Buscar

Planejamento ministerial participativo

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 21 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 21 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 21 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

NAZARENE THEOLOGICAL SEMINARY 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
PLANEJAMENTO MINISTERIAL PARTICIPATIVO 
Proposta de um modelo eclesiástico integrador como 
metodologia conexional na práxis da igreja 
 
 
 
 Por 
 
Carlos Martín Abejer 
 
 
 
 ENSAIO 
 
 Atividade acadêmica parcial dos requisitos 
do curso Ministério Eclesial com Ênfase Wesleyano para o 
Ministério do Programa de Doutorado em Ministério 
do Nazarene Theological Seminary de Kansas City 
 
 
 
Brasil 
Fevereiro de 2014 
1 – Palavras introdutórias: Realidades da atual conjuntura social 
 
Fazendo uma espécie de ‘radiografia’ do momento histórico no qual estamos 
situados, vale a pena a constatação de D. Tracy1 quando afirma que vivemos numa época 
à qual não temos condição de dar um nome. Para alguns, estamos ainda na modernidade, 
com o seu triunfo do sujeito burguês. Para outros, vivemos num tempo de nivelamento 
de todas as tradições, esperando uma espécie de retorno do sujeito tradicional e 
comunitário reprimido. Há ainda outros que afirmam que vivemos uma condição pós-
moderna, onde a morte do sujeito se apresenta como a última onda de ressaca da morte 
de Deus2. Daqui se evidenciam os diversos conflitos interpretativos quando se trata de 
compreender o tempo presente: moderno, anti-moderno ou pós-moderno3. A questão que 
se coloca é justamente esta: dada a sua constelação lexical sintática polimórfica, como 
definir esta época? 
Mesmo absorvidos por este conflito – a falta de uma definição mais assertiva – é 
possível afirmar que estamos sendo afetados por uma ‘mudança radical de paradigma’ no 
modo de conceber a realidade. Mudança que demanda uma consciência que considera 
cada vez mais que as coisas não funcionam mais como antes, pois a ideia de fundamento 
– tradição – que foi essencial ao longo da história, tende a desaparecer cada vez mais. Já 
não é mais único, último ou normativo4. No amago desta transformação, o fundamento é 
substituído pelo evento, e a ideia de uma história como processo unitário se dissolve, 
debilitando assim, todas as estruturas preestabelecidas. 
 
 
1 Tracy, D. Qual nome darei ao presente: Concilum 26: 2000, pp. 76-99. 
2 Teixeira, E. Aventura pós-moderna e sua sombra. São Paulo: Paulus, 2005, p. 9. 
3 Para aprofundar o assunto pode-se consultar os seguintes autores: Giddens (1991); Garcia Canclini 
(1998); Castiñeira (1997); Connor (2000); Jameson (1996); Rivera (2001). 
4 Rigobello, A. Realidade e existência: lições de metafisica. Introdução e ontologia. São Paulo: Paulus, 2002, 
p. 47. 
Tendo em conta isto, na dimensão sociocultural é possível destacar a crise de 
‘sentido’ como o principal problema. Fato que gera uma profunda ofuscação nos dias 
atuais. À décadas atrás, por exemplo, o relógio nos ajudava a medir e controlar o tempo. 
Afirmava-se a ideia de que as pessoas eram sujeitos de sua história5. O tempo de hoje, no 
entanto, foge do nosso controle. Escapa de nossas mãos e de nossas mentes. É até difícil 
defini-lo. Ele não tem adjetivo. Apenas é. Nesse sentido, o tempo é on-line – tempo real. 
A internet e o celular são os exemplos mais concretos da concepção do tempo real. 
Possibilitam a comunicação instantânea entre pessoas localizadas em extremos opostos 
do globo. Recebemos informação e nos conectamos com o mundo todo sem sair de casa. 
Essa transformação da noção de tempo mudou também a noção do espaço. O tempo 
real exige um espaço virtual, não um espaço histórico. O espaço não se reduz mais a sua 
dimensão física mensurável. Há uma ‘desmaterialização’ do espaço. O que antes era 
definido pela sua geografia dimensional, agora assume a qualidade virtual. Nesse 
movimento, o espaço se torna ‘pluriespacial’6. Funcionários de um mesmo departamento 
de uma empresa, as vezes muito próximos geograficamente, comunicam-se pela internet. 
O tempo de sua comunicação é real, mas o espaço é virtual. Nesta nova concepção, os 
sujeitos podem manter-se totalmente ocultos. 
As tradições familiar, cultural e religiosa deixaram de ser o alicerce da educação das 
novas gerações. Antes, a história dos nossos antepassados era uma realidade sempre 
revisitada e revivida. Avós e pais se deleitavam em contar as suas histórias para os netos 
e filhos. Estes ouviam com reverencia e veneração. A tradição era o grande alicerce sobre 
o qual se erguiam as novas gerações, que mesmo tendo que migrar para longe da sua terra 
natal, tratavam de preservar os valores mestres que receberam de seus pais e avós. O 
 
