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Página 1 Introdução à Agronomia: Conceitos Básicos e Exercícios Prof. Carlos R. Spehar Faculdade de Agronomia e Medicina Veterinária, FAV Universidade de Brasília, UnB spehar@unb.br Página 2 Índice Página Introdução 4 Solos: Base da Agricultura 5 Rochas: Material de Origem dos Solos 5 Rochas Ígneas ou Magmáticas 5 Rochas Metamórficas 8 Rochas Sedimentares 9 Detríticas 10 Quimiogênicas 11 Biogênicas 11 Rochas, Intemperismo e Solo 11 Corretivos e Fertilizantes 12 Calagem 13 Gessagem 15 Fertilização 16 Desenvolvimento da Agropecuária no Cerrado e o Ambiente Natural 17 Domesticação de Plantas e Animais 21 Centros de Origem das Plantas e dos Animais Domésticos 22 Centro Chinês 24 Centro Indiano 25 Centro Indo Malaio 25 Centro Asiático Central 25 Centro Oriental Próximo ou Crescente Fértil 25 Centro Mediterrânico 26 Centro Abissínio 27 Centro Mexicano do Sul e Centro-Americano 27 Centro Sul Americano 28 Centro Ilha de Chiloé (Extensão do Centro Sul Americano) 28 Centro Brasileiro Paraguaio (Extensão do Centro Sul Americano) 28 Classificação Binomial: Plantas, Animais e Micro-organismos 30 Relações Atmosféricas, Radiação Solar e a Vida no Planeta Terra 32 Densidade Média do Fluxo Energético 33 Composição Espectral 33 Interação com a Terra 34 Absorção Atmosférica e o Efeito Estufa 34 Transmissão da Energia 35 O Equilíbrio Energético no Planeta 35 Mudanças Climáticas, Ambientais e Impacto Global 37 Relações entre Atmosfera Terrestre e Radiação Solar 38 Atividade Humana e Alterações Atmosféricas 38 Consequências das Emissões de Gases 39 Evidências de Mudanças 40 Variações Climáticas, Protocolos e Acordos Internacionais 40 Ações para Reverter o Problema 41 Cenários 42 Aquecimento Global e a Teoria de Gaia 43 Sistemas de Preparo do Solo 44 Diversidade e Agricultura 45 Agricultura em Ambiente Tropical – Evolução no Cerrado 48 Consequências do Preparo Contínuo do Solo 50 Página 3 Evolução dos Sistemas de Cultivo no Brasil 51 Sistemas integrados de cultivo 51 Aperfeiçoamento do plantio direto e outras práticas 55 Benefícios Associados ao Plantio Direto 55 Premissa para Adoção do Plantio Direto 56 Evolução da Mecanização, da Agropecuária e da Sociedade 56 Tráfego Controlado e Conservação do Solo 58 Criação de Oportunidades 58 Diversificação Agropecuária e o Futuro 59 Melhoramento Genético e Ganhos na Agropecuária 60 Modo de Reprodução na Genética e no Melhoramento 61 Plantas anuais 63 Plantas perenes 63 Avanços na Agropecuária e Ciência 64 Soja Adaptada às Baixas Latitudes 64 Fixação Biológica de Nitrogênio (FBN) na Família Fabaceae 65 Zootecnia: Importância e Visão geral 67 Ruminantes: Bovino, Caprinos, Ovinos, Bubalinos e Camelídeos 67 Equinos, Asininos e Muares 70 Suinos 70 Aves 71 Aquicultura 72 Agronegócio 73 Insumos 73 Produção 73 Distribuição 74 Alimentos 74 Biocombustíveis 74 Fibras 74 Madeira 74 Questão Ambiental 74 Questão social 75 Características dos Módulos de Produção 76 Pequenas e Médias Áreas 76 Grandes Áreas 76 Relação entre Nutrição da Planta e Produção de Grãos: Soja 77 Exercícios e Definições 78 Desafios aos Estudantes que Iniciam Agronomia 80 Referências e Literatura Consultada 81 Página 4 Introdução Este texto reúne pontos relevantes e de interesse aos estudantes que iniciam o curso de agronomia, tendo sido preparado a partir de compilações de aulas, palestras e práticas ministradas durante os semestres letivos. Espera-se, com a apresentação de conceitos básicos, despertar o interesse daqueles que optaram por enveredar pelas ciências agrárias, criando expectativas. O que está por vir, ao longo do curso, depende da semente. Por oportuno, lembra-se aqui a parábola do semeador, recomendada à leitura na íntegra (Lucas 8:4-8): “Saiu o semeador para semear a sua semente. Quando semeava, uma parte da semente caiu à beira do caminho; foi pisada, e as aves do céu a comeram. Outra caiu sobre a pedra; e tendo crescido, secou, porque não havia umidade. Outra caiu no meio dos espinhos; com ela cresceram os espinhos, e sufocaram-na. Outra caiu na boa terra e, tendo crescido, deu fruto a cento por um”. Cada um de nós é como a semente. O segredo para desenvolver e produzir bons frutos reside em fertilizar sonhos, aqueles poderosos que marcarão nossas vidas. Cultivando-os, despertaremos forças interiores, nos manteremos inspirados, exercitando o pensamento rumo à superação de nossas limitações e a plena realização profissional. Página 5 Solos: Base da Agricultura A agricultura, atendendo a demanda por alimentos fibras e outras matérias primas, tão essenciais à sociedade humana, não existiria sem os solos. Ele serve de suporte às plantas, fornecendo-lhes água, nutrientes e abrigando macro e micro-organismos que de alguma forma contribuem para o crescimento e desenvolvimento das plantas. Dentre os micro-organismos citam-se bactérias nitrificadoras e fixadoras de nitrogênio, fungos do grupo das micorrizas, que contribuem para a disponibilização, fixação ou absorção de elementos químicos nutrientes, como o nitrogênio e o fósforo, por exemplo. Há vários tipos de solos, segundo o material de origem. As características físicas, químicas e biológicas, próprias de cada tipo de solo, são o ponto focal para o manejo de forma sustentável. O conhecimento de como o solo funciona é imprescindível à agricultura em base econômica, equilibrada com o meio ambiente. Portanto conhecer o solo, sua origem e seus principais componentes é uma necessidade na formação do engenheiro agrônomo. Rochas: Material de Origem dos Solos Os solos se originaram das rochas, as quais podem ser ígneas, metamórficas e sedimentares. Eles representam o resultado de intemperismo – ação dos componentes ambientais: temperatura e atmosfera (umidade, gases e outros) que atuam nas rochas (material de origem), levando à sua decomposição ao longo do tempo. A seguir, será apresentada uma síntese sobre as características de cada tipo de rocha, enfatizando-se a composição. A composição das rochas tem ligação direta com as propriedades dos solos que delas se originam. Rochas Ígneas ou Magmáticas As rochas magmáticas ou ígneas se originam no interior do planeta sendo produto da solidificação do magma pastoso. O magma é fluido, de fundição parcial ou total, composto por silicatos, silícios e substâncias e elementos voláteis, como, vapor d´água, cloretos, hidrogênio, flúor dentre outros. Estas rochas são muito resistentes constituindo-se na matéria prima do embasamento rochoso dos continentes. São as mais antigas, reportando à origem do planeta Terra, estimada por ter ocorrido há 4,6 bilhões de anos. Associadas ao resfriamento da crosta terrestre são consideradas as mais antigas. Entretanto, via o vulcanismo, tem havido formação dessas rochas durante todo esse período da existência de nosso planeta. http://www.infoescola.com/quimica/silicatos/ http://www.infoescola.com/elementos-quimicos/silicio/ http://www.infoescola.com/quimica/cloretos/ http://www.infoescola.com/elementos-quimicos/hidrogenio/ http://www.infoescola.com/elementos-quimicos/fluor/ Página 6 A B Figura 1. Granito (A), de reação ácida e basalto (B), de reação básica rochas magmáticas. Das rochas magmáticas destacam-se granito, gabro, diabásio e basalto (Figura 1). Toda vez que ocorrem erupções vulcânicas que expelem lava pela superfície, formam-se novas quantidade dessas rochas primárias. Neste caso vale acrescentar que, as rochas graníticas são classificadas como ácidase o diabásio, o glabro e o basalto se caracterizam por serem de reação básica. Certamente, os solos que terão origem a partir destas rochas, por efeito da http://www.infoescola.com/rochas-e-minerais/granito/ http://www.infoescola.com/wp-content/uploads/2010/06/granito.jpg Página 7 ação dos elementos climáticos, refletirão a sua composição e reação química, como será visto. Sempre é bom lembrar que no início da formação de nosso planeta, as forças do intemperismo eram muito mais exacerbadas, com vulcanismo enriquecendo a atmosfera de gases e detritos, originando chuva ácida que atuava sobre as rochas. O processo de solidificação das rochas, a partir do magma, com o resfriamento do planeta, pode ocorrer quando este atinge a superfície ou quando no interior da crosta terrestre, permitindo classificá-las em rochas intrusivas ou extrusivas. Esse processo, em menor escala, tem ocorrido nos tempos mais recentes. Veja-se o exemplo de erupções vulcânicas; com o escorrimento de lava, que solidifica, inicia-se o processo que, depois de milhões de anos, leva à formação dos solos. As rochas extrusivas formam-se a partir da ejeção do magma em erupções vulcânicas, tendo um rápido resfriamento ao atingir a superfície, passando do estado líquido ou gasoso ao sólido em pouco tempo. Desta forma, sua estrutura será vítrea, impossibilitando a cristalização dos minerais. O basalto e a obsidiana são exemplos de rochas extrusivas, a primeira de reação básica. Por que é interessante classificar as rochas quanto à reação química? Os solos delas originados terão reação proporcional à da rocha de origem. Não seria surpresa descobrir-se que os solos encontrados no Cerrado se originaram de rochas ácidas, com baixa disponibilidade de elementos químicos nutrientes às plantas. Tem-se como exemplos os latossolos com baixa fertilidade medida pelos teores de fósforo (P), potássio (K), cálcio (Ca), magnésio (Mg), enxofre (S) e elementos requeridos em menores quantidades, como zinco (Zn), cobre (Cu), manganês (Mn), molibdênio (Mo), boro (B). As rochas intrusivas, também chamadas de plutônicas, resultam de lento resfriamento do magma. Estas rochas são originárias de regiões profundas