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120 H S M M a n a g e m e n t 8 m a i o - j u n h o 1 9 9 8 Acadêmicos, consultores e grandes organizações, como Xerox e General Electric, já chegaram a um consenso: uma empresa leva, no mínimo, cinco anos para conseguir mudar sua cultura, pois é o tempo que a nova geração de dirigentes leva para substituir a anterior. Isso representa um pesado ônus em termos de vantagem competitiva, já que os mercados exigem de seus protagonistas movimentos cada vez mais rápidos. Desafiar o parâmetro dos cinco anos é quase como desafiar a lei da gravidade. Mas esta reportagem de Todd Jick para a revista Organizational Dynamics mostra que empresas como Eli Lilly, Alcatel Alsthom e Dalla Works, da AT&T, já estão fazendo isso, de formas diversas. Elas empregam mecanismos criativos para pisar no acelerador – seja encurtando o tempo de capacitação dos funcionários, seja agindo primeiro e fazendo os ajustes depois, seja criando artificialmente um sentido de urgência capaz de manter a velocidade de mudança. Além disso, também recorrem aos clientes para instigar os funcionários (veja quadro na página 126). A LT A G ER ÊN CI A Como acelerar a mudança A velocidade do processo de transformação da cultura empresarial pode ser até triplicada com mecanismos aceleradores, como mostra a experiência de algumas empresas Dois dos mais emblemáticos cases de mudança de cultura empre- sarial das décadas de 80 e 90 foram a Xerox e a General Electric (GE), cujas metas e processos foram fartamente divulgados. O programa de mudança da Xerox, batizado de “Direção por Meio da Qualidade”, tornou-se uma referência para as empresas que tentavam implantar planos de gestão de qualidade. A experiência da GE, chamada de “Ensaio”, buscou transformar uma cultura burocrática, marcada por concentração de poder e controle, em uma cultura dotada de rapidez, simplicidade e confiança. A profundidade das mudanças pretendidas nesses dois casos já indicava que levariam um longo tempo. Ao iniciar sua revolução de qualidade no princípio da década de 80, a Xerox, por exemplo, criou um plano quinquenal, estabelecendo uma meta para cada ano: • Ano 1: Atividades iniciais (tal como plano de capacitação). • Ano 2: Conscientização e com- preensão. • Ano 3: Transição e transformação. • Ano 4: Obtenção de resultados significativos. • Ano 5: Maturidade. A GE, por sua vez, delineou um programa de sete anos de duração para a mudança cultural da empre- sa. É fácil compreender que para uma grande multinacional como a GE – com tanta burocracia por erradicar – um empreendimento dessa envergadura exija enorme dispêndio de tempo e esforço. A eliminação do trabalho desne- cessário era apenas a ponta do iceberg. A GE se voltou para aspec- tos culturais, como o comportamen- to dos dirigentes, o trabalho em equipe e a tomada de decisões de forma hierárquica, e levou adiante uma revolução que abrangeu mu- danças de atitudes, comportamen- tos, sistemas e estruturas. “Mudar leva tempo.” Essa é a conclusão a que chegaram também acadêmicos e consultores empresa- riais. As técnicas de gestão de 121 ➙ H S M M a n a g e m e n t 8 m a i o - j u n h o 1 9 9 8 mudanças costumam ter inúmeros passos e etapas, normalmente em forma sequencial. Remontam essencialmente ao modelo de “descongelar, congelar e recongelar” proposto pelo especialista Kurt Lewin. Ou, como disse certa vez um consultor de empresas: “A mudança sempre leva sete anos, porque é o tempo que a nova geração de dirigentes leva para substituir a anterior”. Contudo, mesmo diante de todos esses exemplos empresariais e da opinião de consultores e acadêmi- cos, as empresas de hoje não vêem com bons olhos a possibilidade de uma mudança consumir de cinco a sete anos. Aceleradores Ainda não descobriram uma fórmula simples de aplicação uni- versal para acelerar a mudança e fazer com que as pessoas rompam com hábitos e padrões antigos. Im ag e B an k/ Le if A bj or or ns so n de mudança, por meio do sentido de urgência. Acelerar a compreensão Nenhuma mudança cultural acontece sem que as pessoas apren- dam a se comportar e pensar de uma nova maneira. Na maior parte dos casos, faz-se um trabalho combi- nado de informação, comunicação e conscientização em relação à necessidade de mudança. Mas essa Mas já existem três fórmulas de aplicação específica que apresen- tam boas