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ESTUDO DE CASO 3ª Edição pr,Hí ele rnento 8 lVit3 f OC) () S. Esta nova edição do best-seller Estudo de Caso foi cuidadosamente revisada, atualizada e ampliada, mantendo todos as qualidades e a abrangência da segunda edição. Com um texto muito claro, o autor trata de todos os aspectos do estudo de caso, da definição do problema, do projeto, da coleta e análise de dados à elaboração do relatório. Yin também demonstra os usos e a importância de estudos de caso em uma grande variedade de campos, incluindo sociologia, psicologia, história, administração, planejamento, serviço social e educação. Novidades nesta edição: - Exemplos adicionais de estudo de caso - Discussões sobre desenvolvimentos em métodos relacionados, incluindo testes de campo aleatorizados e técnicas de codificação assistidas por computador. -Cobertura ampliada dos pontos fortes dos estudos de casos múltiplos, triagem de estudo de caso e do estudo de caso como parte de estudos maiores de múltiplos métodos. -Cinco importantes técnicas analíticas, incluindo o uso de modelos lógicos para orientar a análise. ISBN 85-363-0462-6 1111111 11 111111111111111 9 11 798536304624 Robert K. Vi ESTUDO DE CASO Planejamento e Métodos 3ª Edição ÍtI-V/~6~ ~! - ÓVcP} f' l}y 1' úrxér / ~ r' ~ .., .... • Métodos de Pesquisa APA - Manual de publicação da American Psychological Association (4.ed.) BISQUERRA, SARRIERA & MARTiNEZ - Introdução à estatistica: enfoque informático com o pacote estatístico SPSS CALLEGAR>JACQUES, S. M. - Bioestatística: princípios e aplicações 'CRESWELl, J. - Projeto de pesquisa (2. ed.) 'COLLlS & HUSSEY - Pesquisa em administração: um guia para alunos de graduação e pós.graduação (2.ed.) coa PER & SCHINDLER - Métodos de pesquisa em administração (7,ed.) 'DENZIN & UNCOLN - O cenário da pesquisa qualitativa: teorias e temas (2.ed.) FUCK, U. - Uma introdução à pesquisa qualitativa (2.ed.) *GREENHALGH, T .. Como ler criticamente artigos cientificos: fundamentos da medicina baseada em evidências (2.ed.) *GUYATI & RENNIE . Diretrizes para utilização de literatura médica: fundamentos para prática clínica da medicina baseada em evidências 'HAIR & CaLS. - Análise multivariada de dados (5.ed.) 'HAIR & CaLS. - Fundamentos de mêtodos de pesquisa em administração HULLEY, CUMMINGS & CaLS, . Delineando a pesquisa clínica: uma abordagem epidemiológica (2.ed.) 'JEKEL, aMaRE & KATZ . Epidemiologia, bioestatistica e medicina preventiva (2.ed.) LAVILLE, D. - A construção do saber: manual de metodologia da pesquisa em ciências humanas MALHOTRA, N. - Pesquisa de marketing (3.ed.) MAY, T. - Pesquisa social: questões, mêtodos e processo POLIT, BECK & HUNGLER - Fundamentos de pesquisa em enfermagem: mêtodos, avaliação e aplicação (5.ed.) *RIGO ARNAVAT & GENESCÀ DUENAS - Como apresentar teses e trabalhos de pesquisa SACKETI, D. L. • Medicina baseada em evidências: prática e ensino (2.ed.) *SIEGEL & CASTELLAN - Estatistica não-paramêtrica para ciências comportamentais (2. ed.) YIN, R. - Estudo de caso (3.ed.) 'Livros em produção no momento da impressão desta obra, mas que muito em breve estarão à disposição dos leitores em língua portuguesa. ESTUDO DE CASO ~ ~ ~ '--- L (~ ( (~ " \ r ,r ( (' ( r (- /- o AUTOR Robert K. Yin é presidente da Cosmos Corporation, empresa que atua em ciências sociais e pesquisa aplicada e tem sede em Bethesda, Maryland. A Cosmos trabalhou em centenas de projetos para agências do governo, fundações e outras organizações com e sem fins lucrativos. Na empresa, Yin é o líder de vários desses projetos, incluindo os que utilizam a metodologia do estudo de caso. A maioria dos exemplos apresentados neste livro tem origem no trabalho de Yin à frente dos pro- jetos da Cosmos. Além de Estudo de Caso, Yin escreveu Applications of Case Study Research, em segunda edição pela Sage Publications. Graduou-se em história com láurea, em 1962, pelo Harvard College e terminou o doutorado em 1970 no Department of Brain and Cognitive Sciences, no Massachusetts Instirute of Technology. É membro do Cosmos Clube, em Washington, D.e. Criou o Robert K. Yin Fund, em 1998, no MIT, apoiando seminários em ciências do cérebro e outras atividades relacionadas aos esrudos dos alunos de doutorado no Department ofBrain and Cognitive Sciences. Y51r Yin, Robert K. O I-\l'1:0"r~. ~ -~<> ~~~ âS' -r<~~~ ~e:? # os OOIREflO~# Esrudo de caso: planejamento e métodos / Robert K. Yin; trad. Daniel Grassi. - 3. ed. - Porto Alegre: Bookrnan, 2005. 1. EStudo de caso - Ciências sociais - Método - Planejamento. L Tírulo. CDU 301.085 Catalogação na publicação: Mônica Ballejo Canto - CRB 10/ 1023 ISBN 85-363-0462-6 ESTUDO DE CASO PLANEJAMENTO E MÉTODOS 3a Edição ROBERT K. YIN Tradução: Daniel Grassi Consultoria, supervisão e revisão técnica desta edição: Cláudio Damacena Doutor em Administração Professor e Pesquisador da UNISINOS Reimpressão 2007 " 2005 Obra originalmente publicada sob o título Case study research: design and methods © Sage Publications, Inc. 2003 Tradução autorizada por acordo com Sage Publications, Inc, responsável pela publicação desta obra nos Estados Unidos, em Londres e Nova Déli. ISBN 0-7619-2553-8 Capa Joaquim da Fonseca Supervisão editorial Arysinha Jacques Affonso Projeto e editoração Armazém Digital Editoração Eletrônica - rcmv Reservados todos os direitos de publicação, e111 língua portuguesa, à ARTMED" EDITORA S. A. (IlOOKMAN® COMPANHIA EDITORA é um<l divisão da ARTMED® EDITORA S. A.) Av. Jerônimo de Ornelas, 670 - Santana 90040-340 Porto Alegre RS Fone (51) 3027-7000 Fax (51) 3027-7070 É proibida a duplicação ou reprodução deste volume, no todo ou em parte, sob quaisquer formas ou por quaisquer meios (eletrônico, mecânico, gravação, fotocópia, distribuição na Web e outros), sem permissão expressa da Editora. SÃO PAULO Av. Angélica, 1091 - Higienópolis 01227-100 São Paulo SP Fone (11) 3665-1100 Fax (11) 3667-1333 SAC 0800 703-3444 IMPRESSO NO IlRASIL PRINTED IN BRAZIL Este livro é dedicado a Hans-Lukas Teube que transformou a pesquisa em um objetivo de vid para todos aqueles que com ele estudararr ~ APRESENTACAO É uma honra escrever a Apresentação deste belo livro. Ele apresenta, de forma resumida, um método de pesquisa para a investigação de inferências válidas a partir de eventos que se encontram fora dos limites do laboratório, ao mesmo tempo em que mantém os objetivos do conhecimento compartilha- do com a ciência laboratorial. Cada vez mais estou chegando à conclusão de que a essência do método científico não é a experimentação per se, e sim a estratégia conotada pela expressão hipóteses concorrentes plausíveis. Tal estratégia pode começar a pro- curar suas soluções com evidências ou pode começar com hipóteses. Em vez de apresentar essa hipótese ou evidência da maneira da confirmação positivista, independente do contexto (ou mesmo da corroboração pós-positivista), ela é apresentada em redes ampliadas de implicações que (embora nunca comple- tas) são cruciais à sua avaliação científica. Essa estratégia compreende a explicitação de outras implicações da hi- pótese para outros dados disponíveis e a exposição de como eles se correspondem. Também inclui a procura por explicações concorrentes das evidências em foco e a análise de sua plausibilidade. A plausibilidade dessas explicações é geralmente reduzida por uma extinção de ramificações, ou seja, através da observação de suas outras implicações em conjuntos diferentes de dados e de quão bem elas se ajustam umas às outras. Até onde essas duas tarefas potencialmente intermináveis serão conduzidas vai depender da co- munidade científica existente na época da pesquisa e de quais implicações e hipóteses concorrentes plausíveis foram explicitadas. É com essa base de traba- lho que as comunidades científicas bem-sucedidas alcançaram um consensoefetivo e progressos cumulativos, mesmo sem terem obtido evidências concre- tas. Essas características das ciências bem-sucedidas, no entanto, foram gros- seiramente negligenciadas pelos positivistas lógicos e são pouco utilizadas pelas ciências sociais, tanto quantitativa quanto qualitativamente. viii APRESENTAÇÃO Essa verificação através de outras implicações e a extinção de ramifica- ções em hipóteses concorrentes também caracterizam aquelas pesquisas que buscam validade nas ciências humanas, incluindo a hermenêutica de Schleiermacher, Dilthey, Hirst, Habermas e os estudos atuais sobre a interpre- tação dos textos antigos. Da mesma forma, a estratégia é tão útil para as conjecturas de um historiador sobre um acontecimento específico quanto o é para a elaboração de uma lei natural por um cientista. É trágico que os princi- pais movimentos nas ciências sociais estejam utilizando o termo hermenêutica para representar a desistência do objetivo de validade e o abandono da dispu- ta sobre aqueles que, afinal de contas, estão com a razão. Assim, juntamente com a abordagem de estudo de caso quantitativa e quase-experimental que Yin nos ensina, nosso arsenal metodológico das ciências sociais também ne- cessita de uma metodologia humanística de estudo de caso que busque a vali- dade e que, apesar de não fazer uso da quantificação ou de testes de significância, ainda trabalhe sobre as mesmas questões e compartilhe os mes- mos objetivos de conhecimento. Como versões dessa estratégia de hipóteses concorrentes plausíveis, exis- tem dois paradigmas do método experimental que os cientistas sociais talvez queiram seguir. Por hábito, estamos aptos a pensar primeiro no modelo da atribuição aleatória a tratamentos, oriundo das estações agrícolas de experi- mentação, dos laboratórios de psicologia, de testes aleatórios de pesquisa médica e farmacêutica e de alguns modelos matemáticos criados pelos esta- tísticos. A aleatoriedade tem por objetivo controlar um número infinito de hipóteses concorrentes sem especificar em que consistem. A atribuição aleató- ria nunca