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O encarceramento em massa da população negra no Brasil

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O encarceramento em massa da população negra
Nós, infelizmente, vivemos em um país em que a população influente e o sistema de justiça penal, carregam consigo um caráter histórico extremamente racista, discriminativo e imparcial, em que se encontra e predomina o famoso ditado “bandido bom é bandido morto”, ilustrando apenas, dessa forma, a filosofia extremamente punitiva que o Brasil detém.
Como consequência disso, intercorre no país, uma enorme cultura que, posteriormente, acabou se tornando um grave problema humanitário e financeiro, que é a cultura do encarceramento em massa ou do superencarceramento.
O Brasil, segundo levantamentos oficiais, está entre os trinta países com a maior taxa de encarceramento no mundo, sendo ainda, o terceiro país em números absolutos com relação ao número de pessoas que estão presas (mais de 750 mil), em sua maioria pessoas negras.
Entretanto, muitas dessas pessoas que estão presas poderiam estar respondendo por seus crimes e/ou delitos através das penas alternativas ou das penas restritivas, não precisando, necessariamente, responder através das privativas de liberdade.
Na grande maioria dos casos das prisões em flagrante, por exemplo, a postura do(a) juiz(a) competente é de corroborar o flagrante, tornando a decretação da prisão uma certa prática comum, onde não se é feita uma devida investigação fornecendo os direitos do infrator.
Cabe aqui ressaltar que, os presos provisórios, correspondem a mais de 35% da população carcerária, sendo que os presídios brasileiros estão 30% acima da capacidade de ocupação; ou seja, se fossem evitadas apenas as prisões provisórias, já se resolveriam os problemas das superlotações nos presídios. Além disso, O IPEA (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), analisou que um terço desses presos e presas provisórios, são absolvidos por arquivamento do caso, isto é, essas pessoas estavam presas desnecessariamente, apenas lotando os presídios e gerando gastos para o Estado.
É de extrema relevância destacar também que, no universo masculino, a maioria das prisões decretadas nos processos criminais são por crimes contra o patrimônio (mais de 20%), crimes por tráfico de drogas e, por último, crimes contra a vida (menos de 17%). Já no universo feminino, esse cenário é ainda mais assustador, sendo mais de 53% das prisões decretadas por tráfico de drogas, em seguida temos os crimes contra o patrimônio e, por último, novamente, os crimes contra a vida. 
Podemos concluir então que, a justiça brasileira tem como foco a defesa do patrimônio e não da vida, sendo que, muitas vezes, esses patrimônios são “patrimônios questionáveis”, como celulares, comida, roupas, produtos de higiene pessoal e outros...
No tocante as prisões por tráfico drogas, muito desses presos e presas são autuados por quantidades muito pequenas dessas substanciais. Um estudo de 2018 no Rio de Janeiro, mostra que no mais de 70% dessas prisões não chegavam nem a 42 gramas, sendo que em Portugal, por exemplo, essa quantidade é configurada como usuário(a). Em sua grande maioria, os presos e presas por tráfico são usuários ou 
trabalham no varejo das drogas, ou seja, a justiça está apenas “enxugando gelo”, sendo 
que os discursos de que essas prisões combatem o tráfico não passam de uma falácia, 
uma vez que não se combate os verdadeiros chefes do tráfico, que muitas vezes são homens brancos e ricos.
Um segundo fator que contribui para o encarceramento em massa, principalmente dos negros, é o fato de que há um “perfil alvo” dos policiais, o qual é designado em suas academias de formação. Esse perfil alvo é justamente o homem negro, jovem, de 18 a 29 anos; isto é, apenas o fato de você fazer parte desse “perfil alvo”, caso você cometa algum crime, seja ele de qualquer natureza, a chance de você ser condenado à prisão é extremamente alta. Esse mesmo estereótipo discriminativo vale para o território, uma vez que se uma pessoa for abordada à noite na rua de uma comunidade, a chance de ela ser acusada de tráfico, por exemplo, é muito alta, mesmo que não haja provas; porém, o mesmo não se aplica a uma pessoa branca à noite em uma área nobre.
Outro dado importante que também evidencia o superencarceramento que enfrentamos, é o fato de que, de 2004 á 2016, houve um aumento de 500% no número de mulheres encarceradas, sendo 60% dessas, mulheres negras, revelando mais uma vez, a cultura racista e discriminativa presente no sistema penal do país.
Dado todos esses fatos e evidencias, criaram-se alguns instrumentos que visam conter esse encarceramento em massa, principalmente das pessoas negras. 
