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0 CURSO DE RESGATE VEICULAR - 3ª EDIÇÃO TÉCNICAS DE RESGATE VEICULAR PERTENCE A: __________________________ BRASÍLIA 2017 CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO DISTRITO FEDERAL DIRETORIA DE ENSINO E INSTRUÇÃO CENTRO DE TREINAMENTO OPERACIONAL CURSO DE RESGATE VEICULAR 3ª edição 1 CURSO DE RESGATE VEICULAR - 3ª EDIÇÃO TÉCNICAS DE RESGATE VEICULAR 2 CURSO DE RESGATE VEICULAR - 3ª EDIÇÃO ST QBMG-1 RENATO AUGUSTO SILVA 1º SGT QBMG-2 PAULO DO NASCIMENTO BENIGNO 3º SGT QBMG-1 RUBENS BEZERRA LIMA DE MONTALVÃO CURSO DE RESGATE VEICULAR 3ª edição BRASÍLIA 2017 3 CURSO DE RESGATE VEICULAR - 3ª EDIÇÃO © 2017 by Renato Augusto Silva / Paulo do Nascimento Benigno / Rubens Bezerra Lima de Montalvão Todos os direitos dessa produção estão reservados aos autores. Proibida a reprodução total ou parcial, de qualquer forma ou por qualquer meio, sem a autorização por escrito dos autores. Poderá ser reproduzido texto, entre aspas, desde que haja clara menção, em nota de rodapé, do nome dos autores, título da obra, edição, local e ano de publicação e paginação. São concedidas, sem quaisquer ônus, exclusivamente ao Corpo de Bombeiros Militar do Distrito Federal as seguintes permissões referentes a esse trabalho: - Reprodução de cópias; - Uso de tais cópias somente para propósitos acadêmicos e científicos; e - Disponibilização no site do Corpo de Bombeiros Militar do Distrito Federal. SILVA, Renato Augusto. Curso de Resgate Veicular / Renato Augusto Silva / Paulo do Nascimento Benigno / Rubens Bezerra Lima de Montalvão. 3. ed. Brasília: CBMDF, 2017. 360 p. Inclui apêndice, anexo e referências. Apostila do Curso de Resgate Veicular, do Centro de Treinamento Operacional, do Corpo de Bombeiros Militar do Dis trito Federal. 1. Resgate. 2. Acidente de trânsito. 3. Colisão de automóveis. 4. Resgate veicular. 5. Estrutura e segurança veicular. 6. Gerenciamento de riscos. 7. Desencarceramento. I. Silva, Renato Augusto. II. Benigno, Paulo do Nascimento. III. Montalvão, Rubens Bezerra Lima. II. Título. CDD: 363.3 CDU: 614.8(072) SI586 4 CURSO DE RESGATE VEICULAR - 3ª EDIÇÃO NOTA DOS AUTORES Trabalhamos em uma instituição que, por sua natureza de salvaguardar vidas e bens, precisa evoluir constantemente na área de ensino, de forma a proporcionar aos executores da missão fim o conhecimento necessário para desempenharem com sucesso todas as tarefas que a eles são confiadas. O alcance do objetivo nas operações de salvamento tem como base os as informações que são transmitidas durante os cursos de formação e especialização. Portanto, no processo de ensino é preciso que sejam oferecidos aos alunos os meios estratégicos e técnicos para que os mesmos encontrem soluções para situações diversas. Há tempos, quando ingressei nas fileiras do CBMDF, pude perceber que as instruções de resgate veicular se limitavam em acionar o equipamento de desencarceramento e rebater o painel com correntes. Existia então algo a ser aperfeiçoado, fazia-se necessário pesquisar sobre o assunto, principalmente nas áreas de evolução dos veículos, gerenciamento de riscos, organização das equipes de socorro e técnicas de movimentação da estrutura de veículos. Em decorrência disto, com muito esforço e dedicação, organizamos nas páginas que se seguem, uma fonte de consulta que proporcionará ao aluno uma melhor formação na área de resgate veicular. Por conseguinte, tal fato contribuirá para o aperfeiçoamento dos atendimentos feitos neste âmbito, algo que coroará o esforço de todos que colaboraram na produção desse trabalho. Nós, que enxergamos o ensino como a base do resultado final, vamos nos empenhar sempre para oferecer aos alunos a melhor ferramenta para que estes, por sua vez, alcancem os objetivos de nossa sagrada missão. Parabéns a todos que ajudaram para que esse trabalho se tornasse realidade! Renato Augusto Silva 5 CURSO DE RESGATE VEICULAR - 3ª EDIÇÃO NOTA DOS AUTORES A busca pelo conhecimento é algo que deve ser incessante em nossas vidas, ainda mais quando os principais bens com os quais lidamos em nossa profissão são a vida e a integridade física de pessoas que venham a estar em situações que possam causar a morte ou um dano irreversível em suas funções motoras, entre outras, inclusive nos casos decorrentes de acidente automobilístico. Por isto, o militar de salvamento deve estar preparado, atualizado e em condições de atuar com destreza e velocidade. Isto permitirá que ele extraia com vida e em tempo reduzido pessoas que estejam encarceradas no interior de veículos, estabilizando os danos já sofridos e impedindo o surgimento de outros, decorrentes, por exemplo, de uma manipulação indevida. Diante disto e com intuito de informar, orientar e atualizar os colegas de profissão nas atividades de resgate veicular é que esse material foi criado, com informações colhidas em vários estados brasileiros e em outros países. A mim foi concedida a honra de poder fazer parte da autoria desta obra, algo que agradeço. Aproveito também para parabenizar a todos os Bombeiros Militares que atuam neste campo, o qual tem se tornado mais difícil devido ao implemento de novas tecnologias para proteção, novas ligas metálicas, diversidade de combustíveis etc. Entretanto, venha o que vier, buscaremos sempre o aprimoramento para estarmos sempre prontos a atuar com excelência em qualquer situação! Paulo do Nascimento Benigno 6 CURSO DE RESGATE VEICULAR - 3ª EDIÇÃO NOTA DOS AUTORES A Corporação da qual sou integrante é composta de profissionais que no dia-a- dia têm que atuar em situações extremas, nas quais diversas emoções eclodem. De um lado, tem-se a vítima, com o sentimento de impotência, na qual prepondera a ânsia para se livrar o quanto antes do respectivo infortúnio. Noutro giro, estão aqueles que são capacitados a socorrer, os quais possuem o prazer de ajudar ao próximo e a cada brado, a cada descolamento com sirenes retumbantes, experimentam uma vibração que é restrita à atividade de Bombeiro e que, ao final, desfrutam da sensação de dever cumprido. Neste aspecto, visa-se auxiliar a tais profissionais com a apresentação do presente trabalho, o qual é fruto de uma dedicação de anos de pesquisa e de trocas de informações e experiências, sobretudo com os que se dedicam à tarefa de ministrar instruções de salvamento. Ele foi concebido com o intento de suprir uma carência na área de ensino do CBMDF e que diz respeito à inexistência de material didático atualizado sobre resgate veicular. Nesta seara, as próximas páginas abordam itens que vão desde o desenvolvimento dos automóveis, os primeiros acidentes automobilísticos, os itens de segurança que integram automóveis, as fases de um socorro, a estabilização da cena e do veículo, a organização da guarnição e, por fim, discorre sobre algumas das principais técnicas de desencarceramento. Assim, espero que essa singela produção possa contribuir com o fomento de discussões que resultem no aperfeiçoamento técnico de colegas da Corporação e, por conseguinte, em melhorias no atendimento às vítimas de acidentes automobilísticos. No mais, agradeço a todos os amigos que, de forma direta ou indireta, corroboraram para consolidação desse material. Rubens Bezerra Lima de Montalvão 7 CURSO DE RESGATE VEICULAR - 3ª EDIÇÃO ORAÇÃO DO BOMBEIRO DE SALVAMENTO Ó Deus! Olhaipelo teu bombeiro de salvamento. Que nas missões mais difíceis, Atua como a extensão de tuas mãos. Dá-lhe coragem e sabedoria Para ajudar seus irmãos em perigo. Mas, se quiseres tê-lo ao teu lado Que seja no cumprimento de sua nobre missão. Vida por vidas! André Menezes da Paixão 8 CURSO DE RESGATE VEICULAR - 3ª EDIÇÃO INTRODUÇÃO A cada dia o Corpo de Bombeiros Militar do Distrito Federal é responsável por inúmeros atendimentos a acidentes automobilísticos. Neste aspecto, é sabido que ocorrências de resgate veicular são complexas por existirem vários fatores envolvidos, como vazamento de combustível, risco de incêndio, a presença de curiosos, a quantidade de automóveis envolvidos e de vítimas etc. Assim, tem-se que é crucial a realização de uma abordagem sistematizada no salvamento de vítimas encarceradas. O desenvolvimento das ações neste tipo de incidente deve seguir uma ordem lógica e padronizada de procedimentos, que são: o reconhecimento, o gerenciamento dos riscos, a obtenção de acessos à(s) vítima(s), o atendimento pré-hospitalar e a criação de espaços, a extração e, por fim, a avaliação e o treino. Neste contexto, faz-se necessário o emprego de equipes bem treinadas, de forma a minimizarem os riscos existentes na cena do acidente, que saibam desenvolver com maestria as técnicas de desencarceramento e que tenham ciência dos procedimentos que resultem na redução das seqüelas à(s) vítima(s). Para tanto, os integrantes de uma equipe de salvamento devem deter conhecimento sobre a estrutura básica dos automóveis, as tecnologias de segurança existentes nestes, os procedimentos para estabilização da cena e do veículo, as técnicas e ferramentas de desencarceramento, primeiros socorros, entre outros. E, neste sentido, as páginas que seguem visam agregar no aperfeiçoamento dos profissionais que rotineiramente atuam em situações que exigem o uso de técnicas de resgate veicular. 9 CURSO DE RESGATE VEICULAR - 3ª EDIÇÃO LISTA DE ABREVIATURAS ABIQUIM Associação Brasileira da Indústria Química ABNT Associação Brasileira de Normas Técnicas ANEEL Agência Nacional de Energia Elétrica ANFAVEA Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores CAESB Companhia de Saneamento Ambiental do Distrito Federal CBMDF Corpo de Bombeiros Militar do Distrito Federal CEB Companhia Energética de Brasília CIADE Central Integrada de Atendimento e Despacho ed. Edição et al. E outros EPI Equipamento de proteção individual EPR Equipamento de proteção respiratória EUA Estados Unidos da América FEMA Federal Emergency Management Agency GNV Gás natural veicular HV High voltage INMETRO Instituto Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial KED Kendrick Extrication Device n. Número NBR Norma brasileira NFPA National Fire Protection Association NR Norma regulamentadora p. Página PC Polícia Civil PM Polícia Militar PP Produtos perigosos PRF Polícia Rodoviária Federal reimpr. Reimpressão reimp. Reimpresso SCI Sistema de Comando de Incidentes S.l Sem local VE Veículo elétrico VEH Veículo elétrico híbrido 10 CURSO DE RESGATE VEICULAR - 3ª EDIÇÃO SUMÁRIO 1 HISTÓRICO DOS AUTOMÓVEIS ......................................................................... 18 1.1 BREVE HISTÓRICO SOBRE OS AUTOMÓVEIS ........................................... 18 1.2 BREVE HISTÓRICO SOBRE A SEGURANÇA DOS OCUPANTES DE VEÍCULOS AUTOMOTORES.................................................................................... 27 2 ESTRUTURA E SEGURANÇA VEICULAR ........................................................ 37 2.1 ESTRUTURA VEICULAR .................................................................................... 38 2.3 SEGURANÇA VEICULAR ................................................................................... 41 2.3.1 Célula de sobrevivência ou habitáculo ...................................................... 41 2.3.2 Barras de proteção contra impactos laterais ........................................... 42 2.3.3 Novos materiais empregados na composição de um automóvel ...... 43 2.3.4 Sistemas de segurança .................................................................................. 45 2.3.4.1 Sistema passivo de segurança suplementar ............................................. 46 a) Air bag’s .................................................................................................................... 46 b) Pré-tensor de cinto de segurança......................................................................... 50 c) Sistema ROPS ......................................................................................................... 52 d) Zonas de absorção de impactos ........................................................................... 53 2.3.5 Vidros .................................................................................................................. 55 3 FASE PRÉ-SOCORRO ........................................................................................... 58 3.1 PLANEJAMENTO PRÉ-SOCORRO .................................................................. 60 3.2 ROTINA OPERACIONAL PRÉ-SOCORRO ..................................................... 61 3.2.1 Procedimentos gerais na rotina operacional pré-socorro ................... 62 3.2.1.1 Assunção do serviço ...................................................................................... 62 3.2.1.1.1 Conferência de pessoal.............................................................................. 62 3.2.1.1.2 Conferência de materiais ........................................................................... 63 3.2.1.1.3 Orientações organizacionais ..................................................................... 65 3.2.1.2 Treinamento..................................................................................................... 66 3.2.1.2.1 Simulacros, simulados e estudos de caso .............................................. 67 3.2.1.2.2 Instruções ..................................................................................................... 67 11 CURSO DE RESGATE VEICULAR - 3ª EDIÇÃO 4 FASES DO SOCORRO ........................................................................................... 69 4.1 AVISO E ACIONAMENTO DA PRONTIDÃO ................................................... 70 4.2 PARTIDA ................................................................................................................ 70 4.3 DESLOCAMENTO ................................................................................................ 71 4.4 CHEGADA .............................................................................................................. 72 4.5 RECONHECIMENTO ........................................................................................... 75 4.6 PLANEJAMENTO ................................................................................................. 77 4.6.1 Objetivos gerais no resgate veicular.......................................................... 78 4.6.2 Planejamento estratégico, tático e operacional em resgate veicular 79 4.7 ESTABELECIMENTO........................................................................................... 88 4.8 OPERAÇÃO ........................................................................................................... 90 4.9 CONTROLE OU AVALIAÇÃO DE PROGRESSO ........................................... 91 4.10 INSPEÇÃO FINAL .............................................................................................. 91 4.11 DESMOBILIZAÇÃO ............................................................................................ 92 4.12 REGRESSO .........................................................................................................93 4.13 PÓS-EVENTO ..................................................................................................... 93 5 TERMINOLOGIAS ................................................................................................... 95 5.1 CONCEITOS EMPREGADOS NO RESGATE VEICULAR............................ 95 6 GERENCIAMENTO DE RISCOS .......................................................................... 97 6.1 GARANTINDO A SEGURANÇA INDIVIDUAL E COLETIVA.......................100 6.2 ORGANIZAÇÃO DA CENA DO ACIDENTE ...................................................102 6.2.1 Sinalização.......................................................................................................102 6.2.2 Isolamento .......................................................................................................104 6.3 BATERIAS ............................................................................................................106 6.4 VIDROS ................................................................................................................108 6.5 FERRAGENS .......................................................................................................108 6.6 VAZAMENTO DE COMBUSTÍVEL ..................................................................109 6.7 INCÊNDIO ............................................................................................................110 6.7.1 Fogo localizado ..............................................................................................110 6.7.2 Fogo que envolve o veículo ........................................................................110 6.7.3 Fogo no compartimento de carga .............................................................112 6.8 SISTEMAS PASSIVOS DE SEGURANÇA DOS VEÍCULOS ......................113 12 CURSO DE RESGATE VEICULAR - 3ª EDIÇÃO 6.8.1 Gestão de riscos de air bag’s não acionados........................................113 6.8.2 Pré-tensor de cinto ........................................................................................117 6.8.3 Sistema ROPS.................................................................................................117 6.8.4 Barras de proteção lateral ...........................................................................117 7 PRODUTOS PERIGOSOS ...................................................................................118 7.1 O MANUAL DA ABIQUIM ..................................................................................118 7.2 SEQÜÊNCIA DE PROCEDIMENTOS NO ATENDIMENTO A OCORRÊNCIAS COM PRODUTOS PERIGOSOS .............................................121 a) Chegada .................................................................................................................122 b) Isolamento ..............................................................................................................122 c) Identificação do produto e avaliação da cena...................................................122 d) Acionamento do GBM especializado .................................................................126 e) Ações de proteção ................................................................................................126 f) Entrada na zona de perigo....................................................................................126 8 ACIDENTES AUTOMOBILÍSTICOS ENVOLVENDO ENERGIA ELÉTRICA ......................................................................................................................................127 8.1 BREVES NOÇÕES SOBRE O SISTEMA DISTRIBUIÇÃO DE ENERGIA ELÉTRICA DA COMPANHIA ENERGÉTICA DE BRASÍLIA (CEB) ..................127 8.2 BREVES NOÇÕES SOBRE CHOQUE ELÉTRICO ......................................129 8.2.1 Arco elétrico ....................................................................................................131 8.2.2 Tensão de toque.............................................................................................131 8.2.3 Tensão de passo ............................................................................................132 8.3 REGULAMENTAÇÃO DE SEGURANÇA EM INSTALAÇÕES E SERVIÇOS EM ELETRICIDADE (NR-10) ...................................................................................133 8.4 PROCEDIMENTOS GERAIS NO CASO DE FIOS PENDURADOS, CAÍDOS OU BAIXOS ................................................................................................138 8.5 PROCEDIMENTOS GERAIS NO CASO DE ACIDENTES AUTOMOBILÍSTICOS ENVOLVENDO ENERGIA ELÉTRICA ..........................140 8.5.1 Estabelecendo a comunicação com as vítimas ....................................140 8.5.2 Salvamento de ocupantes de veículos em contato com energia elétrica ........................................................................................................................141 8.6 Observações especiais ...................................................................................143 13 CURSO DE RESGATE VEICULAR - 3ª EDIÇÃO 8.6.1 Gaiola de Faraday ...........................................................................................143 8.6.2 Vias públicas com guarda-corpo de metal...................................................144 8.6.3 Pneus de veículos em contato com eletricidade ........................................144 9 VEÍCULO MOVIDO A GÁS NATURAL VEICULAR (GNV)............................145 9.1 VEÍCULO MOVIDO A GÁS NATURAL VEICULAR (GNV) ..........................145 9.1.1 Principais componentes da instalação de um sistema de GNV .......148 9.1.1.1 Cilindro de armazenamento de GNV.........................................................149 9.1.1.2 Válvula do cilindro de GNV .........................................................................150 9.1.1.3 Válvula automática de corte de GNV ........................................................153 9.1.1.4 Válvula de abastecimento ...........................................................................153 9.1.1.5 Redutor de pressão ou válvula reguladora de pressão ..........................154 9.1.1.6 Manômetro .....................................................................................................154 9.1.1.7 Tubulação ......................................................................................................154 9.1.1.8 Chave comutadora .......................................................................................155 9.1.2 Como identificar um veículo movido a GNV ..........................................155 9.1.3 Procedimentos na hipótese de vazamento de GNV .............................156 9.1.4 Procedimentos no caso de incêndio em um automóvel movido a GNV..............................................................................................................................157 10 VEÍCULO ELÉTRICO (VE) E ELÉTRICO HÍBRIDO (VEH) .........................160 10.1 CONCEITO DE VEÍCULO ELÉTRICO (VE), HÍBRIDO (VH) E ELÉTRICO HÍBRIDO (VEH)..........................................................................................................160 10.2 CLASSIFICAÇÃO DOS VEÍCULOS ELÉTRICOS HÍBRIDOS ..................161 10.2.1 Classificação dos VEH conforme o princípio de funcionamento...161 10.2.2 Classificação dos VEH conforme o grau em que o motor elétrico atua no sistema ........................................................................................................165 10.3 AÇÕES EM CASO DE ACIDENTES ENVOLVENDO VE OU VEH .........166 10.3.1 Como identificar um VE ou um VEH.......................................................167 10.3.2 Imobilização ..................................................................................................168 10.3.3 Desarmar o sistema elétrico.....................................................................169 10.4 COLISÃODE UM VE OU DE UM VEH COM ROMPIMENTO DE CABO DE ALTA TENSÃO ....................................................................................................171 14 CURSO DE RESGATE VEICULAR - 3ª EDIÇÃO 10.5 SUBMERSÃO ....................................................................................................173 10.6 INCÊNDIO ..........................................................................................................173 10.7 INCÊNDIO NA BATERIA DE ALTA TENSÃO..............................................175 10.8 INCÊNDIO EM VE OU VEH LIGADOS A UMA ESTAÇÃO DE CARREGAMENTO ....................................................................................................177 10.9 VEÍCULO ELÉTRICO HÍBRIDO COM PAINEL SOLAR.............................178 10.10 VE E VEH DE PORTE PESADO .................................................................179 10.10.1 Procedimentos a serem adotados no caso de acidente envolvendo um VE ou VEH de porte pesado...........................................................................180 10.10.2 Componentes do sistema de alta tensão do ônibus elétrico híbrido da Volvo......................................................................................................................186 11 A ESTABILIZAÇÃO DO VEÍCULO ..................................................................191 11.1 CALÇOS E CUNHAS PARA ESTABILIZAÇÃO VEICULAR......................192 11.1.1 Finalidade básica dos calços ...................................................................193 11.2 CAIXA DE FULCROS DE MADEIRA.............................................................195 11.3 TÉCNICAS BÁSICAS DE ESTABILIZAÇÃO VEICULAR...........................200 11.3.1 Veículo sobre as quatro rodas .................................................................200 11.3.1.1 Levantamento manual do veículo ............................................................202 11.3.1.2 Técnica básica de estabilização em quatro pontos ..............................203 11.3.1.3 Técnica básica de estabilização em três pontos...................................204 11.3.2 Veículo lateralizado .....................................................................................205 11.3.2.1 Técnica básica de estabilização de um veículo lateralizado e apoiado sobre uma de suas laterais e as laterais das rodas .............................................207 11.3.2.2 Técnica básica de estabilização de um veículo lateralizado apoiado sobre as colunas e com as laterais das rodas suspensas ..................................208 11.3.2.3 Técnica básica de estabilização de um veículo lateralizado apoiado sobre uma das suas laterais e com indicativo de queda para o lado do assoalho ......................................................................................................................................209 11.3.3 Veículo sobre o próprio teto .....................................................................210 11.3.3.1 Técnica básica de estabilização de um veículo capotado e com o capô apoiado no solo ..........................................................................................................212 15 CURSO DE RESGATE VEICULAR - 3ª EDIÇÃO 11.3.3.2 Técnica básica de estabilização de um veículo capotado e com o bagageiro encostado no solo ...................................................................................213 11.3.3.3 Técnica básica de estabilização de um veículo capotado e com o bagageiro e o capô suspensos ................................................................................214 11.3.4 Um veículo sobre outro .............................................................................214 12 A GUARNIÇÃO DE RESGATE VEICULAR ...................................................217 12.1 COMPOSIÇÃO DA GUARNIÇÃO DE RESGATE VEICULAR ..................217 12.2 FUNÇÕES DOS INTEGRANTES DE UMA GUARNIÇÃO DE RESGATE VEICULAR ..................................................................................................................217 12.2.1 Comandante do Socorro ...........................................................................217 12.2.2 Condutor e operador da viatura ..............................................................220 12.2.3 Operador 01...................................................................................................221 12.2.4 Operador 02...................................................................................................222 12.2.5 Operador 03...................................................................................................223 12.2.6 Operador 04...................................................................................................224 13 DESENCARCERAMENTO.................................................................................226 13.1 TÉCNICAS DE DESENCARCERAMENTO..................................................228 13.1.1 Portas por meios não destrutivos...........................................................229 13.1.2 Quebra e retirada dos vidros....................................................................229 13.1.2.1 Vidro temperado .........................................................................................229 13.1.2.2 Vidro laminado ............................................................................................230 13.1.2.3 Policarbonato ..............................................................................................231 13.1.3 Gestão de bancos, pedais e volante ......................................................231 13.1.3.1 Afastamento manual dos bancos.............................................................231 13.1.3.2 Afastamento de pedal ................................................................................232 13.1.3.3 Elevação de volante ...................................................................................233 13.1.3.3.1 Com o uso do extensor ..........................................................................233 13.1.3.3.2 Elevação de volante com o uso de correntes ....................................234 13.1.3.3.3 Remoção de volante ...............................................................................235 13.1.4 Abertura forçada e remoção de portas..................................................235 13.1.4.1 Obtenção do ponto de apoio para as ferramentas ...............................235 16 CURSO DE RESGATE VEICULAR - 3ª EDIÇÃO 13.1.4.2 Retirada pelas dobradiças ........................................................................236 13.1.4.3 Retirada pela fechadura ............................................................................237 13.1.4.4 Terceira porta ..............................................................................................238 13.1.4.5 Retirada das portas de um mesmo lado.................................................239 13.1.4.5.1 Grande porta ............................................................................................241 13.1.4.6 Retirada de porta de veículo capotado sobre o seu teto .....................242 13.1.4.6.1 Procedimento alternativo retirada de porta de veículo capotado sobre o seu teto .....................................................................................................................243 13.1.4.7 Grande porta em um veículo capotado sobre o seu teto .....................243 13.1.5 Rebatimento de teto....................................................................................245 13.1.5.1 Rebatimento de teto para trás ..................................................................245 13.1.5.2 Rebatimento de teto para frente ..............................................................246 13.1.5.3 Rebatimento lateral ....................................................................................24713.1.6 Retirada de teto ............................................................................................249 13.1.7 Ostra pela traseira .......................................................................................250 13.1.8 Ostra lateral ...................................................................................................251 13.1.9 Rebatimento de painel ...............................................................................252 13.1.9.1 Rebatimento de painel com correntes ....................................................255 13.1.10 Levantamento do painel ..........................................................................257 13.1.11 Acesso aos pedais ....................................................................................258 APÊNCIE A - O GNV NO MANUAL DA ABIQUIM .............................................260 APÊNCIE B - PADRONIZAÇÃO DE NOMES DE FERRAMENTAS, EQUIPAMENTOS E ACESSÓRIOS CONFORME A COMISSÃO NACIONAL DE SALVAMENTO VEICULAR ..............................................................................261 APÊNCIE C - PADRONIZAÇÃO DE NOMES DE TÉCNICAS CONFORME A COMISSÃO NACIONAL DE SALVAMENTO VEICULAR .................................266 APÊNDICE D - CHECK LIST DO COMANDANTE DO SOCORRO ................269 APÊNDICE E - CHECK LIST DO CONDUTOR ...................................................277 APÊNDICE F - CHECK LIST DO OPERADOR 01..............................................283 17 CURSO DE RESGATE VEICULAR - 3ª EDIÇÃO APÊNDICE G - CHECK LIST DO OPERADOR 02 .............................................290 APÊNDICE H - CHECK LIST DO OPERADOR 03 .............................................297 APÊNDICE I - CHECK LIST DO OPERADOR 04 ...............................................303 ANEXO A - ORDEM DE SERVIÇO N° 9/2012-COMOP ....................................311 ANEXO B - POP DE RESGATE VEICULAR PARA VEÍCULOS DE PORTE LEVE ............................................................................................................................314 ANEXO C - POP DE COMBATE A INCÊNDIO EM VEÍCULOS .......................320 ANEXO D - POP DE EMERGÊNCIAS COM PRODUTOS PERIGOSOS .......322 ANEXO E - CRITÉRIOS PARA ACIONAMENTO DAS AERONAVES DO CBMDF ........................................................................................................................331 ANEXO F - PASSOS PARA IMPLANTAÇÃO DO SCI E ESTUDO DE CASO COM ACIDENTE AUTOMOBILÍSTICO .................................................................333 ANEXO G - PROCEDIMENTOS EM EMERGÊNCIAS ENVOLVENDO VEÍCULOS DE TRANSPORTE DE GNV CONFORME GUIA 115 DO MANUAL DA ABIQUIM ..............................................................................................................341 ANEXO H - FORMULÁRIO EXEMPLIFICATIVO EXISTENTE NO MANUAL DA ABIQUIM QUE VISA AUXILIAR NO LEVANTAMENTO DE DADOS ......343 REFERÊNCIAS..........................................................................................................344 18 CURSO DE RESGATE VEICULAR - 3ª EDIÇÃO 1 HISTÓRICO DOS AUTOMÓVEIS Esse capítulo tem como escopo expor um breve histórico dos veículos automotores e da evolução da segurança veicular 1.1 BREVE HISTÓRICO SOBRE OS AUTOMÓVEIS O primeiro veículo sobre rodas autopropulsionado foi desenvolvido, entre os anos de 1769 e 1771, pelo engenheiro Nicolas Joseph Cugnot, em Paris. O engenho utilizava um motor a vapor para proporcionar a tração. É justamente deste período o registro do primeiro acidente com veículos. Consta que Cugnot desenvolveu seu primeiro protótipo sem freios e durante um dos testes colidiu contra um muro. Ressalta-se que antes de Cugnot outros pesquisadores tais como Denis Papin (1647-1712), Thomas Savery (1650-1715), Thomas Newcomen (1664-1729) e James Watt (1736-1819) já haviam estudado os motores a vapor e suas aplicações. Entretanto, foi Cugnot quem realizou a proeza de adaptar um motor a vapor em um veículo sobre rodas. Neste aspecto cita-se, por exemplo, que um dos primeiros registros do uso do vapor para movimentar um veículo é atribuído a Ferdinand Verbiest. Ele era membro de uma missão jesuíta na China e projetou, por volta de 1672, um carrinho, com cerca de 60cm e Colisão de um dos protótipos de Cugnot contra um muro (1770) Protótipo de veículo a vapor desenvolvido por Cugnot Projeto de Verbiest (1672) 19 CURSO DE RESGATE VEICULAR - 3ª EDIÇÃO propulsão a vapor, para o Imperador Chinês Kang-Hi. Verbiest descreveu as características do protótipo em seu livro de título “Defesa da ast ronomia Europeia”. No entanto, devido à impossibilidade de transportar pessoas, por causa do seu tamanho reduzido, o engenho de Verbiest não é considerado como um veículo propriamente dito. Ademais, não há constatação de que ele efetivamente tenha construído tal veículo, ficando apenas na teoria. Outro exemplo de cientista que fez estudos sobre o vapor e suas aplicações foi o físico britânico Isaac Newton. Em 1680 ele projetou uma carruagem sem cavalos, a qual era impulsionada por vapor. Entrementes, não há qualquer indicação de que tenha construído um protótipo. No que concerne ao desenvolvimento dos automóveis, tem-se que, no século de 1800, várias pesquisas foram feitas, sobretudo nos Estados Unidos e na Europa. Neste sentido, é sabido que, o francês Isaac de Rivaz obteve, em 1807, a patente do primeiro automóvel movido a combustão interna do mundo. Este possuía um cilindro no qual era injetado manualmente uma mistura de hidrogênio e oxigênio e, por meio de uma ignição elétrica, era gerada uma explosão que movimentava um pistão. Após cada explosão, uma nova mistura tinha que ser introduzida no cilindro. Ele colocou esse motor em uma carruagem e conseguiu deslocá-la por alguns metros, em São Gingolph, Valais, Suíça (que à época estava sob o domínio francês de Napoleão). Isaac de Rivaz, após realizar aperfeiçoamentos em seu veículo, apresentou a versão definitiva em 1813, o qual pesava quase uma tonelada. Projeto de Isaac Newton (1680) 20 CURSO DE RESGATE VEICULAR - 3ª EDIÇÃO Outro pesquisador que se destaca é Samuel Brown, que em 1826, na Inglaterra, utilizou um motor de combustão interna a gás para propulsão de um veículo. O motor de Samuel Brown era composto por grandes câmaras fechadas nas quais eram introduzidos hidrogênio e oxigênio. Em cada uma dessas, de forma alternada, ocorria a queima desses dois elementos, sendo o resultado da combustão rapidamente resfriado, o que gerava um vácuo e possibilitava a movimentação de pistões que trabalhavam em cilindros adjacentes a essas câmaras. O processo era repetido de forma alternada em cada câmara. Dentre os testes relativos aos seus experimentos, consta que Samuel Brown montou o seu motor em uma carruagem e, para a surpresa de muitos espectadores, subiu um aclive muito íngreme na colina de Shooter Hill, em Londres, na Inglaterra. No entanto, o custo de sua invenção ultrapassava o de um veículo a vapor o que formou uma barreira para a sua comercialização. Mas foi o belga Jean Joseph Étienne Lenoir quem conseguiu retirar da fase experimental a tecnologia do motor de combustão a gás. Sua invenção é considerada como o primeiro motor de combustão interna construído em escala industrial, o qual teve de 300 a 400 unidades produzidas. Ele criou o engenho Primeiro veículo sobre rodas com motor combustão interna (1807) Motor de Samuel Brown, patenteado em 1823 21 CURSO DE RESGATE VEICULAR - 3ª EDIÇÃO em 1858, sendo lhe entregue a patente em 1860. Não tardou e em 1862 após algumas melhorias, Lenoir instalou o seu motor em um veículo e no ano seguinte apresentou uma versão do automóvel. Porém, a sua autonomia erapouca devido ao pequeno tamanho do reservatório de gás. O motor de Lenoir ganhou fama em toda a Europa e chamou a atenção do alemão Nikolaus August Otto, que à época possuía 28 anos de idade. Otto passou a estudar o motor de Lenoir com o intuito de melhorá-lo, queria principalmente aumentar a sua eficiência, diminuí-lo de tamanho, reduzir-lhe o barulho e adaptá-lo para combustíveis líquidos para, assim, conseguir a independência do gás de carvão, que até então era amplamente utilizado. Durante suas experiências Otto percebeu que a mistura de gás e ar deveria ser comprimida no interior da câmara de combustão e sofrer a ignição somente no momento de máxima pressão. Diante desta constatação, construiu um motor de quatro tempos, com combustão interna a gasolina, que era menor, mais eficiente e mais potente do que o de Lenoir e requereu a sua patente em 1861, a qual lhe foi negada sob a alegação de semelhança com o motor de Lenoir. Destaca-se que Otto teve como base de seus trabalhos não apenas os estudos de Lenoir mas também os do francês Sadi Carnot, que propôs os princípios básicos do motor de combustão interna em 1824, por meio da publicação de um livro de título “Reflexões sobre a potência motriz do calor”, no qual trata do rendimento dos motores térmicos. As pesquisas dos italianos Eugenio Barsanti e Felice Matteucci também influenciaram Otto, esses já tinham construído um Veículo projetado e construído por Lenoir (1863) 22 CURSO DE RESGATE VEICULAR - 3ª EDIÇÃO motor de combustão interna a gás em 1853 e obtido a patente do mesmo em 1854. Ademais, Otto já tinha informações sobre a teoria de um motor de combustão interna de quatro tempos a gás, a qual foi idealizada por Alphonse Beau de Rochas. Este não chegou a construir tal motor mas publicou um esboço e a descrição de seu funcionamento em um jornal de Paris em 1862, nesta enfatizava a importância da compressão da mistura ar-combustível antes da ignição. Otto, no ano de 1862, após o seu motor de combustão a gasolina explodir em um teste, abanou a idéia e voltou-se para a fabricação de motores de quatro tempos a gás. Em 1864 conheceu Eugen Langen com quem formou uma sociedade e começaram a produzir motores a gás. No ano de 1875 Otto retomou seu trabalho com motores de quatro tempos com combustão a gasolina e no ano seguinte apresentou seu protótipo. Ele recebeu a patente deste motor em 1876. Tal motor, apesar de não estar completamente pronto para uso comercial em automóveis de pequeno porte mas sim em máquinas estacionárias, pois, entre outros, pesava aproximadamente 1.500 Kg, era tão eficiente para a época que sua ideia foi adotada pela maioria dos projetistas de motores pelo mundo. A criação de Otto foi fundamental no desenvolvimento dos carros com motor a combustão pois, até então, os veículos eram puxados por cavalo ou movimentados por meio de vapor ou gás. No que tange aperfeiçoamento dos motores de combustão a gasolina para fins de uso em veículos de pequeno porte, tem-se que no ano de 1872, Gottlieb Daimler e seu colaborador Wilhelm Maybach, ambos engenheiros alemães, ex empregados de Otto, montaram um pequeno laboratório próximo a Stuttgart, na Alemanha, onde passaram a trabalhar no desenvolvimento de um motor mais compacto para uso em veículos de passeio. Os principais objetivos eram: redução de peso e tamanho, bem como o aumento da potência do motor de Otto. 23 CURSO DE RESGATE VEICULAR - 3ª EDIÇÃO Com isso, em 1884, criaram um motor de combustão com arrefecimento a ar e no ano seguinte realizaram testes em um veículo de duas rodas, que também fora projetado por eles. Após obterem êxito nestes testes voltaram suas atenções para sua adaptação em veículos de quatro rodas e apresentaram seu primeiro protótipo em 1887. Apesar do exposto, foi Carl Benz quem apresentou e patenteou, em 1886, o primeiro veículo rodoviário de pequeno porte impulsionado por um motor a gasolina de quatro tempos. No início de 1885, o seu veículo de três rodas com motor de quatro tempos correu pelas ruas de Mannheim, na Alemanha. No que concerne aos veículos elétricos, é sabido que a construção do primeiro veículo elétrico rodoviário para transporte de pessoas é creditada ao escocês Robert Anderson, em 1839. Sua carroça elétrica não possuía baterias recarregáveis, o que se tornou um obstáculo para o sucesso comercial de sua invenção. Na mesma década, em 1834, Thomas Davenport, em Vermont, nos EUA, projetou e realizou testes com um pequeno veículo alimentado por eletricidade e o qual se movimentava sobre trilhos. Davenport buscava desenvolver um meio de transporte para substituir locomotivas a vapor. Somente após a invenção da bateria de armazenamento de chumbo-ácido recarregável, pelo físico francês Gaston Planté, em 1859, e, com o passar dos anos, o aperfeiçoamento desta, bem como dos demais componentes elétricos Veículo construído por Gottlieb Daimler e Wilhelm Maybach (1887) Veículo patenteado por Carl Benz em 1886 24 CURSO DE RESGATE VEICULAR - 3ª EDIÇÃO é que os veículos elétricos ganharam popularidade principalmente na Europa e nos EUA. No registro nacional de veículos dos EUA consta que no ano de 1900 houve uma produção total de 4.192 carros, sendo: 1.681 a vapor, 1.575 elétricos e 936 a gasolina. Algumas empresas dedicavam-se exclusivamente à fabricação de carros elétricos. Antes do final de 1910 existiam pelo menos 25 empresas nos EUA fazendo carros elétricos. Havia, inclusive, frotas de táxis compostas exclusivamente por automóveis elétricos. É justamente desta época o primeiro automóvel elétrico híbrido, o Lohner- Porsche, fabricado em 1898, o qual foi projetado e patenteado pelo engenheiro alemão Ferdinand Porsche. Ele era movido por quatro motores elétricos, que eram montados dentro das suas rodas. As baterias eram carregadas por um motor combustão interna. A versão definitiva ficou pronta em 1901, tinha autonomia de cerca de 60 Km e até 1906 foram vendidas ao todo 300 unidades. A mudança de paradigma sobreveio em 1913 com o advento da implantação da linha de montagem em série de veículos de combustão interna a gasolina por Henry Ford, em Highland Park, EUA. Na ocasião escolheu o modelo Ford T, o qual já era fabricado desde 1908. Assim Ford conseguiu obter um preço bem atrativo para seu veículo e as vendas dos outros tipos de automóveis declinaram. Em 1912, o carro elétrico possuía uma média de preço de 1.700,00 dólares enquanto o automóvel de combustão da Ford tinha um preço de cerca de 650,00 dólares. Ademais, os veículos elétricos estavam concentrados nas grandes cidades haja vista que a existência de redes elétricas estava restrita às cidades mais O primeiro veículo elétrico híbridoPrimeiro veículo elétrico híbrido. Projetado e construído por Ferdinand Porsche, em 1898 25 CURSO DE RESGATE VEICULAR - 3ª EDIÇÃO estruturadas. As estradas passaram a ser ampliadas, conectavam cidades cada vez mais distantes, e a autonomia dos automóveis elétricos era pouca, não suportando percorrer grandes distâncias com também necessitavam de longo período para recarregar as baterias. Estas ainda aumentavam o peso do carro, se um veículo pesava 1.000 Kg, seria necessário aproximadamente 350 Kg de baterias de chumbo para percorrer 50 Km. Outra circunstância que corroborou para o domínio dos veículos com motor de combustão interna foi a expansão da infra-estrutura do setor petrolífero. Na década de 1960 a poluição gerada pelos meios de transporte movidos à base de combustíveis fósseis tornou-se uma preocupação no meio social e governamental em diversos países. Tal fato foi visto como uma oportunidade de negócios por alguns fabricantes de automóveis como a Ford, que exibiu seu protótipo deautomóvel elétrico, o Ford Comuta, em 1967, e a General Motors, que apresentou o elétrico híbrido GM 512 em 1968. Entretanto, o custo de manutenção, a baixa autonomia e a pouca velocidade que proporcionavam desestimulavam o mercado consumidor além da própria desconfiança deste sobre a eficiência dos novos produtos. No início da década de 1970 as apreensões com o preço do petróleo, decorrentes do aumento do seu consumo a nível mundial, como também por causa de conflitos e instabilidade políticas principalmente nos países árabes, e o embargo, em 1973, da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP) aos EUA, Europa Ocidental e Japão provocaram investimentos na pesquisa e desenvolvimento de meios alternativos de transporte, sobretudo para livrar os países desenvolvidos da dependência do petróleo. Contudo, os veículos elétricos não foram produzidos em massa, ficaram somente na fase de protótipos. Já na década de 1990 novas preocupações ambientais, sobretudo com o aquecimento global, e com a questão “segurança nacional” no que concerne à independência do petróleo fizeram com que ressurgisse o interesse, em diversos países, para com os meios alternativos de energia e transporte. 