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[Resumo] Fisiologia - Introdução à Fisiologia

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1 FISIOLOGIA RAUL BICALHO – MEDUFES 103 
Introdução à Fisiologia 
INTRODUÇÃO 
O Professor Leonardo deu uma palestra inicial sobre os conceitos básicos de fisiologia. Isso para refletir um 
pouco sobre esses conceitos que, muitas vezes, podem estar um pouco deturpados na nossa cabeça ao iniciar o curso 
ou até pode haver pessoas que ainda não os conhecem. Além disso, essa palestra é feita para entendermos a 
importância da fisiologia no conhecimento das outras disciplinas e na integração entre elas. 
ETIMOLOGIA DA PALAVRA 
 Para se entender alguma coisa, quase sempre seguimos como primeiro caminho a origem da palavra. Sendo 
assim, iniciaremos entendendo o que significa “Fisiologia”. 
 Assim como na palavra “Física”, a “Fisiologia” possui 
como radical a palavra em latim “Phýsis”, que significa a 
natureza, o todo, o natural. Como na fisiologia devemos 
entender na integração, nas relativas complexidades e níveis 
hierárquicos que podem transitar nessa matéria, não 
devemos nos ater a pensar nessa “natureza” da “Phýsis” 
como simplesmente o meio ambiente, uma floresta, rios e 
mares etc. A “Phýsis” é, além disso, a natureza como um todo. 
A “Phýsis” é o objeto de estudo da fisiologia e da 
física. A diferença é que a física usa como objeto de estudo a 
parte “não-vida” da “Phýsis” e a fisiologia usa como objeto 
de estudo a parte “vida” da “Phýsis”. 
HISTÓRIA E FILOSOFIA SOBRE A “PHÝSIS” 
Usaremos um pouco da história e da filosofia para agregar conhecimento sobre conceitos importantes que 
precisaremos mais para frente. 
Em certo momento, algumas pessoas começaram a pensar sobre o 
que era constituída essa tal “Phýsis” ou a natureza. Daí, os primeiros 
pensadores imaginavam que ela era composta por um elemento 
único/central, isso era chamado de “Phýsis unitária”. Alguns exemplos de 
pensadores unitaristas são: Tales de Mileto, Anaxímenes e Heráclito, eles 
imaginavam que a natureza tinha um fundamento, uma matéria única/final. 
Hoje em dia sabemos que nossa constituição, tanto biológica quanto a 
“Phýsis” como um todo não é tão homogênea e é bem pouco provável que 
tenhamos uma “Phýsis” única. 
Atualmente é muito mais fácil se imaginar que nós somos formados por uma 
heterogeneidade de coisas/elementos, o que segue a linha da escola pluralista, que imaginava 
que a “Phýsis” era formada por um conjunto de coisas. Um dos pensadores dessa escola é 
bem importante para medicina/saúde, que foi Hipócrates, que dizia a respeito dos 4 Khymós 
ou 4 humores que compõem o organismo. Eles são 4 elementos/partes fundamentais do 
organismo vivo que precisam ter um equilíbrio dinâmico (Eukrasia) entre si. Nesse sentido, a 
saúde ou integridade da “Phýsis” humana derivava do equilíbrio entre os 4 Khymós (Sangue, 
bile amarela, bile negra e fleugma). Esse equilíbrio, porém, é dinâmico, possui certa 
plasticidade/maleabilidade/heterogeneidade, inclusive para manter essa “Eukrasia”. 
PROF. LEONARDO 
 