O Abolicionismo Penal é um deles. O Abolicionismo Penal é um movimento que visa cada vez menos requerer as penas privativas de liberdade como punição, visando um mundo em que nem todo conflito acabe em prisão, e que nem todo conflito tenha a mediação da polícia. Entretanto, vale ressaltar que esse movimento não defende que o criminoso não seja responsabilizado, apenas que sua responsabilização seja por reparação e/ou restauração.
Outro instrumento com a mesma finalidade é a denominada Audiência de Custódia. Essa audiência é um mecanismo que dá a oportunidade de a pessoa não ser direcionada à esfera criminal, estabelecendo se o flagrante vai ser corroborado ou não, e definindo se a pessoa vai ser direcionada para a vara criminal ou para o juizado de medidas alternativas. Todo via, o “perfil alvo”, vítima de descriminação citado anteriormente, é um fator que influencia nessa audiência, mantendo um sistema de privilégios e garantia das desigualdades.
Muitos estudos apontam que quando pessoas negras passam pela audiência de custódia, a maioria delas vai para vara criminal, não tendo o impacto esperado na redução do encarceramento dos negros. O mesmo vale para a descriminação por gênero, pois há um julgamento moral das mulheres nas audiências de custódia.
Portanto, podemos concluir que, é necessário aprimorar a Audiência de Custódia para alcançar o efeito desejado, sendo inevitável uma reforma geral e profunda na justiça em geral e na segurança pública, onde possa haver uma maior integração com outras áreas, uma valorização da polícia civil e de sua investigação e, principalmente, a desconstrução dos estereótipos e perfis criminosos.
Por fim, serão analisados a seguir, elementos que explicam, mas não justificam, o encarceramento em massa da população negra.
1. Discriminação Institucional 
Quando nos referimos ao termo “discriminação”, a grande maioria das pessoas logo o vão relacionar ao seu estrito sentido jurídico de aspecto interpessoal, isto é, o vão associar aquele aspecto caracterizado exclusivamente pelas relações e interações dos indivíduos entre si. 
Entretanto, essa exclusiva e errônea associação ao aspecto interpessoal, passou a ser superada com os novos estudos e as observâncias da sociedade no decorrer das décadas, onde se foi identificado e explorado um novo e agressivo aspecto, o denominado Racismo ou Discriminação Institucional, identificado pelas relações assimétricas de poder que categorizam os diversos grupos sociais.
Através desse novo aspecto da Discriminação Institucional, podemos observar que os atos discriminatórios não ocorrem apenas nas relações privadas entre os indivíduos, mas ocorrem também, entre os membros dos grupos sociais que estão em posições ou status sociais distintos. 
Tal fato, permite que os membros de grupos sociais majoritários discriminem, oprimam e estabeleçam abordagens desvantajosas para com os grupos sociais minoritários, como negros, homossexuais, mulheres, entre outros; com a única e exclusiva finalidade de tirar vantagem destas minorias e manter sua posição social privilegiada.
Entretanto, assim como o próprio racismo, a Discriminação Institucional é um fenômeno muito complexo e muito bem elaborado pelas sociedades racistas, concedendo, dessa forma, as interações discriminativas entre sujeitos sociais e os agentes que representam as instituições públicas e privadas do país. 
Isso ocorre pelo fato de que os grupos majoritários e dominantes também controlamessas instituições, levando esse tratamento discriminatório a outro patamar. 
Dessa forma, podemos então, clara e facilmente correlacionar o encarceramento em massa da população negra à Discriminação Instrucional. 
Como descrito anteriormente, o racismo e a discriminação institucional, operados pelos grupos majoritários e dominantes, operam através das instituições públicas e privadas por meio de seus agentes, os quais são, na maior parte dos casos, representantes desses grupos majoritários, tratando as pessoas de acordo com seus próprios preconceitos e também a partir das normas institucionalizadas. 
Isto posto, podemos novamente voltar ao fato de que as intuições públicas, como a polícia (em especial a militar) e a justiça, são um claro exemplo de que a Discriminação Institucional está em perfeito funcionamento de seu modus operandi, onde, como já descrito anteriormente, possuem um perfil alvo para suas abordagens e decisões discriminatórias, que são justamente, os homens e mulheres negros.
Com isso, o fato de termos hoje no Brasil, uma população carcerária acima do suportado pelos presídios, principalmente pelo alto número de pessoas negras, está 
altamente relacionado a Discriminação Institucional, onde diariamente ocorrem prisões arbitrárias de homens e mulheres negros. 