26 CURSO DE RESGATE VEICULAR - 3ª EDIÇÃO Passou a existir apoio de governos, de ambientalistas e de fabricantes nos estudos sobre etanol, gás natural, hidrogênio, energia solar, veículos elétricos e elétricos híbridos. Apesar do domínio dos veículos de combustão interna ao longo de todo o século de 1900, as pesquisas ocorridas durante este interregno ajudaram a promover avanços em componentes elétricos e elétricos híbridos, tais como baterias, motores e centrais de comando. No que diz respeito ao desenvolvimento de protótipos de veículos elétricos tem-se que, a General Motors anunciou, em 1990, a criação do EV Impact e, em 1994, a GM começou uma avaliação com 50 unidades. O projeto da GM evoluiu para o EV1 em 1996, quando então começou a sua produção e sua disponibilização por meio de contratos de leasing. Posteriormente o projeto foi cancelado pela General Motors sob o argumento de que o interesse do público foi pouco. O ano que é tido como o do renascimento dos veículos elétricos é o de 1997, quando a Toyota lançou, no Japão, o veículo elétrico híbrido denominado Prius, o qual obteve um surpreendente sucesso comercial e passou a justificar a produção em massa de veículos elétricos e elétricos híbridos. Ainda em 1997, a Audi lançou o Duo, o primeiro elétrico híbrido do mercado europeu. Seguindo esta tendência, a Honda, em 1999, foi a primeira montadora a lançar um elétrico híbrido com sucesso comercial nos EUA, no caso o modelo Insight. E, em 2000, o Prius também chegou aos EUA. No Brasil, o engenheiro paulista João Conrado do Amaral Gurgel concluiu o seu pioneiro projeto de carro elétrico, em 1974, e o denominou de Itaipú Elétrico. É considerado como o primeiro da América Latina. Porém, com o peso e a capacidade limitada das baterias, além do inconveniente de a recarga levar dez horas, o experimento de Gurgel não passou da fase de protótipo. 27 CURSO DE RESGATE VEICULAR - 3ª EDIÇÃO Os primeiros veículos elétricos híbridos começaram a ser comercializados no Brasil no ano de 2010, sendo eles: o Mercedes-Benz S400, em abri l, e o Ford Fusion Hybrid, em novembro. Apesar da venda comercial de automóveis elétricos e elétricos híbridos ser algo recente no Brasil observa -se que ela possui sólido crescimento, conforme pode ser verificado no gráfico a seguir: Fica claro ao se observar o gráfico que há uma clara tendência de evolução do uso de veículos elétricos e elétricos híbridos com o passar dos anos. Tal característica possibilita inferir o aumento na probabilidade de incidentes envolvendo tais tipos de automóveis, haja vista o crescimento da frota em circulação. 1.2 BREVE HISTÓRICO SOBRE A SEGURANÇA DOS OCUPANTES DE VEÍCULOS AUTOMOTORES No desenvolvimento dos primeiros automóveis o aspecto da segurança do condutor e dos passageiros não recebeu a devida atenção. Os estudos destinavam-se, principalmente, ao aperfeiçoamento dos componentes necessários à locomoção dos veículos como o motor, ao aumento do conforto Fonte: ASSOCIAÇÃO NACIONAL DOS FABRICANTES DE VEÍCULOS AUTOMOTRES. Anuário da indústria automobilística brasileira 2017: Licenciamento de autoveículos novos por combustível - 1957/2016. São Paulo, 2017, p. 63. 28 CURSO DE RESGATE VEICULAR - 3ª EDIÇÃO interno e ao seu design. Logo, acidentes fatais não tardaram a ocorrer, sendo um dos primeiros registros datado de 1869. Consta que no dia 31 de agosto de 1869 a cientista irlandesa Mary Ward viajava com seu o marido Henry, com Richard Parson Clare, com Charlie Algernon Parson e com o tutor destes dois, em um veículo a vapor construído pelo seu falecido primo William Parson, pai de Richard e Charlie. Mary era passageira e após o carro sacudir em uma curva, em Parsonstown (atual Birr, no Condado de Offaly), na Irlanda, foi jogada para fora do veículo. Ela caiu, uma das rodas a atingiu e causou uma lesão fatal no pescoço. Acidentes fatais com pedestres também começam a aparecer. Uma das primeiras notícias é a do dia 17 de agosto de 1896, em Londres, e no qual a Srª Bridget Driscoll foi atropelada pelo Sr. Arthur Edsall, que trabalhava como motorista em uma demonstração de veículos realizada pela empresa anglo- francesa Motor Company. O Sr. Arthur Edsall virou réu em um processo judicial mas, ao final do julgamento, o júri entendeu que o ocorrido foi uma morte acidental. A primeira fatalidade divulgada com um motorista é a de um acidente que aconteceu em 1898. O inglês Henry Lindfield e o seu filho Bernard Lindfield estavam dirigindo de Londres à Brighton, onde residiam, em um veículo de dois lugares que aquele acabara de comprar. Perto do fim de sua viagem, Henry Lindfield perdeu o controle do carro ao descer uma colina. Eles atravessaram uma cerca de arame e Henry Lindfield foi jogado do banco do motorista antes de o carro bater em uma árvore e imprensar a sua perna contra esta. Seu filho também foi projetado para fora do automóvel mas não ficou ferido e correu para ajudá-lo. Henry Lindfield foi levado ao hospital com a perna esmagada na porção abaixo do joelho. Os cirurgiões chegaram à conclusão de que a única possibilidade de salvar a sua vida era por meio da amputação do membro ferido. Após a operação, Lindfield permaneceu inconsciente e morreu no dia seguinte. 29 CURSO DE RESGATE VEICULAR - 3ª EDIÇÃO Um outro acidente fatal é relatado em 1899. Noticia-se que em fevereiro de 1899, em Harrow, Londres, o Sr. Edwin Sewell, estava demonstrando um carro para o Sr. Richer. O automóvel, um Daimler, descia uma ladeira íngreme e, após uma frenagem, os raios de madeira das duas rodas da traseira quebraram e os dois ocupantes foram lançados para fora do veículo. Sewell faleceu no local e Richer poucos dias depois. Nos Estados Unidos a primeira morte em decorrência de um acidente de trânsito ocorreu em 13 de setembro de 1899. O Sr. Henry Hale Bliss desembarcou de um bonde na esquina da Rua 74th com o Central Park West, em Nova York, e foi atropelado por um táxi elétrico enquanto ajudava uma mulher a sair do bonde. Ele faleceu no dia seguinte devido a ferimentos na cabeça e no peito. Somente no ano de 1900 os acidentes com automóveis ceifaram a vida de 36 pessoas nos EUA. O surgimento da Engenharia de Segurança Veicular tem seu início efetivo no pós 1ª guerra mundial. Apareceram centros de pesquisa tanto na Europa quanto nos Estados Unidos. No princípio buscou-se compreender o processo das colisões, iniciou-se a análise das forças e das deformações a que os veículos são submetidos. Verificou-se, por exemplo, que há diferençasentre as Acidente com Edwin Sewell e Richer, em Londres, em fevereiro de 1899 Primeiro acidente fatal dos Estados Unidos, em Nova York, em setembro de 1899. 30 CURSO DE RESGATE VEICULAR - 3ª EDIÇÃO forças e deformações oriundas de uma colisão com outro veículo e de outra contra um obstáculo fixo. A preocupação com a segurança veicular na indústria automobilística remete a Hugh DeHaven. Ele foi piloto na Royal Flying Corps Canada e, após se ferir em um acidente avião, durante treinamento de combate em 1917, dedicou-se às pesquisas relacionadas às lesões causadas por acidentes de aviões e automóveis, tornando-se um dos pioneiros na área de segurança veicular. Na época, teve dificuldades para encontrar apoio pois se entendia que o dinheiro deveria ser gasto com prevenção de acidentes e não com prevenção de lesões. Entre outros, Hugh DeHaven, dos anos de 1940 a 1950, participou do desenvolvimento do cinto de três pontos (retenção do tórax e abdômen simultaneamente) e durante esse trabalho percebeu que, em um acidente automobilístico, existiam diversas fontes de lesões e iniciou estudos sobre a deformação das estruturas frontais. Passou a se preocupar com o que ficou conhecido como sistema de retenção, ou seja, com o emprego de componentes envolvidos na retenção dos ocupantes de um veículo durante uma colisão. A pesar de Hugh DeHaven ter realizado estudos sobre cintos de três pontos, destaca-se que outros pesquisadores também se dedicaram ao assunto, sendo que tal cinto foi patenteado pela Volvo, na Suécia, em agosto de 1958, e cujos trabalhos foram conduzidos por Nils Bohlin. Este estágio inaugural da segurança veicular como objeto de estudo resultou em melhorias básicas, tais como: a redução de rupturas de pneus para evitar a perda do controle do veículo; a incorporação dos faróis para fornecer maior visibilidade à noite; a instalação de vidros laminados para reduzir lacerações faciais; e a adoção de uma estrutura de aço na carroceria para melhor proteção dos ocupantes. Além destes, conclui-se ainda que, para que os ocupantes não sofram ferimentos ou sejam mortos, a estrutura do veículo dever ser concebida de tal forma que possa absorver a energia envolvida em um acidente. 31 CURSO DE RESGATE VEICULAR - 3ª EDIÇÃO No que concerne aos fabricantes de veículos, têm-se, como pioneiras nas atividades de segurança veicular a Volvo, a Mercedez-Benz, que em 1939 implantou o seu departamento de segurança, e a General Motors, que começou seus trabalhos nesta área no início do século XX e inaugurou, em 1955, o primeiro laboratório de segurança veicular do mundo. Os testes iniciais são tidos como rudimentares para os padrões de hoje. Neste sentido, cita-se, por exemplo, que os manequins empregados nos testes de colisão não eram dotados de sensores eletrônicos e que a avaliação do desempenho estrutural relativo à proteção foi calcada basicamente em observações do esmagamento do veículo. A partir de 1950, a sociedade, e não apenas os estudiosos do segmento de segurança veicular, passou a dar mais atenção ao assunto. Cita-se, como exemplo, que a Colorado State Medical Society, em 1953, publicou matéria apoiando a instalação de cintos de segurança subabdominais em todos os veículos. Postura semelhante adotou a American Medical Association House of Delegates em 1954. No mesmo ano a Sports Car Club of America exigiu, em 1954, que os carros de competição fossem equipados com cintos abdominais de dois pontos. Ante a esta pressão, os organismos governamentais de diversos países, como EUA, Suécia, Grã-Bretanha, Austrália, Alemanha Ocidental e Japão começaram a editar normativos sobre segurança veicular, sobretudo sobre cintos de segurança1. 1 O cinto de segurança subabdominal de dois pontos foi desenvolvido pelo engenheiro aeronáutico inglês George Cayley (1773-1857), em meados do século 1800, e visava a proteção de pilotos de aviões. No que se refere aos veículos, a primeira patente deste tipo de cinto foi concedida americano Edward J. Claghorn, em 1885. Quanto à sua implantação em automóveis tem-se que, os primeiros veículos a serem produzidos com cinto de segurança foram da fabricante americana Nasch Motors que, em 1949, disponibilizou alguns de seus modelos com a opção de cintos subabdominais de dois pontos. Teste de impacto da Mercedez -Benz 32 CURSO DE RESGATE VEICULAR - 3ª EDIÇÃO No Brasil, seguindo a tendência mundial relativa à prevenção de mortes ou de lesões, decorrentes de acidentes de trânsito, de motoristas ou de passageiros, o Conselho Nacional de Trânsito - CONTRAN - tornou obrigatória a instalação e uso do cinto de segurança de dois pontos por meio da Resolução nº 391, de 16 de maio de 1968. A referida norma disciplinava que: Art. 1º Ficam obrigatórios a instalação e uso de cintos de segurança nos automóveis, camionetas, caminhões, veículos de transporte coletivo interestadual e intermunicipal e veículos de transporte escolares qualquer que seja sua categoria, na forma que estabelece a presente Resolução. § 1º A partir de 1º de janeiro de 1969, nenhum veículo para transporte de escolares poderá circular sem a instalação destes dispositivos de segurança, bem como fica proibido, a partir da mesma data, o transporte de escolares que não estejam assentados e protegidos pelo mesmo dispositivo. § 2º A partir de 1º de janeiro de 1970, nenhum veículo novo, dos acima mencionados, será licenciado sem a instalação dos cintos de segurança. § 3º A partir de 1º de janeiro de 1971, nenhum veículo dos acima mencionados, será licenciado sem a instalação dos referidos cintos. § 4º Os cintos de segurança deverão ser instalados em número correspondente ao de passageiros assentados, do veículo, inclusive para o condutor. § 5º Todos os modelos de cinto de segurança deverão ser submetidos à aprovação prévia do Grupo Executivo da Indústria Mecânica, do Ministério da Indústria e Comércio. § 6º Os infratores deste artigo serão punidos de acordo com o artigo 181, item XXX, letra “b”, do Regulamento do Código Nacional de Trânsito. Art. 2º A exceção dos particulares, deverão ser colocados no interior de todos os veículos a que se refere o artigo 1º, em lugar visível, os dizeres: “Use o cinto de segurança”. Art. 3º Esta Resolução entrará em vigor na data de sua publicação revogadas as disposições em contrário. Logo, conforme a Resolução nº 391/68 do CONTRAN, os automóveis utilizados para transporte escolar deveriam possuir cintos de segurança a partir de 1º de janeiro de 1969 e, a partir de 1º de janeiro de 1970, todos os veículos novos produzidos no Brasil. Tal Resolução teve o texto original corrigido pelas Resoluções de nº 430/70 e 444/71, sendo que a Resolução de nº 453/72 ratificou a obrigatoriedade da instalação e do uso do cinto de segurança. É de se destacar que a obrigatoriedade do uso do cinto de segurança gerou reações contrárias em parcela da sociedade brasileira, havendo quem defendesse apenas a opção de uso, ou seja, deveria ficar a critério do 33 CURSO DE RESGATE VEICULAR - 3ª EDIÇÃO ocupante o uso ou não do cinto, outros bradavam para o uso obrigatório apenas nas estradas, existiam aqueles que opinavam pela não obrigatoriedade da instalação dos cintos sob o argumento de redução de custos, outra parte alegava risco de morte em caso de incêndio no automóvel ou a hipótese de afogamento na eventualidade do carro cair em um rio, a facilidade para assaltantes pois a vítimas não possuíam chances de defesa, alguns declaravam que no Código Nacional de Trânsito então vigente (Lei nº 5.108, de 21 de setembro de 1966) não constava a obrigatoriedade nem da instalação e nem do uso do cinto, bem como não conferia poderes ao CONTRAN para tanto2, etc. As discussões relativas àinstalação e uso do ci nto também permearam debates políticos e como exemplos citam-se os Projetos de Lei Federais nº 1.180/68, nº 446/71, nº 4.997/85 e nº 5.250/85. No dia 29 de julho de 1983, a Resolução do CONTRAN de nº 615, decretou a proibição da circulação de veículos nas vias públicas sem que os seus ocupantes estivessem usando cintos de segurança. Segundo o § 2º do dispositivo em comento, a penalidade prevista passou a ser aplicada em um primeiro momento, 1º de janeiro de 1984, nas estradas, e depois, a partir de 1º de janeiro de 1985, também nas vias urbanas. Entretanto, no dia 13 de setembro de 1985, entrou em vigor nova Resolução do CONTRAN, a de nº 658, que passou a exigir tão somente a instalação do cinto de três pontos como equipamento obrigatório, sendo omissa quanto à questão da obrigatoriedade do uso do cinto. Nesta, também era autorizada a existência do cinto do tipo subabdominal nos assentos traseiros laterais de automóveis, em qualquer assento de veículos conversíveis ou do tipo buggy, em camionetas e caminhões, nos bancos traseiros de automóveis escolares, bem 2 Sobre a questão da competência ou não do CONTRAN insta informar que: O CONTRAN subsidiou a edição de Resoluções concernentes à instalação e uso de cintos de segurança conforme as atribuições que lhe conferiam o Art. 37, § 2º, da Lei nº 5.018, de 21 de setembro de 1966 (Código Nacional de Trânsito), alterada pelo Decreto -lei nº 237, de 28 de fevereiro de 1967. Nesta estava consignado o seguinte: “Art. 37. Nenhum veículo poderá ser licenciado ou registrado, nem poderá transitar em via terrestre, sem que ofereça completa segurança e esteja devidamente equipado, nos têrmos dêste Código e do seu Regulamento. § 1º [...]. § 2º Os equipamentos obrigatórios dos veículos serão determinados pelo Conselho Nacional de Trânsito”. 34 CURSO DE RESGATE VEICULAR - 3ª EDIÇÃO como nos veículos nacionais ou importados, fabricados até 31 de dezembro de 1983. Três anos mais tarde, o CONTRAN, por meio da Resolução nº 720/88, voltou a tornar obrigatório o uso do cinto, a partir de 1º de janeiro de 1989, mas apenas nas estradas e rodovias3. Somente a partir de 1º de janeiro de 1998, com a entrada em vigor do Código de Trânsito Brasileiro, Lei nº 9.503, de 23 de setembro de 1997, é que o uso do cinto de segurança tornou-se obrigatório em todas as vias públicas nacionais. Neste consta: [...] Art. 65.É obrigatório o uso do cinto de segurança para condutor e passageiros em todas as vias do território nacional, salvo em situações regulamentadas pelo CONTRAN Art. 105.São equipamentos obrigatórios dos veículos, entre outros a serem estabelecidos pelo CONTRAN: I - cinto de segurança, conforme regulamentação específica do CONTRAN, com exceção dos veículos destinados ao transporte de passageiros em percursos em que seja permitido viajar em pé; II - para os veículos de transporte e de condução escolar, os de transporte de passageiros com mais de dez lugares e os de carga com peso bruto total superior a quatro mil, quinhentos e trinta e seis quilogramas, equipamento registrador instantâneo inalterável de velocidade e tempo; [...] Os avanços dos estudos sobre lesões traumáticas em decorrências de acidentes automobilísticos, bem como da tecnologia propiciaram o surgimento de novos mecanismos de proteção e de prevenção como o pisca alerta, os limpadores duplos para o párabrisa, o ABS, o sistema de controle de tração, a barra de proteção lateral, o encosto para cabeça, o pré-tensor, o air bag4 e 3 Por oportuno, comunica-se que em 1999, o Superior Tribunal de Justiça, no julgamento do Recurso Especial de nº 164.161 MG 1998/00010092-0, acórdão publicado em 07 de junho de 1999, considerou como ilegal a edição da Resolução nº 720/88, por parte do CONTRAN. Segundo o colendo tribunal: “I - No regime do antigo Código Nacional do Trânsito (Lei 5.108/66), inexistia disposição inserida neste diploma legal, ou em qualquer outra lei federal, determinando a obrigatoriedade do uso do cinto de segurança para condutor e passageiros de veículos em todas as vias do território nacional. Tal obrigatoriedade somente surgiu com o advento do novo Código Nacional de Trânsito (Lei 9.503/97, que entrou em vigor em 20.01.98). II - Sem lei determinante da obrigação do uso do cinto de segurança pelos ocupantes de veículos automotores, afigura-se ilegal o estabelecimento desta exigência, via resolução do CONTRAN (Resolução 720/88), e nulos os respectivos autos de inf ração lavrados com base no descumprimento de tais normas, bem como a aplicação das multas correspondentes. III - [...]”. 4 No ano de 1951 o engenheiro alemão Walter Linderer criou uma bolsa de ar que era inflada por um compressor ativado através do párachoque ou pelo motorista, após testes se comprovou que este mecanismo não era capaz eficaz pois o seu enchimento era lento. A 35 CURSO DE RESGATE VEICULAR - 3ª EDIÇÃO melhorias nos faróis, bem como na estrutura de absorção de impacto dos automóveis. Mas o dispositivo de segurança mais significativo implantado foi o cinto diagonal de segurança, no começo como uma opção para os carros da Volvo, em 1959. Quanto a este, em 1962 fabricantes de automóveis nos EUA passaram a oferecer cintos de segurança dianteiros como item de sé rie. Conclui-se, portanto, que a segurança dos ocupantes passou a integrar o processo de desenvolvimento dos veículos durante o século de 1900 e centrou- se no aprimoramento da tecnologia de prevenção de acidentes, em dispositivos de proteção dos ocupantes e na resistência da estrutura de um automóvel ante a um eventual choque. Como se observa, a tecnologia veicular avança a uma velocidade que obriga os profissionais de resgate a manter estudo contínuo, sobretudo das inovações de sistemas de segurança dos veículos haja vista que as ações de resgate de vítimas presas nas ferragens são complexas e exigem soluções rápidas para anular a tendência de evolução do sinistro e resgatar as vítimas , garantindo- lhes qualidade de vida e/ou sobrevida. Entre as dificuldades a serem encontradas pelas equipes de resgate e provenientes do aperfeiçoamento dos automóveis podem ser citadas: patente do air bag com sistema de ar comprimido é de 1953, sendo creditada ao engenheiro da marinha americana John W. Hetrick. Ele utilizou conhecimentos com disparadores de ar comprimido para torpedos para desenvolver um sistema de enchimento rápido e automático de almofadas. Contudo, somente em 1967 é que o engenheiro mecânico americano de nome Allen K. Breend criou um tipo de sensor eletromecânico de colisão confiável, o qual consiste em um pequeno cilindro com uma bola metálica em seu interior, presa por um campo magnético, a qual se locomove em caso de colisão e provoca o acionamento de uma carga explosiva de azida sódica que infla uma bolsa. A implantação dos air bag’s frontais provocou uma mudança no designe do volante e do painel dos veículos. Em 1971 a Ford construiu uma frota experimental equipada com air bag’s. Em 1973 a GM lançou diversos modelos da marca com air bag opcional destinados aos consumidores. No mesmo ano a Chevrolet também fabricou modelos de Caprice e de Impala com air bag’s. Até o ano de 1981 os air bag’s eram uma alternativa para substituição do cinto de segurança, quando, no ano em comento, a Mercedes-Benz, lançou um automóvel (Classe S W126) cujos air bag’s eram opcionalmente um sistema de restrição suplementar. No ano de 1988 a Chrysler foi a primeira montadora a fornecer veículos dotados de ai r bag’s como itens de série. Ademais, a National Highway Traffic Safety Administration dos EUA estipuloua gradual implantação para todos os veículos, de 1987 a 1990, dos air bag’s frontais para condutor e passageiro nos autom óveis de passeio. A mesma entidade realizou procedimento idêntico para caminhões leves e vans entre os anos de 1995 a 1998. 36 CURSO DE RESGATE VEICULAR - 3ª EDIÇÃO A lentidão no procedimento de resgate devido ao emprego de materiais de alta resistência nas estruturas dos veículos, os quais exigem o uso de ferramentas que possuem força de operação elevada; As lesões provocadas, entre outras, pelo corte e respectiva projeção de uma barra de proteção lateral ou pelo acionamento tardio de um air bag; Os ferimentos decorrentes da explosão de uma ampola de acionamento de air bag ou de pré-tensor de cinto, quando esta for atingida por uma das ferramentas hidráulicas. Toda técnica de segurança e resgate é baseada no conhecimento. Porém, em se tratando de acidentes automobilísticos, especialmente se envolverem veículos modernos, que são dotados de sistemas de segurança muitas vezes desconhecidos pelos profissionais de resgate e até mesmo do próprio condutor do veículo, o atendimento se torna dificultoso. Existe a necessidade de interação por parte de fabricantes e de revendedoras com as instituições responsáveis pelo resgate em acidentes automobilísticos, para que os profissionais de resgate sejam conhecedores da composição dos veículos e estejam familiarizados com os seus sistemas de segurança (localizações, princípios de funcionamento e desativação), materiais da estrutura, sistemas de reforço e de gestão de impacto etc. Com isto, tais profissionais poderão, entre outros, aprimorar as técnicas de resgate veicular, pesquisar e adquirir equipamentos que facilitam e aceleram o trabalho de resgate, bem como atualizar princípios de segurança que visam minimizar os riscos comuns em um acidente. 37 CURSO DE RESGATE VEICULAR - 3ª EDIÇÃO 2 ESTRUTURA E SEGURANÇA VEICULAR A presente seção tem por objetivo: 1 - Apresentar a composição de um veículo e as tecnologias de segurança que equipam os automóveis; 2 - Elencar algumas das influências destas estruturas e tecnologias no resgate veicular. É sabido que a participação da estrutura do veículo no processo de absorção da energia envolvida na colisão de um automóvel é de fundamental importância para a preservação da integridade física dos seus ocupantes. Neste aspecto, se um carro apresentar uma estrutura muito rígida, a energia cinética transferida para aqueles que o ocupam será alta e os afetará de sobremaneira. Por isso, há a necessidade de uma compensação no sistema de retenção dos ocupantes. Portanto, o desenvolvimento das estruturas dos veículos está intimamente ligada ao aperfeiçoamento dos sistemas de retenção, como demonstra a imagem a seguir. Assim, como item que também é utilizado na segurança de um veículo, faz-se necessário apresentar os componentes básicos da estrutura de um automóvel na medida em que proporcionará uma maior eficiência nas atividades de resgate veicular. Chevrolet: crash test 1959 x 2009 Chevrolet Bel Air (1959) vs. Chevrolet Malibu (2009). Chash test feito pelo Insurace Institute for Highway Safety no ano de 2010 para demonstrar a evolução da segurança automotiva 38 CURSO DE RESGATE VEICULAR - 3ª EDIÇÃO 2.1 ESTRUTURA VEICULAR Para facilitar o desenvolvimento das operações de resgate veicular, no sentido de que não haja dúvidas, em termos de divisão das partes de um automóvel, são adotadas as seguintes nomenclaturas: Há também uma divisão vertical. Esta compreende a adoção de 3 (três) linhas virtuais horizontais em relação ao solo, conforme os seguintes exemplos: Parte traseira Parte da frente ou dianteira Lado do motorista Lado do passageiro Teto Parte baixa Parte média Parte alta Parte baixa Parte média Parte alta 39 CURSO DE RESGATE VEICULAR - 3ª EDIÇÃO Quanto à base da estrutura dos veículos esta é feita essencialmente com longarinas, monobloco ou estruturas tubulares. Nela se apóiam componentes mecânicos como o motor, a caixa de marchas, a suspensão, itens de conforto etc. E, no que concerne aos principais elementos estruturais de um automóvel destacam-se: Travessa de reforço estrutural Coluna A Coluna B Coluna C Suporte do páralamas Guarda fogo ou parede de proteção Caixa de ar Perfil do teto Assoalho Caixa de rodas Painel traseiro Longarina inferior dianteira Painel dianteiro Parte alta Parte média Parte baixa Parte alta Parte média Parte baixa 40 CURSO DE RESGATE VEICULAR - 3ª EDIÇÃO a) Longarinas As longarinas são as peças principais do chassi de ônibus, de caminhonetes ou de carros de passeio antigos. Ou seja, a parte essencial de um chassi de um veículo pode ser composta por apenas duas longarinas que são unidas por travessas. A carroceria é montada sobre o chassi. b) Tubular A parte essencial de um chassi também pode ser feita de tubos ligados entre si. Como exemplos de automóveis feitos com tal estrutura encontram-se alguns carros de competição. Longarinas Chassi Travessas Chassi tubular utilizado em carros da Stock Car V8 - 2013 Chassi do modelo de ônibus B290R 4x2 Urbano da Volvo Destaque do chassi de veículo da Volkswagen 41 CURSO DE RESGATE VEICULAR - 3ª EDIÇÃO c) Monobloco É uma única peça estrutural, ou seja, um único componente forma a base da estrutura, não possuindo, então, chassi. Foram concebidos com a finalidade de reduzir o peso dos veículos. Eles possuem “pontos fusíveis”, isto é, pontos programados para deformação em caso de colisão. 2.3 SEGURANÇA VEICULAR 2.3.1 Célula de sobrevivência ou habitáculo A célula de sobrevivência ou habitáculo é o compartimento de um automóvel destinado à acomodação do condutor e demais ocupantes. A célula de sobrevivência é projetada para permanecer intacta em uma colisão, protegendo, portanto, aqueles que nela se encontram. É isolada das principais áreas de impactos, que são o compartimento do motor e o bagageiro. Monobloco Reforço estrutural do Renault Megane Sport, inclusive no habitáculo 42 CURSO DE RESGATE VEICULAR - 3ª EDIÇÃO São utilizados materiais mais resistentes para reforçar a sua estrutura tais como aço de alta ou ultrarresistência. As células de sobrevivência praticamente não deformam em um impacto moderado, o que facilita a extração das vítimas. Porém, se houver colisão de grandes proporções envolvendo automóvel dotado de tais elementos, os seus ocupantes podem ficar presos às ferragens e haverá dificuldades para movimentá-las durante a execução dos procedimentos de criação das vias de acesso às vítimas, dos espaços para a prestação dos primeiros socorros e das vias de extração. Exemplo disto são os casos de impacto frontal, nos quais os procedimentos de rebater ou de levantar o painel por um só lado podem apresentar maiores dificuldades. 2.3.2 Barras de proteção contra impactos laterais As barras de proteção lateral são barras de aço altamente resistentes, instaladas nas portas dos veículos, com a função de proteger os ocupantes contra impactos laterais, evitando que a força externa agressora adentre a célula de sobrevivência. Barras de proteção contra impactos laterais Uso de dois cilindros de resgate no rebatimento em veículo da Mercedes- Benz com reforço estrutural no painel 43 CURSO DE RESGATE VEICULAR- 3ª EDIÇÃO Os testes de impacto lateral são realizados com velocidades que, geralmente, não excedem os 64 km/h, velocidade na qual as barras de proteção atuam com boa proteção aos ocupantes. Todavia, em velocidade alta pode ocorrer que os passageiros fiquem presos nas ferragens haja vista que em impactos frontais, quando ocorre o recuo do painel para dentro do automóvel, ou traseiros as barras de proteção serão comprimidas, podendo adentrar nas colunas e impedir a abertura das portas. Nesta hipótese, há que se atentar ainda para o fato de que um material comprimido pode ser projetado se forem eliminadas as forças que prendem as suas extremidades. 2.3.3 Novos materiais empregados na composição de um automóvel Os materiais empregados na construção de um veículo, entre outras características, têm que possuir resistência à corrosão, pouco volume, viabilidade de reciclagem, devem proporcionar a redução de vibrações, serem leves a fim de que a sua utilização não resulte em aumento do consumo de combustível e terem a capacidade de absorção de energia proveniente de eventual acidente para que o automóvel possa proporcionar uma proteção adequada aos seus ocupantes. Em um veículo podem ser encontrados diversos materiais e de diferentes espessuras, sendo que alguns destes podem influenciar no resgate de vítimas na medida em que podem ser difíceis de cortar, de fácil combustão ou explosão etc. Neste aspecto têm-se, como exemplos, o aço estrutural, o magnésio, o policarbonato e os materiais compósitos. Exemplos de locais onde materiais compósitos podem ser aplicados em substituição a chapas metálicas 44 CURSO DE RESGATE VEICULAR - 3ª EDIÇÃO Quanto ao aço estrutural, tem-se que a sua capacidade de deformação e, por conseguinte, de absorção de energia cinética depende diretamente do coeficiente de tensão que o material suporta, como pode ser constatado na imagem acima. Ante a uma colisão, conforme as propriedades mecânicas peculiares a cada material, estes têm as seguintes fases: em um primeiro momento ocorre a deformação elástica, em um segundo a plástica, e após esta, ocorre a ruptura do material. As deformações elásticas não são permanentes, ou seja, quando a carga é removida, o corpo retorna ao seu formato original. A tensão de limite elástico (tensão de escoamento ou tensão de cedência) é a tensão máxima que o material suporta ainda no regime elástico de deformação, se houver algum acréscimo de tensão o material começa a sofrer a deformação plástica (deformação definitiva). Durante a deformação plástica, a tensão necessária para continuar a deformar um metal aumenta até um ponto máximo, chamado de limite de resistência à tração. Isto corresponde à maior tensão que o material pode resistir e se esta tensão for aplicada e mantida, o resultado será a ruptura. Exemplos de tipos de aço empregados no reforço estrutural veicular 45 CURSO DE RESGATE VEICULAR - 3ª EDIÇÃO E, no auxílio da distribuição da energia cinética, além dos diferentes tipos de materiais empregados, estes são utilizados com diferentes camadas e espessuras como nos exemplos a seguir. 2.3.4 Sistemas de segurança A evolução da tecnologia veicular na área de segurança constitui preocupação para as equipes de resgate, tendo em vista que alguns sistemas, apesar de serem benéficos para os ocupantes dos automóveis no momento da colisão, podem representar risco pós-colisão. O perigo decorre de sistemas de proteção ocultos não acionados e que podem ser ativados durante o resgate. Existe risco para todos os envolvidos no evento, exigindo que os Bombeiros atuantes Secção de uma coluna B (1996 vs. 2002) Distribuição do aço estrutural utilizado nos modelos S40 e S80 da Volvo Exemplo de coluna B com diferentes espessuras 46 CURSO DE RESGATE VEICULAR - 3ª EDIÇÃO no desencarceramento e na extração adotem medidas de gerenciamento para anular os sistemas não ativados. Os sistemas de segurança de um automóvel classificam-se em: - Ativos: possuem a finalidade de evitar o acidente como é o caso do ABS e dos sistemas de regulação de tração e de controle de estabilidade. - Passivos: visam preservar a integridade física do(s) ocupante(s) durante a colisão. Estes são subdivididos em sistema de retenção (ou restrição): a) Primário: tem a finalidade de reter o corpo ou a cabeça do ocupante de um automóvel no momento de uma colisão, como, no caso de impacto frontal, o cinto de segurança, e na hipótese de batida na traseira, o encosto de cabeça; b) Suplementar (SRS): complementam os itens de segurança passiva do tipo primário. São exemplos de SRS: os air bag’s, as zonas de deformação, os pré-tensores de cinto, o sistema ROPS etc. Os sistemas de segurança que exigem atenção especial dos profissionais de resgate são, sobretudo, os SRS. 2.3.4.1 Sistema passivo de segurança suplementar Os dispositivos passivos de segurança possuem a finalidade de garantir a integridade física dos ocupantes de um automóvel em caso de acidentes. Eles atuam apenas no momento de uma colisão, como os air bag’s, os pré-tensores de cinto, os sistemas ROPS, as zonas de absorção de impactos etc. a) Air bag’s Os air bag’s são bolsas de ar contra impactos, que são infladas no momento de uma colisão para minimizar os efeitos do 2º impacto5. Conforme a Lei nº 5 Consta no Manual de atendimento pré-hospitalar do CBMDF que em uma colisão deve-se distinguir e levar em consideração a ocorrência de três impactos: a) Primeiro impacto, do veículo contra um objeto ou obstáculo, causando danos ao veículo e ao objeto ou obstáculo; b) Segundo impacto, do corpo da vítima contra as partes internas do veículo, em decorrência da 47 CURSO DE RESGATE VEICULAR - 3ª EDIÇÃO 11.910, de 18 de março de 2009, os air bag’s do condutor e do passageiro dianteiro tornaram-se itens obrigatórios para automóveis fabricados, importados ou montados no Brasil desde o ano de 2014. Quanto ao modo de acionamento existem basicamente três tipos de sistemas de air bag’s. Um é o padrão americano, cujo sensor é mecânico. Neste, no infortúnio de uma colisão, uma esfera ou uma folha metálica se move dentro do sensor e fecha o contato, que aciona a central de controle dos air bag’s. Outro modelo é o europeu, mais usual e o qual predomina atualmente no Brasil, cujo sensor é eletrônico. Há também air bag’s com acionamento mecânico, são menos comuns. Nestes, em caso de desaceleração brusca uma esfera se locomove dentro do conjunto do próprio air bag e aciona o detonador. Nele não existe central de controle, não necessita de alimentação de energia e nem de circuitos elétricos externos. No sistema de air bag mais utilizado no Brasil, sensores eletrônicos de impacto, no momento da colisão, captam a energia cinética das ferragens e enviam sinal para a central de controle que, por sua vez, envia um impulso elétrico para inércia, causando lesões que são normalmente externas e visíveis no corpo da vítima; e c) Terceiro impacto, dos órgãos internos da vítima contra as paredes internas das cavidades corporais ou mesmo outros órgãos, causando lesões, normalmente, internas e mais difíceis de identificar. Exemplo de sensores mecânicos de colisão 48 CURSO DE RESGATE VEICULAR - 3ª EDIÇÃO detonação de um dispositivo pirotécnico que consta no interior de um ampola, gerando, na seqüência, o gás que infla a bolsa, tudo isso em milionésimos de segundo. a.1)Grupos de air bag’s Os modelos de air bag’s mais comuns de serem encontrados são: o cortina, o do motorista, o do passageiro, o lateral de banco, o lateral de porta, o do pedestre, o dos joelhos, o tubular, o entre os bancos, o do encosto de cabeça, o de cinto de segurança ou beltbag. Estes podem ser divididos dentro de basicamente três grupos, sendo eles: a) Frontais Localizados na parte frontal do habitáculo, normalmente acondicionados no volante e no painel, para proteção do motorista, do carona e do pedestre em caso de colisão frontal. A existência de air bag’s frontais, via de regra, é de fácil visualização, bastando observar no volante, no painel ou no párabrisas do automóvel a inscrição AIR BAG, SIR, SRS (Supplemental Restraint System), SRP (Supplemental Restraint Passenger) ou PPS (Pedestrian Protection System). No caso do air bag para proteção do pedestre a inscrição pode estar sob o capô. Tempo necessário para inflar e esvaziar uma bolsa de air bag 49 CURSO DE RESGATE VEICULAR - 3ª EDIÇÃO b) Laterais Projetados para proteção dos ocupantes em caso de colisão lateral. Podem estar localizados nas portas, colunas e nos bancos. Geralmente no formato tubular ou cortina. Para a sua localização deve-se procurar pela inscrição: AIR BAG, SIPS (Side Impact Protection System), HPS (Head Protection System), IC (Infatable Curtain); SRP (Supplemental Restraint Passenger); ou SRS (Supplemental Restraint System). c) Traseiros Além do grupo de air bag’s frontais e laterais existem ainda os que ficam na traseira do habitáculo, geralmente do tipo cortina ou no encosto de bancos. Para a sua localização deve-se procurar pela inscrição: AIR BAG, RIPS (Rear Impact Protection System), HPS (Head Protection System), IC (Infatable Exemplos de inscrições e símbolos que indicam a existência de air bag’s frontais Exemplos de inscrições e símbolos que indicam a existência de air bag’s laterais Volvo V40, estrutura reforçada e air bag’s para a proteção dos ocupantes e do pedestre 50 CURSO DE RESGATE VEICULAR - 3ª EDIÇÃO Curtain); SRP (Supplemental Restraint Passenger); ou SRS (Supplemental Restraint System). Destaca-se que não há padrão quanto à localização dos itens que compõe um sistema de air bag, inclusive das ampolas de gás. Portanto, para um determinado modelo de veículo, as ampolas de gás podem estar nas suas colunas e em outro tipo no perfil do teto. Há que se anotar também que os air bag’s são independentes quanto ao mecanismo de acionamento. É a central de controle que identifica quais air bag’s serão acionados durante uma colisão. b) Pré-tensor de cinto de segurança Outro item que gera preocupação no momento de um resgate é o pré-tensor de cinto, que é concebido para evitar o movimento dos ocupantes durante uma colisão e reduzir, juntamente com os air bag’s, o impacto daqueles sobre componentes do veículo. O pré-tensor do cinto de segurança é um mecanismo de segurança que, no momento do acidente, elimina a folga existente entre o cinto de segurança e o corpo do ocupante, fixando-o, por meio de tração, ao banco no momento do impacto e antes do acionamento dos air bag’s. Podem ser instalados nos seguintes locais: - No fecho (atrás ou debaixo dos assentos). Pré-tensor de cinto instalado no fecho do cinto Pré-tensor de cinto 51 CURSO DE RESGATE VEICULAR - 3ª EDIÇÃO - Na ancoragem do cinto (peça por onde passa o cinto). - No retrator do cinto. Assim como a bolsa inflável de um air bag, o pré-tensor é descartável, ou seja, funciona apenas uma vez. Os pré-tensores de cinto são de dois modelos, podem ser ativados respectivamente, ou por um mecanismo de mola ou por uma carga explosiva. O acionamento dos pré-tensores depende da severidade da colisão. A central de controle pode decidir pelo acionamento somente destes ou em conjunto com os air bag’s. Pré-tensores de cinto instalados nos retratores da coluna B Pré-tensor de cinto instalado na ancoragem Mecanismo do pré-tensor instalado no retrator do cinto Pré-tensores instalados nos retratores dos cintos traseiros (Volvo S80 e S60) 52 CURSO DE RESGATE VEICULAR - 3ª EDIÇÃO A sua ativação acidental durante os trabalhos de resgate pode causar sérios danos aos pacientes. Assim, o resgatista deve estar atento aos possíveis indicativos de existência tanto de air bag’s quanto de pré-tensores, sendo uma das características que dificultam tal procedimento o fato destes serem ocultos, bem como podem estar em diversos pontos do veículo. E, para evitar que a forte desaceleração, decorrente do emprego de um pré- tensor cause ferimentos a um ocupante de automóvel, a maioria dos sistemas pré-tensores usa um dispositivo de amortecimento. Este também é conhecido como limitador da força G. Ele provoca uma pequena desaceleração do corpo do ocupante antes do acionamento do pré-tensor. O pré-tensor proporciona uma pequena folga no cinto de segurança no momento da colisão e, portanto, reduz a quantidade de força gravítica que atua sobre o corpo. c) Sistema ROPS É um sistema de proteção automática anti capotamento. Os veículos conversíveis possuem um fator de risco a mais para os seus ocupantes no caso de um eventual capotamento, tendo em vista que a ausência do teto os torna vulneráveis. Devido a isto, para impedir ferimentos graves e até fatais, Mecanismo de amortecimento do cinto de segurança Exemplo de atuação do mecanismo de amortecimento do cinto de segurança 53 CURSO DE RESGATE VEICULAR - 3ª EDIÇÃO alguns destes veículos possuem barras de proteção escamoteáveis, que são acionadas automaticamente caso a inclinação do veículo ultrapasse valores pré-estabelecidos. d) Zonas de absorção de impactos Zonas de absorção de impactos são zonas colapsáveis. São as partes do veículo que, de forma pré-estabelecida, se deformam progressivamente para fazer a distribuição controlada da energia cinética oriunda de um impacto, de forma a desviá-la da célula de sobrevivência. Neste sentido, têm-se como exemplos: o párachoques; a barra de direção, que é inclinada e dividida em estágios programados de forma a se deformar progressivamente, buscando evitar, com isso, sua projeção de encontro ao motorista; o motor e as rodas, que se deslocam sem invadir o compartimento dos ocupantes etc. Distribuição de energia cinética proveniente de colisão frontal e traseira Sistema ROPs acionado e sua forma de identificação 54 CURSO DE RESGATE VEICULAR - 3ª EDIÇÃO Destacam-se, como novas tecnologias empregadas no gerenciamento da energia decorrente de uma colisão, a espuma estrutural de poliuretano e as espumas metálicas, que também auxiliam na redução de ruídos e das vibrações, e os materiais compósitos (composite) como os confeccionados com fibra de carbono. Mercedes-Bez E-Class Coupé C207. Distribuição de energia cinética proveniente de colisão frontal e lateral Espuma metálica de alumínio e espuma de poliuretano Carro sem espuma estrutural vs. automóvel com estrutura reforçada com espuma de poliuretano em pontos específicos. Simulação de crash test com veículos a uma velocidade de 48 Km/h. Deformações após 90 milissegundos do impacto. Secções em tubos, após compressão, um oco (sem reforço) e outro com reforço interno de espuma metálica de alumínio 55 CURSO DE RESGATE VEICULAR - 3ª EDIÇÃO As espumas estruturais de poliuretano e as metálicas podem ser aplicadas individualmente ou de forma simultânea nas cavidades,nos pontos de conexão ou ao longo das colunas, da parte inferior do veículo, do painel, das portas, das travessas e das longarinas de um chassi, do párachoques etc. d) Whips (Whiplash Protection System) É um mecanismo de proteção contra o efeito chicote (hiperextensão da coluna cervical seguida de uma hiperflexão) em uma colisão. Ele é ativado na hipótese de colisão traseira e visa proteger os ocupantes de um veículo de danos na coluna cervical. 2.3.5 Vidros Em um automóvel podem ser encontrados diferentes tipos de vidros. São eles: - Laminado: é constituído por duas ou mais lâminas de vidro unidas a uma ou mais películas de polivinil butiral (PVB). Ao ser quebrado não se esti lhaça, permanecendo os pedaços de vidros colados na lâmina plástica, perigo que pode resultar em cortes profundos em vítimas e/ou Bombeiros. Via de regra, é colado na lataria do veículo, não sendo possível, neste caso, sua retirada, Esquema de funcionamento de um dispositivo whips Locais mais usuais para aplicação das espumas estruturais 56 CURSO DE RESGATE VEICULAR - 3ª EDIÇÃO mesmo se for cortada borracha que o contorna. Pode ser encontrado no párabrisa dianteiro, na traseira e nas laterais. - Temperado: ao ser quebrado estilhaça-se em pedaços. Instalado, via de regra, na traseira e nas laterais. - Blindado: composto por camadas de vidro, poliéster, polivinil butiral, vidro, poliuretano, policarbonato e filme anti-laceração. É um recurso de proteção a projéteis disparados contra a área externa de veículos, bem como para impedir o acesso ao interior do veículo. Tal característica torna dificultoso eventual resgate e pode resultar na mudança na forma de se criar um acesso à vítima. Pode ser encontrado no párabrisa, nas laterais e na traseira. Vidro temperado quebrado Exemplo de composição de um vidro laminado Identificação do vidro laminado: AS-1 e/ou palavra laminated Identificação do vidro temperado: AS-2 e/ou palavra tempered 57 CURSO DE RESGATE VEICULAR - 3ª EDIÇÃO - Policarbonato: é mais leve e resistente que o vidro. Pode ser encontrado nas laterais e traseira de veículos. Policarbonato 58 CURSO DE RESGATE VEICULAR - 3ª EDIÇÃO 3 FASE PRÉ-SOCORRO Este capítulo visa abordar ações realizadas antes da etapa de socorro, portanto dissertará sobre o planejamento pré-socorro e a rotina operacional pré-socorro na atividade de resgate veicular, de forma a demonstrar as influências da preparação para o socorro na obtenção de êxito nos atendimentos a ocorrências de acidente automobilístico. É notório que o atendimento a uma ocorrência de acidente automobilístico é complexo, isto se deve ao fato de que, em um curto interregno, o Comandante do Incidente tem que avaliar de forma sistêmica e integrativa peculiaridades do incidente para tomar decisões e gerir diversos procedimentos e recursos, sendo que estes têm que ser empregados com segurança, de uma forma eficaz e eficiente. Diante disto, fica claro que o Comandante de um incidente, para garantir que o desfecho de um atendimento seja o melhor possível, não deve se valer de improvisos, mas dos quatro fundamentos básicos da administração, quais sejam: o planejamento, a organização, a direção e o controle. Planejar significa prever cenários futuros para poder, de forma antecipada, formular objetivos atingíveis. Para tanto, deve-se analisar as alternativas existentes e os meios para alcançá-los. Diante de todos estes dados, definem- se os planos a serem implantados (o que deve ser feito, quando, como e em que seqüência). Existe diferença entre um bom e um mau planejamento. No bom planejamento o sucesso é obtido com qualidade, em tempo resposta menor, com princípios de segurança e participação coletiva. No mau planejamento quando ocorre o êxito, este geralmente é oriundo de uma qualidade individual, existindo variações de tempo resposta, qualidade e segurança. O bom planejamento em um resgate veicular começa na fase de pré-socorro. 