no subsolo onde formam cristais. Quando o magma apresenta grandes quantidades de gases e elementos voláteis, as rochas que se formam são os pegmatitos. A forma bem fluida do magma possibilita a formação de cristais de grande dimensão. As rochas magmáticas, com reações ácidas, básicas ou de reação neutra, apresentam diferenciação relacionada ao teor de silício (Si) na rocha. Com teores acima de 65% a rocha será ácida, formando-se silicatos e cristais de quartzo. Nas rochas neutras o teor de silício varia entre 52 a 65%, enquanto nas rochas básicas o teor de silício situa-se entre 45 e 52%, condição em que não se forma o quartzo. O quartzo é rocha cristalina, rica em silício, que ao se decompor, contribui para o teor de areia dos solos. Portanto, as rochas magmáticas ou ígneas podem variar na sua composição e apresentar reações próprias variando entre ácidas, neutras e básicas. Sua decomposição ao longo do tempo, na fase mais avançada, origina o solo. Assim, solos provenientes de rochas basálticas, são básicos e ricos em nutrientes, contrastando com as rochas graníticas, originando solos ácidos e pobres em elementos químicos nutrientes às plantas e animais. Conhecer este http://www.infoescola.com/rochas-e-minerais/basalto/ http://www.infoescola.com/geologia/obsidiana/ http://www.infoescola.com/fisico-quimica/gases/ Página 8 ciclo é de grande valor, pois norteia a decisão de como atuar, corrigindo e fertilizando o solo antes de sua incorporação à agropecuária. Exemplo do que foi dito é a ocorrência de solos férteis em parte do Paraná, São Paulo, Minas Gerais e Goiás oriunda da extrusão de magma (rochas basálticas, de reação básica). O fenômeno ocorreu entre 251 e 65 milhões de anos AEA. Em São Paulo e no Paraná eles receberam o nome de “terra roxa”, apresentando elevada fertilidade natural. O nome foi dado pelos imigrantes italianos que, chegando ao nosso país, se surpreendiam com a forte cor dos mesmos. A denominação, ainda adotada popularmente, vem de “rosso”, significando vermelho no idioma dos imigrantes, a cor real desse tipo de solo. Antes da agricultura contemporânea praticada no Cerrado, incorporando uso de corretivo (calcário e gesso) e fertilizante (nitrogênio, fósforo, potássio e micronutrientes), a produção agropecuária no Brasil concentrava-se em solos naturalmente férteis. Estes solos presentes no Nordeste brasileiro, Sul de Minas Gerais, Norte de São Paulo e outras partes do Brasil, se constituíram em base da nossa cafeicultura. Ou seja, até os anos 1950, era baixo o uso de corretivos e fertilizantes no Brasil. Portanto, imensas áreas de Mata Atlântica próximas ao litoral e de outras partes do Brasil, com solos naturalmente férteis, deram lugar a grandes cultivos como o da cana-de-açúcar. Desde os tempos coloniais, os solos massapé no Nordeste Brasileiro, também originados de rochas ricas em elementos químicos nutrientes às plantas, têm sido explorados na agropecuária. Ademais, em tempo não muito distante do atual, há 60-70 anos, imensas áreas antes cobertas por vegetação exuberante na floresta de araucária – o pinheiro brasileiro – Araucária brasiliensis, foram desmatadas para a expansão agrícola. Tudo isto sem o critério de manterem-se reservas – áreas virgens, remanescentes da vegetação original, uma exigência legal na atualidade. Rochas Metamórficas Rochas metamórficas se originam da transformação de outras rochas por efeito de condições específicas de temperatura e pressão (Figura 2). Página 9 Figura 2. Mármore, rocha metamórfica formada a partir da transformação da calcita ou carbonato de cálcio (CaCO3). Estas rochas se originam de outras que, submetidas à pressão e temperaturas diferenciadas, transformam-se e modificam suas características em um processo denominado metamorfismo. O fenômeno ocorre em camadas medianas e profundas da crosta terrestre ou em regiões vulcânicas. A metamorfose das rochas pode ocorrer na mineralogia, com a formação de novos tipos de compostos minerais e na textura, com alterações nos tipos de cristalização, alinhamento, clivagem e outros. Durante o metamorfismo, ocorre diferença de temperatura e pressão não havendo a fusão, que seria equivalente à transformação em magma. O metamorfismo, quando ocorre em rochas sedimentares, estas denominam rochas parametamórficas; quando são oriundas de rochas ígneas, são chamadas de ortometamórficas, existindo ainda aquelas originadas de outras rochas metamórficas. As rochas metamórficas podem manter algumas características de suas rochas formadoras (protólitos), como a base de alguns minerais, a sua estruturação e composição química. Assim, o protólito é determinante para as características das rochas metamórficas. Exemplos importantes de rochas metamórficas são: o gnaisse, proveniente do granito; a ardósia, formada a partir do xisto (rocha metamórfica), e o mármore, que é a transformação do calcário (rocha sedimentar). \ Rochas Sedimentares Rocha sedimentar é constituída de sedimentos os mais variados como areia, argila, silte, seixos, mistura destes e componentes orgânicos (Figura 3). Página 10 Figura 3. Penhascos formados por rochas sedimentares. A matéria transportada e acumulada em várias situações, como, por exemplo, às margens de um rio, por efeito de temperatura, passa por diagênese ou litificação. Os sedimentos se agregam de forma estável, transformando-se em rocha. Além de cursos d’água, lagos, baías, lagunas, estuários, deltas e fundo de mares e oceanos podem contribuir para a formação desse tipo de rocha. Este tipo de rocha depende da composição dos sedimentos. Os fósseis de animais e vegetais, que tanto contribuempara entender a dinâmica da vida em nosso planeta através do tempo, são associados com as rochas sedimentares. Em geral, aparecem envolvidos entre a matéria constitutiva do sedimento rochoso. As rochas sedimentares ocorrem em camadas da crosta terrestre, representando aproximadamente 75% do material exposto à superfície. A rocha sedimentar abundante na crosta terrestre é denominada de clástica ou mecânica. Há outro tipo sedimentar cuja matéria que o forma é predominantemente orgânica, com destaque para litificação de restos orgânicos, como os do carvão, denominado rocha sedimentar orgânica. Quando ocorre a precipitação de elementos químicos por sais como o carbonato de cálcio (calcário) ou halita (sal de cozinha), onde se encontram dissolvidos na água de lagos, lagunas, mares rasos, por evaporação da água. Estas são as rochas sedimentares químicas. A classificação baseada no processo em que se formam se contrapõe a classificação por material componente das rochas. Assim, têm-se rochas sedimentares com a seguinte definição: Detríticas – quando em sua constituição predominam detritos de outras rochas, resultantes da sua fragmentação ou "meteorização". Rochas sedimentares detríticas apresentam-se como i) não consolidadas, como http://www.infoescola.com/biomas/estuario/ http://www.infoescola.com/compostos-quimicos/carbonato-de-calcio/ Página 11 depósito de balastros, areias, siltes e argilas; ii) consolidadas, formadas pela consolidação destes mesmos sedimentos detríticos por diagênese. Quimiogênicas - originárias do processo de precipitação de minerais em solução. Neste grupo temos o calcário, o gesso e o sal-gema. Biogênicas - são rochas constituídas de sedimentos de origem biológica, resultado dos restos de seres vivos ou de sua atividade. Exemplos de rochas sedimentares biogênicas são o xisto e o carvão. A importância econômica das rochas sedimentares deve ser destacada levando-se em conta a sua grande utilização na agricultura e na construção civil. Estas rochas são as fontes de petróleo e hidrocarbonetos, de importância na matriz energética do mundo atual. Por outro lado, a calagem, prática comum no Cerado, é a aplicação de rocha sedimentar moída, para corrigir o solo. Rochas, Intemperismo e Solo. As forças dos componentes ambientais que atuam no planeta Terra são grandes causadoras de mudanças. Assim, rochas, independentemente da formação, estão expostas às variações de agentes naturais como radiação, temperatura e umidade dentre outros. Como visto, o intenso vulcanismo existente no início da formação da Terra foi acompanhado por grande emissão de gases. Estes passaram a contribuir na formação de chuva ácida, além de manterem-se temperaturas elevadas. Esse conjunto levou à intensificação do intemperismo. O planeta era uma verdadeira caldeira no início dos tempos. O intemperismo tem mostrado seus efeitos, tornando-se perceptíveis na comparação de tipos de solos. Na decomposição, as rochas, inicialmente, se fragmentam. Cada rocha apresenta especificidade relativa à forma como se cristalizou e à sua composição. Os cristais de quartzo apresentam zonas de clivagem ou pontos a partir dos quais ocorre fragmentação em partes menores. Outras formações rochosas apresentam pontos suscetíveis de ruptura ou fragmentação, como cisalhamento, diaclases, falhas, foliações, dobras, deformações e estratos. Em cada caso dividem seguindo um padrão, expondo maior superfície e acelerando o processo. Imagine-se que, a cada fragmentação, expõem-se superfícies que antes estavam ocultas no material de origem. Esse aumento de superfície acelera a frequência do processo. Tudo isto resultado das variações de água, temperatura, pressão e composição atmosférica. http://www.infoescola.com/quimica-organica/hidrocarbonetos/ Página 12 Figura 4. Sequência ilustrando a formação do solo a partir da rocha. O intemperismo, durante milhões de anos, leva à formam-se partículas menores que darão origem aos componentes dos solos. Os componentes físicos dos solos, de forma geral dividem-se em