oportunidades de impri- mir velocidade à mudança da cultura empresarial e acabar com os gargalos: Acelerar a compreensão das pessoas e seu comprometimento com a mudança. Acelerar a experimentação da mudança e sua implementação. Manter a velocidade do processo A Alcatel Bell reuniu seus 1,2 mil gerentes em um amplo auditório e pediu a cada um que identificasse e implementasse um projeto de mudança. A maioria o fez simultaneamente, e foi bastante caótico, mas houve ação 122 H S M M a n a g e m e n t 8 m a i o - j u n h o 1 9 9 8 Uma engarrafadora de Cadbury Schweppes e Coca-Cola criou a “Operação Rommel” para transmitir o sentido de urgência e de luta pela sobrevivência característico de tempos de guerra etapa pode acabar se alongando, por dois motivos. Em primeiro lugar, o processo de conscientização costuma ser menosprezado. Supõe-se que as pessoas compreendam a razão da mudança, o que não costuma ser o caso. Ou então se supõe que nem todos precisam compreender, mas precisam. Assim, pessoas essenciais para o processo de mudança aca- bam ficando fora dele. De qualquer forma, quando as pessoas não compreendem plenamente o “por quê”, o “o quê” e o “como” da mudança, apresentam maior resis- tência e levam mais tempo para implementá-la. Em segundo lugar, mesmo que a mudança transcorra bem, atingir a todos geralmente consome muito tempo nas grandes companhias. O treinamento para a revolução de qualidade da Xerox, por exemplo, realizou-se em cascata: cada nível hierárquico foi capacitado antes que passasse à tarefa de capacitar o nível seguinte. O processo todo levou anos. A capacitação é certamente a ferramenta mais potente e útil para fazer com que as pessoas aprendam e ponham em prática novos padrões de pensamento, novas competências e novos comportamentos. E o que pode ser feito para encurtar o tempo sem afetar a compreensão e a capacitação? Observemos o exemplo pioneiro da empresa farmacêutica Eli Lilly, lembrando que, em seu setor indus- trial, o ritmo da mudança havia sofrido significativa aceleração e praticamente todas as concorrentes viviam tempos de ampla reengenha- ria, revitalização e renovação. Em primeiro lugar, a Eli Lilly rejeitou os três instrumentos comumente adotados pelas empresas para ca- pacitar os funcionários com rapidez: o informativo anual, os boletins internos e os seminários de um dia oferecidos na sede central a grupos de 30 a 40 dirigentes. A alta direção da Eli Lilly concluiu que os dois primeiros não seriam suficientemen- te compreendidos, a menos que tivessem acompanhamento intensi- vo, e que o terceiro levaria anos para colocar em prática a estratégia, devido ao pequeno número de pessoas envolvidas de cada vez. Depois, a empresa decidiu organi- zar a Conferência de Gestão Mun- dial, um seminário de cinco dias de duração que abrangia todos os aspectos da estratégia traçada e as várias mudanças culturais necessárias para sua implementação, além da discussão sobre as tendências mun- diais. Todos os executivos de nível sênior da empresa participaram do seminário em regime de dedicação exclusiva e, no final do megaevento, tinham uma compreensão significa- tivamente maior da nova estratégia da empresa e estavam muito mais comprometidos com ela. Paralelamente, a alta direção da Eli Lilly conseguiu dirigir-se a cada um de seus 2 mil dirigentes mundiais de nível médio e sênior em pouco mais de um ano, em vez dos três anos e meio normalmente previstos, triplicando a velocidade de capacita- ção. Como fez isso? A cada semana, convocava três grupos de 40 gerentes para conferências de trabalho separadas e, no fim do mês, reunia esses três grupos em um mesmo plenário, somando 120 participantes, para avançarno debate. A tática empregada pela Eli Lilly conseguiu resultados relativamente mais rápidos do que a da maioria das empresas, levando em conta o grau de compreensão desejado. De certo modo, a empresa escolheu ir devagar para chegar logo. A intenção de fazer participar pessoas- chave desde o começo e com fre- quência pode se comparar à técnica japonesa de levar muito tempo para anunciar uma medida e depois Im ag e B an k/ S te ve n H un t 123 ➙ H S M M a n a g e m e n t 8 m a i o - j u n h o 1 9 9 8 implementá-la com a velocidade da luz. De todos os modos, o exem- plo da Eli Lilly mostra como criar métodos de capacitação mais efi- cientes e diminuir o tempo gasto na