Porém, mais grave do que essas arbitrariedades discriminatórias, é o fato de que essas não são vistas como práticas racistas, mas sim como atos normais e consequentes da atividade rotineira dessas instituições, sendo que esses atos discriminatórios são apenas modos de operação.
Isso apenas demonstra a complexidade da Discriminação Institucional, que não expressa diretamente a intenção de discriminar, atuando apenas pela desvantagem institucional que é imposta aos grupos minoritários decorrente da operação de normas consideradas neutras e inofensivas.
Ainda, esse tipo de discriminação tem como finalidade promover a subordinação e manter o controle social dos grupos majoritários sobre os grupos minoritários, como negros, mulheres, homossexuais, entre outros. 
Importante ressaltar também que, a Discriminação Institucional, possui uma extensão coletiva, pois rege a forma de como as instituições sociais devem atuar para promover e manter a subordinação. Como descreve Stokely Carmichael e Charles Hamilton, esse tipo de discriminação institucional acontece na operação ordinária das instituições, o que impede sua caracterização no sentido tradicional que damos ao termo discriminação.
Portanto, após essa breve conceitualização e aplicação, concluímos então que, os grupos minoritários podem, e são, vítimas da Discriminação Institucional, a qual ocorre quando os agentes das instituições tratam os indivíduos ou os grupos minoritários a partir de estereótipos prescritivos negativos, o denominado “perfil alvo” já identificado anteriormente. 
Dessa forma, podemos então, sem dúvidas, “justificar” o elevado número pessoas negras presas no país em decorrência desse fenômeno preconceituoso, onde por si só, é responsável pelo comportamento discriminativo das polícias e do sistema de justiça do Brasil.
2. Discriminação Intergeracional 
Como já exposto anteriormente, o racismo é um sistema de discriminação extremamente complexo, o qual não foi criado e posto em prática da noite para o dia, mas sim, após um longo período de estruturação através de diversas gerações de sociedades.
O racismo no Brasil, como muitos sabem, teve seu início com a chegada dos europeus em nosso território, pois, até então, os únicos e dominantes povos que aqui habitavam, eram os povos indígenas, com características físicas e culturais diferentes dos europeus, os quais os discriminavam e exploravam, pois não eram brancos nem 
“evoluídos”.
Entretanto, o racismo no país, teve seu auge durante o período da escravidão, período o qual perdurou por cerca de 350 anos, onde milhares de homens, mulheres e crianças negros foram trazidos à força em navios negreiros da África e, ao desembarcar no Brasil, eram altamente e instantaneamente discriminados, ridicularizados, humilhados, castigados e escravizados pelo povo branco, os europeus, que os sentenciavam a uma vida de servidão e castigos.
	Lamentavelmente, mesmo após o fim desse “período das trevas” na história brasileira, o racismo não teve seu esperado desfecho. Mesmo após cerca de 500 anos, nossa sociedade, em especial o povo negro, ainda é vítima incessante do racismo e da discriminação. Porém, nos tempos atuais, o racismo se manifesta de uma maneira mais discreta e branda na sociedade, tendo, entretanto, os mesmos aspectos e impactos na vida dos negros e dos grupos minoritários em geral.
	Este fenômeno é denominado Discriminação Intergeracional, ou seja, é um fenômeno que, de forma correta, descreve e afirma que a discriminação e o racismo passam de gerações em gerações, afetando não só as gerações presentes, como as futuras também. Além disso, seus efeitos de exclusão se mantêm e se reproduzem ao longo do tempo, fazendo com que as diferentes gerações sejam afetadas pelas mais diversas práticas discriminatórias existentes em uma sociedade.
	Em práxis, a teoria da Discriminação Intergeracional se manifesta de diversas formas, como por exemplo: se uma pessoa negra, por questões de desigualdade e/ou discriminação, é vedada de ter acesso as mesmas oportunidades do que uma pessoa branca, tais como estudo, moradia, alimentação, lazer, entre outros, essa mesma pessoa negra, caso tenha filhos ou filhas, esses, provavelmente, também vão sofrer das mesmas discriminações e desvantagens sociais em relação às mesmas gerações de pessoas brancas das classes sociais privilegiadas.
	Com isso, podemos associar o fato de que o encarceramento em massa da população negra é uma clara consequência do fenômeno da Discriminação Intergeracional, dado pelo fato de que, os presídios, não foram superlotados de pessoas negras de uma hora para outra, e sim, após vários séculos em uma sociedade própria de racismo e discriminação institucional; fazendo com que, esses estereótipos prescritivos negativos para com os negros, fosse passado de forma espontânea de geração em geração, até chegarmos ao ponto em que ocorrem diversas prisões arbitrárias da população negra de forma natural, despojada e recorrente. 
