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UNIVERSIDADE ESTÁCIO DE SÁ CURSO DE BACHARELADO EM DIREITO JESIEL MARTINS MORGADO REFLEXÕES SOBRE A MEDIAÇÃO NO BRASIL São Luís - MA 2020 JESIEL MARTINS MORGADO REFLEXÕES SOBRE A MEDIAÇÃO NO BRASIL Artigo Científico Jurídico apresentado a Universidade Estácio de Sá, curso de Direito, como requisito parcial para a conclusão da disciplina Trabalho de Conclusão de Curso. Orientador: Fernando de Alvarenga Barbosa SÃO LUÍS 2020 REFLEXÕES SOBRE A MEDIAÇÃO NO BRASIL Jesiel Martins Morgado 1 Turma: 9004 Matrícula: 201607480379 RESUMO: O presente artigo tem por objetivo fazer reflexões e apontamentos acerca da importância da mediação no Brasil. Ela faz parte das diversas medidas de solução de conflitos utilizadas no Brasil, e em 2015 teve grande realce da sua relevância com a vigência da Lei de Mediação e o Novo Código de Processo Civil, ambas propunham a regularização da Mediação em todo o seu ordenamento. Diante dessa nova medida, faz-se necessário apontar os caminhos e a realidade da mediação no Brasil, tocando em pontos como a sua história, seus princípios, a formação dos novos mediadores e dentre outros temas. A pesquisa visou, portanto, uma discussão entorno da necessidade de qualificação dos mediadores e ampliação da mediação, pois além de ser uma medida benéfica e menos danosa, ela contribui para reconstrução dos laços entre as partes. Palavras- chave: Mediação. Direito. Solução de Conflitos. SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO; 2 Pelas veias da história: a mediação no Brasil; 3 Conceitos e Princípios da Mediação; 3.1 Mediação, Conciliação e Arbitragem; 3.2 Princípios da Mediação; 4 A função do mediador e o Novo Código de Processo Civil; 5 Mediador e capacitação: a importância da formação; 6 CONSIDERAÇÕES FINAIS; 7 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICA 1 Graduando em Direito pela Universidade Estácio de Sá. Email: jesielmorgado@gmail.com. mailto:jesielmorgado@gmail.com 4 1 INTRODUÇÃO A complexidade das relações sociais atrelada aos conflitos ocorridos nas sociedades ensejam diversas demandas junto ao poder judiciário. A Constituição de 1888, em que foi concretizado o espírito democrático no Brasil, serviu como propulsora de novas demandas para a justiça, em que cidadãos visavam à defesa de seus direitos. Nesse interim, a mediação surgiu como uma das medidas alternativas de solução de conflitos. Nas últimas décadas tem sido recorrente a procura por medidas não adjudicatórias, principalmente, como forma de evitar processos longos e desgastantes, e que sejam menos danosos para as partes. Devido essa nova demanda, as ordenações judiciais brasileiras tiveram que se adequar as novas realidades. Assim, foram criadas leis, como a Lei de Mediação de 2015; e no Novo Código de Processo Civil foi dada ênfase, sem precedentes, as medidas alternativas de solução de conflitos. A partir disso, requereu-se adequação nos tribunais e nos poderes de justiça, principalmente em capacitar os atuantes do cargo e aplicar com efetividade essas modalidades. A temática aborda é relevante, tendo em vista as novas formas de estabelecer e buscar a justiça. Principalmente pelos impactos gerados pela vigência do Novo Código de Processo Civil. Além disso, realça a importância da capacitação correta dos mediadores. Nesse sentido, o presente artigo tem por objetivo fazer apontamentos e reflexões acerca da Mediação no Brasil. Nossa problemática gira em torno da importância e da aplicabilidade da mediação; da capacitação adequada dos mediadores e nas estratégias de ampliação dessa nova medida. Alguns problemas nortearam esse estudo, tais como: Qual o impacto do Novo Código Civil na formação e exercício do mediador de conflitos? Como tem sido a formação de mediadores de conflitos atualmente? Qual o meio para se instigar sobre sua importância nos tribunais? Diante do exposto, utilizamos as metodologias descritiva e explicativa, analisando as leis que versam sobre a mediação e, comparativa, demonstrando as alterações em torno da mediação ao longo do tempo. A abordagem será de caráter qualitativo, pois analisamos a lei e sua aplicabilidade na realidade brasileira. Por fim, as técnicas se basearam na revisão bibliográfica acerca do tema e análise documental a partir da promulgação das leis. Para melhor compreender o exercício da mediação e a representatividade dos mediadores nos tribunais, estruturamos esse estudo da seguinte forma: No item 1 iremos apresentar os principais marcos na história da mediação até o seu alcance como lei normativa em 2015, com a promulgação da Lei de Mediação. Contudo, demonstramos que a mediação já 5 era corriqueira nos tribunais e nos espaços judiciais. A nova lei serve para estabilizar e assegurar a prática da mediação. Esse processo histórico é importante para demonstrar a viabilidade e a necessidade de regulamentação dessa prática, pois realça sua relevância social. No segundo item distinguiremos as diversas medidas adjudicatórias e compreenderemos os conceitos e princípios da mediação. Geralmente as medidas de solução de conflitos são confundidas, tanto por aspirantes a advogados como pela própria sociedade civil. A Mediação, a Conciliação e Arbitragem têm como finalidade sanar problemas. Contudo, a atuação, a construção dos processos e as medidas tomadas por mediadores, conciliadores e árbitros são diferentes. Por conta disso, é preciso distingui-los e apresentar quais as suas principais competências. No outro ponto