controla completamente essas hipóteses concorrentes, mas as torna implausíveis em um determinado grau estimado pelo modelo estatístico. O outro paradigma, mais antigo do que o primeiro, advém dos laborató- rios da física e pode ser resumido pelo isolamento experimental e pelo contro- le laboratorial. Aqui se encontram as paredes isoladas com chumbo, os con- troles de pressão, temperatura e umidade, a obtenção de vácuos, e assim por diante. Essa tradição mais antiga é responsável por um número relativamente baixo mas explicitamente especificado de hipóteses concorrentes. Estas ja- mais são perfeitamente controladas, mas são controladas de uma maneira adequada o suficiente para torná-las implausÍveis. Quais hipóteses concorren- tes são controladas serão resultado das controvérsias em curso na comunida- de científica neste momento. Mais tarde, em retrospecto, poder-se-á perceber que outros controles eram necessários. A técnica de estudo de caso como apresentada aqui, e a quase-experi- mentação de forma mais genérica, são mais parecidas com o paradigma do isolamento experimental do que com o modelo da atribuição aleatória a tra- tamentos, no qual cada hipótese concorrente deve ser especificada e especifi- camente controlada. O grau de certeza ou consenso que a comunidade cientí- fica é capaz de alcançar geralmen:e será menor nas ciências sociais aplicadas, devido ao grau inferior de redução da plausibilidade de hipóteses concorren- APRESENTAÇÃO ix tes que provavelmente seria alcançado. A incapacidade de se reproduzir à vontade (e com variações designadas para excluir hipóteses concorrentes es- pecíficas) faz parte do problema. Deveríamos utilizar ao máximo aqueles es- tudos de caso único (que jamais podem ser reproduzidos), mas deveríamos ficar atentos às oportunidades de realizar estudos de caso intencionalmente reproduzidos. Dada a experiência de Robert Yin (Ph.D. em psicologia experimental, com várias publicações na área), sua insistência de que o método de estudo de caso seja feito em consonância com os objetivos e os métodos das ciências talvez não seja uma surpresa. Mas esse treinamento e essa escolha de carreira são geralmente acompanhados pela intolerância às ambigüidades provenien- tes de ambientes fora do laboratório. Gosto de acreditar que essa mudança foi facilitada pela sua pesquisa de laboratório sobre aquele estímulo difícil de se especificar, o rosto do ser humano, e que essa experiência forneceu-lhe uma consciência do importantíssimo papel do padrão e do contexto na obtenção de conhecimento. Essa experiência valiosa não o impediu de mergulhar por inteiro nos clássicos estudos de caso da ciência social e de se transformar, durante o pro- cesso, em um líder da metodologia da ciência social não-laboratorial. Não conheço nenhum texto que se compare a este. Ele atende a uma necessidade de longa data . Estou confiante de que se tornará o texto-padrão nos cursos que ensinam os métodos de pesquisa da ciência social. DONALD T. CAMPBEll BETIILEHEM, PENSILVÂNIA PREFÁCIO o estudo de caso há muito foi (e continua a ser) estereotipado como o parente pobre entre os métodos de ciência social. Os pesquisadores que reali- zam estudos de caso são vistos como se tivessem rebaixado o nível de suas disciplinas acadêmicas. Os estudos de caso também têm sido denegridos, como se tivessem precisão (ou seja, quantificação), objetividade e rigor insuficien- tes. Esse estereótipo dos estudos de caso, que começou no século XX, continua no século XXI, especialmente se fizermos a comparação com os avanços da informática na ciência social quantitativa marcada por técnicas de entrevista por telefone assistida por computador (CATI - computer-assisted telephone interview), projetos experimentais de pesquisa clínicos e comunitários, e téc- nicas analíticas como modelagem de equação estrutural (SEM - structural equation modeling) e modelos lineares hierárquicos (HLM - hierarchicallinear models). Gostaria de poder pintar um quadro diferente. No entanto, o estereótipo existe, e o aviso, portanto, é bem simples: faça estudos de caso, mas faça-os com a compreensão de que seus métodos serão postos em cheque a partir de perspectivas racionais (e irracionais) e que os insaites obtidos com seus estu- dos de caso podem ser depreciados. Ao mesmo tempo, busque algum conforto da observação de que, não obstante o estereótipo dos estudos de caso como um método deficiente, os estudos de caso continuam a ser utilizados de forma extensiva em pesquisa nas ciências sociais - incluindo as disciplinas tradicionais (psicologia, socio- logia, ciência política, antropologia, história e economia) e as áreas com orientação prática, como planejamento urbano, administração pública, polí- tica pública, ciência da administração, trabalho social e educação. O méto- do também é o modelo freqüente para a pesquisa de teses e dissertações em todas essas disciplinas e áreas. Além disso, os estudos de caso são cada vez mais um lugar-comum até mesmo na pesquisa de avaliação, supostamente a esfera de ação de outros métodos, tais como levantamentos e pesquisa qua- se-experimental. Tudo isso sugere um paradoxo surpreendente: se o método XII PREFÁCIO de estudos de caso apresenta sérias fragilidades, por que os pesquisadores continuam a utilizá-lo? Uma explicação possível é que algumas pessoas simplesmente não sa- bem muito mais do que isso e não estão treinadas para utilizar métodos alter- nativos. Contudo, uma leitura cuidadosa dos estudos de caso ilustrativos cita- dos como exemplos ao longo deste livro revelará um grupo distinto de especia- listas, incluindo alguns poucos que trabalharam como líderes em suas respec- tivas profissões (veja os Quadros numerados ao longo do texto). Uma.segun- da possibilidade, não tão importante quanto a primeira, é que as agências federais dos Estados Unidos transformaram os levantamentos equestionários de pesquisa em uma questão burocraticamente perigosa, devido aos procedi- mentos de liberação necessários. Foi dessa forma que os estudos de caso tor- naram-se o método preferido. N9 entanto, as pesquisas patrocinadas pelo go- verno federal não predominam nas ciências sociais - e certamente não predo- minam na Europa e em outros países - e a natureza das leis federais não podem ser responsáveis pelo padrão mais amplo das metodologias utilizadas nas ciências sociais. Ademais, o escrutínio federal em anos recentes também envolveu o método do estudo de caso. Em contraste, este livro apresenta uma terceira possibilidade - que o estereótipo do método de estudo de caso pode estar equivocado. De acordo com essa possibilidade intrigante, a permanente relevância do método levan- ta a possibilidade de que compreendemos mal seus pontos fortes e fracos; pode ser necessária uma perspectiva diferente. Este livro tenta desenvolver essa perspectiva ao desvencilhar o estudo de caso, como ferramenta de pes- quisa, (a) do estudo de caso como ferramenta de ensino, (b) de etnografias e observação participante e (c) dos métodos qualitativos . A essência do estudo de caso vai além dessas áreas. Dessa forma, as características verdadeiramen- te distinguíveis do método de estudo de caso, ao longo de todas as fases da pesquisa - definição do problema, delineamento da pesquisa, coleta de da- dos, análise de dados e composição é apresentação dos resultados - são os tópicos deste livro. O objetivo do livro é orientar os pesquisadores e estudantes que estão tentando realizar estudos de caso como método rigoroso de pesquisa. Dife- rencia-se de outras publicações de várias maneiras. Em primeiro lugar, trata- se de uma apresentação abrangente do método de estudo de caso. Ao passo que outros textos podem tratar apenas de algumas fases, este livro pode ser (e visivelmente foi) usado como um "livro de receitas" completo sobre os estu- dos de caso. Em segundo lugar, o livro dá uma atenção detalhada ao planeja- mento e à análise do estudo de caso, em comparação ao tópico tradicional da coleta de dados do estudo de caso. Os dois primeiros receberam pouquíssima atenção nos textos existentes das ciências sociais, embora criem os maiores problemas àqueles que estão tentando realizar estudo de caso. Em terceiro lugar, o livro faz referências a estudos de caso em muitas áreas diferentes, PREFÁCIO xiii ilustrando questões levantadas no livro (veja os QUADROS ao longo do tex- to). Finalmente, o livro também mostra seu caráter diferenciado na medida em que está começando a passar no teste do tempo: a primeira edição (1984) teve oito reimpressões, a edição revista (1989) teve outras 15, e a segunda edição (1994), mais 14. As idéias contidas neste livro originam-se dos primeiros cursos sobre os métodos dos estudos de caso ministrados no Massachusetts Institute of Technology (MIT) e na American University, de seminários anuais patroci- nados pela Aarhus School of Business, na Dinamarca, e de incursões iniciais pelo método durante minha carreira em pesquisa sobre política. No entanto, a evolução e maturação completa dessas idéias ocorreram através de inúmeros projetos de pesquisa conduzidos na COSMOS Corporation (de 1980 até hoje), que forneceram oportunidades (senão demandas) contínuas para aperfeiçoar o ofício e compartilhá-lo com os demais. Muitas das aplicações citadas do método de estudo de caso vieram do meu trabalho completo na COSMOS (e provavelmente muitos outros virão do trabalho que ainda vou realizar na empresa). Dois revisores anônimos fizeram suas valiosas observações no manuscri- to da primeira edição. De forma semelhante, dois revisores anônimos forne- ceram comentários detalhados e extremamente úteis na prova inicial desta terceira edição. Todas as quatro versões deste livro (1984, 1989, 1994 e a presente edição) receberam contribuições diretas da contínua e cuidadosa atenção de Leonard Bickman e Debra Rog (editores desta série), e da admirá- vel equipe editorial da Sage - Barbara Broka (versão de 1984), C. Deborah Laughton (versão de 1994) e do editor de copidesque Gillian Dickens (versão atual). Sua atenção minuciosa, seu apoio carinhoso e seu estímulo constante fazem com que um autor queira terminar logo um texto. Não obstante, da mesma forma que nas edições anteriores, assumo sozinho a responsabilidade por esta terceira edição. Naturalmente, as idéias de qualquer pessoa sobre os estudos de caso _ e sobre os métodos das ciências sociais de forma mais genérica _ devem ter raízes mais profundas. As minhas retornam às duas disciplinas em que fui treinado: história, na graduação, e psicologia experimental, na pós-gradua- ção. Primeiramente, história e historiografia despertaram minha consciência em relação à importância da metodologia nas ciências sociais. Essa marca incomparável da psicologia experimental que adquiri no MIT ensinou-me de- pois que a pesquisa empírica avança somente quando vem acompanhada pelo pensamento lógico, e não quando é tratada como propósito mecanicista ou de coleta de dados. Essa lição acabou se tomando uma questão básica do méto- do de estudo de caso. Dediquei este livro, portanto, a uma pessoa no MIT que me ensinou isso da melhor maneira imaginável, e sob cuja orientação comple- tei uma dissertação sobre o reconhecimento da face, embora ele mal pudesse reconhecer as semelhanças entre passado e presente, estivesse ele vivo hoje. ------~ . .....