	Portanto, concluímos que, a Discriminação Intergeracional, é algo que se reverbera ao longo de várias gerações de uma sociedade propriamente racista e preconceituosa, fruto do complexo e estruturado fenômeno do racismo e da discriminação institucional, os quais persistem nas sociedades humanas.
Sendo que o alto número de pessoas negras encarneiradas, é apenas um dos reflexos desse complexo e maléfico sistema denominado Racismo.
3. Racismo Estrutural 
Antes de nos aprofundarmos, de forma densa e objetiva, no conceito de Racismo Estrutural, é de extrema importância que nos atentemos para uma distinção conceitual importante entre racismo, discriminação e preconceito. 
Preconceito é um julgamento sem conhecimento de causa, ou seja, julgar algo ou alguém sem antes conhecê-lo. Discriminação é o ato de diferenciar, de tratar pessoas de modo diferente por diversos motivos. Já o racismo é algo maior do que discriminação ou preconceito; esse se caracteriza pelas formas, nem sempre conscientes e também coletivas, de desfavorecer negros e indígenas e privilegiar os brancos. É uma forma de preconceito ou discriminação motivada pela cor da pele ou pela origem étnica de alguém. 
Dessa forma, podemos concluir que, na extensão dos conceitos, o racismo está dentro dos conjuntos “preconceito” e “discriminação”, entretanto, não os sucumbe.
 	Com isso, após essa breve diferenciação, podemos começar a definir e conceituar o que é o Racismo Estrutural. 
O Racismo Estrutural, comumente, ocorre através de medidas arbitrárias e desvantagens sociais que instituem a submissão dos negros e indígenas perante os bancos, os colocando em uma situação de sujeição definitiva. 
Além disso, o Racismo Estrutural está cristalizado na cultura de um povo, de um modo que, muitas vezes,nem parece racismo. 
O Racismo Estrutural se caracteriza por ser um conjunto de várias formas de racismo, incluindo o racismo individual e o institucional, que estruturam a sociedade e naturalizam em sua consciência que o lugar do negro está ligado à servidão ou à criminalidade. 
Em sociedades como a brasileira, o racismo determina a forma como pensamos; assim, a cor da pele significa muito mais do que um traço da aparência, ela é associada a capacidades intelectuais, sexuais e físicas.
Entretanto, alguns autores que redigiram sobre o tema, se distanciaram dessa concepção de que o Racismo Estrutural estaria enraizado na natureza psicológica e individual da sociedade. Esses autores revelam que, “mecanismos discriminatórios como o racismo, não devem ser vistos apenas como expressão comportamental, mas sim como sistemas de controle social que informam diferentes aspectos da vida dos indivíduos.”
Portanto, para uma parte da doutrina, o Racismo Estrutural seria um conjunto de hábitos e práticas racistas que estariam presentes e naturalizados na consciência da sociedade em geral. Para outra parte da doutrina, o Racismo Estrutural seria uma espécie de controle social que rege o exercício da sociedade.
A presença do Racismo Estrutural pode ser percebida na constatação de que, poucas pessoas negras ou de origem indígena, ocupam cargos de chefia em grandes 
empresas; de que, nos cursos das melhores universidades, a maioria esmagadora dos 
estudantes, quando não a totalidade, é branca; ou quando há, de forma natural e descriminada, a utilização de expressões linguísticas e piadas racistas. 
Além disso, outra evidência da frequente e natural presença do Racismo Estrutural em nossa sociedade, é o fato de que, enquanto a maior parte dos habitantes é negra (54%), quase todos (96%) os parlamentares são homens brancos.
Todas essas estatísticas racistas se dão pelo fato de que, inexistem políticas públicas que facilitem o acesso e a permanência de crianças negras nas escolas e nas creches; pelo fato de ainda existirem mecanismos discriminatórios que complexificam as oportunidades profissionais dos negros em geral; pelo fato de haver a ausência de representatividade dos negros na participação de processos decisórios; entre outros motivos. 
Todos esses fatores atuam de forma conjunta promovendo o Racismo Estrutural através de discriminações e preconceitos para com a população negra nos mais diversos âmbitos da sociedade.
