazendo da escola um lugar ideal para detecção e intervenção nesses casos. Porém, os dados indicam que menos de 1% das denúncias de abuso foi originada por suspeitas da escola. Abuso sexual e escola Qual a definição de abuso sexual? Quem pratica o abuso? Como você viu, nenhuma dessas alterações de com- portamento é específica (exceto as muito relacionadas a comportamentos sexualizados) para a suspeitade um abuso sexual. Mas elas indicam uma criança em sofrimento ou em risco. Ao perceber uma criança com alterações comportamentais, nós, adultos, precisamos ter em mente que provavelmente algum problema potencialmente grave pode estar ocorrendo. Identificar as crianças em risco e criar uma observação sistemática pode ser a chave para o reconhecimento e a intervenção. A observação cuidadosa também é a palavra-chave para não valorizar excessivamente fatos isolados. Se você suspeitar de uma situação de abuso sexual, você sabe quais são as suas responsabilidades legais? Primeiro, ter claro que não é seu papel investigar se esse abuso acontece de fato, isso deve ser realizado pelas autoridades legais. Segundo, a lei prevê que, no caso de suspeita, o Conselho Tutelar seja notificado obrigatoriamente. Terceiro, a notificação pode ser feita por telefone, pelo preenchimento de ficha padronizada, por visita ao órgão competente ou por solicitação de visita do órgão à escola. Pode ser anônima. Para saber mais sobre o assunto: www.mpdft.mp.br/portal/pdf/unidades/promotorias/ pdij/Publicacoes/Guia_Escolar.pdf 42 43 1. População de maior risco • As crianças pequenas são as principais vítimas, cerca de 80% dos casos ocorreram antes dos 12 anos. • Ocorre com maior frequência entre as meninas, mas existe subnotifica- ção dos casos com meninos. 2. Crianças vítimas de abuso sexual podem expressar seu sofrimento por meio de modificação no comportamento. Fique atento se começar a notar • Sinais físicos de sofrimento emocional como dores de cabeça, dores de barriga, vômitos ou outras queixas inespecíficas de forma frequente. • Sinais físicos como alterações nas regiões genitais (dor, coceira, dificul- dade para urinar ou evacuar), sangue na urina ou nas fezes, dificuldade de controle de urina ou fez es, gravidez precoce. • Mudança importante do padrão de comportamento, regressão a comportamentos mais infantilizados, medo de ficar sozinha, ansie- dade generalizada, vergonha de expor o corpo, tendência a querer sempre agradar. • Interesse por questões sexuais não pertinentes à idade (precoce) ou insistência no tema. Comportamento sexualizado. Masturbação exces- siva. Desenhos com muitas características dos órgãos sexuais (não es- peradas para a idade). Brincadeiras com conteúdo sexualizado. • Problemas familiares, fuga de casa, resistência para retornar à casa após a aula, prática de delitos, dificuldade com figuras de autoridade. • Recusa ou dificuldade com hábitos de higiene íntima. • Faltas frequentes, pouca participação das atividades escolares, não en- gajamento dos pais. • Tendência ao isolamento social, dificuldade para criar vínculos de con- fiança, evita contato físico. • As famílias incestuosas tendem a se relacionar pouco com outras pes- soas. Em geral, são pais autoritários e mães submissas. • É frequente o autor da agressão ter sofrido abuso na infância. Como reconhecer uma situação de abuso sexual? Quais são as pistas? • Reconhecimento das crianças que estão com comportamento de risco e observação próxima. Caso você tenha indícios consistentes que tra- gam a suspeita de abuso, notifique o Conselho Tutelar. • Orientar as crianças que tipo de atitude por parte de um adulto deveria ser considerada inadequada. Geralmente, as crianças não têm discer- nimento do que está ocorrendo e podem ser induzidas a acreditar que o abuso não é um erro (principalmente porque é cometido por alguém da sua família, com quem, geralmente, a criança tem alguma relação de confiança). • Ao orientar as crianças sobre o que é abuso, deixar claro e fácil um ca- nal de comunicação na escola para que ela possa procurar. • Garanta que o agressor seja denunciado e investigado, para que ele não volte a repetir a violência; para que outras crianças não sejam vítimas. • Sensibilize a família para a necessidade de encaminhar a criança que foi abusada sexualmente ao apoio apropriado. Medidas que podem prevenir ou interromper um caso de abuso sexual Como agir em caso de suspeita de abuso sexual? 