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Artigo-Nutrigenômica

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Revista Brasileira de
Brazilian Journal of Functional Nutrition
NUTRIÇÃO
FUNCIONAL
ano 18. edição 74
www.vponline.com.br
ISSN 2176-4522
Aplicação da nutrigenômica
na determinação do melhor tipo de dieta
Uma revisão sobre os efeitos benéficos 
de fitoquímicos presentes em flores comestíveis
Panorama do desperdício 
de alimentos no Brasil
RECEITA
Sopa imunoestimulante de 
cará-moela, gengibre e alho-poró
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Andrea Plothow, Andreza Braulos de Mello, Camila Buttendorff, Gabriela Fagundes
Aplicação da nutrigenômica na 
determinação do melhor tipo de dieta
Application of nutrigenomics in determination of the best type of diet
Resumo
A genética é uma ciência que estuda a transmissão, as alterações e a expressão dos genes, estudos estes que se tornaram possíveis a 
partir do Projeto Genoma Humano. A nutrigenômica se tornou parte de um campo mais amplo, a genômica nutricional, que busca 
analisar o controle da expressão gênica, as interações entre os genes e o ambiente. Em determinadas localizações do cromossomo (locus) 
pode haver variabilidade devido a mutações na sequência do DNA. Se a mutação é encontrada em uma frequência superior a 1% da 
população, denomina-se polimórfica, e esses polimorfismos podem atuar como marcadores genéticos. A aplicação destes conceitos à 
nutrição esclarece o impacto das variações genéticas individuais nas necessidades de um determinado nutriente para um determinado 
sujeito. Testes genéticos são utilizados para avaliações nutrigenéticas, e vários polimorfismos de nucleotídeos únicos podem ser 
determinados em um único teste, havendo posterior análise individual do resultado de cada polimorfismo ou avaliação conjunta com 
outros genes também envolvidos com a nutrição. O resultado é uma análise de como cada organismo metaboliza determinados nutrientes 
ou substâncias e aponta tendências, como, por exemplo, para obesidade. Isoladamente, não são suficientes para a personalização da 
alimentação e não substituem um tratamento médico ou recomendação nutricional, mas, sim, servem como ferramenta auxiliar na 
nutrição individualizada e de precisão.
Palavras-chave: Nutrição, polimorfismos, nutrigenética, nutrigenômica.
Abstract
Genetics is a science that studies the transmission, alterations and expression of genes, and these studies have become possible through 
the Human Genome Project. Nutrigenomics has become part of a broader field, the nutritional genomics, which seeks to analyze the 
control of gene expression, interactions between genes and the environment. At certain locations of the chromosome (locus) there 
may be variability due to mutations in the DNA sequence. If the mutation is found at a frequency greater than 1% of the population it 
is called polymorphic, and these polymorphisms may act as genetic markers. The application of these concepts to nutrition clarifies 
the impact of individual genetic variations on the needs of a particular nutrient for a particular subject. Genetic tests are used for 
nutrigenetic evaluations, and several single nucleotide polymorphisms can be determined in a single test, with subsequent individual 
analysis of the result of each polymorphism or joint evaluation with other genes also involved with nutrition. The result is an analysis 
of how each organism metabolizes certain nutrients or substances and points out tendencies, such as to obesity. Individually, they are 
not enough for food customization and do not replace medical treatment or nutritional recommendation, but serve as an auxiliary tool 
for individualized and accurate nutrition.
Keywords: Nutrition, polymorphisms, nutrigenetics, nutrigenomics.
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Aplicação da nutrigenômica na determinação do melhor tipo de dieta
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Introdução
Desde o início do século XX, a genética 
geral se tornou uma promissora área da biologia 
moderna. Essa ciência conceitua-se pelos estudos 
da hereditariedade, que qualifica as características 
gênicas e fenotípicas de indivíduos e que podem 
ser transmitidas dos pais para os filhos, como, por 
exemplo, cor dos owlhos, cabelo, doenças1.
O Proje to Genoma Humano fo i um 
empreendimento internacional para determinar a 
sequência completa do genoma humano, definido 
como a soma total de informações genéticas da 
nossa espécie. A genética médica se tornou parte 
de um campo mais amplo e busca aplicar uma 
análise em grande escala do genoma humano, 
incluindo controle da expressão gênica, variação 
gênica humana e interações entre os genes e o 
ambiente2.
Estudada atualmente, a genômica nutricional 
procura fornecer conhecimentos de como os 
nutrientes afetam o balanço entre saúde e doença, 
alterando a expressão e/ou estrutura dos genes 
do indivíduo, e tem como objetivo desenvolver 
conhecimento que permita estabelecer um 
tratamento nutricional baseado no genótipo 
individual, mediante dois ramos principais: 
nutrigenética e nutrigenômica3,4.