5 Pinto, B. Paradigmas para o século XXI. Como evoluir a partir do seu próprio jeito. São Paulo: Nobel, 
2001, p. 72. 
6 Libanio, B. As lógicas da cidade: o impacto sobre a fé e sob o impacto da fé. São Paulo: Edições Loyola, 
2001, p. 32. 
futuro era construído sobre um passado sólido. Hoje está quase em extinção aquele 
momento familiar, onde eram nutridas por horas, conversas carregadas de afetividade. A 
casa deixou de ser o lugar das relações interpessoais de seus membros e passou a tornar-
se mero lugar de pernoite e espaço aberto a todas incursões externas da telemática 
radiofônica, televisiva e cada vez mais da internet7. Ao mesmo tempo, a mediação das 
relações humanas não é pautada de forma exclusiva pelas instituições sociais tradicionais, 
nem pelas autoridades instituídas. Os que nascem neste novo momento histórico não 
visualizam centros definidos, instituições bem organizadas, papeis sociais determinados, 
autoridades preestabelecidas, doutrinas inquestionáveis, ou verdades absolutas. As 
autoridades estão perdendo gradativamente a força de influência sobre as pessoas 
perdendo a sua centralidade e diluindo a sua credibilidade. É muito difícil dizer quem 
educa quem, e quem exerce influência sobre quem. As novas gerações que estão surgindo 
nascem e crescem vivendo as vicissitudes e as possibilidades desta nova conjuntura social 
sem demonstrar muito interesse por aquilo que sempre foi um referencial. Levam a vida 
segundo as suas necessidades individuais e se dedicam para que sejam supridas. Liberar 
o desejo, rejeitar a ordem antiga e sua moral, dar adeus as proibições, permitir-se um gozo 
sem entraves e sem lei é o ideal apetecido por muitos desta sociedade contemporânea. 
Sobre a situação econômica, é possível dizer que há uma relação estreita com a 
dimensão econômica da globalização, pois esta dimensão se sobrepõe as várias esferas da 
vida resultando num sistema econômico que regula todas as relações humanas. Neste 
sentido, percebe-se que a globalização fragmenta os espaços criando ambientes 
especializados como o lugar de morar, de lazer e de trabalho; e o que dá a convergência 
cultural para esse mundo fragmentado – unidade necessária, mesmo que precária, para a 
própria noção de globalização – é a cultura do consumo. A globalização econômica, com 
 
7 Libanio, B. As lógicas da cidade: o impacto sobre a fé e sob o impacto da fé. São Paulo: Edições Loyola, 
2001, p.41. 
o seu sistema de produção em escala macro não seria possível e nem eficiente sem uma 
convergência de desejos de consumo em nível igualmente global que possibilitasse o 
surgimento do mercado consumidor mundial. Essa convergência é viabilizada, apesar de 
tanta diversidade cultural, pela disseminação da ideologia de consumo por todos os países 
e mercados que integram tal economia global8. O consumo tornou-se o centro de 
gravidade em torno do qual as pessoas se localizam e vivem. É uma era em que se precisa 
de uma massa de consumidores, e não de pessoas livres e conscientes9. O produto não é 
mais central para o capitalismo. Central é a cultura que se cria em torno dele10 e o meio 
mais eficiente para formar bons consumidores é a mídia. Ao observar as propagandas, é 
notório ver que o que menos interessaé o produto – ele está sempre associado à plena 
satisfação e felicidade dos seus consumidores. É esta satisfação que se vende. Passou-se 
de um tipo humano que coloca toda a sua vida a disposição do processo produtivo para 
um outro que tenta gozar da produção e, para isso, não vê problemas em mercantilizar a 
si próprio. As pessoas se sentem realizadas quando podem consumir, mesmo que o 
consumo seja apenas virtual. Consumir os produtos dos sonhos é apogeu da satisfação e 
da felicidade. Basta notar o semblante dos que entram e saem dos mercados, lojas e 
shoppings. Alguns com seus objetos de consumo nas sacolas. Outros com seus desejos 
acalmados pelo espetáculo virtual das imagens. 
Atrelada a esta questão está também a desigualdade e exclusão em massa onde todos 
aqueles que não estão devidamente moldadas a este sistema, culminam na pobreza 
juntamente com milhões de pessoas. Nesse sentido, as pessoas passam a ser não somente 
pobres, mas também excluídas, ou seja, além de exploradas, são também descartadas. O 
 