44 45 Ansiedade pode ser entendida como um estado emocional desconfortável in- dicativo de intensa sensação de apreensão que vem acompanhado de muita tensão, irritação e angústia, como se algo ruim fosse acontecer. É normal nos sentirmos ansiosos diante de situações que nos são novas ou diante de um problema que temos para resolver. As reações de ansiedade também são bem comuns na idade escolar. São muitas as expectativas que envolvem um estu- dante: ser um bom aluno; cumprir com suas obrigações; aprender; obter bom desempenho escolar; ser bem avaliado pelo professor. A reação de ansiedade mais conhecida em sala de aula é aquela que aparece na hora da prova. Em situações de avaliação, é bem comum uma criança ter “dor de barriga”, “ficar enjoada”, “suar nas mãos”, ter febre. Pois é, a ansiedade costuma vir acompa- nhada de reações fisiológicas. A ansiedade pode variar entre um comportamento leve que gera desconforto pontual, mas, dependendo de cada um, pode tomar proporções maiores (veja quadro anexo). Algumas pessoas podem entrar em um estado de ansiedade tão intensa que sentem medo! Sim, medo é uma reação de ansiedade. Você já reparou que quando sentimos medo é como se algo de ruim fosse aconte- cer? Como se fossemos cada vez menos capazes de evitar esse acontecimento que nos aflige. A fobia é outra forma ainda mais intensa de ansiedade, maior que o medo. A fobia se manifesta de forma incompatível ou desproporcional com as possibilidades de perigo real. Ainda temos o pânico como mais uma forma de comportamento ansioso e grave que ocorre como uma crise de ansiedade inten- sa e de forma repentina. Em crises de pânico a criança sente que está perdendo o controle da situação e fica sem referências. Na situação escolar, o professor poderá se deparar com diversas situações de ansiedade e há uma série de possibilidades de ele auxiliar seu aluno, como iremos ver a seguir. Ansiedade Identificando um aluno ansioso • O aluno parecerá tenso. Quando o aluno está ansioso fica absorvido por suas sensações físicas e desconcentrado da atividade por estar apreensivo. • O aluno poderá parecer distraído, muitas vezes, por estar tentando se controlar. • Poderá não prestar atenção à fala do professor e perderá orientações, muitas vezes, fundamentais. • A reação de ansiedade geralmente é circunstancial, podendo aparecer na apresentação de um trabalho oral ou na efetuação de uma prova. • É comum seu desempenho decair quando ele está ansioso e seu rendi- mento ficar aquém do esperado. • O aluno ansioso está inseguro e muito preocupado com seu desempe- nho. Há, portanto, um excesso de preocupação com sua perfomance. 1. Estreite a relação com seu aluno • Tenha o cuidado de reconhecer o aluno em suas capacidades. • Valorize quando ele demonstra dedicação, iniciativa e interesse em aprender, mesmo que seja mínimo. • Elogie sempre que se dedicar, mesmo que seja por algo simples. • Fale com calma e ternura. • Encoraje-o a participar e executar tarefas da maneira que puder. • Procure conversar em particular (sem expô-lo aos demais alunos) e dizer que quando se sentir ansioso pode contar com você, professor. Diga que você sabe como é difícil estar ansioso, que isso é normal e que todos se sentem desse modo em algum momento da vida. • Se coloque a disposição do aluno para conversar quando ele achar que é importante. Algumas dicas práticas 46 47 2. Auxilie na concentração • Certifique-se de que aluno compreendeu as instruções antes de realizar a tarefa que o deixa ansioso. • Aproxime-se algumas vezes e se coloque disponível para tirar dúvidas e dar esclarecimentos. • Deixe que vá tomar uma água e relaxe um pouco antes de retomar a tarefa que gera tensão. • Permita que façapausas para descansar. • Organize provas e tarefas de maneira concisa e desmembrada para faci- litar o nível de atenção. • Não o deixe distante de sua mesa, para que ele se sinta cuidado. 