Muitos testes genéticos são baseados em 
polimorfismos de nucleotídeo único (single 
nucleotide polymorphism – SNP) de genes 
envolvidos com efeitos metabólicos ou nutrição. 
SNPs são variações que podem ocorrer numa 
sequência de DNA em uma porção significativa 
(mais de 1%) de uma população. São resultados 
de mutações, que se propagaram ao longo das 
gerações, sendo as mais frequentes formas de 
variações genéticas, representando 90% delas5.
Análises dos testes genéticos revelam como 
cada organismo metaboliza determinados 
nutrientes (e.g.: ômega 3) e substâncias (e.g.: 
cafeína) e pode apontar tendências genéticas 
para a obesidade e para o desenvolvimento de 
intolerâncias alimentares (e.g.: lactose). Essas 
análises se apresentam como uma peça importante 
da orientação nutricional individualizada, uma 
vez que consideram as características metabólicas 
de casa indivíduo, porém isoladamente não são 
suficientes para a personalização da alimentação6.
Dessa forma, este artigo teve como objetivo 
pesquisar sobre a relação das informações obtidas 
a partir das observações realizadas no contexto 
da genômica nutricional, com a possibilidade de 
utilizar essas informações na determinação do 
melhor tipo de dieta.
Metodologia
Para o levantamento de dados, foi realizada 
uma revisão bibliográfica por meio de pesquisa 
em livros e nas bases de dados SciELO, PubMed, 
SNPedia, com as palavras isoladas ou associadas: 
genética, polimorfismo, nutrigenética, testes 
genéticos, obesidade, FTO, MC4R, PPARγC1α, 
PPARγ, FADS1, CYP1A2, MCM6, MTHFR, HLA-
DQ2 / HLA-DQ8, doença celíaca, intolerância à 
lactose, obesidade, GWAS. Os genes escolhidos 
foram aqueles com polimorfismos envolvidos com 
efeitos metabólicos e nutrição.
Resultados
Com o advento dos estudos de associação 
ampla do genoma (Genome-wide association 
study – GWAS), tem-se caminhado a passos largos 
no caminho do entendimento dos fundamentos 
genéticos da obesidade. Atualmente, sabe-se que 
as formas comuns de obesidade são poligênicas, 
com cada variante contribuindo com um pequeno 
efeito7. 
Uma vez que os efeitos dos diferentes loci 
envolvidos com alterações no índice de massa 
corporal (IMC) são pequenos, o risco genético 
normalmente é calculado para o indivíduo 
somando-se o número de alelos de risco dos vários 
loci envolvidos7.
O primeiro locus com robustez estatística 
identificado com associação ao IMC foi do gene 
FTO, publicado em um GWAS. Uma meta-
análise com dados de GWAS de descendentes 
de europeus corroborou a associação do FTO 
e identificou um outro sinal próximo ao gene 
receptor de melanocortina-4 (melanocortin-4 
receptor – MC4R)7. 
O polimorfismo de nucleotídeo único (single 
nucleotide polymorphism - SNP) rs9939609 
(substituição de uma timina - alelo T - por adenina 
- alelo A - risco) do gene FTO tem sido avaliado 
pela sua associação com o acúmulo excessivo 
de gordura. Também se avalia a interação desse 
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AndreaPlothow, Andreza Braulos de Mello, Camila Buttendorff, Gabriela Fagundes
polimorfismo com os demais fatores promotores 
do excesso de peso. Contudo, divergências entre 
resultados para diferentes grupos populacionais 
têm sido encontradas8,9. 
Atualmente, não se sabe ao certo como o 
alelo A do polimorfismo rs9939609 do gene 
FTO influencia no risco de obesidade, porém 
os mecanismos apontam para interferência no 
sistema de saciedade do sistema nervoso central, 
aumentando a ingestão de alimentos (hiperfagia) 
e reduzindo a sensação de saciedade10,11.
Outro gene também envolvido com a obesidade 
é o MC4R, tendo as primeiras descrições sobre a 
associação entre MC4R e IMC sido publicadas em 
1998 por dois grupos diferentes na mesma edição 
da revista Nature Genetics12,13.
O gene MC4R é expresso principalmente 
no hipotálamo, onde neurônios POMC (pró-
opiomelanocortina), situados no núcleo arqueado, 
são ativados pela leptina e pela insulina e 
produzem o hormônio estimulante α-melanócito 
(α-MSH). Este, por sua vez, ativa o receptor 
MC4R, resultando num sinal de saciedade14,15.