59 CURSO DE RESGATE VEICULAR - 3ª EDIÇÃO No que diz respeito à importância do planejamento nos atendimentos à emergências, De Oliveira (2005, p. 86) assevera que o “o planejamento é a base do comando e controle de uma operação [...]”. Fica clara a relevância do planejamento, pois é por meio dele que todos os envolvidos saberão quem é o gestor do incidente, evitando-se ações “por conta própria” e comandos múltiplos, bem como torna possível a avaliação e correção procedimentos que podem conduzir ao fracasso da operação. Por sua vez, organizar implica em dispor os recursos existentes de uma forma lógica em uma estrutura, sendo imperioso agrupar tarefas e dividi-las de forma integrativa (sistêmica e ordenada), bem como indicar os seus responsáveis. Neste aspecto, o Sistema de Comando de Incidentes se apresenta como uma importante ferramenta, pois prevê estruturas complexas, com possibilidade de integração de órgãos de resposta a emergências, e também básicas, geralmente comuns, a diversos tipos de ocorrências. Outro mecanismo que se destaca no que tange à organização é a elaboração de Procedimentos Operacionais Padrões, pois elencam as ações básicas e seqüenciais a serem executadas nos tipos de incidentes mais comuns. A direção está relacionada com a capacidade de leitura e interpretação de planos e a conseqüente emanação de orientações destinadas à implantação e execução do planejamento. É preciso que a ordem seja clara e que o seu destinatário a tenha compreendido e que possua condições de realizá-la. A direção também se dá durante a execução das tarefas pois o Comandante do Incidente deve coordenar os esforços e motivar sua equipe à concessão dos objetivos. O controle visa assegurar o resultado daquilo que fora planejado. Para tanto é necessário estabelecer padrões e acompanhar o que está sendo feito para, posteriormente, realizar uma avaliação comparativa e, se for o caso, realizar adaptações. 60 CURSO DE RESGATE VEICULAR - 3ª EDIÇÃO Ante ao exposto, insta ressaltar que o sucesso em um atendimento emergencial está diretamente relacionado à fase de pré-socorro, na qual se realizam ações que visam à preparação para a etapa de socorro. Portanto, o planejamento de um resgate veicular inicia-se antes mesmo que as fases do socorro sejam desencadeadas, isto é, os trabalhos devem ser iniciados em período anterior ao do acionamento. A fase de pré-socorro é composta de duas etapas distintas, quais sejam: a de planejamento pré-socorro, na qual setores administrativos também podem auxiliar na concessão de planejamentos e execução de tarefas, e a de rotina operacional pré-socorro, que é restrita à equipe de plantão. 3.1 PLANEJAMENTO PRÉ-SOCORRO Setores administrativos da Corporação e as equipes de plantão podem realizar ações de forma prévia, anteriores ao acionamento de uma ocorrência de acidente automobilístico, e que repercutem diretamente em um resgate veicular. Como já fora dito, o Comandante do Incidente deve evitar improvisos nos atendimentos pelos quais é responsável. Logo, se faz necessário a execução de um planejamento pré-socorro. O procedimento de planejamento pré-socorro visa dotar uma equipe de socorro com recursos e informações que a auxiliará na hipótese do atendimento a um acidente. Neste aspecto, no que se refere ao resgate veicular, apresentam-se alguns exemplos de elementos que podem fazer parte de um planejamento pré-socorro: Relacionar as vias da região que apresentam as maiores probabilidades de acidentes automobilísticos e os pontos mais prováveis destes ocorrerem; Levantar as características das principais vias da localidade (velocidade, existência de acostamento e pista paralela etc); Informar os hidrantes na área de atuação; 61 CURSO DE RESGATE VEICULAR - 3ª EDIÇÃO Levantar as rotas de acesso às principais vias, bem como as rotas alternativas que conduzem a elas; Confeccionar mapas e croquis da área de atuação; Verificar fatores favoráveis e adversos à ação de socorro; Elaborar lista de contatos de órgãos que eventualmente possam ser acionados; Confeccionar lista de materiais operacionais a serem adquiridos; Verificar eventuais restrições de atendimento nos hospitais da área de atuação; Desenvolver planos operacionais padrão; Criar programa de treinamento; e Elaborar plano de renovação e manutenção de materiais operacionais. Segundo o CBMDF (2009, Mód. IV, p. 21) o levantamento de área deve atingir pontos de interesse da Corporação, seja pelo risco ou pela importância, tais como: locais de grande concentração de público, locais que utilizam ou armazenam produtos perigosos etc. No caso de levantamento de dados, os resultados devem ser dispostos de tal forma que sejam passíveis de consulta por parte de Comandantes de Socorro, inclusive durante o atendimento a um incidente. Estas informações também podem ser uti lizadas na formulação de procedimentos operacionais padrão. 3.2 ROTINA OPERACIONAL PRÉ-SOCORRO Para se obter sucesso nas operações de resgate é necessária a observância das particularidades existentes em cada uma das etapas de um socorro, como também das anteriores ao mesmo. Afirma-se isto pelo fato de que as fases de pré-socorro e de socorro estarem interligadas. Assim, ao se ignorar qualquer uma delas estar-se-á comprometendo o resultado final da operação. Neste sentido, tem-se que a rotina operacional pré-socorro é a etapa liga às condutas de uma equipe de serviço, isto é, de prontidão, em período anterior a 62 CURSO DE RESGATE VEICULAR - 3ª EDIÇÃO um aviso de socorro. Portanto, ela começa na assunção do serviço. É justamente na fase de rotina operacional pré-socorro que o Comandante de Socorro adota medidas para viabilizar e otimizar as fases de um socorro. São exemplos de medidas que devem ser adotadas durante a fase de rotina operacional pré-socorro: Conferência de recursos humanos e sua distribuição por guarnições; Distribuição das funções dentro das guarnições e respectivas recomendações; Avaliação das condições externas dos materiais, teste de funcionalidade e manutenção destes; Acondicionamento dos recursos materiais; Teste de prontidão; Treinamento operacional (instrução, simulacro e simulado); e Recomendações ao telegrafista. 3.2.1 Procedimentos gerais na rotina operacional pré-socorro 3.2.1.1 Assunção do serviço Durante a assunção do serviço o responsável pela equipe de socorro deve, entre outros, realizar: a conferência de pessoal e de materiais, a inspeção visual detalhada e testes nas ferramentas, nos equipamentos e nos assessórios, bem como emanar orientações e distribuir as funções dos integrantes das guarnições. 3.2.1.1.1 Conferência de pessoal Durante a assunção do serviço deve-se verificar se o quantitativo de pessoal é suficiente para o desenvolvimento das operações atinentes às atividades de socorro, principalmente no que se refere à segurança das guarnições. Se não houver recursos humanos aceitável, há que se realizar solicitação de 63 CURSO DE RESGATE VEICULAR - 3ª EDIÇÃO remanejamento de pessoal ou, em último caso, adaptar os procedimentos de socorro de acordo com poder operacional disponível. É necessário que o Comandante de Socorro faça também uma avaliação das condições físicas, psicológicas e técnicas da guarnição. Cada elemento da guarnição deve ter plenas condições de atuação, devendo ter comprometimento com as tarefas de resgate. Neste aspecto, seguem exemplos de perguntas que o Comandante de Socorro pode fazer aos Bombeiros de serviço: Alguém machucado ou indisposto (cansado)? Algum problema de caráter individual (psicológico, emocional etc) que possa interferir nas ações de socorro? e Alguma dúvida ou dificuldade de ordem técnica (segurança, operação de materiais, isolamento, sinalização, desencarceramento, extração, gerenciamento de risco etc.)? As respostas às perguntas vão possibilitar ao Comandante de Socorro analisar, entre outras, as condições físicas, educacional, psicológicas e técnicas dos elementos da(s) guarnição(ões), tomando providências individuais e/ou coletivas para dirimir possíveis deficiências. É essencial trabalhar preventivamente, de forma a eliminar tais complicações ainda durante a fase de rotina operacional pré-socorro, não as conduzindo para o evento, pois a dificuldade de um profissional pode se tornar a causa de um novo acidente ou, até mesmo, influir na não obtenção de êxito no atendimento emergencial. 3.2.1.1.2 Conferência de materiais Preliminarmente, recorda-se que eventuais alterações de materiais devem ser repassadas pelo Chefe que sai de serviço de uma viatura para aquele que irá assumir a mesma função. Com isto, evitar-se-á, entre outros, a perda de tempo na busca por material que tenha sido danificado e recolhido ao depósito do Grupamento. 64 CURSO DE RESGATE VEICULAR - 3ª EDIÇÃO Há que se verificar a existência de materiais conforme as listas de conferência de cada viatura. Todavia, independente do item contido na lista, é importante analisar se a sua quantidade atende as necessidades técnicas exigidas nas diversas situações de socorro. Durante tal conferência deve-se aproveitar para fazer uma inspeção visual nos materiais, bem como o teste e manutenção dos mesmos, para que estejam em condições de uso durante eventual necessidade. Conhecer as aplicações de cada material é obrigação de cada integrante da guarnição. Ou seja, deve-se ter pleno conhecimento de onde e como cada ferramenta, equipamento ou assessório pode ser utilizado. Para uma abordagem rápida e integrada no momento do atendimento a um incidente é indispensável que posicionamento dos recursos materiais em uma viatura seja de conhecimento de todos e de fácil visualização. A segurança dos recursos materiais também constitui item fundamental, principalmente durante o deslocamento das viaturas. Eles devem estar acondicionados de forma a não sofrerem danos. Por fim, recorda-se que, o asseio dos materiais é de responsabilidade dos integrantes da guarnição. A respeito da conferência de materiais Lisboa Neto (2013, p. 6) sugere, entre outros, que: Cada material operacional seja disposto de forma fixa nas viaturas, isto facilita a sua localização, utilização e evita acidentes de serviço; Seja confeccionada uma relação de matérias carga de cada viatura, devendo esta ser organizada por gaveta; As alterações devem ser passadas, antes da conferência, ao Chefe de Guarnição que entra de serviço; 65 CURSO DE RESGATE VEICULAR - 3ª EDIÇÃO Cada conferência deve ser acompanhada pelos Chefes de Guarnições; O Dia à Prontidão ou Oficial de Dia deve ser cientificado das alterações encontradas; As viaturas, quando do atendimento a emergências, não devem ser abandonadas, evitando-se, com isto, furto de materiais; Ao término de cada atendimento o material de cada viatura deve ser conferido; A guarnição que sai de serviço tem que deixar os equipamentos, ferramentas, assessórios e compartimentos de acondicionamento limpos e organizados; Há que se realizar uma inspeção visual detalhada em todos os materiais. Nesta, verifica-se, entre outros, a condição física externa do recurso operacional (avarias, vazamentos, falta de peças etc), o nível de óleo, o de combustível e o de fluído hidráulico. Ao ser identificada a necessidade de manutenção o bem deve ser encaminhado ao setor que possui conhecimento técnico para tanto; e Apósa realização da inspeção detalhada há que se certificar, com os respectivos EPI’s, se todos os materiais estão funcionando. Destaca-se que o funcionamento dos equipamentos durante os testes corrobora no aperfeiçoamento de manuseio e dá segurança ao Bombeiro. 3.2.1.1.3 Orientações organizacionais Para organizar o socorro e otimizar o emprego dos recursos humanos, há que se definir previamente as funções de cada elemento das guarnições. Lisboa Neto (2013, p. 9) enfatiza que as “orientações a nível operacional, no início do serviço, são de fundamental importância” e opina que o Comandante de Socorro execute, entre outros, os seguintes: Solicite informações sobre as condições dos materiais e viaturas, inclusive quanto ao seu funcionamento e manutenção; Defina os chefes das guarnições e os oriente quanto aos procedimentos de intervenção; 66 CURSO DE RESGATE VEICULAR - 3ª EDIÇÃO Determine o cumprimento da rotina operacional de acordo com o planejamento existente; Separe as guarnições por viatura; Oriente a equipe quanto à necessidade de utilização de EPI, inclusive EPR; Oriente quanto à atuação de cada guarnição dentro de suas funções: salvamento, combate a incêndio ou atendimento pré-hospitalar; Ressalte a competência de cada chefe para coordenar e orientar as suas respectivas guarnições durante a execução das tarefas; Frise que somente a ele caberá, como Comandante do Incidente, realizar o planejamento de cada atendimento; e Enfatize quanto a importância do reconhecimento e do planejamento das ações, antes da execução de procedimentos operacionais. Quanto à divisão das funções dentro de cada guarnição esta pode ficar à cargo do seu respectivo chefe ou do Comandante de Socorro. O importante é que exista uma divisão prévia de cada função para que, com isto, no atendimento emergencial cada integrante sabia quais as suas responsabilidades. Ademais, orientações ao Telegrafista de plantão e aos Condutores das viaturas operacionais também devem ser lembradas pelo Comandante de Socorro. 3.2.1.2 Treinamento Segundo o CBMDF (2009, Mód. IV, p. 22) a “eficiência na cena [...] está diretamente ligada à eficiência nos treinamentos. Por melhor que tenham sido formadas, as guarnições necessitam de treinamento constante, com a correção dos procedimentos que tenham sido executados erroneamente ou modificados tecnicamente ao longo do tempo”. Com o treinamento da equipe o Comandante do Socorro terá condições de fazer um exame dos integrantes das guarnições no que tange à utilização das ferramentas e equipamentos e ainda do emprego das técnicas de acordo com 67 CURSO DE RESGATE VEICULAR - 3ª EDIÇÃO cada situação. Também serão certificadas as condições referentes às avaliações feitas durante a conferência de pessoal. É importante destacar que só com planejamento e treinamento será possível otimizar as operações. Cada integrante da equipe de serviço deverá ser bem treinado para que possa desenvolver suas ações de maneira integrada, com segurança e eficiência e no menor tempo possível. 3.2.1.2.1 Simulacros, simulados e estudos de caso Trata-se de realizar testes de prontidão com situações hipotéticas para que a ala de serviço as resolva. No simulacro a equipe de serviço terá ciência, de forma prévia, do exercício a ser proposto. Também se pode empregar o recurso dos simulados, trata-se da montagem de cenários nos quais a equipe somente tomará conhecimento do evento hipotético ao se deparar com ele. Outra alternativa é a realização de estudos de caso, pois aprender com experiências práticas ocorridas ajuda na identificação de pontos positivos e negativos. Por meio das análises e debates realizados sobre a ações executadas nos exercícios criar-se-á um ambiente que possibilitará o aperfeiçoamento profissional. No que concerne aos simulacros Lisboa Neto (2013, p. 12) sugere que sejam criadas diversas situações, inclusive externas ao quartel, que possibilitem: o manuseio de vários equipamentos e viaturas, o desenvolvimento do espírito de liderança dos chefes de guarnições e do espírito de corpo, a correção de falhas, a apresentação de técnicas atualizadas, a manutenção das habilidades, a adaptação e condicionamento ao uso de EPI’s. 3.2.1.2.2 Instruções Quanto às instruções Lisboa Neto (2013, p. 12) orienta que: 68 CURSO DE RESGATE VEICULAR - 3ª EDIÇÃO As instruções devem ser ministradas por pessoas capacitadas; Devem ser planejadas e ter duração máxima de 2 horas; As técnicas e os procedimentos a serem vistos deverão ser baseados em manuais aprovados e adotados pelo CBMDF; Devem ser realizadas com a observância da utilização dos EPI’s e das normas gerais de segurança da Corporação e das específicas para cada local e tipo de instrução; Deve-se evitar trotes e brincadeiras; Há que se observar as condições climáticas, o esforço despendido pela tropa e o equipamento para cada atividade; É importante convidar profissionais externos ao quartel para ministrar palestras ou instruções; e As instruções devem trabalhar o profissional, de forma individual, bem como as guarnições para desenvolver habilidades, espírito de liderança e de corpo. 69 CURSO DE RESGATE VEICULAR - 3ª EDIÇÃO 4 FASES DO SOCORRO O presente capítulo possui o escopo de elencar aos instruendos de resgate veicular sobre as fases operacionais de um atendimento a uma ocorrência de acidente automobilístico. O plano de emprego operacional do CBMDF (2011, p. 25) esclarece quais são as fases de um socorro e remete ao manual básico de combate a incêndio do CBMDF (2009, Mód. IV, p. 25) para o esclarecimento de cada uma destas fases. Sobre o tema há que se considerar também o que preconiza o manual de SCI do CBMDF (2011, p. 136) e a Ordem de Serviço nº 9/2012 - COMOP, que estabelece o procedimento operacional padrão dos Comandantes de Socorro ou Chefes de Guarnição para operações de emergência de Bombeiros, o qual se encontra no Anexo A. Em assim sendo, as etapas de um socorro são: A divisão de uma ocorrência de acidente automobilístico em fases, cada uma com características próprias, visa evidenciar a seqüência dos principais procedimentos realizados durante todo o atendimento a este tipo de incidente. Esta separação didática ajuda sobretudo na tomada das decisões que devem ser feitas pelos Comandantes de Incidente. Ressalta-se que o início de uma etapa não requer, necessariamente, a conclusão da fase antecedente. Portanto, há momentos em que as ações de uma etapa são executadas simultaneamente com as atividades de outra fase. Como, exemplo, cita-se o planejamento, o qual se inicia no acionamento da equipe de serviço, momento no qual o Comandante do Socorro recebe as Aviso e Acionamento Deslocamento Reconhecimento Planejamento Estabelecimento Operação (ações de SOS) Controle Inspeção final Desmobilização Chegada Partida Regresso 70 CURSO DE RESGATE VEICULAR - 3ª EDIÇÃO informações relativas à ocorrência. Logo, este não precisa concluir o reconhecimento da cena do evento para começar o planejamento. 4.1 AVISO E ACIONAMENTO DA PRONTIDÃO A solicitação de socorro é recebida via telefone ou diretamente na CIADE ou na unidade. O profissional que recebe o pedido de socorro deve tentar obter do solicitante a maior quantidade de informações possíveis, por exemplo: O local exato do incidente (endereço, melhores via de acesso e pontos de referência); O tipo de evento e as suas características; A existência de vítimas, a sua quantidade, a condição física e psicológica destas; As condições do tráfego no local; A presença de curiosos; A existênciade produtos perigosos; e Os contatos do solicitante. Cada uma destas informações colabora para que o trem de socorro chegue, com o menor tempo e segurança, no local do evento. Ademais, permitem também ao Comandante do Socorro tentar prever antecipadamente a cena do acidente e, com isto, iniciar o respectivo planejamento. 4.2 PARTIDA Diante das informações colhidas o Comandante do Socorro deverá deslocar-se com recursos compatíveis com o tipo de evento. Portanto, na partida serão escolhidas as viaturas que irão compor o trem de socorro. Via de regra, as viaturas a serem despachadas para um evento de acidente automobilístico de pequenas proporções são: Viatura de salvamento: para desencarceramento da vítima; 71 CURSO DE RESGATE VEICULAR - 3ª EDIÇÃO Viatura de emergência médica: para primeiros socorros e transporte da vítima; e Viatura de combate a incêndio: para auxílio no gerenciamento dos riscos. Ressalta-se que, os recursos devem ser aqueles necessários à solução do evento e, por isso, caso o Comandante do Socorro identifique, desde a partida, que o incidente supera a sua capacidade de resposta, deve solicitar o deslocamento de meios adicionais. Por derradeiro, recorda-se que desde o embarque os integrantes das guarnições deverão estar uti lizando os seus EPIs6. 4.3 DESLOCAMENTO Segundo o CBMDF (2009, Mód. IV, p. 27) é a fase que abrange a saída do socorro da unidade ou do local onde este se encontre até a chegada ao local do incidente. Este deslocamento das viaturas, se viável, deve ser feito em comboio. Nesta etapa é primordial a atuação de dois componentes da guarnição, o Condutor e o Comandante do Socorro. Ao Condutor cabe a dirigir a viatura de forma a levar a guarnição e os equipamentos que serão utilizados em total segurança até o local da ocorrência, atentando sempre para as leis de trânsito e cuidado com os pedestres e demais automóveis. Ao chegar no local da ocorrência deve atentar para o correto posicionamento da viatura em relação à via de trânsito e ao ponto central do incidente. Durante o deslocamento o Comandante do Socorro poderá receber ou solicitar informações complementares tanto à CIADE quanto à sua OBM para ajustar o seu plano de ação, o qual fora iniciado na fase de aviso. Cabe ao Comandante 6 O CBMDF (2012) estipula que “O(s) chefe(s) de guarnição(ões) determina(m) para que os bombeiros embarquem às viaturas devidamente trajados com o(s) EPI específico(s) para o tipo de ocorrência”. 72 CURSO DE RESGATE VEICULAR - 3ª EDIÇÃO do Socorro gerenciar o deslocamento da viatura ou do trem de socorro, verificando, inclusive, se está sendo realizado de forma segura. Caso ele conheça os endereços da sua área de atuação poderá decidir pela rota a ser seguida, devendo o Condutor obedecê-lo. Conhecer as vias da área de atuação do quartel no qual está lotado, os endereços da região e os atalhos, ajuda no alcance ao local do evento. Para definir o trajeto a ser percorrido, devem ser considerados: o melhor itinerário, a segurança do trem de socorro, o posicionamento das viaturas na chegada ao local (de forma a garantir a segurança da equipe e reduzir a necessidade de manobras posteriores com as viaturas), entre outros. Sugere-se que o serviço de comunicação dos quartéis possua em suas dependências um mapa da localidade para, com isto, poder auxiliar o Comandante do Socorro em caso de dúvidas. 4.4 CHEGADA A chegada da viatura ou trem de socorro ao local do evento deve ser realizada, de forma a evitar a exposição aos riscos presentes no local e que ainda não tenham sido avaliados. Ao chegar no local da ocorrência realiza-se o pré- estabelecimento, isto é, o estabelecimento provisório, das viaturas, da sinalização, da rota de fuga, das zonas operacionais, do isolamento, bem como o Comandante do Socorro deve informar à CIADE de sua chegada e assumir e pré-estabelecer o Posto de Comando. Este, assim que possível, deve comunicar à CIADE sobre qual é a viatura onde foi estabelecido o Posto de Comando, o endereço correto do evento e suas características. Ao escolher o local para o Posto de Comando, o Comandante do Incidente deve levar em consideração: Segurança; Visibilidade; Facilidade de acesso e circulação; 73 CURSO DE RESGATE VEICULAR - 3ª EDIÇÃO Disponibilidade de comunicação; Afastamento da cena e do ruído; e Caso necessário, capacidade de expansão física. Em relação às comunicações, o Comandante do Incidente, se achar necessário, pode solicitar à CIADE o uso exclusivo e prioritário do canal utilizado. Há também a alternativa, em ocorrências de médias e grandes complexidades, do uso obrigatório das canaletas 14 ou 167. Ademais, existem vários fatores que influenciam na abordagem ao evento e dentre eles podem ser citados: a) Tráfego de veículos Quando ocorrem acidentes de trânsito há a possibilidade de ocorrer a diminuição da velocidade dos veículos que se locomovem pela respectiva via, isto se deve ao fato de que os automóveis envolvidos em um acidente obstruírem, total ou parcialmente, a via. Tal situação, geralmente, é agravada por pessoas que, movidas pela curiosidade ou ímpeto de ajudar, diminuem a velocidade do veículo que conduzem para observar o que houve ou param seus carros na via. Com isto, a formação de engarrafamentos se torna inevitável e o acostamento da direita e, às vezes, os canteiros transitáveis, que seriam um meio de acesso para o trem de socorro, acabam sendo ocupados. Como alternativa para solucionar o transtorno acima apontado, na hipótese da realização do deslocamento de mais de uma viatura para o local, sugere-se que um ou dois membros da guarnição que primeiro que chegar ao evento parem o trânsito das faixas de rolamento, uma por vez, deixando fluir somente aquela na qual se encontrem as demais viaturas. 7 CBMDF. Comando Operacional. Determinação para utilização das canaletas 14 ou 16 quando de socorro em ocorrências de médias e grandes complexidades. Boletim Geral nº 239. Brasília, 26 dez. 2012. Nesta hipótese apenas o PC fará contato com a CIADE. 74 CURSO DE RESGATE VEICULAR - 3ª EDIÇÃO Caso haja dificuldades para acessar o local do evento, há também a alternativa de solicitar apoio do helicóptero ou do motorresgate. Nesta hipótese, os tripulantes da aeronave ou os motociclistas de resgate poderiam adotar o procedimento acima citado ou transportar integrantes da guarnição e alguns dos recursos materiais. Por fim, a pista deve ser sinalizada, afim de orientar o fluxo do trânsito. Neste primeiro momento, o da chegada, esta sinalização é provisória e pode ser mudada de posição após a realização do reconhecimento da cena. b) Grande concentração de público O público presente no local do acidente automobilístico, geralmente curiosos, trás transtornos à chegada do socorro, entre os perigos podem ser citados: Dificuldade de visualização do acidente; Complicação para o posicionamento das viaturas; Risco de atropelamento de transeuntes; e Dificuldade na identificação de eventuais vítimas. Para gerenciar tal obstáculo, as viaturas devem se aproximar com os sinais luminosos e os sonoros ligados, bem como o Comandante do Incidente deve estipular os perímetros provisórios de segurança e evacuar imediatamente as pessoas do local. c) Barreiras físicas No deslocamento para o evento, a equipe pode se deparar com obstáculos tais como deslizamentos de encostas, quedas de árvores, cargas espalhadas na pista, postes de energia elétrica e torres caídas, pontes e passarelas colapsadas e outras adversidades que dificultem o alcance ao local do atendimento, bem como compliquem o estabelecimentoinicial das viaturas. 75 CURSO DE RESGATE VEICULAR - 3ª EDIÇÃO No caso de existência de barreiras físicas há a opção de realizar a sua retirada. Contudo, o Comandante do Incidente deve examinar com cuidado a situação pois o obstáculo encontrado pode estar instável. 4.5 RECONHECIMENTO Como visto, antes de iniciar o reconhecimento é preciso pré-organizar a cena do acidente, sendo pontos importantes: o pré-estabelecimento das viaturas, da sinalização e do isolamento e da rota de fuga e do Posto de Comando. Entre outros benefícios, estas ações propiciam segurança para a equipe, vítima e transeuntes. Somente após realizados estes procedimentos é que o Comandante do Incidente deve realizar uma avaliação da situação. Conforme o CBMDF (2009, Mód. IV, p. 29 e 31) o reconhecimento é a “fase na qual se faz a coleta de informações úteis e necessárias ao planejamento da resposta” e seus objetivos são o de “instruir o planejamento e verificar a necessidade de reforço”. Ações executadas sem informações adequadas podem expor integrantes da equipe a riscos desnecessários, bem como retardar a solução do evento. O reconhecimento é primordial para um bom planejamento. Ressalta-se que, em ocorrências de acidente automobilístico, no reconhecimento da cena deverá ser uti lizado um método integrativo, no qual todos os membros da guarnição participam da avaliação e se reportam ao Comandante do Incidente. Desta forma obter-se-á um melhor tempo resposta. Para tanto, a equipe deve estar devidamente treinada. No que se refere ao reconhecimento de forma integrada, destacam-se: a) Avaliação do perímetro interno A avaliação do perímetro interno deve ser realizada por pelo menos um elemento. O perímetro interno refere-se ao interior, abaixo e em volta dos veículos acidentados (raio mínimo de 10 metros a partir do incidente). O 76 CURSO DE RESGATE VEICULAR - 3ª EDIÇÃO resgatista aproxima-se com cuidado do(s) veículo(s) e verifica a existência de produtos perigosos, vazamento de combustível, instabilidade do(s) veículo(s), princípio de incêndio, rede elétrica, número e estado aparente das vítimas, entre outros e, após, se reporta ao Comandante do Incidente. b) Avaliação do perímetro externo A avaliação do perímetro externo deve ser realizada por pelo menos um integrante da equipe. O perímetro externo refere-se à área em volta do acidente, raio superior a 10 metros do acidente. O raio de avaliação dependerá das proporções do acidente. Verifica-se a presença de produtos perigosos, vazamentos de combustível, princípios de incêndios, rede elétrica danificada, vítimas adicionais, colhe-se informações com testemunhas ou pessoas envolvidas no acidente, entre outros, devendo-se levar a situação ao conhecimento do Comandante do Incidente. A tabela abaixo apresenta aspectos importantes a serem considerados na avaliação de uma ocorrência de acidente automobilístico: Itens a serem verificados durante o reconhecimento Item Objetivo Características do incidente Para um correto dimensionamento do trem de socorro e das técnicas de resgate veicular a serem empregas, verificar o que ocorreu, a proporção do evento, o tipo de colisão, tipo de veículo(s) envolvido(s) e quantidade etc. Perigos Identificar os perigos que resultam em riscos para o atendimento à ocorrência, como também adotar os devidos procedimentos de segurança. Entre os perigos estão: energia elétrica, curiosos, sistemas de segurança passiva, produtos perigosos (área atingida, direção do vento etc), incêndio, trânsito (tráfego, velocidade, tipo de pista etc), vidros e ferragens expostas, instabilidade do(s) veículo(s) etc. Evolução do incidente Para estabelecer os meios necessários para neutralizar a evolução do incidente. Vítimas Identificar o número, localização e estado das vítimas para designar as respectivas equipes, como também, se necessário, solicitar recurso adicional. Qual o grau de encarceramento da(s) vítima(s) e quais as melhoras vias de acesso e extração. Recursos operacionais Verificar a necessidade e a disponibilidade dos recursos existentes (pessoal, equipamentos, ferramentas etc) e, se necessário, pedir reforço. Quais são as capacidades presentes e futuras, em termos de recursos e organização? Características do local Escolher as melhores vias de acesso e saída para as viaturas, pontos para o estabelecimento, como também a rota de fuga. 77 CURSO DE RESGATE VEICULAR - 3ª EDIÇÃO Quando possível o Comandante do Incidente deve dar parte do reconhecimento à CIADE. 4.6 PLANEJAMENTO Destaca-se que o planejamento deve levar em consideração eventual existência de um procedimento operacional padrão (POP). Sobre isto, comunica-se que, o CBMDF publicou, no Boletim Geral de nº 237, de 17 de dezembro de 2015, diversos POP’s, entre estes encontram-se aqueles que podem ser empregados em situações envolvendo acidentes automobilísticos, como o POP de resgate veicular em veículos leves, o POP de combate a incêndio em veículos e o POP de emergências envolvendo produtos perigosos. Estes POP’s se encontram anexados nessa obra (Anexos B, C e D). De acordo com o CBMDF (2011, p. 27) para as primeiras 4 (quatro) horas de um incidente não se faz necessário um plano de ação no incidente por escrito. Logo, para o atendimento a uma ocorrência de pequeno vulto, como a maioria dos acidentes automobilísticos, a princípio, o planejamento pode ser somente mental. O CBMDF (2011, p. 77) também consigna que no “caso de incidentes cotidianos, de pequena magnitude e fácil solução [...], o processo de planejamento não requer uma reunião formal nem que o plano seja escrito. Nesses casos, o Comandante do Incidente (CI) desenvolve um plano de ação e o comunica verbalmente a seus subordinados em uma breve sessão de orientação”. Para o CBMDF (2009, Mód. IV, p. 32) a etapa de planejamento é o momento no qual o Comandante do Incidente “define quais as ações serão desenvolvidas para a solução do evento”. Trata-se da fase onde são estipulados os objetivos específicos e as estratégias para a melhor resolução da ocorrência. 78 CURSO DE RESGATE VEICULAR - 3ª EDIÇÃO Em relação aos objetivos a serem traçados, o CBMDF (2011, p. 27) deixa claro que eles devem ser: base para todas as atividades, atingíveis, precisos, mensuráveis e flexíveis. Os objetivos específicos da respectiva ocorrência serão determinados segundo os objetivos gerais. 4.6.1 Objetivos gerais no resgate veicular Os objetivos gerais no resgate veicular são aqueles pré-estipulados e comuns às ocorrências de acidentes automobilísticos. Entretanto, diante da peculiaridade de um incidente, pode haver a ausência de um ou mais destes. A ordem cronológica dos objetivos no resgate veicular pode ser esquematizada do seguinte modo: Por oportuno, informa-se que o atendimento pré-hospitalar e a extração não serão objeto de comento no presente trabalho. Ademais, para facilitar a compreensão relativa à implantação do SCI e à sua aplicação em uma ocorrência, comunica-se que seguem, no Anexo F, os 8 (oito) passos para a instituição do SCI em qualquer tipo de sinistro e também um estudo de caso envolvendo acidente automobilístico. GERENCIAMENTO DOS RISCOS ESTABILIZAÇÃO VEICULAR TRANSPORTE LOCALIZAÇÃO DA(S) VÍTIMA(S) EXTRAÇÃO DESENCARCERAMENTO ATENDIMENTO PRÉ-HOSPITALAR CRIAÇÃO DE ACESSOS 79 CURSO DE RESGATE VEICULAR - 3ª EDIÇÃO 4.6.2 Planejamento estratégico, tático e operacional em resgate veicular A estratégia é, segundo o CBMDF (2011, p. 100), “a descrição do método de como se realizará o trabalho para atingir os objetivos”. Ou seja, a estratégia, para o CBMDF (2011, p. 28), nada mais é do que idealizar como chegar ao resultadoesperado, tendo que ser previstas estratégias alternativas ante as limitações de meios. As estratégias são estipuladas em consonância com os objetivos específicos e os recursos disponíveis, logo podem sofrer ajustes se estes não estiverem presentes. Assim, o Comandante do Incidente tem que formular a melhor forma para atingir os objetivos idealizados, contudo deve desenvolver outras alternativas, haja vista que o deslinde de um resgate veicular é dinâmico. Os recursos necessários e não disponíveis, de acordo com o CBMDF (2009, Mód. IV, p. 33), devem ser então definidos e solicitados para que seja possível planejar novas ações, a serem adotadas com a chegada destes8. O Comandante do Incidente deve se antecipar às necessidades do socorro e na prevenção ou solução de problemas. Insta destacar que, no que se refere ao acionamento de recursos externos ao CBMDF, o Boletim Geral n° 99, de 25 de maio de 2012, tornou pública a instituição, no âmbito da Corporação, da Central de Gerenciamento de Desastres (CGD). Esta possui a finalidade de dar suporte ao Comando Operacional, quanto ao monitoramento das ocorrências operacionais, sendo que, dentre as suas Seções, está a de Relações Públicas, a qual é responsável pelo contato com órgãos externos e mobilização de recursos externos. Logo, se o Comandante do Incidente identificar que necessitará de recurso adicional externo ao CBMDF, como tratores, guincho, empilhadeira para elevação ou organização de cargas etc, poderá fazer uso da CGD para tentar consegui-lo. 8 Um dos recursos que o Comandante do Incidente pode solicitar está relacionado ao transporte aéreo. Neste aspecto, segue no Anexo E, que traz informações sobre os requisitos de acionamento aeronaves do Grupamento de Aviação Operacional do CBMDF. 80 CURSO DE RESGATE VEICULAR - 3ª EDIÇÃO Das características expostas, conclui-se que, no planejamento estratégico o Comandante do Incidente fixa o rumo a ser seguido para a solução do problema. O planejamento estratégico é sintético, genérico e amplo, abrangendo todos os recursos envolvidos no socorro, de forma a possibilitar a escolha de um conjunto de ações integradas para viabilizar o alcance dos objetivos específicos. De Oliveira (2005, p. 86) assenta que estratégia é “um plano básico para resolver a situação da forma mais objetiva possível [...] as decisões estratégicas devem basear-se no dimensionamento (avaliação) da ocorrência, na necessidade do gerenciamento de riscos e na disponibilidade de recursos para o controle da situação”. Portanto, na definição do planejamento estratégico o Comandante do Incidente deve estudar as alternativas presentes no evento, inclusive os recursos disponíveis, e escolher os caminhos que possibilitem a solução do incidente mediante a execução de tarefas integradas e unificadas. Por fim, o Comandante do Incidente, após estabelecer os objetivos específicos para a solução do evento, verificar os recursos disponíveis, estabelecer as estratégias e ter solicitado eventual reforço, deve estabelecer as prioridades alcançáveis. Isto é, há que se colocar em forma seqüencial, conforme o grau de importância, os objetivos específicos possíveis de serem feitos. Além deste plano macro, há também que se efetivar o planejamento tático, isto é, o Comandante do Incidente e/ou Chefes de cada viatura (salvamento, combate a incêndio e atendimento pré-hospitalar) e/ou, conforme a dimensão da estrutura de resposta implantada, os staffs de comando (segurança, informações públicas e ligação) e/ou chefes de seções (operações, logística, planejamento, administração e finanças) devem, de acordo com o planejamento estratégico estipulado, identificar os sub-objetivos e elaborar os planos de ações para utilizar as equipes especializadas. 81 CURSO DE RESGATE VEICULAR - 3ª EDIÇÃO Ao lecionar sobre planejamento tático, De Oliveira (2005, p. 86) ensina que as “táticas são na verdade os métodos selecionados [...] para implementar” o plano estratégico “[...] se traduzem na determinação de tarefas técnicas a cada uma das guarnições”. Trata-se do planejamento relativo ao emprego integrado dos recursos em ações específicas (busca, salvamento, preservação do local etc). Nesta etapa se define quem irá fazer o quê, onde e quando. Por oportuno, comunica-se que a forma de como realizar cada tarefa técnica, ou seja, o detalhamento minucioso das atividades especializadas, é escolhida em um terceiro momento, no planejamento operacional. Para facilitar a diferenciação de planejamento estratégico e de planejamento tático De Oliveira (2005, p. 67) elucida que o primeiro é “a mobilização dos recursos de uma determina organização visando o alcance de objetivos maiores” e o segundo é “um esquema específico de emprego de recursos dentro de uma estratégia geral [...]”. O autor em comento (2005, p. 67 e 68) conclui seu raciocínio dissertando que: A diferença entre estratégica e tática reside basicamente nos seguintes aspectos: a estratégia é composta de várias táticas, simultâneas e integradas entre si. Estratégia se refere à operação como um todo, pois procura alcançar uma terminada finalidade (expressão global dos objetivos da operação), enquanto a tática refere-se a ações específicas, pois procura alcançar objetivos isolados [...] a estratégia é definida pelo Comandante da Operação, enquanto a tática é partilhada com os comandantes de guarnições ou chefes de setores. Insta esclarecer que, segundo o CBMDF (2011, p. 53), o Comandante do Incidente inicialmente desempenha todas as funções de planejamento do evento e, à medida que o incidente exija, poderá delegar autoridade a outros para o desempenho de determinadas tarefas. A referida Corporação (2011, p. 53) elucida que as aludidas funções de gestão e operação de resposta são: comando do incidente, planejamento, operações, logística, administração e finanças, segurança, informação pública e, por último, ligação. Há ainda um terceiro tipo de planejamento, o operacional. O planejamento operacional é o detalhamento específico, no nível da execução, de cada 82 CURSO DE RESGATE VEICULAR - 3ª EDIÇÃO respectiva ação necessária para atingir os objetivos fixados. Está relacionado à descrição lógica e seqüencial dos procedimentos que geram resultados imediatos em cada área técnica. Em que pese a precisão de se elaborar um plano operacional, ele visa apenas garantir a realização de ações com o mínimo de erro possível, pois segundo consta no manual de combate a incêndio do CBMDF (2009, Mód. IV, p. 42) as “ações realizadas no socorro são basicamente o emprego das técnicas existentes, padronizadas e treinadas. Não se pode esperar que um comandante de socorro defina especificamente como deve ser realizada a tarefa”. Portanto, aquele que recebe a incumbência de executar determinada atribuição tem que utilizar as técnicas e os equipamentos da melhor forma possível, não necessitando de maiores informações. Conseqüentemente, se um profissional está destacado para realizar a extração de uma porta de um veículo de passeio este terá que saber executar os procedimentos para tal retirada, bem como escolher o equipamento mais efetivo e saber operá-lo com maestria. Em momento anterior fora dito que o planejamento, a ser elaborado na fase de socorro, em um resgate veicular tem que considerar os meios presentes. Com isto, o Comandante do Incidente além de realizar o planejamento estratégico também pode acabar desenvolvendo o planejamento tático e ainda o operacional, sobretudo nas ocorrências de menor complexidade e de poucos recursos humanos, como no caso de eventos em que apenas uma viatura com seis integrantes é deslocada para a ocorrência. Nesta hipótese, o Comandante do Incidente também será o Chefe daGuarnição, tendo que distribuir entre os outros cinco elementos as tarefas de segurança, salvamento, atendimento pré- hospitalar e combate a incêndio. Neste compasso, naturalmente os executantes também poderão contribuir na criação dos planos tático e operacional. 83 CURSO DE RESGATE VEICULAR - 3ª EDIÇÃO Esta dinâmica, presente no socorro prático, dificulta a compressão dos três tipos de planejamento existentes na fase do socorro, pois torna difícil a associação de exemplos. Assim, com o intento de auxiliar no entendimento das espécies de planejamento, apresenta-se um quadro demonstrativo para um incidente de baixa complexidade. Ao se aplicar o esquema acima em um resgate do tipo pesado, com o condutor encarcerado, envolvendo automóvel de porte levem que repousa sobre as quatro rodas e em via de 40 Km/h, citam-se os possíveis passos: O Comandante do Socorro inicia o planejamento estratégico assim que recebe as informações preliminares do operador de rádio; Ante aos dados repassados se situa do local da ocorrência, estipula o percurso a ser seguido, tem ciência do provável número de vítimas, idealiza os tipos e as quantidades de viaturas necessárias a uma adequada resposta etc; Na hipótese do exercício proposto, o Comandante do Socorro, seleciona um trem de socorro composto pelos seguintes tipos de viaturas: a) AR, contendo 3 elementos, o condutor, o Comandante do Socorro e o Operações; b) ASE, contendo 6 integrantes; e c) UR, com 3 membros; 84 CURSO DE RESGATE VEICULAR - 3ª EDIÇÃO Já no local do acidente e após, realizar a abordagem e a efetiva avaliação da cena e dos recursos presentes, estabelece os objetivos específicos e conclui o seu plano estratégico levando em conta as perguntas: Como resolver o problema? E se a alternativa “A” não funcionar? > No caso apresentado, os objetivos específicos para solucionar o incidente compreendem todos os objetivos gerais; > Como o acidente é em via pública o Comandante do Incidente analisa: Como garantir a segurança de todos os envolvidos? Como retirar a vítima do veículo e transportá-la? Como desencarcerar o condutor com os equipamentos que estão no local? Etc; > Após, se necessário, solicita reforço, por exemplo, o órgão de trânsito responsável pela via, a perícia etc, e estabelecer a seqüencia de execução dos trabalhos. O Comandante do Incidente, juntamente com o Segurança, estabelece, de forma definitiva, as táticas de segurança como: a) a criação de perímetros operacionais e seus limites; b) a forma de sinalização, decidindo optar pelo bloqueio da via a uma distância de 60 metros do limite da zona morna; c) a técnica de imobilização do veículo, escolhendo a de calçamento de 4 pontos; d) a escolha do Chefe de viatura que irá designar os responsáveis por realizar tais procedimentos; e etc; Com o staff de Operações define a tática das operações, existirá um planejamento tático para cada guarnição, sendo escolhido: a) as técnicas de desencarceramento, retirada das 2 portas do lado do condutor e o levantamento do volante; b) optam por extrair o condutor em uma angulação de 30º graus (lateral traseira do lado do condutor); c) como não há ABT no local, designam o Chefe do ASE para que providencie a montagem de uma linha de ataque ofensivo com espuma para combate a incêndio; e etc; Por sua vez o staff de Operações se reúne com os chefes das guarnições e repassa o planejamento tático estipulado e, com base nele, os chefes montam os respectivos planos operacionais; 85 CURSO DE RESGATE VEICULAR - 3ª EDIÇÃO > Assim, o Chefe do ASE designa o responsável da sua guarnição por isolar e bloquear a via, os meios e a forma como estes devem ser feitos, como com a instalação de uma fita zebrada no final da zona morna, a colocação de cones dispostos na vertical de forma a impedir a passagem de veículos na área do acidente; > O Chefe do ASE, seleciona dos membros da sua guarnição que irão executar o desencarceramento e, segundo o plano estratégico, monta o plano de operações. Com isto, determina: a) a colocação de calços escada sob as colunas “A” e “C” de ambos os lados; b) a abertura quebra dos vidros das duas portas laterais do lado do condutor; c) esclarece aos executantes a forma com a qual a retirada das portas do lado do condutor deve ocorrer e quais equipamentos utilizar; d) detalha o procedimento de levantamento do volante; e etc; > Seguindo o planejamento staff de Segurança, o Chefe do ASE designa o membro da equipe responsável por montar uma linha de mangueira conectada na saída de espuma da viatura, especificando o passo a passo de como realizar isto, determinando o uso de equipamento de respiração autônoma de pressão positiva e que, após a montagem do sistema, o integrante fique em posição de ataque ofensivo e como tal procedimento deverá ser feito; > Quanto ao Chefe da UR, o staff de Operações repassa o planejamento estratégico e o tático para que seja possível a elaboração do plano operacional do APH. Com isto, o Chefe da UR designa o seu auxiliar para que, devidamente equipamento com a roupa de proteção a incêndio, adentre o veículo por uma das janelas e apóie a cabeça da vítima, de forma a imobilizá-la. Com auxílio de elementos do ASE ajusta a medida do colar cervical e o coloca na vítima, como também orienta a colocação do KED (reclinamento do encosto dorsal do banco, inserção do KED, conexão dos tirantes do KED, o apoio nas alças do KED de forma a possibilitar o inclinamento total do banco e a inserção de uma prancha rígida pelo espaço porta traseira). Na seqüência, conduz o posicionamento da vítima sobre a prancha rígida e sua retirada do automóvel de forma a repousar a prancha sobre 86 CURSO DE RESGATE VEICULAR - 3ª EDIÇÃO uma maca e, após, o afrouxamento dos tirantes do KED. Segue-se ainda a colocação da maca com a vítima no interior de uma ambulância e o seu transporte ao hospital de referência. Após o transporte da vítima, há que se botar em prática a parte do planejamento relativo à desmobilização (aguardar o órgão de trânsito responsável pela via, repassar a situação para este e anotar todos os dados do incidente, acondicionar os materiais nas viaturas e regressar para o quartel etc). A hipótese acima e a descrição das etapas para a sua solução é meramente exemplificativa pois, ante aos recursos disponíveis e das conjecturas da cena, inúmeras variações irão ocorrer. O importante é ter conhecimento dos tipos de planejamento, saber suas características e entender que se forem bem feitos tornarão a resposta a um incidente mais eficaz e eficiente, sobretudo quando houver uma divisão prévia de funções e atribuições durante a assunção do serviço. Sobre o aspecto da prévia divisão de funções e tarefas tem-se que, como é cediço, quando um especialista é destacado para realizar determinado trabalho ele tente realizá-lo com perfeição, pois, a princípio, possui qualificações técnicas que permitem colaborar na obtenção de um resultado desejado. E mesmo que não haja especialistas na equipe, o simples fato de distribuir funções e tarefas por afinidade de áreas de atuação também corrobora com uma atuação eficaz, pois há a propensão de que o resultado esperado seja alcançado. Outra vantagem de pré-determinar funções e tarefas comuns nas ocorrências de resgate veicular à equipe que se comanda é o aspecto de possibilitar, a todos os integrantes, a prévia ciência dos procedimentos que deverão executar. Logo, via de regra, saberão o que fazer e quais meios materiais utilizar, mesmo antes de chegarem ao local do acidente, algo que reduz a possibilidades de erros e reveste de eficiência eventual atendimento. 