---.~--.~_ .. .-.--................ ~~-- -- - . . - . . . XIV PREFÁCIO NOTA ADICIONAL SOBRE A TERCEIRA EDiÇÃO Esta terceira edição foi enriquecida com inúmeros exemplos novos de pesquisas de estudo de caso (cerca de 25 por cento dos QUADROS da edição anterior foram substituídos, e o número de trabalhos citados também foi atua- lizado de maneira substancial), tendo sido acrescentadas novas discussões sobre desenvolvimentos relevantes em outros métodos - por exemplo, experi- mentos de campo "aleatorizados" (Capítulo 1) e técnicas de codificação assis- tidas por computador (Capítulo 5). No processo de atualização da obra, um dos desafios foi atingir um equilíbrio entre manter as citações dos anos ante- riores (por medo de se perderem permanentemente para as novas gerações de especialistas) e incorporar as citações de anos mais recentes. O dilema era entre raízes e relevância, e é de se esperar que esta terceira edição do livro mantenha abertas as janelas para os dois mundos. Mais importante do que esta atualização, não obstante, são as discussões novas ou ampliadas sobre as várias facetas do método do estudo de caso. Em resposta aos comentários que foram feitos sobre o livro, boa parte das ampli- ações ocorreu nos Capítulos 2 e 5, que, aparentemente, continuam a fornecer orientação estimada aos pesquisadores de estudo de caso. Em particular, o Capítulo 2 esclarece os pontos fortes dos estudos de casos múltiplos em com- paração com os estudos de caso único, especialmente o valor de se projetar um estudo de caso de "dois casos". O Capítulo 5 agora apresenta, por inteiro, cinco técnicas analíticas principais, especialmente ao fornecer mais detalhes sobre o uso de modelos lógicos para conduzir a análise e também ao permitir a exclusão de uma discussão anterior de modos menores de análise. Estes e outros exemplos, como a discussão sobre triagem de estudo de caso (Capítulo 3) e estudos de caso como parte de estudos maiores de "múltiplos métodos" (Capítulo 6) , demonstram que a arte do estudo de caso não apenas pode ser atualizada, como também pode ter seu nível melhorado. Essa melhora no nível produziu um segundo desafio - evitar os extremos de se apresentar uma metodologia que é muito básica ou muito obscura; o livro ainda deve fornecer orientações práticas e sólidas que devem ser seguidas por novatos e pesquisa- dores experientes. Houve ainda uma terceira mudança nesta terceira edição: a inserção de referências (em sua maioria sob a forma de notas no finalde cada capítulo) a exemplos de estudos de caso reais que aparecem na edição revisada de uma obra complementar, Applications of Case 5tudy Research (2003). Este livro aju- da o leitor a encontrar, ainda, a outra necessidade expressa ao longo dos anos - ter acesso a estudos de caso, e não apenas a informações sobre a realização dos estudos de caso. As referências dispersas ao longo deste livro, em capítu- los específicos na obra complementar, estreitam a relação entre princípios para a prática (este livro) e amostras oriundas da prática (o outro livro). Apesar de todas essas atualizações e mudanças, o texto e os capítulos parecerão muito PREFÁCIO XV semelhantes aos da segunda edição. A estabilidade (não esterilidade!) é dese- jável, pois reforça o vigor do método básico do estudo de caso. Ao longo de todo esse processo, revisei cuidadosamente cada palavra do texto original, ainda tentando melhorar a estrutura e a sintaxe das sentenças. Essa revisão é interminável, combinada pela evolução do inglês americano _ por exemplo, "computadores pessoais" no lugar de "microcomputadores". Embora o texto tenha ficado mais longo, espero que seja mais fácil de ler. Encerro esta nota agradecendo todos vocês que vêm usando este livro nos quase últimos 20 anos. Comentários feitos sobre as versões anteriores sugerem que a arte do estudo de caso continua a avançar, ainda que de forma vacilante. A compreensão, senão o uso real do método, também parece mais disseminada. Se em 1984 o método do estudo de caso parecia ser nada além de um nicho especializado no repertório de métodos das ciências sociais, as estimativas e os fundamentos parecem ter se alterado. A maioria dos cientis- tas sociais, seja com intenções de praticar estudos de caso ou não, agora têm alguma consciência e compreensão do método e podem, cada vez mais, o estar utilizando em conjunto com outros métodos. Tais tendências são esti- mulantes. Obrigado a todos vocês, uma vez mais. SUMÁRIO 1. Introdução .......... ...... .... ......... ... .. .......... .... ................... ............ ... .............. 19 O estudo de caso como estratégia de pesquisa ........ .... ....... ..... ... ...... ... ... .. . 19 Comparando estudos de caso com outras estratégias de pesquisa nas ciências sociais ..... .... ...... .... ............... ...... .. .... ..... ........... 21 Tipos diferentes de estudos de caso, mas uma definição comum .... .... ...... 31 Resumo ... ... ... ............. ....... ................ ... .. ............... ....... ............... .... .. ...... ... 3E 2. Projetando estudos de caso ....... .. ........... ............ .. .. ... ...... ..................... .. 3S Abordagem geral ao projetar estudos de caso ..... ..... ..... ............ .... ..... ..... .. 4C Critérios para julgar a qualidade dos projetos de pesquisa ........... ...... ...... SL Projetos de estudo de caso ................. ..... .... .. ..... .... ..... ...... .. .... .... ... ......... ... 6C Modesto conselho ao selecionar projetos de estudos de caso ...... ......... .. ... 7~ 3. Conduzindo estudos de caso: preparação para a coleta de dados .... .. ....... ... ..... ................. .. ... .......... 8J O pesquisador do estudo de caso: habilidades desejadas .......................... 8: Treinamento e preparação para um estudo de caso específico ..... ............. 8~ O protocolo para o estudo de caso ... ...... .. .... ...... ........ .... ....... .... .... .. ....... ... 9: Fazendo a triagem das indicações para estudo de caso .............. .... ......... 10~ O estudo de caso piloto ... ... ..... ............ ... ......... ... ... ....... .. ......... ........... ... .. 10L Resumo ......... .... ......... .... .... ........... .... ... ...... ........... .......... ................ .. ..... .. 10~ 4. Conduzindo estudos de caso: coleta de evidências ........................... lOS Seis fontes de evidências ....................... ..... ......... ... ........... .. ........... ......... 11 J Três princípios para a coleta de dados ...... .......... ...... ......... .... .... .. ...... ...... 12< Resumo ................................................. ... .. ......... ..................................... 13< ( 18 SUMÁRIO 5. Analisando as evidências do estudo de caso Uma estratégia analítica: mais do que familiaridade com as ferramentas analíticas Técnicas analíticas específicas Exigindo uma análise de alta qualidade Resumo 6. Relatando estudos de caso o público-alvo para os relatórios de um estudo de caso Relatórios de estudo de caso como parte de estudos maiores de multimétodos Estruturas ilustrativas para a composição dos estudos de caso Procedimentos ao fazer um relatório de estudo de caso O que torna exemplar um estudo de caso? Referências bibliográficas Índice 137 138 144 167 168 171 173 179 182 186 191 199 209 . • • 1 e •• INTRODUCAO o estudo de caso é apenas uma das muitas maneiras de fazer pesquisa em ciências sociais. Experimentos, levantamentos, pesquisas históricas e análise de informações em arquivos são alguns exemplos de outras maneiras de reali- zar pesquisa. Cada estratégia apresenta vantagens e desvantagens próprias, dependendo basicamente de três condições: a) o tipo de questão da pesquisa; b) o controle que o pesquisador possui sobre os eventos comportamentais efetivos; c) o foco em fenômenos históricos, em oposição a fenômenos con- temporâneos. Em geral, os estudos de caso representam a estratégia preferida quando se colocam questões do tipo "como" e "por que", quando o pesquisador tem pouco controle sobre os acontecimentos e quando o foco se encontra em fenô- menos contemporâneos inseridos em algum contexto da vida real. Pode-se complementar esses estudos de casos explanatórios com dois outros tipos - estudos exploratórios e descritivos. Independentemente do tipo de estudo de caso, os pesquisadores devem ter muito cuidado ao projetar e realizar estudos de casos a fim de superar as tradicionais críticas que se faz ao método. O ESTUDO DE CASO COMO