visualizaremos a orientação dada aos mediadores, pois os princípios norteiam a atividade prática da mediação. Para que a mediação seja segura, imparcial e competente ao auxiliar as partes envolvidas no processo, é necessário que os mediadores estejam respaldados sob esses princípios, dentre eles podemos citar a isonomia, confidencialidade e a boa-fé. Nesse item conseguiremos compreender a prática da mediação e diferencia-la das demais medidas de soluções de conflitos. Já no item 3 analisaremos a função do mediador a partir do Novo Código do Processo Civil. Enfatizamos nas alterações do antigo código de 1973 em relação ao do ano de 2015. O atual realça a profissionalização e a valorização dos mediadores, em que se visou uma formação específica para os atuantes da área. Isso demonstra a preocupação em formar mediadores competentes e atuais as novas adversidades sociais. Por fim, no item 4 discutiremos sobre aspectos da formação dos mediadores, tocaremos em pontos como conteúdo programático, resoluções que alteraram a formação dos mediadores, instituições competentes e responsáveis pela formação e, dentre outros assuntos. Com isso, busca-se compreender a prática da mediação em toda sua complexidade, demonstrando a necessidade de se versar sobre um dos quesitos importantes e necessários para solução dos novos conflitos. 2. Pelas veias da História: a mediação no Brasil Conflitos e as relações de forças sempre foram inerentes ao longo do tempo nas sociedades. Nesse sentido, cada espaço produziu suas formas de justiça, de sanar os conflitos e, para isso, cunharam leis como forma de evitar problemas vindouros. Nesse interim, também surgiram formas de mediar, utilizadas, principalmente, como meio de evitar que os conflitos 6 pudessem se agravar. Portanto, a mediação não é um fenômeno novo nas sociedades modernas. De acordo com Pereira (2011), a mediação é de conhecimento desde os primeiros ajuntamentos urbanos. Ela possibilitava comunicação com as partes; a presença de um terceiro mediador era a principal evidência disso. Essa assertiva é ratificada por Christoper Moore (1998, p. 32-34), pois, segundo o autor, a mediação já existia nos litígios bíblicos, principalmente na populaçãojudaica; paulatinamente outras sociedades assimilaram o processo de mediação. Contudo, Moore afirma que o modo como concebemos a mediação na sociedade contemporânea é diferente da estabelecida pelos povos antigos. Assim, “foi nos últimos 25 anos que a mediação se expandiu exponencialmente no mundo, ganhando espaço e tornando- se reconhecida como meio de tratamento de litígios alternativo às práticas judiciais”. (MOORE, p. 32-34) A mediação, portanto, tomou proporção essencial nos tribunais atuais e nos litígios recorrentes na sociedade. Principalmente como forma de evitar processos morosos, desgastantes e, muita das vezes, prejudicial às partes envolvidas nos processos. Assim, as medidas não adjudicatórias como a mediação, a conciliação e a arbitragem, ganharam adesão por parte dos tribunais de justiça e da sociedade civil. Por conta disso, os aparatos legislativos foram se adequando as novas demandas judiciais por conta do aumento na procura por medidas não adjudicatórias. Fato concretizado ao longo das ultimas décadas, e desde a promulgação do Novo Código de Processo Civil de 2015, em que podemos encontrar ampliação na relevância dada à mediação e aos outros métodos conciliatórios. Segundo Cabral (2017), a mediação tem evoluído muito no Brasil, mas é necessário quebrar alguns paradigmas e reestabelecer a cultura do ganha-ganha na sociedade. Academicamente, é a mudança do modelo perde-ganha para o modelo ganha-ganha. Não obstante, a mediação tenta quebrar alguns paradigmas arraigados na nossa sociedade, como a cultura da litigiosidade e necessidade de levar ao Poder Judiciário demandas que poderiam ser solucionadas em um ambiente mais propício e com mecanismos mais apropriados. (CABRAL, 2017, p. 355) Ainda que utilizada nos espaços judiciais, a mediação era uma medida que ainda carecia de força normativa, para que houvesse legitimação social e proporcionasse relevantes benefícios para a sociedade. Isso só foi alterado em 2015 com a Lei de Mediação e o Novo Código de Processo Civil ao gerar ênfase nas medidas não adjudicatórias (CABRAL, 2017, p. 356). Em outros países a mediação já era largamente utilizada, fazendo parte de diversos 7 ordenamentos jurídicos. Isso constata o interesse de populações interessadas em resolver conflitos antes do provimento judicial. No caso do Brasil, só em 2015 que iniciou, com afinco, a seguridade e importância da mediação. Contudo, segundo Trícia Cabral, em diversos ordenamentos jurídicos brasileiros é possível encontrar respaldos sobre a exequibilidade da mediação nos processo judiciais (2017, p. 358). Nessa perspectiva, a autora citou o Preâmbulo 2 da Constituição de 1988 e o artigo 5º, XXXV, em que autoriza e incentiva os mecanismos de solução de controvérsias. Essas medidas asseguram “instrumentos capazes de solucionar conflitos de forma apropriada, de reduzir o número de processos judiciais e de combater o desvirtuamento da função judicial do estado, conferindo, assim, uma leitura contemporânea do acesso a justiça”. (CABRAL, 2017, p. 358) Outro momento importante foi o II Pacto Republicano de 2009, nele foi assumida a responsabilidade de fortalecimento da mediação e da conciliação; visando maiores resoluções nos conflitos, pacificação social e diminuição na judicialização. Esse ponto demonstra a importância dessas medidas para a justiça brasileira, pois além de assegurar o acesso a justiça, permite as resoluções intempestivas mais rapidamente. Anteriormente a esses, a primeira proposta de regulamentar à mediação como método de solução de conflitos adveio do Projeto de Lei nº 4827/1998, que foi apresentado pela Deputada Federal Zulaiê Cobra. O projeto foi aprovado pela câmara, e ao chegar ao senado foi fundido a outro projeto de uma comissão específica criada pelo Instituto Brasileiro de Direito Processual. Só mais tarde ele se tornou PLC 94/2002 e, foi apresentado pelo Senador Pedro Simon em 2006. Depois das devidas alterações foi reenviada a Câmara, em que foi dado o parecer favorável devido ao amadurecimento no texto; contudo, o texto foi devolvido sem sua aprovação final. 