areia, silte e argila, os quais ocorrerão em proporção direta à composição da rocha matriz. Enfatizando, aquelas ricas em silicatos, graníticas, originam solos arenosos, nos quais a fração argila é reduzida tendo-se como exemplo o neossolo quartzarênico (solo arenoso) no Cerrado do Oeste Baiano. Por outro lado, rochas basálticas originam solos com argila quimicamente ativa, retendo cátions, além de possuírem em sua composição elementos químicos essenciais à nutrição mineral das plantas, como potássio (K), fósforo (P), além daqueles requeridos em menor quantidade (micro elementos). A capacidade de reter os cátions, propriedade de cada solo, é diretamente proporcional à atividade da argila. Em regiões tropicais do mundo, onde o intemperismo tem atuado de forma intensa por milhões de anos e as rochas (material de origem) são ácidas, os solos apresentam menor capacidade de troca de cátions (CTC). O conceito de capacidade de troca de cátions será desenvolvido ao longo do curso de agronomia. Assim, conhecendo-se como o solo funciona, busca-se solução para adequá-lo ao cultivo – uso de corretivos (calcário e gesso), fertilizantes. Em especial no Cerrado, com baixa fertilidade, maneja-se a matéria orgânica – fator de estruturação do solo e aumento da CTC, retentor de nutrientes e água. Corretivos e Fertilizantes Os corretivos e fertilizantes são necessários para modificações químicas no solo, em especial os solos ácidos e desprovidos de nutriente, como os que predominam no Cerrado. Corretivos são basicamente os calcários e o gesso agrícola. O calcário tem a característica de elevar o pH do solo e suprir os Página 13 elementos cálcio (Ca) e magnésio (Mg), quando adicionado moído, em partículas finas que aumentam a superfície de contato e a reação com a água do solo. O gesso, de aplicação rotineira há cerca de 30 anos, dissocia na água do solo e com ela se movimenta, alterando quimicamente o perfil ou as camadas componentes do solo. Calagem Nome que se dá ao processo de aplicar calcário ao solo. O calcário é rocha moída, formada por carbonatos e cálcio e de magnésio, que, incorporada ao solo reage liberando Ca e Mg. Na atualidade, a calagem se realiza com implementos específicos que espalharão o produto sobre o solo. Em seguida se fará a incorporação ao solo, mediante aração e gradagem. Figura 5. Rocha Dolomita: moída e distribuição no solo (calagem). Por que se faz calagem? Os solos brasileiros, em especial os do Cerrado, são ácidos e pobres em nutrientes. Associe-se o conceito de rochas de origem que ficará claro. Além de se originarem de rochas ácidas, estas são pobres em elementos minerais necessários ao crescimento e reprodução das plantas, como fósforo (P), potássio (K), enxofre (S), cálcio (Ca), Magnésio (Mg) e elementos menores ou micronutrientes. Estes são menos exigidos em quantidade, fazendo parte de enzimas dos ciclos da planta. Se não estiverem disponíveis, têm impacto negativo no rendimento das culturas. Por intemperismo contínuo, mesmo depois da decomposição das rochas, até mesmo as partículas menores como argila se decompõem, liberando alumínio (Al) que faz parte do material de origem. Este elemento é o que se encontra em maior quantidade. Quando o cátion Al3+ torna-se disponível às raízes das plantas, causa toxidez aos cultivos e os torna. inviáveis economicamente. Portanto, a calagem tem for finalidade torná-lo indisponível, por elevação do pH. A análise de solos é essencial para se entender os seus componentes químicos e físicos, além de possibilitar a definição do quanto se aplicará de calcário e fertilizante. Tornando-se necessária antes de se iniciar o cultivo, ela é o ponto de partida para a tomada de decisão sobre realizar o manejo físico e químico dos solos. A análise dos solos torna-se imprescindível antes de incorporá-losao cultivo. Sem ela, o manejo da fertilidade do solo será empírico, causando excessos e indisponibilidade de nutrientes, alterando o pH a níveis que inviabilizam a exploração em base econômica da agropecuária. Página 14 Tabela 1. Características físico-químicas de solo de Cerrado (Latossolo) natural (virgem) e depois de corrigido/fertilizado. Planaltina, DF. Característica Solo Física Química Areia Silte Argila M.O.* pH Al+3 (Ca+Mg)+2 P K g dm-3 cmolc+ mg dm-3 Virgem 340 190 450 20 4,7 1,9 0.4 0,9 15 Corrigido 5,8 0,0 3,4 9,0 62 *M.O. = Matéria orgânica. A análise dos componentes físicos e químicos dos solos é essencial à atividade agropecuária (Tabela 1). Os componentes físicos já mencionados: areia, silte e argila indicam a textura do solo, ou seja, se ele é arenoso, argiloso ou intermediário. Observa-se, ainda, a proporção de matéria orgânica (MO). Mesmo quando presente em baixa quantidade relativa, a MO representa a vida do solo, influenciando sua estrutura, retenção de água e de nutrientes. Nos solos de Cerrado, a MO responde por grande parte da capacidade de troca de cátions (CTC). As partículas de matéria orgânica ativa (húmus) apresentam carga negativa, funcionando como um grande ânion, respondendo pela CTC em especial nos solos de Cerrado. Quanto maior a CTC, maior a retenção de elementos químicos que atuam como nutrientes, tendo efeito direto na fertilidade dos solos. Percebe-se que mesmo depois de corrigido com calcário (Tabela 1), o pH do solo ainda é ligeiramente ácido, enquanto o alumínio intercambiável ou trocável está zerado. Observa-se ainda elevação no nível de Ca+2 e Mg+2 de forma considerável (Tabela 1). Observa-se que a aplicação de calcário neutraliza (torna indisponível) o alumínio (Al+3), presente na maioria dos solos brasileiros, em especial nos latossolos do Cerrado, eleva o pH e fornece cálcio (Ca) e magnésio (Mg) como nutrientes. Ca e Mg são imprescindíveis à planta, o primeiro integra a parede celular, refletindo no alongamento das raízes e o segundo é componente da molécula de clorofila (Mg). Ou seja, sem eles as plantas não aprofundam suas raízes no solo, deixando de absorver água e nutrientes e não realizam fotossíntese. O calcário é um dos insumos agrícolas mais baratos. Se por um lado os solos de Cerrado são ácidos e desprovidos de nutrientes, por outro, há abundância de rochas calcárias no bioma, tornando sua exploração acessível. Essa foi uma dádiva da natureza, mostrando que há solução para os problemas decorrentes da acidez dos solos e a mesma está ali mesmo no ambiente de produção. O calcário é composto por carbonatos de cálcio (CaCO3) e de magnésio (MgCO3), sais que se originam da reação entre base com força química intermediária [Ca(OH)2] e ácido orgânico, com fora química fraca (H2CO3). Página 15 Diferente de sal originário de base forte com ácido forte, o calcário não dissocia em água. A reação que ocorre leva tempo, daí a importância de se fazer calagem com antecedência ao plantio. Gessagem Para completar o conceito de correção dos solos, tem-se a gessagem ou aplicação de gesso agrícola (CaSO4). Este sal, prontamente dissociável, à semelhança de KCl, fornece Ca e S que são necessários à nutrição das plantas, movimentando-se com a água (também denominada solução do solo), criando condições para o crescimento radicular em profundidade, melhorando o aproveitamento de água e nutrientes que tenham lixiviado (movimentado com a água)para as camadas mais profundas do solo. A aplicação de gesso tem se tornado rotineira a partir de estudos que demonstraram a baixa disponibilidade e distribuição de cálcio no perfil do solo (RITCHEY ET AL., 1982). Com aplicação de gesso, resultando em movimentação de Ca, houve maior crescimento radicular, tornando as plantas resistentes a períodos de seca (veranicos) em plena fase reprodutiva das culturas (CARVALHO, M.; van RAIJ, 1997). Figura 6. Distribuição de raízes em solo sem e com gesso (CaSO4) Portanto calagem e gessagem são condicionantes, induzindo reações químicas que elevam o pH, aumentam a disponibilidade de elementos químicos no perfil do solo, preparando o ambiente para o cultivo. Fertilização Calcário e gesso são tratados como corretivos ou condicionantes do solo, por sua ação sobre o pH, elevando-o e, por consequência, contribuindo para indisponível o Al e movimentação de Ca no perfil do solo. Interferem naa Página 16 fertilidade do solo, por aumentar os níveis de Ca, Mg e S. Outros nutrientes, como o potássio (K) são supridos por fertilizantes, sais como cloreto ou sulfato de potássio. Na planta, o K está ligado diretamente ao transporte de produtos da fotossíntese. Na planta, o fósforo (P), está ligado ao nucleotídeo adenosina trifosfato (ATP). Absorvido em menores quantidades que K e nitrogênio (N), o P mostra- se necessário ao crescimento e à produção vegetal. Interfere nos processos de fotossíntese, respiração, armazenamento e transferência de energia, divisão e crescimento das células. Contribui para o crescimento prematuro das raízes, qualidade de frutas, verduras, grãos e formação das sementes. O elemento é suprido por superfosfatos ou fontes naturais, como fosfato reativo de Gafsa (Tunísia, Norte da Africa). O nitrogênio (N), requerido em grandes quantidades, faz parte da molécula de aminoácidos, alguns dos quais contém enxofre (S), compndo a cadeia de proteínas das células. São fontes de nitrogênio a uréia, o sulfato de amônio, a matéria orgânica, resíduos vegetais e aquele retirado do ar por fixação biológica, em um processo simbiótico. Os micronutrientes Zn, Cu, Mo, Mn, B, Fe, requeridos em muito pequenas quantidades, comparativamente a N, P e K, participam da composição de enzimas. Sem esses elementos, ou quando estão em baixo nível nos solos, as plantas deixam de atingir produtividades econômicas. Para entender como ocorrem as liberações