ESTRATÉGIA DE PESQUISA Usar os estudos de caso para fins de pesquisa permanece sendo um dos mais desafiadores de todos os esforços das ciências sociais. O propósito des- te livro é ajudar o leitor - um cientista social experiente ou principiante - a lidar com o desafio. Seu objetivo é projetar bons estudos de caso e coletar, 20 ESTUDO DE CASO apresentar e analisar os dados de forma imparcial. Um objetivo adicional é conduzir o estudo de caso para o fechamento ao se escrever um relatório ou livro convincente. Como estratégia de pesquisa, utiliza-se o estudo de caso em muitas situ- ações, para contribuir com o conhecimento que temos dos fenômenos indivi- duais, organizacionais, sociais, políticos e de grupo, além de outros fenôme- nos relacionados. De forma não surpreendente, o estudo de caso tem se cons- tituído uma estratégia comum de pesquisa na psicologia, sociologia, ciência política, trabalho social (Gilgun, '1994), administração (Ghauri & Gnzmhaug, 2002) e planejamento social. Podem-se encontrar estudos de caso até mesmo na economia, em que a estrutura de uma determinada indústria, ou a econo- mia de uma cidade ou região, pode ser investigada através do uso do método de estudo de caso. Em todas essas situações, a clara necessidade pelos estudos de caso surge do desejo de se compreender fenômenos sociais complexos. Em resumo, o estudo de caso permite uma investigação para se preservar as ca- racterísticas holísticas e significativas dos acontecimentos da vida real - tais como ciclos de vida individuais, processos organizacionais e administrativos, mudanças ocorridas em regiões urbanas, relações internacionais e a maturação de setores econômicos. Este livro abrange as características distintivas do estudo de caso como método de pesquisa. O objetivo geral do livro é ajudá-lo a lidar com algumas das questões mais difíceis que são comumente negligenciadaspelos textos de pesquisa disponíveis. Com muita freqüência, por exemplo, o autor se viu fren- te a frente com um estudante ou um colega de profissão que lhe perguntou: a) como definir um caso que está sendo estudado; b) como determinar os dados relevantes que devem ser coletados; c) o que deveria ser feito com os dados após a coleta. Este livro responde a essas quest'ões e muitas outras, tratando de todas as fases do projeto, da coleta de dados, da análise e da apresentação dos resultados. Ao mesmo tempo, o livro não trata de todos os usos do estudo de caso. Não é seu objetivo, por exemplo, ajudar aqueles que procuram utilizar os estudos de caso como recursos de ensino, popularizados nos campos do direi- to, da administração, da medicina ou da política pública (veja Llewellyn, 1948; Stein, 1952; Towl, 1969; Windsor & Greanias, 1983), mas agora predominan- tes em praticamente todas as áreas acadêmicas, incluindo as ciências natu- rais. Para fins de ensino, um estudo de caso não precisa conter uma interpre- tação completa ou acurada de eventos reais; em vez disso, seu propósito é estabelecer uma estrutura de discussão e debate entre os estudantes . Os crité- rios para desenvolver bons casos para ensino - cuja variedade, em geral, é de caso único e não de casos múltiplos - são bem diferentes dos critérios para INTRODUÇÃO 21 realizar pesquisa Cp.ex., Caulley & Dowdy, 1987). Os estudos de caso que se destinam ao ensino não precisam se preocupar com a apresentação justa e rigorosa dos dados empíricos; os que se destinam à pesquisa precisam fazer exatamente isso. De forma similar, não é objetivo deste livro abranger aquelas situações em que os casos são utilizados como forma de manter registros. Registros médicos, arquivos de trabalho social e outros registros de caso são utilizados para facilitar a prática, na medicina, no direito ou no trabalho social. Nova- mente, os critérios para desenvolver bons casos para a utilização prática são diferentes dos critérios usados para projetar estudos de casos para a pesquisa. Em contraste, o fundamento lógico para este livro é que os estudos de caso estão sendo cada vez mais utilizados como ferramenta de pesquisa Cp.ex. , Hamel, 1992; Perry & Kraemer, 1986) e que você, na qualidade de cientista social, gostaria de saber como planejar e conduzir estudos de caso único ou de casos múltiplos para investigar um objeto de pesquisa. Talvez você só esteja fazendo um estudo de caso, ou o esteja utilizando como parte de um estudo maior de múltiplos métodos (veja Capítulo 6). Seja como for, O livro concen. tra-se fortemente no problema de projetar e analisar estudos de caso. Não é meramente um guia para a coleta de evidências. Sob tal aspecto, a obra pre. enche uma lacuna na metodologia das ciências sociais, que foi dominada por textos sobre "trabalho de campo" e "pesquisa de campo", e, mais recentemen- te, "métodos qualitativos" - mas que oferecem poucas diretrizes de como ini- ciar um estudo de caso, como analisar os dados ou mesmo como minimizar os problemas de composição do relatório do estudo. COMPARANDO ESTUDOS DE CASO COM OUTRAS ESTRATÉGIAS DE PESQUISA NAS CIÊNCIAS SOCIAIS Quando e por que você desejaria realizar estudos de caso sobre algum tópico? Deveria pensar em fazer um experimento em vez de um estudo de caso? Um levantamento? Uma pesquisa histórica? Uma análise de registros históricos apoiada por computador, como tendências econômicas ou históri- cos escolares? Essas e outras escolhas representam estratégias de pesquisa diferentes. Cada uma dessas estratégias representa uma maneira diferente de coletar e analisar provas empíricas, seguindo sua própria lógica. E cada uma apresenta suas próprias vantagens e desvantagens. Para obter o máximo de uma estraté- gia de estudo de caso, você precisa conhecer essas diferenças.1 Uma interpretação equivocada muito comum é a que as diversas estraté- gias de pesquisa devem ser dispostas hierarquicamente. Muitos cientistas so- ciais ainda acreditam profundamente que os estudos de caso são apropriados apenas à fase exploratória de uma investigação, que os levantamentos de da- .. • • • 11 ,. li • • )I .. )I .. .. .. )li .. • • )I • --• )I • .. • .. li )I • li • • .. 22 ESTUDO DE CASO dos e as pesquisas históricas são apropriadas à fase descritiva e que os experi- mentos constituem a única maneira de fazer investigações explanatórias ou causais Cp.ex., Shavelson & Townes, 2002). Essa visão hierárquica reforça a idéia de que os estudos de caso são apenas uma ferramenta exploratória pre- liminar e não podem ser utilizados para descrever ou testar proposições. Essa visão hierárquica, no entanto, pode ser questionada. Certamente sem- pre houve experimentos motivados por razões exploratórias. Além disso, o de- senvolvimento de explanações causais sempre representou uma séria preocupa- ção para os historiadores, refletida pelo subcampo conhecido como historio- grafia. Da mesma forma, os estudos de caso estão muito longe de serem apenas uma estratégia exploratória. Alguns dos melhores e mais famosos estudos de casos foram tanto explanatórios Cp.ex., veja Quadro 1 para uma rápida descri- ção do caso Essence of Decision: Explaining the Cuban Missile Crisis, de Allison e Zelikow, 1999 [grifo acrescentado]) quanto descritivos Cp.ex., veja Quadro 2 para uma rápida descrição de Street Comer Society, de Whyte, 1943/1955).2 A visão mais apropriada dessas estratégias diferentes é inclusiva e pluralística. Pode-se utilizar cada estratégia para três propósitos - exploratório, QUADRO 1 Um estudo de caso único e explanatório que vendeu muito Por mais de 30 anos, o estudo original feito por Graham Allison (1971) de um caso único, a crise dos mísseis cubanos de 1962 - na qual o confronto Estados Unidos/União Soviética poderia ter gerado um holocausto nuclear - foi um best-se/ler da ciência política. O livro sugere três teorias concorrentes, mas também complementares para explicar a crise - que os Estados Unidos e a União Soviética agiram como (a) atores com fundamento lógico, (b) burocra- cias complexas ou (c) grupos politicamente motivados. Allison compara a ha- bi lidade de cada uma para explicar o curso dos acontecimentos na crise: por que a União Soviética colocou mísseis de ataque (e não apenas de defesa) em Cuba, em primeiro lugar, por que os Estados Unidos responderam à colocação dos mísseis com um bloqueio (e não com ataque aéreo ou invasão - os mís- seis já estavam em Cuba!) e por que a União Soviética acabou retirando os mísseis. , O estudo de caso mostra as funções explanatórias, e não apenas descriti- vas ou exploratórias de estudos de caso único. Ademais, as lições que se po- dem tirar do estudo de caso têm a intenção de serem generalizáveis não ape- nas às relações exteriores entre países, como também a uma ampla variedade de ações governamentais complexas. Dessa maneira, o livro, ainda mais solí- cito em 'sua segunda edição (Allison & Zelikow, 1999), demonstra, de forma convincente, como um estudo de caso único pode ser a base para explana- ções e generalizações significativas. INTRODUÇÃO 23 QUADRO 2 Um famoso estudo de caso descritivo O livro Street Comer Society (1943/1955). de William F. Whyte, foi reco- mendado por décadas na comunidade sociológica. É um exemplo clássico de um estudo de caso descritivo. Traça a seqüência de eventos interpessoais ao longo do tempo, descreve uma subcultura que raramente foi tópico de estu- dos anteriores e descobre seus fenômenos-chave - como o avanço profissio- nal dos jovens de baixa renda e sua habilidade (ou incapacidade) de romper os laços da vizinhança. Apesar de ser um estudo de caso único, que estudava um bairro (Cornerville) e um período de tempo que já tem mais de 70 anos, o estudo foi muito respei- tado. O valor do livro está, paradoxalmente, em sua capacidade de generaliza- ção de questões que lidam com o desempenho individual, a estrutura de gru- po e a estruturasocial dos bairros. Mais tarde, vários pesquisadores encontra- ram, de forma recorrente, vestígios de