2011 foi a última movimentação legislativa, quando foi apresentado o parecer do Relator Deputado Arthur Oliveira Maia, aprovado em 16.06.2013 e publicado em 04.07.2013. (CABRAL, 2017, p. 359-360) Por fim, o Senador Ricardo Ferraço apresentou a PLS 517/11, que visava regular amplamente a mediação. Após as diversas comissões, o projeto foi aprovado e encaminhado à 2 BRASIL, Constituição da República Federativa do Brasil, Preâmbulo, p. 11 “Nós, representantes do povo brasileiro, reunidos em Assembleia Nacional Constituinte para instituir um Estado Democrático, destinado a assegurar o exercício dos direitos sociais e individuais, a liberdade, a segurança, o bem estar, o desenvolvimento, a igualdade e a justiça como valores supremos de uma sociedade fraterna, pluralista e sem preconceitos, fundada na harmonia social e comprometida, na ordem interna e internacional, com a solução pacífica das controvérsias, promulgamos, sob a proteção de Deus, a seguinte CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL". 8 Câmara como Projeto de Lei nº 7169/2014, sendo aprovado em 07.04.2015. Após, retornou ao Senado para a votação final, foi aprovado em caráter de urgência em 02.06.2015. Assim, foi instituída a Lei de Mediação aprovada em 26.06.2015 com o número 13.140/2015. Ainda em 2015, o Novo Código de Processo Civil reconheceu a mediação, nele foi compilada a referida lei. Tendo como regra a realização da mediação ou conciliação no início do procedimento. No mesmo texto, foi realçada a atividade e a figura do mediador enquanto auxiliar da justiça, conforme enfatiza o Novo CPC. Assim, enfatizaram no reconhecimento da atividade dos mediadores. A seção V do Novo CPC assegura sobre as atribuições do mediador, questões como: criação de centros judiciários de solução consensual de conflitos nos tribunais, os princípios da mediação, que são de fundamental importância para realização da atividade do mediador; construção de cadastro nacional e único dos mediadores, capacitação adequada, identificação do mediador através dos processos que participou e, as punições aos mediadores, caso venha acontecer algum desregramento. (BRASIL, NOVO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL, Seção V, Artigos, 165 – 175). Diante das assertivas, nota-se um avanço alcançado pelo Brasil na implementação das medidas não adjudicatórias nas ultimas décadas. Com maior ganho a mediação, haja vista que esta era a única que não dispunha de força normativa efetiva por lei. O Novo Código de Processo Civil apresentou, amplamente, o ofício requerido aos mediadores; que é utilizada, principalmente, como forma de estabelecer uma nova cultura não litigiosa e conflituosa, que ainda perdura no direito conservador. Além disso, contribui no melhoramento da justiça brasileira e no alívio dos tribunais que vivem abarrotados de processos que se arrastam por décadas. Para tanto, é necessário pensar quanto a formação inicial e continuada dos mediadores, para aperfeiçoar a prática nos processos e realizar procedimentos que contribuam satisfatoriamente as partes. É nesse sentido que esse trabalho busca versar. 3. Conceitos e princípios da Mediação 3.1 Mediação, Conciliação e Arbitragem Para compreender a importância da mediação e sua relevância na sociedade, é necessário indicar e analisar seus conceitos e princípios; e diferenciá-la das outras formas alternativas de resolução de conflitos, como a Conciliação e a Arbitragem. Como visto anteriormente, a Conciliação e a Arbitragem já tinham grande respaldo nas ordenações jurídicas brasileira, bem como eram bastante utilizadas nos tribunais e ordens judiciais. 9 Comumente elas são confundidas ou parte da população desconhece a aplicabilidadena prática dessas atividades; que se distinguem em seus conceitos e na sua praticidade. A principal diferença se faz presente na abordagem. Segundo Cabral (et. al. 2020), a Conciliação é definida assim: A conciliação, é considerada uma negociação, é uma alternativa de solução extrajudicial de conflitos. Na conciliação, um terceiro imparcial interveniente buscará, em conjunto com as partes, chegar voluntariamente a um acordo, interagindo, sugestionando junto às mesmas. O conciliador pode sugerir soluções para o litígio. O conciliador, portanto, utiliza a técnica de escuta ativa para buscar pontos convergentes e de interesses pelas partes, nesse ponto é a oralidade a chave para busca da concessão, visando sanar o problema (VEZZULLA, 2001, p. 83). De certo modo, o conciliador age de forma mais ativa, sempre neutra e imparcial. A mediação é prevista nos artigos 447 e 449, que prevê sua utilização nos conflitos de família; é função do juiz tentar conciliar as partes antes de iniciar a