de nutrientes no solo, toma-se o exemplo da reação entre base forte com ácido forte como, por exemplo, NaOH + HCl => NaCl + H2O, origina-se o sal de cozinha ou halita. Quando colocado em água, rapidamente dissocia, assim como KCl, este utilizado como fonte de potássio. O fenômeno da dissociação se deve à polaridade da molécula de água (Figura 7). Portando, assim como em água, ocorre similar reação na solução do solo, tornando o cátion K livre, podendo ser retido por cargas negativas (matéria orgânica, por exemplo) ou ser lixiviado às camadas mais profundas do solo ou levado por enxurradas, quando o solo se satura por água, originando o escorrimento. Dissociação Cátion Molécula de Água Ânion K+ O H Cl- K+ H Cl- Figura 7. Representação esquemática da molécula de água (H2O) e do sal (fertilizante) KCl dissociado, onde o cátion é atraído pelo átomo de oxigênio (O) e o ânion é atraído pelo átomo de hidrogênio (H). Página 17 O exemplo é dado para que o estudante se interesse por compreender como funcionam os solos e os fertilizantes – fontes de nutrientes essenciais às plantas. Assim, valorizará o estudo de química e, depois, de bioquímica (a química da vida), pois perceberá conexão entre teoria e prática à medida que avança no conhecimento. Quanto ao elemento Al, não é utilizado pelas plantas, causando toxidez e reduzindo crescimento radicular, contrapondo-se ao Ca e o Mg, necessários como nutrientes. Ademais, os níveis de fósforo (P) em solos virgens de Cerrado são geralmente baixos (Tabela 1), requerendo intensa adubação fosfatada inicial para elevar os níveis de P. O potássio (K), assim como cátions de outros sais dissociáveis, está sujeito à lixiviação, dependendo de manejo do solo e da planta, além do regime hídrico. No Cerrado, depois de corrigidos e fertilizados com calcário, gesso fósforo, potássio e micronutrientes, os solos estão prontos ao cultivo. A tecnologiadefinindo níveis de calagem, gessagem e de adubação com N, P e K tem norteado o estabelecimento de agricultura com elevado nível tecnológico, em ambiente antes explorado com pecuária extensiva, em baixos índices de eficiência. As grandes mudanças realizadas por tecnologia originária de pesquisa serão abordadas em detalhes nas disciplinas de solos. As bases químicas para compreender o funcionamento serão vistas quando o estudante seguir o fluxograma do Curso de Agronomia. Desenvolvimento da Agropecuária no Cerrado e o Ambiente Natural O Cerrado compreende um dos grandes biomas brasileiros em diversidade, superado apenas pelo da Amazônia. Depois do desenvolvimento da agricultura em seu domínio responde por mais da metade da produção de soja e do milho no Brasil, graças à aplicação de tecnologia de correção, fertilização, manejo e conservação dos solos e do melhoramento genético das plantas. Os detalhes de como se manejam os solos de Cerrado do ponto de vista físico, químico e biológico serão vistos no decorrer do curso de agronomia. O manejo dos solos compreende as ações para os cultivos tornando-os viáveis, ao mesmo tempo em que são mantidas suas propriedades físicas, químicas e biológicas. O estudante aprenderá que o solo não é apenas um suporte para as plantas e que, do ponto de vista físico, a manutenção de sua estrutura e porosidade são fundamentais, diante de cultivo intensivo como o praticado no Cerrado. Compare-se o funcionamento do solo em ambiente natural do Cerrado, com o das áreas agrícolas no mesmo bioma – produto da intervenção humana. No ambiente natural, há um equilíbrio, mantendo-se o fluxo da água. Como ilustrado em aula, as grandes área planas, conhecidas como “chapadas” são captadoras de água. A água penetra e percorre o grande volume de solo até atingir as camadas impermeáveis formadas pelas rochas. Assim, não é em vão que o Cerrado seja denominado de “caixa d’água”, alimentando as nascentes Página 18 de grandes rios das bacias Paraná-Prata, São Francisco, Tocantins-Araguaia e Amazônica (Figura 8). Ainda que o ambiente natural seja desfavorável ao cultivo de espécies de interesse para o ser humano, como as culturas de milho, feijão e soja, por exemplo, a ocorrência e a distribuição de vasto número de espécies originadas neste ambiente, demonstra a adaptabilidade das plantas ao ecossistema a que pertencem, onde evoluíram. aa b Figura 8. Ambiente de Cerrado: a) vegetação e paisagem; b) solo, raízes, reservatório de água e rocha impermeável (material de origem). Tolerantes aos condicionantes de acidez dos solos, escassez de nutrientes minerais e ao longo período de seca, as plantas do Cerrado povoam as áreas com seus sistemas radiculares próprios, explorando diferentes volumes de solo. Mantêm-se, neste conjunto, a porosidade que permite a infiltração de água, e a estrutura dos solos (Figura 9). No Cerrado, estes são, em geral, profundos antes de atingir a camada impermeável formada pelas rochas. Aí se encontra o grande reservatório de água que permite alimentar as nascentes durante o ano, mesmo em plena época de seca. Solo – Perfil Radicular a a Reservatório Alimentador de Nascentes, Cursos D’água Rocha (impermeável ) Página 19 Chuva (precipitação) Figura 9. Chuva no Cerrado: Quantidade, em valores médios, suficiente para atender a demanda das plantas, porém concentra-se em seis meses. Neste ponto, coloca-se um tema para reflexão. Quando os solos são mal- manejados, com preparo e cultivos repetitivos, compactando-se a camada superior ou arável (0-20 cm), a água reduz a infiltração, não se recarrega o reservatório subterrâneo, as nascentes escasseiam e secam, os rios tornam-se intermitentes. Ou seja, diminuem a vazão no período da seca e transbordam no período chuvoso. A produção agropecuária em solo compactado fica comprometida, com erosão e perda de nutrientes. Como agravante, reduz-se a geração de energia, a navegação fluvial, a irrigação no período da seca; finalmente, morrem os rios, levando junto todos que deles dependem. Certamente, quando se abordarem temas específicos como irrigação e drenagem, manejo e conservação dos solos, percebe-se que, como mencionado em aula, a forma de aprendizagem é cartesiana. O objetivo maior da formação é juntar ou integrar as partes para formar o todo – o coroamento da busca que se inicia na introdução à agronomia. Esse conceito de aprendizagem, conhecendo as partes que são integradas para gerar o todo, domina o comportamento humano nas ciências, tendo sido desenvolvido por René Descartes no século XVII (DESCARTES, 1996). O pensador estabeleceu as bases da ciência moderna, junto com outros da mesma época, como Francis Bacon e, antes deles, Galileu Galilei. Domesticação de Plantas e Animais O que se entende por domesticar? O ato de domesticar ou de controlar plantas e animais é o resultado da interferência humana sobre plantas e animais direcionando os tipos que se adaptam aos seus interesses. Diferente da teoria evolucionista, que define a seleção natural como agente, favorecendo a sobrevivência do mais adaptado (Darwin, 1859). Como foi visto em aula, as plantas e animais passaram por uma etapa de cultivo e domesticação, Nuvem Página 20 respectivamente, quando nossos ancestrais deixaram de ser nômades. Isto ocorreu logo depois do fim da última grande glaciação continental, ou era geológica denominada de Holoceno, ocorrida há 12.000 anos. Nesse período teve início o cultivo das plantas e dos animais e surgiram as primeiras ferramentas, precursoras da mecanização da agricultura, aumentando a capacidade e eficiência de trabalho. A cultivação ou domesticação, isto é a seleção de plantas e animais por características de interesse ao ser humano, teve início em várias partes do planeta, por iniciativa de comunidades. Ao deixar a vida nômade de caçador e coletor, o ser humano se fixou em um lugar, formando comunidades. Surgiram as cidades e a civilização. A domesticação foi um processo praticado por nossos ancestrais que se tornaram essencialmente agricultores, convivendo com as plantas e os animais. Em tempos modernos, quando se pratica agricultura com altos níveis de tecnologia, as plantas e animais melhorados tiveram sua base no legado dos ancestrais. Ou seja, o melhoramento genético foi moldando as culturas para atender necessidades do ser humano. Com o passar do tempo, a humanidade tornou-se mais urbana do que rural. Nos tempos atuais, a convivência com plantas e animais, que foram base da domesticação, tem, gradativamente, sido abandonada. Perguntas que caberiam aqui: Como será a domesticação/cultivo do futuro, considerando-se a existência de inúmeras espécies de interesse para a humanidade e que se encontram em estado silvestre? Quantas plantas e animais que poderiam contribuir para melhorar a existência humana estarão disponíveis, dentre milhares identificadas pela ciência? A propósito, como se diferenciam as plantas cultivadas daquelas existentes na natureza. Algumas delas são associadas aos cultivos como as plantas daninhas ou invasoras. Na tabela 2 encontram-se algumas características diferenciadoras de plantas cultivadas e silvestres. Verifica-se que, em linhas gerais, as plantas cultivadas dependem inteiramente do ser humano, ou seja, não se reproduzem espontaneamente. Outra pergunta que se poderia formular. Seria possível infestar áreas agrícolas com sementes soja ou milho? Comparem-se as características das plantas domesticadas e das plantas daninhas e veja-se, por exemplo, que o ser humano, ao domesticar, foi moldando as plantas, eliminando dormência. Sementes dormentes germinam ao longo do tempo, enquanto as de soja ou feijão germinam quando semeadas, dependendo do ser humano para crescer e reproduzir. Página21 Tabela 2. Características