3. Ajude-o a se planejar • O aluno deve se sentir capaz. É importante que o aluno ganhe confiança de que é capaz de se organizar e cumprir suas tarefas e de que o profes- sor ou um auxiliar de classe podem acompanhá-lo, com alguma frequên- cia ao longo da semana, colaborando nas formas de se organizar. • Sensibilize o aluno a pedir e receber ajuda. Ensine que a organização nos ajuda a ficarmos mais tranquilos (e consequentemente diminui a ansie- dade), contudo, como é uma tarefa difícil (se organizar) o adulto está aí para auxiliá-lo. • São crianças. Crianças (até por volta dos 12 anos, às vezes mais ou me- nos) precisam de ajuda para se programar. Por isso, é importante que o professor possa dar orientações e prazos para que elas estudem o sufi- ciente antes do dia da prova. • Plantão de dúvidas e orientações. O professor ou seu auxiliar podem ter uma hora do expediente escolar disponível para acompanhar, supervisio- nar e dar dicas para o aluno encaminhar tarefas de casa. • Envolva a família. O apoio dos pais em casa para ajudar na organização e no ganho de confiança é fundamental. Muitas vezes, os próprios pais não tiveram oportunidade de estudar e podem ficar perdidos em como ajudar os filhos; então ofereça dicas e os estimule a apoiar os filhos e va- lorizar o ato de estudar. Ao longo do desenvolvimento, as crianças sentem a necessidade de ter uma rotina bem estruturada e necessitam se sentir no controle. Nessa fase, é comum apresentarem rituais e manias. Você já deve ter visto crianças que ordenam seus objetos, guardam pertences em caixinhas, apegam-se a coisas mínimas como papeizinhos ou embalagens. No decorrer da vida, também algumas crianças mais velhas e adolescentes podem ter alguns pensamentos supersticiosos, mas em geral de forma pontual ou que não trazem prejuízo a sua vida. Já a presença de pensamentos repetitivos, com conteúdo que os incomode, que os deixe aflitos e atrapalhe o fluxo do raciocínio, do pensamento e da concentração, deve ser avaliada com mais atenção por especialistas. 48 49 Compartilhe com pais e professores Já ouviu falar em ansiedade de separação? Existe um tipo de manifestação de ansiedade que ocorre na infância que se caracteriza pela dificuldade em se separar do adulto de maior ligação com a criança (dos pais). A criança que experiencia a ansiedade de separação não consegue se separar do adulto e teme que algo de ruim possa acontecer com ele. Essa é uma das causas de evitação escolar nas crianças mais novas. Evite o aluno sob pressão de tempo Promova interação com colegas • Seja flexível se, ao estar ansioso, o aluno precisar de maior tempo para realizar uma prova ou uma atividade. • Explique que o tempo é necessário para seu controle e para se manter a rotina da turma, mas, se isso o atrapalha em seu rendimento, vocês podem combinar uma maneira que seja boa para ambos. • Defina parceiros (em dupla, trio ou grupo) com os quais a criança ansiosa se identifique. • A atividade cooperativa ameniza a tensão característica do desempenho individual. • As brincadeiras em grupo e os jogos podem funcionar como aquecimen- to antes de tarefas que despertem tensão (provas, apresentações etc.) • O aluno ansioso e um colega mais íntimo podem ser convidados a auxiliar o professor com papelada, organização de sala, recados etc. • Divida com os pais da criança ansiosa suas preocupações em relação a ela. • Compartilhe suas impressões com outros professores que também a acompanham. • Combine com outros professores de manter postura de encorajamento