Cornerville em seus trabalhos, embora tenham estudado bairros e períodos de tempo diferentes. descritivo ou explanatório. Deve haver estudos de caso exploratórios, estudos de caso descritivos ou estudos de caso explanatórios CYin, 1981a, 1981b). Também deve haver experimentos exploratórios, experimentos descritivos e experimentos explanatórios. O que diferencia as estratégias não é essa hierar- quia, mas três outras condições, discutidas a seguir. Não obstante, a explica- ção não implica que os limites entre as estratégias - ou as ocasiões em que cada uma é usada - sejam claros e bem-delimitados. Muito embora cada es- tratégia tenha suas características distintas, há grandes áreas de sobreposições entre elas. O objetivo é evitar desajustes exagerados - isto é, quando você estiver planejando utilizar um tipo de estratégia, porém outro é realmente mais vantajoso. Quando utilizar cada estratégia As três condições consistem Ca) no tipo de questão de pesquisa proposta, Cb) na extensão de controle que o pesquisador tem sobre eventos comporta- mentais atuais e Cc) no grau de enfoque em acontecimentos contemporâneos em oposição a acontecimentos históricos. A Figura 1.1 apresenta essas três condições e mostra como cada uma se relaciona às cinco principais estratégi- as de pesquisa nas ciências sociais que estão sob discussão: experimentos, levantamentos, análise de arquivos, pesquisas históricas e estudos de caso. A importância de cada condição, ao se fazer a distinção entre as cinco estratégi- as, é discutida a seguir. 24 ESTUDO DE CASO Tipos de questões de pesquisa (Figura 1.1, coluna 1). A primeira condição trata da(s) questão(ões) da pesquisa (Hedrick, Bickman & Rog, 1993). Um esquema básico de categorização para os tipos de questão pode ser represen- tado pela conhecida série: "quem", "o que* ", "onde", "como" e "por que". Se as questões da pesquisa concentram-se principalmente em questões do tipo "o que", surgem duas possibilidades. Primeiro, alguns tipos de ques- tões "o que" são exploratórias, como esta: "O que pode ser feito para tornar as escolas mais eficazes?" Esse tipo de questão é um fundamento lógico justificá- vel para conduzir um estudo exploratório, tendo como objetivo o desenvolvi- mento de hipóteses e proposições pertinentes a inquirições adicionais. Entre- tanto, como estudo exploratório, qualquer uma das cinco estratégias de pes- quisa pode ser utilizada - por exemplo, um levantamento exploratório, um experimento exploratório ou um estudo de caso exploratório. O segundo tipo de questões "o que" é, na verdade, uma forma de investigação na linha "quan- to" ou "quantos" - por exemplo, "Quais foram os resultados de uma determi- nada reorganização administrativa?" É mais provável que a identificação de tais resultados favoreça as estratégias de levantamento de dados ou de análi- se de arquivos do que qualquer outra. Por exemplo, pode-se projetar facil- mente um levantamento para enumerar os "o ques", ao passo que um estudo de caso não seria uma estratégia vantajosa nessa situação. De forma similar, como esse segundo tipo de questão "o que", é mais provável que questões do tipo "quem" ou "onde" (ou seus derivados - "quantos" Forma Exige controle Focaliza de questão sobre eventos acontecimentos Estratégia de pesquisa comporta mentais contemporâneos Experimento como, por que sim sim Levantamento quem, o que, não sim onde, quantos, quanto Análise quem, o que, não sim/não de arquivos onde, quantos, quanto Pesquisa como, por que não não histórica Estudo de caso como, por que não sim ----- FIGURA 1.1 Situações relevantes para diferentes estratég ias de pesquisa. Fonte: COSMOS Corporation. *N. de T. "What", no original. O termo também pode ser traduzido por "qual" ou "quais". I INTRODUÇÃO 25 e "quanto") favoreçam estratégias de levantamento de dados ou análise de registros arquivais, como na pesquisa econômica. Tais estratégias são vantajo- sas quando o objetivo da pesquisa for descrever a incidência ou a predomi- nância de um fenômeno, ou quando ele for previsível sobre certos resultados. A investigação de atitudes políticas predominantes (nas quais um levanta- mento ou uma pesquisa de opinião pode ser a estratégia favorecida) ou da disseminação de uma doença como a AIDS (em que uma análise das estatísti- cas de saúde pode ser a estratégia favorecida) seriam os exemplos típicos . Em contraste, questões do tipo "como" e "por que" são mais explanatórias, e é provável que levem ao uso de estudos de casos, pesquisas históricas e experimentos como estratégias de pesquisa escolhidas. Isso se deve ao fato de que tais questões lidam com ligações operacionais que necessitam ser traçadas ao longo do tempo, em vez de serem encaradas como meras repetições ou incidências. Assim, se você desejasse saber como uma comunidade conseguiu superar com sucesso o impacto negativo do fechamento de seu maior empre- gador - uma base militar (veja Bradshaw, 1999) - seria pouco provável que você confiasse em um levantamento de dados ou em um exame de arquivos; seria melhor fazer uma pesquisa histórica ou um estudo de caso. Da mesma forma, se você desejasse saber por que alguns circundantes não conseguem relatar situações perigosas sob certas condições, você poderia projetar e con- duzir uma série de experimentos (veja Latané & Darley, 1969). Vamos considerar outros dois exemplos. Se você estivesse investigando "quem" sofreu devido a atos terroristas e "quanto" dano foi causado nesses atos, você poderia fazer um levantamento entre os residentes do local, exami- nar os registros comerciais (uma análise de arquivos) ou conduzir um levanta- mento de campo na área afetada. Em contraste, se você quisesse saber "por que" esse ato terrorista teve lugar, teria que esquematizar uma série mais abrangente de informações documentárias, ao mesmo tempo em que reali- zasse algumas entrevistas; se você focasse sua investigação em questões do tipo "por que" em mais de um ato terrorista, provavelmente estaria realizan- do um estudo de casos múltiplos. Da mesma forma, se você quisesse saber "o que" o governo realmente fez após anunciar um novo programa, poderia responder a essa questão realizan- do um levantamento ou examinando dados econômicos, dependendo do tipo de programa envolvido. As questões (p.ex., quantos clientes o programa bene- ficiou? Que tipos de benefícios foram concedidos? Qual a freqüência com quem se produziram benefícios diferentes?) poderiam ser todas respondidas sem fazer um estudo de caso. Mas, se você precisasse saber "como" ou "por que" o programa funcionou (ou não), teria que se dirigir ou para o estudo de caso ou para um experimento de campo. Para resumir, a primeira e mais importante condição para diferenciar as várias estratégias de pesquisa é identificar o tipo de questão de pesquisa que está sendo apresentada. Em geral, questões do tipo "o que" podelT' ser tanto exploratórias (em que se poderia utilizar qualquer uma das estratégias) ou 26 ESTUDO DE CASO sobre predominância de algum tipo de dado (em que se valorizaria levanta- mentos ou análises de registros em arquivo) . É provável que questões "como" e "por que" estimulassem o uso de estudos de caso, experimentos ou pesquisas históricas. Definir as questões da pesquisa é provavelmente o passo mais importante a ser considerado em um estudo de pesquisa. Assim, você deve reservar paci- ência e tempo suficiente para a realização dessa tarefa. A chave é compreen- der que as questões de uma pesquisa possuem substância (p.ex., "sobre o que é o meu estudo?") efonna (p.ex., "estou fazendo uma pergunta do tipo 'quem', 'o que', 'por que' ou 'como'?"). Outras questões detiveram-se em detalhes subs- tanCialmente importantes (veja Campbell, Daft & Hulin, 1982); o ponto-chave da discussão anterior é que a forma de uma questão fornece um indício impor- tante paratraçar a estratégia de pesquisa que será adotada. Lembre-se das grandes áreas de sobreposição entre as estratégias, de forma que, para algu- mas questões, pode realmente existir uma escolha efetiva entre uma ou outra estratégia. Tenha consciência, por fim, de que pode haver uma predisposição de sua parte para buscar uma estratégia em particular independentemente da questão do estudo. Se for assim, certifique-se de criar a forma de questão do estudo que melhor se enquadre na estratégia que você está pensando em ado- tar em primeiro lugar. Abrangência do controle sobre eventos comportamentais (Figura 1.1, colu- na 2) e grau de enfoque em acontecimentos contemporâneos em oposição a acon- tecimentos históricos (Figura 1.1) coluna 3). Partindo-se do princípio de que questões do tipo "como" e "por que" devam ser o foco do estudo, uma distin- ção adicional entre pesquisa histórica, estudo de caso e experimento toma-se a abrangência do controle que o pesquisador tem sobre eventos comporta- mentais efetivos e o acesso a eles. As pesquisas históricas representam a estra- tégia escolhida quando realmente não existe controle ou acesso. Assim, a con- tribuição distintiva do método histórico está em lidar com o passado "morto" - ou seja, quando nenhuma pessoa relevante ainda está viva para expor, mes- mo em retrospectiva, o que aconteceu, e quando o pesquisador deve confiar, como fonte principal de evidências, em documentos primários, secundários e artefatos físicos e culturais. Podem-se, naturalmente, fazer pesquisas históri- cas sobre acontecimentos contemporâneos; nessa situação, a estratégia come- ça a se sobrepor à estratégia do estudo de caso. O estudo de caso é a estratégia escolhida ao se examinarem aconteci- mentos contemporâneos, mas quando não se podem manipular comportamen- tos relevantes. O estudo de caso conta com muitas das técnicas utilizadas pelas pesquisas históricas, mas acrescenta duas fontes de evidências que usu- almente não são incluídas no repertório de um historiador: observação direta dos acontecimentos que estão sendo estudados