de separação entre espécies de plantas silvestres e domesticadas. Característica Espécie Silvestre Cultivada Altura de planta Elevada Reduzida Ramificação Intensa Pequena Maturação Indefinida Coincidente Semente Dormente/Menor Não-dormente/Maior Deiscência Presente Ausente Trilha Difícil Fácil Germinação Não-Sincronizada Sincronizada Dormência Presente Ausente Pelos, Espinho Presentes Ausentes Substância Tóxica Presente Ausente Os animais, à semelhança das plantas, foram domesticados por seres humanos, visando atender aos seus interesses em tração (trabalho), fontes de alimentos, de fibras, em proteção e lazer. Assim, alguns como cães e gatos têm servido à humanidade marcando sua presença em vários períodos da história. Veja-se a diversidade de raças (variações da mesma espécie) de cães. Estima-se que cães e humanos estejam juntos há pelo menos 20.000 anos, antes mesmo do final da grande glaciação e da domesticação de plantas, com o subsequente desenvolvimento da agricultura. Sua função, como companheiro, na defesa e como condutor de rebanhos, fez com que seleções fossem conduzidas em várias partes do mundo. A variação, com diferentes formas e tamanhos, teria surgido do lobo, ancestral dos cães. Igualmente, o boi teria se originado de espécies ancestrais, como o auroque (Bos primigenius), dando origem a Bos taurus subespécie indicus e B. taurus subespécie taurus e suas diversas raças. O mesmo raciocínio é estendido aos animais que servem ao ser humano, tendo sido selecionados (modificados) para atender ao seu interesse. Citam-se, entre as características, docilidade, força, tamanho, tipo, produção (leite, carne e ovos). Figura10. Bos primigenius, ancestral de B. taurus subespécie indicus (indiano) e B. taurus subespécie taurus (europeu e africano). Página 22 Os animais domesticados dependência do ser humano, diferenciando dos animais silvestres que, independentemente, se multiplicam e vivem em sua própria busca por alimentos. Característica marcante nos animais silvestres é seu instinto de ataque e defesa, tornando-os hábeis em defender seu território, além da busca por saciarem a fome na caça (animais carnívoros). Centros de Origem das Plantas e dos Animais Domésticos As plantas e animais cultivados que hoje são o legado de nossos ancestrais tiveram sua origem em diversas partes do planeta. O surgimento de civilizações, a partir da vida sedentária, quando o ser humano deixou o comportamento nômade, foi fruto dessa proximidade entre seres humanos e a vida ao redor. Ao conviver com as plantas e animais, espécies e variedades da mesma espécie foram selecionadas para atender a necessidade humana em alimentos, fibras, madeira, combustível, cosméticos, medicinais, decoração dentre os inúmeros usos Com o crescente intercambio entre povos, a variabilidade, tão necessária ao processo contínuo foi se dispersando para além dos centros de origem. Na atualidade, pode-se afirmar que os seres humanos são cosmopolitas. Em uma refeição, por exemplo, no Brasil: quando comemos arroz, este teve origem e foi domesticado na Ásia. O feijão em outras partes do continente americano. A complementação por salada contendo hortaliças – alface, tomate, cebola, alho – também são espécies exóticas. Ao se incluir carne de boi (originário da Ásia) ou de porco (originário da Ásia - Oceania), pão de trigo (originário da Ásia), descobre-se que nossa sustentação depende de plantas e animais que têm origem em alguma parte do planeta Terra. Por outro lado, quando comemos produtos e derivados da mandioca, do milho, amendoim, castanha de caju, jabuticaba, goiaba, abacaxi e maracujá, estamos prestigiando os produtos da terra brasilis, (antes da descoberta da América, terrae incognitae) domesticados pelas populações indígenas que nos antecederam. No século XIX, De Candole e Darwin (DARWIN, 1959) realizaram os primeiros estudos sobre as origens das plantas cultivadas. Por volta de 1885, De Candole afirmou que nos centros de origem as plantas ainda seriam encontradas no seu estado selvagem e com a máxima diversidade genética. Contudo, foi um agrônomo russo, Nicolai Ivanovich Vavilov, quem efetivamente definiu centros de origem das plantas cultivadas. Vavilov realizou estudo minucioso da sistemática, da morfologia, da genética, da citologia e da imunologia das plantas cultivadas. Entre 1920 e 1950, como pesquisador do Instituto de Fitotecnia de Leningrado, comandou a equipe de pesquisadores que concluiu os levantamentos, chegando às cartas da diversificação das plantas (Figura 11). Página 23 Figura 11. Centros de origem das espécies cultivadas (VAVILOV, 1992), primeira aproximação dando origem a outras pesquisas. Para chegarem a estas conclusões os pesquisadores associaram, aos estudos de botânica das plantas, preciosos dados históricos que indicavam a área de sua ocorrência antes dos movimentos comerciais e da agricultura. Onze zonas de diversificação foram definidas e exploradas, entre 1923 e 1933, por missões de pesquisadores russos e, entre 1935 e 1939, por missões de pesquisadores alemães. Vavilov relatou, em sua obra, que as onze zonas de diversificação das plantas cultivadas podiam ser agrupadas em oito centros de origem. Esses centros de origem foram por ele definidos como independentes, ou seja, separados por algum tipo de barreira geográfica como desertos, oceanos, cadeia de montanhas etc., cada um sendo identificado por grupos de espécies nele originadas. Em cada centro de origem foram identificadas dezenas e às vezes centenas de espécies vegetais relacionadas com as plantas cultivadas. Dessas algumas têm importância para a agricultura brasileira e são citadas depois dos breves comentários sobre cada centro. Nesta relação de centros de origem e respectivas espécies, aparecem os gêneros e famílias botânicas. Centro Chinês Considerado como o maior de todos os centros de origem das plantas cultivadas, onde Vavilov listou 136 espécies das quais algumas são apresentadas a seguir: • Alho e Cebola (Allium spp. - várias espécies, Alliaceae) • Bambu (Bambusa spp. - várias espécies, Poaceae) • Rami (Bohemeria nivea, Urticaceae • Couves, Repolhos (Brassica spp. - várias espécies, Brassicaceae) • Laranja e Limão (Citrus spp., Rutaceae, centro secundário) Página 24 • Caqui (Diospyrus kaki, Ebenaceae) • Soja (Glycine max L. (Merrill), Fabaceae) • Ameixa, Nectarina e Pêssego (Prunus spp. - várias espécies, Rosaceae) • Pera (Pirus comunis - várias espécies afins, Rosaceae) • Rabanete (Raphanus sativus, Brassicaceae) Centro Indiano Segundo centro em importância, com 117 espécies cultivadas conhecidas, dentre as quais se destacam: • Mostarda-negra (Brassica nigra, Brassicaceae) • Guandu (Cajanus cajan L. Fabaceae) • Grão-de-bico (Cicer arietinum L., Fabaceae) • Laranja e Limão (Citrus spp. - várias espécies, Rutaceae) • Coco (Cocus nucifera, Arecaceae • Pepino (Cucumis sativus, Cucurbitaceae) • Cará (Dioscorea spp., Dioscoreaceae) • Inhame (Colocasia esculenta, Araceae) • Algodão (Gossypium herbaceum, Malvaceae) • Manga (Mangifera indica, Anacardiaceae) • Arroz (Oryza sativa, Poaceae) • Pimenta-do-reino (Piper nigrum, Piperaceae) • Cana-de-açúcar (Saccharum spp., Poaceae) • Sorgo (Sorghum vulgare, Poaceae, centro secundário) Centro Indo Malaio Pode-se considerar este centro de origem como extensão do Centro Indiano, incluindo todas as ilhas da Malásia e da Indonésia. Listam-se as seguintes espécies de interesse para a agricultura brasileira: • Coco • Inhame (várias espécies) • Banana (Musa spp. - várias espécies, Musaceae) • Pimenta-do-reino • Cana-de-açúcar Centro Asiático Central Este centro, sendo menor do que os anteriores, abrange o oeste da China e aregião que corresponde ao Cazaquistão, Quirguistão, Tajiquistão, Uzbequistão, Turcomenistão e Afeganistão. Dentre as espécies mais importantes que teriam sido domesticadas, destacam-se: Página 25 • Cebola • Alho • Grão-de-bico • Melão (Cucumis melo L., Cucurbitaceae, centro secundário) • Cenoura (Daucus carota, Apiaceae) • Algodão • Lentilha (Lens culinaris, Fabaceae) • Linho Têxtil (Linum usitatissimum, Linaceae) • Pera • Ervilha (Pisum sativum L., Fabaceae) • Rabanete • Centeio (Secale cereale, Poaceae, Centro Secundário) • Espinafre (Espinaca oleraceae, Amaranthaceae) • Trigo (Triticum spp., Poaceae - várias espécies) • Feijão-fava (Vicia faba L., Fabaceae) • Uva (Vitis vinifera, Vitaceae) Centro Oriental Próximo ou Crescente Fértil Este centro tem, como região mais importante, aquela que é denominada Ásia Menor, oriente médio, ou Crescente Fértil. Inclui o território onde se encontra o Iraque, antiga Mesopotâmia, e o Iran, também conhecido como Pérsia, considerado um dos importantes centros de origem da agricultura. Essa região, na atualidade, tem sido conturbada por guerras e conflitos armados. As espécies domesticadas mais importantes são: • Cebola (Centro Secundário) • Alho-porro (Allium apeloprasum var. porrum, Alliaceae) • Aveia (Avena sativa L., Poaceae) • Beterraba (Beta vulgaris L., Amaranthaceae, centro secundário) • Repolho (Brassica oleraceae, Brassicaceae) • Mostarda-negra • Melão • Grão-de-bico • Cenoura • Figo (Ficus carica L., Moraceae) • Alface (Lactuca sativa L., Asteraceae) • Lentilha (várias espécies) • Linho têxtil • Alfafa (Medicago sativa L., Fabaceae) • Pera (várias espécies) • Ervilha (centro secundário) • Centeio (Secale cereale L. - várias espécies) Página 26 • Trigo (Triticum spp. - várias espécies) • Uva • Maçã (Malus domestica, Rosaceae - várias espécies) Centro Mediterrânico Este centro agrupa o Norte da África e o Sul da Europa, ou seja, toda região do Mar Mediterrâneo. Algumas espécies originadas nesta região do