Como consequência disso, muitas dessas pessoas negras, por falta de oportunidades iguais as dos brancos, se convertem à marginalidade, pois veem nela a oportunidade de um futuro melhor e uma chance de sair daquela situação de pobreza e preconceito em que vivem. 
Com isso, podemos constatar que, a maioria das pessoas negras que estão encarceradas hoje, e as que ainda viram a serem presas, são todas vítimas do Racismo Estrutural, uma vez que, na maioria esmagadora das vezes, são presos, os jovens homens negros que estão trabalhando no tráfico ou furtando celulares, comida, produtos de higiene pessoal, entre outros; tudo isso com a finalidade de poderem ter as mesmas roupas, os mesmos objetos pessoais e até mesmo os alimentos que as pessoas brancas tiveram por meio de seus privilégios.
Contudo, os tribunais brasileiros não compactuam desse entendimento. Nossos tribunais não levam em conta todos esses fatores expostos, nem o fato de o racismo estar enraizado em nossa sociedade, decretando, na grande parte dos casos envolvendo pessoas negras, penas de reclusão em regime fechado, as quais devem ser consideradas arbitrárias e racistas levando em conta todo o histórico apresentado. 
Por conseguinte, após toda essa contextualização acerca do Racismo Estrutural e de como esse fenômeno afeta a vida das pessoas negras de forma silenciosa e desastrosa, além da exposição do precário e arcaico entendimento dos tribunais brasileiros em geral, podemos então, correlacionar o encarceramento em massa da população negra ao Racismo Estrutural.
O encarceramento em massa dos negros, como já visto anteriormente, está relacionado à diversos fenômenos, mas em especial ao Racismo Estrutural, visto que esse, além de estar implantado na consciência da sociedade, rege o andamento dela, consequentemente, determina a forma de agir de todos os setores da mesma, incluindo do sistema de justiça. 
Portanto, podemos responsabilizar diretamente o Racismo Estrutural pela grande parte dos negros e negras encarcerados hoje, os quais são apenas vítimas desse sintoma racista da sociedade.
4. Preconceito
A expressão Preconceito é caracteriza por ser uma prática negativa ou um costume negativo de alguém ou algum grupo perante outra pessoa ou outro grupo, os quais são equivocadamente categorizados como diferentes ou inferiores.
 O Preconceito é como um pré-julgamento, uma concepção que já existe sem que haja fundamentação científica para tal opinião. Em outras palavras, o Preconceito é criado a partir de crenças e superstições discriminatórias que, na maior parte das vezes, sustentam o ódio e o repúdio a determinado grupo, em especial, aos grupos minoritários como os negros.
Ainda, o Preconceito é um juízo de valor criado sem razão objetiva e que se manifesta por meio da intolerância. Geralmente, envolve o rechaço à condição social, nacionalidade, orientação sexual, etnia, maneira de falar ou de se vestir de um indivíduo ou de um grupo social.
Portanto, esse fenômeno discriminativo surge por meio do julgamento nocivo que se faz sobre as diferenças entre as pessoas. Esse tipo de atitude é muito prejudicial à sociedade como um todo, visto que gera desentendimentos, intrigas, ódio, entre outros.
Vale destacar também que, os indivíduos mais preconceituosos, cresceram em contextos onde o preconceito era manifestado por atitudes discriminatórias; assim, eles carregam consigo determinadas ideologias geradas por uma base irracional.
 	Todas essas formas de preconceito citadas, são oriundas de concepções culturais discriminatórias que atuam como mecanismos que legitimam diversos costumes segregatícios.
Ao passo que os grupos majoritários, como os brancos, são identificados como superiores por apresentarem certas qualidades vistas como desejáveis, os grupos minoritários, como os negros, são vistos como inferiores por não possuírem essas características. 
Dessa forma, o termo Preconceito, deve ser visto como um aspecto comportamental, visto que estabelece uma insinuação indireta aos padrões sociais de convivo dos indivíduos entre si.
Contudo, antes de nos especificarmos acerca do Preconceito racial, é impossível não associá-lo ao processo histórico de construção da sociedade brasileira, como já dito inicialmente, marcada por um passado escravocrata. 
A escravidão no Brasil promoveu um processo de desumanização, no qual o escravo passou a ser visto pelo proprietário como instrumento de trabalho, um produto, uma coisa. Essa desumanização foi fortalecida com as justificativas religiosas dadas para a escravização, quando parte da Igreja afirmava que o negro era despojado de alma.
O preconceito contra o negro foi ainda reforçado pela realidade histórica, já que, com a abolição da escravatura em 1888, o negro não foi inserido no mercado de trabalho 
assalariado, tampouco na sociedade, permanecendo confinado em guetos e áreas periféricas.