instrução, conforme o artigo 448. O termo homologado e assinado pelas partes terá valor de sentença, aduz o artigo 449. Conhecida como Lei Marco Maciel pelo número 9.307/96, garante a Arbitragem como uma solução de conflitos. Nesse meio, é eleito um terceiro imparcial pelas partes, que seja especialista na área litigiosa e, que, por força do cargo, tem poder de emitir decisão que é validada como sentença judicial, não admitindo recurso. Carmona (1998, p. 43) defende que o poder dado ao arbitro é fruto de uma convenção privada, a sua decisão é de análise do caso e sem intervenção estatal, servindo como sentença judicial. Enquanto essas buscam a presença de um terceiro que tem papel fundamental na decisão final. A mediação, por sua vez, visa identificar o cerne do conflito, permitindo a comunicação entre as partes para que observem e compreendam o litígio de outras formas; possibilitando meios de negociar em que todos saiam ganhando e sanem o problema. Almeida (2001, p. 46) é mais contundente ao definir e realçar a mediação, segundo a autora, é nela que as partes precisam refletir sobre seus problemas e, buscar meios para a solução. Nesse momento é possível observar diversas alternativas de caminhos que podem ser seguidos. É na mediação que é o momento de descontruir o problema, transformando o espaço em colaborativo no lugar de conflitivo. E o papel do mediador é facilitar a negociação entre as duas partes, produzindo uma decisão que seja mutuamente aceitável pelos dois. Para Adolfo Braga Neto (1999, p. 93) medição é técnica de resolução de conflitos, em que se destaca o seu aspecto não- adversarial; sendo conduzido por intermédio de um 10 mediador neutro dotado de conhecimento do conflito. Durante o processo ocorrem reuniões para estimular o consenso para formulação da solução satisfatória do conflito. Desse modo, as alternativas de conflitos se diferenciam e, cada uma atendendo a determinada demanda ou litigio. Nesse estudo é importante versar sobre a distinção entre elas, pois nosso interesse se detém sobre a figura do mediador, que assume comportamento e meios diferenciados dos demais. O mediador enquanto facilitador de solução precisa ser analisado a partir de sua atividade. 3.2 Princípios da mediação A prática da mediação e os mediadores se baseiam a partir de princípios estabelecidos de acordo com a lei 13.140 de 26 de Junho de 2015. O Artigo 2º elenca os princípios que norteiam a mediação: imparcialidade do mediador (I), isonomia entre as partes (II), oralidade (III), informalidade (IV), autonomia da vontade das partes (V), busca do consenso (VI), confidencialidade (VII) e boa fé (VII). Mello (1991, p. 230) conceitua princípios afirmando que são eles que norteiam um sistema, dando-lhes sentido; servindo para sua completa compreensão e inteligência. Nesse sentido, os princípios dão sentido harmônico e organizacional às questões jurídicas. Portanto, os princípios da mediação são a base para a atividade e atuação do mediador. Sem essas todo o processo é comprometido e a mediação não será existente. Os princípios da mediação foram cunhados sobre a égide ética do direito. Segundo Cabral (et. al. 2020), é nesse contexto que se fundamentam a prática do mediador, e cabe a cada instituição adotar um código de ética: O mediador, por sua vez, possui um código de ética que o orienta, preceitua e regula suas práticas profissionais e funcionais, embora, atualmente, cada instituição ou casa constituída com a finalidade de promover a mediação adote um código de ética próprio para zelar pela reta conduta de seus mediadores, pois não existe um órgão máximo da mediação que seja competente para impor a adoção de um código de ética ou mesmo para elaborar um código único a ser observado por todos. Dada à importância a mediação, é necessário que a capacitação e formação dos mediadores sejam bem respaldadas sob esses princípios, pois eles resguardam a prática da mediação. Questões como bom senso, boa fé e confidencialidade asseguram que os processos ocorram sigilosamente. Devido a nova configuração e a vigência do novo CPC de 2015, precisamos analisar a função do mediador de acordo com a nova lei e os processos de formação dos mediadores. É o que se lerá a seguir. 4. A função do mediador e o Novo Código de Processo Civil 11 Há um tempo a mediação está estabelecida em diversos espaços das legislações brasileiras, existindo como uma das alternativas de solução de conflitos. Sendo muito utilizada em problemas como questões que envolvem família, parentela ou mesmo questões administrativas em empresas. Dessa forma, ela minimiza os litígios ao possibilitar que as partes vejam os conflitos de outros modos, e em que juntas possam sanar esse problema. Segundo Carvalho e Lira (2017), a Lei de Mediação não difere mediação e conciliação. Contudo, a grande mudança no NCPC é diferenciar os dois institutos. Pelos escritos desse código, a recomendação é a conciliação quando as partes não se conhecem, enquanto a mediação quando as relações são continuadas, envolvendo proximidade entre os litigantes. É recomendável que a conciliação seja utilizada apenas para reações ocasionais, nas quais os vínculos entre as pessoas inexistam ou seja esporádicos. (NUNES, 2016, p. 52). Por outro lado, segundo o mesmo dispositivo, a mediação é recomendada para os casos que envolvam relações continuadas, nos quais os casos são complexos e que dependam da manutenção dos laços existentes entre as partes do conflito, como nas relações familiares e de