Mutações no MC4R representam a alteração 
genética mais comum presente na obesidade 
humana de início precoce, e vários mecanismos 
moleculares pelos quais a perda de função 
(consequente de mutações no gene MC4R) leva 
a obesidade são possíveis: expressão de MC4R 
anormal na membrana, defeito na resposta 
agonista e alteração no transporte intracelular 
dessa proteína14,15.
Embora seja de interesse o conhecimento 
da razão biológica (por exemplo: alteração da 
via da melanocortina) responsável pela maior 
suscetibilidade à obesidade em alguns indivíduos, 
ainda não existe terapêutica específica disponível. 
No entanto, o estudo molecular para detectar 
indivíduos elegíveis para tratamento pode tornar-
se necessário em poucos anos, caso surjam 
fármacos específicos, tais como agonistas de 
MC4R15,16.
Genes associados ao metabolismo energético e 
de carboidratos também podem ser avaliados em 
testes genéticos. A proteína codificada pelo gene 
PPARγC1α (peroxisome proliferator-activated 
receptor gamma coactivator 1-alpha) é expressa 
em altos níveis em tecidos metabolicamente ativos 
e está envolvida no controle do estresse oxidativo 
por meio da desintoxicação de espécies reativas de 
oxigênio, além de atuar na biogênese mitocondrial 
e na oxidação de lipídios e glicose17.
A proteína codificada pelo gene PPARγC1α 
coativa pelo menos 30 fatores de transcrição 
envolvidos em vários aspectos do metabolismo 
energético celular e estase vascular17,18. O gene é 
expresso em tecidos com alta atividade metabólica, 
como coração, fígado, rim e tecido adiposo 
marrom, e poderia desempenhar um papel 
na regulação da pressão arterial por meio da 
interação com mineralocorticoides e receptores 
de estrogênio ou da destoxificação de oxigênio 
reativo19.
Associações entre esse polimorfismo 
(rs8192678 G>A) e DM2, HAS, obesidade, 
dislipidemia, aptidão aeróbica e resistência à 
insulina têm sido amplamente relatadas20.
O PPARγ (peroxisome proliferator-activated 
receptor gamma) é um membro da superfamília 
de receptores nucleares e um fator de transcrição 
ativado por ácidos graxos, prostanoides e 
tiazolidinediona (glitazonas), regulando a 
expressão de genes envolvidos na lipogênese 
e adipogênese, a sensibilidade à insulina, o 
balanço energético, inflamação, angiogênese 
e aterosclerose. Tem sido mencionado como 
um gene candidato para determinar o risco de 
síndrome metabólica e outras comorbidades21-23.
Entre as variantes genéticas do PPARγ, o 
polimorfismo de nucleotídeo único rs1801282 
C>G, também conhecido como Pro12Ala, 
foi o mais extensivamente estudado, sendo 
caracterizado pela substituição de uma prolina 
(CCA) por uma alanina (GCA) no códon 12 do 
exon B, devido à troca de uma citosina por uma 
guanina22.
Resultados de meta-análises e estudos 
prospectivos mostraram redução no risco de 
DM2 variando de 21% a 27% para o alelo 
polimórfico alanina, provavelmente pela melhora 
na sensibilidade à insulina24-26. 
Em relação aos indivíduos obesos, as 
associações não são tão fortes, e, de fato, 
pesquisadores têm encontrado associação entre 
o alelo alanina e aumento, e não decréscimo, de 
peso em indivíduos obesos27.
Em relação aos lipídeos, a capacidade de 
metabolização e absorção também apresenta 
importante componente genético, e tanto a dieta 
quanto a variação genética do gene FADS1 podem 
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Aplicação da nutrigenômica na determinação do melhor tipo de dieta
coronariana30,32.
A velocidade de metabolização de certas 
substâncias, como a cafeína, também é de interesse 
de estudo, e o gene CYP1A2 (Cytochrome P450 
1A2) pode ser avaliado por teste genético para 
identificação do perfil individual do paciente33.
O polimorfismo rs762551 (-163 C>A) gera 
aumento de atividade da enzima que participa 
da metabolização da cafeína. Indivíduos que 
carregam o alelo C são metabolizadores lentos 
de cafeína, enquanto que o alelo A indica rápida 
metabolização, ou seja, uma mesma quantidade de 
cafeína tende a ter efeito mais estimulante naquele 
indivíduo de metabolização lenta33,34. Hoje em dia, 
ser fatores importantes que irão influenciar nas 
concentrações sanguíneas de ácidos graxos 
poli-insaturados de cadeia longa (PUFAs) e seus 
precursores28. 