Com isso, o Preconceito racial em específico, se fundamenta na existência de diferenças físicas e socioculturais que, supostamente, tornam os brancos melhores do que os negros. 
Esta hipotética superioridade se sustenta na perpetuação de mitos raciais e de falsas verdades que se escondem na forma de estereótipos, um tipo de imagem enraizada em nossa memória e que passamos a considerá-la como realidade.
Por fim, é importante destacar também que, ao contrário do que o senso comum acredita, o Preconceito não se manifesta apenas de forma negativa no sentido que é para com os negros. Este pode se manifestar através de uma acepção positiva acerca de um grupo, como é com os brancos.
Dessa forma, podemos dizer que, os brancos,em especial os homens brancos, por fazerem parte de um grupo majoritário, sofrem de um Preconceito positivo, visto que são rotulados com características físicas e socioculturais exemplares e desejáveis. 
Contudo, como o foco da presente tarefa é o encarceramento em massa da população negra, devemos nos reter ao Preconceito negativo para com esse grupo social.
À vista disso, podemos dizer que, o alto número de pessoas encarceradas hoje no Brasil, além de estar relacionado aos outros fenômenos já citados, também é consequência direta do Preconceito; o qual, apesar de ser vetado pela Constituição Federal em seu Artigo 5º e em diversas outras leis como a Lei n.º 7716 (1989), ainda está presente em nossa sociedade, atuando ativamente com a finalidade de impedir que as minorias, como os negros, ameacem a posição de prestígio social ocupada pelos grupos sociais dominantes. 
	Portanto, podemos concluir o raciocínio acerca do Preconceito, sustentando que, grande parte da população negra está encarcerada com o objetivo de manter os grupos majoritários na alta cúpula da sociedade, asseverando dessa forma, as hipotéticas e equivocadas características negativas dos negros perante os brancos.
5. Estereótipos descritivos e prescritivos
Em primeiro plano, é válido destacar que, os Estereótipos, tanto os descritivos como os prescritivos, e o Preconceito (definido anteriormente), apesar de terem suas visíveis distinções, são fenômenos que envolvem um ao outro. 
Os Estereótipos descritivos e prescritivos são caracterizados por serem responsáveis pelos pré-julgamentos cognitivos que algumas pessoas fazem em relação à outras, revelando, dessa forma, os princípios e crenças sociais racistas e discriminativos impugnados na sociedade pelos grupos majoritários presentes na mesma.
Os Estereótipos em geral, definem a forma com que a sociedade como um todo enxerga determinado grupo social, estabelecendo certo modelos mentais que conduzem 
a percepção das pessoas. 
Esse fenômeno discriminativo é instaurado na sociedade através da socialização dos indivíduos, os quais, inicialmente de forma inocente, reproduzem as culturas discriminatórias acumuladas nessa sociedade; expondo novamente aqui, o fator do Racismo Intergeracional.
Os Estereótipos atuam através de uma série de associações maléficas e discriminatórias feitas sobre determinados grupos, as quais são oriundas de um preconceito intelectual institucionalizado.
Esses preconceitos intelectuais e cognitivos são resultados de errôneas e simbólicas associações inseridas na mentalidade da sociedade em geral.
No tocante a formação desses estereótipos, esses são frutos de um processo de categorização que englobam a atuação dos preconceitos cognitivos. 
Os Estereótipos, tanto os descritivos quanto os prescritivos, como já dito anteriormente, são inseridos nos indivíduos de uma sociedade discriminatória desde o período da infância, onde esses indivíduos começam a ter suas primeiras interações com outros indivíduos.
Portanto, os indivíduos dessas sociedades, passam a aderir, de forma inconsciente e inocente, esses preconceitos cognitivos culturais, antes mesmo de desenvolver suas próprias habilidades cognitivas naturais e racionais, as quais, sem dúvidas, desconstruiriam esses princípios discriminatórios que lhes são impostos involuntariamente; não permitindo, com isso, que estes indivíduos desenvolvam uma visão de mundo sem prévios preconceitos infundados. 
No que se refere a finalidade dos Estereótipos, podemos delinear que esse se resume em estabelecer “condições culturais que permitem a legitimação das hierarquias sociais”. 
Além das falsas percepções sobre determinados grupos minoritários, os Estereótipos, como exposto anteriormente, se dividem em um caráter descritivo e um caráter prescritivo. 