8 Sung, J. Pastoral urbana: a presença pública da igreja no espaço urbano. São Bernardo do Campo: Editeo, 
2006, pp. 21-32. 
9 Benincá, E. Metodologia pastoral. Mística do discípulo missionário. São Paulo: Paulinas, 2012, pp. 10-11. 
10 Pinto, B. Paradigmas para o século XXI: como evoluir a partir do seu próprio jeito. São Paulo: Nobel, 
2001, p. 35. 
desemprego também se insere neste cenário, pois se apresenta de forma estrutural, 
caracterizado pela diminuição da mão-de-obra, fragmentação do processo produtivo e 
pela flexibilidade das relações de trabalho11. Este ambiente favorece o crescimento da 
disputa e da rivalidade na procura pelo emprego, comprometendo a união e organização 
dos trabalhadores que buscam seus direitos, ferindo profundamente e destruindo a 
dignidade, a visão de futuro, a lealdade e a solidariedade de milhões de pessoas12. 
Por outro lado, o ambiente social como espaço de convivência e construção de limites 
dá lugar a uma nova sociedade em que as fronteiras se perdem no horizonte. As cidades 
tendem a criar espaços universais em que as culturas locais desaparecem. Os shoppings, 
os aeroportos, os hotéis e certos restaurantes – por exemplo McDonald – já não têm 
cidadania. Quando se entra neles, está-se paradoxalmente num espaço universal13. O 
espaço universal impacta as pessoas e as influencia profundamente! 
Já na situação política é perceptível como a imposição de diversos grupos e suas 
decisões põem em risco a democracia e o fato dos cidadãos perderam sua confiança na 
dimensão político-partidária e nos poderes que governam o pais. Hoje é crescente o 
número de pessoas envolvidas em organizações não governamentais que questionam o 
sistema vigente em prol de um mundo melhor. Estes grupos junto com a sociedade passam 
a exigir melhores condições de vida. 
O intenso frenesi dos centros urbanos é outro fenômeno social presente em nossa 
época. Quem trafega pelas cidades – especialmente as metrópoles – convive com ruas e 
avenidas congestionadas de veículos de todas as espécies; viadutos, desvios de obras 
impactando a estética, pedestres apressados disputando lugar com os automóveis. Ônibus 
lotados, motos e bicicletas fazendo ziguezague por entre os veículos e pedestres; enfim, 
 
11 CNBB. Documentos da CNBB-87, 2008, op. cit, pp. 23-29. 
12 Ibid, p.31 
13 Libanio, B. As lógicas da cidade: o impacto sobre a fé e sob o impacto da fé. São Paulo: Edições Loyola, 
2001, p. 50. 
lentidão, congestionamentos, buzinas, estresse. As cidades estão cada vez maiores e a 
infraestrutura urbana beira o caos. Terra e ar estão congestionados. A terra inclusive está 
mostrando, gradativamente, sinais de exaustão, e a questão ecológica ganha proporção 
global14. 
Outro fenômeno acoplado a esta nova conjuntura social é o trânsito religioso.15 A 
religião, como é de conhecimento de todos, é a realização sócio individual – em doutrina, 
costumes e ritos – de uma relação humana com algo que o transcende, que se desdobra 
dentro de uma tradição ou comunidade. É a concretização de uma relação do ser humano 
com uma realidade verdadeira e suprema, seja compreendida da maneira que for. A 
religião vem responder a uma dimensão profunda do ser humano16. Serve para dar sentido 
à vida das pessoas, curar o corpo e a alma, purificar ou salvar. Em seu sentido etimológico, 
é possível afirmar que a religião está relacionada a tudo aquilo que nos faz inteiros, sãos, 
livres e completos.17 Significa que as pessoas procuram uma religião como apoio, auxilio, 
para dar sentido à vida. O trânsito religioso, nesta concepção, pode ser compreendido 
como um ‘meio’ de busca por aquilo que é místico. É por isso que se, em determinada 
religião, a pessoa não encontra o pretendido, recorre à outra ‘agencia’ de bens divinos 
onde acredita ser-lhe possível tal encontro18. Inclusive trânsito, por definição, prevê 
deslocamento. É algo dinâmico, algo que não para, pois está sempre em movimento19. 
Pode-se transitar, andar, visitar, conhecer e experimentar diferentes expressões religiosas. 
 