A dessaturação de ácidos graxos é um processo 
chave na geração de precursores para a formação 
de eicosanoides anti e pró-inflamatórios, bem 
como LC-PUFA, que tem papéis chave no 
desenvolvimento cerebral e neuronal29.
As proteínas codificadas pelos genes FADS1 
e 2 (fatty acid desaturase) são membros de uma 
família de dessaturases ômega-3 e ômega-6, que 
atuam por meio da introdução de ligações duplas 
entre os carbonos e catalisam o passo final de 
formação dos ácidos eicosapentaenoico (EPA) e 
araquidônico30-32.
A função biológica mais conhecida do FADS1 
é a do ácido linoleico, que atua como uma enzima 
limitante da velocidade de metabolização de 
LC-PUFA, precursores de eicosanoides e outros 
mediadores importantes na participação de 
processos inflamatórios30,32.
Está localizado em uma região cromossômica 
relacionada a uma variedade de doenças complexas 
como, por exemplo, doenças cardiovasculares, 
alterações no metabolismo desses ácidos em 
mulheres durante a gravidez e lactação, asma, 
atopia, osteoartrite e diabetes tipo 130-32.
O polimorfismo do FADS1 (rs174547 C>T) 
pode atuar como um importante fator que irá 
contribuir para a variabilidade nos níveis de 
PUFA nos fosfolipídeos séricos e pode estar 
associado com o aumento de triglicerídeos e 
com a diminuição de colesterol HDL (high 
density lipoprotein – proteína de alta densidade), 
aumentando, assim, o risco para doença arterial 
coronariana30,32.
certas doenças estão relacionadas com a ingestão 
de café, como diminuição da densidade mineral 
óssea e aumento do risco de hipertensão, ou ainda 
como fator protetor na diminuição do risco de 
cânceres e contra a doença de Parkinson34.
A intolerância a produtos lácteos tem se tornado 
uma questão importante para a nutrição, e genes 
estão envolvidos na capacidade de síntese da 
enzima lactase até a vida adulta. Por muitos anos, o 
termo intolerância à lactose tem sido uma maneira 
de distinguir o uso e risco de produtos lácteos 
por pessoas de diferentes etnias, uma vez que há 
ocorrência de sintomas gastrointestinais agudos 
como inchaço, flatulência, dor abdominal, fezes 
moles e diarreia ou constipação naqueles que não 
têm persistência da atividade de lactase35,36.
O SNP do intron 13 do gene da lactase LCT 
(LCT-13910 C>T ou rs4988235) é o mais 
prevalente entre os polimorfismos para o gene. Um 
indivíduo homozigoto para o alelo C é considerado 
intolerante à lactose ou lactase não persistente37. 
Diferente da maioria das variantes genéticas que 
apresentam consequências nutrigenômicas de 
perda de função, mutações no gene LCT resultam 
em persistência da lactase (PL), conferindo a 
habilidade deproduzir a enzima lactase até a 
idade adulta38.
Manifestações de desconforto intestinal 
podem ser devidas a outra condição que não a 
intolerância à lactose, como por exemplo, doença 
celíaca. Antigamente, a doença celíaca (DC) era 
considerada rara e limitada a crianças, porém 
atualmente estima-se prevalência de 1% (uma em 
cada 100 pessoas tem DC), sendo predominante 
em mulheres, na razão de 3:139,40.
A DC apresenta base autoimune, multigênica, 
com genes que predispõem a autoimunidade, 
como alelos HLA (human leucocyte antigen) 
contribuindo com 36-53% de suscetibilidade41,42. 
A associação primária é com os genes HLA-DQ2 
(DQA1⁎05/DQB1 02) e DQ8 (DQA1⁎0301/
DQB1⁎0302), e a presença dessas proteínas HLA 
é necessária para o desenvolvimento da DC, 
porém não suficiente para determinar que o fator 
ambiental (exposição às proteínas do glúten) gere 
resposta imune específica39,43.
Cerca de 95% dos pacientes diagnosticados 
com doença celíaca apresentam HLA-DQ2, 
e 5% apresentam HLA-DQ8. Contudo, 
aproximadamente 20-30% de caucasianos 
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saudáveis são HLA-DQ2 positivos, apontando 
para o envolvimento de genes não HLA40. 
Conhecer o genótipo HLA-DQ é importante para 
estabelecer o gradiente de risco, uma vez que a 
ausência dos alelos de risco DQ2 e DQ8 tem um 
valor negativo preditivo de 99%41,43.