e entrevistas das pessoas neles envolvidas. Novamente, embora os estudos de casos e as pesquisas históricas possam se sobrepor, o poder diferenciador do estudo de caso é sua capacidade INTRODUÇÃO 27 de lidar com uma ampla variedade de evidências - documentos, artefatos, entrevistas e observações - além do que pode estar disponível no estudo histó- rico convencional. Além disso, em algumas situações, como na observação participante (veja Capítulo 4), pode ocorrer manipulação informal. Finalmente, são realizados experimentos quando o pesquisador pode manipular o comportamento direta, precisa e sistematicamente. Isso pode ocor- rer em um laboratório, no qual o experimento pode focar uma ou duas variá- veis isoladas (e presume que o ambiente de laboratório possa "controlar" to- das as variáveis restantes além do escopo de interesse), ou pode ocorrer em um campo, onde surgiu o termo experimento social para se ocupar da pesquisa em que os pesquisadores "tratam" grupos inteiros de pessoas de maneiras diferentes, como lhes fornecer tipos diferentes de documentação comprobatória (Boruch, 1993). Novamente os métodos se sobrepõem. A ampla variedade de ciências experimentais também inclui aquelas situações em que o experimentador não pode manipular o comportamento (veja Blalock, 1961; Campbell & Stanley, 1966; Cook & Campbell, 1979), mas nas quais a lógica do planejamento experimental ainda pode ser aplicada. Essas situações foram comumente denominadas situações "quase-experimentais". Pode-se até mesmo utilizar a abordagem quase-experimental em um cenário histórico, no qual, por exemplo, o pesquisador pode se interessar pelo estudo de manifestações raciais ou linchamentos (veja Spilerman, 1971) e pode utilizar um planejamento quase- experimental porque não é possível obter controle sobre eventos comportamentais. No campo da pesquisa de avaliação, Boruch e Foley (2000) apresenta- ram um argumento convincente para os aspectos práticos de uma forma da estratégia quase-experimental- experimentos aleatorizados de campo. Os au- tores sustentam que o planejamento de experimentos de campo pode ser e foi usado mesmo ao se avaliar iniciativas complexas de comunidade. Caso sua implementação seja possível, tal projeto certamente se mostrará superior a outros projetos, pois produz certezas maiores nos resultados. No entanto, as declarações e a revisão da literatura feitas por Boruch e Foley não remetem a situações comuns nas quais o uso dos experimentos aleatorizados de campo é, não obstante, difícil de implementar, senão totalmente inexeqüível. Entre as situações, pode-se destacar as seguintes: • o programa que está sendo avaliado decide financiar locais específi- cos em um procedimento de recompensa competitivo (o planejamen- to dos experimentos aleatorizados de campo exige designações alea- tórias de intervenção e grupos de controle); • qualquer local de comparação ou controle, selecionado para corresponder ao local (intervenção) financiado, pode já ter no lugar ou adotar mais tarde componentes importantes da intervenção finan- ciada utilizando outros recursos (o projeto, em geral, parte do princí- pio de que os locais de intervenção têm a intervenção mais potente); 28 ESTUDO DE CASO • a intervenção financiada pode recorrer à comunidade para que esta reorganize toda sua maneira de fornecer certos serviços - ou seja, uma mudança de "sistemas" -, criando, com isso, uma variabilidade de local para local na unidade de designação ou análise (o projeto parte do princípio de que a unidade de designação é a mesma em todos os locais, tanto na intervenção quanto no controle); • o mesmo aspecto de mudança de sistemas da intervenção pode signi- ficar que as organizações ou entidades que administram a interven- ção não podem permanecer necessariamente estáveis ao longo do tem- po (o projeto exige essa estabilidade até que os experimentos alea- torizados de campo tenham sido completados); .• . • os locais da intervenção financiados podem não querer ou ser incapa- zes de usar os mesmos instrumentos e medidas (o projeto, que, por fim, "agrupará" os dados para comparar os locais de intervenção como grupo com locais de comparação como segundo grupo, exige instru- mentos e medidas comuns de um local para o outro) . A existência de qualquer uma dessas condições provavelmente levará à necessidade de se encontrar alternativas para os experimentos aleatorizados de campo. Resumo. Você deve ser capaz de identificar algumas situações nas quais todas as estratégias de pesquisa podem ser relevantes (tais como pesquisa exploratória), e outras situações em que se podem considerar duas estratégi- as de forma igualmente atraente. Você também pode utilizar mais de uma estratégia em qualquer estudo dado (por exemplo, um levantamento em um estudo de caso ou um estudo de caso em um levantamento). Até aqui, as várias estratégias não são mutuamente exclusivas. Mas você também pode identificar algumas situações em que uma estratégia específica possui uma vantagem distinta. Para o estudo de caso, isso ocorre quando • faz-se uma questão do tipo "como" ou "por que" sobre um conjunto contemporâneo de acontecimentos, sobre o qual o pesquisador tem pouco ou nenhum controle. Determinar as questões mais significantes para um determinado tópico e obter alguma precisão na formulação dessas questões exige muita prepara- ção . Uma das maneiras para se conseguir isso é revisar a literatura já escrita sobre aquele tópico (Cooper, 1984). Observe que essa revisão de literatura é, portanto, um meio para se atingir uma finalidade, e não - como pensam mui- tos estudantes - uma finalidade em si. Os pesquisadores iniciantes acreditam que o propósito de uma revisão de literatura seja determinar as respostas so- bre o que se sabe a respeito de um tópico; não obstante, os pesquisadores experientes analisam pesquisas anteriores para desenvolver questõesmais ob- jetivas e perspicazes sobre o mesmo tópico. Preconceitos tradicionais em relação à estratégia de estudo de caso INTRODUÇÃO 29 Embora o estudo de caso seja uma forma distintiva de investigação empírica, muitos pesquisadores demonstram um certo desprezo para com a estratégia. Em outras palavras, como esforço de pesquisa, os estudos de caso vêm sendo encarados como uma forma menos desejável de investigação do que experimentos ou levantamentos. Por quê? Talvez a maior preocupação seja a falta de rigor da pesquisa de estudo de caso. Por muitas e muitas vezes, o pesquisador de estudo de caso foi negligen- te, não seg~iu procedimentos sistemáticos ou permitiu que se aceitassem evi- dências equivocadas ou visões tendenciosas para influenciar o significado das constatações e conclusões. É menos provável que essa falta de rigor se faça presente quando se estiver usando as outras estratégias - possivelmente por causa da existência de inúmeros textos metodológicos que fornecem aos pes- quisadores procedimentos específicos a serem seguidos. Em contraste, poucos textos, quando muito (além do presente) tratam do método de estudo de caso de uma forma semelhante. Também existe a possibilidade de que as pessoas tenham confundido o ensino do estudo de caso com a pesquisa do estudo de caso. No ensino, a matéria-prima do estudo de caso pode ser deliberadamente alterada para ilus- trar uma determinada questão de forma mais efetiva (p.ex., Stein, 1952). Na pesquisa, qualquer passo como esse pode ser terminantemente proibido. Cada pesquisador de estudo de caso deve trabalhar com afinco para expor todas as evidências de forma justa, e este livro o ajudará a fazer isso. O que freqüente- mente se esquece é que vieses também podem ser inseridos no procedimento dos experimentos (veja Rosenthal, 1966) e do uso de outras estratégias de pesquisa, como o planejamento de questionários de pesquisas (Sudman & Bradburr, 1982) ou a condução de pesquisa histórica (Gottschalk, 1968). Não são problemas diferentes, mas, na pesquisa de estudo de caso, são problemas freqüentemente encontrados e pouco superados. Uma segunda preocupação muito comum em relação aos· estudos de caso é que eles fornecem pouca base para fazer uma generalização científica. "Como você pode generalizar a partir de um caso único" é uma questão muito ouvi- da. A resposta não é muito simples (Kennedy, 1976). Entretanto, pense, no momento, que a mesma questão tenha sido feita em relação a um experimen- to: "Como você pode generalizar a partir de um único experimento?" Na ver- dade, fatos científicos raramente se baseiam em experimentos únicos; basei- am-se, em geral, em um conjunto múltiplo de experimentos que repetiram o mesmo fenômeno sob condições diferentes . Pode-se utilizar a mesma técnica com estudos de casos múltiplos, mas exige-se um conceito diferente dos pro- jetos de pesquisa apropriados; essa discussão é apresentada em detalhes no Capítulo 2. Uma resposta muito breve é que os estudos de caso, da mesma forma que os experimentos, são generalizáveis a proposições teóricas, e não a 30 ESTUDO DE CASO populações ou universos. Nesse sentido, o estudo de caso, como o experimento, não representa uma "amostragem", e, ao fazer isso, seu objetivo é expandir e generalizar teorias (generalização analítica) e não enumerar freqüências (gene- ralização estatística) . Ou, como descrevem três notáveis cientistas sociais em seu estudo de caso único feito anos atrás, o objetivo é fazer uma análise "generalizante" e não "particularizante" CLipset, Trow e Coleman, 1956, p. 419-420). Uma terceira reclamação freqüente que se faz ao estudo de caso é que eles demoram muito, e resultam em inúmeros documentos ilegíveis. Essa queixa pode . até ser procedente, dada a maneira como se realizaram estudos de caso no passa- do Cp.ex., Feagin, Orum & Sjoberg, 1991), mas não representa, necessariamente, a maneira como os estudos de caso - incluindo o seu - devem ser conduzidos no futuro. O'Capítulo 6 discute alternativas para escrever estudo de