14 Comblin, J. Viver na cidade: pistas para a pastoral urbana. São Paulo: Paulus, 2006, p. 18. 
15 Becker, J. Transito religioso: uma leitura crítica a partir da teologia prática – desafios e perspectivas. 
Dissertação (Mestrado em Ciências da Religião) – Universidade Metodista de São Paulo, São Bernardo 
do Campo, 2002, p. 92. O transito religioso pode ser verificado na perspectiva do sujeito (aquele que 
transita) ou das instituições (pelas quais transita). Esta é uma distinção apenas didática, pois o transito 
envolve, simultaneamente, sujeito e instituições. 
16 Libanio, J. As lógicas da cidade: o impacto sobre a fé e sob o impacto da fé. São Paulo: Edições Loyola, 
2001, p. 55. 
17 Panikar, R. As religiões têm o monopólio da religião? Rio do Janeiro: ISER. 1993, p. 6. 
18 Bobsin, O. Transformação no universo religioso. São Leopoldo: CEBI, 1994, p. 62. 
19 Jacinto, G. (org.). Itinerário para uma pastoral urbana: ação do povo de Deus na cidade. São Bernardo 
do Campo: Universidade Metodista de São Paulo, 2008, p. 6 
Pode ligar-se – ou não – a alguma religião. Assumir – ou não – um compromisso ético- 
religioso, sentindo-se livre para ir e vir, buscar e conhecer, recortar e adaptar. Este 
trânsito, primado pela livre escolha, oferece um variado cardápio na opção religiosa, 
temperado com uma boa dose de sincretismo.20 Assim, surgem constantemente novos 
elementos místicos, cultos reencantados, magia, mistério, emocionalismo e o apelo as 
experiências desencarnadas do cotidiano. As pessoas se afastam cada vez mais das 
doutrinas e dogmas para viverem uma espiritualidade baseada no individualismo e na 
insegurança existencial. A amplitude e a diversidade do campo religioso brasileiro auxilia 
neste processo. O ‘caldeirão’ religioso é composto por crenças indígenas e africanas, 
catolicismo, judaísmo, protestantismo, espiritas, esotéricos, pentecostais, 
neopentecostais, neocatólicos, religiões orientais e um sem-número de outros 
movimentos religiosos, além dos ‘sem-religião’, todos ‘cozidos’ pelo ‘mercado 
religioso’.21 Diversidade extremada e semelhança nas práticas e nos ritos convergem 
paradoxalmente. Religião não mais herdada, senão escolhida, e, busca unicamente da 
satisfação pessoal são o ‘fermento’ para este ambiente. Por outro lado, o trânsito religioso 
também é uma ‘experiência subjetiva’ que depende fundamentalmente daquele que 
transita. Locomovendo-se, o indivíduo vai construindo o seu universo religioso 
personalizado. Para que isto se realize, pressupõe-se a experiência do trânsito religioso 
entre os diferentes sistemas religiosos, oficiais e alternativos, eclesiásticos ou para-
eclesiásticos, comunitários ou solitários, confessionais oulivres. Segundo Sandra Duarte 
de Souza, ‘é possível descrever este fenômeno em três categorias: 1) Trânsito de 
pertença: acontece quando o indivíduo muda sua pertença religiosa (ou seja, sua 
confissão religiosa), adotando as práticas e doutrinas de uma nova religião. 2) Trânsito 
 