Os Estereótipos descritivos são responsáveis por estabelecerem características hipotéticas sobre um certo grupo de indivíduos; fazendo com que, a sociedade como um todo, acredite que todos os indivíduos daquele grupo possuem as mesmas características negativas e/ou inferiores, agindo de maneira incompatível com os padrões morais e sociais estabelecidos por aquela sociedade. 
Esse tipo de comportamento imoral é conceituado como algo oriundo da natureza dos indivíduos daquele grupo, motivando o tratamento inferior e discriminatório pela “sociedade moral”, a qual é composta por grupos majoritários e preconceituosos. 
Os Estereótipos prescritivos são aqueles responsáveis por determinar o lugar que determinada pessoa deve ocupar na sociedade. 
Dessa forma, os grupos majoritários vão obter uma posição de maior prestígio social, enquanto os grupos minoritários vão ocupar uma posição de menor prestígio social. 
Portanto, as atitudes preconceituosas vinculadas a esses Estereótipos, atuam como “mecanismos que restringem as possibilidades de inserção social de minorias ao influenciarem o comportamento daqueles que detém poder sobre eles. Assim, comportamentos tendenciosos podem ter consequências significativas porque eles influenciam o comportamento de atores públicos e privados, numa perversa correspondência biunívoca.”
Cabe aqui ressaltar também que, os grupos majoritários que dominam a sociedade, também são categorizados por Estereótipos descritivos, entretanto, esses são Estereótipos positivos e benéficos, designando as distinções sociais e as funções privilegiadas que esses podem desfrutar. 
	Contudo, não podemos deixar de lado o fato de que indivíduos de uma mesma sociedade apresentam feedbacks diferentes em relação a esses Estereótipos.
Isso ocorre pelo fato de que, os princípios pessoais de um indivíduo, podem ou não, estar de acordo com o conteúdo desses Estereótipos; sendo que, muitas pessoas não interpretam que crenças individuais acerca de outros grupos são equivalentes aos Estereótipos prescritivos ou descritivos, motivando ainda mais descriminação baseada em falsos parâmetros racionais. 
Por outro lado, muitos indivíduos, através de seus princípios pessoais, acreditam que os Estereótipos não são maneira correta de reger as relações da sociedade, rejeitando-os voluntariamente. 
Isto posto, podemos concluir então que, os Estereótipos descritivos e prescritivos, atuam no plano inconsciente da sociedade, influenciando o comportamento dos indivíduos em todas as suas áreas, através de análises cognitivas discriminatórias pré-conceituadas. 
Com isso, podemos relacionar o fato de os Estereótipos estarem ligados indiretamente ao encarceramento em massa da população negra, de forma discreta e inconsciente, visto que, é extremamente fácil, através de procedimentos legais formalizados, achar uma fator não ligado à cor de uma pessoa para discrimina-la de forma sancionada; basta apenas, o (a) juiz (a) que está julgando o caso, dar maior ênfase as evidências favoráveis à outra parte. 
Portanto, os Estereótipos descritivos e prescritivos, estão impugnados na sociedade em geral, regendo a forma com que seus indivíduos enxergam determinados grupos.
Dessa forma, grupos minoritários como os negros e as mulheres, na maioria das vezes, de forma inconsciente, sempre serão vistos e pré-conceituados com características inferiores de imorais. 
Com isso, estes sempre estarão relacionados à marginalidade, fazendo com que, instituições públicas, como o judiciário, por exemplo, condene previamente, na maioria esmagadora das vezes , os réus pertencentes aos grupos minoritários; proporcionando a atual e alta população negra encarcerada, sendo esse, apenas uma das consequências desses Estereótipos. 
6.  Capacidades Humanas
As Capacidades Humanas são caracterizadas por representarem as liberdades fundamentais de uma pessoa, ou seja, aquelas extensões indispensáveis para a sua realização individual e a sua inserção na vida e no ordenamento social.
É um fenômeno que alcança a percepção da pessoa como agente social ativo, isto é, um sujeito com condições de interferir e com poder de tomar decisões nas mais diversas áreas da sociedade.
Nesse sentido, esse agente social ativo, interfere e influencia criticamentena organização institucional, social e cultural da sociedade onde vive; realizando todas as demais atividades, como trabalho, lazer, educação, prática religiosa, entre outras.
 	Na mesma perspectiva, esse agente interfere politicamente na organização social, detendo diversos instrumentos e mecanismos disponibilizados pela democracia, como por exemplo, o direito de votar e ser votado, de livre associação, de ir e vir, de expressão do pensamento e imprensa livre. 