87 CURSO DE RESGATE VEICULAR - 3ª EDIÇÃO Assevera-se isto porque a eficiência volta-se para a melhor maneira pela qualos procedimentos devem ser executados, para que os recursos sejam empregados de forma racional. Portanto, a eficiência foca o método, o processo de realização das ações de uma operação. Ser eficiente é ter a capacidade de fazer as coisas com presteza, com qualidade, com o mínimo de esforço, sem erros e com o máximo aproveitamento dos recursos disponíveis. Um resgate veicular feito com eficácia mas sem eficiência em um plano específico é um atendimento que carece de efetividade, haja visto que o resultado final é atingido por meio de procedimentos falhos ou inadequados. Insta ressaltar que há situações nas quais uma ação executada de forma errônea pode conduzir ao fracasso da operação. O oposto da eficiência é o desperdício. Neste, tarefas desnecessárias são feitas e mais recursos do que efetivamente seriam necessários são utilizados para atingir um objetivo ou tentar atingi-lo. Ser eficaz na atividade de resgate veicular é importante. No entanto, executar uma ação de forma escorreita aumenta a chance de se atingir o resultado pretendido. Um atendimento de acidente automobilístico feito com eficiência diminui o desgaste físico da equipe e, em casos extremos, implica em tempo de sobrevida para a vítima. Ante ao exposto, o planejamento em um resgate veicular pode ser esquematizado da seguinte forma: 88 CURSO DE RESGATE VEICULAR - 3ª EDIÇÃO 4.7 ESTABELECIMENTO O CBMDF (2009, Mód. IV p. 43) dispõe que esta é a etapa na qual “há a distribuição das tarefas e a montagem do sistema de resposta”. Ou seja, esta é a fase na qual o Comandante do Incidente, de posse de todos os dados reportados pela equipe, como também os oriundos de sua respectiva avaliação, de acordo com o planejamento estipulado, determina a disposição dos meios para o desenvolvimento da operação, bem como distribui as tarefas. Após a elaboração do plano de ação, o Comandante do Incidente efetua um rápido briefing operacional, no qual se reúne com os membros da sua guarnição, na hipótese de ser a única viatura presente, ou com os chefes das demais equipes e distribui as tarefas a serem executadas, como também comunica o correto posicionamento das viaturas e dos demais recursos. Em seguida, ocorre a montagem de toda a estrutura definida pelo Comandante do Incidente, tais como a sinalização e o isolamento definitivos, o palco de materiais, a armação de linhas preventivas, a área de concentração de vítimas, a ZPH, a área de espera etc. ESTABELECER OS OBJETIVOS ESPECÍFICOS VERIFICAR OS RECURSOS DISPONÍVEIS ESTABELECER AS ESTRATÉGIAS SE NECESSÁRIO, SOLICITAR O REFORÇO ESTABELECER AS PRIORIDADES ESTABELECER AS TÁTICAS E OS PROCEDIMENTOS DE EXECUÇÃO 89 CURSO DE RESGATE VEICULAR - 3ª EDIÇÃO No que tange às viaturas, estas devem estar dentro da zona morna, estacionadas de forma defensiva afim de proteger o local. Devem ser estabelecidas em local estável e com rota de fuga definida, paradas em diagonal, em um ângulo de 45º, fechando a faixa do acidente, bem como, se viável, a faixa ao lado, protegendo desta forma as vítimas e as guarnições que trabalham no acidente. As rodas devem estar voltadas para fora da área do acidente e os sinais luminosos deverão estar ligados para uma maior sinalização e proteção do local de ocorrência. Ademais, há que se atentar para que quaisquer viaturas não bloqueiem o acesso dos demais recursos. Uma viatura pode ter aplicações diversas no socorro, dentre elas podem ser citadas: auxílio na sinalização, auxílio no isolamento, auxílio na iluminação, ponto de ancoragem, Posto de Comando, fácil acesso a materiais adicionais, ponto elevado de observação e eventual acesso, proteção da guarnição etc. Todos os equipamentos, ferramentas e acessórios que o Comandante do Incidente julgar necessário para o desenvolvimento da operação devem ser colocados em um palco de materiais. Esta disposição antecipada facilitará a localização e, em conseqüência, o rápido emprego do material. Exemplo de estabelecimento de viatura. 90 CURSO DE RESGATE VEICULAR - 3ª EDIÇÃO 4.8 OPERAÇÃO Trata-se da fase na qual são realizadas as ações que visam a resolução da ocorrência, tais como as de salvamento, atendimento pré-hospitalar e combate a incêndio. Como visto, nas ocorrências de resgate veicular o primeiro objetivo é relativo à gestão dos riscos existentes na cena. Na seqüência parte-se para a estabilização do veículo e, posteriormente, para o emprego das técnicas necessárias à abertura das vias de acesso à(s) vítima(s), ao atendimento pré- hospitalar, ao desencarceramento, à extração da(s) mesma(s) e, por fim, ao transporte. Segundo o CBMDF (2009, Mód. IV, p. 46) o combate a incêndio pode ser conceituado como “a utilização dos equipamentos e técnicas necessárias à proteção, ao confinamento e à extinção do incêndio”, sendo que a proteção visa evitar que o fogo se alastre e o confinamento a restringir a ação do fogo apenas à área já queimada. E, no que concerne ao combate a incêndio em uma ocorrência de acidente automobilístico, ele pode ocorrer antes do emprego das técnicas de desencarceramento, como na situação na qual um veículo, após a colisão, pega fogo, como também durante e após a execução das manobras de acesso e desencarceramento, a exemplo da extinção de focos de incêndios. Já as ações de atendimento pré-hospitalar ocorrem antes mesmo do emprego das técnicas de desencarceramento. Elas se iniciam ainda na avaliação da cena, quando o responsável pelo atendimento pré-hospitalar aborda a vítima e inicia uma avaliação visual e verbal. 91 CURSO DE RESGATE VEICULAR - 3ª EDIÇÃO 4.9 CONTROLE OU AVALIAÇÃO DE PROGRESSO Nesta fase o Comandante do Incidente acompanha o desenvolvimento das ações estipuladas no plano de ação, realizando as modificações necessárias para aperfeiçoá-lo. É o controle que garante a implementação efetiva do plano de ação. Trata-se aqui da avaliação do progresso do plano de ação, bem como da atualização dos objetivos e estratégias. Este é o período de “resposta e avaliação”. O CBMDF (2009, Mód. IV, p. 47) lista as seguintes características desta fase: Verificar as condições de segurança; Observar o desenvolvimento das ações de socorro; Gerenciar os recursos; Se necessário, realizar a adaptação do plano de ação no incidente; e Verificar a necessidade de reforço. A avaliação é um processo contínuo, que ajusta as operações em andamento e ajuda o plano nas operações futuras. E, justamente para viabilizar o desempenho de um bom controle, o Comandante do Incidente tem que visualizar o todo, isto é, não pode manter sua atenção em apenas uma parte do evento. 4.10 INSPEÇÃO FINAL É o procedimento adotado logo após a extração e o transporte da(s) vítima(s). Conforme as características do incidente podem haver vítimas não localizadas no momento inicial, sobretudo em ocorrências que envolvam vários veículos ou automóveis de transporte de massa, bem como aqueles ocorridos com a ejeção dos seus ocupantes, inclusive em áreas que contenham água. 92 CURSO DE RESGATE VEICULAR - 3ª EDIÇÃO Assim, a inspeção final no resgate veicular tem como escopo, entre outros: Eliminar a possibilidade de existência de vítimas que não sejam atendidas; Adotar medidas de preservação dos vestígios para a perícia, sobretudo quando houver indícios de crime; Verificar as condições de segurança da cena; No caso de incêndio em veículo, a necessidade de rescaldo; e Localizar objetos de valor que devam ser preservados. O Comandante do Incidente deve repetir o procedimento de inspeção quantas vezes forem necessárias. 4.11 DESMOBILIZAÇÃO É a fase na qualo Comandante do Incidente identifica os recursos que não são mais necessários na cena, passando a determinar o retorno destes à respectiva unidade. O planejamento da desmobilização deve ser feito de forma a evitar que recursos permaneçam no local do incidente sem necessidade, impedindo a sua preparação para outras ocorrências, como também deixando regiões sem equipes para pronto emprego. Há que se evitar, por outro lado, a liberação prematura de recursos, isto é, a dispensa de equipes e materiais que estão sendo ou que podem vir a ser utilizados em situações importantes como o isolamento e a sinalização. Antes da retirada total do socorro do local o Comandante do Incidente deve observar, entre outros, os seguintes aspectos: Verificação dos equipamentos, ferramentas e pessoal; Acomodação dos materiais nas viaturas; Finalização da coleta de dados para o relatório da ocorrência; Se for o caso, solicitação da perícia; 93 CURSO DE RESGATE VEICULAR - 3ª EDIÇÃO Assunção da responsabilidade pelo local por parte de outros órgãos, anotando o nome, matrícula, prefixo de viatura e outros que se fizerem úteis e repassá-los à CIADE; Necessidade da realização do abastecimento das viaturas; e Informação da conclusão dos trabalhos no local da ocorrência à CIADE e da respectiva retirada do socorro do local do evento . Por derradeiro, salienta-se que, no que tange ao serviço de perícia de incêndio do CBMDF, consta no Boletim Geral nº 201, de 23 de outubro de 2015, determinação do Comandante Geral no sentido de que esta seja acionada, pelo Centro de Gerenciamento de Desastre ou pelos militares que trabalham na Central Integrada de Atendimento e Despacho, para todos os casos de incêndio, mesmo nas hipóteses em que o proprietário do bem não permita a realização da perícia. 4.12 REGRESSO É a etapa de retorno à base. Fase que compreende a saída do socorro do local da ocorrência até a sua chegada na unidade. 4.13 PÓS-EVENTO No que tange ao pós-evento, o CBMDF (2009, Mód. IV, p. 54) disciplina que: Após a chegada na unidade o comandante do socorro inicia as ações necessárias para tornar o socorro novamente em condições de atendimento. São procedimentos nesta fase: realizar uma reunião com as guarnições sobre as ações realizadas no socorro (debriefing) - esta reunião é importante para verificar erros e acertos na operação, falta de materiais, deficiências de técnicas e possíveis melhorias nas operações futuras. Pode ser ainda no local do acidente, durante o recolhimento de material, ou após chegar à unidade; realizar a limpeza e manutenção ou substituir os materiais do socorro [...]; confeccionar o relatório [...]. É fundamental que o comandante do socorro realize uma avaliação das condições físicas e psicológicas do pessoal de serviço após atividades estressantes ou muito cansativas [...]. 94 CURSO DE RESGATE VEICULAR - 3ª EDIÇÃO Como exposto acima, após cada atuação de socorro deve ser realizado um debriefing. O objetivo é expor as adversidades ocorridas durante o atendimento para possibilitar o aperfeiçoamento do serviço nas próximas ocorrências. Ou seja, toda equipe deverá se valer de dificuldades e falhas já ocorridas e adotar medidas que impeçam a repetição destas nos próximos atendimentos. Neste sentido, são exemplos que situações que podem ser discutidas durantes um debriefing: informações incorretas por parte da CIADE, a perda de tempo no deslocamento ou na organização da cena, o emprego de um maior ou menor número de recursos, adequada realização da estratégia e da tática, a dificuldade de comunicação, a dificuldade em integrar a atuação dos integrantes da equipe de socorro, eventual quebra do comando unificado, dificuldade no uso de algum equipamento etc. Ademais, após cada atendimento, afim de que estejam em condições de uso no próximo incidente, se faz necessário realizar a manutenção nos materiais operacionais e nas viaturas, que devem passar por uma inspeção visual detalhada, limpeza, reabastecimento e, se necessário, por reparos . 95 CURSO DE RESGATE VEICULAR - 3ª EDIÇÃO 5 TERMINOLOGIAS O presente capítulo visa apresentar as principais terminologias utilizadas em resgate veicular. 5.1 CONCEITOS EMPREGADOS NO RESGATE VEICULAR Acidente automobilístico: colisão de um veículo que resulte em danos ao automóvel e/ou ao(s) ocupante(s). Bombeiros atuantes: atuam diretamente no desencarceramento e na extração da(s) vítima(s) e também aqueles que atuam no gerenciamento de riscos. Desencarceramento: é a movimentação e/ou retirada das ferragens que estão prendendo uma vítima. Visa possibilitar o acesso dos socorristas, bem como criar uma via de retirada da vítima. Estabilização veicular: manobra rápida de calçamento e/ou amarrações de estruturas instáveis, para evitar riscos adicionais para o resgate, socorristas e vítima(s). Visa manter o veículo imóvel durante a operação. Estabilização progressiva: consiste na manutenção da estabilização inicial da cena e do(s) veículo(s) acidentado(s). Extração: é a retirada da vítima desencarcerada do interior do veículo. Fases do socorro: envolve desde o aviso até o momento do regresso à base. Gerenciamento de riscos: fase em que são adotados procedimentos sobre os perigos ou vulnerabilidades ou ambos, procurando tornar o risco aceitável e a operação segura. Operação segura: é aquela na qual o risco é aceitável. Palco de materiais: área determinada para posicionamento de materiais e equipamentos que podem ou serão utilizados na operação. Perigo: qualquer fator que possa vir a provocar danos físicos ou materiais. É a fonte potencial de dano, ou seja, é algo que gera risco. Poder operacional: recursos humanos e materiais disponíveis. 96 CURSO DE RESGATE VEICULAR - 3ª EDIÇÃO Posto de Comando: local onde o Comandante do Incidente pode ser encontrado e de onde se pode controlar os recursos e coordenar as operações. Resgate leve: desencarceramento da vítima com a adoção de medidas simples, sem atuar na estrutura do veículo, como afastar um banco, descer ou quebrar um vidro etc. Resgate pesado: desencarceramento da vítima com a adoção de manobras sobre a estrutura do veículo, por exemplo, retirar sua porta, cortar uma coluna etc. Resgate veicular: seqüência de procedimentos utilizados para localizar, acessar, estabilizar, desencarcerar, extrair e transportar vítimas que estejam presas nas ferragens de um veículo acidentado. Risco: é o perigo adicionado da probabilidade, da vulnerabilidade e de outros fatores que podem contribuir para a ocorrência de danos físicos ou materiais. Risco aceitável: risco compatível com a atividade que se deseja desenvolver. Vulnerabilidade: fator que determina o grau de exposição de pessoas ou bens em relação aos perigos. 97 CURSO DE RESGATE VEICULAR - 3ª EDIÇÃO 6 GERENCIAMENTO DE RISCOS Esse capítulo tem como finalidade: 1 - Elencar os riscos mais comuns em um resgate veicular; e 2 - Apresentar procedimentos básicos para gerenciar os riscos mais comuns em uma operação de resgate veicular. Lembra-se que, nas operações de resgate veicular, a segurança é o primeiro objetivo a ser alcançado, por isso todos os riscos devem ser administrados para se evitar transtornos durante o atendimento a uma incidente. Assim, pode-se conceituar o gerenciamento de riscos como a fase na qual a guarnição de socorro realiza ações sobre perigos ou vulnerabilidades ou ambos, com o escopo de estabilizar a cena, tornando o risco aceitável e a operação segura. E, no que concerne aos acidentes automobilísticos, os principais perigos em uma ocorrência de são: Curiosos; Tráfego de veículos; Incêndio; Vazamento de combustível; Eletricidade; Sistema passivo de segurança do veículo; Produtos perigosos; Ferragens e vidros; Fontes alternativas de energia (GNV, baterias de alta voltagem etc); e Instabilidade do veículo. Não se dá início ao gerenciamento dos riscos no local do evento. Ele se faz presente também em outras fases como na da partida, no momento em que o Comandante do Socorro observa se todos estão com os EPI’s adequados para o tipo de ocorrência. 98 CURSO DE RESGATE VEICULAR - 3ª EDIÇÃO O processo de estabilização da cena compreende dois momentos distintos, quais sejam, a estabilização da área do incidente e a estabilização dos veículos acidentados. A estabilização da área do incidente consiste em criar condições para que a guarnição possa atuar nos veículos acidentados. Ela compreende, por exemplo, o isolamento, a sinalização, a gestão de árvores, muros, postes ou outras estruturas que por ventura estiverem sobre os veículos acidentados ou oferecendo risco de queda. Já a estabilização dos veículos envolvidos no infortúnio está relacionada com a atuação direta nos mesmos. Esta envolve medidas de controle de vazamentos de combustível, desativação dos sistemas elétrico e de segurança do automóvel, anulação de pontos cortantes, adoção de procedimentos para evitar movimentos bruscos do veículo durante as ações de resgate etc. Na fase de gerenciamento de riscos os seguintes aspectos devem ser observados: A segurança da equipe de socorro é a prioridade; Todos os perigos da cena devem ser identificados e comunicados ao Comandante do Incidente; Devem ser adotas medidas de controle sobre todos os riscos; Somente quando os perigos são identificados, comunicados e controlados é que se pode trabalhar na cena; O ambiente de um incidente é dinâmico e novos riscos podem surgir e afetar a segurança da cena; e Se um profissional de salvamento se lesionar, o foco mudará para e le. Há que se gerenciar os riscos de forma a tornar a cena segura, minimizando-se ou anulando-se a possibilidade de acidentes e de evolução do evento durante o resgate veicular. E entre as medidas de redução de riscos e prevenção de acidentes o CBMDF (2009, Mód. IV, p. 9) elenca: Uso correto do EPI adequado; Avaliação adequada dos riscos; Uso adequado das comunicações; 99 CURSO DE RESGATE VEICULAR - 3ª EDIÇÃO Técnicas de socorro adequadas; Treinamento adequado das equipes; Planejamento, com a implementação de POPs adequados; Preparo físico, psicológico e técnico adequado dos Bombeiros; Isolamento e sinalização adequados na área da ocorrência; Trabalhos em dupla; Controle das atividades; Emissão de alertas de segurança, quando necessário; e Designação do oficial de segurança, sempre que necessário. Pode-se listar ainda o efetivo controle de pessoal realizado pelo Comandante do Incidente como uma ação de segurança. Este deve saber quem está na área da ocorrência e em qual local e porque está neste respectivo local, sobretudo os que atuam na zona quente. Recorda-se que, uma vez que os riscos foram anulados, os mesmos poderão sair do controle novamente. Assim sendo, a atenção não deverá ser diminuída em relação a eles no decorrer do atendimento a ocorrência. Nas atividades de resgate veicular um membro da guarnição será designado para atuar como segurança, tendo este a autoridade para interferir na operação no caso de observar a existência de riscos. As suas atribuições serão vistas em capítulo próprio. Em que pese a existência das medidas de segurança adotadas pelo Comandante do Incidente e pelo responsável pela segurança no resgate veicular, conforme premissa do CBMDF (2009, Mód. IV, p. 10), a “segurança é responsabilidade de todos os bombeiros envolvidos no socorro. Todos os bombeiros devem ser treinados para identificar e informar imediatamente os riscos durante a operação”. 100 CURSO DE RESGATE VEICULAR - 3ª EDIÇÃO Por oportuno informa-se que, no que é atinente ao gerenciamento de riscos, não serão abordados nesse capítulo, mas em capítulos próprios e posteriores, os temas alusivos a acidentes envolvendo veículo movido a GNV, elétrico e elétrico híbrido, como também sobre a estabilização veicular. 6.1 GARANTINDO A SEGURANÇA INDIVIDUAL E COLETIVA A área de um acidente pode ser um perigoso lugar de trabalho. Lâminas cortantes, vidros quebrados e incêndios são apenas alguns dos perigos que os profissionais de resgate podem ter que lidar. Lembra-se de que o Bombeiro não será um bom resgatista se vier a se tornar uma vítima, a sua segurança deve sempre vir em primeiro lugar. É de fundamental importância que os profissionais que integram uma equipe de socorro se protejam adequadamente antes de se engajarem em qualquer ação de resgate. Ademais, os integrantes de uma guarnição devem trabalhar de forma integrada e com responsabilidade para garantir a segurança coletiva de todos. Uma das primeiras ações de gerenciamento de risco deve ser o uso dos equipamentos de proteção individual, sendo de responsabilidade do Comandante do Incidente a observação do seu uso por parte de todos os envolvidos no salvamento. São EPI’s obrigatórios em resgate veicular: Calçado: deve ter bico reforçado, solado de material isolante, que evite, inclusive, perfurações e penetração de líquidos. Neste aspecto, tem-se que a bota de combate a incêndio oferece a proteção ideal para atividade de resgate veicular; Capacete: o capacete deverá atender as normas internacionais garantindo proteção do crânio contra impactos e perfurações. Tem que possuir visor e óculos, de forma a viabilizar a proteção dos olhos e da face, bem como permitir o uso de máscara de equipamento de 101 CURSO DE RESGATE VEICULAR - 3ª EDIÇÃO respiração autônoma e do seu sistema de comunicação. O uso de capacete sem visor é permitido, desde que haja condições de atuar em segurança e em conjunto com o emprego de óculos de proteção; Luvas de procedimento: o uso de luvas de procedimento ou cirúrgica por baixo das luvas de salvamento garante que não haja contaminação com fluídos diversos (sangue, combustíveis, óleos e outras soluções); Luvas de salvamento: as luvas de salvamento, como as de raspa de couro, devem proteger as mãos contra calor, abrasão, perfuração e penetração de líquidos sem retirar a destreza do profissional que atua no socorro; Máscara para proteção respiratória: destina-se à proteção das vias aéreas quando existir o risco de dispersão de partículas (vidros, restos de combustão); Roupa de proteção: a roupa deverá ser de material não combustível, de preferência retardante ao fogo, resistente a cortes, a abrasão e a perfuração. A roupa de combate a incêndio oferece boa proteção para os riscos citados, até porque o incidente pode evoluir para um incêndio no veículo ou até mesmo uma explosão. Se a situação exigir dever-se-á fazer uso de equipamento de respiração autônomo, balaclava e/ou luva de combate a incêndio. De forma a complementar seus EPI’s, o Bombeiro poderá se valer de protetor lombar e joelheira articulada. EPI’s de combate a incêndio também são indicados para resgate veicular Máscaras para proteção respiratória 102 CURSO DE RESGATE VEICULAR - 3ª EDIÇÃO Ademais, o Bombeiro deverá portar, como equipamento de proteção coletiva, um apito. O uso de todos estes equipamentos de proteção individual exige treinamento. Este deve ter como objetivo principal a capacitação dos Bombeiros no sentido de se equiparem de modo correto e com o menor tempo poss ível, assim como gerar uma familiaridade quanto ao seu uso. 6.2 ORGANIZAÇÃO DA CENA DO ACIDENTE No gerenciamento dos riscos existentes em uma ocorrência de acidente automobilístico, destacam-seduas operações: o isolamento, para controle e restrição de espaço, e a sinalização, para controle e restrição do tráfego de veículos. 6.2.1 Sinalização A sinalização tem como objetivo informar o acontecimento de algum fator adverso, controlando e orientando o tráfego de veículos. A má sinalização é a causa mais comum das evoluções dos acidentes automobilísticos, tendo em vista que o tráfego de veículos ocorre em todos os eventos de resgate veicular, agravado ainda pelo constante aumento da frota de veículos e pela displicência, irresponsabilidade, inexperiência e má educação no trânsito. Sendo assim, o tráfego de veículos será sempre um perigo a gerenciar. Mesmo sendo de responsabilidade do policiamento ou do órgão de trânsito local, muitas vezes as equipes de socorro são as primeiras a abordar o incidente. Nesta situação, devem sinalizar de maneira correta, anulando ao máximo este perigo, de tal forma que se um veículo perder o controle atinja apenas o sistema de sinalização e nunca algum Bombeiro, curioso ou o sistema de isolamento da zona onde se encontra montado o poder operacional. 103 CURSO DE RESGATE VEICULAR - 3ª EDIÇÃO Em atendimentos a acidentes automobilísticos há que se levar em consideração peculiaridades da respectiva via pública para a execução da sinalização, tais como: pista reta, pista sinuosa, aclive e/ou declive, influência do clima, óleo na pista etc. É importante frisar que, quando houver influência das condições atmosféricas (chuva, nevoeiro, escuridão etc) a distância da sinalização deve ser aumentada até que ofereça segurança compatível com a operação. a) Pista reta O final da sinalização em uma pista reta deve coincidir com o final da zona morna após o acidente, ou seja, a sinalização deve ultrapassar o acidente. Já o início da sinalização deve estar no mínimo a uma distância igual à velocidade da via acrescida de 50% deste valor, isto contado do início da zona morna. Por exemplo, se a velocidade da via é igual a 80 Km/h, os primeiros cones serão colocados, via de regra, após o início da zona morna, a uma distância de 120 metros (80 + 40 = 120) e os últimos cones deverão ultrapassar o acidente em pelo menos 10 metros. Assim, a sinalização do exemplo terá no mínimo o cumprimento de 140 metros (destes um total de 20 metros é relativo ao espaço da circunferência que abrange as zonas quente e morna) e mais o tamanho do cumprimento dos veículos envolvidos no acidente. Em pista única a sinalização deve ser feita nos dois sentidos. Sinalização para pista reta 104 CURSO DE RESGATE VEICULAR - 3ª EDIÇÃO b) Pista sinuosa Na pista sinuosa é necessário que o motorista que trafega em direção ao acidente veja primeiro a sinalização antes do acidente, mesmo que a distância de colocação dos cones ultrapasse a recomendada para a pista reta. c) Aclive ou declive A sinalização deve ser feita de modo que se veja a sinalização antes do acidente. Deve-se alertar os condutores dos veículos para que estes, cientes da existência de um fator adverso, entrem no declive com o automóvel engrenado e com a velocidade reduzida. 6.2.2 Isolamento No planejamento há que se definir onde serão os isolamentos das zonas operacionais. A fixação de perímetros de segurança visa o controle e a restrição de espaços e é comum a todos os incidentes pois, entre outros, a presença de curiosos pode causar inúmeros transtornos ao socorro. A ansiedade geralmente demonstrada por estes pode colocar em risco toda a operação. Os curiosos tornam-se também alvos fáceis na hipótese de algum risco se concretizar. Além de, em algumas ocasiões, tirar a concentração da guarnição. Diante disto, o isolamento ajuda a controlar tais contratempos. Este procedimento de segurança também ajuda a delimitar a área de atuação de cada integrante do socorro, o que colabora para evitar a perda de gerenciamento por parte do Comandante do Incidente. Ao estipular os perímetros de segurança, devem ser considerados os seguintes aspectos: Tipo de incidente; Tamanho da área afetada; 105 CURSO DE RESGATE VEICULAR - 3ª EDIÇÃO Topografia; Localização do incidente em relação à via de acesso e áreas disponíveis ao redor; Áreas sujeitas a desmoronamentos, explosões potenciais, queda de escombros, cabos elétricos; Condições atmosféricas; e Possível entrada e saída de veículos. A área de um incidente deve ser dividida em três zonas operacionais distintas: a) Zona quente: envolve o foco do incidente, abrangendo, via de regra, um raio mínimo de 5 (cinco) metros em volta dos veículos acidentados. Na zona quente deverão permanecer somente os Bombeiros atuantes, ou seja, os envolvidos no desencarceramento e na extração, juntamente com os materiais que estão sendo utilizados e também os membros que em virtude de algum perigo estiverem executando ações de gerenciamento de riscos. O isolamento desta área não envolve o uso de materiais, sendo delimitada apenas de forma virtual. Excepcionalmente, existem ocorrências nas quais o raio mínimo é superior a 5 (cinco) metros como nos casos de ocorrências envolvendo energia elétrica e produtos perigosos, como será visto adiante. b) Zona morna: delimitada a partir da zona quente, esta área tem por finalidade oferecer maiores condições de segurança. Destina-se à montagem do Posto de Comando, do palco de materiais, área de concentração de vítimas e do estabelecimento das viaturas operacionais (salvamento, combate a incêndio e unidade tática de emergência). Esta possui raio mínimo de 5 (cinco) metros e é isolada com o uso de materiais (fitas, cordas, cones etc) para delimitar o perímetro interno de segurança. É nesta zona que o Comandante gerenciará todo o socorro. A presença nesta área é restrita aos Bombeiros atuantes na operação ou àqueles que o Comandante do Incidente permitir. Quando se optar pela criação de uma área de descarte de materiais, esta deverá ser providenciada na zona morna. 106 CURSO DE RESGATE VEICULAR - 3ª EDIÇÃO c) Zona fria: local onde devem ficar estabelecidas as viaturas de apoio e recursos não emergenciais como CEB, CAESB, DETRAN, Policias Militar e Civil, PRF etc. Ressalta-se que viaturas de apoio pertencentes ao CBMDF e suas guarnições, desde que não sejam classificadas como atuantes deverão aguardar nesta área. É um espaço permitido somente para as pessoas envolvidas no socorro, sendo proibida para curiosos. Abrange também um raio mínimo de 5 (cinco) metros. Para delimitar o perímetro externo de segurança esta área é isolada preferencialmente o uso de materiais, tais como corda, fita zebrada etc e é de responsabilidade do policiamento local. Com isto, as três zonas operacionais podem ser exemplificadas conforme a imagem abaixo: 6.3 BATERIAS As baterias são fontes de energia que se destinam a alimentar o sistema elétrico de um automóvel. Enquanto a bateria de 12 Volts permanecer conectada diversos componentes do veículo permanecerão energizados, Zonas operacionais 107 CURSO DE RESGATE VEICULAR - 3ª EDIÇÃO gerando riscos de curtos-circuitos e de produção de centelhas, o que pode causar um incêndio caso haja exposição de material inflamável, como líquidos ou gases. Os elementos químicos presentes em uma bateria também podem provocar corrosão e queimaduras. Enquanto a bateria estiver conectada os air bag’s estarão ativados. Portanto, o fato da bateria estar conectada ou desconectada pode trazer influências para o resgate. A localização da bateria varia de acordo com o modelo do veículo , bem como pode existir mais de uma bateria em um mesmo automóvel. Ela pode estar, por exemplo, sob o capô, no portamalas, sob o assento traseiro dos passageiros, no assoalho dolado do passageiro dianteiro, sob o banco do condutor, no páralamas, simultaneamente em um ou mais compartimentos. Para desativar a bateria de 12 Volts desconecte primeiro o cabo do pólo negativo, evitando assim que sejam produzidas centelhas. Uma vez desconectado, o pólo negativo pode-se desconectar o cabo do positivo. O profissional de resgate deve lembrar que pode haver a necessidade de ser feito o uso do sistema elétrico do veículo para, entre outros, desativar a trava elétrica das portas ou portamalas, para descer vidros, para avançar ou recuar os bancos, para acionar o freio de estacionamento. Por outro lado, dentro da hierarquia de procedimentos, o gerenciamento de um perigo se sobrepõe a outros fatores dentro do resgate. Assim, quando houver, por exemplo, um vazamento de combustível combinado com exposição de fios elétricos do sistema elétrico do veículo, a bateria deve ser desativada com antecedência. Exemplos de locais onde pode ser encontrada a bateria de 12 Volts 108 CURSO DE RESGATE VEICULAR - 3ª EDIÇÃO 6.4 VIDROS Vidros quebrados ou até mesmo intactos oferecem perigo para a vítima e para o Bombeiro. Podem provocar cortes, entrar nos olhos, gerar quedas etc. Os vidros intactos oferecem risco em decorrência de eventualmente precisarem ser rompidos. São exemplos de medidas preventivas: Uso de EPI’s; Proteger a vítima com cobertores ou outro material; Ao romper vidros, evitar jogá-los no interior do automóvel; Ao romper vidros, uti lizar uma lona no solo para que os vidros caiam sobre ela e após jogá-los na área de descarte; Na inviabilidade da medida anterior, após os vidros caírem no solo, jogá- los para de baixo do veículo acidentado; e Cobrir com lonas, fitas adesivas plásticas ou mangueiras de combate a incêndios previamente preparadas as partes pontiagudas e cortantes. Jamais utilizar as mãos, mesmo que protegidas por luvas, para remover os pedaços de vidro que eventualmente ficarem presos a alguma janela. Se precisar retirá-los, utilizar uma ferramenta como o halligan ou o pé-de-cabra. 6.5 FERRAGENS A exposição a ferragens apresenta grande capacidade de provocar lesões nas vítimas e nos Bombeiros atuantes, portanto devem ser adotadas medidas de gerenciamento que minimizem os infortúnios que estes elementos podem provocar. São exemplos de medidas preventivas: Uso de EPI’s; Proteger a vítima com cobertores ou outro material; e Cobrir com lonas, ataduras, fitas adesivas plásticas ou pedaços de mangueiras de combate a incêndio as partes pontiagudas e cortantes. 109 CURSO DE RESGATE VEICULAR - 3ª EDIÇÃO 6.6 VAZAMENTO DE COMBUSTÍVEL O vazamento de combustível é um perigo que pode trazer grandes transtornos para o desempenho da operação. Existem, entre outros, o risco de incêndio, explosões, danos à natureza, contaminação de profissionais envolvidos no atendimento, de materiais e de vítimas. Se houver contaminação de pessoas e/ou materiais, eles deverão ser afastados imediatamente do local de risco para que seja providenciada a respectiva descontaminação ou, se for o caso, a substituição de materiais. Os tipos de combustíveis normalmente encontrados em acidentes automobilísticos são: gasolina, etanol, diesel, biodiesel, gás natural veicular (GNV) e gás de cozinha. Os locais mais prováveis para ocorrer um vazamento de combustível em um veículo acidentado são: Tubos e mangueiras; Carburador (em carros antigos); Bocal de abastecimento; Fissuras no próprio tanque; Recipientes de transporte clandestino; Registro de cilindro. O gerenciamento deste perigo se faz basicamente de quatro formas: 1 - Eliminar fontes de ignição: desligar bateria, afastar fumantes, não acionar a motobomba do equipamento de desencarceramento próximo do vazamento etc; 2 - Posicionamento de extintores e/ou linhas preventivas, de preferência com o agente extintor do tipo espuma; 3 - No caso de combustível líquido: contenção, coleta ou canalização; 4 - Uso de material absorvedor: pó químico, areia etc. 110 CURSO DE RESGATE VEICULAR - 3ª EDIÇÃO 6.7 INCÊNDIO O posicionamento de extintores ou armação de linhas preventivas auxiliará no caso de princípio e/ou intensificação de um incêndio. Logo, uma destas alternativas deve se fazer presente quando do atendimento de uma ocorrência de acidente automobilístico. 6.7.1 Fogo localizado Na hipótese de fogo localizado o agente extintor adequado é, conforme o caso, o CO2 ou o pó-químico. Isto se deve ao fato de estarem em vasilhames portáteis, de fácil transporte, o que viabiliza um rápido combate ao pequeno foco. Deve-se atentar para não atingir a vítima com o agente extintor, principalmente se for pó-químico seco, que irrita as vias aéreas e pode contaminar ferimentos abertos. No combate ao fogo que esteja apenas no compartimento do motor há que se atentar para: a) Capô fechado: provocar pequena abertura para aplicar o agente extintor; b) Capô semi-aberto: aproveitar a abertura já feita para usar o agente extintor, não tentar concluir a abertura do capô; c) Capô aberto: aplicar o agente extintor. 6.7.2 Fogo que envolve o veículo No que se relaciona a incêndios em veículos, recorda-se que, o Boletim Geral de nº 237, de 17 de dezembro de 2015, tornou público o procedimento operacional padrão relativo a este tipo de sinistro, o qual segue em anexo (Anexo C). Neste, destacam-se, como novidades: A necessidade de uso de EPR; 111 CURSO DE RESGATE VEICULAR - 3ª EDIÇÃO A obrigatoriedade do estabelecimento de duas linhas de mangueiras, sendo uma para ataque e a outra para proteção; Utilizar no combate, como agente extintor, preferencialmente a espuma; e Dever de acionar o serviço de perícia. Quanto forma de aproximação das linhas de combate, esta deve ser preferencialmente a um ângulo de 45º, para evitar eventuais projéteis provenientes de explosões, inclusive de pneus e pneumáticos e de dispositivos hidráulicos. Há duas formas de combate ao incêndio, sendo elas: Ofensivo Ocorre quando os Bombeiros se posicionam próximo ao foco do incêndio para extinguir as chamas. Estes adentram a zona de perigo. Um ataque ofensivo é recomendado para incêndios que não envolvam maiores exposições a riscos. Defensivo É o modo de ataque no qual os Bombeiros se posicionam fora da área de risco. Um ataque defensivo é recomendado para incêndios exijam uma maior proteção contra calor, gases (explosivos e/ou tóxicos), fumaça etc. Exemplo claro de um ataque do tipo defensivo se dá quando se utiliza somente o esguicho da viatura. As rodas do veículo devem ser calçadas, logo que possível. O combate inicial ao fogo que envolve um veículo deve ser com um ataque rápido e agressivo, grandes quantidades de água e/ou espuma podem ser usadas. Uma linha será para combate e a outra para proteção. Estas devem estar, sempre que possível, a favor do vento. Há de se observar o uso obrigatório de roupa de proteção completa, inclusive botas e luvas. 112 CURSO DE RESGATE VEICULAR - 3ª EDIÇÃO Um incêndio em automóvel produzirá gases tóxicos, logo EPR’s devem ser utilizadas durante o combate ao incêndio, bem como durante a inspeção final e o eventual rescaldo. Apesar do êxito na extinção de um incêndio em um veículo os Bombeiros devem ficar atentos quanto à possibilidade de re-ignição. A seqüência de procedimentos básicos a serem seguidos na extinção de um incêndio em veículos pode ser esquematizada da seguinte forma: 6.7.3 Fogo no compartimento de carga Quando a situação envolver fogo no compartimento de carga há a necessidade de sempre verificar ou se informar sobre a natureza da carga, para comisto aplicar o agente extintor apropriado e observando-se os seguintes procedimentos: Passos a serem seguidos no combate a incêndio em veículos 113 CURSO DE RESGATE VEICULAR - 3ª EDIÇÃO a) Compartimento fechado: empregar a técnica de passagem de porta utilizada no combate a incêndio em edificações. Assim, conseguir-se-á diminuir primeiramente a temperatura dentro do compartimento e, na seqüência, realizar o combate ao fogo; b) Compartimento aberto: fazer ataque direto, sempre atentando para o tipo de combustível. 6.8 SISTEMAS PASSIVOS DE SEGURANÇA DOS VEÍCULOS 6.8.1 Gestão de riscos de air bag’s não acionados Como asseverado em outra oportunidade, um dos perigos para os membros de uma equipe de resgate veicular está relacionado ao não acionamento de dispositivos de segurança ocultos. Neste aspecto, no que diz respeito ao não acionamento dos air bag’s frontais seguem alguns dos motivos: Pequenas colisões frontais: os air bag’s frontais, via de regra, são projetados para proteção suplementar aos cintos de segurança e não para impedir escoriações ou fraturas que podem ocorrer durante uma pequena colisão frontal; Colisões frontais significativas: algumas colisões podem resultar em danos severos ao veículo sem ativar os air bag’s. Isto ocorre quando os demais itens de segurança do automóvel atuam e os air bag’s seriam desnecessários ou quando estes não teriam oferecido proteção, mesmo se tivessem sido inflados; Impactos laterais: os air bag’s frontais visam oferecer proteção quando uma desaceleração súbita faz com que os ocupantes dos bancos dianteiros sejam arremessados para frente. Logo, no caso de impactos laterais serão acionados, caso existam, os air bag’s laterais e não os frontais; Impactos traseiros e capotamentos: os air bag’s dianteiros usualmente não são projetados para inflar em colisões traseiras e capotamentos. 114 CURSO DE RESGATE VEICULAR - 3ª EDIÇÃO Entretanto pode ocorrer dos air bag’s dianteiros inflarem mesmo que não haja dano visível. Nesta situação, uma desaceleração súbita ou um forte impacto na estrutura do veículo ou na suspensão pode causar a ativação de um ou mais air bag’s. Como exemplos, citam-se: bater no meio-fio, na borda de um buraco, em outro objeto fixo baixo etc. No que tange ao não acionamento dos air bag’s laterais, embora o dano visível pareça severo, estes podem não inflar quando o impacto ocorrer na dianteira ou na traseira ou quando as peças deformáveis da carroceria do carro absorverem a maior parte da energia da colisão. Nestes casos, os air bag’s laterais não seriam necessários ou não ofereceriam proteção. Para reduzir a possibilidade de um ocupante ficar ferido em decorrência de um acionamento de air bag lateral, ele também pode ser desativado automaticamente quando: a) Os sensores de altura detectam que uma criança ou adulto de baixa estatura está sentado no banco do passageiro; e b) O sensor de posição detecta que o passageiro dianteiro está debruçado no caminho de acionamento do air bag lateral. Todavia, um air bag lateral pode inflar mesmo que não exista dano aparente. Como um sistema de air bag detecta desacelerações súbitas, um impacto na lateral da estrutura do veículo, mesmo que não cause dano aparente, pode causar a ativação de um air bag lateral. São também motivos para não acionamento dos air bag’s: Os sensores que monitoram a altura e a posição do corpo dos ocupantes podem não funcionar se: a) O encosto estiver molhado; b) O passageiro estiver tocando um objeto metálico ou outro condutor elétrico; c) Existir uma almofada sobre o assento; e e) O passageiro estiver vestindo roupas excessivamente grossas; Falha(s) ou dano(s) em componente(s) do sistema como em algum dos sensores; 115 CURSO DE RESGATE VEICULAR - 3ª EDIÇÃO O proprietário do veículo substituir as capas dos bancos, do estofamento ou do volante e, como isto, bloqueia a passagem da bolsa do air bag; A velocidade, o ângulo do impacto, a direção do movimento, a deformação do veículo e o obstáculo atingido determinam a severidade do acidente e o acionamento ou não do(s) air bag(s). E um dos riscos de air bag’s que não foram inflados durante uma colisão é o fato de serem acionados durante o resgate, por exemplo, por ocasião da movimentação de ferragens para o desencarceramento e extração da vítima. A bolsa, durante o acionamento, pode atingir membros da equipe que se encontram próximos ou interpostos entre a vítima e a área de expansão daquela. O impacto pode causar lesões graves em decorrência da velocidade com que a mesma se projeta. Os air bag’s não acionados podem lesionar gravemente um resgatista. Estando este com o corpo projetado para o interior do veículo, no caso das portas estarem abertas ou a janela, no momento do acionamento, poderá, com o impacto da bolsa, ser lançado contra partes do automóvel ou para fora do veículo, sofrendo sérias lesões. Outro risco existente é o rompimento de ampolas de gás com o equipamentos hidráulicos, o que pode causar dispersão de vidros ou outros objetos, que podem atingir vítimas e socorristas. Há também a possibilidade de explosão de ampolas de gás, seguidas de projeção de peças, em virtude de incêndio no automóvel. Como informado à pouco, não há padrão quanto ao local de instalação das ampolas de gás, podem estar em diversos pontos. Assim, deve-se sempre inspecionar o local do corte, do esmagamento ou da tração para não atingi-las, retirando, inclusive, parte do revestimento que fica próximo ao ponto pré- determinado de execução da manobra que se deseja fazer. Algumas das medidas preventivas são: 116 CURSO DE RESGATE VEICULAR - 3ª EDIÇÃO Analisar o interior e exterior do veículo, buscando identificar os tipos de dispositivos de segurança e os seus locais de instalação, retirando, quando necessário, o revestimento para localizar as ampolas de gás; Manter-se afastado e fora da área de atuação da bolsa; - 30cm - air bag lateral, traseiro e joelhos; - 60cm - air bag frontal do motorista; - 90cm - air bag frontal do passageiro. Não colocar objetos entre o air bag e a vítima; Colocar a vítima distante da área de expansão do air bag; Quando existente, desativar o sistema do air bag do passageiro; Desligar a ignição e a bateria de 12 Volts; Utilizar contentores para o air bag do motorista (amarração do volante ou dispositivo de contenção); Desconectar a conexão elétrica do dispositivo gerador do gás; Não cortar ou comprimir ampolas de gás; e Estabilizar o veículo. Destaca-se que as ações descritas acima, quando possível, deverão ser realizadas em conjunto. Assevera-se isto pelo fato de que a execução de apenas uma delas, ante à variedade de tipos de air bag’s existentes no mercado, pode não resultar na eliminação do respectivo risco de acionamento do dispositivo de segurança. Sobreleva-se que, mesmo com o corte do fornecimento da energia de 12 Volts, não há como desligar de forma imediata a central de controle, estas funcionarão até que os seus capacitores descarreguem por completo. Existem centrais de controle que, após terem eliminada a alimentação de energia de 12 Volts, permanecem ativas por um período de até 30 minutos. Por fim, há que se deixar claro que alguns modelos de air bag’s possuem duas cargas de explosivo, uma para pequenos impactos e outra para colisões significativas. Estes também são conhecidos como air bag’s de dois estágios. 