 
2 FISIOLOGIA RAUL BICALHO – MEDUFES 103 
Portanto, apresenta-se o conceito de equilíbrio dinâmico, por exemplo em que alguns momentos alguma coisa 
aumenta, em outros momentos outra coisa aumenta. Isso tudo ocorre controladamente para que cada momento 
esteja de acordo com a necessidade de seu equilíbrio, de sua “Eukrasia”. 
Continuando a história e a filosofia, alguns outros pensadores trouxeram interpretações importantes para o 
entendimento da fisiologia. 
PLATÃO E A ALMA TRIPARTIDA: 
 A alma tripartida de Platão dizia que a nossa alma era formada por 3 partes, o que recapitula a ideia pluralista 
de “Phýsis”. Seriam 3 partes com papéis muito bem determinados, teríamos uma parte da alma que seria a 
“Sustentação” do nosso “eu”, outra parte que seria a “Propulsão”, o que nos faria movimentar, agir, sentir, pensar, 
amar. Já a última parte da nossa alma faria a “Condução” da sustentação propulsionada pela segunda parte. 
 Faz-se uma analogia dessa teoria com uma carruagem, cavalos e o regente. 
Nesse sentido, cada um teria um papel fundamental para que o todo 
funcionasse bem. Porém, em determinados momentos eu preciso de uma 
carruagem mais forte, em outros eu preciso que o regente segure as rédeas e 
em ainda outros momentos eu preciso que o cavalo entenda as ordens e busque 
mais sua função. 
Sendo assim, aqui há outra atuação do equilíbrio dinâmico já 
mencionado, não sendo um equilíbrio estático que possui sempre as mesmas 
medidas para as mesmas coisas, visto que este não funciona muito bem em se 
tratando da “Phýsis”. 
ARISTÓTELES - A PERMANÊNCIA, A MUDANÇA E O PRINCÍPIO DAS 4 CAUSAS: 
 Segundo Aristóteles, as coisas só conseguiriam ficar, existir e permanecer 
se tivessem a capacidade de mudar. Então, a permanência só era possível por meio 
da mudança. Remetendo novamente ao equilíbrio dinâmico. 
 Outro pensamento de Aristóteles era o “Princípio das 4 causas”. De acordo 
com ele, todas as coisas da “Phýsis” poderiam ser categorizadas pelas suas 4 
causas, ou seja, todas as coisas que existiam possuíam 4 causas fundamentais, que 
seriam as causas formal, material, eficiente e final. 
 A causa formal é como essa coisa se apresenta, é como eu enxergo-a, é 
qual a textura, é qual o tamanho, é como eu consigo sentir por meio dos meus 
sentidos. Resumindo, a causa formal é como essa coisa se apresenta. 
 A causa material é do que essa coisa é formada, qual é a matéria fundamental, qual é a matéria-prima, se é 
uma matéria única, se é combinada etc. 
 A causa eficiente é como essa coisa foi feita, por que ela virou isso, qual foi o processo para essa coisa ser essa 
coisa. Seria literalmente a “causa” de determinada coisa. 
 Já a causa final é para que serve essa coisa. Seria como a “consequência” de determinada coisa. 
 
Ex.: Uma estátua é uma coisa da “Phýsis” não-vida. Nesse sentido, ela possui as 4 causas. A 
causa formal da estátua pode ser um homem ereto com braços, nu, usando uma coroa, com 
vasos sanguíneos a mostra, tendões tensionados etc. A causa material da estátua pode ser 
bronze, mármore, pedra etc. A causa eficiente é o artista trabalhando nessa obra, é a 
construção, o método, o processo de se esculpir. A causa final da estátua é para uma 
exposição, para enfeitar uma praça pública, por exemplo. 
 