O ácido fólico é um nutriente cujo metabolismo 
envolve etapas dependentes de enzimas. Genes que 
sintetizam essas enzimas podem ser polimórficos 
e avaliados em testes genéticos. No organismo, 
para exercer seus efeitos como doador de grupo 
metil com importante papel no metabolismo de 
um carbono, atuando como coenzima na síntese 
de purinas e pirimidinas do DNA, síntese de RNA 
e proteínas, além da importância na produção de 
energia e adequada divisão celular o folato deve 
ser convertido em 5-metil-tetrahidrofolato pela 
ação da enzima metileno tetrahidrofolato redutase 
– MTHFR44,45.
A MTHFR é o principal componente no 
metabolismo do folato, e seu gene está localizado 
no cromossomo 1 p36.3, havendo até o presente 
mais de 40 mutações pontuais identificadas, onde 
C677T e A1298C têm o maior significado clínico, 
podendo levar a redução de atividade da enzima, 
interferindo, assim, nos níveis de metilfolato46.
O polimorfismo rs1801133 (C677T) tem 
como consequência a substituição de alanina em 
valina, o que resulta em uma enzima com 65% 
da sua atividade para heterozigotos e 30% para 
homozigotos do alelo de risco, estando associado 
com níveis elevados de homocisteína em indivíduos 
com baixo nível de folato no plasma46-48. A 
concentração plasmática de homocisteína pode ser 
influenciada tanto por fatores nutricionais, como 
concentrações de ácido fólico e vitaminas B6 e 
B12, quanto por fatores hereditários, em especial 
aqueles ligados às enzimas do metabolismo da 
metionina e da cisteína. Existem evidências que 
sugerem que a homocisteína possa estar envolvida 
na aterogênese e na trombogênese49,50.
Polimorfismos em genes específicos, como o 
MTHFR, podem conferir uma base genética para 
riscos de doenças cardiovasculares. A homozigose 
para o polimorfismo C677TT está associada com o 
risco de doença arterial coronariana em diferentes 
lugares do mundo, como em Israel, na América 
do Norte e no Japão; contudo, não está ligada à 
China50.
Discussão
Nutrigenética é a interface entre nutrição e 
as informações genéticas de cada indivíduo, 
que explica o impacto das variações genéticas 
individuais nas necessidades ótimas de um 
determinado nutriente para um determinado 
sujeito. Por exemplo, dependendo das informações 
genéticas, um indivíduo pode se beneficiar de 
maneiras variáveis de certas vitaminas ou minerais, 
tais como ácido fólico ou ferro, entendendo que 
uma orientação dietética adequada a um indivíduo 
pode não ser adequada ao outro, ou pode até 
mesmo ser prejudicial51-53.
Polimorfismos podem atuar como marcadores 
genéticos, já que são transmitidos associados a 
outros genes localizados na região cromossômica 
próxima a eles. Dessa maneira, se um gene 
próximo a um marcador causa uma doença, todos 
os indivíduos afetados na família recebem tanto o 
marcador como o gene causador da doença5. 
Os polimorfismos de interesse na nutrição 
podem ser analisados por testes genéticos, 
trazendo os conceitos da genômica nutricional 
para a prática clínica do profissional de nutrição, 
com resultados que auxiliam no embasamento da 
nutrição individualizada personalizada.
Conclusões
Vários SNPs podem ser determinados em um 
único teste genético, havendo posterior análise 
individual do resultado de cada polimorfismo 
ou avaliação conjunta com outros genes também 
envolvidos com a nutrição. Podem-se avaliar, por 
exemplo, polimorfismos de genes associados ao 
risco de desenvolvimento de sobrepeso/obesidade 
(FTO rs9939609 e MC4R rs17782313), genes 
associados ao metabolismo energético e de 
carboidratos (PPARγ rs1801282 e PPARγC1α 
rs8192678), genes associados à capacidade de 
metabolização e absorção de lipídeos (FADS1 
rs174547), gene associado à velocidade de 
metabolização da cafeína (CYP1A2 rs762551), 
gene associado com persistência da enzima lactase 
(MCM6 rs498823), genes associados com doença 
celíaca (HLA-DQ2, HLA-DQ8), gene associado 
com a metabolização do ácido fólico (MTHFR).
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O perfil analisado em um teste não exclui a 
possibilidade da existência de outros marcadores 
associados à característica/condição analisada, 
e os resultados do teste não substituem um 
tratamento médico ou recomendação nutricional, 
mas, sim, servem como ferramenta auxiliar na 
nutrição individualizada6.
Esse campo tem potencial para otimizar a saúde 
humana por meio de boas práticas alimentares 
e recomendações individualizadas de macro e 
micronutrientes norteadas pelas características 
polimórficas do indivíduo51.
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