vizinhança. (NUNES, 2016, p. 52) Assim, fica explicito a ênfase dada às duas modalidades, demonstrando que elas atuam em localidades e momentos diferentes. Enquanto o antigo código de 1973 não explicitava sobre a atividade da mediação, o atual destina seção e artigos enfatizando a profissionalização e a valorização da função do mediador. Além disso, o artigo 334 explica os procedimentos que devem ser tomados durante as audiências de mediação. Dada às novas circunstâncias, os mediadores, assim como os demais profissionais da justiça, peritos, escrivão e oficial de justiça, foram reconhecidos como auxiliares da justiça brasileira. Ganharam, assim, paridade em relação aos demais atuantes da justiça. Por conta disso, podem os mediadores responder administrativamente caso seja notabilizado da ineficiência ou irregularidade da lisura do processo judicial. Entre as grandes alterações do CPC de 2015 em relação aos mediadores é quanto à profissionalização, capacitação e valorização desses profissionais. Por estarem equiparados aos demais auxiliares da justiça, visou-se uma formação específica com preparos técnicos para assumirem o ofício desejado, no caso a negociação e a reconstrução da relação entre as partes envolvidas no conflito. Para promover esse momento de formação dos profissionais da mediação, os tribunais ficaramresponsáveis por criar ou formar um quadro de mediadores, seja como cargo público ou mediadores independentes. Nesse sentido, cabe ao Estado promover, sempre que possível, a aplicabilidade da mediação. Podendo juízes, advogados, defensores públicos e promotores estimular esse processo. Ainda a partir do novo CPC é possível depreender que: 12 O juiz dirigirá o processo conforme as disposições do Código, incumbindo-lhe promover, a qualquer tempo, a auto composição, preferencialmente com auxílio de conciliadores e mediadores judiciais, que serão auxiliares da justiça. Os tribunais criarão centros judiciários de solução consensual de conflitos destinados a auxiliar, orientar e estimular a auto composição na pessoa do conciliador ou mediador, que atuarão preferencialmente nos casos em que não tiver havido vinculo anterior entre as partes, poderá seguir soluções para o litígio, sendo vedada a utilização de qualquer tipo de constrangimento ou intimidação para que as partes conciliem. (CABRAL, et. al.) O objetivo da mediação não é apenas desafogar o sistema judiciário, mas tentar construir novas formas de trabalhar e avaliar os problemas presentes. Enquanto uma quantidade exorbitante de processos que se arrastam no judiciário, e como consequência, ocorrem diversos danos (emocionais, psicológicos e social); a aplicabilidade da Mediação pode contribuir para uma solução mais rápida e menos danosa para todos. Breitmann (2006, p. 55) construiu uma assertiva cirúrgica ao apontar que a mediação visa à transformação de pessoas, pois busca pela alteridade de forma relacional, amparado no respeito mútuo as diferenças. Assim, a mediação tornou-se importante nos desdobramentos jurídicos nos tribunais do Brasil. A procura por medidas menos duradouras e menos conflituosas permitiram uma adequação as novas fases e demandas da sociedade brasileira. Por conta disso, que o novo CPC incorporou a mediação como uma das importantes medidas não adjudicatórias. 5. Mediador e capacitação: a importância da formação As habilidades e competências dos mediadores são construídas ao longo da formação e das experiências adquiridas na atuação nos tribunais. De acordo com Sales e Chaves (2014, p. 256), a capacitação dos mediadores e conciliadores é um ponto fundamental para a adequada implementação desse mecanismo de resolução de conflitos: Deve-se, assim, investir na capacitação de qualidade para que se compreenda adequadamente os meios consensuais de solução de conflitos, seus objetivos, realizando-os corretamente, tendo como foco a solução adequada de conflitos, o fortalecimento dos vínculos individuais e coletivos, proporcionando um sentimento de justiça e paz. Para conduzir essa parte, nos indagamos: Qual a importância da capacitação dos mediadores no Brasil? Como está estabelecida a capacitação atualmente? Desde a criação da mediação, as instituições judiciais se preocuparam em capacitar pessoas para assumirem essa nova demanda. Como a maioria que ocupa esse cargo são advogados, era necessário um processo de desconstrução na sua formação jurídica. Isso porque a mediação requer um profissional mais receptivo as transformações, que pratique mais a escuta, valorize o diálogo; em suma, precisa atuar em tudo que vai de 13 encontro a uma formação jurídica conservadora, não dialógica, autoritária e litigiosa. (SALES e CHAVES, 2014, p. 257) Por conta dessa formação, às vezes, engessada, Sales e Chaves pontua que “os profissionais da área do Direito possuem dificuldades em compreender o novo cenário exigido pela sociedade e apresentado pelos meios adequados ou consensuais de solução de conflitos”. O novo cenário, no qual a mediação faz parte, exige solução de problemas de modo cooperativo, baseado no ganha-ganha e na escuta ativa. E, por fim, na autonomia que é dada as pessoas envolvidas no processo. (2014, p. 258) Além disso, são aliadas aos princípios estabelecidos pelo CPC, as partes precisam ter liberdade de escolha; elas que mutuamente, em diálogo, escolhem o caminho mais confortável a seguir. A garantia desse processo é permitida pela imparcialidade do mediador, que precisa agir sigilosamente e informalmente, como afirma os