mundo são: • Cebola • Alho-porro • Alho (Centro Secundário) • Aspargo (Asparagus officinalis L., Asparagaceae) • Beterraba Silvestre • Beterrabas (hortaliça e açucareira) • Nabo (Brassica rapa L., Brassicaceae) • Mostarda-negra • Repolho • Grão-de-bico • Alface • Lentilha • Tremoço (Lupinus spp. - várias espécies, Fabaceae) • Ervilha • Trigo (Triticum spp. - várias espécies) • Feijão-fava Centro Abissínio Região da África atualmente conhecida como Etiópia, distinguindo-se pelo grande número de cereais, com destaque para as espécies: • Grão-de-bico • Café (Coffea arabica L., Rubiaceae) • Quiabo (Abelmoschus esculentus, Malvaceae) • Cevada (Hordeum vulgare L., Poaceae) • Lentilha • Linho Têxtil • Ervilha • Mamona (Ricinus communis, Euphorbiaceae) • Sorgo • Trigo (Triticum spp., Poaceae - várias espécies) • Feijão-fava (Centro Secundário) • Caupi (Vigna sinensis L., Fabaceae) Página 27 • Tef (Eragrostis tef (L.) Moench, Poaceae) Centro Mexicano do Sul e Centro-Americano Este centro engloba também as Antilhas. Muitas das espécies têm origem e são adaptáveis a condições de solo e clima (edafoclimáticas) das regiões brasileiras. Na realidade algumas espécies, como para outros centros, são de ocorrência mais abrangente do que se previa na época de Vavilov. São elas: • Sisal (Agave sisalana, Agavaceae) • Caju (Anacardium occidentale L., Anacardiaceae) • Feijão-de-porco (Canavalia ensiformis, Fabaceae) • Pimenta e Pimentão (Capsicum spp., Solanaceae, várias espécies) • Mamão (Carica papaya L., Caricaceae) • Abóboras (Cucurbita spp., Cuicurbitaceae, várias espécies) • Algodão (Gossypium hirsutum, G. barbadense, Malvaceae) • Batata-doce (Ipomea batatas L., Convolvulaceae) • Abacate (Persea gratissima L., Lauraceae) • Feijão "Ayocote" (Phaseolus coccineus L., Fabaceae) • feijão-de-lima (Phaseolus lunatus, Fabaceae) • Feijão (Phaseolus vulgaris L., Fabaceae) • Goiaba (Psidium guajaba L., Myrtaceae) • Cacau • Milho (Zea mays L., Poaceae) Centro Sul Americano Este centro estende-se pela região da Cordilheira dos Andes, especialmente Bolívia, Colômbia, Equador e Peru. Algumas das espécies de maior importância são: • Abóbora (Cucurbita pepo, Cucurbitaceae, várias espécies) • Algodão • Tomate (Solanum lycopersicum, Solanaceae) • Fumo (Nicotiana tabacum L., Solanaceae várias espécies) • Maracujá (Passiflora edulis L. - várias espécies) • Feijão-de-lima - Sementes grandes (Centro Secundário) • Feijão (Centro Secundário) • Goiaba • Batata (Solanum tuberosum L., Solanaceae - várias espécies) • Milho (centro secundário) • Batata Doce Página 28 Ligados ao Centro Sul Americano, encontram-se, por extensão os centros da Ilha de Chiloé e Brasileiro-Paraguaio. Centro Ilha de Chiloé Extensão do Centro Sul-Americano, o menor de todos não só pela pequena extensão territorial, mas no número de espécies: apenas quatro, com destaque para: • Batata (Solanum tuberosum) Centro Brasileiro-Paraguaio Subdivisão do Centro Sul-Americano onde se destacam as seguintes espécies: • Caju • Abacaxi (Ananas comosus L. - várias espécies) • Amendoim (Arachis hyopogeae L., Fabaceae) • Castanha-do-pará (Bertholletia Excelsa L., Lecythidaceae) • Seringueira (Hevea brasiliensis L., Euphorbiaceae) • Erva-mate (Ilex paraguaiensis L., Aquifoliaceae) • Mandioca (Mniot esculenta L., Euphorbiaceae) • Jabuticaba (Myrciaria cauliflora, Myrtaceae) • Maracujá (Passiflora spp., Passifloraceae) • Cacau (Theobroma spp., Ssterculiaceae - várias espécies) • Cupuaçu (Theobroma grandiflorum, Sterculiaceae) Na imensa lista de espécies domesticadas, algumas aparecem mais de uma vez nos centros de origem, demonstrando duplicação. Poderia se perguntar, relativo a algumas espécies: Como é possível cacau ter origem em uma região tão vasta como a América Tropical? Ou, cevada tendo se originado em Ásia e África, igualmente uma imensa área? Outras espécies não aparecem, como o girassol, dentre as referenciadas por Vavilov. Onde surgiu ou tem maior diversidade? Trata-se de uma das poucas espécies, originária da América do Norte (Estados Unidos), de domesticação relativamente recente. Aparecem ainda espécies madeireiras, como eucalipto (Eucalyptus spp., Myrtaceae, várias espécies) também não listadas por Vavilov. Esta planta, originária da Austrália, grande acumuladora de celulose tem sido base da produção de papel no Brasil e outras regiões tropicais e subtropicais do mundo. Modernamente, alguns autores têm sugerido modificações na proposta original de Vavilov, especialmente em razão da sobreposição que ocorre entre os centros em relação a muitas espécies. Obviamente, como mencionado, a teoria foi formulada há quase 100 anos, quando os meios de comunicação não eram tão fáceis. Também, não se levava em conta o modo de reprodução e Página 29 propagação das espécies. Assim, o algodão apresenta espécies asiáticas ou africanas e espécies americanas. Uma teoria seria a associação dessas espécies com ambiente insular (de ilhas). As sementes flutuam e podem ser levadas por correntes oceânicas, dispersando e dando origem a espécies e variedades. Imagine-se coqueiro (Cocus nucifera), tendo se originada na Ásia tropical, em áreas litorâneas. Os frutos secos quando caem flutuam e são levados pelas correntes, dispersando e ampliando sua ocorrência no mundo tropical. Modernamente, sugere-se mudança de terminologia usando-se o nome de Centros de Diversidade Genética em lugar de Centros de Origem. Considerando que centros de origem são definidos como a região ou local onde as plantas passaram do estado silvestre para o de cultivadas, e que nem sempre ficou delimitado,entende-se a polêmica. Os trabalhos de identificação e definição dos centros de origem das plantas foram feitos na primeira metade do século XX, ou seja, recentemente, em comparação a existência e domesticação das espécies. Assim, muitos autores preferem considerar centros de diversidade genética a partir dos quais houve a dispersão das espécies. Por outro lado, por formas de propagação – mecanismo de dispersão: estrutura da semente (com plumas, aladas, flutuantes), vetores (insetos, pássaros e outros animais, incluindo o próprio ser humano), houve dispersão aumentando a área de abrangência. Desde antes da história, tem havido intercâmbio entre populações de humanos. Possivelmente, esta foi uma forma efetiva de ampliar-se a área de abrangência e diversidade nas espécies cultivadas. Um exemplo é a quinoa cujo centro de origem primário seriam os arredores do Lago Titicaca. O lago situa-se a 3.800m de altitude sobre o nível do mar. Entretanto, existe quinoa nos vales (2.000-3.000 m) e em outras partes da cordilheira dos Andes. No apogeu do império Inca, pouco antes da conquista espanhola, cultivava-se quinoa desde o Sul da Colômbia até o Norte da Argentina e do Chile. A introdução do cultivo em locais com grande variação de ambiente (clima e solo) fez surgirem novos recombinantes genéticos, aumentando a variabilidade. Esta seria uma forma de gerar diversidade, extrapolando aos centros de origem (SPEHAR et al., 2014). O mesmo fenômeno pode ter ocorrido com as espécies cultivadas com amplos usos (alimentação e matéria prima – alimento animal, fibra etc.), como milho, algodão, soja, cevada e aveia. Dos animais domesticados, destacam-se os asininos (asno ou jumento), os equinos (cavalo), os bovinos (boi), os suínos (porco), os caprinos (cabra), os ovinos (ovelha) e as aves (galináceos). Domesticados na Ásia, representam parcela considerável da produção de carne, leite, ovos e derivados consumidos em todo o mundo. Algumas das espécies de grande porte se destacam na tração animal, muito comum no passado. Existem outros animais domesticados regionalmente, como o camelo, a lhama e a alpaca (camelídeos). Página 30 De uma forma geral e para facilitar nossa percepção, associem-se espécies de origem tropical e de ambiente de clima temperado, com os respectivos continentes de origem. Assim, as várias espécies, perenes, de citros (Citrus spp.), maçã e pera (Pirus spp.) foram domesticadas na Ásia subtropical, bem como a soja, o arroz, o trigo, a aveia, o grão-de-bico, espécies anuais. O feijão (Paseolus vulgaris), o milho (Zea mays), espécies anuais foram domesticados no continente americano, assim como o cacau (Teobroma cacao), o caju (Anacardium ocidentale), perenes, no ambiente tropical. Classificação Binomial de Plantas Animais e Micro-organismos Até o século XVIII, as plantas e os animais eram classificados por seus nomes comuns. Isto causava problemas devidos aos regionalismos e significados, dificultando sua identificação correta. Nas ciências biológicas começaram esforços, a partir do século XVVII, no sentido de se criar uma denominação que universalizasse os nomes, usando critérios científicos. Surge, no século seguinte a nomenclatura binomial ou nomenclatura binária designa o conjunto de normas que regulam a atribuição de nomes científicos às espécies de seres vivos. O nome binominal porque cada espécie é denominada por duas palavras: o gênero e o epíteto específico, normalmente um adjetivo que qualifica género. Tome-se o exemplo do arroz que recebe a classificação de Oryza sativa L. Entendendo como se compõe a classificação: Oryza – nome dado ao gênero; sativa a espécie deste gênero. Utilizaram-se latim e grego para designar os nomes em sistemática. Na tradução literal, significa arroz cultivado. Assim, tem-se Oryza, gênero, que neste caso, em latim, é feminino. A espécie sofre a flexão de gênero e recebe o nome de sativa (cultivada). O exemplo de uso do masculino vem de Pisum sativum L. Pisum, gênero, significando ervilha, enquanto sativum (cultivado) flexiona com o gênero. Oberve-se que os nomes