 
3 FISIOLOGIA RAUL BICALHO – MEDUFES 103 
ESCOLA DE ALEXANDRIA: 
 
Alexandre, um dos discípulos de Aristóteles, grande general e filho de um grande general (Felipe da 
Macedônia), na época da fundação do Império Macedônico, ficou muito interessado no conhecimento como peça 
fundamental para o fortalecimento de uma nação. Logo, resolveu fundar um grupo de pensadores, de onde surgiu a 
Escola de Alexandria, chamando os principais pensadores nas áreas de astronomia, matemática, literatura, artes, 
medicina, filosofia etc. Foi uma escola tanto no sentido físico (estrutural, existia um local onde ocorria), quanto uma 
escola no sentido ideológico (conjunto de pessoas que cursam através de reuniões, reflexões, estudos e indicações a 
construção de ideias). 
Alguns dos seus estudiosos começaram a inovar, pois além de simplesmente contemplar a “Phýsis” e imaginar 
sobre respostas, ideias e conceitos sobre ela, eles começaram a dar um passo a mais, que era subjugar a “Phýsis”, 
testá-la, experimentá-la. A partir da Escola de Alexandria, então, começaram a aprofundar mais no estudo da “Phýsis”, 
no sentido de não só entender sua constituição, mas aplicá-la. 
Um dos grandes nomes da Escola de Alexandria foi Herófilo, um exímio dissecador/anatomista. Era 
famosíssimo por suas belas dissecações e suas publicações a respeito da constituição anatômica da “Phýsis” vida. 
Erasistratus era um de seus parceiros de trabalho, porém enquanto Herófilo fazia dissecações em praças públicas, 
aulas-show de dissecções, às vezes dissecções de animais vivos, o Erasistratus dissecava e fazia experimentos, 
observava se as característicasda constituição, as causas material, formal e eficiente modificavam das coisas da 
“Phýsis” vida na ausência e na presença de determinada condição. Sendo assim, ele começou a subjugar a “Phýsis”. 
 
Herófilo Erasistratus 
 
4 FISIOLOGIA RAUL BICALHO – MEDUFES 103 
 
 Erasistratus é considerado até, por algumas pessoas, como o 1º Arritmologista da história, que detectou a 
arritmia de quando a paixão estava por perto. 
Quadro “Antíoco e Estratonice” ou “O mal de Antíoco”: 
Nicátor, um dos governadores de Alexandria, casou-se e teve um filho primogênito, sua esposa faleceu e 
com o tempo ele se casou novamente com uma jovem bonita, Estratonice, filha de outro governador. Daí, o filho 
de Nícator, Antíoco, que seria seu sucessor, começou a apresentar problemas de saúde, a ficar mais melancólico, 
a ficar mais retraído, a ficar desinteressado pelas questões do governo, a ficar desinteressado pelas conversas com 
o pai e, então começou a ficar doente biologicamente de fato, apresentando algumas doenças, dormindo mais que 
o necessário, faltando treinamentos de combate. Sendo assim, seu pai, preocupado, chamou pensadores da Escola 
de Alexandria, como médicos, por exemplo, para tentar descobrir o que estava acontecendo com Antíoco. Sendo 
assim, Erasistratus começou a investigar a vida de Antíoco para desvendar a situação e para isso começou a morar 
junto deles e a observar diariamente Antíoco de perto, observando em que condições seus sintomas apareciam, 
em que condições esse mal não era tão evidente etc. Ao fazer suas comparações, pode traçar a sua hipótese 
diagnóstica. Logo, em certo momento, que foi registrado nesse quadro, Erasistratus pode falar o seu resultado, 
junto de Antíoco deitado, Nicátor e Estratonice ao lado. Sendo assim, ele revela que a doença do filho era o amor 
pela esposa do pai, no caso um amor reprimido devido à situação, por se tratar de um amor impossível e 
inalcançável ele adoece seu coração e, quando o coração está doente, o resto do corpo adoece junto. Nesse 
sentido, a única forma de reparar esse mal seria a união de Antíoco e Estratonice, portanto, Nicátor, querendo o 
bem do filho, permite que isso aconteça e o mal de Antíoco é curado. 
 
Erasistratus descobrindo a causa do mal de Antíoco (1774), de Jacques-Louis David. 
 