117 CURSO DE RESGATE VEICULAR - 3ª EDIÇÃO Logo, o fato de um air bag estar acionado não significa que o mesmo não constitua mais risco. 6.8.2 Pré-tensor de cinto São exemplos de ações preventivas: - Desligar a ignição e a bateria de 12 Volts; - Retirar/cortar o cinto de segurança da vítima;- Retirar o estofamento da coluna B e C antes de efetuar cortes para evitar atingir componentes das ampolas de gás dos pré-tensores; e - Avaliar a base do banco para verificar a existência de ampolas. 6.8.3 Sistema ROPS Como medidas preventivas têm-se: desligar a ignição e a bateria de 12 Volts e evitar permanecer na área de ativação do sistema ROPS. 6.8.4 Barras de proteção lateral Como visto anteriormente, as barras de proteção lateral destinam-se a proteger os ocupantes de um automóvel de impactos la terais. Deve-se evitar cortar as barras para retirar as portas, o ideal é tentar utilizar outras técnicas de desencarceramento. Somente em último caso o resgatista poderá, cerrá-las ou cortá-las, tendo atenção com a possível projeção da parte seccionada devido à quantidade de energia cinética acumulada. Exemplos de dispositivo pirotécnico de dois estágios da fabricado pela Takata 118 CURSO DE RESGATE VEICULAR - 3ª EDIÇÃO 7 PRODUTOS PERIGOSOS Este capítulo visa ensinar o discente a como utilizar o manual da ABIQUIM e também apresentar as ações iniciais a serem realizadas na hipótese de incidentes envolvendo produtos perigosos. 7.1 O MANUAL DA ABIQUIM No que concerne ao atendimento de incidentes envolvendo produtos perigosos é importante ressaltar que a Associação Brasileira da Indústria Química (ABIQUIM) confeccionou um manual que dispõe sobre as ações iniciais a serem empregadas, sendo a primeira versão publicada no ano de 1989. Portanto, até que uma equipe especializada chegue ao local há que se fazer uso das suas recomendações para orientar as primeiras medidas no incidente, evitando riscos e a tomada de decisões incorretas. Tal manual possui cinco seções identificadas por meio de cores, sendo elas branca, amarela, azul, laranja e verde. A seção com páginas com bordas na cor branca contém informações acerca do próprio manual da ABIQUIM, de como utilizá-lo, dados relativos aos números de classe de risco e suas subclassificações, explicações sobre o rótulo de risco e códigos numéricos9 de identificação de perigos dos produtos, apresenta uma tabela que contém a relação dos códigos numéricos4 empregados no transporte de produtos perigosos e respectivos significados, discorre, por fim, sobre os documentos uti lizados no transporte de produtos 9 Os códigos de identificação de perigos dos produtos são os números vistos na parte superior do painel de segurança dos veículos de transporte de produtos perigosos. Cada código é formado por dois ou três algarismos. Quando produtos reagem de forma perigosa com a água são precedidos da letra X. Estes códigos são denominados de Números de Risco e estão associados às propriedades perigosas dos produtos. Capa do manual da ABIQUIM 119 CURSO DE RESGATE VEICULAR - 3ª EDIÇÃO perigosos e acerca da forma geométrica dos tanques e contêineres de transporte. Na seção com páginas de bordas amarelas os produtos perigosos estão relacionados por ordem numérica crescente segundo o número de inscrição do produto na ONU, possuindo também a sua respectiva Classe de Risco (C.R.), o número da Guia de Emergência e o nome do produto. Algumas substâncias que constam nas seções com páginas de bordas amarelas e azuis estão destacadas na cor verde, o que significa que possuem riscos especiais, necessitando, portanto, de procedimentos de acordo com a seção cujas bordas das páginas estão na cor verde. Ressalta-se que há versões do manual da ABIQUIM nas quais tais substâncias estão realçadas, nas seções amarela e azul, não na cor verde mas na da própria seção. Na seção com bordas na cor azul os produtos perigosos estão relacionados por ordem alfabética, conforme o nome do produto. Estes estão associados ao respectivo número da ONU, C.R. e Guia de Emergência. Na seção com bordas na cor laranja é encontrada uma série de 62 (sessenta e duas) guias de emergência (numerados de 111 até 172), que indicam os procedimentos iniciais a serem adotados em caso de acidentes com produtos perigosos. Cada guia foi concebida para aplicação a um grupo de substâncias que possuem características químicas e perigos similares. A seção cujas páginas possuem bordas na cor verde traz informações acerca de produtos tóxicos por inalação, que são gases ou vapores tóxicos. 120 CURSO DE RESGATE VEICULAR - 3ª EDIÇÃO Também inclui produtos que originalmente podem não apresentar tais propriedades mas que, ao reagirem com a água, liberam gases ou vapores tóxicos. Nesta seção são encontradas: a) Orientações de como utilizar a tabela de isolamento inicial e de ação protetora; b) Tabela com as distâncias de isolamento inicial e de ação protetora; e c) Relação de produtos perigosos que reagem com a água. Destaca-se que as distâncias que constam na tabela mostram tão somente as áreas prováveis de serem atingidas durante os primeiros 30 minutos após o início do vazamento do produto. Logo, como o passar do tempo estas podem aumentar. Ao detectar que o incidente envolve um produto que consta no rol de itens cujas bordas estão na cor verde há que se procurar na tabela a distância de isolamento inicial, a qual é medida em todas as direções (raio) desde a fonte do acidente. Logo, a zona de isolamento inicial é um círculo dentro do qual há o risco de morte em decorrência da exposição a concentrações tóxicas, devendo a equipe de atendimento evacuar rapidamente esta área. Por sua vez, a distância de isolamento de proteção, forma um quadrado que é denominado de zona de ação protetora, sendo que a tabela fornece a distância a favor do vento para a qual o isolamento de proteção deve ser considerado. As pessoas que estejam nesta área estão expostas a riscos prejudiciais à saúde. 121 CURSO DE RESGATE VEICULAR - 3ª EDIÇÃO Cita-se como exemplo o produto cujo número da ONU é 1955, gás tóxico, comprimido. Para este a distância de isolamento inicial para pequenos derramamentos é de 100 metros, isto é, um círculo de 200 metros de diâmetro. Já a sua distância de proteção para a mesma situação é de 500 metros para um acidente durante o dia, sendo uma área, no sentido do vento a partir do ponto do derramamento, dentro da qual podem ser realizadas ações de proteção. Após a seção verde estão informações sobre a tabela de isolamento inicial e de ação protetora, como fatores que podem alterar as distâncias de proteção, prescrições relativas às ações de proteção, classificação dos produtos segundo a sua toxicidade por inalação, sobre trajes de proteção individual. Após, no final do manual da ABIQUIM, estão: a) Orientações gerais relativas ao combate a incêndio e controle de derramamentos de incidentes envolvendo produtos perigosos; b) Apresentação do grupo de compatibilidade de explosivos, isto é, que podem ser transportados juntos sem aumentar significativamente a probabilidade de um incidente ou a sua magnitude dos efeitos; c) Características dos diferentes tipos de peróxidos orgânicos; e, por último, d) Características dos diferentes tipos de substâncias autorreagentes. 7.2 SEQÜÊNCIA DE PROCEDIMENTOS NO ATENDIMENTO A OCORRÊNCIAS COM PRODUTOS PERIGOSOS ACION AMENTO DO GBM ESPECI ALIZ ADO CHEGAD A ISOLAMEN TO IDENTIFICAÇÃO E AVALI AÇÃO AÇÕES DE PROTEÇÃO ENTR AD A N A ZONA DE PERIGO 122 CURSO DE RESGATE VEICULAR - 3ª EDIÇÃO a) Chegada Ao chegar no local do incidente, a equipe de socorro deve se aproximar com o vento pelas costas, para evitar a inalação do produto. É importante manter-se distante da zona de perigo antes da equipagem com EPI’s e avaliação, mesmo que haja vítimas nesta. b) Isolamento Para evitar o agravamento da situação tem-se que providenciar o isolamentodo local, impedindo-se, com isto, a aproximação de pessoas e o tráfego de veículos na zona de perigo. Inicialmente, considerar as informações encontradas nas seções “Perigos Potenciais” e “Segurança Pública” da Guia de Emergência número 111, por exemplo, o raio mínimo de isolamento inicial de 100 metros. c) Identificação do produto e avaliação da cena Se possível, identificar o produto, bem como a Guia de Emergência aplicável ao caso. Em um veículo que transporta produtos perigosos cada carga é identificada por símbolos, por conseguinte, os meios disponíveis para a identificação do produto transportado são o número da ONU, o nome do produto, o rótulo de risco, além da forma geométrica do compartimento no qual a carga é transportada e a documentação da carga. Número da ONU Risco subsidiário Número de risco X X XXXX PAINEL DE SEGURANÇA RÓTULO DE RISCO Símbolo da classe Nome da classe Número da classe 123 CURSO DE RESGATE VEICULAR - 3ª EDIÇÃO Os painéis de segurança e rótulos de risco são afixados nos compartimentos de cargas (granel e embalado) e na parte traseira e dianteira dos veículos que transportam produtos perigosos. Na hipótese de produto embalado, os seus dados podem ser obtidos no seu respectivo rótulo. Lembra-se que um mesmo veículo pode transportar mais de um produto. Ademais, há que se verificar a existência de perigos adicionais, tais como: fogo, vazamento do produto etc. Ao se obter o número da ONU as páginas de bordas amarelas do manual de emergência da ABIQUIM devem ser consultadas para identificar o respectivo número da Guia de Emergência (número de 3 dígitos). A coluna “Guia” indica o número da Guia de Emergência a ser verificada nas páginas de borda laranja. Nesta, serão encontradas informações sobre os riscos potenciais do produto perigoso e as ações de emergência a serem realizadas. Outra alternativa, caso seja viável, é conseguir o nome do produto. Neste caso, há que se consultar a relação disposta em ordem alfabética nas páginas de borda na cor azul para certificar-se do seu respectivo número na coluna “Guia”. Alguns produtos na relação numérica e alfabética possuem uma tarja verde (ver imagem abaixo). Isto significa que se trata de um gás tóxico ou que é um produto que em contato com a água emite gases tóxicos. Nestes casos, para a ação de isolamento inicial de ação protetora é preciso também utilizar o procedimento e tabela das páginas de bordas verdes. Alguns números de guias indicados nas relações de produtos, numérica ou alfabética, também são acompanhados da letra “P”. Isto quer dizer que o produto pode sofrer polimerização violenta (explosiva) devido ao calor ou quando se contamina. 124 CURSO DE RESGATE VEICULAR - 3ª EDIÇÃO Não sendo possível identificar o nº da ONU ou o nome do produto perigoso, existe a alternativa de procurar pelo rótulo de risco do produto perigoso. Sobre este item, comunica-se que na parte inicial do manual de emergenciais da ABIQUIM existe uma tabela de rótulos de risco e as suas correspondes guias para uso no local do incidente. Se não for possível identificar o número da ONU, o nome do produto perigoso, o rótulo de risco ou quando a carga for mista, deve-se utilizar a guia de emergência nº 111 do manual da ABIQUIM, que é a indicada para produtos perigosos em geral. Contudo, há a necessidade de se procurar por informações relativas ao produto o mais rápido possível. Sobre isto, há a possibilidade de entrar em contato com a empresa que realiza o transporte ou procurar pelo condutor do veículo haja vista que a documentação que acompanha o transporte de produtos perigosos é um importante elemento de informação em caso de emergência. A documentação inclui, entre outros, o documento fiscal e uma ficha de emergência. Com estes documentos, se disponíveis, é possível identificar o produto transportado e a respectiva Guia de Emergência, bem como as orientações relativas às ações de controle para o produto específico no caso de incidentes. Por último, sobreleva-se que a forma geométrica do compartimento de carga pode fornecer uma indicação inicial quanto ao possível tipo de produto transportado. Isto pode ser útil, por exemplo, quando da observação da ocorrência a longas distâncias, antes da identificação do número da ONU ou a obtenção de outras informações específicas sobre o produto. 125 CURSO DE RESGATE VEICULAR - 3ª EDIÇÃO Há ainda a possibilidade de conseguir informações na documentação de transporte da carga, como na sua nota fiscal e na sua ficha de emergência. Ambos poderão ser obtidos junto ao condutor do veículo. No que tange à avaliação da cena, é preciso atentar para aspectos relevantes, tais como: O que ocorreu ou está ocorrendo (acidente de trânsito, vazamento do produto, fogo, explosão); Quais as características do acidente; Existência de vítimas; Qual(is) o(s) produto(s) envolvidos; Qual o tipo de transporte: a granel ou embalado; Verificar o entorno do local da ocorrência: > Como é a região: área rural, urbana, industrial; > Se há proximidade de habitações, escolas, comércio; > Qual o tipo de via e suas características: rodovia, via secundária, via urbana, situação do tráfego (intenso, moderado, baixo), velocidade da via etc; > O meio ambiente local: proximidade com áreas que possuem água, área montanhosa ou planície; O tipo de transporte do produto: é do produtor, transportadora etc; A situação do clima (chuvoso, seco, com neblina etc); Origem e destino da carga; e Placa do veículo e documentações que o possui. Em relação à avaliação, destaca-se que o manual da ABIQUIM possui uma ficha que ajuda na realização deste procedimento, a qual conta no Anexo G do presente material. 126 CURSO DE RESGATE VEICULAR - 3ª EDIÇÃO d) Acionamento do GBM especializado Na seqüência, após identificar o tipo de produto perigoso envolvido no acidente, bem como a sua respectiva Guia de Emergência, solicitar o apoio do Grupamento de Bombeiro Militar especializado no atendimento a incidentes que envolvam produtos perigosos. e) Ações de proteção Iniciar as ações de proteção conforme a respectiva Guia de Emergência. f) Entrada na zona de perigo De acordo com disponibilidade de EPI’s apropriados e demais recursos, decidir pela entrada ou não na área de perigo para adotar as medidas de controle previstas respectiva Guia de Emergência existente no manual da ABIQUIM. RECOMENDAÇÕES GERAIS AO SE ENTRAR NA ZONA DE PERIGO - A entrada na zona de perigo é somente com o EPI apropriado; - Não caminhar sobre eventual produto derramado ou tocá-lo; - Não inalar gases, vapores, poeiras e fumaças do produto resultantes de fogo; - Não se orientar pelo odor dos produtos. Não supor que produtos sem odor são inofensivos; - Considerar o perigo intrínseco do produto e perigos decorrentes de fogo, contato do produto com água, entrada de gases e produtos em locais fechados etc.; - Manusear ferramentas e embalagens, mesmo que vazias, com precaução. 127 CURSO DE RESGATE VEICULAR - 3ª EDIÇÃO 8 ACIDENTES AUTOMOBILÍSTICOS ENVOLVENDO ENERGIA ELÉTRICA Este capítulo tem o intuito de orientar ao leitor sobre: o sistema de distribuição de energia da CEB, choque elétrico, a regulamentação de segurança em instalações elétricas e serviços com eletricidade, e apresentar as ações a serem feitas por uma equipe de socorro quando do atendimento a uma ocorrência de acidente automobilístico envolvendo energia elétrica. Todo acidente automobilístico que atinge componentes de uma rede de transmissão ou distribuição de energia elétrica10 oferece grandes riscos para os integrantes de uma guarnição de socorro, para vítimase transeuntes, haja vista que pode provocar incidentes fatais em decorrência de choques, de incêndios etc. Neste tipo de situação a equipe de socorro deve proceder com cautela e sempre suspeitar de que a rede atingida está energizada. O Comandante do Incidente, antes de iniciar o resgate veicular, deve primar por realizar uma avaliação detalhada da cena, verificando, inclusive, a presença de estruturas metálicas próximas ao ponto do incidente, como cercas e guarda-corpos de metal. 8.1 BREVES NOÇÕES SOBRE O SISTEMA DISTRIBUIÇÃO DE ENERGIA ELÉTRICA DA COMPANHIA ENERGÉTICA DE BRASÍLIA (CEB) A energia elétrica, após ser gerada, chega aos centros de distribuição de energia elétrica através de linhas de transmissão. 10 A energia elétrica é definida como o resultado do movimento de cargas elét ricas no interior de um condutor. É um tipo especial de energia através da qual se pode obter calor, luz, radiação etc. Ela é usada para transmitir e transformar a energia primária da fonte produtora, que aciona os geradores, em outros tipos de energia, como a usada nas residências. 128 CURSO DE RESGATE VEICULAR - 3ª EDIÇÃO No Brasil, as tensões mais usuais em corrente alternada11 nas linhas de transmissão vão de 69 kV a 765 kV. Nos centros consumidores existem subestações que reduzem as tensões de transmissão para valores de distribuição. Por sua vez, a rede de distribuição proporciona que a energia elétrica chegue até o consumidor final. Os grandes consumidores necessitam de valores de tensão altos, por exemplo, indústrias, grandes edifícios e shoppings. Eles são atendidos em uma classe de tensão denominada de primária e dispõem de meios para abaixarem a tensão para a necessária aos seus equipamentos. A rede de distribuição primária também alimenta os transformadores que estão afixados nos postes e cuja finalidade é a reduzir a tensão a valores menores, afim de atender aos pequenos consumidores. É a chamada distribuição secundária, cuja uma das características é o fato de ser formada por fios sobrepostos. A quantidade de fios que compõe a rede distribuição secundária pode variar conforme o Estado. Ante ao exposto, pode-se representar a composição básica do sistema elétrico brasileiro segundo a imagem que segue: 11 Há dois tipos básicos de corrente ou tensão elétrica: a contínua e a alternada. A contínua é aquela cujo o valor e direção não se alteram ao longo do tempo e, como exemplos, citam-se as pilhas e baterias. Já a corrente alternada é uma corrente oscilatória, cuja tensão varia de acordo com o tempo. Nesta, cada ciclo é constituída por valores positivo e negativo (exemplo de +220 Volts a -220 Volts), sendo que a corrente que chega nas residências possui 60 ciclos por segundo, ou seja, uma freqüência de 60 Hertz. Poste de rede de distribuição elétrica primária e secundária 129 CURSO DE RESGATE VEICULAR - 3ª EDIÇÃO Destaca-se que o Ministério do Trabalho e Emprego, através da Norma Regulamentadora nº 10, que trata da segurança em instalações e serviços em eletricidade, considera como alta tensão a corrente alternada superior a 1.000 Volts ou 1.500 Volts em corrente contínua. Já a baixa tensão é aquela cuja corrente alternada é superior a 50 Volts ou 120 Volts em corrente contínua e igual ou inferior a 1.000 Volts em corrente alternada ou 1.500 Volts em corrente contínua12. No que concerne ao suprimento de energia ao Distrito Federal tem-se que é realizado, principalmente, por Furnas Centrais Elétricas S.A., Corumbá IV e de Corumbá III. O sistema de distribuição da CEB constitui-se atualmente de 34 subestações, sendo: 15 alimentadas em 138 kV, 5 em 69 kV e 14 em 34,5 kV. Quanto à rede de distribuição da CEB tem-se que esta compreende linhas com nível de tensão primária entre 13,8 kV e 34,5 kV, sendo feito o fornecimento para pequenos consumidores, a princípio, em tensão secundária distribuição de 220 Volts. 8.2 BREVES NOÇÕES SOBRE CHOQUE ELÉTRICO A área na qual tenha ocorrido um acidente automobilístico que envolva energia elétrica é um local onde o risco é elevado e cuidados especiais devem ser observados no que tange à segurança. Afirma-se isto em virtude do fato de um choque elétrico poder causar efeitos danosos ao ser humano, sobretudo os decorrentes da tensão de passo e de toque. 12 Por sua vez a Agência Nacional de Energia Elétrica estipula outra classificação, qual seja: a) Alta tensão, tensão entre fases cujo valor eficaz é igual ou superior a 69 kV e inferior a 230 kV, ou instalações em tensão igual ou superior a 230 kV quando especificamente definidas pela ANEEL; b) Média tensão, tensão entre fases cujo valor eficaz é superior a 1 kV e inferior a 69 kV; e c) Baixa tensão, tensão entre fases cujo valor eficaz é igual ou inferior a 1 kV. GERAÇÃO SUBESTAÇÃO DE ELEVAÇÃO TRANSMISSÃO SUBESTAÇÃO DE ABAIXAMENTO DISTRIBUIÇÃO PRIMÁRIA DISTRIBUIÇÃO SECUNDÁRIA 130 CURSO DE RESGATE VEICULAR - 3ª EDIÇÃO O choque elétrico é a passagem da corrente elétrica 13 pelo corpo de uma pessoa ou de um animal. Ele acontece quando o corpo entra em contato com um material energizado. A corrente atravessa o corpo humano no sentido da terra. O choque elétrico pode causar diversas perturbações sendo que os efeitos destas variam e dependem, entre outros, de: Percurso da corrente elétrica pelo corpo; Tempo de duração do choque elétrico; Espécie da corrente elétrica; Freqüência da corrente elétrica; Intensidade da corrente elétrica; Tensão elétrica; Estado de umidade da pele; e Condições orgânicas do indivíduo. As perturbações no indivíduo, manifestam-se, entre outros, por: Inibição dos centros nervosos, inclusive dos que comandam a respiração produzindo, por exemplo, uma parada respiratória; Alteração no ritmo cardíaco, podendo produzir fibrilação ventricular e uma conseqüente parada cardíaca; Queimaduras profundas, produzindo necrose do tecido; e Alterações no sangue provocadas por efeitos térmicos e eletrolíticos da corrente elétrica. 13 Corrente elétrica é o deslocamento de cargas elétricas dentro de um condutor quando existe uma diferença de potencial elétrico (ou tensão elétrica) entre as suas extremidades. A tensão é medida em Volts. Por sua vez, a unidade da intensidade da corrente elét rica (ou fluxo elétrico) no condutor é o ampère. 131 CURSO DE RESGATE VEICULAR - 3ª EDIÇÃO Efeitos do choque elétrico em pessoas adulta, jovens e sadias Intensidade da corrente alternada que percorre o corpo (60 Hz) Perturbações possíveis durante o choque 1 miliampère Nenhuma 1 a 9 miliampéres Contrações musculares 9 a 20 miliampéres Sensações dolorosas. Contrações violentas. Asfixia. Anoxia. Anoxemia. Pertubações circulatórias. 20 a 100 miliampères Sensação insuportável. Contrações violentas. Anoxia. Anoxemia. Asfixia. Perturbações circulatórias graves, inclusive, às vezes, fibrilação ventricular Acima de 100 miliampères Asfixia imediata. Fibrilação ventricular. Alterações musculares. Queimaduras. Fonte: NISKIER, Julio; MACINTYRE, A. J. Instalações elétricas. Rio de Janeiro: LTC - Livros Técnicos e Científicos Editora S.A., 2000. Nota: (1) Ressalta-se que a tabela apresenta uma estimativa dos efeitos da corrente elétrica no corpo humano pois, para cada situação, há uma série de fatores que influenciam nas conseqüências daquela sobre este. (2) A título exemplificativo, que a corrente que passa por uma lâmpada incandescente de 60W em 120 Volts é de 500mA. 8.2.1 Arco elétrico O arco elétrico ocorre quando um materialconsiderado isolante fica exposto a uma grande diferença de cargas elétricas entre dois pontos, o suficiente para forçar a passagem de elétrons pelo mesmo. A ligação feita entre esses pontos cria uma "ponte" ou arco de elétrons visíveis a olho nu. Também é conhecido como arco voltaico. 8.2.2 Tensão de toque Refere-se ao contato direto de uma pessoa com um material energizado. É a diferença de potencial entre o ponto da estrutura metálica, situado ao alcance da mão de uma pessoa e o ponto de contato do pé que toca o chão próximo da base desta estrutura. Ou seja, é a tensão elétrica existente entre o membro superior que toca a estrutura energizada e os membros inferiores, entre a palma da mão e o pé haverá uma diferença de potencial chamada de tensão de toque. Tensão de toque 132 CURSO DE RESGATE VEICULAR - 3ª EDIÇÃO 8.2.3 Tensão de passo Quando uma corrente elétrica é descarregada no solo ela forma um gradiente de tensão, com isto, o ponto de contato no solo com o condutor ou com a descarga atmosférica fica como o maior valor e, à medida que se distancia deste ponto, a tensão fica menor. A tensão de passo é a diferença de potencial existente entre os dois pés em uma área energizada. Ela ocorre quando os membros de apoio tocam o chão energizado que apresenta diferenças de potencial. Isto pode acontecer quando os membros se encontrarem sobre linhas equipotenciais diferentes, as quais se formam na superfície do solo quando do escoamento da corrente elétrica. Contudo, não haverá a tensão de passo se os dois pés estiverem juntos e sobre a mesma linha equipotencial ou se um único pé estiver sendo usado para apoio. Se uma pessoa correr em uma região energizada ficará sob a influência da diferença de potencial entre dois pontos e, conseqüentemente, fará com que haja circulação de corrente através das duas pernas. Se houver necessidade de deslocamento, o ideal é fazê-lo em apenas um pé, através de saltos com os pés juntos ou em pequenos passos (de forma que um pé não ultrapasse o outro). Ressalta-se que a corrente elétrica, devido à tensão de passo, contrai os músculos dos membros inferiores, fazendo a pessoa cair e, ao tocar no solo com as mãos, a tensão se transforma em tensão de toque. Neste caso, o risco será maior porque o coração estará no percurso da corrente. Tensão de passo de um raio 133 CURSO DE RESGATE VEICULAR - 3ª EDIÇÃO 8.3 REGULAMENTAÇÃO DE SEGURANÇA EM INSTALAÇÕES E SERVIÇOS EM ELETRICIDADE (NR-10) Preliminarmente, comunica-se que não se discutirá no presente tópico a obrigatoriedade ou não do CBMDF cumprir a NR-10, bem como se pode ou ser fiscalizado pelo Ministério do Trabalho e Emprego no que tange a procedimentos emergenciais envolvendo energia elétrica. Objetiva-se, com o texto abaixo, trazer à tona procedimentos de segurança que devem ser obrigatoriamente seguidos por aqueles que trabalham com materiais energizados, como é o caso dos empregados da Companhia Energética de Brasília - CEB. Assim, o Comandante de Incidente que atender a sinistro envolvendo fiação de alta tensão caída sobre veículo poderá atentar para a inobservância de ação que poderá resultar em riscos para a sua equipe. A Norma Regulamentadora nº 10, de 08 de junho de 1978, do Ministério do Trabalho e Emprego, estabelece os requisitos e as condições mínimas de forma a garantir a segurança e a saúde dos profissionais que, direta ou indiretamente, interajam com instalações elétricas e serviços com eletricidade. Consta na referida norma que a medida prioritária de proteção coletiva nas intervenções em instalações elétricas é a sua desenergização. Na impossibilidade de realizar esta ação, devem ser adotadas outras medidas, por exemplo, o emprego da tensão de segurança14, a implantação de barreiras, sinalização etc. O item 10.5.1, da NR-10, reza que somente serão consideradas desenergizadas as instalações elétricas liberadas para trabalho mediante a observância da seguinte seqüência: 14 Existem serviços que, por características técnicas, não é possível realizar a desenergização da instalação, devendo-se empregar, então, a tensão de segurança como segunda alternativa de proteção coletiva. Isto implica em trabalhar com o uso da extra baixa tensão, ou seja, com tensão não superior a 50 Volts em corrente alternada ou 120 Vots em corrente cont ínua na execução do respectivo serviço. Contudo, segundo Cunha (2010, p. 20), esta medida só é aplicável quando as instalações que estiverem sofrendo a intervenção forem alimentadas com tensão de segurança. 134 CURSO DE RESGATE VEICULAR - 3ª EDIÇÃO a) Seccionamento É a ação que visa eliminar a alimentação de uma instalação elétrica ou de sua parte, separando-a de uma fonte de energia elétrica. É realizado por meio da abertura de um dispositivo mecânico (chave seccionadora, interruptor, disjuntor etc). Tal abertura pode ser feita por meios manuais ou automáticos. b) Impedimento de reenergização Tem como objetivo impedir a reversão indesejada do seccionamento anteriormente efetuado. Tal procedimento deve ser realizado por meio do bloqueio do dispositivo de seccionamento através da aplicação de travas, como com o uso de cadeado, de fechadura, com a interposição elemento isolante entre os contatos etc. c) Constatação da ausência de tensão A verificação da ausência de tensão tem por finalidade comprovar a ausência de tensão na instalação elétrica onde se irá trabalhar. É feita com medidores apropriados. d) Instalação de aterramento temporário com eqüipotencialização dos condutores do circuito O aterramento temporário com eqüipotencialização dos condutores do circuito é a medida preventiva que garante a manutenção da segurança durante o todo o tempo em que durar o trabalho nas instalações. Os condutores estão: a) aterrados, quando estão diretamente conectados à terra mediante elementos condutores contínuos, sem soldas e nem conectores; b) em curto-circuito, quando todos os seus elementos condutores estão conectados entre si; e c) eqüipotencializado quando estão curtocircuitados e aterrados. Assim, constatada a inexistência de tensão, um condutor do conjunto de aterramento temporário deverá ser ligado à terra e ao neutro do sistema, 135 CURSO DE RESGATE VEICULAR - 3ª EDIÇÃO quando houver. Na seqüência, deverão ser conectadas as garras de aterramento aos condutores fase, previamente desligados. e) Proteção dos elementos energizados Todos os itens energizados que estiverem na zona quente, para se evitar toques acidentais, devem ser protegidos com materiais isolantes, por exemplo, com mantas. A instalação destes é realizada à distância, com o auxílio de bastões de manobra e por trabalhadores autorizados a trabalhar com instalações energizadas. f) Instalação da sinalização de impedimento de reenergização A última etapa do processo de desenergização é a instalação da sinalização de impedimento de reenergização, por exemplo, com cartazes, placas, adesivos, etiquetas etc, nos equipamentos que foram previamente seccionados e bloqueados. Ressalta-se que todos os itens elencados (de “a” até “f”) devem, obrigatoriamente, ser observados para se considerar que não há energia no local no qual se pretende atuar. No item seguinte, o de número 10.5.2, está disposto que o estado de instalação desenergizada deve ser mantido até a autorização para reenergização, devendo ser reenergizada respeitando-se a seguinte seqüência de procedimentos: a) retirada das ferramentas, utensílios e equipamentos; b) retirada da área de risco de todos os trabalhadores não envolvidos no processo de reenergização; c) remoção do aterramento temporário e proteções adicionais; e d) destravamento, se houver, e religação dosdispositivos de seccionamento. Contudo, conforme o item 10.5.3, as medidas elencadas nos itens 10.5.1 e 10.5.2 podem ser alteradas, substituídas, ampliadas ou eliminadas, em função das peculiaridades de cada situação. Mas isto somente pode ser feito por profissional legalmente habilitado, autorizado e mediante justificativa técnica 136 CURSO DE RESGATE VEICULAR - 3ª EDIÇÃO previamente formalizada, desde que seja mantido o mesmo nível de segurança originalmente preconizado. Ou seja, os procedimentos dispostos nos dois parágrafos anteriores podem ser modificados, entretanto, a alternativa deverá está previamente regulamentada e a execução da tarefa ser feita apenas por profissional habilitado. As intervenções em instalações elétricas com tensão igual ou superior a 50 Volts em corrente alternada ou superior a 120 Volts em corrente contínua somente podem ser realizadas pelos seguintes profissionais: a) Trabalhador qualificado, o que possuir comprovada conclusão de curso específico na área elétrica reconhecido pelo sistema oficial de ensino. Neste aspecto, o Ministério do Trabalho (2010, p. 60) especifica que: São entendidos como trabalhadores qualificados aqueles que receberam instrução específica em cursos reconhecidos e autorizados pelo Ministério da Educação e Cultura, com currículo aprovado e que comprovaram aproveitamento mediante exames e avaliação pré-estabelecida e por essa razão receberam um diploma, um certificado. Nesta categoria se encaixam, alem dos profissionais de nível superior e nível médio, com profissões regulamentadas, as pessoas que adquiriram conhecimento que lhes permitiu ter uma ocupação profissional, os eletricistas montadores, eletricistas de manutenção, e outros. b) Profissional legalmente habilitado, o que é previamente qualificado e com registro no respectivo conselho de classe. Sobre este, o Ministério do Trabalho (2010, p. 60) esclarece que: Para que as pessoas qualificadas sejam consideradas profissionais habilitados devem preencher as formalidades de registro nos respectivos conselhos regionais de fiscalização do exercício profissional. É o conselho profissional quem estabelece as atribuições e responsabilidades de cada qualificação em função dos cursos, cargas horárias e matérias ministradas. São os conselhos profissionais que habilitam os profissionais com nível médio e superior (técnicos, tecnólogos e engenheiros). A regularidade do registro junto ao conselho competente é que resulta na habilitação. c) Trabalhador capacitado, aquele que tenha recebido a respectiva capacitação sob a supervisão de profissional habilitado e autorizado e que trabalhe sob a responsabilidade deste. O Ministério do Trabalho (2010, p. 60) explica que: Capacitado é o trabalhador que embora não tenha freqüentado cursos regulares ou reconhecidos pelo sistema oficial de ensino, 137 CURSO DE RESGATE VEICULAR - 3ª EDIÇÃO tornou-se apto ao exerc ício de atividades específicas mediante a aquisição de conhecimentos e desenvolvimento de habilidades, na forma das alíneas abaixo. a) receba capacitação sob orientação e responsabilidade de profissional habilitado e autorizado; A aquisição de conhecimentos e o desenvolvimento das capacidades deverá acontecer sob responsabilidade de um profissional legalmente habilitado conforme definido acima e que tenha sido também autorizado pela própria empresa da forma com estará estabelecido mais adiante. Este profissional legalmente habilitado e autorizado é que estabelecerá as limitações de atividades a serem realizadas pelo capacitado. [...] b) trabalhe sob a responsabilidade de profissional habilitado e autorizado. O trabalhador capacitado só poderá exercer as atividades sob responsabilidade de um profissional legalmente habilitado e autorizado [...], não sendo necessário que este profissional seja o mesmo que o capacitou. (grifo nosso) Somente serão considerados autorizados a trabalhar em instalações elétricas os profissionais qualificados, capacitados e os habilitados, mas desde que tenham recebido a respectiva anuência formal da respectiva instituição na qual exerce as suas funções, bem como tenham participado, com aproveitamento, de pelo menos curso básico, com carga horária mínima de 40 horas, em segurança em instalações e serviços com eletricidade. Há também a exigência de que tais profissionais passem por reciclagem bienal. A NR nº 10, do Ministério do Trabalho, no item 10.7.6, é taxativa no sentido de que os serviços em instalações elétricas energizadas em alta tensão somente podem ser realizados quando houver procedimentos específicos, detalhados e assinados por profissional autorizado. Ademais, segundo o item 10.11.1, da NR-10, ratifica que os serviços em instalações elétricas devem ser planejados e realizados em conformidade com procedimentos de trabalho específicos, padronizados, com descrição detalhada de cada tarefa, devidamente assinada por profissional autorizado. Por último, informa-se que, de acordo com o item 10.7.8, da NR-10, os equipamentos, ferramentas e dispositivos isolantes ou equipados com materiais isolantes, destinados ao trabalho em alta tensão, devem ser submetidos a testes elétricos ou ensaios de laboratórios periódicos, 138 CURSO DE RESGATE VEICULAR - 3ª EDIÇÃO obedecendo-se as especificações do fabricante, os procedimentos da empresa e na ausência desses, anualmente. 8.4 PROCEDIMENTOS GERAIS NO CASO DE FIOS PENDURADOS, CAÍDOS OU BAIXOS 1) Antes de sair da viatura Examinar o ambiente com cuidado e verificar se não há fios caídos onde se estaciona. Se for à noite, usar uma lanterna para examinar, da janela da viatura, o ambiente. Para longe de fios caídos, a distância mínima recomendada é de 10 (dez) metros a partir do fio caído ou do objeto condutor que está em contato com o mesmo. 2) Manter-se a pelo menos 10 metros de distância (raio da zona quente) No caso de acidentes automobilísticos envolvendo energia elétrica, a zona quente deverá possuir um raio de no mínimo 10 (dez) metros a partir do ponto energizado. A entrada na zona quente só é permitida aos técnicos da companhia de energia local e com a adoção de técnicas e instrumentos apropriados. Para evitar a formação de arco elétrico é proibida a utilização de ferramentas e adornos metálicos na zona quente. Deve-se tentar localizar todas as extremidades do fio. Elas podem estar no solo ou em suspensão no ar. Se um fio energizado toca um carro, caminhão, cerca de metal ou qualquer outro objeto condutor, este objeto também será capaz de matar pessoas. Uma piscina com água também será mortal se um fio energizado cair nela. Antes de sair da viatura 139 CURSO DE RESGATE VEICULAR - 3ª EDIÇÃO 3) Estabelecer perímetros de segurança O Comandante do Incidente deverá estabelecer as zonas de trabalho. Destaca- se que o somatório da distância das zonas quente e morna deverá possuir um raio de pelo menos 15 metros do ponto energizado. Todavia, ante a uma eventual avaria em poste atingido por automóvel, em decorrência da possibilidade da sua queda, há que se considerar a conveniência de aumentar a área de segurança. Recorda-se também que, se um fio energizado cair sobre uma cerca de metal ou outro objeto condutor, a eletricidade pode ser transportada a pontos distantes. Deve-se assegurar de que todos os objetos potencialmente eletrificados não são acessíveis. Deve-se informar outras equipes de emergência dos perigos e riscos. 4) Isolar a área Deve-se manter transeuntes longe de fios baixos, pendurados ou de outros objetos eletricamente carregados. Fios energizados podem causar queimaduras, ferimentos, choque ou morte. 5) Sempre considerar que os fios estão energizados A princípio, por meio de dispositivos de segurançaque compõem o sistema de distribuição de energia, ao ser detectada uma falha, ocorre o desligamento Procurar as extremidades dos fios 140 CURSO DE RESGATE VEICULAR - 3ª EDIÇÃO automático da rede. Contudo, o Comandante do Incidente deve por meio da CIADE obter a confirmação de que o lugar está sem energia ou solicitar o desligamento da energia na área do incidente , bem como requerer a presença de uma equipe da companhia energética para o local do incidente. Para agilizar o atendimento, além do endereço, pode-se, se possível, fornecer à CIADE o número do transformador mais próximo do lugar do acidente. Dever-se permanecer em área segura até que os técnicos da companhia energética presentes no local confirmem que a cena está isenta de qualquer risco relativo à energia elétrica. Mesmo com isto, o isolamento mínimo de 15 (quinze) metros deverá ser mantido. 6) Não tentar mover fios caídos Qualquer movimentação com fios de energia deve ser feita somente pelos técnicos da companhia de energia local. A intervenção em acidente automobilístico que envolva energia elétrica somente pode ser realizada mediante a desenergização da rede elétrica local, procedimento a ser feito por técnicos da companhia energética local. No caso do surgimento de eventual risco, a operação deve ser imediatamente interrompida. Ademais, quando se suspeita da presença de eletricidade no local não se admite dúvida, exige -se conhecimento técnico especializado e materiais específicos, qualquer erro pode ser fatal. 8.5 PROCEDIMENTOS GERAIS NO CASO DE ACIDENTES AUTOMOBILÍSTICOS ENVOLVENDO ENERGIA ELÉTRICA 8.5.1 Estabelecendo a comunicação com as vítimas As frases a seguir são sugeridas para uso na comunicação com as pessoas envolvidas em situações de emergência, como acidentes automobilísticos que envolvem linhas de distribuição de energia, equipamentos ou instalações elétricas. 141 CURSO DE RESGATE VEICULAR - 3ª EDIÇÃO Frases Destinatários Fique no veículo e com as mãos e pés junto ao corpo, estamos efetuando contato com a concessionária de energia elétrica. Dita para pessoas que estejam no interior de veículo em contato com linhas de energia, pois podem ficar em risco se deixarem o automóvel. O chão está energizado e você pode tomar um choque. Dita para ocupantes de veículos em contato com linhas de energia e pessoas próximas da área de segurança. Transeuntes devem ficar longe de linhas de energia derrubadas. 8.5.2 Salvamento de ocupantes de veículos em contato com energia elétrica Situação Ações Um fio caído sobre ou sob um veículo com uma ou mais pessoas dentro. 1. Avaliar a situação a pelo menos 10 metros de distância. Realizar a verificação de dentro do veículo de resgate aumenta a margem de segurança. Se o fio estiver energizado há possibilidade de elet rocussão. 2. Determinar a área de segurança e isolar o local. 3. Manter-se longe dos pneus, no caso de fogo podem explodir. 4. Ligar para a concessionária de energia elétrica local. O condutor é capaz de mover o veículo. 1. Certificar-se de que todos os presentes não estão em uma posição de risco no caso de o fio se movimentar durante (ou após) a locomoção do veículo. 2. Instruir o motorista a se mover de forma muito lenta, devendo deixar o carro longe do fio e de quaisquer poças de água ou objetos que possam estar energizados pelo fio. 3. Se os fios energizados são puxados pelo veículo, instruir o motorista a parar e ficar no seu interior até que o pessoal do serviço de energia chegue. 142 CURSO DE RESGATE VEICULAR - 3ª EDIÇÃO O condutor não é capaz de mover o veículo ou o veículo não se move. 1. Instruir o motorista para ficar no interior do veículo até o pessoal da concessionária de energia elétrica chegar. 2. Monitorar a zona de segurança, protegendo a área de riscos adicionais e mantendo curiosos longe da cena. 3. Os pneus de um veículo, se aquecidos, podem pegar fogo ou explodir. Contudo, não é aconselhável deixar o veículo, exceto em caso de incêndio. As vítimas estão inconscientes e há fios caídos sob ou sobre o veículo ou estes estão suspensos e perto do veículo. 1. Determinar a área de segurança e monitorá-la continuamente, protegendo-a de riscos adicionais e mantendo curiosos longe da cena. 2. Ligar para a concessionária de energia elétrica local. 3. Monitorar qualquer mudança na situação. 4. Instruir qualquer vítima, que eventualmente recupere a consciência, para que fique no interior do veículo até que o fio esteja sem energia. 5. Não adotar medidas que coloquem em risco sua própria vida ou a dos outros. O ocupante não está ferido e o veículo não pode ser movido e possui um foco de incêndio. (ver ilustração abaixo) 1. Explicar ao ocupante que entrar em contato com o veículo e solo ao mesmo tempo poderá matá-lo. 2. Instruir o ocupante a dar um salto para fora do veículo e se afastar do mesmo. Diga-lhe: "Mantenha os dois pés juntos e salte para fora do veículo. Não toque o carro quando os pés entrarem em contato com o solo. Após, efetue pulos curtos, mantendo ambos os pés juntos. Mova-se desta forma para longe do carro para pelo menos 10 metros”. Caso haja mais de um ocupante, estes não devem entrar em contato físico um com o outro. 3. Instruir o ocupante ao longo da execução dos procedimentos. Efetuar um salto para fora de um veículo energizado é muito perigoso e só deve ser tentado quando não houver outra alternativa como no caso de um incêndio no veículo. O estado do automóvel e as condições do ocupante também devem ser considerados. 143 CURSO DE RESGATE VEICULAR - 3ª EDIÇÃO 8.6 Observações especiais 8.6.1 Gaiola de Faraday Gaiola de Faraday é a denominação pela qual se tornou conhecida uma experiência realizada por Michael Faraday, no ano de 1.836, para demonstrar que uma superfície condutora eletrificada possui campo elétrico nulo no seu interior. Isto ocorre porque as cargas se distribuem de forma homogênea na parte mais externa da superfície condutora, deixando de haver manifestações de fenômenos elétricos no seu interior. Com isto, se, por exemplo, o condutor for oco as cargas serão distribuídas pela superfície externa, concentrando-se na sua periferia e os efeitos de campo elétrico criados no interior deste condutor acabarão se anulando. Para provar isto, Faraday construiu uma gaiola de metal que foi energizada com alta voltagem, sendo que o próprio Faraday entrou na gaiola para provar que seu interior era seguro. Quando a energia elétrica entra em contato com um automóvel não são necessariamente as borrachas dos pneus que garantem a segurança dos ocupantes. Os pneus possibilitam isolamento até uma faixa de tensão que irá depender das características construtivas do mesmo (espessura, componentes etc). O que realmente assegura a integridade dos que estão no interior do veículo decorre dos efeitos provados na experiência de Faraday. As cargas elétricas se espalham pela superfície metálica externa do automóvel sem atingir seus ocupantes. Dependendo da intensidade da corrente elétrica, como no caso de relâmpagos, a energia Teste de descarga atmosférica em um Mercedes-Benz Classe CLK Cabriolet 144 CURSO DE RESGATE VEICULAR - 3ª EDIÇÃO poderá saltar, por meio de arcos elétricos, da lataria do veículo ou das partes metálicas das rodas diretamente para o solo. 8.6.2 Vias públicas com guarda-corpo de metal Existem vias públicas dotadas de guarda-corpo (guardrail) de metal, que usualmente é empregado para delimitação de áreas ou para proteção em locais perigosos de uma via, como os empregados para prevenir quedas do alto de viadutos ou pontes. Fios elétricos caídos e em contato com este tipo de proteção é uma circunstância quetrás riscos aos profissionais de resgate haja vista que a energia pode ser conduzida por longas distâncias através do guarda-corpo. 8.6.3 Pneus de veículos em contato com eletricidade Pneus de veículos em contato com alta tensão podem sofrer danos internos. A energia elétrica que flui através do pneu provoca decomposição química e ocasiona a pirólise. Isto pode resultar em explosão repentina do pneu e na conseqüente projeção de estilhaços ou em incêndio. Quanto maior for o pneu, maior será a sua explosão. Em virtude disto, a aproximação do automóvel deve ser feita com um ângulo que permita uma abordagem segura. 