e acolhimento em relação à criança ansiosa. Somatização Muitas crianças e adolescentes, quando não estão bem emocionalmente, manifestam seu mal-estar com dores pelo corpo. As crianças menores, com menos recursos de linguagem para se expressar, manifestam muitas vezes desconforto afetivo por meio de queixas como: dores físicas, estados febris, constipação intestinal, reações alérgicas que não correspondem a problemas médicos orgânicos. É comum crianças se queixarem de dor de barriga e dor de cabeça que não têm justificativa depois do exame de um pediatra. Essa questão pode ocorrer de forma pontual na vida de uma criança ou de forma persistente, o que indica que ela está passando por algum sofrimento. 50 51 Algumas crianças e adolescentes podem se comportar de maneira retraí- da em sala de aula, não são exatamente crianças apenas tímidas ou crian- ças que apresentam restrição social como o espectro autista (veja quadro anexo); porém, são aquelas que, por alguma tensão emocional, isolam-se. São crianças que se relacionam muito pouco com colegas dentro e fora da sala de aula, procuram evitar situações sociais (isolam-se na hora do pátio, por exemplo). Contudo, é comum, na situação escolar, que a criança retraída não seja percebida como tendo alguma dificuldade. Muitas vezes, entre os professores, a criança retraída pode ser valorizada e considerada como um bom aluno, quando comparada com o aluno irrequieto ou agres- sivo que interfere negativamente na rotina da aula ou da escola. O comportamento de retraimento será comum em crianças tímidas, muito ansiosas ou em crianças que estão sentindo tristeza. A grande preocupação está no fato de a criança não ser percebida e de que o comportamento res- tringe suas possibilidades de aprendizagem e de desenvolvimento social. Retraimento • Prefere estar sozinho e com o mínimo de contato e interação. • Apresenta ansiedade e preocupação intensa com a opinião do outro. • Apresenta preocupação intensa com o seu desempenho, mas fica parali- sado para pedir ajuda e tirar dúvidas. • Não se mostra envolvido ou engajado em uma atividade. • Se sente muito desconfortável na presença de outras pessoas. • É de poucos amigos. • Sente-se incapaz de relaxar: algumas crianças sentem-se tensas o tempo todo e têm muita dificuldade em parar de se preocupar com os fatos do cotidiano. • Faz tarefas e brinca sozinho. • Permanece sozinho e distante na hora do pátio. • Não fala espontaneamente, fala baixo, usa monossílabo para responder perguntas. • Evita proximidade com pessoas novas. • Evita contato visual. • Tem dificuldade de decidir e escolher, mostrando-se dependente. • Sob pressão, sente-se muito acuado, pode ter reações fisiológicas como dor de barriga, dor de cabeça, vontade de vomitar. • Não tira suas dúvidas. • Senta-se distante dos colegas. • Espera passar pelo período da aula sem ser notado pelo professor. • Segue regras facilmente. • Dificilmente se envolve em brigas ou discussões Comportamentos comuns em um aluno retraído A timidez varia de um desconforto controlável em situações sociais e, em casos extremos, pode chegar a um medo irracional que traz prejuízo para a sociabilidade do indivíduo; apesar do desejo de ter amigos e se entrosar em grupos. Aliás, você sabe o que é personalidade? Personalidade corresponde a traços e características estáveis e dinâmicas pertinentes a um indivíduo em sua relação com o meio, incluindo fatores físicos, biológicos, psíquicos e socioculturais, tendências inatas e experiência ao longo da vida. 52 53 Algumas dicas práticas 1. Sentar perto da mesa do professor • Ao estar perto do professor o aluno pode se sentir acolhido e percebido. • Poderá se sentir fora do foco dos colegas. • A presença próxima do professor auxilia o aluno a manter o nível de con- centração na tarefa de modo mais eficiente. • A proximidade abre o canal de comunicação e propicia melhora no víncu- lo com o professor. Seja empático. 