5 FISIOLOGIA RAUL BICALHO – MEDUFES 103 
 Essa história é interessante porque mostra que os pensadores começaram a não simplesmente observar a 
“Phýsis”, mas comparar situações e experimentar, como por exemplo a ideia de que se Antíoco ficasse com Estratonice 
ele iria melhorar, que foi o que aconteceu. 
 Muito da história de Alexandria foi perdido, por causa de incêndios que se sucederam na região, a não ser 
algumas exceções que eram recolhidas por viajantes e acabaram sendo salvadas. Sendo assim, muitos conhecimentos 
atuais da matemática, física, filosofia e fisiologia, por exemplo, são decorrentes da história de Alexandria. 
WILLIAM HARVEY – TEORIA DA CIRCULAÇÃO SANGUÍNEA 
 No século XVI, William Harvey, que era um exímio 
dissecador e anatomista de primeira, mas também um cara 
inquieto que gostava de testar tudo. Sendo assim, ele usava os 
seus artifícios, a sua capacidade de dissecção e cirurgia para fazer 
algumas cirurgias em animais ou cadáveres, sendo um dos 
primeiros a descrever a circulação sanguínea. Fez isso testando 
a capacidade de formar edema, por exemplo, em um membro 
comprimido superficialmente; ou quando o membro é 
comprimido muito começando a ficar roxo. Com esses 
experimentos, ele começou a traçar suas hipóteses sobre o 
caminho e a circulação sanguínea. 
Portanto, damos destaque para o início do estudo prático da fisiologia. E veremos mais tarde que a 
experimentação é a base da escola fisiológica. 
AS ESCOLAS FISIOLÓGICAS 
Nesse momento ainda não existia o nome “Fisiologia”, quem estudava eram os médicos, filósofos, biólogos 
etc. Daí, mais ou menos no século XIX, começam a surgir as escolas de fisiologia. A partir disso, começou-se a 
denominar os estudiosos da “Phýsis” como fisiologistas. 
Fisiologia Vitalista: 
Uma das primeiras escolas foi a escola de Fisiologia Vitalista, que teve como alguns destaques Xavier Bichat e 
Johannes Müller. Essa escola tentava estudar as funções, as características da “Phýsis” vida, mas colocando como 
parte fundamental uma coisa etérea, um sopro de vida, alguma coisa divinal, isso era o que explicaria a diferença entra 
a parte vida e a parte não-vida da “Phýsis”. Então o papel do fisiologista é estudar como esse sopro divido, essa parte 
divinal influencia sobre o biológico e faz ele ser diferente de uma pedra, um metal, por exemplo. 
Fisiologia Reducionista Materialista: 
Quase na mesma época, bebendo na água de René Descartes, num meio em que a matemática e a física 
avançaram bastante, alguns pensadores tentavam aplicar os conhecimentos mecânicos deterministas de Descartes 
sobre a parte vida da “Phýsis”. Podemos chamar essa escola de fisiologia de “Grupo de Berlim” ou Escola da Fisiologia 
Reducionista Materialista. Ela era um embate com a Fisiologia Vitalista, porque a materialista reducionista era aquela 
que dizia que não há necessidade em separar a “Phýsis” vida da não-vida, porque todos os processos que envolvem a 
“Phýsis” vida podem ser explicados por leis matemáticas/da física, então o corpo humano nada mais é do que uma 
máquina em que eu posso predeterminar o seu funcionamento com base em leis já estabelecidas pela matemática e 
pela física. 
Fisiologia Positivista: 
Chegamos num contexto, então, em que havia dois extremos: um que completamente ignorava os conceitos 
físicos e jogava o “não-entendível” para o divinal; e outro que ignorava qualquer coisa não determinada pelas leis 
físicas e matemáticas. 
 