princípios. Nunes (2016) aborda a importância da transdisciplinaridade do mediador, devendo ele ter uma bagagem de saberes: O mediador eficiente deverá ter esse olhar ampliado, e ora juntar as disciplinas, ora analisa-las em separado, e deve afastar-se do paradigma cartesiano/ newtoniano e da visão mecanicista de causa e efeito, das lógicas binárias do certo errado, perdedor e ganhador, culpado e inocente, e trazer para a auto composição o pensamento integrado, com uma visão de sistemas interconectados, com percepção de totalidade e particularidade, de sustentabilidade, de tela e de redes [...] o que deverá fazer através de uma mente sempre aberta, uma aptidão constante para o diálogo e aquisição de conhecimentos. (2016, p. 130) Nesse sentido, o mediador precisa compreender questões básicas de outras ciências, como psicologia, direito, sociologia e filosofia. Embora o cargo de mediador possa ser ocupado por qualquer pessoa possuidora de ensino superior, é necessário pensar a capacitação e o aperfeiçoamento da mediação como um regime integral. Para assumir o cargo de mediador é necessário passar pela formação no curso pelas entidades reconhecidas pelos tribunais e pelo ENFAM – Escola Nacional de Formadores e Aperfeiçoamento dos Magistrados, de acordo com a Resolução 125 de 2010 do CNJ. Quanto à capacitação, ela precisa seguir dois modelos, um extrínseco e outro intrínseco, o primeiro se refere à capacitação formal do mediador e o ultimo, ao perfil desse profissional. Portanto, o processo de capacitação perpassa toda a construção do profissional da mediação, ocorrendo também durante a atuação nos processos. Sales e Chaves (2014, p. 265) assevera que a capacitação está relacionada a: [...] processo de mediação, pré-mediação, sessão de cáucus, diferenças conceituais e práticas dos vários meios consensuais de solução de conflitos, suas fases, seus princípios, seus objetivos e técnicas utilizas (escuta ativa, a observação das expressões, perguntas abertas, paráfrase, as anotações) 14 É válido ressaltar que os mediadores precisam passar por contínuo aperfeiçoamento das técnicas de mediação, compreendendo as mudanças sociais e as novas demandas de conflitos. Dentre os métodos de formação contínua pode se incluir minicursos, cursos de extensão, oficinas, palestras e dentre outras. Elas visam tanto o aprimoramento das práticas da mediação, bem como a atualização dos mediadores a diversidade da realidade brasileira. Dessa maneira, os órgãos judiciais contribuem para construir o perfil de mediadores com estimulo a cooperação e a negociação entre as partes, visando à reconstrução do relacionamento entre elas. De acordo com Vezzula (2001, p. 47-48), o mediador visa sempre a melhor forma de estabelecer o vinculo entre as partes, observando o problema mais profundamente e permitindo vejam também. Portanto, ele não é juiz, nem cabe tomar partido, seu papel é apenas de ser facilitador do processo. Sales e Chaves (2014, p. 266) aduz que os métodos conciliatórios de conflitos requerem atenção diferenciada, por se distinguirem da lógica comum do processo judicial tradicional. Pois a atuação do Poder Judiciário tradicional ressalta o formalismo, normatividade, foco no caráter adversarial das partes que entram em constante litígio, assim, impera o perde ganha, não há dialogo entre os envolvidos e cabe ao juiz o poder de decisão. A questão da capacitação dos mediadores ganhou maior destaque com a Resolução nº 125 do Conselho Nacional de Justiça de 2010, que exigia a capacitação mínima dos mediadores e conciliadores. Ela antecede a aprovação da Lei de Mediação de 2015 e o Novo Código de Processo Civil, também de 2015.À época a resolução foi registrada como grande avanço, porém, ocorrendo resistência em partes pela formação jurídica dogmática. Por isso, que para se pensar na aplicabilidade da mediação envolvia questões de ordem macro, como a conscientização da sociedade civil, dos atuantes da área do Direito e a construção de cursos paralelos às realidades atuais (SALES e CHAVES, 2014, p. 267). Nesse sentido, a resolução 125 objetivava organizar e uniformizar a nova demanda da mediação. Entre os escritos da referida resolução estavam: Resolução n. 125/2010 do CNJ, em seu artigo 2º, enfatiza a relevância da adequada formação e treinamento de servidores, conciliadores e mediadores, com vistas à boa qualidade dos serviços, nos núcleos e centros. Observando-se inclusive em seu artigo 9º, § 2º, a importância de um profissional capacitado também para a triagem e encaminhamento adequado dos casos, demonstrando a preocupação com a formação dos profissionais que irão trabalhar diretamente com a prática da mediação judicial e da conciliação judicial. (SALES e CHAVES, 2014, p. 267-268) Além disso, a resolução visava uma construção de uma cultura pacificadora, através da aplicação da mediação e da conciliação. Outros órgãos também atuariam junto, como a 15 Ordem de Advogados do Brasil, Defensorias Públicas, Ministério Público e dentre outros, responsáveis pelo estímulo a adoção das soluções de controvérsias. Em 2013 ocorreu uma alteração em relação à capacitação dos mediadores a partir da Emenda n. 1. Segundo o texto, a capacitação aconteceria exclusivamente por meio dos cursos criados pelo Comitê Gestor do Movimento pela Conciliação do CNJ. Baseados na alegação da falta do módulo de simulados e estágios supervisionados para área da mediação e da conciliação (SALES e CHAVES, 2014, p. 271). Dentre as principais consequências estiveram o rompimento