implementação. Acelerar experimentação e implementação Mudar os padrões de comporta- mento individual e coletivo é uma tarefa difícil, já que implica muito tempo e um árduo trabalho de doutrinação. Muitas empresas se detêm no treinamento e vêem a ação eternamente como o passo seguinte. Muitas pessoas consideram a mudança de comportamento arriscada para aquele momento e talvez nunca haja o momento certo para experimentar um comporta- mento novo. Por isso, pode ser melhor agir primeiro e fazer os ajustes depois. Em vez de “preparar, apontar, fogo”, a ordem mais factível pode ser “apontar, fogo, preparar, fogo novamente”. Em outras palavras, lance-se à mudança cultural de uma vez, sem pensar muito. Uma das justificativas recorrentes para as mudanças levarem tanto tempo é o fato de que “eles” não mudam com a rapidez necessária. “Eles” podem ser tanto a média gerência aos olhos dos superiores e inferiores quanto os superiores ou inferiores aos olhos da média gerência. As empresas se esforçam para seduzir “eles”, utilizando ferramentas como conscientização, incentivos ou apenas um grito mais forte de “é melhor ir mudando”. Infelizmente tais táticas consomem tempo e raramente são eficazes. Transformar a si mesmo é muito mais fácil do que pedir aos outros que se transformem. Você tem o controle das ações e pode começar de imediato. Por exemplo, se a mudança desejada é dar maior atenção ao cliente, os dirigentes podem modificar as prioridades listadas em suas agendas para incluir maior contato com os clien- tes. Qualquer que seja a mudança, tome a dianteira. Depois de dar o exemplo e criar, assim, um clima de mudança, peça aos outros que olhem para si mes- mos e observem a correspondência entre o percurso feito e a doutrina- ção recebida. Uma das tentativas mais inusita- das de aceleração da ação aconteceu na Alcatel Bell, divisão de telecomu- nicações da empresa Alcatel Als- thom. Depois de desfrutar anos de relativa proteção e estabilidade comercial, essa divisão encontrou na década de 90 a demanda de compe- tências e comportamentos novos. E muitos dos dirigentes da empresa demoraram a mudar. Contudo, John Goosens, CEO da tal divisão, não era um homem paciente. Sabia que o ritmo da mudança de comportamen- to das pessoas devia pelo menos acompanhar a velocidade das mudanças que ocorriam no setor. Goosens elegeu um audacioso plano de ação. Com o objetivo de colocar a mudança sob responsabili- dade da gerência, reuniu seus 1,2 mil gerentes em um amplo auditório e pediu a cada um que elaborasse um projeto de mudança relacionado a algum aspecto das principais diretrizes estratégicas definidas pela empresa. Todos os gerentes deve- riam enviar uma carta ao CEO na qual descreveriam o projeto. A maioria dos 1,2 mil gerentes implementou projetos de mudança simultaneamente. Faziam-se expe- riências em toda parte. Foi bastante caótico, é verdade, mas havia ação. Alguns projetos tiveram resultados positivos, outros não. Mas a sensação geral era de que a hora de mudar havia chegado, e todos deram sua contribuição. Finalmente, ao término do ano, a gerência identificou 40 dos projetos mais bem-sucedidos e destacou-os em seminários chamados “Aprendendo com a Experiência”. O aumento do ritmo de mudança na Alcatel Bell foi inegável, assim como a maior participação das pessoas na implementação e a crescente importância da ação em substituição às palavras. A Alcatel Bell tornou-se uma referência dentro da corporação Alcatel e, o que é melhor, teve sua imagem associada a uma prática inovadora. Manter a velocidade de mudança Um dos aspectos mais terríveis dos processos de mudança é o de como manter o sentido de urgência depois de efetuar uma mudança A intenção de fazer participar pessoas- chave desde o começo e com frequência pode se comparar à técnica japonesa de levar muito tempo para anunciar uma medida e depois implementá-la com a velocidade da luz A fábrica Dalla Works, da AT&T, beneficiou-se de uma urgência real ao tentar criar uma cultura de trabalho em equipe. O conceito foi implementado quando houve uma crise de queda de vendas 124 H S M M a n a g e m e n t 8 m a i o - j u n h o 1 9 9 8 125 ➙ H S M M a n a g e m e n t 8 m a i o - j u n h o 1 9 9 8 126 H S M M a n a g e m e n t 8 m a i o - j u n h o 1 9 9 8 Existe ainda mais uma ferramenta de aceleração do processo de mudança: trazer os clientes para a