145 CURSO DE RESGATE VEICULAR - 3ª EDIÇÃO 9 VEÍCULO MOVIDO A GÁS NATURAL VEICULAR (GNV) O presente capítulo tem como finalidade: - Discorrer sobre as principais características e riscos do sistema de GNV; - Orientar quanto reconhecimento dos principais componentes da instalação de um sistema de GNV; e - Apresentar os principais procedimentos a serem empregados na hipótese de incidentes envolvendo um automóvel movido a GNV. 9.1 VEÍCULO MOVIDO A GÁS NATURAL VEICULAR (GNV) No fim da década de 80 e início da década de 90 houve a edição de normas nacionais que autorizavam o uso de gás natural em frotas de táxis, de ônibus, de empresas, de serviços públicos e de transporte de carga, bem como a permissão para o fornecimento de gás natural para fins automotivos em postos de abastecimento. Somente em 1996 é que foi editado regramento que autorizou o uso do gás natural em veículos automotores em geral, no caso o Decreto nº 1.787, de 12 de janeiro de 1996, e, com o passar dos anos houve o aumento do consumo e da oferta de gás natural para fins de utilização em automóveis. Uma vantagem do gás natural veicular (GNV) está diretamente relacionada ao meio ambiente pois é menos poluente do que os demais combustíveis derivados do petróleo. Por propiciar uma combustão mais efetiva, os poluentes expelidos pelo escapamento são reduzidos em até 80%. Outro benefício é relativo à redução dos gastos com manutenção, pois desde que cumpridas suas condições de uso, não gera resíduos nos bicos injetores, o processo de queima não produz carbonização na câmara de combustão, proporciona uma melhor lubrificação do motor, amplia o intervalo entre as trocas do óleo do motor, do filtro de óleo e das velas de ignição, e ainda aumenta a vida úti l do motor. 146 CURSO DE RESGATE VEICULAR - 3ª EDIÇÃO Em comparação aos combustíveis líquidos tradicionais, o GNV gera economia nas despesas com abastecimento. Afirma-se isto ante ao fato de que rende em torno de 30% a mais que a gasolina e 50% a mais que o álcool. Destaca-se também por possuir preço menor quando comparado aos demais combustíveis. Legenda Quanto um carro faz em quilômetros por litro de gasolina ou álcool. Tamanho dos cilindros de GNV. Autonomia média em quilômetros rodados. Quanto um carro faz em quilômetros por metro cúbico de GNV. Se infere da tabela acima, por exemplo, que se um automóvel for abastecido com gasolina irá fazer, em média, 10 Km/l e se o seu combustível for o GNV irá ter um rendimento aproximado de 13 Km/m³. Logo, se este veículo possuir um cilindro de 15 m³ de gás irá rodar cerca de 195 quilômetros. Tais benefícios fazem com que o mercado de GNV cresça de forma contínua, sobretudo de empresas especializadas na instalação do kit de conversão para GNV. Por oportuno, informa-se que a comercialização, instalação, manutenção ou remoção dos dispositivos de uma sistema de GNV são feitos por oficinas registradas no INMETRO (Instituto Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial). Mas além da alternativa de converter um automóvel para Comparativo do rendimento gasolina x álcool x GNV 147 CURSO DE RESGATE VEICULAR - 3ª EDIÇÃO GNV, outra forma para possuir um carro movido a GNV é comprá-lo diretamente da fábrica, quando esta oferecer tal opção. O Gás Natural Veicular (GNV) é uma mistura de hidrocarbonetos leves que, em condições normais de pressão e temperatura, permanece no estado gasoso e é utilizada como combustível em automóveis, sendo o gás metano o seu componente predominante. As principais características do GNV são: O composto principal é o gás metano (CH4); À temperatura e pressão atmosférica ambiente permanece no estado gasoso; Incolor e mais leve que o ar; Gás inflamável e armazenado sob alta pressão; e A ANP normatiza que a pressão máxima do abastecimento em posto é de 220 bar. Por ser o gás metano o principal componente do GNV tem-se que no interior de um cilindro existente em um automóvel este combustível se encontra no estado gasoso. Explica-se isto ante ao fato de que o gás metano não se liquefaz à pressão de 220 bar. E no que diz respeito à sua forma de transporte para os postos de abastecimento, ele se dá de duas maneiras: no estado gasoso, quando em baixa pressão, por meio de gás odulto ou em caminhões tanque, ou no estado líquido, por meio de caminhões tanque. Para atingir o estado líquido, o gás passa por um processo de resfriamento, cuja temperatura atinge -162 ºC, momento a partir do qual se liquefaz, tendo, então, seu volume reduzido em 600 vezes. Ademais, as características acima apontadas expõem alguns dos riscos que este tipo de combustível apresenta, sendo eles: inflamabilidade15; há risco de explosão no caso de ignição em ambiente fechado e com acúmulo de GNV; há risco de explosão do cilindro, se exposto a altas temperaturas; o fato de ser 15 Possui inflamabilidade reduzida quando comparado a outros combustíveis. Neste sentido, cita-se, como exemplo, que o ponto de ignição do GNV é 620ºC, enquanto o da gasolina a 257 ºC. 148 CURSO DE RESGATE VEICULAR - 3ª EDIÇÃO incolor dificulta a identificação visual de eventual vazamento, o que pode resultar em irritação nas vias aéreas, tosse, dor de cabeça, náusea, vômito, sonolência, vertigem, confusão mental, alteração na capacidade de julgamento, cianose, sensação de desmaio, perda de consciência e, em elevadas concentrações, asfixia e/ou morte. Noutro giro, o fato de ser mais leve que o ar facilita a execução das ações em um incidente haja vista a facilidade de sua dispersão. Por último, informa-se que o gás natural no seu estado original é inodoro. Tal substância, ao passar por processo industrial para formar o GNV recebe o acréscimo, entre outros, de gás odorante. A adição deste visa tornar eventual vazamento de GNV detectável por meio do odor. 9.1.1 Principais componentes da instalação de um sistema de GNV A instalação das peças e equipamentos de um sistema de GNV deve seguir regulamentações técnicas do INMETRO. No mesmo sentido, tem-se que a fabricação e a revisão dos seus principais componentes deverão adotar padrões pré-estabelecidos tanto pelo INMETRO quanto pela ABNT. Um sistema de GNV, que hoje se encontra na 5ª geração, possui diversos componentes, contudo, os que mais interessam ao serviço de salvamento, pelo fato de facilitarem a identificação de que o veículo é movido a GNV, são os que aparecem na figura ao lado. Principais componentes da instalação de um sistema de GNV 149 CURSO DE RESGATE VEICULAR - 3ª EDIÇÃO 9.1.1.1 Cilindro de armazenamento de GNV A função do cilindro é a de armazenar o GNV, sendo fixado na estrutura do veículo por meio de um suporte apropriado de metal ou similar. Esta fixação não poderá ocorrer por meio de solda. O automóvel pode ter um ou mais cilindros. Quanto ao cilindro têm-se as seguintes características: Cor regulamenta (NBR 12176): AMARELA; Tipos: > GNV-1: cilindro integralmente em material metálico, feito em aço ou alumínio. Ruptura do cilindro:a partir de 450 bar; > GNV-2: ci lindro não metálico, com liner16 metálico (aço ou alumínio), reforçado com material compósito17, filamentos contínuos de fibras, envoltos circunferencialmente, impregnados de resina polimérica. Ruptura do cilindro: se feito de fibra de vidro, a partir de 500 bar, ou se feito de aramida ou carbono, a partir de 470 bar; > GNV-3: cilindro não metálico, com liner metálico (aço ou alumínio) reforçado com material compósito, com filamentos contínuos de fibra, enrolados tanto circunferencialmente quanto na direção do eixo do cilindro (totalmente envoltos), impregnados em resina polimérica. Ruptura do cilindro: se feito de fibra de vidro, a partir de 700 bar, se feito de aramida, a partir de 600 bar, ou carbono, a partir de 470 bar; e > GNV-4: ci lindro não metálico, com liner não-metálico (polimérico), fabricado integralmente em material compósito, através de filamentos contínuos de fibras, impregnados de resina 16 Conforme descrito pelo INMETRO, na Portaria n.º 298, de 21 de agosto de 2008, o liner é um reservatório utilizado como casco interno, impermeável ao gás, onde são enrolados filamentos de reforço de fibra para que o conjunto alcance a necessária resistência. Dois tipos de liners são descritos no mencionado regulamento técnico: os liners metálicos, que são projetados para dividir a carga com o reforço, e os liners não metálicos, que não suportam carga em nenhuma parte. 17 Quanto às resinas tem-se que o material para impregnação pode ser termofixo ou resina termoplástica. Exemplos de materiais-matrizes adequados são epoxi, epoxi modificado, plásticos termofixos (poliéster e viniléster) e materiais termoplásticos (polietileno e poliamida). No que tange às fibras, o tipo de material dos filamentos para o reforço estrutural deve ser de fibra-de-vidro, fibra de aramida ou fibra de carbono. 150 CURSO DE RESGATE VEICULAR - 3ª EDIÇÃO polimérica. Ruptura do cilindro: se feito de fibra de vidro, a partir de 730 bar, se feito de aramida, a partir de 620 bar, ou carbono, a partir de 470 bar. Pressão de serviço, independentemente do tipo de cilindro: 200 bar e temperatura de 15º; Vida útil do ci lindro: a vida útil em serviço admitida é de, no máximo, 20 (vinte) anos; Requalificação: processo de inspeção periódica do cilindro para armazenamento de gás natural veicular, a cada 05 (cinco) anos a partir da data de sua fabricação, que compreende as seguintes verificações: inspeção visual interna, inspeção visual externa, avaliação da massa (pesagem), inspeção da rosca e ensaio hidrostático. A capacidade de armazenamento varia conforme o tamanho do cilindro, a temperatura e a pressão de abastecimento: Pressão (bar) Temperatura (ºC) Capacidade (m³) Capacidade (Litros) 200 15 7,5 30 200 15 15 60 200 15 20 80 200 15 25 100 200 15 30 120 A localização do cilindro de GNV varia de veículo para veículo, contudo, devido ao seu tamanho, usualmente, são instalados no compartimento de carga. 9.1.1.2 Válvula do cilindro de GNV A válvula do cilindro de GNV é instalada no gargalo do mesmo e dispõe de pelo menos três mecanismos de segurança: 151 CURSO DE RESGATE VEICULAR - 3ª EDIÇÃO a) Registro de fechamento rápido, o qual permite, manualmente ou manualmente e eletricamente18, o fechamento total ou a abertura da saída do gás; b) Na parte interna há uma válvula que em caso de excesso de fluxo, o qual pode ocorrer com o rompimento de um componente da linha de alta pressão, restringe automaticamente a saída de gás a menos de 10% da vazão volumétrica, sem interrompê-lo totalmente. c) Mecanismo de segurança com a finalidade de automaticamente, em caso de aumento de temperatura e/ou de pressão do gás, liberar o conteúdo do cilindro para a atmosfera. Este mecanismo de alívio de sobrepressão pode ser: a) Válvula de alívio de pressão (VAP) Dispositivo de segurança de atuação dinâmica que possibilita o ajuste para abertura e fechamento, permitindo a descarga de GNV proveniente do cilindro, em intervalo de pressões pré-estabelecidas19. Para cilindros de aço, a pressão de ajuste é de 260 bar (26,0 MPa) e a de fechamento é de 240 bar (24,0 MPa). No corpo da válvula de alívio de pressão tais pressões devem ser indicadas. O orifício de descarga deve possuir diâmetro mínimo de 2 mm. Para cilindros feitos integralmente de aço a válvula de alívio de pressão deve ser projetada para permitir uma vazão mínima de 0,20 m³/minuto. No caso de cilindros construídos com a utilização de materiais compósitos, a vazão mínima deve ser especificada pelo fabricante. 18 O fechamento elétrico ocorre através de uma válvula solenóide. Esta possui uma bobina que, quando energizada, gera uma força magnética no seu centro, fazendo com que o êmbolo da válvula seja acionado, criando assim o sistema de abertura e fechamento. 19 Pressão de ajuste: pressão na qual a válvula de alívio de pressão deve ser regulada para início de abertura. Pressão de regime : pressão na qual a válvula de alívio de pressão deve estar totalmente aberta. Pressão de fechamento: pressão na qual a válvula de alívio de pressão deve estar totalmente fechada. 152 CURSO DE RESGATE VEICULAR - 3ª EDIÇÃO b) Dispositivo estático de alívio de pressão (DAP) Composto de uma combinação de um tampão fusível20 (de liga fundível) e disco de ruptura21. Estes atuam quando o cilindro é submetido a temperaturas entre 100ºC a 120ºC e a sua pressão interna ultrapassar a 300 bar (30MPa). Podem operar de forma independente ou combinada. Neste caso, a liga se funde, desobstruindo o canal de alívio, sendo o disco rompido pela pressão do gás, o que possibilita a sua saída. O orifício de descarga deve possuir diâmetro mínimo de 2 mm. Para cilindros feitos integralmente de aço a válvula de alívio de pressão deve ser projetada para permitir uma vazão mínima de 0,20 m³/minuto. No caso de cilindros construídos com a utilização de materiais compósitos a vazão mínima deve ser especificada pelo fabricante. Quando o cilindro de GNV for instalado em compartimento fechado de um automóvel, a válvula do cilindro pode ser do tipo auto ventilada, ou seja, dispor de um sistema interno de ventilação que permite o direcionamento, para a parte externa do veículo, de eventuais perdas do GNV. No caso do sistema de ventilação do cilindro ser constituído por válvula não ventilada há a necessidade de instalação de um invólucro, ou seja, de um 20 Componente constituído de uma liga fundível a temperaturas entre 100º C e 120º C para permitir a desobstrução do canal de alívio da válvula do cilindro. 21 Disco metálico que bloqueia o canal de alívio da válvula do cilindro. Atua através de seu rompimento, quando submetido à determinada faixa de pressão. Sistema de ventilação do cilindro com válvula do tipo ventilada e do tipo não ventilada 153 CURSO DE RESGATE VEICULAR - 3ª EDIÇÃO componente que envolva a válvula do cilindro e a sua conexão com a tubulação de alta pressão. Ressalta-se que o fechamento total do registro ou da válvula de alívio de pressão não impede o funcionamento do mecanismo de alívio de pressão do cilindro. Isto é, mesmo que um dos dois mecanismos (registro manual ou elétrico) de fechamento da válvula de cilindro bloqueando a saída de GNV, em caso de excesso de pressão no interior do cilindro, o gás poderá ser expelido para o exterior pelo acionamento do mecanismo de alívio de pressão. Por fim, é importante destacar que, quando instalado no interior do veículo, há a exigência de existir um meio que conduza o gás a ser liberado para o exterior do automóvel. 9.1.1.3 Válvulaautomática de corte de GNV Dispositivo de segurança de acionamento automático incorporado à válvula do cilindro ou à linha de alta pressão ou ao redutor de pressão, que possui a função de interromper o fluxo de GNV. Estando a chave comutadora posicionada para o uso de GNV, este é fornecido ao motor somente quando do seu funcionamento. Se o motor estiver parado, o fluxo de gás deve ser interrompido automaticamente pela válvula de corte de GNV. 9.1.1.4 Válvula de abastecimento É instalada no compartimento do motor e tem a finalidade de proporcionar o abastecimento do cilindro de GNV. Esta válvula conta com um mecanismo de retenção que impede que o gás existente na tubulação retorne para a fonte de abastecimento, evitando, com isso, que ocorram perdas de combustível. 154 CURSO DE RESGATE VEICULAR - 3ª EDIÇÃO A válvula de abastecimento liga a tubulação que sai do cilindro de GNV ao redutor de pressão. A peça em comento possui também um registro de fechamento rápido, de acionamento manual, geralmente pintado na cor vermelha ou verde, que permite interromper o fluxo de GNV para o motor. O INMETRO disciplina que, mesmo quando o automóvel possuir válvula de abastecimento externa, é necessário que seja instalada também no compartimento do motor. 9.1.1.5 Redutor de pressão ou válvula reguladora de pressão Peça que possui a função de reduzir a alta pressão do GNV armazenado no(s) cilindro(s) para a adequada à alimentação do motor. 9.1.1.6 Manômetro É um indicador de pressão, instalado entre a válvula de abastecimento e o redutor de pressão, com a finalidade indicar a pressão do gás que está sob alta pressão. 9.1.1.7 Tubulação Conjunto de tubos de aço, mangueiras e conexões destinados a conduzir o GNV entre os diversos componentes do sistema. São apropriados para alta ou baixa pressão conforme sua localização. A tubulação de baixa pressão destina-se a conduzir o GNV do redutor de pressão ao misturador ou injetor. Já a tubulação de alta pressão serve para ligar o GNV armazenado no cilindro à válvula de abastecimento e ao redutor de pressão. Ela é constituída por tubo de aço especial sem solda. A tubulação de alta pressão deve ser instalada em local distante das extremidades, na parte externa do assoalho e, quando 155 CURSO DE RESGATE VEICULAR - 3ª EDIÇÃO possível, seguindo o mesmo percurso dos tubos de fluído do freio e de combustível líquido, não sendo permitido o seu contato com metal. 9.1.1.8 Chave comutadora Fica instalada no habitáculo do veículo. Realiza a mudança do tipo de combustível, que pode ser de forma automática ou manual. Há modelos de comutadores que dispõe de leds que indicam a quantidade de gás combustível existente no cilindro. 9.1.2 Como identificar um veículo movido a GNV Um Bombeiro possui como itens que podem o auxiliar na identificação deste tipo de automóvel, entre outros, seguintes: Respectiva anotação no documento do veículo; Cilindro(s) de GNV; Manômetro; Válvula de abastecimento; e Chave comutadora. Ademais, a Portaria nº 49, de 24 de fevereiro de 2010, do INMETRO, dispõe que deve ser fixado no párabrisas ou portado junto com o documento do veículo um selo de identificação. O selo de identificação adotado pelo INMETRO deve ser preenchido e emitido por organismo de inspeção de segurança veicular ou entidade técnica pública ou paraestatal responsável por tal, após aprovação técnica das inspeções de segurança. Segundo a referida Portaria após a execução da inspeção anual do veículo com sistema de GNV, o qual deve ser instalado por empresa de conversão registrada no INMETRO ou por fabricante de veículos, a entidade responsável pela avaliação deve emitir um selo de identificação da conformidade. 156 CURSO DE RESGATE VEICULAR - 3ª EDIÇÃO 9.1.3 Procedimentos na hipótese de vazamento de GNV A eliminação do vazamento de GNV é uma medida de relevância ante à possibilidade de evolução do incidente. A princípio, um vazamento de GNV é interrompido de forma automática por um dos mecanismos de segurança instalado no registro do cilindro. Contudo, na hipótese de um resgate veicular no qual exista vazamento de GNV, o Comandante do Incidente deverá atentar, entre outros, para os seguintes procedimentos: Estacionar as viaturas a uma distância de pelo menos 50m, podendo esta distância ser maior conforme o vulto do incidente; Realizar o isolamento e a sinalização da área, com raio mínimo de 50 metros; Evacuar as edificações que estejam dentro do raio de isolamento; Utilizar equipamento de respiração autônoma de pressão positiva e EPI’s apropriados para combate a incêndio; Montar duas linhas de mangueiras de 1 ½” com esguichos reguláveis para dissipar o GNV, sendo que uma atuará, em caso de necessidade, como proteção da que estará mais próxima do veículo; Usar jato d’água neblinado para dissipar o GNV; Selo de identificação de um veículo movido a GNV 157 CURSO DE RESGATE VEICULAR - 3ª EDIÇÃO Aproximar-se, quando viável, pelo lado oposto ao compartimento de carga do veículo (local onde normalmente é instalado o cilindro do GNV), se possível, com o vento pelas costas. Assim, utiliza-se parte da estrutura do próprio veículo como meio de proteção no caso de eventual explosão do cilindro; Calçar o veículo para evitar a sua movimentação; Se possível, desligar o veículo; Eliminar possíveis fontes de ignição; Tentar parar o vazamento (válvula do cilindro e válvula de abastecimento) e continuar a ventilar a área; Não jogar água diretamente no ponto de vazamento ou em dispositivos de segurança, pois pode ocorrer congelamento22 dos mesmos; Evacuar o local em caso de aumento do som do dispositivo de segurança do ci lindro ou na hipótese de sua deformação; e Remover eventual vítima para um local arejado. 9.1.4 Procedimentos no caso de incêndio em um automóvel movido a GNV Caso haja incêndio em veículo movido a GNV, os seguintes procedimentos devem ser empregados pela equipe que atender a tal ocorrência: Estacionar as viaturas a uma distância de pelo menos 50m, podendo esta distância ser maior conforme o vulto do incidente; Realizar o isolamento e a sinalização da área, com raio mínimo de 50 metros; Evacuar as edificações que estejam dentro do raio de isolamento; Utilizar equipamento de respiração autônoma de pressão positiva e EPI’s apropriados para combate a incêndio; 22 Quando há vazamento de um gás armazenado sob alta pressão há a possibilidade de ocorrer um fenômeno denominado de resfriamento por descompressão. Isto se dá pelo fato de ocorrer troca de temperatura no ponto onde há a rápida passagem de uma pressão elevada para outra inferior, no caso, para a pressão ambiente. 158 CURSO DE RESGATE VEICULAR - 3ª EDIÇÃO Montar duas linhas de mangueiras de 1 ½” com esguichos reguláveis para combate ao fogo, sendo que uma também atuará, em caso de necessidade, como proteção da que estará mais próxima do veículo ; Aproximar-se, quando viável, pelo lado oposto ao compartimento de carga do veículo (local onde normalmente é instalado o cilindro do GNV), se possível, com o vento pelas costas. Assim, utiliza-se parte da estrutura do próprio veículo como meio de proteção no caso de eventual explosão do cilindro; Calçar o veículo para evitar a sua movimentação; Se possível, desligar o veículo; Eliminar possíveis fontes de ignição; Tentar interromper o fluxo de gás (se isto puder ser feito sem risco) e continuar a resfriar o cilindro. Todavia, um cilindro de GNV envolvido pelo fogo ou aquecido por irradiação nunca deverá ser fechado pelo seu registro, pois sua pressão interna aumentarárapidamente , o que poderá resultar em uma insuficiente vazão da pressão na hipótese de atuar apenas o mecanismo de alívio de pressão, conseqüentemente isso irá colaborar para provocar a explosão do mesmo. Portanto, quando o cilindro de GNV de um veículo estiver aquecido seu registro não deverá ser fechado, sendo feito junto à válvula de abastecimento, que se localiza, via de regra, no compartimento do motor; Combater o incêndio a uma distância de pelo menos 5 metros, três ou quatro pontos, deitado ou protegido contra eventual projeção de chamas ou explosão e, se possível, a favor do vento. Poderá ser uti lizada uma maior distância desde que o combate ao fogo seja efetivo ; Para tentar evitar possibilidade de explosão: usar o jato d’água neblinado para resfriar o veículo e/ou o cilindro. NUNCA usar o jato do tipo compacto no ci lindro de GNV. Um jato do tipo compacto sobre o cilindro aquecido poderia resultar na perda de sua resistência mecânica e, por conseguinte, ocasionar sua ruptura; Não jogar água diretamente no ponto de vazamento ou em dispositivos de segurança, pois pode ocorrer congelamento dos mesmos; 159 CURSO DE RESGATE VEICULAR - 3ª EDIÇÃO Se durante o combate ao incêndio não houver possibilidade de parar o vazamento de GNV com segurança, não extinguir as chamas que saem do cilindro ou da tubulação haja vista a possibilidade de ocorrer uma re- ignição explosiva; Resfriar o cilindro mesmo após a extinção do fogo no veículo; Evacuar o local em caso de aumento do som do dispositivo de segurança do cilindro ou na hipótese de mudança de cor ou deformação do mesmo; Se não for possível realizar as ações acima descritas, abandonar a área e deixar o veículo e o seu cilindro de GNV queimar. Nesta situação, utilizar o esguicho do tipo canhão ou, se exeqüível e não houver riscos, o esguicho canhão da viatura; Remover eventual vítima para um local arejado; e Além d’água e da espuma, os outros agentes extintores são o CO2 e o pó químico seco. Ressalta-se que em incêndios em automóveis de grande porte movidos a GNV há que ser analisada a necessidade de aumento das distâncias do isolamento e do combate ao incêndio. Por fim, destaca-se que os veículos movidos a GNV geralmente são abastecidos com outro tipo de combustível, existindo assim pelo menos um segundo reservatório no automóvel, o qual se destina ao armazenamento desta segunda opção. 160 CURSO DE RESGATE VEICULAR - 3ª EDIÇÃO 10 VEÍCULO ELÉTRICO (VE) E ELÉTRICO HÍBRIDO (VEH) O presente capítulo tem como objetivos: - Discorrer sobre as principais características e riscos de um VE e de um VEH; - Orientar quanto reconhecimento dos principais componentes da instalação de VE e de VEH; - Instruir quanto às formas básicas para se identificar um VE e um VEH; e - Apresentar os principais procedimentos a serem empregados na hipótese de incidentes envolvendo VE e VEH. 10.1 CONCEITO DE VEÍCULO ELÉTRICO (VE), HÍBRIDO (VH) E ELÉTRICO HÍBRIDO (VEH) A Comissão Eletrotécnica Internacional define o veículo elétrico como: Qualquer veículo movido por um motor de corrente elétrica, cuja energia é proveniente de uma bateria de armazenamento recarregável ou de outro dispositivo móvel de armazenamento de energia elét rica (recarregável com energia oriunda de uma fonte externa ao veículo, tal como um serviço público de distribuição de energia elétrica ou um sistema residencial), que é fabricado principalmente para uso em vias públicas, estradas ou rodovias. Com isto, pode-se afirmar que o veículo elétrico é um tipo de veículo que utiliza, para fins de tração, um motor elétrico, sendo que a sua energia é proveniente de uma ou de um conjunto de baterias recarregáveis em fonte elétrica externa como na rede elétrica. Quanto ao veículo elétrico híbrido tem-se primeiramente que a Comissão Eletrotécnica Internacional conceitua um sistema híbrido como um sistema multifontes, no qual há o emprego de pelo menos dois tipos de tecnologias. Ou seja, um sistema híbrido é o que possui duas ou mais fontes de energia sendo cada uma delas provenientes de diferentes tecnologias. Já que diz respeito ao veículo híbrido, a Comissão Econômica das Nações Unidas da Europa (UNECE) o define como aquele que é equipado com pelo menos duas fontes de energia para fins de tração. 161 CURSO DE RESGATE VEICULAR - 3ª EDIÇÃO Especificamente quanto ao VEH a Comissão Econômica das Nações Unidas da Europa adotou o seguinte conceito: “Um veículo elétrico híbrido é um veículo híbrido equipado com um sistema de tração elétrica e pelo menos uma outra fonte de energia para fins de tração”. Por oportuno, informa-se que algumas literaturas tratam os veículos elétricos híbridos simplesmente como veículos elétricos com autonomia estendida. Justifica-se isto pelo fato dos veículos elétricos puros, aqueles movidos unicamente por energia proveniente de bateria, via de regra, possuírem menor autonomia quando comparados aos que possuem conjugado outra fonte de energia como a combustível. 10.2 CLASSIFICAÇÃO DOS VEÍCULOS ELÉTRICOS HÍBRIDOS Quanto aos veículos elétricos híbridos, destaca-se que a propulsão pode ser feita: exclusivamente pelo motor a combustão interna; exclusivamente pelo motor elétrico; ou pela ação simultânea dos dois motores. O momento no qual o motor elétrico passa a funcionar depende da configuração adotada pelo fabricante, isto é, ele pode atuar em diversos momentos e não apenas em baixa velocidade. É justamente esta característica que repercute na classificação dos veículos elétricos híbridos. 10.2.1 Classificação dos VEH conforme o princípio de funcionamento a) Híbrido em série O motor a combustão interna não tem nenhuma conexão mecânica com as rodas, sua finalidade é apenas a de movimentar o gerador de eletricidade, que é utilizado para recarregar a bateria de alta tensão. Ou seja, o motor de combustão aciona o gerador elétrico que, por sua vez, gera energia para a bateria de alta tensão, que a utiliza para acionar o motor elétrico, o qual movimenta as rodas. Toda a tração do automóvel é originada 162 CURSO DE RESGATE VEICULAR - 3ª EDIÇÃO pelo motor elétrico, ou seja, o motor a combustão nunca movimenta diretamente o veículo. O sistema híbrido em série teve sua produção iniciada no ano 1997, com o Toyota Coaster. b) Híbrido em paralelo Possui duas fontes de potência para tracionar o veículo, o motor a combustão e o motor elétrico. Ambos se conectam à transmissão e podem movimentar o veículo. Os dois motores, tanto o elétrico quanto o de combustão podem ser utilizados para gerar força, ou seja, tanto um quanto o outro podem ativar a transmissão, de forma individual ou simultânea, e esta então movimentar as rodas. Logo, a propulsão do veículo elétrico híbrido em paralelo pode ser feita: Exclusivamente pelo motor a combustão interna; Exclusivamente pelo motor elétrico; ou Pela ação simultânea dos dois motores. Neste último caso, o motor elétrico é utilizado apenas a auxi liar o motor a combustão, quando é exigida uma maior potência. A forma de atuação destas duas fontes de energia depende da solicitação de carga do veículo. Veículo elétrico híbrido em série 163 CURSO DE RESGATE VEICULAR - 3ª EDIÇÃO Destaca-se que no híbrido em paralelo a bateria é carregada pelo motor elétrico, que passa a atuar como um gerador. Quando o motor elétrico estiver carregando as baterias, não pode ser utilizado simultaneamente para acionar as rodas do veículo. O motor elétrico pode funcionar ainda como gerador nas fases de desaceleração e de frenagem do veículo. Tipicamente, o sistema em paralelo mantém desligado o motor a combustão interna quando o veículo está em baixa velocidade ou parado.Em 1999 o modelo Honda Insight foi o primeiro híbrido em paralelo a ser produzido com a tecnologia IMA (integrated motor assist). Este possuía um pequeno motor elétrico de baixa potência, o que impossibilitava a condução somente em modo elétrico. Posteriormente surgiram híbridos em paralelo com motor elétrico mais potente, o que possibilitou que veículos deste tipo fossem tracionados somente em modo elétrico. Como exemplo cita-se o Honda Civic Hybrid, de 2006. c) Híbrido combinado ou misto No híbrido combinado ou misto os dois motores podem tracionar o veículo de forma independente ou conjugados. Nesta configuração utilizam-se aspectos do sistema em série e do sistema em paralelo, objetivando -se extrair os benefícios que os dois sistemas possuem. Veículo elétrico híbrido em paralelo 164 CURSO DE RESGATE VEICULAR - 3ª EDIÇÃO No veículo elétrico híbrido combinado/misto o sistema permite a geração de energia necessária para movimentar as rodas, bem como simultaneamente a geração de eletricidade para carregar as baterias, utilizando um gerador, ao contrário do que ocorre no sistema híbrido em paralelo. Para movimentar um veículo elétrico combinado/misto o sistema pode utilizar: Somente o motor a combustão interna; Somente o motor elétrico; ou Os dois simultaneamente. Veículo elétrico híbrido combinado/misto Componentes básicos de um veículo elétrico híbrido do tipo combinado ou misto 165 CURSO DE RESGATE VEICULAR - 3ª EDIÇÃO 10.2.2 Classificação dos VEH conforme o grau em que o motor elétrico atua no sistema a) Híbrido mínimo (micro-hybrid ou stop/start): uti liza energia da bateria de alta tensão para o arranque do motor de combustão interna. Não fornece tração motora. b) Meio/leve/semi híbrido (mild hybrid): possuem motor elétrico de menor potência, logo o veículo não pode operar somente com o motor elétrico, usando-o apenas para fornecer assistência ao motor a combustão, inclusive na tração, sobretudo nos momentos de aceleração. c) Híbrido completo (full hybrid): pode se deslocar recorrendo a uma só fonte de energia, combustível ou eletricidade ou recorrendo às duas de forma simultânea. d) Plug-in: é um híbrido que possibilita a recarga da bateria de alta tensão através de uma tomada comum. O sistema “plug-in” permite o que é chamado de “vehicle to grid”, ou seja, se o veículo elétrico híbrido estiver com energia extra ele pode disponibilizar esta energia para uma rede de distribuição elétrica. Assim, por exemplo, com um “smart grid” (um gerenciador de fluxo de energia), um consumidor pode vender ou comprar energia de qualquer outro consumidor ligado à respectiva rede. Ante ao exposto, no que concerne à c lassificação dos elétricos híbridos conforme o grau em que o motor elétrico atua no sistema os tipos são apresentados, de resumida, na tabela a seguir. 166 CURSO DE RESGATE VEICULAR - 3ª EDIÇÃO FUNCIONALIDADE MICRO MEIO COMPLETO PLUG-IN Automaticamente liga/desliga o motor a combustão conforme o veículo anda/pára X X X X Usa um motor elétrico para auxiliar no arranque do motor a combustão X X X X Funcionalidade de freio regenerativo X X X X Usa um motor elétrico para auxiliar o motor a combustão na tração X X X Em alguns momentos pode ser tracionando apenas com o motor elétrico X X Recarrega a bateria através de uma rede X 10.3 AÇÕES EM CASO DE ACIDENTES ENVOLVENDO VE OU VEH Os veículos elétricos e os elétricos híbridos de porte leve mais comercializados possuem baterias de alta voltagem com cargas que variam de 101 a 370 Volts. É importante anotar que os VE e os VEH podem parecer que estão desligados quando estão parados. Contudo, poderão a qualquer momento mover-se ao usar o motor elétrico, que está em estado ativo. Para diminuir os riscos que existem em um resgate veicular envolvendo um VE ou um VEH, a equipe de salvamento deverá observar os seguintes passos: Notas: * Via de regra, os manuais dos veículos elétricos e dos elétricos híbridos orientam, como forma alternativa ao desligamento da bateria de 12 Volts, a retirada de um fusível específico da caixa de fusíveis. O desencaixe do mesmo corta a passagem da corrente de 12 Volts. Todavia, como a localização de tal dispositivo varia de veículo para veículo, tal procedimento IDENTIFICAR IMOBILIZAR DESARMAR Verificar se o veículo é elétrico ou elétrico híbrido Utilizar calços e o freio de estacionamento a) Desligar o veículo por meio do botão “Start/Stop” ou “Power” e/ou retirar a chave da ignição; b) Luzes do painel desligadas; c) Desconectar a bateria de 12 volts*; d) Retirar** o tampão de serviço e aguardar 10 minutos. Classificação dos veículos elétricos híbridos pelo nível de hibridização Verificar se o veículo é elétrico ou elétrico híbrido Utilizar calços e o freio de estacionamento a) Desligar o veículo por meio do botão “start/stop” ou “Power” e/ou retirar a chave da ignição; b) Luzes do painel desligadas; c) Desconectar a bateria de 12 volts*; e d) Retirar o tampão de serviço e aguardar 10 minutos**. 167 CURSO DE RESGATE VEICULAR - 3ª EDIÇÃO não será objeto de comento. Ademais, se as circunstâncias do incidente impossibilitarem o acesso do Bombeiro à bateria de 12 Volts, como medida variante, poder-se-á, se viável, a aproximação da caixa de fus íveis, proceder a RETIRADA DE TODOS OS SEUS FUSÍVEIS. ** Retirar o tampão de serviço entenda-se: efetivamente desencaixá-lo ou, conforme o padrão adotado pelo fabricante do automóvel, passar o interruptor de serviço para a posição OFF. 10.3.1 Como identificar um VE ou um VEH Uma forma de identificar um VE ou um VEH é por meio de símbolos dispostos sobre a capa do motor ou ao longo da lataria. Uma dificuldade com a qual a guarnição de socorro pode se deparar é a conversão de veículos comuns em VE ou VEH. Assevera-se isto ante ao fato de que os fabricantes de veículos adotaram padrões mínimos comuns quanto a estes tipos de veículos porém há proprietários de automóveis que convertem seus carros em VE ou VEH e não seguem tais padrões. Lembra-se ainda o fato de que os símbolos de identificação afixados na lataria podem não estar visíveis após uma colisão ou mesmo caírem após algum impacto. Toyota Prius - Símbolos que informam que o automóvel é um VEH 168 CURSO DE RESGATE VEICULAR - 3ª EDIÇÃO Outra forma de se identificar veículos elétricos ou veículos elétricos híbridos está relacionada aos cabos de alta voltagem, pois estes possuem sua capa na cor laranja. Com a finalidade de estarem protegidos, via de regra, estes cabos encontram-se situados na parte inferior do carro e dentro de um reforço do assoalho, num sítio que geralmente não é acessível ao pessoal de salvamento. Porém, isto não é regra, podendo tais cabos estar, por exemplo, entre o assoalho e o estofamento próximos da caixa de ar. Existem veículos elétricos híbridos, como o GM Malibu e o Saturn Vue que utilizam um sistema de 36 Volts que não é considerado de alta tensão, mas sim de tensão intermediária (30 a 60 Volts). Nestes são utilizados cabos na cor azul ao invés da cor laranja, que é a padrão nos veículos elétricos e elétricos híbridos, que usam o sistema de alta tensão. 10.3.2 Imobilização A imobilização de um VE ou VEH se dá por meio de calços e do acionamento do freio de estacionamento. Já no que concerne à estabilização de um VE ou de um VEH ressalta-se que deve ser evitada a colocação de apoios sob os componentes da alta tensão. Cabos de alta voltagem cobertos por proteção de cor laranja 169 CURSO DE RESGATE VEICULAR- 3ª EDIÇÃO 10.3.3 Desarmar o sistema elétrico a) Desligar a ignição e retirar a sua chave e desligar a bateria de 12 Volts Antes de desconectar a bateria de 12 Volts, se necessário, deve-se abrir os vidros elétricos, destravar as portas, abrir o porta-malas etc. Isto se deve ao fato de que botões ou interruptores de controle que dependem de energia para funcionar não irão mais operar após a desconexão da bateria de 12 Volts. Sempre olhar o painel de instrumentos, para verificar se o veículo está ligado ou desligado. O veículo estará desligado quando as luzes do painel de instrumentos estiverem apagadas. b) Retirar o tampão de serviço ou mudar o interruptor para OFF LUVAS COM ISOLAMENTO DE 1.000V TAMPÃO DE SERVIÇO Aguardar, pelo menos, 10 minutos para a total descarga dos capacitores A C B Retirada do tampão de serviço do Toyota Prius 170 CURSO DE RESGATE VEICULAR - 3ª EDIÇÃO Após a retirada do tampão de serviço deve-se entregá-lo ao Comandante do Incidente. Destaca-se que o sistema de alta tensão de um VE ou de um VEH pode permanecer energizado por até 10 minutos após ter sido desativado. Isto decorre do fato de existirem capacitores cuja finalidade é a de suprir o sistema com uma reserva extra de energia no caso de interrupção daquela proveniente da bateria de alta tensão. Assim, durante o procedimento de salvamento que seja realizado antes destes 10 minutos, para evitar ferimentos graves ou morte causados por queimaduras sérias ou choque elétrico, deve-se evitar tocar, cortar ou romper qualquer um dos cabos de alta tensão de cor laranja ou componente de alta tensão. Destaca-se que, após a desconexão do tampão de serviço ou desligamento do interruptor de serviço, como também da passagem do interregno de 10 minutos, a bateria de alta tensão ainda possuirá energia em seus módulos. Logo, nunca se deve tentar abrir a bateria de alta tensão . Do mesmo modo que ocorre com a bateria de 12 Volts, não há padrão quanto ao local de instalação do tampão ou, conforme a hipótese, do interruptor de serviço, cada fabricante o instala segundo seus próprios critérios técnicos. 171 CURSO DE RESGATE VEICULAR - 3ª EDIÇÃO Verifica-se que, segundo a tabela acima e levando-se em consideração os modelos de automóveis mais vendidos, é possível se estabelecer uma seqüência de locais em VE e VEH onde a equipe de salvamento pode procurar o local onde está instalado o tampão ou interruptor de serviço, sendo: 1º - Portamalas; 2º - Por traz do encosto dorsal do banco de passageiros traseiro; 3º - No assoalho, entre os bancos; 4º - Sob o banco de passageiros traseiro; 5º - Sob o banco do condutor. 10.4 COLISÃO DE UM VE OU DE UM VEH COM ROMPIMENTO DE CABO DE ALTA TENSÃO Segundo a Fire Protection Research Foundation (2010) os veículos elétricos e os veículos elétricos híbridos possuem, via de regra, sensores de colisão e/ou de fuga de correte e/ou de curto-circuito. Assim, no caso de uma colisão, de um rompimento do cabo de alta tensão, de uma colisão seguida de rompimento do cabo de alta tensão ou curto-circuito, o equipamento de gerenciamento do sistema elétrico de alta tensão desliga o respectivo sistema automaticamente, impedindo o fluxo de alta tensão. A Fire Protection Research Foundation (2010) esclarece ainda que os relés passam para uma posição aberta, o que interrompe o fluxo da corrente elétrica. 172 CURSO DE RESGATE VEICULAR - 3ª EDIÇÃO Estes relés, quando energizados por baixa tensão, são movidos para a posição fechada, o que possibilita o fluxo da corrente de alta tensão. Isto é o que ocorre no Toyota Prius, no qual a interrupção da fonte de energia elétrica de baixa tensão desliga eficazmente o fluxo de eletricidade de alta tensão. Excepcionalmente montadoras podem se valer de mecanismo diverso para “isolar” a bateria de alta tensão. Logo, conforme a fábrica, o fato de sustar a circulação da energia de baixa tensão pode não resultar na interrupção da circulação da alta tensão em VE e VEH. Assim, a equipe de socorro sempre deve primar pela desativação tanto do sistema de baixa tensão quanto do de alta tensão, sendo que neste caso é obrigatória a desconexão do tampão de serviço ou, conforme o tipo de VE ou VEH, o acionamento da função OFF do interruptor de serviço. Contudo, mesmo depois de desarmar os relés, a bateria de alta tensão ainda estará energizada, bem como toda a fiação de alta tensão, sendo necessário aguarda pelo menos 10 minutos para que seja dissipada. Assim, antes deste tempo, a possibilidade de choque elétrico deve ser sempre considerada, portanto, a fiação de alta tensão não deve ser cortada em período inferior. Em que pese a existência de tais dispositivos automáticos de segurança, a única garantia de desativação do sistema de alta tensão é a retirada do tampão de serviço ou, se for o caso, da mudança do interruptor de serviço para a posição OFF, sendo ainda necessário aguardar uma certa quantidade de tempo fixo, até 10 minutos (não mais), para que a alimentação do sistema de alta tensão seja dissipada de forma plena. Por oportuno, destaca-se que existem fabricantes com tempo menor. Caso seja identificado que o veículo envolvido em um acidente é um veículo elétrico ou um veículo elétrico híbrido, o Bombeiro deve utilizar, no interregno dos 10 (dez) minutos após a desativação do sistema de alta tensão do automóvel, para proteção contra choques em decorrência do corte acidental de fiação de alta tensão, ferramentas e EPI’s dotados de camadas isolantes, como a luva com isolamento para 1.000 Volts, para realizar procedimentos de desencarceramento. 173 CURSO DE RESGATE VEICULAR - 3ª EDIÇÃO 10.5 SUBMERSÃO No caso de submersão recomenda-se executar os procedimentos normais de resgate e, após retirar o veículo da água, desconectar a bateria de 12 Volts e o tampão de serviço ou, se for a hipótese, colocar o interruptor de serviço na posição OFF. 10.6 INCÊNDIO O combate a incêndio em veículos elétricos e em veículos elétricos híbridos, tal como acontece em um desencarceramento, envolve também medidas importantes como estabilização e desativação do sistema elétrico. Fogo envolvendo um VE ou um VEH deve ser combatido da mesma maneira como em um veículo convencional. Por motivo de segurança, existem montadoras que instalam sensores de temperatura na bateria de alta voltagem de seus veículos elétricos e/ou veículos elétricos híbridos. Assim, caso a temperatura da bateria de alta tensão atinja a um valor pré-determinado o controle do sistema a desliga automaticamente. Na hipótese de incêndios devem ser adotadas medidas preventivas afim de se evitar uma eletrocussão devido à possibilidade de comprometimento dos itens de segurança do sistema de alta tensão. Por exemplo, os relés de segurança podem falhar ou sofrer avarias quando expostos ao calor. Além disto, os curtos-circuitos podem se tornar possíveis devido a energia ainda contida na bateria de alta tensão ou nos cabos de alta tensão ligados à mesma. Assim, as ferramentas de mão deverão, preferencialmente, possuir cabo com isolamento para pelo menos 1000 Volts. Deve-se evitar cortar ou perfurar a bateria de alta voltagem ou cabos de alta tensão devido ao potencial de choque elétrico. No uso de ferramentas, como o halligan, ao abrir o capô deve-se ter o 174 CURSO DE RESGATE VEICULAR - 3ª EDIÇÃO cuidado para não perfurar unidades de alta tensão, por exemplo, o inversor/conversor (normalmente instalado no compartimento do motor). Para evitar choques o profissional de resgate não deve utilizar anéis, relógios, jóias ou qualquer outro objeto metálico juntoao corpo quando trabalhar em torno de um veículo elétrico ou um veículo elétrico híbrido. No que se relaciona ao combate a incêndio em VE e VEH, a lém destes cuidados, a Fire Protection Research Foundation (2014)23 recomenda: Em comparação ao combate a incêndio em um veículo convencional, o combate a incêndio em um VE ou um VEH pode ser mais demorado e ainda haver a necessidade de se utilizar mais água. Isto ocorre porque a bateria de alta tensão de um VE ou de um VEH, geralmente, é instalada em local de difícil acesso e o combate ao fogo se dá de forma indireta, através do resfriamento da sua carcaça metálica. Logo, o Comandante do Incidente deve providenciar cilindros extras ar para os equipamentos de respiração autônoma (EPRs) e suprimento extra de água, pois os recursos existentes em uma viatura podem não ser suficientes; Ao extinguir o incêndio, se disponível, fazer uso da câmera térmica para localizar pontos quentes e que ainda requeiram uso de água para o seu total resfriamento; 23 Fire Protection Research Foundation. Tactical considerations for extinguishing fires in hybrid and electric vehicles. National Fire Protection Association: Quincyq (EUA), 09 dez. 2014. Suprimento extra de água no combate a incêndio em um VE/VEH 175 CURSO DE RESGATE VEICULAR - 3ª EDIÇÃO Ficar atento quanto à possibilidade de reignição, a qual pode ocorrer por até 22 horas após a extinção do incêndio; e Devido à possibilidade de reignição deixar o veículo sinistrado a uma distância de pelo menos 15 (quinze) metros de distância de outros objetos que possam pegar fogo. 10.7 INCÊNDIO NA BATERIA DE ALTA TENSÃO A tentativa de extinção de incêndio que envolve baterias de veículos elétricos ou elétricos híbridos depende de múltiplos fatores, como a composição e o tamanho da bateria, a dimensão do fogo, os danos físicos à unidade de bateria etc. Conforme as características de cada um destes o agente extintor (pó químico, CO2, espuma, água etc), bem como sua quantidade pode variar. Uso de câmera térmica no combate a incêndio em um VE/VEH 15 metros de distância do veículo sinistrado para outros objetos 176 CURSO DE RESGATE VEICULAR - 3ª EDIÇÃO A variedade de tipos de baterias e suas configurações dificulta a escolha da técnica de extinção de incêndio e sugere várias formas de abordagens. Contudo, as baterias de alta tensão da maioria dos veículos pesquisados é composta por hidreto metálico de níquel (Ni-MH) ou por íons de lítio (Li-Ion). Para estes os manuais de combate a incêndio, bem como os respectivos “guias de resposta a emergências” das montadoras informam que a água pode ser utilizada como agente extintor, desde que em grandes quantidades. VE e VEH cuja composição da bateria foi verificada No caso de a bateria de alta tensão ser envolvida pelo fogo ou quando existirem maiores riscos o Comandante do Incidente deverá decidir pela continuidade ou não do ataque ofensivo. Uma vez que a bateria de alta tensão é selada, torna-se quase impossível a aplicação direta de água sobre os módulos que queimam. Logo, permitir que a bateria de alta tensão seja consumida pelo fogo tem se mostrado o meio eficaz para lidar com a situação. Se for feita a opção por tal técnica, os Bombeiros devem continuar a controlar o fogo ao redor da bateria, bem como se proteger de eventuais exposições. 