sào grafados em itálico e depois do nome binomial, aparece o nome de quem classificou. Seguem outros exemplos para ilustrar: Phaseolus vulgaris L. (significando feijão comum ou popular). O L. é a abreviatura de Linaeus ou Lineu. Manihot esculenta Crantz. é binômio de gênero e espécie para mandioca, significando mandioca comestível. Crantz, depois do nome se refere a Heinrich Johann Nepomuk von Crantz, taxonomista do século XVIII. Com estes exemplos e definições, objetivamos demonstrar que a nomenclatura binomial se tornou referência para a classificação científica das plantas inicialmente e de todos os seres vivos sendo regulada pelos códigos específicos da nomenclatura botânica, zoológica e bacteriológica. Foi primeiramente proposta pelo naturalista suíço Gaspard Bauhin, no século XVII e formalizada por Carl Von Linné no século seguinte. Os nomes utilizados são em latim, ou numa versão latinizada da palavra ou das palavras que se pretende utilizar. O nome genérico e o epíteto específico são escritos em tipo Página 31 itálico, ou, alternativamente, ser sublinhados, seguidos pelo autor ou autores da descrição. Embora no âmbito do esforço de unificação da nomenclatura biológica os conceitos tenham sido fundidos, tendo hoje o mesmo significado, tradicionalmente, no campo da zoologia, o conceito é referido como "nomenclatura binominal", enquanto que, no campo da botânica, da micologia e da bacteriologia, o conceito é, geralmente, apelidado "nomenclatura binária" ou, por vezes, "nomenclatura binomial". Como exemplos de micro-organismo, temos o fungo Cercospora sojina Hara ou mancha olho-de-rã, que causa doença em soja. Cercospora vem do grego kerkos (Κέρκος), cauda e spório (σπόριο). Portanto, esporo com cauda e soutzína (σουτζίνα) da soja. Hara foi o micologista Kanesuke Hara quem classificou o patógeno (causador de doença). Dentre as bactérias patogênicas tem-se Xanthomonas albilieans (Ashby) Dowson em cana-de-açucar, do grego, xanthos = amarelo; monas = unidade ou ξανθόμων; albilineans do latim = linhas brancas. A taxonomia foi primeiramente definida por Ashby e depois por Dowson. A nomenclatura binomial é o método universalmente aceito para a atribuição do nome científico a espécies (com excepção dos vírus). Como o termo "binomial" sugere, o nome científico de uma espécie é formado pela combinação de dois termos: o nome do género e o descritor específico. Apesar de alguns pormenores diferirem consoante o campo da biologia em que a espécie se insere, os traços determinantes do sistema são comuns e universalmente adaptados: As espécies são identificadas por um nome composto por dois nomes: um nome genérico e um descritor específico. Nenhum outro taxon pode ter nomes compostos por mais de um complemento. As subespécies têm um nome composto por três nomes, ou seja, um trinome, colocados pela seguinte ordem: nome genérico, descritor específico e descritor subespecífico. Exemplos: Rhea americana alba, onde alba é a subespécie; Canis lúpus (lobo), recebe o nome trinomial de Canis lupus familiaris, ou cão doméstico; Equus asinus var. catalana é o nome do jumento da Catalunha, Espanha. Todos os taxa hierarquicamente superiores à espécie tem nomes compostos por uma única palavra, ou seja, um "nome uninominal". O primeiro termo, o nome genérico é sempre escrito começando por uma maiúscula, enquanto o descritor específico (em zoologia, o nome específico, em botânica o epíteto específico) nunca começa por uma maiúscula, mesmo quando seja derivado de um nome próprio ou de uma designação geográfica. :Nestes casos, Carolus Linnaeus usava maiúscula no descritor específico, sendo prática comum até princípios do século XX capitalizar o descritor específico se este derivassede um nome próprio. Página 32 Figura 12 Fac-símile de Species Plantarum e Sistema Naturae, livros publicados pelo taxonomista Caroli Linnaei (Carl Nilsson Linnæus) no século XVIII. Relações Atmosféricas, Radiação Solar e a Vida no Planeta Terra Radiação solar, ou energia radiante emitida pelo Sol, é a transmitida por ondas eletromagnéticas. Aproximadamente, metade desta energia é emitida como luz visível na parte de frequência mais alta do espectro eletromagnético e o restante na do infravermelho próximo e como radiação ultravioleta. A radiação solar fornece anualmente para a atmosfera terrestre 1,5 x 1018 kWh de energia. Esta, além de suportar a vasta maioria das cadeias tróficas ou alimentares, tem sustentado a vida na Terra, sendo a principal responsável pela dinâmica da atmosfera terrestre e pelas características climáticas do planeta. Densidade Média do Fluxo Energético A densidade média do fluxo energético proveniente da radiação solar é de 1.367 W/m2, quando medida num plano perpendicular à direção da propagação dos raios solares no topo da atmosfera terrestre. O valor médio, ou constante solar, foi adotado como padrão pela Organização Meteorológica Mundial. Mesmo assim, flutua durante o dia e cada dia, além de variar com a constante alteração da distância da Terra ao Sol, consequência da forma elíptica da órbita terrestre e das alterações na superfície do Sol (cromosfera e Página 33 coroa solar). Ali surgem pontos mais aquecidos e frios em constante mutação, associadas a erupções cromosféricas e outros fenómenos que se traduzem na formação das manchas solares e na complexa dinâmica dos ciclos solares. A Terra recebe energia que é determinada pela projeção da sua superfície sobre um plano perpendicular à propagação da radiação (π R2, onde R é o raio da Terra). Como o planeta roda em torno do seu eixo, esta energia é distribuída, embora de forma desigual, sobre toda a sua superfície (4 π R2). Daí a radiação solar média recebida sobre a terra, ou insolação, corresponde a 342 W/m2, a quarta parte da constante solar. O valor real recebido à superfície terrestre depende da latitude e da época do ano (em função da posição da Terra ao longo da eclíptica), do estado de transparência da atmosfera sobre o lugar, em particular da nebulosidade. Na atualidade, a radiação solar se mede com radiómetros que registam a composição espectral e a energia recebida. Composição Espectral Espectro da irradiância solar acima da atmosfera (azul) e à superfície terrestre (amarelo). A radiação solar que atinge o topo da atmosfera terrestre provém da região da fotosfera solar, uma camada ténue de plasma com aproximadamente 300 km de espessura e com uma temperatura superficial da ordem de 5 800 K (5800 K − 273,15 = 5526,85 °C). A dependência entre composição espectral e temperatura faz com que o espectro da luz solar corresponda, aproximadamente, ao de um corpo negro aquecido a cerca de 6 000 K. Mesmo assim, apresenta assimetria resultante da maior absorção da radiação de comprimento de onda mais curto pelas camadas exteriores do Sol. Em termos de comprimentos de onda, a radiação solar ocupa a faixa espectral de 100 nm a 3.000 nm (3 μm), tendo uma máxima densidade espectral em torno dos 550 nm, comprimento de onda que corresponde sensivelmente à luz verde amarelada, A parte mais alongada do espectro, tem a sua máxima intensidade na banda dos infravermelhos próximos, decaindo lentamente com a diminuição da frequência. Quanto à radiação mais energética, isto é, ondas de comprimento curto, apesar da maior parte ser absorvida pela atmosfera, a radiação ultravioleta (UV) é suficiente efeitos danosos sobre os seres humanos. Plantas são submetidas a luz solar durante o dia, expostas à radiação. Os raios UV causam danos, porém elas possuem um forte mecanismo de proteção. Na verdade, elas utilizam um que os humanos também usam, mas de forma bem mais eficaz, e foi isso que um novo estudo publicado na revista Nature Communications mostrou. O mecanismo funciona assim: o DNA é formado por duas fitas (hélices, no nome “científico”) que formam uma espécie de espiral. Quando esse DNA é danificado pelos UV, proteínas responsáveis pelo conserto a trocam por uma nova. Esse processo é chamado de reparo por Página 34 excisão (remoção) de nucleotídeo — que são as unidades do DNA formada pelas bases adenina (A), guanina (G), citosina (C) e timina (T). Esse processo é chamado de reparo por excisão (remoção) de bases ou nucleotídeos Interação com a Terra A energia solar incidente sobre a atmosfera e a superfície terrestre segue um de três destinos: ser refletida, absorvida ou transmitida. Parte substancial da energia recebida sobre a superfície terrestre é reenviada para o espaço sob a forma de energia refletida. Nuvens, massas de gelo, neve e a superfície terrestre atuam como refletores, reenviando para o espaço entre 30 e 40% da radiação recebida (enquanto a Lua reflete sob a forma de luar apenas 7 a 12% da radiação incidente). A razão entre radiação refletida e incidente chama-se albedo. Absorção Atmosférica e o Efeito Estufa Entre a irradiância do Sol medida fora da atmosfera e a energia que atinge a superfície da Terra, existem diferenças substanciais resultantes da absorção atmosférica. Esta é seletiva, atingindo o seu máximo em torno dos pontos centrais dos espectros de absorção dos gases atmosféricos. Considere- se a elevada absorção do ozónio (O3) atmosférica na banda dos UV e no efeito do vapor de água (H2O) e do dióxido de carbono (CO2), estes atuando essencialmente sobre os comprimentos de onda maiores. A absorção seletiva está na origem do efeito de estufa, devido ao fato da radiação terrestre, resultante do retorno da radiação solar ao espaço por via do aquecimento da Terra, ser feita essencialmente na banda dos infravermelhos longos, para a qual o CO2 tem grande capacidade de absorção. A parcela absorvida dá origem, conforme o meio, aos