6 FISIOLOGIA RAUL BICALHO – MEDUFES 103 
No meio dessa história, tem um outro grupo, que acreditava no meio termo, chamado de Escola Positivista, 
liderada por François Magendie e Claude Bernard. Eles diziam que as leis físicas e matemáticas eram importantíssimas 
e úteis para auxiliar no entendimento da “Phýsis” vida, muitos dos nossos processos, mas não todos, podem ser 
explicados por equações, por relações, por funções matemáticas e físicas. Acontece que, para eles, o que diferencia a 
“Phýsis” vida da “Phýsis” não vida não é algo divinal e sim algo próprio da vida e que isso sim é o meu objetivo em 
estudar, algo que não é determinado ainda porque não se estudou, não se desenvolveu métodos eficientes para isso, 
não se possui sensibilidade ou tecnologia para isso. Essa escola acreditava, então, que a “Phýsis” vida possuía leis 
próprias, as equações que regem a “Phýsis” vida são compostas por elementos da física, da matemática e da química, 
mas possui elementos próprios também, que ainda não foram descobertos e que aos poucos vão sendo descobertos. 
A Escola Positivista, então, acredita que a “Phýsis” tem leis fisiológicas. A “Phýsis” não-vida pode ser resolvida por leis 
matemáticas/físicas, mas a “Phýsis” vida utiliza conceitos da não-vida, porém com uma parte a mais, aquilo que é 
imprevisível é porque ainda está para ser estudado e descoberto, sendo sempre possível chegar nesse conhecimento. 
 Da escola positivista surgem as leis fisiológicas e, principalmente, uma 
parte da fisiologia que é a Fisiologia Experimental, porque seria muito simples eu 
dizer que o que eu não entendo é o divino e então não tento estudá-lo, entendê-
lo ou explicá-lo. É muito simples, também, eu dizer que tudo vai ser explicado 
pelas leis físicas/matemáticas e não ir atrás de resolver os problemas de 
conhecimento. Agora, quando eu defino que as leis que envolvem a “Phýsis” vida 
dependem daquilo que já foi descrito, mas também dependem de algo a ser 
descrito, isso me deixa inquieto, com metas, daí surge a fisiologia experimental, 
que vai ser pautada na indagação e na elaboração de determinadasperguntas 
para essas lacunas das leis fisiológicas. Esse passo-a-passo que é feito em qualquer 
área do conhecimento científico é baseado em observação, elaboração de uma 
determinada pergunta/indagação a respeito da natureza, elaboração de uma 
provável resposta (hipótese), experiência/teste dessa resposta, que chegarão nos 
resultados, terão as interpretações desses resultados e a conclusão, que é sempre 
a elaboração de prováveis novas perguntas com novas respostas para serem 
testadas. 
 Claude Bernard, fisiologista que foi um dos principais iniciadores dessa linha 
experimental hipotético-dedutivas, é considerado o “Pai da Fisiologia Moderna”. Em 
sua obra “Introdução ao estudo da Medicina Experimental” deixou uma frase 
fundamental para a fisiologia: “O meio interno é constante”. Nesse caso o meio 
interno seria o organismo. Essa não era uma ideia nova, as ideias de Hipócrates sobre 
Eukrasia e de Aristóteles sobre a permanência e a mudança, por exemplo, derivam de 
um mesmo conceito. 
 Porém, somente muitos anos depois, o fisiologista Walter Cannon foi dar 
nome para essa constância do meio interno, chamando de “Homeostase”. Para ele, a 
homeostase, que significa “estar o mesmo” ou “ficar a mesma coisa” significa uma 
condição, que pode variar, mas que varia dentro de uma relativa constância. 
ENFIM, O QUE ESTUDA A FISIOLOGIA? 
 A fisiologia estuda o modo como os elementos do organismo vivo (moléculas, células, tecidos, órgãos e 
organismos) se relacionam. 
 Além da fisiologia, muitas outras disciplinas estudam os elementos da Phýsis vida, como bioquímica, genética, 
citologia, histologia e anatomia. Porém, estas disciplinas do conhecimento apenas APRESENTAM os elementos 
(moléculas, células, tecidos, órgãos, sistemas, organismos, populações, ecossistemas, natureza etc.). No entanto, esses 
elementos da natureza não formam um conjunto de solitários, nem são elementos completamente independentes. 
Sempre há uma relação entre os elementos, aí que entra a fisiologia. 
 Essa relação pode ser tanto física/estrutural, mas também pode ser uma relação funcional. 
Claude Bernard 
Walter Cannon 
 
7 FISIOLOGIA RAUL BICALHO – MEDUFES 103 
 Os princípios que regem essas relação funcionais são vários, como por exemplo: Sistemas, Equilíbrio, 
Autonomia, Estabilidade, Constância etc. 
SISTEMAS 
 Sistema é qualquer conjunto de dois ou mais elementos da natureza que mantêm alguma relação funcional. 
 Em fisiologia, não necessariamente sistema deve ser um conjunto de órgãos que possuem relação, como 
sistema cardiocirculatório. Isso porque, por exemplo, um próton interagindo com um elétron já se caracteriza como 
sistema. 
 É importante estar atento para a Relatividade e o nível de Complexidade dos sistemas considerados em cada 
questão, já que uma coisa considerada sistema pode possuir vários sistemas funcionando dentro de si. 
 