2. Estreite seu vínculo com o aluno • Tente entender por que ele se sente retraído ou por que se isola. • Procure conversar comseu aluno em particular, sem que ele se sinta exposto. • Diga que você, como professor, está disponível para auxiliá-lo no que for preciso para ele se sentir à vontade na sala e poder acompanhar o anda- mento da aula. • Pergunte se pode auxiliá-lo em alguma preocupação que tenha. • Diga que pode tentar ajudá-lo a compreender alguma sensação ruim que ele possa sentir em sala de aula ou na escola, e que ele pode se sentir melhor dividindo seu problema com alguém em que confie. • Aproxime-se da família. Procure os adultos que são responsáveis pelo aluno e divida suas impressões, sem julgamentos, apenas para auxiliar. • Não comente sobre ele em sua presença, nem para seus colegas ou pes- soas que possam expor seus comentários a ele, mesmo que sejam preo- cupações genuínas e bem intencionadas. Fale sempre com ele e para ele. • Evite expressar grandes expectativas quanto a ele para que não se sinta mais pressionado. É importante que o aluno se aproxime do professor, e não se afaste. 3. Mantenha-se interessado pelo aluno • Valorize seu desempenho. Elogie o aluno. • Peça o auxílio dele para elaborar alguma atividade, sempre atento para não deixá-lo exposto. • Indique como é importante que ele se aproxime de um ou dois colegas com quem sinta afinidade. Propicie atividades em minigrupos definidos por você. • Descubra seus interesses e talentos e explore. Crie projetos nos quais ele possa se envolver. • Proponha tarefas breves e não muito complexas para que ele perceba seu rendimento e se fortaleça. Aos poucos, você pode aumentar a difi- culdade das atividades conforme ele responder e reagir positivamente. 4. Busque colegas que sejam parceiros • Identifique bons colegas! Muitas vezes, a troca efetiva com outra criança que o procure com o propósito de fazer uma atividade proposta pelo professor auxilia muito na aproximação desse aluno ao grupo. • Evite nomear “colegas-modelo” de maneira comparativa. Frequente- mente, o adulto nomeia outra criança como um exemplo a ser seguido, tornando o convívio social com essa criança opressor. 54 55 • Não espere que o aluno retraído passe a ter muitos amigos. Sempre aos poucos, se ele fizer um ou dois será uma grande conquista. • Se a interação com colegas for muito sofrida, não insista e não force situações. • Dinâmicas de grupo podem ser bem-vindas. Proponha jogos ou brinca- deiras que forem pertinentes para a aula e para o grupo como um todo, e que possibilitem a interação social, como rodas de conversas, encena- ções de situações cotidianas, aprendizado de boas maneiras de convívio social. Sempre cuidando para respeitar o aluno retraído no que ele pode contribuir, mesmo que prestando atenção e se mostrando interessado no grupo, isso já seria um grande ganho! 5. Troque suas impressões com outros professores • Divida suas preocupações com sua equipe escolar. • Pensem em formas de compreender melhor o problema e vejam o que está ao alcance da escola. • Combine com outros professores de manter postura de encorajamento e acolhimento em relação à criança retraída. • Reconheçam quando é necessário pedir ajuda de especialistas sempre que suas possibilidades de intervenção não forem suficientes. 6. Aproxime-se da família • Procure os pais e responsáveis para contar suas impressões. • Ouça as noticias que eles lhe trazem sobre essa criança em casa. • Procure entender a dimensão da dificuldade e identificar se são necessá- rias intervenções mais especializadas. • Nas situações em que não seja identificada gravidade que precise de au- xílio especializado, além do apoio da escola e da família, estimule os pais a valorizar o filho e auxiliá-lo a superar dificuldades. • Encontre com os pais uma maneira de se comunicarem e se manterem atualizados com progressos ou dificuldades que estejam passando em casa e na escola. Outra característica com que o