caso - incluindo aquelas em que se podem evitar totalmente as maçantes narrativas tradicionais. Nem os estudos de caso precisam demorar muito tempo. Isso confunde incorreta- mente o método de estudo de caso com um método específico de coleta de dados, como etnografia Cp.ex., Fetterman, 1989) ou observação participante Cp.ex., Jorgensen, 1989). A ernografia em geral exige longos períodos de tempo no "cam- po" e enfatiza evidências observacionais detalhadas. A observação participante pode não exigir a mesma quantidade de tempo, mas ainda presume um investi- mento pesado de esforços no campo. Em contraste, os estudos de caso são uma forma de inquirição que não depende exclusivamente dos dados ernográficos ou de observadores participantes. Você poderia até mesmo realizar um estudo de caso válido e de alta qualidade sem deixar a biblioteca e o telefone ou a Internet, dependendo do tópico que está sendo utilizado. Apesar do fato de que essas preocupações comuns possam ser tranqüili- zadas, como foi feito acima, uma lição maior que se pode tirar ainda é que bons estudos de caso são muito difíceis de serem realizados. O problema é que temos poucas maneiras de flltrar ou testar a capacidade de um pesquisador de realizá-los. As pessoas sabem quando elas não dominam a arte de fazer músi- ca; também sabem quando não conseguem passar de um certo nível em mate- mática; e podem ser testadas em outras habilidades, como no "exame da Or- dem"* no Direito. De alguma forma, as habilidades necessárias para fazer bons estudos de caso ainda não foram muito bem definidas, e, por conseguinte, a maioria das pessoas tem a impressão de que pode preparar um estudo de caso, e quase todos nós acreditamos que entendemos um estudo. Como nenhu- ma das duas impressões é bem-fundamentada, o estudo de caso recebe uma boa parcela de aprovação que não merece. (Hoaglin, Light, McPeek, Mosteller & Stoto, 1982, p. 134) *N. de T. Bar examination, no original. Nos Estados Unidos, é o exame ao qual o recém- formado em Direito precisa se submeter para começar a exercer a advocacia. Equivaleria, no Brasil, ao exame realizado pela Ordem dos Advogados do Brasil. INTRODUÇÃO 31 Essa citação vem de um livro escrito por cinco estatísticos de destaque. De forma surpreendente, eles reconhecem o desafio que há por trás da realização de um estudo de caso, mesmo pertencendo a outra área. TIPOS DIFERENTES DE ESTUDOS DE CASO, MAS UMA DEFINiÇÃO COMUM Avançamos até aqui sem uma definição formal de estudos de caso. Além disso, questões freqüentemente levantadas sobre o assunto permaneceram sem resposta. Por exemplo, ainda se caracteriza como estudo de caso quando mais de um caso é incluído no mesmo estudo? Os estudos de caso excluem o uso de provas quantitativas? Podem-se utilizar estudos de caso para fazer avaliações? Vamos tentar agora definir a estratégia de ,estudo de caso e responder a essas perguntas. Definição do estudo de caso como estratégia de pesquisa As definições encontradas com mais freqüência dos estudos de caso ape- nas repetiram os tipos de tópicos aos quais os estudos foram aplicados. Por exemplo, nas palavras de um observador, a essência de um estudo de caso, a principal tendência em todos os tipos de estudo de caso, é que ela tenta esclarecer uma decisão ou um conjunto de deci- sões: o motivo pelo qual foram tomadas, como foram implementadas e com quais resultados. (Schramm, 1971, grifo nosso) Logo, essa definição cita o tópico das "decisões" como foco principal dos estudos de caso. De forma similar, foram listados outros tópicos, a saber, "in- divíduos", "organizações", "processos", "programas", "bairros", "instituições" e mesmo "eventos".3 No entanto, citar o tópico é certamente insuficiente para estabelecer a definição necessária dos estudos de caso. Como alternativa, muitos livros-texto de ciências sociais não obtiveram êxito na tentativa de encarar o estudo de caso comouma estratégia formal de pesquisa (a principal exceção é um livro de autoria de cinco estatísticos da Universidade Harvard - Hoaglin et al., 1982). Como discutido anteriormente, uma falha comum era considerar o estudo de caso como o estágio exploratório de algum outro tipo de estratégia de pesquisa, e o estudo de caso em si era apenas mencionado em uma ou duas linhas do texto. Outra falha comum de definição era confundir os estudos de caso com os estudos etnográficos ou com a observação participante, de forma que uma presumível discussão dos estudos de caso promovida por um livro-texto era, na realidade, uma descrição tanto do método etnográfico ou da observação 32 ESTUDO DE CASO participante como da técnica de coleta de dados . Muitos textos-padrão metodológicos (p.ex., ver os trabalhos anteriores de Kidder & Judd, 1986; Nachmias & Nachmias, 1992), na verdade, ainda tratam o "trabalho de cam- po" apenas como uma técnica de coleta de dados e omitem qualquer discus- são adicional acerca dos estudos de caso. Em uma visão histórica do estudo de caso no pensamento metodológico americano, Jennifer Platt (1992a) explica as razões para esses tratamentos. Ela encontra a origem das práticas de realização de estudos de caso na condu- ção de histórias de vida, no trabalho da escola Chicago de sociologia e nos estudos das circunstâncias pessoais de famílias e indivíduos no trabalho so- cial. Dessa forma, Platt mostra como a "observação participante" surgiu como técnica de coleta de dados, deixando em suspenso a definição adicional de qualquer estratégia distintiva de estudo de caso . Finalmente, ela explica como a primeira edição deste livro (1984) dissociou em definitivo a estratégia do estudo de caso das perspectivas limitadas de se realizar observação partici- pante (ou qualquer tipo de trabalho de campo) . A estratégia de estudo de caso, nas palavras dela, começa com "uma lógica de planejamento c. .. ), uma estratégia que deve ser priorizada quando as circunstâncias e os problemas de pesquisa são apropriados, em vez de um comprometimento ideológico que deve ser seguido não importando quais sejam as circunstâncias" (Platt, 1992a, p. 46). E qual é essa lógica de planejamento? As características tecnicamente importantes já tinham apresentado resultado antes da primeira edição deste livro (Yin, 1981a, 1981b), mas agora podem ser expostas novamente de duas maneiras. Primeiro, a definição técnica começa com o escopo de um estudo de caso: 1. Um estudo de caso é uma investigação empírica que • investiga um fenômeno contemporâneo dentro de seu contexto da vida real, especialmente quando • os limites entre o fenômeno e o contexto não estão claramente definidos. Em outras palavras, você usaria o método de estudo de caso quando deliberadamente quisesse lidar com condições contextuais - acreditando que elas poderiam ser altamente pertinentes ao seu fenômeno de estudo. Logo, essa primeira parte de nossa lógica de planejamento nos ajuda a entender os estudos de caso sem deixar de diferenciá-la de outras estratégias de pesquisa que já foram discutidas. Por exemplo, um experimento deliberadamente separa um fenômeno de seu contexto, de forma que se pode dedicar alguma atenção apenas a algumas variáveis (em geral, o contexto é "controlado" pelo ambiente de laboratório). Em comparação, uma pesquisa histórica realmente lida com situações emara- nhadas entre fenômeno e contexto, mas em geral com acontecimentos não- contemporâneos. Finalmente, os levantamentos podem até tentar dar conta INTRODUÇÃO 33 de fenômeno e contexto, mas sua capacidade de investigar o contexto é extre- mamente limitada. O elaborador do levantamento, por exemplo, esforça-se ao máximo para limitar o número de variáveis a serem analisadas (e, por conse- guinte, o número de questões que pode ser feito) a fim de se manter segura- mente dentro do número de respondentes participantes do levantamento. Em segundo lugar, uma vez que fenômeno e contexto não são sempre discerníveis em situações da vida real, um conjunto inteiro de outras caracte- rísticas técnicas, como a coleta de dados e as estratégias de análise de dados, tornam-se, no momento, a segunda parte de nossa definição técnica: 2. A investigação de estudo de caso • enfrenta uma situação tecnicamente única em que haverá muito mais variáveis de interesse do que pontos de dados, e, como re- sultado, • baseia-se em várias fontes de evidências, com os dados precisando convergir em um formato de triângulo, e, como outro resultado, beneficia-se do desenvolvimento prévio de proposições teóricas para conduzir a coleta e a análise de dados. Em outras palavras, o estudo de caso como estratégia de pesquisa com- preende um método que abrange tudo - tratando da lógica de planejamen- to, das técnicas de coleta de dados e das abordagens específicas à análise dos mesmos. Nesse sentido, o estudo de caso não é nem uma tática para a coleta de dados nem meramente uma característica do planejamento em si (Stoecker, 1991), mas uma estratégia de pesquisa abrangente. A forma como a estratégia é definida e implementada constitui, na verdade, o tópico do livro inteiro. Algumas outras características da estratégia do estudo de caso não são tão importantes para se planejar a estratégia, mas podem ser consideradas variações dentro da pesquisa do estudo de caso e também apresentam respos- tas a questões comuns. Variações dentro dos estudos de caso como estratégia de pesquisa Sim, a pesquisa de estudo de caso inclui tanto estudos de caso único quanto de casos múltiplos . Embora algumas áreas, como ciência política e administração pública, tentaram delinear uma linha bem-delimitada entre essas duas abordagens (e utilizaram termos como método de caso comparativo como forma de distinção de estudos de casos múltiplos; veja Agranoff & Radin, 1991; George, 1979; Lijphart, 1975), estudos de caso único e de casos múlti- plos, na realidade, são nada além do que duas variantes dos projetos de estu- do de caso (veja o Capítulo 2 para saber mais). 