177 CURSO DE RESGATE VEICULAR - 3ª EDIÇÃO Como exemplo, informa-se que o manual de emergência do Toyota Prius recomenda que devido à dificuldade de se abrir o compartimento da bateria de alta tensão, a equipe de combate a incêndio deve deixar a mesma queimar. Se for feita a opção pela tentativa de combate a incêndio na bateria de alta voltagem, grande quantidade de água deve ser aplicada para resfriar a carcaça metálica que a envolve e, por conseguinte, os módulos adjacentes. Nunca remover a carcaça metálica da bateria de alta voltagem para acessar um incêndio, é mais seguro permitir que os seus módulos sejam queimados. O eletrólito existente na bateria de alta tensão é inflamável mas não irá explodir. Quando a água é uti lizada para extinguir os incêndios em bateria de hidreto metálico de níquel (Ni-MH) um pouco de gás hidrogênio pode surgir como subproduto. Nesta situação, a ventilação será necessária para evitar seu acúmulo. Com isto, aconselha-se a deixar as portas e porta-malas abertos para ajudar na sua dispersão. Informações adicionais podem ser obtidas nos guias para atendimento a emergências que, via de regra, são publicados pelos diferentes construtores de veículos e disponibilizados em seus sites. 10.8 INCÊNDIO EM VE OU VEH LIGADOS A UMA ESTAÇÃO DE CARREGAMENTO Deve-se desligar o circuito elétrico que fornece energia ao veículo antes de aplicar a água. Extintores da classe C também podem ser utilizados. 178 CURSO DE RESGATE VEICULAR - 3ª EDIÇÃO 10.9 VEÍCULO ELÉTRICO HÍBRIDO COM PAINEL SOLAR No Toyota Prius, uma vez a que tensão é gerada quando o painel é exposto à luz solar, o fio de transmissão pode se manter energizado, mesmo após o veículo ter sido desligado e a bateria auxi liar de 12 Volts ter sido desconectada. O fio de transmissão do painel solar não está eletricamente conectado à bateria auxiliar de 12 Volts ou à bateria HV. A energia do painel solar não alimenta esses circuitos. Os modelos Prius equipados com o painel solar opcional possuem fios de transmissão de energia reunidos com o chicote do air bag cortina lateral que passam ao longo da coluna C, do lado do motorista, conforme mostrado na ilustração. Essa fiação de transmissão de energia fica energizada, quando a superfície do painel solar está exposta à energia da luz. Logo, caso o air bag cortina do lado do motorista não tenha sido acionado, evitar cortar a área sombreada, mostrada na ilustração. 179 CURSO DE RESGATE VEICULAR - 3ª EDIÇÃO Caso esta área seja cortada acidentalmente, há possibilidade de corte do chicote do air bag cortina lateral e do fio energizado do painel solar, resultando no acionamento do air bag. Se for inevitável cortar esta área, primeiro deve-se desativar o painel solar por meio da desconexão ou corte da sua fiação. Para tanto, deve-se remover o estofamento do teto da parte traseira da área de passageiros, no lado do motorista. Identificar o fio vermelho ou azul sob o painel solar, conforme a ilustração. Desconectar o conector ou cortar o fio vermelho ou azul para desativar a geração de energia. 10.10 VE E VEH DE PORTE PESADO As observações feitas quanto aos procedimentos a serem empregados por uma equipe de salvamento quando no atendimento a acidentes envolvendo veículos elétricos ou em veículos elétricos híbridos de porte leve são aplicáveis aos de porte pesado. O principal diferencial diz respeito à maior variedade de locais onde podem ser encontrados o tampão ou o interruptor de serviço, bem como a voltagem de alta tensão, que pode ser superior. No Brasil o uso de VE e VEH de porte pesado é incipiente. Apesar disto, a Volvo possui instalada em Curitiba uma fábrica de ônibus elétricos híbridos. O modelo de ônibus fabricado utiliza um motor a combustão a diesel e um motor elétrico para fins de tração e ambos podem trabalhar de forma independente. Com isto, este ônibus pode ser conduzido em modo híbrido (neste o motor diesel é quem impulsiona o veículo e o motor elétrico o auxilia quando houver a necessidade de mais torque), somente como o motor elétrico ou apenas com o 180 CURSO DE RESGATE VEICULAR - 3ª EDIÇÃO motor a diesel. O veículo em comento possui também as funcionalidades de freioregenerativo e de recarga quando em ponto morto. 10.10.1 Procedimentos a serem adotados no caso de acidente envolvendo um VE ou VEH de porte pesado Na eventualidade de acidente envolvendo um VE ou um VEH de porte pesado, o mesmo fluxo de procedimentos para VE e VEH, visto anteriormente, deve ser seguido, qual seja: Para diminuir os riscos que existem em um resgate veicular envolvendo um VE ou VEH de porte pesado, a guarnição deverá observar os seguintes passos: ● Sempre presumir que o veículo está ligado; ● Sempre usar calços nas rodas; ● Se possível, acionar o freio de estacionamento; ● Desligar o veículo e remover a chave da ignição; ● Desconectar a bateria de 24 Volts; ● Nunca tocar, cortar ou abrir qualquer cabo laranja ou componentes protegidos por escudos na cor laranja; ● Permanecer a uma distância segura quando o veículo estiver em chamas; e ● Desarmar o sistema de alta voltagem e aguardar pelo menos 10 minutos. a) Como identificar um VE ou VEH de porte pesado Fluxo de procedimentos em acidente envolvendo VE ou VEH de porte pesado IDENTIFICAR IMOBILIZAR DESARMAR Verificar se o veículo é elétrico ou elétrico híbrido Utilizar calços e o freio de estacionamento a) Desligar o veículo por meio do botão “Start/Stop” ou “Power” e/ou retirar a chave da ignição; b) Luzes do painel desligadas; c) Desconectar a bateria de 24 Volts; d) Retirar o tampão de serviço ou colocar o interruptor de serviço na posição OFF e aguardar 10 minutos. 181 CURSO DE RESGATE VEICULAR - 3ª EDIÇÃO Todos os mecanismos do sistema de alta tensão podem ser identificados com decalques que possuem um símbolo de raio e os cabos de alta tensão são de cor laranja, o que os torna fáceis de serem reconhecidos. Símbolo de identificação de um dispositivo de alta tensão Cabos de alta tensão na cor laranja Cabos de alta tensão na cor laranja em caminhão elétrico híbrido da Kenworth Cabos de alta tensão na cor laranja em um ônibus elétrico híbrido da Volvo 182 CURSO DE RESGATE VEICULAR - 3ª EDIÇÃO Outra forma de identificação é por meio de símbolos dispostos ao longo da lataria. Contudo, nem todos os VE e VEH possuem símbolos que possibilitem identificá-los como tal, bem como podem cair durante um incidente. Logo, um dos itens mais relevantes no que tange ao seu reconhecimento é a existência de cabos na cor laranja. b) Como realizar a imobilização A imobilização se dá por meio de calços e do acionamento do freio de estacionamento. Layout do ônibus elétrico híbrido da Volvo Caminhão elétrico híbrido da Volvo 183 CURSO DE RESGATE VEICULAR - 3ª EDIÇÃO c) Como desarmar o sistema elétrico c.1) Desligar a ignição, retirar a chave da ignição e desligar a bateria de 24 Volts Um dos indicativos de que o veículo está ligado é o fato de o painel de instrumentos estar com as suas luzes acesas. No que concerne ao desligamento da ignição, lembra-se que um VE ou VEH, conforme o modelo, pode ser ligado com o uso de uma chave inserida na ignição ou por meio de um botão de ignição. Para desligar a energia da bateria de 24 Volts, além da opção de desconexão dos cabos da bateria, há a alternativa de acionar, caso existente, o interruptor de corte da bateria, que, usualmente, se localiza próxima à mesma. Painel de instrumentos Utilização de calços como meio auxiliar para imobilizar o veículo Interruptor de corte da bateria de 24 Volts, baterias de alta tensão e tampões de serviço de caminhão elét rico da Smith 184 CURSO DE RESGATE VEICULAR - 3ª EDIÇÃO ATENÇÃO: o desarme do sistema elétrico de baixa tensão pode não repercutir no sistema de alta tensão, ficando este energizado, como ocorre nos modelos de ônibus híbridos da Volvo. Logo, para interromper a circulação de energia de alta voltagem o resgatista deverá, obrigatoriamente, desativar o sistema de alta tensão e aguardar 10 minutos. Insta frisar que nos VE e VEH de porte pesado não há padrão quanto ao local de instalação da bateria de baixa tensão e, caso existente, do seu respectivo interruptor de corte de energia, cada fabricante os instala conforme sua conveniência técnica. c.2) Retirar o tampão de serviço ou, conforme o modelo de veículo, mudar o interruptor de serviço para a posição OFF Apesar dos itens de segurança empregados nos veículos elétricos e elétricos híbridos cuidados devem ser tomados para garantir que nenhuma eletricidade esteja presente antes que qualquer trabalho seja realizado no veículo. Neste sentido, além do desarme do sistema elétrico de baixa tensão, há que ser realizada a desativação do de alta tensão por meio da retirada do tampão de serviço ou, se for a hipótese, o acionamento do interruptor de serviço. Interruptor de serviço de ônibus elétrico híbrido da Volvo, localizado próximo ao banco do motorista, travado com cadeado na posição de desligado Interruptor de corte da bateria de 24 Volts de ônibus elétrico híbrido da Volvo Interruptor de corte da bateria de 24 Volts de ônibus elétrico híbrido da Gillig 185 CURSO DE RESGATE VEICULAR - 3ª EDIÇÃO Lembra-se que não há padrão quanto ao local de instalação do tampão ou, conforme a hipótese, do interruptor de serviço, cada fabricante os instala segundo seus próprios critérios técnicos. c.2.1) Interruptor de acionamento do sistema híbrido Alguns modelos de VE e VEH de porte pesado possuem no seu painel de instrumentos um interruptor para acionamento do sistema híbrido. Quando existente, este se torna um meio alternativo (além do tampão ou, conforme o caso, do interruptor de serviço) para ligar ou desligar o sistema de alta voltagem do veículo. Tampão de serviço Retirada de tampão de serviço da bateria de alta voltagem de caminhão elétrico da Smith Interruptor alternativo de acionamento do sistema de alta voltagem de caminhão elét rico da Smith Interruptores de serviço da bateria de alta voltagem de caminhão elétrico da Smith Interruptor alternativo de acionamento do sistema de alta voltagem de ônibus elétrico híbrido da Enova 186 CURSO DE RESGATE VEICULAR - 3ª EDIÇÃO 10.10.2 Componentes do sistema de alta tensão do ônibus elétrico híbrido da Volvo Preliminarmente, informa-se que o sistema de alta tensão do ônibus elétrico híbrido da Volvo é isolado do chassi e é constituído por componentes que trabalham com tensão de 600 Volts. No que se refere ao desarme do sistema de alta voltagem, no caso específico do ônibus elétrico híbrido da Volvo a descarga dos seus capacitores demora apenas 5 segundos, não sendo necessário transcorrer o tempo de 10 minutos. Ressalta-se que mesmo que o sistema de alta tensão esteja desativado, ainda haverá 600 Volts no interior da bateria. Para evitar danos a mecanismos do híbrido, como também para prevenir lesões a pessoas, o sistema de alta tensão foi construído com diferentes mecanismos de segurança, como sensores de resistência, de temperatura e de curto circuito. Cada um deles possibilitará o desligamento automático da alta tensão. Componentes do sistema de alta tensão e da transmissão do ônibus elétrico híbrido da Volvo 187 CURSO DE RESGATE VEICULAR - 3ª EDIÇÃO Quanto às formas manuais de se desligar o sistema de alta tensão do ônibus elétrico híbrido da Volvo, além do acionamento do interruptor de serviço, o resgatista poderá: > Se exeqüível, desconectar os cabos da bateria dealta tensão; > Se viável, desconectar os cabos de alta tensão do conversor DC\DC (conversor de alta tensão para baixa tensão) ou da caixa de junção; ATENÇÃO: a Volvo deixa claro que os cabos de alta tensão não podem ser desconectados com o ônibus elét rico híbrido ligado. Removê-los com um sistema ativo pode causar arcos elétricos. a) Motor elétrico O motor elétrico é usado para as seguintes funções: Arranque: empregado para iniciar o motor a diesel; Gerador: para recarga da bateria de alta tensão; Motora: fornece energia para o veículo no arranque, por propulsão pura ou através de mistura de torque. b) Conversor eletrônico O conversor é montado na carcaça da caixa de câmbio e possui mecanismo para controle da tensão, da corrente, de curto circuito e para monitoramento da temperatura do motor elétrico. Ao ser detectada irregularidade pelo seu módulo de controle, a bateria de alta tensão será desligada. Bateria de alta tensão do ônibus elétrico híbrido da Volvo 188 CURSO DE RESGATE VEICULAR - 3ª EDIÇÃO A bateria de alta tensão fornece energia para o conversor, que por sua vez, converte a corrente direta em alternada e vice-versa e também transforma 600V para 600V trifásico. c) Bateria de alta tensão É uma bateria de íon de lítio que transforma energia química em energia elétrica. Ela fornece ao sistema um total de 600 Volts. A bateria de alta tensão possui sensores de corrente, como também uma unidade de gerenciamento que monitora a sua tensão e a sua temperatura. Há ainda um fusível colocado entre os módulos de energia para proteção contra curtos-circuitos. A unidade de gerenciamento da bateria envia dos dados para a unidade de controle do híbrido. Aquela ativa e desativa a bateria de alta tensão por solicitação desta. c.1) Unidade de bloqueio de alta tensão do veículo No ônibus elétrico híbrido da Volvo existe, integrada à unidade de gerenciamento da bateria de alta tensão, a unidade de bloqueio de alta tensão do veículo, que é uma proteção contra arcos elétricos e componentes energizados. Ela detecta quebras no circuito de energia, assim, se, por exemplo, ocorrer alguma falha abrupta que resulte na interrupção da circulação da energia de alta tensão ou alguma tampa de dispositivo da alta tensão ficar aberta, este mecanismo desligará automaticamente a alta tensão. O componente em comento é instalado junto à unidade de gerenciamento da bateria de alta tensão e é interligado aos compressores de ar condicionado e de ar, à caixa de junção dos cabos de alta tensão destes dois compressores, ao conversor DC/DC para baixa tensão, ao conversor elétrico e ao motor elétrico. 189 CURSO DE RESGATE VEICULAR - 3ª EDIÇÃO d) Unidade de controle do híbrido A unidade de controle do híbrido gerencia todo o sistema híbrido, inclusive o conversor DC/DC (de alta para baixa tensão). Todas as falhas detectadas farão com que a bateria de alta tensão seja automaticamente desligada e, por conseguinte, o sistema híbrido também será. Portanto, se, por exemplo, houver algum dano em cabo de alta tensão, o circuito de 600 Volts será desligado e o ônibus vai parar ou não ligará. e) Interruptor de emergência No ônibus híbrido da Volvo, como no convencional, há um interruptor de emergência (outro interruptor além do de serviço), que se localiza no painel de instrumentos. Entretanto, este não desliga completamente o sistema elétrico do veículo, mas desencadeia os seguintes: > Corta a circulação da alta tensão; > Libera o ar do sistema de portas; > Desliga o motor a combustão; Compartimento do motor diesel e do motor elétrico do ônibus elétrico híbrido da Volvo Interruptor de emergência 190 CURSO DE RESGATE VEICULAR - 3ª EDIÇÃO > Corta o fornecimento de energia para alguns componentes elétricos; > Interrompe o fornecimento de combustível para o motor; > Ativa as luzes de emergência; > Liga as luzes acima das portas. É importante o resgatista ter ciência deste interruptor para não se confundir no momento de um atendimento emergencial haja vista que, mesmo que o interruptor em comento seja acionado, haverá circulação de energia por alguns itens do sistema elétrico. 191 CURSO DE RESGATE VEICULAR - 3ª EDIÇÃO 11 A ESTABILIZAÇÃO DO VEÍCULO Ao final da presente lição os leitores serão capazes de: - Identificar os principais meios de estabilização de um veículo acidentado; - Entender e realizar a estabilização de um veículo que esteja sobre as quatro rodas, lateralizado ou sobre o próprio teto. A estabilização do veículo é uma das fases do gerenciamento de risco e visa mantê-lo imóvel. Ela se inicia após os riscos terem sido gerenciados. Antes de iniciar qualquer manobra no veículo acidentado é necessário que ele seja estabilizado, a fim de reduzir riscos para a equipe de resgate ou para a vítima. Esta estabilização deve obedecer aos seguintes princípios: Deve manter o veículo imóvel; e Deve ser simples, de fácil memorização e de rápida utilização. Após a devida análise, o Comandante do Incidente destacará dois integrantes da guarnição para executarem a estabilização e estabelecerá de que forma ela deve ser realizada. Na impossibilidade de cumprir o estipulado, os componentes da guarnição devem comunicar tal fato ao C.I., sugerirem outra forma de realizá-la. Ademais, para que membros da equipe possam atuar com segurança no veículo, haverá outro componente da guarnição que ficará responsável por monitorar e corrigir a estabilização pois, durante a realização de outras manobras no veículo, ela poderá perder sua eficácia como na hipótese da folga de calços. Para realizar a estabilização veicular são utilizados, entre outros: calços de madeira tipo escada, calços simples, cunhas, correntes, guinchos, macacos, multiplicadores de força, almofadas pneumáticas e cordas e outros. 192 CURSO DE RESGATE VEICULAR - 3ª EDIÇÃO 11.1 CALÇOS E CUNHAS PARA ESTABILIZAÇÃO VEICULAR Analisando estatísticas de vítimas com agravamento de lesões e seqüelas após atendimentos realizados por equipes de emergência, foram criados simuladores humanos, os quais foram utilizados no interior de veículos submetidos a testes de colisões. Verificou-se então a necessidade da estabilização do veículo por calços antes das operações de salvamento para acesso da vítima. A medida padrão indicada para calços confeccionados com madeira, é de 5cm de altura x 10cm de largura. Suas variações são as seguintes: a) Calço nº 1: quatro calços com 30 cm de comprimento; b) Calço nº 2: quatro calços com 50 cm de comprimento com dois encaixes em U em ambos os lados; c) Calço nº 3: quatro calços com 70 cm de comprimento com dois encaixes em U em ambos os lados da lateral com 03 cm de profundidade por 05 cm de largura; 193 CURSO DE RESGATE VEICULAR - 3ª EDIÇÃO d) Calço nº 4: quatro calços em degraus de cinco lances com 15cm, 26cm, 37cm, 48 cm e 59 cm de comprimento, sendo os cinco pedaços sobrepostos formando uma escada, que se chama de “calço escada”; e) Cunhas: quatro unidades com 4cm de altura por 24cm de comprimento e 10 cm de largura. 11.1.1 Finalidade básica dos calços O calço número 1 tem por finalidade de uso: 1 - Base de extensor entre colunas; 2 - Base de extensor entre o painel e o assoalho do veículo; 3 - Aumentar a altura do calço nº 4, servindo como base; 4 - Combinação com calço número 3 para aumentar a distância; 5 - Combinação com calço número 2 servindo de base para este, quando usados entre a barra de direção e o assoalho do veículo; e 194 CURSO DE RESGATE VEICULAR - 3ª EDIÇÃO6 - Durante o tracionamento do volante, servirá de base para a corrente, não a deixando adentrar na lataria do veículo. O calço número 2 tem por finalidade de uso: 1 - Apoiar a barra de direção: visa preencher a distância entre a barra de direção e o assoalho do veículo, tendo como base o calço nº 1; 2 - Pode ser usado substituindo o calço número 1 em seus itens 2, 3, 5 e 6. O calço número 3 tem por finalidade de uso: 1 - Possui comprimento para preencher o espaço entre as colunas A e B; 2 - Pode ser combinado com o calço número 1 para aumentar a distância; 3 - Pode ser usado em substituição ao calço numero 1, quando em sua ausência conforme itens 3 e 6. O calço número 4 tem por finalidade de uso: 1 - A estabilização veicular, podendo ser combinado com os outros calços para aumentar a altura; 2 - Formar um quadrado combinando-se dois calços numero 4, servindo de base para almofadas pneumáticas; 3 - Usado como base de corrente quando do tracionamento de volante; 4 - Unidos dois a dois e colocados na vertical combinados com o calço nº 2 formam uma plataforma. Todos os calços devem possuir alça para facilitar o transporte e o manuseio no ato da estabilização do veículo e também para que, durante sua utilização, o integrante da equipe de socorro não coloque membros debaixo do carro. Se um espaço vazio existir mesmo depois da inserção de um calço ou da confecção de uma caixa de fulcros, uma cunha pode ser adicionada para a área de contato entre o veículo e o sistema de estabilização. As cunhas, além de preencher espaços vazios entre os veículos e os pontos de apoio, também podem ser usadas com a finalidade de firmar os calços e tornar a estabilização do automóvel mais segura. 195 CURSO DE RESGATE VEICULAR - 3ª EDIÇÃO 11.2 CAIXA DE FULCROS DE MADEIRA Trata-se de uma antiga técnica de estabilização. Atualmente a NFPA nº 100624 traz cinco tipos básicos de caixa de madeira com utilização de fulcros, sendo: com duas peças, com três peças, plataforma, fulcros diagonais e triângulo. Por sua vez, a Agência Federal de Gerenciamento de Emergências (FEMA) dos EUA, possui um manual específico para operações de resgate em estruturas colapsadas, o qual detalha o uso das caixas de fulcros de madeira. Assim, tem-se a NFPA nº 1006 como instrumento normativo genérico, que possui a base para diversos procedimentos de resgate, inclusive para a confecção das caixas de fulcros, e o manual desenvolvido pela FEMA como um trabalho técnico mais específico e aprofundado. As camadas de fulcros de duas peças e de três peças e as plataformas são as mais utilizadas no resgate veicular. O triângulo e os fulcros em diagonais são tipos específicos e, geralmente, são utilizados para espaços apertados ou de formato incomum. 24 A NFPA nº 1006 é uma norma que estabelece requisitos gerais de desempenho para um técnico de resgate bem como para trabalhos específicos em operações de resgate, como com o uso de corda, em superfície de água, em veículos, em espaço confinado e em estruturas colapsadas. Duas peças Três peças Plataforma Fulcros diagonais Triângulo 196 CURSO DE RESGATE VEICULAR - 3ª EDIÇÃO Para escolher o tipo de caixa de fulcros a ser empregada o Comandante do Incidente deverá examinar a estrutura do veículo e buscar identificar o tipo de estrutura do automóvel e os seus respectivos pontos rígidos (os quais serão apoiados pelas caixas de madeiras). Para a produção de fulcros de madeira utilizam-se, preferencialmente, espécies que produzam fibras longas. O ideal é utilizar árvores resinosas pois a madeira deste tipo de árvore tem diversas vantagens, entre outras: é leve; a resina, quando seca, aumenta sua resistência; maior resistência térmica e ao apodrecimento; e fornece avisos de falhas, por exemplo, fissuras visíveis e sons de quebra. Ademais, quanto aos fulcros, têm-se as seguintes características: - A madeira tem que suportar valor elevado de compressão perpendicular ao alinhamento da fibra; - É importante não pintar o fulcro pois isto mantém o seu atrito natural e não esconde danos ou defeitos; - Devem ser analisados de forma freqüente, para detectar danos, como rachaduras ou alterações no formato; - Devem ser armazenados em área limpa, seca e ventilada, com espaçamento que permita a circulação de ar entre as peças; - Cada peça de madeira deve possuir de 10cmx10cm (4”x4”) a 20cmx20cm (8”x8”) de espessura; Exemplo de uso de uma caixa de fulcros 197 CURSO DE RESGATE VEICULAR - 3ª EDIÇÃO - As medidas mais utilizadas em resgate veicular são: 4”x4”x12 ” (10x10x30cm), 4”x4”x18” (10x10x45cm), 4”x4”x24” (10x10x60cm), 4”x4”x30” (10x10x76cm) ou 4”x4”x36” (10x10x91cm). Já no que tange às caixas de fulcros com duas ou três peças por camada esclarece se que: - A caixa é construída com uma linha de dois ou, conforme o caso, de três fulcros paralelos seguida de outra linha com a mesma quantidade de fulcros paralelos entre si, porém perpendiculares em relação à primeira linha; - A capacidade total a ser suportada depende da quantidade de pontos de apoio e do tipo de madeira com a qual é feita cada peça; - Há que se deixar um espaço livre nos cantos no mínimo 10cm (4”), para proteção contra eventuais deslocamentos, o que poderia impactar negativamente na estabilidade do sistema. Exemplo, um fulcro com 18” (45cm) precisa de 8” (20cm) de sobreposição deixando uma largura de base utilizável de 10” (25cm); - Não se pode colocar o ponto de suporte do peso da caixa nas extremidades, pois há que se deixar uma margem de segurança no caso da carga deslocar. Por conseguinte, há que se trabalhar sempre com uma margem de segurança, deixando uma lacuna de 10cm a partir das extremidades; - Os cantos devem ser sobrepostos, ou seja, um ponto de apoio deve estar exatamente sobre o outro; - Uma caixa de fulcros com carga pode perder de 10% a 20% da sua altura; - Uma plataforma sólida pode ser construída sobre a caixa, para suportar, por exemplo, um macaco hidráulico ou uma almofada pneumática; 198 CURSO DE RESGATE VEICULAR - 3ª EDIÇÃO - Com exceção do triângulo e dos fulcros diagonais, os outros tipos devem ser iniciados com uma base sólida, isto é, totalmente preenchida por fulcros ao nível do chão. Visa-se, com isto, dar maior segurança ao sistema na medida em que se aumenta a área de contato; - Se na confecção de uma caixa de fulcros de madeira for utilizada madeira de pinheiro amarelo do sul dos EUA e esta for constituída com peças com espessura de 4”x4” e feita com 4 unidades (2x2) terá 4 pontos de apoio e suportará ao todo 24.000 libras (12 toneladas). Cada ponto de apoio sustenta até 6.000 libras (3 toneladas); - Se na confecção de uma caixa de fulcros de madeira for utilizada madeira de pinheiro amarelo do sul dos EUA e esta for constituída com peças com espessura de 4”x4” e feita com 6 unidades (3x3) terá 9 pontos de apoio suportará ao todo 55.000 libras (27,5 toneladas). Cada ponto de apoio sustenta até 6.000 libras (3 toneladas); - Se na confecção de uma caixa de fulcros de madeira for utilizada madeira de pinheiro amarelo do sul dos EUA e esta for constituída com peças com espessura de 6”x6” e feita com 4 unidades (2x2) terá 4 pontos de apoio e suportará ao todo 60.000 libras (30 toneladas). Cada ponto de apoio sustenta até 15.000 libras (7,5 toneladas); - Se na confecção de uma caixa de fulcros de madeira for utilizada madeira de pinheiro amarelo do sul dos EUA e esta for constituída com peças com espessura de 6”x6” e feita com 6 unidades (3x3) terá 9 pontos de apoio suportará ao todo 136.000 libras (68 toneladas). Cada ponto de apoio sustenta até 15.000 libras (7,5 toneladas); Pesoa ser suportado pela caixa de fulcros* Espessura da peça Método de construção Pontos de apoio Capacidade por ponto Peso total 4”x4” 2x2 4 6.000 lb (2.700 kg) 24.000 lb (12 toneladas) 4”x4” 3x3 9 6.000 lb (2.700 kg) 55.000 lb (27,5 toneladas) 6”x6” 2x2 4 15.000 lb (6.750 kg) 60.000 lb (30 toneladas) 6”x6” 3x3 9 15.000 lb (6.750 kg) 136.000 lb (68 toneladas) * Considerar que a espécie de madeira é o pinheiro amarelo do sul dos EUA. - A estabilidade depende da altura e da largura da caixa, sendo que aquela não deve exceder a 3 vezes a largura da base úti l (3 para 1). Isto se deve ao fato 199 CURSO DE RESGATE VEICULAR - 3ª EDIÇÃO de que cada peça possui características únicas, logo ao sobrepor várias peças pode ocorrer uma leve inclinação e isto comprometer a segurança; Método mais estável para utilizar 4 pontos de apoio, sendo que a altura máxima deve ser até 3 vezes a medida da largura da base útil. Altura máxima de 1 ½ para 1 de largura Ambos não são muito estáveis, Altura máxima de 1 para 1 de largura Altura máxima de 1 para 1 de largura Altura limite da caixa de fulcros Pontos de apoio Altura máxima 4 de 4 3 vezes a largura da base 3 de 4 2 vezes a largura da base 2 de 4 1,5 vezes a largura da base 1 de 4 1 vez a largura da base - Contudo, a FEMA assenta que, independentemente da largura da base útil, a altura limite da caixa de madeira com fulcros de grossura de 10cmx10xcm (4”x4”) deve ser de, no máximo, 90cm (3 pés) e o limite da que possui peças com espessura de 15cmx15cm (6”x6”) é de 150cm (5 pés); - A caixa de fulcros de madeira também pode ser utilizada para apoiar superfície inclinada. Todavia a inclinação da caixa não pode exceder 15º; - A colocação de cunhas serve para preencher espaços vazios, bem como para ajustar a direção da caixa. O empilhamento de cunhas (uma sobre a outra) é limitado a duas peças. Empilhar mais de duas cunhas provavelmente irá produzir instabilidade ao sistema; 200 CURSO DE RESGATE VEICULAR - 3ª EDIÇÃO - Há que se observar constantemente a estabilidade da caixa para mantê-la sem folgas. É provável que haja a necessidade de ajustar a caixa de fulcros de madeira durante o incidente, isto se deve, entre outros, ao deslocamento da carga, à sua retirada parcial ou total, à vibração dos equipamentos utilizados na operação e ao peso adicional dos membros da equipe de resgate e dos equipamentos empregados. Logo, há que se estabelecer um profissional da equipe de resgate para a tarefa de inspeção periódica e ajustes dos fulcros; - Por fim, ressalta-se que partes do corpo nunca devem ser postas entre a carga e a caixa de fulcros de madeira. Se houver a necessidade de inserir ou ajustar alguma peça, deve-se usar uma ferramenta ou outro fulcro a manobra. 11.3 TÉCNICAS BÁSICAS DE ESTABILIZAÇÃO VEICULAR 11.3.1 Veículo sobre as quatro rodas Por que um veículo que está na posição horizontal e em repouso em todos os quatro pneus deve ser estabilizado? O primeiro pensamento que provavelmente vem à mente é o de evitar que o veículo seja movimentado para frente ou para trás. Este raciocínio é correto mas a principal razão para se estabilizar um veículo envolvido em um acidente automobilístico é o de ganhar o controle sobre todos os seus movimentos, minimizando os efeitos do sistema de suspensão e criando uma base sólida e segura para a operação de resgate. O sistema de suspensão do veículo pode fazer com que o veículo se movimente para cima e para baixo, causando mais lesões na vítima. Uma vítima com suspeita de lesão da coluna vertebral necessita de adequada imobilização, qualquer movimento pode agravar a lesão, podendo, inclusive, causar-lhe paralisia. 201 CURSO DE RESGATE VEICULAR - 3ª EDIÇÃO Há cinco movimentos direcionais que profissional de resgate deve considerar durante o processo de estabilização do veículo: 1. Movimento horizontal: o veículo se move para frente ou para trás sobre o seu eixo longitudinal ou se move horizontalmente ao longo do seu eixo lateral; 2. Movimento vertical: o veículo se move para cima e para baixo em relação ao solo, sobre seu eixo vertical; 3. Movimento de rolamento: movimento onde um dos lados do veículo é suspenso fazendo com que o peso do veículo se concentre do outro lado. 4. Movimento campo: o veículo se move para cima e para baixo sobre o seu eixo lateral, fazendo com que a dianteira ou traseira se movimente para a esquerda ou para a direita em relação à sua posição original; 5. Movimento de torção: são torções ou voltas em torno do eixo vertical, fazendo com que as partes dianteiras e traseiras do veículo possam mover para a esquerda ou para a direita em relação à sua posição original. Diante disto tem-se que a estabilização cria uma plataforma de trabalho equilibrada, neutralizando o sistema de suspensão do veículo. Deve-se garantir que o veículo esteja estabilizado antes de realizar qualquer técnica operacional no mesmo. 202 CURSO DE RESGATE VEICULAR - 3ª EDIÇÃO O especialista em resgate veicular deve pensar várias etapas à frente e antever riscos e procedimentos operacionais. Neste aspecto, é primordial, entre outros, evitar colar materiais de estabilização de forma a bloquear o processo de desencarceramento e extração da vítima. Após a estabilização inicial a equipe de salvamento deve estar atenta para a possibilidade do veículo se deslocar e, em razão disto, poder haver a necessidade de uma estabilização progressiva. Uma sugestão para conferir se o automóvel é movimentado durante a execução dos procedimentos de resgate veicular é a de realizar uma marca vertical, por exemplo, com um giz, na porção mais baixa do pneu em relação ao asfalto e outra marca no asfalto seguindo a mesma linha daquela que foi feita no pneu. Desta forma, se as marcas desalinharem haverá a indicação de que o veículo está sendo movimentado. 11.3.1.1 Levantamento manual do veículo Uma questão que é recorrentemente posta é se o veículo pode ser levantado manualmente, apenas o suficiente para inserir o calço. Se feito corretamente, este método pode ser eficaz. A técnica inclui se posicionar de costas a carroceria do veículo, perto da roda dianteira ou traseira, dependendo do ponto em que se deseja introduzir o calço, levantando com as pernas, aplicando uma força equilibrada, agindo apenas sobre a suspensão do veículo. Entretanto, podem ocorrer problemas advindos de uma postura errada ou da aplicação de força excessiva por um Bombeiro despreparado, que tenta levantar o veículo em vez de apenas elevar a suspensão. Lesões no profissional de resgate ou na vítima poderão ocorrer em caso de uso excessivo de força. A decisão pelo uso desta técnica recai exclusivamente sobre o responsável pela operação. 203 CURSO DE RESGATE VEICULAR - 3ª EDIÇÃO Ao decidir pelo uso da técnica de elevação manual deve-se considerar a posição do veículo, o peso aproximado do automóvel, e, obviamente, a condição física do integrante da equipe que realizará a elevação. 11.3.1.2 Técnica básica de estabilização em quatro pontos Quando existe a necessidade de intervenção nos dois lados do veículo, a melhor forma de garantir que o mesmo não se movimente durante o resgate é fixá-lo em 4 pontos de apoio. Os passos para a realização de uma estabilização em 4 pontos são: 1 - Utilizar os EPI’s recomendados, inclusive EPR se a situação assim exigir; 2 - Entrar na área de trabalho quando esta estiver segura; 3 - Avaliar o perímetro interno e o externo; 4 - Definir um local para instalação do palco de materiais; 5 - Se viável, aplicar formas básicas de imobilização de um veículo, quais sejam: engatar marcha, acionar o freio de estacionamento e desligar omotor; 6 - Calçar a porção dianteira e traseira de uma das rodas; 7 - Inserir calços sob partes sólidas abaixo das colunas “A” e “C”, de um lado e do outro do automóvel, próximo às rodas, apoiando-o em quatro pontos; 8 - Se necessário, utilizar cunhas para preencher os espaços vazios entre a estrutura e os calços; 9 - Verificar se todos os calços estão firmes; e 10 - Notificar o pronto na estabilização. 204 CURSO DE RESGATE VEICULAR - 3ª EDIÇÃO 11.3.1.3 Técnica básica de estabilização em três pontos Pode-se optar pela estabilização em 3 pontos quando o trabalho irá ser executado em apenas uma das laterais do veículo acidentado ou quando existe apenas uma vítima no veículo. Os passos para a realização de uma estabilização em 3 pontos são: 1 - Utilizar os EPI’s recomendados, inclusive EPR se a situação assim exigir; 2 - Entrar na área de trabalho quando esta estiver segura; 3 - Avaliar o perímetro interno e o externo; 4 - Definir um local para instalação do palco de materiais; 5 - Se viável, aplicar formas básicas de imobilização de um veículo, quais sejam: engatar marcha, acionar o freio de estacionamento e desligar o motor; 6 - Calçar a porção dianteira e traseira de uma das rodas; 7 - Do lado no qual se encontra a vítima, inserir calços sob partes sólidas abaixo das colunas “A” e “C” e do outro lado do automóvel deve ser colocado um calço abaixo da coluna “B”, apoiando-o em três pontos; 8 - Se necessário, utilizar cunhas para preencher os espaços vazios entre a estrutura e os calços; 9 - Verificar se todos os calços estão firmes; e 10 - Notificar o pronto da estabilização. Estabilização veicular em 4 pontos Estabilização veicular em 3 pontos 205 CURSO DE RESGATE VEICULAR - 3ª EDIÇÃO 11.3.2 Veículo lateralizado Por que estabilizar um veículo que está na posição lateral? Um veículo sobre uma das laterais é perigoso, necessitando de ser adequadamente estabilizado antes que quaisquer operações sejam realizadas. Nesta circunstância, assim como em uma pirâmide estreita, a base de apoio fica reduzida, deixando o veículo muito instável, com acesso limitado e perigoso. Um automóvel que está sobre uma das suas laterais tem um centro de gravidade elevado e uma faixa relativamente estreita como base (relação superfície área), o que vai fazer com que o mesmo seja movimentado com muita facilidade. Diante disto, deve-se aumentar a área de contato com o solo para aumentar a segurança. Para realizar a estabilização de um veículo lateralizado, os membros da equipe de resgate podem utilizar cunhas, calços, cordas, escoras de madeira ou suportes com comprimento que alcancem as alturas ideais para calçamento etc. A melhor maneira de estabilizar automóvel lateralizado é com o uso de contraforças tensionadas, ou seja, escoras em diagonal, com uma extremidade apoiada em uma parte rígida e alta do veículo e a outra em contato com o solo mas ancorada no automóvel e devidamente tensionada. Isto proporciona a ampliação da base de sustentação do veículo, o que diminui a probabilidade de tombamento durante o desencarceramento. Esta técnica deverá preferencialmente ser utilizada com o emprego escoras e/ou calços conjugados. Veículo lateralizado e pequena área de apoio em contato com solo Ampliação da área de apoio em contato com solo 206 CURSO DE RESGATE VEICULAR - 3ª EDIÇÃO A forma básica de realizar a estabilização de um veículo lateralizado, a ser tratada neste capítulo, é somente com o uso de calços estrategicamente colocados. A técnica base consiste em posicionar suportes, para formar uma configuração segura, que não permita a movimentação do veículo. Na maioria das situações em que os veículos se encontram lateralizados a simples ação de aumentar a área de contato deste com o solo, através de colocação estratégica de calços, já torna a operação segura. Haja visto que a técnica a ser empregada varia conforme a posição na qual o automóvel se encontra, o primeiro passo que a equipe de salvamento vai tomar é o de verificar se o veículo está inclinado em uma direção particular . Ele poderá estar em duas posições principais: Sobre as laterais das rodas e a lateral do veículo, com as colunas no ar; ou Sobre as colunas e com as laterais das rodas no ar. Em veículo tombado sobre uma das laterais a sua estabilização deve ser executada com no mínimo quatro pontos de apoio, sendo dois do lado do teto e dois do lado do assoalho. Dependendo da situação que o veículo se encontrar, poderá ser utilizado um ponto à frente e outro na sua traseira. Quando houver a possibilidade do veículo tombar sobre o teto ou sobre as rodas, deve-se acrescentar mais calços de forma a garantir que o carro não sofra movimentações bruscas. Durante a execução da estabilização os membros da equipe que a executam geralmente são incapazes de determinar se o veículo se movimenta, porque o foco destes está no nível do solo, onde os calços são colocados. Em decorrência disto, um Ampliação da área de apoio com uso apenas de calços Posicionamento do responsável pela segurança durante a estabilização 207 CURSO DE RESGATE VEICULAR - 3ª EDIÇÃO integrante da equipe deverá observar o veículo e avisar imediatamente, aos que estão na área de alcance do veículo, eventual deslocamento do automóvel. Para tanto, sugere-se que este coloque uma das mãos na parte frontal ou traseira do veículo para sentir qualquer movimentação. Esta técnica de segurança permite ao resgatista completo controle da operação, pois proporciona visibilidade em ambos os lados o veículo. Além disto, quando se estiver operando ao nível do solo, em torno de um veículo instável, inserindo calços, o Bombeiro deve sempre trabalhar com um joelho no chão, em uma posição semi-ajoelhado (3 pontos). Isto proporciona uma melhor mobilidade, inclusive se houver necessidade de evacuação por decorrência de eventos inesperados. 11.3.2.1 Técnica básica de estabilização de um veículo lateralizado e apoiado sobre uma de suas laterais e as laterais das rodas Se o veículo está com a lateral das rodas e a lataria de um dos lados apoiados no solo, com as colunas suspensas, então a tendência é de que o veículo se movimente para o lado do teto. Nesta hipótese, o lado do teto é considerado o mais instável e terá de ser o primeiro lado a ser estabilizado, observando-se os seguintes passos: 1 - Utilizar os EPI’s recomendados, inclusive EPR se a situação assim exigir; 2 - Entrar na área de trabalho quando esta estiver segura; 3 - Avaliar o perímetro interno e o externo; 4 - Definir um local para instalação do palco de materiais; 5 - Posicionar um membro da equipe na parte da frente ou de trás do veículo. Sugere-se que este coloque uma mão no veículo para sentir qualquer deslocamento ou movimento do veículo; 6 - Estabilizar primeiro o lado do teto. Para tanto uti lizar o calço número 4 (calço escada) para preencher o espaço vazio entre o solo e a lateral da coluna “A”, fazendo o mesmo com a coluna “C”. O calço pode ser posicionado com os degraus para cima ou para baixo, o importante é que coincida com a posição anatômica da o veículo. Uma ou duas cunhas 208 CURSO DE RESGATE VEICULAR - 3ª EDIÇÃO podem ser inseridas na parte superior ou inferior dos calços para preencher os espaços vazios; 7 - Para estabilizar do lado do assoalho, colocar cunhas ou calços número 2 para preencher o espaço entre o solo e a caixa de ar; e 8 - Notificar o pronto da estabilização. Se a circunstância exigir, podem ser colocados também, no lado do assoalho, o calço nº 3, conjugação deste com o calço escada, escoras de madeira, cordas, suportes dotados com sistema de tensionamento etc. 11.3.2.2 Técnicabásica de estabilização de um veículo lateralizado apoiado sobre as colunas e com as laterais das rodas suspensas Estabilização de um veículo que está apoiado sobre as laterais das rodas e uma das suas laterais, com colunas suspensas Veículo tombado e apoiado sobre uma de suas laterais, rodas suspensas e colunas apoiadas no solo Estabilização de um veículo lateralizado com o uso de calços e escoras de madeira 209 CURSO DE RESGATE VEICULAR - 3ª EDIÇÃO Os procedimentos básicos para estabilizar um veículo nesta situação são: 1 - Utilizar os EPI’s recomendados, inclusive EPR se a situação assim exigir; 2 - Entrar na área de trabalho quando esta estiver segura; 3 - Avaliar o perímetro interno e o externo; 4 - Definir um local para instalação do palco de materiais; 5 - Posicionar um membro da equipe na parte da frente ou de trás do veículo. Sugere-se que este coloque uma mão no veículo para sentir qualquer deslocamento ou movimento do veículo; 6 - Estabilizar primeiro o lado do assoalho. Utilizar o calço número 4 (calço escada) para preencher o espaço vazio entre o solo e a caixa de ar, um sob a lateral da coluna “A” e outro sob a lateral da coluna “C”. O calço pode ser posicionado com os degraus para cima ou para baixo, de forma a coincidir com a posição anatômica do veículo. Uma cunha ou duas podem ser inseridas na parte superior ou inferior do calço para preencher os espaços vazios. Cunhas e calços também podem ser colocadas sob as laterais das rodas. 7 - Para estabilizar do lado do teto, colocar cunhas ou calços número 2 para preencher eventual espaço existente entre o solo e o perfil do teto. Escoras de madeira ou equipamentos industrializados feitos para estabilização de veículo lateralizado também podem ser uti lizados do lado do teto para aumentar a segurança; 8 - Se houver a possibilidade, para garantir melhor a estabilização, realizar uma amarração e tracionar para o lado do assoalho; e 9 - Notificar o pronto da estabilização. 11.3.2.3 Técnica básica de estabilização de um veículo lateralizado apoiado sobre uma das suas laterais e com indicativo de queda para o lado do assoalho 1 - Utilizar os EPI’s recomendados, inclusive EPR se a situação assim exigir; 2 - Entrar na área de trabalho quando esta estiver segura; 3 - Avaliar o perímetro interno e o externo; 4 - Definir um local para instalação do palco de materiais; 210 CURSO DE RESGATE VEICULAR - 3ª EDIÇÃO 5 - Posicionar um membro da equipe na parte da frente ou de trás do veículo. Sugere-se que este coloque uma mão no veículo para sentir qualquer deslocamento ou movimento do veículo; 6 - Colocar os calços primeiramente do lado do teto, apenas encostando os calços entre o solo e as laterais das colunas “A” e “C”; 7 - Para estabilizar do lado do assoalho, combine o calço número 3 sobre o calço número 4 (calço escada), isto possibilita o alcance de uma boa altura. Posicionar estas combinações, preferencialmente, na mesma linha dos calços que foram inseridos do lado do teto. Procurar fixar o calço 3 em um ponto firme da estrutura do veículo. O ângulo de colocação do calço 3 não poderá ser inferior a 45 graus. Sugere-se fixar, com uso de cordas, os calços no veículo; e 8 - Notificar o pronto da estabilização. 11.3.3 Veículo sobre o próprio teto Por que estabilizar um veículo que está sobre o teto? Quando um veículo está envolvido em um capotamento, as suas colunas podem ser comprometidas pelo impacto do acidente e pelo peso do veículo, o que faz com que toda a estrutura fique instável. Portanto, há a necessidade de ser executada a sua estabilização antes que qualquer operação seja realizada. Veículo lateralizado sobre a lateral das rodas e do veículo, com as colunas A, B e C no ar 211 CURSO DE RESGATE VEICULAR - 3ª EDIÇÃO As posições básicas, nas quais um veículo que está sobre o seu teto, são: Horizontal, com o teto amassado, achatado contra o veículo, com o capô e o bagageiro em contato com o solo; Horizontal, repousando inteiramente sobre o teto, com espaço entre o capô e o solo e entre o bagageiro e o solo; A frente para baixo, com o capô em contato com o solo e a retaguarda do veículo suspensa, sendo o peso aplicado sobretudo na coluna “A”; e A traseira para baixo, com o bagageiro traseiro em contato com o solo e a maioria do peso do veículo na coluna “C”. Provavelmente a posição de um veículo capotado será com o capô encostado no solo e com o bagageiro suspenso, isto se deve justamente ao centro de gravidade estar localizado mais à frente devido ao peso do motor. Nesta situação, a tentativa de acessar o veículo pela janela traseira pode provocar a mudança do centro de gravidade e fazer o veículo se mover. Em um veículo sobre o teto, geralmente, existem três pontos de acesso ao seu interior: o lado do motorista, o lado do passageiro e a janela traseira. A estabilização deve sempre ser configurada para manter estes pontos de entrada desobstruídos, sobretudo se houver a necessidade de mudar a via de extração em decorrência de algum evento inesperado. Neste sentido, tem-se que é inconveniente criar uma caixa de fulcros na parte traseira do veículo pois ocorrerá a eliminação de uma via de extração. Estabilizar um veículo sobre o teto envolve a utilização de materiais ou equipamentos a serem aplicados em pelo menos quatro pontos de apoio. Escoras, calços, almofadas pneumáticas e macacos hidráulicos são alternativas utilizadas para estabilizar veículos capotados. Estabilização de veículo capotado, no mínimo 4 pontos de apoio 212 CURSO DE RESGATE VEICULAR - 3ª EDIÇÃO A colocação dos calços iniciais deve focar a área mais instável. Neste cenário particular, a área de maior instabilidade é a parte do veículo que se encontra suspensa. 