professor pode ser deparar em sala de aula diz respeito à presença de crianças que apresentam falta de motivação, desânimo, cansaço ou estafa. Esses são padrões que também podem estar relacionados à tristeza ou a algum conflito emocional que o aluno esteja vi- vendo. Muitas vezes, a manifestação de desânimo pode estar diretamente associada a um problema de saúde física: processo inicial de alguma do- ença, anemia, entre outras condições de saúde. Porém, já sabemos que as crianças também manifestam dificuldades e problemas como os adultos, e que algumas vezes esses comportamentos podem ser temporários, pontu- ais, e se forem persistentes merecem ainda mais atenção. Uma criança sem vontade de realizar atividades, que não demonstra interesse pelas tarefas, que parece cansada ou sonolenta com frequência demonstra que algo não está bem em sua rotina ou em seu bem-estar físico e mental. Essas ca- racterísticas podem ser formas de reação emocional diante de problemas pessoais corriqueiros ou mais complexos Desânimo e desmotivação 56 57 Tristeza pode ser um sentimento ou um estado de ânimo. É comum a todos nós e pode variar em sua intensidade e duração. Uma criança ou adolescente podem sentir tristeza de forma transitória, contudo, se esse sentimento persiste e se intensifica, pode trazer prejuízos à criança. Nessas situações, é importante que a criança seja observada de perto para se checar a necessidade do auxílio de especialistas. Algumas dicas práticas 1. Na sala de aula • Coloque o aluno sentado em sua frente ou o mais perto possível de sua mesa. Desse modo, você pode auxiliá-lo para que mantenha o foco na atividade. • Permita que ele saia um pouco da sala para dar uma caminhada no pátio, mas logo retornar, se essa movimentação auxiliar que desperte e se con- centre um pouco melhor. Nesse caso, você pode mantê-lo sentado perto da porta para que possa sair (com sua permissão) e sem chamar muita atenção dos demais alunos. • Defina com ele os objetivos que ele tem em aula a cada dia. • Dê retorno frequente sobre o progresso do aluno. • Ajude-o a criar estratégias para resolver ou encaminhar tarefas. • Ajude-o na organização e no planejamento do seu dia. • Promova oportunidades para interações positivas com seus pares, como trabalhar em um grupo pequeno. • Modifique atividades de classe e lição de casa com intuito de acomodar os níveis de humor e energia que o aluno apresenta (por exemplo, dar mais tempo, dar tarefas mais curtas). • Forneça cópias de anotações realizadas em classe e folhas de orienta- ção de estudo antes de provas para ajudar o aluno a se focar e ter um guia de estudo. • Divida projetos grandes em partes menores e em tarefas possíveis de ser realizadas pela criança. Ajude a planejar a distribuição do tempo. • Selecione uma tarefa de cada vez para ele realizar. • Escreva instruções de forma completa na lousa. • Se esse mesmo aluno estiver com problemas de sono de manhã (por es- tar usando alguma medicação ou por estar com insônia), permita que ele chegue mais tarde à escola, reduzindo o período de tempo da criança na escola ou colocando os assuntos mais complexos em momentos em que a criança esteja mais alerta. • Modifique o estilo de suas provas. Pense em um modelo de prova no qual ele se concentre. Por exemplo, provas de múltipla escolha costu- mam auxiliar na manutenção da atenção e no auxílio à evocação das informações na memória. • O aluno tem dificuldade para se engajar e se dedicar às atividades. • O aluno pode mostrar-se retraído ou isolar-se (como aprendemos no item anterior). • O aluno desanimado pode também estar mal-humorado. • Há prejuízo na concentração e, consequentemente, na capacidade de memorizar novas informações. • O rendimento escolar decai diante da condição de desânimo. • O aluno desmotivado apresenta pensamentos pessimistas. • É comum a perda de interesse por atividades que antes lhe agradavam e
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