Uma atuação assim, é caracterizada como fundamental para a efetivação das liberdades fundamentais e a concretização da justiça e o fortalecimento e o aprimoramento da própria democracia.
Contudo, para que isso ocorra de forma plena, o conjunto de atores sociais, em específico, as instituições e seus macanismos, precisam oferecer as condições necessárias para que as pessoas realizem livremente suas escolhas. 
Dado isso, podemos novamente voltar ao processo de democratização da nossa sociedade, onde, a poucas décadas atrás, grupos minoritarios como os negros e mulheres, não dispunham de todas as capacidades que um homem branco dispunha.
Este fato está relacionado à todos os demais fenômenos discriminatorios vistos anteriormente, em virtude de a Capacidade Humana estar condionada a diversos fatores, como o grupo social em que o indivíduo está inserido, sua etnia, sua sexualidade e entre outros fatores.
Um fato curioso e significativo que demonstra como as Capacidades Humanas estão diretamente relacionadas aos fenômenos preconceituosos, é o fato de a atual definição encontrada no Merriam-Webster (importante dicionário norte-americano) para a palavra "racismo”, traduzida para o português é: "1. Uma crença de que a raça é o principal determinante das características e capacidades humanas e que as diferenças raciais produzem uma superioridade inerente a uma determinada raça...”
Portanto, como exposto, as Capacidades Humanas, ao invés de serem inerentes a todos os humanos sem distinções, como o próprio nome já diz (Humanas), está diretamente relacionada com os diversos outros fenômenos discriminatórios.
Dessa forma, podemos dizer que, pessoas negras e os demais indivíduos de outros grupos minoritários, não desfrutam da plena Capacidade Humana por conta dos 
preconceitos e discriminações que são feitos à sua pessoa. 
Com isso, a alta população de negros nos presídios hoje, é vista como justificável pelos grupos majoritários da sociedade, como os brancos, que acreditam que os negros não possuem a mesma capacidade intelectual e cultural do que eles.
7. Encarceramento em massa
Concluindo o raciocínio, podemos dizer que, todos esses fenômenos discriminativos e preconceituosos analisados até o presente momento, como a discriminação institucional, discriminação intergeracional, o racismo estrutural, preconceito, estereótipos descritivos e prescritivos e as capacidades humanas; são fenômenos que, sozinhos, já são responsáveis por diversas consequências graves e negativas para com os negros.
Contudo, a vinculação e a atuação conjunta desses elementos, gerou, entre outros resultados, a alta porcentagem de pessoas negras encarceradas no país.
Vale ressaltar também que, esse alto número de negros encarcerados, é fruto de um longo período de vivencia em uma sociedade portadora de racismo e discriminação institucionalizada; sendo que, futuramente, caso não se mude todo o contexto social no qual estamos inseridos, aparecerão outras consequências da atual configuração de sociedade em que vivemos.
	Por fim, concluímos que, para dar fim a essa e as demais futuras consequências, é necessário que se haja uma mudança radical em todas as áreas da atual sociedade, como no sistema de justiça como um todo, na educação, na segurança pública, na formação dos indivíduos como agentes democráticos, no sistema de saúde, entre outros.
Dessa forma, podemos começar a sonhar com uma sociedade igualitária, onde não há nenhuma distinção por raça, sexualidade, etnia, entre outros; gerando, dessa forma, uma vida justa e digna para todos os grupos minoritários, assim como, admiravelmente, prevê nossa Constituição Federal.
Bibliografia 
Texto: Moreira - O que é discriminação?
Texto: Moreria - discriminação institucional
https://www.youtube.com/watch?v=cIBRsLA8ECQ
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http://ubuntuigualdade.blogspot.com/2011/12/discriminacao-institucional-e.html
http://unisinos.br/blogs/neabi/2013/02/04/a-historia-do-racismo-documentario/#:~:text=O%20racismo%20surge%20realmente%20nos,a%20for
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https://www.todamateria.com.br/preconceito/
https://www.coladaweb.com/sociologia/preconceito-racial
https://moniqueraphaelli.jusbrasil.com.br/artigos/376902005/teorias-de-discriminacao-e-a-situacao-da-mulher-no-mercado-de-trabalho
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https://atarde.uol.com.br/educacao/noticias/2130207-dicionario-muda-definicao-da-palavra-racismo-apos-estudante-reivindicar
http://ve.scielo.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0798-43242014000200004
Integrantes 
Klaus Donadel Costa Reimer 
TIA: 31970001

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