 Sempre que se estabelece uma relação funcional entre dois elementos da natureza, gera-se energia. 
Quando essa energia se dissipa, perde-se para fora desse 
sistema, chamamos de Sistema Dissipativo. Nesse caso, a 
energia perdida pela relação funcional de 2 elementos de um 
sistema pode alimentar, por exemplo, a relação entre outros 
elementos de outro sistema. Alguns exemplos comuns são as 
nossas células, que no seu metabolismo liberam energia para 
fora dela, na forma de calor. Os nossos músculos também, 
quando contraem, geram calor. Os seres humanos, como um 
todo, são sistemas dissipativos, por isso que em câmeras 
térmicas visualiza-se o corpo emanando calor. 
 
Ex.: Além das moléculas interagindo formando um sistema, os órgãos de um peixe formando um sistema, temos 
os próprios peixes formando um sistema (cardume). 
 
 
8 FISIOLOGIA RAUL BICALHO – MEDUFES 103 
 Já no Sistema Conservativo, essa energia gerada pela relação funcional entre os 
elementos da natureza é utilizada para alimentar essa própria relação, ou seja, ela é 
conservada dentro do sistema. Esse tipo de sistema só existe na teoria, na natureza 
existem apenas sistemas dissipativos. Entretanto, na indústria atual já existem máquinas 
ditas semiconservativas, muito eficientes, mas mesmo que mínima, há alguma perda de 
energia. 
EQUILÍBRIO 
 Lembrando que a natureza é pautada sempre em sistemas dissipativos. Esses sistemas têm uma característica 
muito peculiar, que é consequência dessa inevitável perda de energia: o equilíbrio. 
 
 Sendo assim, a tendência natural de um sistema dissipativo é entrar em equilíbrio com o que está a sua volta. 
 A diferença de nós seres humanos para o misto quente, é que nós possuímos meios que nos permitem resistir 
um pouco a essa tendência natural, através de estratégias, reações químicas, comportamentos, cognição, memória, 
impulsos, temos meios de alimentar esse sistema dissipativo com energia. Quando o sistema exaure de suas 
capacidades ou é incapaz de alimentar energia das relações funcionais entre seus elementos, ele começa a passar a 
entrar em equilíbrio. Nesse sentido, a vida é incompatível com o equilíbrio 
Resumindo: Um sistema dissipativo, ao longo do tempo, pode entrar em EQUILÍBRIO com seu meio 
circundante, quando esse sistema esgota ou é incapaz de realizar transformações utilizando recursos ou matéria-
prima. 
ESTABILIDADE OU CONSTÂNCIA 
 Como pudemos observar, temos que buscar 
sempre estar em desequilíbrio, já que é por meio deste que os 
processos vitais podem ocorrer. Um exemplo são as células e a 
concentração de substâncias no seu meio interno, sendo bem 
diferentes da concentração em meio externo, isso sinaliza um 
desequilíbrio vital para a vida da célula, visto que caso essas 
concentrações comecem a se igualar a célula morre e, 
portanto, entra em equilíbrio com o meio a sua volta. 
Um sistema estável, então, é aquele que mantém sua 
configuração ao longo do tempo e a despeito de variações do meio, ainda que longe de um equilíbrio com este meio 
que o circunda. Os sistemas biológicos precisam manter essa constância de seus parâmetros às custas de gasto 
energético. 
 Logo, devemos tentar nos manter constantes a despeito das variações e das intempéries. Talvez essa 
característica é o que pode diferenciar a “Phýsis” vida da “Phýsis” não-vida. 
Ex.: Um misto quente deixado em cima de uma mesa, daqui 1 hora ele fica frio. Daqui 1 mês, o misto apodrece. 
Daqui 1 milhão de anos, já nem misto é mais. Daqui 100 milhões de anos, já não tem misto, nem mesa, nem o 
prédio em que estava a mesa, tudo se transformou numa mesma coisa. O que aconteceu foi que o misto entrou 
em equilíbrio com todo o meio a sua volta. 
 