com instituições clássicas que tinham cursos de formação de mediadores, como o CONIMA 3 e a IMA 4 ; haja vista que o curso seria então concedido diretamente pelo Ministério da Justiça. Em contra partida, houve resistências afirmando que questões peculiares de cada região não foram consideradas pela padronização e centralização dos cursos de mediação. Durante o processo de firmação dessas questões, surgiram protestos e questionamentos sobre a eficiência da capacitação dos novos mediadores, a partir das suas demandas peculiares. A Emenda II da resolução 125 de 8 de Março de 2016 alterou e acrescentou artigos e os anexos I e III da resolução. Segundo essa resolução: O curso de capacitação básica dos terceiros facilitadores (conciliadores e mediadores) tem por objetivo transmitir informações teóricas gerais sobre a conciliação e a mediação, bem como vivência prática para aquisição do mínimo de conhecimento que torne o corpo discente apto ao exercício da conciliação e da mediação judicial. Esse curso, dividido em 2 (duas) etapas (teórica e prática), tem como parte essencial os exercícios simulados e o estágio supervisionado de 60 (sessenta) e 100 (cem) horas. (RESOLUÇÃO 125) Assim, visando uma ampliação quanto ao conhecimento da medição, manteve-se o curso em duas partes, tanto teórica quanto prática, envolvendo simulados e estágio supervisionado. No artigo 12 § 2º e § 3 aborda as seguintes questões sobre a capacitação dos mediadores: §2 Todos os conciliadores, mediadores e outros especialistas em métodos consensuais de solução de conflitos deveram submeter-se a aperfeiçoamento permanente e a avaliação do usuário. (NR) §3 Os cursos de capacitação, treinamento e aperfeiçoamento de mediadores e conciliadores deverão observar as diretrizes curriculares estabelecida pelo CNJ (Anexo I) e deverão ser compostos necessariamente de estágio supervisionado. Somente deverão ser certificados mediadores e conciliadores que tiverem concluído o respectivo estágio supervisionado (NR) Nesse ponto, é ratificada a necessidade de constante aperfeiçoamento dos mediadores, pois a pessoa do mediador precisa estar inteirada em diversos temas e circunstâncias que possam ocorrer ao longo da carreira; questões como família, religião e trabalho precisam fazer 3 Para saber mais sobre o CONIMA, disponível em: https://conima.org.br/. Acesso em 24.09.2020 4 Para saber mais sobre a IMA, disponível em: http://imabr.com.br/. Acesso em 25.09.2020 https://conima.org.br/ http://imabr.com.br/ 16 parte do arcabouço social e atuante do mediador. Quanto aos Conteúdos Programáticos 5 da parte teórica ficaram estabelecidos assim: a) Panorama histórico dos métodos consensuais de solução de conflitos. Legislação brasileira. Projetos de lei. Lei dos Juizados Especiais. Resolução CNJ 125/2010. Novo Código de Processo Civil, Lei de Mediação. b) A Política Judiciária Nacional de tratamento adequado de conflitos Objetivos: acesso à justiça, mudança de mentalidade, qualidade do serviço de conciliadores e mediadores. Estruturação - CNJ, Núcleo Permanente de Métodos Consensuais de Solução de Conflitos e Cejusc. A audiência de conciliação e mediação do novo Código de Processo Civil. Capacitação e remuneração de conciliadores e mediadores. c) Cultura da Paz e Métodos de Solução de Conflitos Panorama nacional e internacional. Auto composição e Heterocomposição. Prisma (ou espectro) de processos de resolução de disputas: negociação, conciliação, mediação, arbitragem, processo judicial, processos híbridos. d) Teoria da Comunicação/Teoria dos Jogos Axiomas da comunicação. Comunicação verbal e não verbal. Escuta ativa. Comunicação nas pautas de interação e no estudo do inter-relacionamento humano: aspectos sociológicos e aspectos psicológicos. Premissas conceituais da auto composição. e) Moderna Teoria do Conflito Conceito e estrutura. Aspectos objetivos e subjetivos. f) Negociação Conceito: Integração e distribuição do valor das negociações. Técnicas básicas de negociação (a barganha de posições; a separação de pessoas de problemas; concentração em interesses; desenvolvimento de opções de ganho mútuo; critérios objetivos; melhor alternativa para acordos negociados). Técnicas intermediárias de negociação (estratégias de estabelecimento de rapport; transformação de adversários em parceiros; comunicação efetiva). g) Conciliação Conceito e filosofia. Conciliação judicial e extrajudicial. Técnicas (recontextualização, identificação das propostas implícitas, afago, escuta ativa, espelhamento, produção de opção, acondicionamento das questões e interesses das partes, teste de realidade). Finalização da conciliação. Formalização do acordo. Dados essenciais do termo de conciliação (qualificação 5 Segue de acordo com a Resolução nº 125, disponível em: https://atos.cnj.jus.br/atos/detalhar/156. Acesso em 26.09.2020 https://atos.cnj.jus.br/atos/detalhar/156 17 das partes, número de identificação, natureza do conflito...). Redação do acordo: requisitos mínimos e exequibilidade. Encaminhamentos e estatística. Etapas (planejamento da sessão, apresentação ou abertura, esclarecimentos ou investigação das propostas das partes, criação de opções, escolha da opção, lavratura do acordo). h) Mediação Definição e conceitualização. Conceito e filosofia. Mediação judicial e extrajudicial, prévia e incidental; Etapas - Pré-mediação e Mediação propriamente dita (acolhida, declaração inicial das partes, planejamento, esclarecimentos dos interesses ocultos e negociação do acordo). Técnicas