processos de foto conversão e termo conversão. Na foto conversão, a energia absorvida é remetida, embora em geral com frequência diferente, sendo os novos fótons em geral sujeitos a absorções, em efeito cascata, terminando em termo conversão - captura de energia e conversão em calor, passando o material aquecido a emitir radiação com um espectro correspondente à sua temperatura, o que, no caso da Terra, corresponde à radiação infravermelha que forma o grosso da radiação terrestre. Transmissão da Energia De toda a radiação solar que chega às camadas superiores da atmosfera, apenas uma fração atinge a superfície terrestre, devido à reflexão e absorção dos raios solares pela atmosfera. A fração que atinge o solo é constituída por uma componente direta (ou de feixe) e por uma componente difusa. Dessas componentes, se a superfície receptora estiver inclinada com Página 35 relação à horizontal, haverá uma terceira componente refletida pelo ambiente circundante (nuvens, solo, vegetação, obstáculos, terreno). Antes de atingir o solo, as características da radiação solar (intensidade, distribuição espectral e angular) são afetadas por interações com a atmosfera devido aos efeitos de absorção e espalhamento. Essas modificações são dependentes da espessura da camada atmosférica atravessada (a qual depende do ângulo de incidência do Sol, variável ao longo do dia). Este efeito é em geral medido por um coeficiente designado por Coeficiente de Massa de Ar, o qual é complementado por um fator que representa as condições atmosféricas e meteorológicas existente no momento. O Equilíbrio Energético no Planeta Em valores médios, da radiação solar incidente (sobre o sistema Terra/atmosfera), tem-se que: * 19 % são perdidos por absorção pelas moléculas de oxigénio e ozónio da radiação ultravioleta (dealta energia) na estratosfera (onde a temperatura cresce com a altitude); * 6% são perdidos por difusão da luz solar de menor comprimento de onda, azul e violeta, explicando a cor azul que se vê no céu. * 24% são perdidos por reflexão - 20% nas nuvens e 4% na superfície. (O albedo do planeta é de 30% (6% difusão+24% reflexão); * 51% sãos absorvida pela superfície. Os valores apresentados representam a média. Nos polos (norte e sul terrestres) a reflexão da radiação solar incidente é geralmente maior do que 24% e nos oceanos é menor do esse valor. A energia radiada pela superfície da Terra, em raios infravermelhos, corresponde a cerca de 117% do total de radiação solar incidente (sobre o sistema Terra/atmosfera). Dessa energia, apenas 6% é emitida diretamente para o espaço (emissão terrestre) e 111% é absorvida pelos gases de estufa da atmosfera, que reemite depois, de volta para a superfície, uma energia correspondendo a 96% da radiação solar incidente. Finalmente, a energia de 64% da radiação solar incidente é emitida pela atmosfera para o espaço (emissão atmosférica). Estes números traduzem o equilíbrio no sistema Terra/atmosfera: a radiação emitida para o espaço é igual à radiação solar incidente [24% (reflexão) + 6% (difusão) + 64% (emissão atmosférica) + 6% (emissão terrestre) = 100%]. No entanto, em média, a superfície absorve mais radiação da que emite e a atmosfera radia mais energia do que a que absorve. Em ambos os casos, o excedente de energia é de cerca de 30% da radiação solar incidente no sistema Terra/atmosfera: a) superfície - energia absorvida: 147% (51% do Sol + 96% da atmosfera); energia emitida: 117%; b) atmosfera - energia absorvida: Página 36 130% (19% ultravioleta. + 111% emissão terrestre); emitida: 160% (64% para o espaço + 96% para a superfície). A partir desta constatação se concluiria, que a superfície aqueça e a atmosfera arrefeça. Isso não acontece porque existem outros meios de transferência de energia da superfície para a atmosfera que representam, no seu conjunto, uma transferência líquida de 30% do total de radiação solar incidente que equilibra o cômputo de energia no planeta. O ar quente que se eleva a partir da superfície transfere calor para a atmosfera. Essa transferência de calor (o fluxo de calor sensível) corresponde a um valor de energia que é 7% do total de radiação solar incidente. A evaporação da água na superfície do planeta corresponde a uma extração de calor que acaba por ser liberado durante o processo de condensação na atmosfera (que dá origem à formação das nuvens). Essa transferência de calor (o fluxo de calor latente) corresponde a um valor de energia que é 23% do total de radiação solar incidente. Figura 13. Radiação solar incidente e relações com a atmosfera, a superfícies terrestre, a refletida para o espaço e a retida na atmosfera, (infravermelha e ultravioleta) que eleva a temperatura e gera efeito estufa. Mudanças Climáticas, Ambientais e Impacto Global Mudanças climáticas, alterando a composição da atmosfera, têm afetado o clima em escala global, e regional durante a existência do Planeta Terra. Os fatores de aferição são: temperatura, precipitação, nebulosidade, ventos e outros, podendo ter causas naturais ou antropogênicas. Estas últimas constituem evento recente, se intensificando no último século. Página 37 As causas naturais correspondem ao ciclo solar, variação orbital, deriva dos continentes, efeitos el Niño e la Niña relacionados a correntes oceânicas, influenciando esfriamento e aquecimento globais causando glaciações e o derretimento do gelo em geleiras e nos polos. Enquanto o vulcanismo, menos intenso na atualidade, em termos geológicos, pode também exercer influência sobre o clima. Um exemplo de história recente, ocorrido em 1887, foi a erupção do vulcão Cracatoa, situado em ilha da Indonésia próximo a Java. A atividade foi tão intensa, lançando cinza na atmosfera, visível em várias partes da Terra. Naquele período não foi possível determinar os seus efeitos sobre o clima, algo que acabou passando despercebido. As causas antropogênicas são ligadas ao ser humano ou à atividade humana: aumento de poluição e queimadas: emissão de gases de efeito estufa por vários meios, entre eles, o mais importante tem sido a queima de combustíveis fósseis. O efeito estufa é consequência da absorção das radiações ultravioleta e infravermelha pelos gases da atmosfera terrestre, fazendo com que o planeta se aqueça. Regula a temperatura e permite a proliferação da vida; sem esse fenômeno não haveria vida na Terra. Entretanto, quando a proporção desses gases é < 1%, na composição da atmosfera, rompe-se o equilíbrio entre energia que entra e a que sai, causando aumento da temperatura. Relações entre Atmosfera Terrestre e Radiação Solar Como foi visto, a radiação incidente chega à superfície da Terra e depois, parte dela transformada em calor, retorna ao espaço. A atmosfera atua como regulador da temperatura na superfície do planeta. Sem atmosfera a superfície de nosso planeta seria comparável ao que ocorre na Lua ou, em menor escala, nos desertos – durante o dia a temperatura aumenta e à noite baixa a níveis inferiores a zero grau 0C. A presença de gases e de água na atmosfera contribui para regular as variações em temperatura. O interessante a se ressaltar é que a atmosfera se compõe de 78 % de nitrogênio, 21 % de oxigênio, 0,0385 % de CO2, 0,9 % de Argônio e 0,0615 % dos demais gases. Portanto, a título de curiosidade, quando respiramos, o nitrogênio entra e sai de nossos pulmões em grande quantidade; do ar retiramos apenas o oxigênio que é devolvido ao espaço combinado com carbono (CO2). Ainda que, a proporção de CO2 na atmosfera seja extremamente baixa, apresenta elevado poder de causar impacto negativo, caso continue a aumentar. Atividade Humana e Alterações Atmosféricas A atividade humana, com base em sua matriz energética, tem contribuído para um aumento crescente da temperatura global. Com a intensificação do uso de combustíveis fósseis (carvão e petróleo), a partir do século XIX, a Página 38 emissão de gases tem aumentado, alterando a composição da atmosfera. O impacto tem sido maior por aumento nas emissões de CO2, porém outros gases se somam, causando o efeito estufa. O efeito estufa corresponde às alterações no comportamento da luz incidente que chega ao planeta Terra, proveniente do sol. Parte da radiação que refletiria de volta ao espaço, se difunde pela atmosfera, aquecendo-a. Desde fins do século XIX e início do XX, a principal matriz energética tem continuado no uso de combustíveis fósseis, verificando-se relação da temperatura com aumento significativo na quantidade de poluentes na atmosfera. Dentre estes se destacam o dióxido de carbono (CO2), Metano (CH4) e os óxidos de nitrogênio (NOx). A maior parte das emissões de CO2 é proveniente dos combustíveis fósseis, respondendo por cerca de 80 % do aquecimento global. Entretanto, as emissões de metano (CH4) e óxido nitroso (NO2) são provenientes do aumento gradual da temperatura e de atividade agrícola. As principais fontes de metano são: emanação de vulcões; de lama e falhas geológicas; decomposição de resíduos orgânicos; fontes naturais (pântanos); extração de combustível mineral; digestão de animais herbívoros – “arroto do boi”; ação de bactérias; aquecimento ou combustão de biomassa anaeróbica. O Brasil, com o maior rebanho bovino do mundo, seria um poluidor em escala. Contudo, é necessário levar em conta o balanço entre o que é emitido e o imobilizado, no caso o corpo do animal. Esse balanço é importante, como se verá em seguida, pois a agropecuária tem sido algumas vezes apontada como vilã, contribuindo para aumentar a emissão de gases de efeito estufa. Por outro lado, como consequência do aquecimento, regiões imensas
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