34 ESTUDO DE CASO E sim, os estudos de caso podem incluir as evidências quantitativas, e mesmo a elas ficar limitados. Na verdade, o contraste entre evidências quan- titativas e qualitativas não diferencia as várias estratégias de pesquisa. Obser- ve que, como exemplos análogos, alguns experimentos (como estudos de per- cepções psicológicas) e algumas questões feitas em levantamentos (como aque- las que buscam respostas numéricas em vez de respostas categóricas) têm como base evidências qualitativas, e não quantitativas. Da mesma maneira, a pesqui- sa histórica pode incluir enormes quantidades de evidências quantitativas. Uma observação muito importante relacionada a isso é que a estratégia de estudo de caso não deve ser confundida com "pesquisa qualitativa" (p.ex., Qenzin & Lincoln, 1994). Algumas pesquisas qualitativas seguem métodos etnográficos e buscam satisfazer duas condições: a) o uso que o pesquisador faz de observações detalhadas e minuciosas do mundo natural; b) a tentativa de evitar comprometimentos anteriores a qualquer mode- lo teórico (Jacob, 1987, 1989; Lincoln & Guba, 1986; Stake, 1983; Van Maanen, Dabbs & Faulkner, 1982, p.16). A pesquisa etnográfica, no entanto, nem sempre produz estudos de caso (por exemplo, veja as breves notas etnográficas em G. Jacobs, 1970), nem os estudos de caso estão limitados a essas duas condições. Em vez disso, podem- se basear os estudos de caso em qualquer mescla de provas quantitativas e qualitativas. Ademais, nem sempre eles precisam incluir observações diretas e detalhadas como fonte de evidências. Como observação adicional, alguns pesquisadores fazem uma distinção entre pesquisa quantitativa e pesquisa qualitativa - não com base no tipo de evidência, mas com base em crenças filosóficas totalmente diferentes (p.ex., Guba & Lincoln, 1989; Lincoln, 1991, Sechrest, 1991; Smith & Heshusius, 1986). Essas distinções produziram umdebate acirrado no campo da pesqui- sa de avaliação. Embora algumas pessoas acreditem que tais crenças filosófi- cas sejam incompatíveis, ainda se pode apresentar um contra-argumento - que, independentemente de se favorecer a pesquisa qualitativa ou quantitati- va, há uma grande e importante área comum entre as duas (Yin, 1994b). E sim, os estudos de caso têm um lugar de destaque na pesquisa de ava- liação (veja Cronbach et aI., 1980, Guba & Lincoln, 1981; Patton, 1980; U.S. General Accounting Office, 1990). Há, no mínimo, cinco aplicações diferen- tes. A mais importante é explicar os supostos vínculos causais em intervenções da vida real que são complexos demais para as estratégias experimentais ou aquelas utilizadas em levantamentos. Na linguagem da avaliação, as explana- ções uniriam a implementação do programa com os efeitos do programa (U.S. General Accounting Office, 1990). Uma segunda aplicação é descrever uma intervenção e o contexto na vida real em que ela ocorre. Em terceiro lugar, os estudos de caso podem ilustrar certos tópicos dentro de uma avaliação, outra vez de um modo descritivo. A quarta aplicação é que a estratégia de estudo de INTRODUÇÃO 35 caso pode ser utilizada para explorar aquelas situações nas quais a interven- ção que está sendo avaliada não apresenta um conjunto simples e claro de resultados. Em quinto lugar, o estudo de caso pode ser uma "meta-avaliação" - o estudo de um estudo de avaliação (Smith, 1990; Stake, 1986) . Qualquer que seja a aplicação, um tema constante é que os patrocinadores do programa - no lugar apenas dos pesquisadores - podem representar um papel proemi- nente ao se definirem as questões da avaliação e nas categorias de dados relevantes (U.S. General Accounting Office, 1990). E, finalmente, sim, os estudos de caso podem ser conduzidos e escritos por muitos motivos diferentes, incluindo a simples apresentação de casos in- dividuais ou o desejo de chegar a generalizações amplas baseadas em evidên- cias de estudos de caso (veja Quadro 3). QUADRO 3 Generalizando a partir de estudos de caso Os livros de estudo de caso podem simplesmente apresentar estudos de caso individuais ou também usar os casos para fazer generalizações mais am- plas. Ambas as abordagens são encontradas em um tópico de constante inte- resse público: identificar programas bem-sucedidos para melhorar as condi- ções sociais nos Estados Unidos. 3a. Um livro que não generaliza Jonathan Crane (1998) editou uma compilação de nove programas, cada um apresentado em um capítulo separado e escrito por um autor diferente. Os programas têm em comum fortes evidências de sua eficácia, mas eles variam amplamente no foco que possuem - da educação à nutrição e à prevenção às drogas, passando por programas pré-escolares e pelo tratamento de jovens delinqüentes que consomem drogas. O objetivo do livro é compartilhar essas informações, e o editor não se arrisca em capítulos de resumo, análises que comparam os programas ou generalizações. 3b. Um livro que generaliza O livro de Lisbeth Schorr (1997) fala sobre as principais estratégias para melhorar as condições sociais, ilustradas por quatro tópicos políticos: reforma da previdência social, fortalecimento do sistema de proteção infantil, reforma da educação e transformação dos bairros. O livro está cheio de estudos de caso de programas bem-sucedidos. Também citando dados da literatura, a autora desenvolve inúmeras generalizações com base nos estudos de caso, incluindo a necessidade de os programas bem-sucedidos serem "orientados a resultados". De forma semelhante, ela identifica seis outros atributos de pro- gramas altamente eficazes. 36 ESTUDO DE CASO RESUMO Este capítulo apresentou a importância do estudo de caso como estraté- gia de pesquisa. O estudo de caso, como outras estratégias de pesquisa, repre- senta uma maneira de investigar um tópico empírico seguindo-se um conjun- to de procedimentos pré-especificados. A articulação desses procedimentos será o tópico dominante do restante do livro. O capítulo forneceu uma definição operacional do estudo de caso e iden- . tificou algumas das variações nos estudos de caso. O capítulo também tentou distinguir o estudo de caso de estratégias alternativas de pesquisa na ciência social, demoI].strando as situações em que é preferível fazer um estudo de . caso a fazer, por exemplo, um levantamento. Algumas situações podem não apresentar uma estratégia preferível, na medida em que os pontos fortes e fracos das várias estratégias podem se sobrepor. A técnica básica, no entanto, é considerar todas as estratégias de uma maneira inclusiva e pluralística - como parte de seu repertório a partir do qual você pode estabelecer seu proce- dimento de acordo com uma determinada situação para fazer pesquisa nas ciências sociais. Finalmente, o capítulo discutiu algumas das maiores críticas que se faz à pesquisa de estudo de caso e sugeriu que essas críticas possam estar sendo mal direcionadas. No entanto, devemos todos trabalhar arduamente para su- perar os problemas que surgem ao se fazer pesquisa de estudo de caso, inclu- indo o reconhecimento de que alguns de nós não fomos feitos, por capacidade ou disposição, para realizar esse tipo de pesquisa em primeiro lugar. A pesqui- sa de estudo de caso é notavelmente complicada, muito embora já se tenha pensado bastante que os estudos de caso sejam uma pesquisa "fácil", possivel- mente porque os pesquisadores não seguiram procedimentos sistemáticos. Este livro tenta deixar seu estudo de pesquisa mais fácil oferecendo uma série desses procedimentos. EXERcíCIOS 1. Definindo uma questão de estudo de caso . Desenvolva uma questão que seria o fundamento lógico para o estudo que você poderia con- duzir. Em vez de fazer um estudo de caso, imagine agora que você só pudesse fazer uma pesquisa histórica, ou um levantamento, ou um experimento (mas não um estudo de caso), a fim de responder a essa questão. Quais aspectos da questão, se houver algum, não poderiam ser respondidos através dessas outras estratégias de pesquisa? Qual seria a vantagem decisiva de realizar um estudo de caso para respon- der a essa questão? 2. Definindo questões "significativas" para o estudo de caso. Determine um tópico que você acredite que valha a pena pesquisar em um estu- INTRODUÇÃO 37 do de caso. Identifique as três questões principais a que seu estudo de caso tentaria responder. Agora, parta do princípio de que você pudesse responder de fato a essas questões com evidências suficien- tes (ou seja, que você tivesse conduzido com sucesso seu estudo de caso) . Como você justificaria a um colega a importância de suas des- cobertas? Teria dado continuidade a alguma teoria especial? Teria descoberto alguma coisa rara? (Se você não está satisfeito com suas respostas, talvez devesse pensar em redefinir as questões principais de seu caso.) 3. Identificando questões "significativas" em outras estratégias de pesqui- sa. Localize um estudo baseado unicamente no uso de métodos his- tóricos, experimentais ou que utilizam levantamentos (mas não mé- todos de estudo de caso). Descubra a maneira como as descobertas desse estudo são significativas. Dá seguimento a alguma teoria em especial? Descobriu alguma coisa rara? 4. Examinando os estudos de caso utilizados para fins de ensino. Obtenha uma cópia de um estudo de caso que tenha sido usado para fins de ensino (p.ex., um caso em um livro-texto utilizado em algum curso de administração). Identifique de que maneiras específicas esse tipo de caso de "ensino" é diferente dos estudos de caso de pesquisa. O caso de ensino cita documentos primários, contém evidências ou apresenta dados? Chega a alguma conclusão? Qual parece ser o ob- jetivo principal do caso de ensino? 5. Definindo tipos diferentes de estudos de caso utilizados para fins de pesquisa. Defina os três tipos de estudos de caso usados para fins de pesquisa (mas não de ensino): NOTAS a) estudos causais ou explanatórios;
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