 
 
9 FISIOLOGIA RAUL BICALHO – MEDUFES 103 
AUTONOMIA 
É a capacidade do sistema de se adaptar ao meio e buscar, através do seu metabolismo e do seu 
comportamento e principalmente, através de sua capacidade de adaptação, energia para manter sua estabilidade 
dinâmica. Seria a capacidade própria de transformação de matéria-prima para adição de energia nas relações 
funcionais dos elementos de um sistema. 
Alguns exemplos: Automóveis (com uso da gasolina), celulares (com uso de bateria), árvores (luz solar, água, 
nutrientes) etc. 
Essa autonomia é bem relativa, talvez o que caracterize a autonomia dos seres vivos seja a sua capacidade de 
adaptação, que um ser não-vivo / máquinas não têm. 
SER VIVO 
O ser vivo se caracteriza por ser um sistema dissipativo, estável dinamicamente, que seja capaz de manter, 
com relativa autonomia, esta sua estabilidade longe do equilíbrio com o meio que o circunda. 
Para que isso seja possível, existe uma série de processos que são importantíssimos, como por exemplo 
ativação de cognição, memória, direção, capacidade de digerir, capacidade de se movimentar etc. Esses processos, 
por garantir essa autonomia podem ser chamados de processos vitais. 
Para que esses processos vitais ocorram, necessita-se de condiçõesideais: estados estáveis internos 
(temperatura constante, pH constante, pressão osmótica, pressão sanguínea, gases dissolvidos etc.). Sendo assim, 
essas condições devem ser quase sempre iguais, para que eu consiga executar os mesmos processos vitais. 
HOMEOSTASE 
 A estabilidade, a constância (mesmo que variável) dessas condições ideais para a ocorrência de processos 
vitais é a HOMEOSTASE, conceituada por Walter Cannon lá em 1926. 
 Para entendermos melhor como podemos ser estáveis e variar ao mesmo tempo, faremos uma analogia com 
um jogo de dados e o conceito de microestado e macroestado. 
 Quando eu jogo 2 dados de vez, os números que aparecem virados para cima configuram o meu microestado. 
A soma desses 2 números configura o meu macroestado. 
 
 Ao se jogar o dado diversas vezes, o macroestado que mais sairá será 7, logo este é o macroestado mais 
provável de acontecer, podendo se dizer que é o macroestado mais estável nessa vida dos dados. 
 A homeostase seria nada mais do que “o macroestado mais provável” (por isso, mais estável) resultante dos 
microestados que o sustentam. 
 
10 FISIOLOGIA RAUL BICALHO – MEDUFES 103 
 Seguindo esse pensamento, devemos perceber o motivo de considerarmos a temperatura corpórea “normal” 
sendo 36,5ºC e a pressão arterial “normal” de 120-80 mmHg, por exemplo. Esses dados são como o número “7” do 
jogo dos dois dados, pois são o resultado mais provável e, logo, o mais estável. 
 A homeostase é a condição fundamental no qual os processos vitais funcionam. Porém, a homeostase só é 
possível quando se tem variações/mudanças/rearranjo, porque não estamos sempre frente as mesmas condições, isto 
é, temos intempéries que nos tiram da homeostase. O nome que nós damos para esse rearranjo que garante a 
homeostase é alostase. 
 