ou ferramentas (co-mediação, recontextualização, identificação das propostas implícitas, formas de perguntas, escuta ativa, produção de opção, acondicionamento das questões e interesses das partes, teste de realidade ou reflexão). i) Áreas de utilização da conciliação/mediação Empresarial, familiar, civil (consumeirista, trabalhista,previdenciária, etc.), penal e justiça restaurativa; o envolvimento com outras áreas do conhecimento. j) Interdisciplinaridade da mediação Conceitos das diferentes áreas do conhecimento que sustentam a prática: sociologia, psicologia, antropologia e direito. k) O papel do conciliador/mediador e sua relação com os envolvidos (ou agentes) na conciliação e na mediação Os operadores do direito (o magistrado, o promotor, o advogado, o defensor público, etc.) e a conciliação/mediação. Técnicas para estimular advogados a atuarem de forma eficiente na conciliação/mediação. Contornando as dificuldades: situações de desequilíbrio, descontrole emocional, embriaguez, desrespeito. l) Ética de conciliadores e mediadores O terceiro facilitador: funções, postura, atribuições, limites de atuação. Código de Ética - Resolução CNJ 125/2010 (anexo). Assim, esse anexo é o norte para capacitação dos profissionais da mediação. Podendo ser exercidos pelas entidades competentes para formação. Embora esse conteúdo seja a base, as entidades podem agregar outros temas e valores a partir do apresentado. Desde o reconhecimento da prática da mediação observou-se ampliação e preocupação quanto à capacitação dos mediadores. Dentre as grandes alterações, está a fixação da grade nacional 18 base e o módulo de estágio supervisionado, que permite o contato inicial dos mediadores ao seu espaço de trabalho. Dada a importância da mediação pelas suas grandes contribuições para o funcionamento da justiça brasileira, é preciso pensar no profissional eficiente, competente e eficaz, e isso começa pela capacitação adequada e continuada. Foram o que ocorreram com as devidas resoluções e emendas que se preocuparam em adequar a mediação as novas realidades. Por isso é preciso refletir sobre a importância da atuação dos mediadores, visando à melhoria e disseminação dessa prática para toda sociedade. 6. CONCLUSÃO A mediação é um marco importante para a justiça brasileira. Ficou evidente pela sua relevância como braço auxiliar do poder judiciário, utilizado tanto como forma de aliviar as grandes filas de processos, como de ser alternativa para litigantes que estejam envolvidos em conflitos; e como forma de evitar processos morosos e desgastantes pode se utilizar da mediação como caminho viável. Utilizamos das questões norteadoras para construir esse estudo, e buscamos apontar caminhos para suas resoluções. Dentre elas temos: Qual o impacto do Novo Código Civil na formação e exercício do mediador de conflitos? Demonstramos que a mediação foi acondicionada ao novo Código do Processo Civil, essa inclusão foi no sentido realçar a importância desse mecanismo, e equiparar ele as outras medidas adjudicatórias, como a conciliação e a arbitragem. Como tem sido a formação de mediadores de conflitos atualmente? Os mediadores são formados por instituições adequadas e autorizadas pelo CNJ, são observados a partir dos conteúdos programáticos implementados pelo próprio conselho. Há, portanto, preocupação quanto à formação adequada e correta aos mediadores. As adequações do novo código e da lei de mediação deram maior respaldo quanto a construção da carreira dos mediadores. É necessário pensar na continuidade da qualidade e de novos mediadores atualizados aos mais diversos litígios possíveis. No decorrer do tempo algumas alterações ocorreram, como a resolução 125 e as emendas nº 1 e nº 2, a primeira de 2013 e a segunda de 2016. A principal alteração foi que o CNJ requeria que todos os mediadores passassem por módulos de estágio supervisionados e simulados, além disso, algumas instituições clássicas na formação de mediadores tiveram seus contratos reincididos. 19 Diante das questões apresentadas, é preciso apontar caminhos para a formação dos mediadores, é de suma importância que eles estejam adequados as novas demandas e realidades do judiciário. Anteriormente realçamos que os principais fatores para a prática da mediação é o auxílio às estancias judiciais, diminuindo os impactos de grandes processos que existem na justiça. Além de ser um caminho viável e seguro para os litigantes, pois eles participam diretamente da solução dos seus infortúnios. Como visto, é na mediação que as partes buscam a melhor forma de resolução. Por conta disso, o mediador precisa ser um agente preparado e apto para a atividade da mediação, pois ele é o facilitador do processo; e mesmo que não seja de sua responsabilidade emitir a decisão, é a partir dele que se deve manter um espaço de diálogo saudável entre os envolvidos e tentar reestabelecer a relação delas. Por fim, é preciso incentivar que a própria sociedade reconheça os benefícios da mediação. Enquanto perdura uma cultura conflituosa na sociedade, é necessário apontar caminhos menos danosos que o conflitivo e os embates. 7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALMEIDA, Tânia. A mediação familiar no contexto da guarda compartilhada. Mediare: diálogos e processos decisórios. Rio de Janeiro, 2008. Disponível em: https://mediare.com.br/a-mediacao-familiar-no-contexto-da-guarda-compartilhada/. Acesso em: 18 de Set. 2020. BRAGA NETO, Adolfo. 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