organização com frequência, pelo menos até que os funcionários abandonem os velhos hábitos e incorporem os novos. Por quê? Isso se deve a um fenômeno revelador que muitas empresas já observaram. Quando um cliente está presente na sala, aqueles funcionários que resistem o quanto podem às mudanças adotam, como por mágica, o comportamento desejado, ainda que apenas por alguns minutos. A razão, garantem os especialistas, é simples: todos querem se comportar da melhor maneira possível diante dos clientes. A General Electric, por exemplo, costuma incorporar os clientes nos processos de capacitação e treinamento de seus funcionários. Como as metas das mudanças de cultura da GE incluem facilitar as relações da empresa com clientes internos e externos com velocidade e simplicidade, a presença de clientes tratando de seus assuntos é natural. O truque da participação dos clientes � rápida – porque, quanto mais veloz for a transformação, menos necessá- rio será manter a urgência. Acontece que manter a urgência é fundamen- tal, porque, sem ela, o interesse cai, e sem o interesse a mudança cultural pode não se efetivar. Uma engarrafadora de Cadbury Schweppes e Coca-Cola criou a “Operação Rommel”, baseada na noção de que o marechal Montgo- mery, um dos grandes líderes britânicos da Segunda Guerra Mundial, sempre tinha à vista uma foto do marechal Rommel, o estrate- gista alemão. Montgomery admirava seu oponente, nunca o menospre- zou e tratou de compreender seu raciocínio até se tornar melhor estrategista que ele. A idéia da engarrafadora foi associar aos resultados comerciais o sentido de urgência e de luta pela sobrevivência característico de tempos de guerra, inspirando-se em metáforas dos campos de batalha. Ela tinha quartéis, onde se origina- vam os planos de batalha e as ordens para avançar. Também utilizava expressões como “abrir fogo sobre as ondas”, baseada nas primeiras embarcações de um esquadrão de ataque, que obtinham vantagem quando disparavam os canhões por cima das ondas. Todas essas imagens serviram para promo- ver e manter uma cultura de urgên- cia, iniciativa e disponibilidade para a mudança, na ausência de uma urgência real. A fábrica Dalla Works, da AT&T, beneficiou-se de uma urgência real ao tentar criar uma cultura de trabalho em equipe. Ela já havia cumprido diferentes etapas do processo de mudança, como capaci- tação das equipes, criação de vários grupos responsáveis por melhorias e nomeação de equipes de dirigen- tes para a supervisão de diferentes programas de mudanças. Mas o conceito de equipe só levantou vôo quando surgiu a crise da queda de vendas. Com a crise, os dirigentes da fábrica criaram uma nova equipe com amplos poderes para reorgani- zar a totalidade da unidade produtiva e resolver qualquer problema que surgisse pelo caminho, podendo tomar decisões que passavam por cima de seus supervisores. O resulta- do foi uma equipe altamente energi- zada, concentrada e visível, um verdadeiromodelo para o conceito de equipe. Assim foi dado impulso ao conceito de equipe, acelerando-se o processo que, de outro modo, teria levado mais tempo. Conclusão: o sentido de urgência é muito importante para o processo de mudança e infundir um sentido extra de urgência desde o início aumenta a probabilidade de êxito e sustentação da transformação cultural da empresa. É como lançar um produto Uma mudança cultural se asseme- lha ao lançamento de um produto. Um produto novo se baseia no que os clientes querem agora, não no que eles vão querer depois. Se o produto chegar tarde demais, talvez já não cumpra o propósito ou os clientes tenham optado por um concorrente. Uma mudança cultural possui o mesmo sentido de urgência. Se ocorrer demasiado tarde, a empresa pode perder espaço para a concorrência. A aceleração da mudança requer habilidade, determinação e criativi- dade. A aceleração exige desafiar os paradigmas aceitos sobre como introduzir e dirigir a mudança e depois buscar maneiras de fazer as coisas de modo diferente ou melhor. Os exemplos apresentados neste artigo são uma luz de esperança para aquelas empresas que verdadeira- mente querem mudar, e rápido. © Organizational Dynamics O sentido de urgência é muito importante para o processo de mudança. Infundir um sentido extra de urgência desde o início aumenta a probabilidade de êxito e sustentação da transformação cultural da empresa