ALOSTASE 
Alostase é a capacidade de manter a estabilidade através da mudança, seria o processo fundamental através 
do qual os organismos podem ajustar eles mesmos, ativamente, frente a eventos previsíveis e imprevisíveis para 
manutenção do seu estado interno constante (homeostase). 
 Menciona-se eventos previsíveis e imprevisíveis para separar alostase corretiva de alostase preditiva. 
Podemos perceber que nem sempre é necessário sentir a mudança para que o organismo inicie sua 
manutenção de homeostase. Por exemplo, ao adentrar um ambiente frio, não precisamos necessariamente sentir 
consciência de frio para que o hipotálamo libere substâncias que aumentem o metabolismo ou que façam 
vasoconstrição da pele para evitar que se perca calor para o meio externo. De qualquer maneira, foi necessário 
detectar, mesmo que em nível subconsciente, a saída da homeostase, para corrigir através da alostase (corretiva). 
Existe outro tipo de alostase, a preditiva, que depende da cognição, memória, adaptação, que é muito mais 
presente nos organismos mais complexos, em que se pode antecipar saídas da homeostase. Pegar um casaco antes 
de entrar no frio, por exemplo, seria uma alostase preditiva. 
RETROALIMENTAÇÃO 
O sistema de corrigir frente a situações, precisa de um sensor de detecção para que possa haver a regulação 
de sistemas alostáticos. Essa regulação depende de uma retroalimentação/feedback, que é um processo pelo qual os 
sistemas alostáticos se autorregulam. Nesse conjunto, então, existe um sensor que mede a saída (analisa o 
macroestado) e um sistema que mexe na entrada 
da criação desse macroestado, que vai na 
alimentação do sistema orgânico que gera o 
macroestado e interfere. 
A retroalimentação (feedback), na 
verdade nada mais é que o resultado da ação de 
um sensor de homeostase e um processo 
alostático que busca estabilizar o sistema 
orgânico em questão. 
 
11 FISIOLOGIA RAUL BICALHO – MEDUFES 103 
Se a gente observar que o ideal é a estabilidade, o constante, sempre que alguma saída estiver em excesso, a 
medida desse excesso deve inibir a entrada, para evitar o excesso. Portanto, sempre que a medida da saída de um 
sistema detectar um nível baixo, que se tem falta, essa retroalimentação deve estimular a entrada. Esse tipo de 
retroalimentação é chamado de retroalimentação negativa, que é a mais comum para a regulação de sistemas 
orgânicos. 
Caso utilizássemos sempre o conceito de retroalimentação positiva, iniciaremos um ciclo vicioso, porque ao 
medir o excesso e estimular a entrada, a saída vai aumentar em excesso, que será detectado novamente, estimulando 
novamente a entrada e assim sucessivamente. Essa situação não configura homeostase. 
Porém, em alguns momentos, utilizamos sim da retroalimentação positiva, visto que em algumas situações 
são necessários “picos/estouros” em determinadas saídas, por exemplo em algumas resposta imune, em algumas 
fases do ciclo menstrual (nível de LH alto para estimular a ovulação), entre outros. Porém, depois de um tempo temos 
ou o sistema entrando em exaustão ou uma retroalimentação negativa inibindo essa retroalimentação positiva. 
Sendo assim, a maioria absoluta dos sistemas orgânicos trabalha com retroalimentação negativa, que é a mais 
eficiente para a garantia da homeostase. 
CARGA ALOSTÁTICA 
O tempo todo, desde o início da nossa vida até o último suspiro, a gente tem estímulos externos ou internos, 
reais ou imaginários, que nos tira da homeostase. Portanto, o tempo todo precisamos de processos alostáticos para 
corrigir esse processo, só que isso tem um custo. A quantidade de energia usada para esse rearranjo é chamada de 
carga alostática. 
Resumindo, carga alostática é a quantidade de energia metabólica que deverá ser dispensada por 
determinado mecanismo alostático para manutenção da homeostase. 
ESTRESSE VS. DOENÇA 
 Estresse é um evento real ou imaginário, interno ou externo, que ameaça a homeostase, exigindo uma 
resposta alostática (adaptativa), ou seja, todo estresse gera uma carga alostática. 
Essa carga alostática, normalmente é compensada pela capacidade de adaptação, pela autonomia. Então, 
normalmente esse estresse está dentro do limite. Porém, quando um evento ameaça a homeostase, levando a uma 
demanda de energia maior que a normalmente ofertada pelo organismo temos uma sobrecarga alostática. 
 Se uma sobrecarga alostática ultrapassa a faixa de tolerância em que ainda pode ser compensada, gera uma 
descompensação da homeostase, ou melhor, gera uma doença no sistema em questão. O estresse que gerou uma 
sobrecarga alostática, por exemplo, pode vir a ser o agente etiológico de uma doença. 
CONCLUSÃO 
A fisiologia estuda os sistemas e processos internos que atuam objetivando a homeostase, respondendo não 
só as cargas alostáticas, mas também às sobrecargas alostáticas produzidas por estresses.

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