11.3.3.1 Técnica básica de estabilização de um veículo capotado e com o capô apoiado no solo A seqüência de procedimentos para a estabilização de um veículo capotado que esteja com o capô apoiado no solo é a seguinte: 1 - Utilizar os EPI’s recomendados, inclusive EPR se a situação assim exigir; 2 - Entrar na área de trabalho quando esta estiver segura; 3 - Avaliar o perímetro interno e o externo; 4 - Definir um local para instalação do palco de materiais; 5 - Colocar calços número 4 (calço escada) nos espaços vazios existentes entre a coluna “C” e o solo. Sempre colocar os calços em elementos estruturais, evitando partes mais fracas que possuem a tendência de dobrar e que, portanto, não trazem efetividade para a estabilização. O calço pode ser posicionado com os degraus para cima ou para baixo, para coincidir com a posição anatômica do veículo. Uma cunha ou duas podem ser inseridas na parte superior ou inferior do calço para preencher eventuais espaços vazios; 6 - Preencher os espaços vazios entre a coluna “A” e o capô, para tanto calços número 4 e/ou número 2 podem ser utilizados; 7 - Caso o responsável pela operação julgue necessário, escorar a lateral traseira. Nesta situação, o calço número 3 sobre o calço número 4 pode ser uma solução viável. As escoras são ideais, pois evitam a obstrução das vias de extração; 8 - Se não houver a opção de escoras, poder-se-á utilizar a caixa de fulcros na traseira do veículo. Esta opção obstrui a via de extração pela janela traseira, logo só deve ser utilizada em último caso; e 9 - Notificar o pronto da estabilização. 213 CURSO DE RESGATE VEICULAR - 3ª EDIÇÃO 11.3.3.2 Técnica básica de estabilização de um veículo capotado e com o bagageiro encostado no solo Existe ainda a possibilidade de se encontrar o veículo sobre o teto com uma configuração diferente, por exemplo, com o bagageiro encostado no solo e a parte dianteira suspensa.Se isto ocorrer o Comandante do Incidente deve avaliar a probabilidade da existência de uma carga no porta malas com peso considerável, além do deslocamento e concentração de vítimas na parte traseira do veículo. Nesta circunstância deve-se providenciar primeiramente um escoramento na parte da frente do veículo, com utilização de escoras ou da caixa de fulcros e posteriormente na parte traseira. Estabilização de veículo capotado com capô apoiado no solo 214 CURSO DE RESGATE VEICULAR - 3ª EDIÇÃO 11.3.3.3 Técnica básica de estabilização de um veículo capotado e com o bagageiro e o capô suspensos Outro exemplo é quando o veículo repousa unicamente sobre o teto, com frente e traseira suspensas. Isto pode ocorrer quando houver equilíbrio de eventuais cargas e passageiros e também pelo colapso das colunas no decorrer do capotamento. Nesta hipótese, a dianteira e a traseira devem ser estabilizadas rapidamente com uti lização de escoras ou da caixa de fulcros. 11.3.4 Um veículo sobre outro Ocasionalmente, a colisão fará com que um veículo permaneça sobre o outro. Isto pode ocorrer em duas situações: a) Quando um veículo é consideravelmente maior do que o outro, como quando um carro de passeio colide com um caminhão: a prioridade de estabilização, neste caso, é para evitar algum movimento do veículo de cima, bem como reduzir a pressão sobre o veículo que está em baixo. Para se atingir estes objetivos é necessário estabilizar o veículo de cima com escoras de madeira, caixa de fulcros, almofadas infláveis, macacos mecânicos ou outros meios, sempre com cuidado para não provocar um aumento da pressão sobre determinada área do automóvel que está em baixo; e b) Quando a velocidade faz com que um veículo leve ou outra estrutura qualquer, tais como poste de energia elétrica e árvore, fique sobre outro automóvel. Nesta situação a solução mais recomendada é estabilizar o de baixo e fixar o de cima ao de baixo com fitas e/ou cordas. Em agir desta forma estar-se-á eliminando a possibilidade de movimento independente de uma ou outra. Os passos a serem executados são os seguintes: 1 - Utilizar os EPI’s recomendados, inclusive EPR se a situação assim exigir; 2 - Entrar na área de trabalho quando esta estiver segura; 3 - Avaliar o perímetro interno e o externo; 4 - Definir um local para instalação do palco de materiais; 215 CURSO DE RESGATE VEICULAR - 3ª EDIÇÃO 5 - Posicionar um membro da equipe na parte da frente ou de trás do veículo. Sugere-se que este coloque uma mão no veículo para sentir qualquer deslocamento ou movimento do veículo; 6 - Estabilizar o veículo que está em baixo, seguindo-se os procedimentos de estabilização de acordo com a posição na qual este se encontre. Se o veículo estiver sobre as rodas, não esvaziar pneus, pois isto poderá causar movimentos da carga superior; 7 - Preencher com calços os espaços vazios entre os dois veículos; 8 - Proteger a vítima que se encontra no interior do veículo inferior, para tanto pode ser utilizado um cobertor, em seguida deve-se abrir ou remover os vidros das janelas; 9 - Fixar os dois veículos com cordas, fitas ou correias utilizando as colunas ou outros pontos estruturais como base das amarrações; 10 - Conferir a estabilização dos dois veículos; e 11 - Notificar o pronto da estabilização. Há que se observar as seguintes regras ao realizar a fixação de veículos por meio de cordas, fitas e correias de tração: Devido ao elevado grau de instabilidade presente em ambos os casos, é extremamente importante fixar dois veículos antes que as operações sejam efetuadas; Nenhum integrante da equipe deve se projetar sob as estruturas, pois existe o risco de movimento repentino da mesma; Sempre trabalhar em torno dos veículos e atentar para qualquer movimentação destes; Se houver a necessidade de passar uma fita ou uma corda de um lado para o outro das estruturas envolvidas no incidente deve-se fazer uso do croque; Sempre olhar para o topo do veículo e determinar para onde ele pode se movimentar, devendo-se amarrá-lo na direção oposta. Vários fatores vão determinar como a operação será conduzida, entre eles: Quais são as posições de ambos os veículos? 216 CURSO DE RESGATE VEICULAR - 3ª EDIÇÃO Qual a capacidade da estrutura inferior suportar o peso da estrutura superior? Se alguma parte da estrutura superior apóia no solo? Onde estão as vítimas em ambas as estruturas? Onde estão os pontos de entrada ou acesso a ambos veículos? Se a utilização de cordas, fitas ou correias não vão bloquear as vias de acesso e extração? 217 CURSO DE RESGATE VEICULAR - 3ª EDIÇÃO 12 A GUARNIÇÃO DE RESGATE VEICULAR O conteúdo a ser abordado nesse capítulo tem como objetivos; - Elencar a composição de uma guarnição de resgate veicular; - Apresentar as funções de cada um dos seus integrantes; e - Capacitar os leitores a exercer as funções de cada integrante de uma guarnição de resgate veicular. 12.1 COMPOSIÇÃO DA GUARNIÇÃO DE RESGATE VEICULAR A guarnição básica para resgate veicular é composta por 06 (seis) membros, sendo nomeados como se segue: > Comandante do socorro; > Condutor da viatura; > Operador 01; > Operador 02; > Operador 03; e > Operador 04. Cada elemento da guarnição exerce importante função na atuação integrada da operação de resgate veicular. Todos devem ter ciência das suas atribuições e bem treinados. A guarnição de salvamento, para atuação em resgate veicular é composta para, quando na falta de uma viatura de combate a incêndio e outra de atendimento pré-hospitalar, atuarem no gerenciamento de riscos, desencarceramento e extração das vítimas até a chegada de reforços. 12.2 FUNÇÕES DOS INTEGRANTES DE UMA GUARNIÇÃO DE RESGATE VEICULAR 12.2.1 Comandante do Socorro 218 CURSO DE RESGATE VEICULAR - 3ª EDIÇÃO ● Gerenciar a ocorrência, da saída do quartel ao fim do respectivo atendimento; ● Gerenciar o deslocamento para a ocorrência; ● Manter contato com a CIADE e/ou a sua OBM durante o deslocamento, colhendo informações sobre o evento; ● Informar à Central Integrada de Atendimento e Despacho (CIADE) da chegada ao local da ocorrência; ● Toda comunicação de informação à CIADE deve ser feita pelo Comandante de Socorro; ● Assumir e estabelecer o PC (Posto de Comando), assegurando: segurança, visibilidade, facilidade de acesso e circulação, disponibilidade de comunicação, afastamento da cena e do ruído, e, caso necessário, capacidade de expansão física; ● Avaliar a situação; ● Dar parte do reconhecimento à CIADE; ● Solicitar à CIADE, em caso de ocorrências de vulto, uso exclusivo e prioritário do canal uti lizado para as comunicações durante o socorro25; ● Desenvolver e implantar o plano de ação do incidente (objetivos, estratégias e distribuição das tarefas); ● Estabelecer os recursos (posicionamento das viaturas, da motobomba, palco de materiais, área de descarte, área de espera, ACV, ZPH etc); ● Solicitar recursos adicionais, se necessário; ● Desenvolver uma estrutura organizacional adequada; ● Estabelecer um perímetro de segurança e determinar as zonas operacionais; ● Observar os EPI’s da guarnição26; ● Gerenciar a sinalização da(s) via(s); ● Gerenciar o isolamento da cena; 25 Conforme determinação expedida pelo Comando Operacional do CBMDF, no Boletim Geral nº 239, de 26 de dezembro de 2012, todas as viaturas de socorro em eventos de médias e grandes complexidades, devem fazer o uso das canaletas 14 ou 16, visando a um melhor desenvolvimento das atividades operacionais, deixando apenas o Posto de Comando em contato direto com a CIADE. 26 Conforme a Ordem de Serviço nº 9, do ComandoOperacional do CBMDF, o(s) chefe(s) de guarnição(ões) determina(m) para que os bombeiros embarquem nas viaturas devidamente trajados com o(s) EPI específico(s) para o tipo de ocorrência. 219 CURSO DE RESGATE VEICULAR - 3ª EDIÇÃO ● Solicitar ao organismo de segurança a retirada de todas as pessoas que se encontrem na área de risco, exceto o pessoal de resposta autorizado; ● Gerenciar riscos e perigos presentes na cena; ● Gerenciar a estabilização do veículo; ● Tornar a cena segura e zelar pela segurança; ● Manter o alcance de controle; ● Coordenar as ações das instituições que se incorporem ao sistema; ● Autorizar a divulgação das informações relativas ao acidente pelos meios de comunicação pública; ● Definir local de acesso à(s) vítima(s); ● Definir técnica(s) de desencarceramento; ● Definir, juntamente com o 01, os locais de corte; ● Coordenar a estabilização da vítima juntamente com o 04; ● Definir a técnica de retirada da vítima juntamente com o 04; ● Coordenar a retirada da vítima do interior do veículo juntamente com o 04; ● Avaliar o desenvolvimento do evento, adaptando o planejamento e solicitando ou desmobilizando recursos; ● Realizar, após a conclusão dos trabalhos e ainda no local, a conferência da guarnição; ● Coordenar, após a conclusão dos trabalhos e ainda no local, a conferência do material; ● Coordenar a desmobilização da ocorrência; e ● Comunicar à CIADE o término do atendimento e repassar demais informações. No desenrolar de todo o atendimento o Comandante do Incidente deverá ter ciência e controle de tudo o que se passa cena. Logo, é importante que ele não deixe de ter uma visão macro, deve-se evitar, por exemplo, que ele passe a operar um desencarcerador. O Comandante do Incidente não deve desviar a atenção do gerenciamento do evento, sendo a referência para a sua equipe como para outras que cheguem posteriormente. 220 CURSO DE RESGATE VEICULAR - 3ª EDIÇÃO Para o CBMDF (2011, p. 57) o Comandante do Incidente deve possuir as seguintes qualidades: “[...] ser decidido, seguro, objetivo, calmo, adaptável ao meio físico, mentalmente ágil e flexível. Deve ser realista acerca de suas limitações e ter a capacidade de delegar funções de forma apropriada e oportuna para manter o alcance de controle”. 12.2.2 Condutor da viatura Conduzir a viatura com segurança até o local do evento; Na abordagem avalia a cena de forma a identificar o lugar mais adequado para estacionar a viatura com também para propiciar segurança no desembarque da guarnição; Atentar quanto ao correto posicionamento da viatura no local da ocorrência; Monta o palco de materiais, colocando nele os materiais que serão usados na operação. Se houver necessidade será auxiliado pelo 03; Posiciona, em local determinado pelo Comandante do Incidente, a motobomba do equipamento de desencarceramento, bem como a opera; Ficar atento quanto aos sinais de operação da motobomba: - Ligar a motobomba = braço estendidos à frente mão espalmada voltada para cima movimento de baixo e para cima; - Pressurizar a ferramenta 1 = braço estendido à frente mão fechada indicação com o dedo indicador; - Pressurizar a ferramenta 2 = braço estendido à frente mão fechada indicação com o dedo indicador indicação com o dedo indicador e médio; - Despressurizar a ferramenta 1 = braço estendido à frente mão espalmada indicação com o dedo indicador; - Despressurizar a ferramenta 2 = braço estendido à frente mão espalmada indicação com o dedo indicador indicação com o dedo indicador e médio; - Desligar a motobomba = braço estendido à frente mão espalmada voltada para baixo movimento de cima para baixo. 221 CURSO DE RESGATE VEICULAR - 3ª EDIÇÃO Auxiliar o número 03 a desligar a bateria; Auxiliar o número 03 na prevenção de incêndio; Após o uso das ferramentas e desligamento da motobomba auxilia o 03 no desempenho do restante das suas atribuições; Ficar atento e informar aos membros da guarnição de qualquer adversidade observada no evento ou nos equipamentos; Auxilia no transporte da vítima até a UR ou local designado; Auxilia, após o término dos trabalhos no local da ocorrência, na conferência e na acomodação dos materiais na viatura; e Auxilia na desmobilização. 12.2.3 Operador 01 Posiciona um extintor próximo ao veículo acidentado para prevenção contra incêndio. Quando o veículo estiver sobre as rodas, no ato do desembarque, o 01 leva consigo duas cunhas de madeira, as quais, após a avaliação do perímetro interno, serão utilizadas para imobilizar o veículo; Realiza a avaliação do perímetro interno (raio mínimo de 10 metros a partir do incidente). Este coincide com as áreas destinadas às zonas quente e morna; Dentro da sua área de atuação, coleta informações a serem repassadas para o Comandante do Incidente, para que este formule o plano de ação; Estabiliza o veículo do lado do condutor, quando o automóvel estiver sobre as rodas ou quando o carro estiver sobre o teto, ou realiza suas ações de estabilização do lado do teto quando o veículo estiver lateralizado; Na fase de gerenciamento de riscos, em caso de air bag não ativados, faz amarração do volante e/ou desativa o do passageiro (se houver desativador); Juntamente com o número 02 quebra os vidros que interferem na operação; Define e investiga os locais de corte; 222 CURSO DE RESGATE VEICULAR - 3ª EDIÇÃO Opera, em qualquer dos lados do veículo, as ferramentas juntamente com o número 02; Faz a segurança do número 02 quando este estiver operando as ferramentas; Quando da estabilização da vítima, da colocação do KED e da extração, auxiliará, do exterior do veículo, o 04 e o 02; Coloca a vítima na prancha rígida juntamente com os números 02 e 04; Auxilia no transporte da vítima até a UR ou local designado; Auxilia, após o término dos trabalhos no local da ocorrência, na conferência e na acomodação dos materiais na viatura; e Auxilia na desmobilização. A avaliação do perímetro interno refere-se ao interior, em baixo e em volta do(s) veículo(s) acidentados. O integrante da equipe se aproxima com cuidado do(s) veículo(s), verificando existência de produtos perigosos, vazamento de combustível, instabilidade dos veículos, princípio de incêndio, rede elétrica, número e estado aparente das vítimas, grau de encarceramento etc e, ao final, se reporta ao Comandante do Incidente. 12.2.4 Operador 02 Realiza a avaliação do perímetro externo (região a partir da zona morna). O Comandante do Incidente definirá qual a distância máxima a ser verificada; Dentro da sua área de atuação, coleta informações a serem repassadas para o Comandante do Incidente, para que este formule o plano de ação; Estabiliza o veículo do lado do passageiro, quando o automóvel estiver sobre as rodas ou quando carro estiver sobre o teto, ou quando o veículo estiver lateralizado, realizará as ações de estabilização do automóvel do lado do assoalho; Auxilia o número 01 a quebrar os vidros que interferem na operação; Auxilia o número 01 no gerenciamento dos air bag’s; Auxilia o 01 na definição e observação dos pontos de corte; 223 CURSO DE RESGATE VEICULAR - 3ª EDIÇÃO Opera, em qualquer lado do veículo, as ferramentas juntamente com o número 01; Faz a segurança do número 01 quando este estiver operando as ferramentas; Quando da estabilização da vítima, da colocação do KED e da extração, auxiliará, do interior do veículo, o 04 e o 01; Coloca a vítima na prancha rígida juntamente com os números 01 e 04; Auxilia no transporte da vítima até a UR ou local designado; Auxilia, após o término dos trabalhos no local da ocorrência, na conferência e na acomodação dos materiais na viatura; e Auxilia na desmobilização. A avaliação do perímetro externo refere-se à área em volta do acidente, a partir da zona morna. O raio de avaliação dependerá das proporções do acidente e será determinado pelo Comandante do Incidente. Verifica-se com os devidos cuidados a presença de produtos perigosos, vazamentos de combustível, princípios de incêndios, rede elétrica danificada, vítimas adicionais, coleta de informações com testemunhas ou pessoas envolvidas no acidente e, ao final, reporta-se a situação ao Comandante do Incidente. 12.2.5 Operador 03 Sinaliza e isola o local do acidente; É o executor das ações que visam garantir a segurança da cena, controlando vazamentos, princípios de incêndio, produtos perigosos, desliga a bateria etc; Dentro da sua área de atuação, coleta informações a serem repassadas para o Comandante do Incidente, para que este formule o plano de ação; Auxilia o condutor a montar o palco de materiais; Durante a operação de desencarceramento exerce a função de observação da estabilidade do veículo e reposicionamento de calços; 224 CURSO DE RESGATE VEICULAR - 3ª EDIÇÃO Gerencia as ferragens expostas; Auxilia o número 04 na proteção da vítima; Eventualmente auxilia na operação de ferramentas; Esmera-se para manter a cena organizada, como conduzindo os objetos inservíveis retirados do veículo para a área de descarte, guardando no palco de materiais as ferramentas não utilizadas etc. Após o palco de materiais estar devidamente montado, o 03 conduz para tal instalação o extintor inicialmente posto em local estratégico pelo 01; Fica atento quanto à solicitação de materiais, fornecendo ferramentas aos operadores; Se houver necessidade, auxilia na extração e no transporte da vítima até a UR ou local designado; Auxilia, após o término dos trabalhos no local da ocorrência, na conferência e na acomodação dos materiais na viatura; e Auxilia na desmobilização. 12.2.6 Operador 04 Na ausência de um especialista, é o responsável por prestar o atendimento pré-hospitalar, quer seja quando a vítima estiver no interior no veículo quer seja quando esta estiver fora do automóvel; Aborda a vítima, pela sua frente, e ainda de fora do veículo fazendo, de forma verbal e visual, a sua avaliação. A abordagem pela frente da vítima tem por finalidade evitar que ela mova o pescoço, o que poderá agravar eventual lesão na coluna cervical; Dentro da sua área de atuação, coleta informações a serem repassadas para o Comandante do Incidente, para que este formule o plano de ação; Realiza o suporte emocional à vítima; Quando autorizado, pelo Comandante do Incidente, acessa, estabiliza e protege a vítima; Define, juntamente com o Comandante do Incidente, a técnica de extração da vítima; 225 CURSO DE RESGATE VEICULAR - 3ª EDIÇÃO Coordena a colocação do KED e a extração da vítima; Comanda toda a manipulação e movimentação relacionada à vítima; Na ausência de um Socorrista, após a extração realiza os demais procedimentos de APH que se fizerem necessários; Auxilia, após o término dos trabalhos no local da ocorrência, na conferência e na acomodação dos materiais na viatura; Auxilia na desmobilização; e Quando necessário, faz a retirada rápida da vítima. A criação de espaço progride em função das indicações do responsável pelo atendimento pré-hospitalar. Quando for verificado, no reconhecimento, a existência de perigos como produtos perigosos, vazamentos de combustível e eletricidade será preciso que a guarnição concentre o seu efetivo para gerenciar primeiramente os riscos que estes perigos representam. A guarnição deve ter a capacidade de se adaptar a novas funções, tendo em vista que acontecem imprevistos que fogem do planejamento feito pela equipe. 226 CURSO DE RESGATE VEICULAR - 3ª EDIÇÃO 13 DESENCARCERAMENTO Ao final do presente capítulo ter-se-á ciência de como: - Diferenciar os graus de encarceramento; - Distinguir entre resgate leve e resgate pesado; - Definir critérios de acesso a uma vítima que se encontra encarcerada em um veículo; - Estipular a necessidade de abertura de espaços para um correto atendimento e extração de uma vítima encarcerada; e - Optar pelas principais técnicas de resgate leve e de resgate pesado em veículos de pequeno porte. Nos acidentes automobilísticos nos quais as vítimas ficam presas nas ferragens, em razão do deslocamento do painel do veículo para dentro do habitáculo, do achatamento do teto, do trancamento das portas, do deslocamento dos bancos etc, é necessário adotar técnicas de movimentação de itens que compõe o automóvel, bem como das ferragens. Como informado outrora, o desencarceramento é a movimentação e/ou retirada das ferragens que estão prendendo uma vítima. Visa possibilitar o acesso dos socorristas, bem como criar uma via de retirada da vítima. Mas antes de dar início à operação de desencarceramento deve-se verificar: 1º) A vítima está presa? Se a resposta for negativa, a operação passará imediatamente para a fase seguinte, que é a sua extração de acordo com o critério adequado para o caso. Contudo, se a reposta for positiva é necessário responder a uma segunda pergunta. 2º) Qual o grau de encarceramento da vítima? Se a vítima, embora não apresente lesões, estiver impossibilitada de sair por seus próprios meios há um encarceramento denominado mecânico. 227 CURSO DE RESGATE VEICULAR - 3ª EDIÇÃO Todavia, se a vítima apresentar lesões que exi jam a criação de espaço adicional para se poder, em condições de segurança, prestar os respectivos cuidados pré-hospitalares e para que a sua extração seja o mais controlada possível, ter-se-á um encarceramento físico tipo I. Há ainda um terceiro tipo de encarceramento, é o físico tipo II. Neste, a vítima apresenta lesões devido ao contacto físico ou penetração de estruturas do veículo. 3º) Existe uma maneira fácil de liberar a vítima? Se a resposta for positiva, ou seja, se há uma maneira simples de desencarcerar a vítima diz-se que será um resgate leve. Como exemplos de manobras simples, que se enquadram no conceito de resgate leve, citam-se: afastar ou reclinar um banco, cortar roupas, retirar calçados, cortar o cinto de segurança, quebrar um ou mais vidros etc. Se a resposta for negativa, isto é, tem-se uma situação na qual a deformação do veículo indica que será necessário atuar sobre a estrutura do automóvel, diz-se que o resgate será um resgate pesado. Este exige uma seqüência mais agressiva e rápida de manobras, por exemplo , rebater ou retirar o teto, afastar o painel de instrumentos, fazer uma 3ª porta etc. 4º) Qual a forma mais rápida de ter acesso à vítima? Após identificada a causa impeditiva de acesso à vítima , a informação será reportada ao Comandante do Incidente para que, em conjunto com outros integrantes da guarnição, defina a melhor forma de criar os acessos à mesma. O Comandante do Incidente deve estabelecer um planejamento de forma que seja possível acessar a vítima de maneira fácil, rápida e segura, permitindo que esta receba cuidados pré-hospitalares o quanto antes. Para tanto deve se valer da seguinte ordem de critérios de acesso: 228 CURSO DE RESGATE VEICULAR - 3ª EDIÇÃO 1 - Portas por meios não destrutivos; 2 - Vidros por meios não destrutivos; 3 - Vidros por meios destrutivos; 4 - Portas por meios destrutivos; e 5 - Teto por meios destrutivos. Se for preciso utilizar um método destrutivo para se obter acesso à vítima, deve-se iniciá-lo o mais distante possível da vítima, protegendo-a com material rígido ou maleável. O Comandante do Incidente poderá, quando houver mais de uma equipe de salvamento no local e a situação permitir,empregá-la(s) para atuar(em), de forma simultânea, na produção de acessos à(s) vítima(s) em pontos diversos do mesmo veículo ou em outro automóvel envolvido no acidente . 5º) Há a necessidade de criar espaço para prestar o atendimento pré- hospitalar à vítima e removê-la? Caso a resposta seja positiva deve-se atentar para as seguintes observações: O espaço a ser criado tem que ser suficiente para a contínua prestação de cuidados pré-hospitalares; O espaço a ser criado tem que permitir a remoção da vítima com o menor número de movimentos possíveis; A criação de espaço progride em função das indicações daqueles que realizam o atendimento pré-hospitalar e a extração; Os cortes e expansões estratégicos devem seguir o plano estabelecido; Devem ser removidas as ferragens que prendem a vítima e não a vítima das ferragens; e Nenhum objeto transfixado na vítima poderá ser retirado da mesma pela equipe de salvamento. 13.1 TÉCNICAS DE DESENCARCERAMENTO 229 CURSO DE RESGATE VEICULAR - 3ª EDIÇÃO 13.1.1 Portas por meios não destrutivos O primeiro critério de acesso é o das portas por meios não destrutivos. Ou seja, trata-se da tentativa de abrir manualmente as portas. 13.1.2 Quebra e retirada dos vidros Nos veículos de porte leve o resgatista pode encontrar basicamente os seguintes tipos de vidros: temperado, laminado, blindado e policarbonato. 13.1.2.1 Vidro temperado O vidro temperado é submetido a um processo especial de endurecimento que lhe confere duas características importantes em casos de acidentes: maior dureza e total fragmentação, em pequenas partes, em caso de quebra. A retirada dos vidros temperados se faz pelo seu quebramento, da seguinte maneira: Usar EPI’s; Proteger as vítimas e o socorrista que estiverem no interior do veículo com cobertores, lonas ou protetores rígidos; Colocar uma lona no solo, abaixo da janela que se deseja romper; Emitir o comando de voz “vidro” e quebrar o vidro atingindo-o na parte mais baixa, evita-se assim que a maioria dos fragmentos seja projetada para dentro do veículo; Para a quebra utiliza-se um dos instrumentos abaixo: Quebra-vidros; Machadinha de resgate (parte com ponta cilíndrica); Chave de fenda grande; ou Pé-de-cabra; Com auxílio de uma ferramenta (jamais com a mão) retiram-se todos os fragmentos e a moldura da janela, de forma que caiam em uma lona posta no chão; 230 CURSO DE RESGATE VEICULAR - 3ª EDIÇÃO Jogar os pedaços de vidro na área de descarte; Se for o caso, proteger a borda da janela com uma lona antes de realizar eventual acesso. Caso não haja viabilidade de utilizar uma lona no chão, os pedaços de vidro que caírem sobre este devem ser jogados para baixo do veículo. 13.1.2.2 Vidro laminado A retirada do vidro laminado se faz pelo seu corte utilizando-se uma das técnicas abaixo: a) Com auxílio de uma machadinha de resgate Usar EPI’s; Proteger as vítimas e o socorrista que estiverem no interior do veículo com cobertores, lonas ou protetores rígidos; Um Bombeiro posiciona-se em um dos lados do veículo com uma machadinha de resgate, enquanto outro colega se posiciona do outro lado; Emitir o comando de voz “vidro” e realizar uma abertura no párabrisa com a ponta da machadinha de resgate e cortar a metade mais próxima do vidro, ao longo da moldura da janela; Entregar a machadinha ao colega, que está no outro lado do veículo, e sustentar o vidro enquanto ele repete a manobra do lado no qual se encontra; e Ao final retirar o vidro e o colocá-lo na área de descarte. b) Com uma serra sabre Usar EPI’s; Proteger as vítimas e o socorrista que estiverem no interior do veículo com cobertores, lonas ou protetores rígidos; 231 CURSO DE RESGATE VEICULAR - 3ª EDIÇÃO Posicionar um integrante da guarnição em um dos lados do veículo com uma serra sabre, do outro lado também deverá haver um membro da equipe; Emitir o comando de alerta “vidro” e executar uma abertura, na parte superior do párabrisa, com a ponta da machadinha de resgate e cortar a metade mais próxima do vidro ao longo da moldura; Entregar a serra sabre ao colega, que está do outro lado do automóvel, e sustentar o vidro, enquanto este repete a manobra do lado dele; Ao final, retirar o vidro e colocá-lo na área de descarte; e Proteger com uma lona as arestas de vidros restantes. Um único Bombeiro, desde que haja segurança, poderá ficar de pé sobre o capô do veículo e executar o corte na sua totalidade. Após se obter sucesso no acesso à vítima, pode-se, ainda, para facilitar a sua extração, realizar a retração de bancos, o afastamento de pedais, afastamento e/ou a remoção de volante etc. 13.1.2.3 Policarbonato A quebra ou o corte do policarbonato mostra-se impraticável, exceto com o uso de um cortador a disco. No caso de uso da serra sabre, em decorrência do atrito e aquecimento das superfícies, acontecerá o derretimento do policarbonato e o travamento da lâmina da serra sabre. Se não for possível promover a abertura da janela de policarbonato, por meio da sua descida, deve-se optar, se viável, pela abertura ou retirada de porta. 13.1.3 Gestão de bancos, pedais e volante 13.1.3.1 Afastamento manual dos bancos 232 CURSO DE RESGATE VEICULAR - 3ª EDIÇÃO Após a abertura das portas, pode-se, com o intento de livrar a vítima da situação que a retém no interior do automóvel, obter espaço adicional com o deslocamento dos bancos dianteiros para trás. Estando os trilhos do banco intactos é possível soltar a sua trava e deslocá-lo manualmente para trás. Outro procedimento útil, em alguns casos, é o simples reclinamento manual do encosto das costas para trás. 13.1.3.2 Afastamento de pedal Em acidentes automobilísticos é comum que condutores fiquem com os pés presos entre os pedais, havendo a precisão de afastá-los para possibilitar um adequado atendimento pré-hospitalar à vítima, bem como extraí-la. Na ausência de um minicortador, que é utilizado para cortar pedais, a técnica mais prática de afastamento de pedal consiste em puxar manualmente o pedal para cima ou para os lados com o uso de um cabo da vida ou fita tubular. Há ainda a alternativa de utilizar o alargador para realizar o afastamento do pedal. Neste caso, os procedimentos são; 233 CURSO DE RESGATE VEICULAR - 3ª EDIÇÃO Abrir a portar ou retirá-la para expor o pedal; Confeccionar uma alça com um cabo da vida ou fita tubular, utilizando para tanto um nó de fita ou nó d’água; Passar a alça pelo pedal que se deseja afastar; Com o alargador fechado, apoiar as suas ponteiras na caixa de ar ou na base da coluna “A”, de forma a inseri-las na alça; Acionar o alargador, de forma a abri-la, para puxar o pedal. 13.1.3.3 Elevação de volante Existem colisões nas quais há a necessidade de realizar a elevação do volante e da barra de direção para possibilitar tanto o atendimento pré-hospitalar a uma vítima quanto para extraí-la. Nestes casos a criação deste espaço pode ser realizada com o uso de correntes, do expansor ou do cilindro de resgate. 13.1.3.3.1 Com o uso do extensor Se a ocorrência possibilitar a introdução do extensor entre o assoalho e a barra de direção, os passos a serem seguidos são: Proteger as vítimas e os socorristas que estão no interior do veículo; Acessar o interior do veículo pela porta do condutor; Posicionar o extensor entre a barra de direção e o assoalho. Se for viável, para aumentar a base de contato do extensor com o assoalho, posicionar um calço entre estes; e Acionar o extensor, de forma a elevar seus êmbolos e abarra de direção. 234 CURSO DE RESGATE VEICULAR - 3ª EDIÇÃO 13.1.3.3.2 Elevação de volante com o uso de correntes Proteger as vítimas e os socorristas que estão no interior do veículo; Retirar o párabrisas e colocá-lo na área de descarte; Posicionar um calço perpendicular ao párabrisas, apoiado-o entre a travessa dianteira de reforço do teto e o capô; Envolver a barra de direção e o calço com uma corrente, formando uma alça; Com o alargador fechado, inserir as suas ponteiras entre a corrente e o calço; e Acionar o alargador, de forma a abri-la, para realizar a elevação da barra de direção. Por último, acrescenta-se que na ausência do alargador pode-se utilizar um guincho de alavanca. 235 CURSO DE RESGATE VEICULAR - 3ª EDIÇÃO 13.1.3.3.3 Remoção de volante Quando a elevação do volante não for suficiente, sendo necessário um maior espaço para o acesso à vítima, bem como para a sua extração, pode ser feito o corte do volante, com cortador a disco ou a serra sabre, para a sua remoção. 13.1.4 Abertura forçada e remoção de portas A retirada de portas pode ser feita com vários objetivos, entre eles: Desencarceramento de uma vítima; Permitir acesso à vítima; e Obter acesso a coluna “A” para rebater o painel ou expor os pedais. Esta técnica possui duas etapas bem definidas: a obtenção do ponto de apoio e a retirada propriamente dita. 13.1.4.1 Obtenção do ponto de apoio para as ferramentas A primeira dificuldade para a abertura da porta é a obtenção de um ponto de apoio para a ferramenta hidráulica. Este ponto de apoio pode ser obtido: Com um pé-de-cabra, uma alavanca ou um halligan, pressionando-o contra a interseção da porta do lado das dobradiças ou da fechadura. No caso do uso do halligan, inserir a sua cunha no friso da porta, no ponto onde se deseja criar o espaço, e realizar um giro em sentido horário ou anti-horário para amassar o metal do local; 236 CURSO DE RESGATE VEICULAR - 3ª EDIÇÃO Comprimindo, com o alargador, o páralamas à frente da porta que se deseja retirar e, se houver obstrução das dobradiças, seccioná-lo e dobrar para cima do capô ou cortar totalmente o pedaço do páralamas ainda preso à lataria do veículo; “Beliscando” a porta, em pontos próximos da fechadura, com o alargador; Pressionando, com o alargador, o perfil do teto contra a porta; e Pressionando, com o alargador, a borda da janela junto da coluna, da que estiver próxima de onde se deseja criar o ponto de apoio, do lado da fechadura ou das dobradiças. 13.1.4.2 Retirada pelas dobradiças Gerenciar os riscos; Estabilizar o veículo; Proteger as vítimas e os socorristas no interior do veículo; Retirar os vidros que tendem a atrapalhar a operação; Obter um ponto de apoio para a ferramenta próximo às dobradiças; 237 CURSO DE RESGATE VEICULAR - 3ª EDIÇÃO Começar pela dobradiça superior; Encaixar o alargador na parte de cima da dobradiça superior; Com o alargador apoiado na coluna “A” e na porta executar o seu acionamento até a visualização da dobradiça superior; Romper a parte alta da dobradiça superior; Se necessário, romper a dobradiça superior na sua porção inferior; Romper a parte alta da dobradiça inferior; Se necessário, também romper a dobradiça inferior na sua porção baixa; Desencaixar a porta da moldura; Desencaixar a porta da fechadura ou, se necessário, rompê-la com o alargador; Retirar a porta e a levar para a área de descarte; e Aplicar proteção sobre as bordas cortantes das ferragens expostas. 13.1.4.3 Retirada pela fechadura Proteger as vítimas e os socorristas no interior do veículo; Retirar os vidros que tendem a atrapalhar a operação; Obter um ponto de apoio para o alargador; Encaixar o alargador na parte de cima da fechadura; 238 CURSO DE RESGATE VEICULAR - 3ª EDIÇÃO Abrir o alargador até a visualização da fechadura; Desencaixar a fechadura do pino que a prende; Executar a expansão máxima da porta; Voltar a porta à sua posição fechada, porém sem encaixá-la, ou abri-la; Utilizar o alargador para romper as dobradiças; Retirar a porta e a levar para a área de descarte; e Aplicar proteção sobre as bordas cortantes das ferragens expostas. Há casos nos quais não se faz necessária a retirada da porta, conseguindo-se um atendimento mais ágil. Nestas hipóteses uma alternativa é optar pela abertura total da porta, isto é, a porta é desencaixada da fechadura, aberta parcialmente e, na seqüência, o corta-se o seu limitador para se obter uma abertura total, de forma a tocar no paralamas. A seguir, a porta aberta é amarrada com o uso de um cordele ou cabo da vida. 13.1.4.4 Terceira porta Técnica para remoção da parte lateral do lado do ocupante, criando-se uma espécie de terceira porta no veículo de duas portas. Isto é, esta técnica é utilizada quando existem vítimas no banco traseiro de veículos com duas portas. As ações são: Gerenciar os riscos; Estabilizar o veículo; Proteger as vítimas e os socorristas no interior do veículo; Retirar os vidros que tendem a atrapalhar na operação; Obter apoio para introdução o alargador; Retirar a porta lateral dianteira do lado da operação e a levar para a área de descarte; Com o cortador executar um corte na parte baixa da coluna “B; Cortar a coluna “B” na sua parte alta, próximo ao teto; Rente ao encosto do banco traseiro, próximo do canto inferior da moldura do vidro, produzir um corte de alívio na lateral e aprofundar este 239 CURSO DE RESGATE VEICULAR - 3ª EDIÇÃO corte. Como alternativa, pode-se utilizar a serra sabre (com lâmina de 12 polegadas) para produzir o corte; Utilizar o alargador apoiado na base do banco e rebater a lateral do veículo. Como alternativa, pode-se utilizar o alargador com uma extremidade apoiada no túnel do assoalho e a outra apoiada na parte média da coluna B para rebater a lateral do veículo . Ou ainda, prender as ponteiras do alargador na moldura da janela, na parte próxima à fechadura, e utilizá-la como alavanca pra dobrar a lataria; e Aplicar proteção nas bordas cortantes. 13.1.4.5 Retirada das portas de um mesmo lado Gerenciar os riscos; Estabilizar o veículo; Proteger as vítimas e os socorristas no interior do veículo; Retirar os vidros que tendem a atrapalhar a operação; Obter um ponto de apoio para a ferramenta próximo às dobradiças da porta dianteira; Começar pela dobradiça superior da porta dianteira; Encaixar o alargador na parte de cima da dobradiça superior; 240 CURSO DE RESGATE VEICULAR - 3ª EDIÇÃO Com o alargador apoiado na coluna “A” e na porta executar o seu acionamento até a visualização da dobradiça superior; Romper a parte alta da dobradiça superior da porta dianteira; Se necessário, também romper a dobradiça superior na sua porção inferior; Romper a parte superior da dobradiça inferior da porta dianteira; Se necessário, também romper a dobradiça inferior na sua porção baixa; Desencaixar a porta dianteira da moldura; Desencaixar a porta dianteira da fechadura ou, se necessário, rompê-la com o alargador; Retirar a porta dianteira e a levar para a área de descarte; Obter um ponto de apoio para a ferramenta próximo às dobradiças da porta lateral traseira; Começar pela dobradiça superior da porta lateral traseira; Encaixar o alargador na parte de cima da dobradiça superior; Com o alargador apoiado na coluna “B” e na porta executar o seu acionamento até romper a dobradiça superior da porta lateral traseira; Se necessário, romper a dobradiçasuperior na sua porção inferior; Romper a parte superior da dobradiça inferior da porta lateral traseira; Se necessário, romper a dobradiça inferior na sua porção inferior; Desencaixar a porta lateral traseira da moldura; Desencaixar a porta lateral traseira da fechadura ou, se necessário, rompê-la com a ferramenta de expansão; Retirar a porta lateral traseira e a levar para a área de descarte; Corta o cinto de segurança; Cortar a coluna “B” na sua parte alta e também na baixa; Levar a coluna para a área de descarte; e Aplicar proteção sobre as bordas cortantes das ferragens expostas. 241 CURSO DE RESGATE VEICULAR - 3ª EDIÇÃO 13.1.4.5.1 Grande porta A retirada das portas laterais de um mesmo lado de um veículo permite maior espaço para acesso à vítima e também uma via para extração horizontal. Os procedimentos básicos são: Proteger as vítimas e os socorristas no interior do veículo; Retirar os vidros que tendem a atrapalhar na operação; Obter, próximo da fechadura da porta lateral traseira, apoio para introdução do alargador; Abrir, com o alargador, a porta lateral traseira começando a operação pela fechadura; Ao romper a fechadura da porta lateral traseira e abri-la; Cortar o cinto de segurança; Cortar a coluna “B” na parte baixa. Caso o corte não seja suficiente para seccioná-lo por completo, pode-se encaixar as ponteiras do alargador entre a caixa de ar e um ponto da porta de forma que, após começar a expansão, a lataria da coluna seja “rasga” pelo o alargador; Cortar a coluna “B” na parte alta e, após soltar toda a coluna “B”, abrir toda a lateral do carro como se fosse uma só porta; Se necessário, romper as dobradiças da porta lateral dianteira, retirando por completo as portas da lateral e levando-as para a área de descarte; e 242 CURSO DE RESGATE VEICULAR - 3ª EDIÇÃO Aplicar proteção nas bordas cortantes. O corte da coluna “B”, na sua porção superior, pode ser feito de duas formas: a) Reto, quando não houver equipamentos de segurança que dificultem ou impeçam a execução do corte; b) Angular, quando houver a presença de equipamentos de segurança. 13.1.4.6 Retirada de porta de veículo capotado sobre o seu teto Proteger as vítimas e os socorristas no interior do veículo; Retirar os vidros que tendem a atrapalhar a operação; Obter um ponto de apoio para a ferramenta próximo das dobradiças ou, conforme o caso, da fechadura da porta que se deseja extrair; Alternativas de corte na coluna “B” 243 CURSO DE RESGATE VEICULAR - 3ª EDIÇÃO Encaixar o alargador na parte de cima da dobradiça que estiver mais alta ou, conforme o caso, da fechadura da porta; Com o alargador apoiado na coluna “A” ou, conforme o caso, na coluna “B” e na porta executar a expansão até a visualização da dobradiça ou da fechadura da porta que se deseja extrair; Romper as dobradiças ou, conforme o caso, desencaixar a fechadura do pino ou rompê-la; Desencaixar a porta da moldura; Utilizar o alargador para desencaixar a porta da fechadura ou, conforme o caso, romper as dobradiças; Retirar a porta e a levar para a área de descarte; e Aplicar proteção sobre as bordas cortantes das ferragens expostas. 13.1.4.6.1 Procedimento alternativo retirada de porta de veículo capotado sobre o seu teto 13.1.4.7 Grande porta em um veículo capotado sobre o seu teto Proteger as vítimas e os socorristas no interior do veículo; Retirar os vidros que tendem a atrapalhar na operação; 244 CURSO DE RESGATE VEICULAR - 3ª EDIÇÃO Obter apoio para introdução do alargador; Abrir, com o alargador, a porta lateral traseira começando a operação pela fechadura; Ao romper a fechadura da porta lateral traseira e abri-la; Cortar o cinto de segurança; Cortar a coluna “B” na parte próxima da caixa de ar. Caso o corte não seja suficiente para seccioná-lo por completo, pode-se encaixar as ponteiras do alargador entre a caixa de ar e um ponto da porta de forma que, após começar a expansão, a lataria da coluna seja “rasga” pelo alargador; Cortar a coluna “B” na parte próxima do teto e, após soltar toda a coluna “B”, abrir toda a lateral do carro como se fosse uma só porta; Se necessário, romper as dobradiças da porta lateral dianteira, retirando por completo as portas da lateral e levando-as para a área de descarte; e Aplicar proteção nas bordas cortantes. Quando se opta pela retirada das duas portas de um mesmo lado em um veículo capotado há que se observar a integridade das colunas, sobretudo da coluna “B”. Assim, se houver comprometimento da coluna “B”, antes de retirá-la ou, conforme o caso, retirar a segunda porta, há que se providenciado o calçamento da estrutura. Para tanto pode ser inserido um extensor, uma escora ou uma conjugação de calços rente à coluna “B” (apoiando o perfil do teto e a caixa de ar) antes da retirada da segunda porta. Formas de obtenção de ponto de apoio para int rodução da ferramenta hidráulica de expansão 245 CURSO DE RESGATE VEICULAR - 3ª EDIÇÃO 13.1.5 Rebatimento de teto 13.1.5.1 Rebatimento de teto para trás Os procedimentos essenciais são: Gerenciar os riscos; Estabilizar o veículo; Retirar os vidros; Proteger as vítimas e socorristas que estão no interior do veículo; Observar, de forma detalhada, os pontos onde serão realizados os cortes, checando inclusive a existência de dispositivos de segurança; Cortar as colunas na seguinte seqüência: o Colunas “A” e “B” do lado oposto ao da vítima; o Realizar corte de alívio no perfil do teto rente à coluna “C” do lado oposto ao da vítima. o Colunas “A” e “B” do lado da vítima; o Realizar corte de alívio no perfil do teto rente à coluna “C” do lado da vítima. Os cortes nas colunas deverão, na medida do possível, serem feitos na parte mais baixa destas; Se for necessário, cortar os cintos de segurança fixados nas colunas “B”; Amarrar um cabo da vida em cada coluna A; Puxar o teto para trás. Outros resgatistas poderão elevar a parte que será rebatida; Amarrar a parte rebatida à traseira do veículo; e Aplicar proteção nas ferragens expostas. A mesma técnica pode ser executada sem a necessidade de retirar o párabrisa, sendo que quando a coluna “A” for secionada dos dois lados, bastará usar o alargador no corte para descolar o vidro. Outra alternativa é cortar o párabrisas na mesma linha horizontal do corte feito nas colunas “A”, o qual pode ser feito com o uso, por exemplo, da serra sabre. 246 CURSO DE RESGATE VEICULAR - 3ª EDIÇÃO 13.1.5.2 Rebatimento de teto para frente O rebatimento de teto para frente proporciona benefícios à operação de resgate, como a possibilidade de extração da vítima em ângulo zero, caso esta esteja em posição convencional, e a realização de manobras sem necessidade de extrair o párabrisas. As ações básicas são: Retirar os vidros (menos o do párabrisas); Proteger as vítimas e socorristas que estão no interior do veículo; 247 CURSO DE RESGATE VEICULAR - 3ª EDIÇÃO Observar detalhadamente os pontos onde serão realizados os cortes, verificando inclusive a existência de dispositivos de segurança; Cortar as colunas na seguinte seqüência: o Colunas “B” e “C” do lado oposto ao da vítima; o Executar um corte de alívio no perfil do teto rente à coluna “A” do lado oposto ao da vítima; o Colunas “B” e “C” do lado da vítima; o Executar um corte de alívio no perfil do teto rente à coluna “A” do lado oposto da vítima; Se for necessário, cortar os cintos de segurança fixados nas colunas “B”; Rebater o teto para frente e o fixar com um cabo; e Aplicar proteção