20 Berger, P. O dossel sagrado: elementos para uma teoria sociológica da religião. Petrópolis: Vozes, 
1985, p. 119. 
21 Silva, G. (org.). Itinerário para uma pastoral urbana: ação do povo de Deus na cidade. São Bernardo do 
Campo: Universidade Metodista de São Paulo, 2008, p. 63 
pertencente: diz respeito àquele que possui uma pertença religiosa especifica, no entanto, 
admite visitar outras expressões religiosas. Neste caso, o transeunte é um turista dentro 
de diferentes religiões, mesmo que pertença a alguma religião em específico. Esta prática 
acontece com mais intensidade do que a anterior. 3) Trânsito sem pertença: a pessoa 
não pertence a nenhuma religião, mas busca-as incansavelmente a fim de aproximar-se 
de ser divino’22. Com um ser humano em constante mudança e crise, as instituições 
religiosas também são obrigadas ao caminho da transformação, pois aquela que não se 
adequar aos tempos atuais parece estar condenada a extinção. É neste cenário que se 
configura o trânsito religioso. 
Constata-se também, uma ênfase sobre a vitalidade do viver espontâneo. Por sua 
própria natureza, as emoções e sensações são tão frágeis e efêmeras, tão voláteis quanto 
as situações que as desencadearam. A extrema relevância do ‘já’ suplanta a tematização 
do eterno. Ocorre uma verdadeira ‘erosão da essência’. E isto afeta visceralmente a 
questão da identidade, sobretudo no que concerne ao situar-se neste mundo de relações 
rarefeitas. A flutuação dos relacionamentos humanos gera uma inquietação, ao mesmo 
tempo em que reclama responsabilidade com elementos que possam ser considerados 
identitários23. 
Com tudo isso acontecendo de modo acelerado a dimensão eclesiástica também é 
afetada. A igreja contemporânea está perdendo progressivamente sua relevância. Há 
evidencias claras de que a sua identidade está afetada de várias formas. Sua fé, adulterada. 
Sua mensagem, diluída. Suas ações, desvirtuadas. Sua influência, questionada. Suas 
propostas, mercantilizadas. Sua liderança, fragilizada. E sua missão, comprometida. No 
contexto do fenômeno urbano, a igreja se vê em xeque frente aos questionamentos que 
 
22 Silva, G. (org.). Itinerário para uma pastoral urbana: ação do povo de Deus na cidade. São Bernardo do 
Campo: Universidade Metodista de São Paulo, 2008, p. 64. 
23 Bauman, Z. Identidade. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2005, p. 59. 
dizem respeito à sua relevância em atender ao ser humano desta época. A religiosidade 
desponta como mais determinante que a teologia. A crença se eleva sobre a doutrina e a 
emoção sobre a razão. O fato é que a maneira como se vive a fé mudou24. 
Tudo isto evidencia que hoje não há apenas dados no ambiente contemporâneo, há 
também interpretações e interpelações e o desafio para nós hoje é mover-nos – na 
condição de igreja – no emaranhado destas mensagens em seu indissolúvel vínculo com 
todos os outros, também em sua continuidade com eles, do qual depende o sentido da 
experiência de fé. 
 
2 – Considerações preliminares: Discernimento necessário para este momento 
histórico 
 
O texto desenvolvido até o presente momento preparou o contexto desta seção. Ou 
seja, tudo foi dito para se chegar à realidade na qual estamos inseridos: estamos numa 
fase transitória. Elli Benincá relaciona analogicamente esta mudança social como se 
estivéssemos nos deslocando por uma estrada com boa visibilidade e, de repente, descesse 
uma neblina cerrada. O horizonte antes aberto, se fecha. A velocidade deve ser diminuída. 
Os faróis, acesos. Os retrovisores, usados com mais frequência. A atenção redobrada. Os 
sinais de transito, respeitados à risca. O que antes podia ser visto de longe, esconde-se no 
meio da névoa. Vislumbram-se poucas alternativas25. O que Benincá está dizendo é que 
a mudança de época também exige mudança de atitude e de comportamento. Quando 
baixa a neblina não podemos continuar dirigindo como antes, sob pena de causar 
acidentes e expor vidas ao perigo. 
Num ambiente cultural como este, a reflexão sobre a dimensão eclesiástica pressupõe 
mais do que uma simples superação da redução da religião à esfera do privado e do 
 
24 Benincá, E. Metodologia pastoral: mística do discípulo missionário. São Paulo: Paulinas, 2012, p. 13. 
25 Ibid, p. 13. 
individualismo em direção à discussão sobre o bem comum ou dos interesses e os direitos 
da coletividade. É preciso que a igreja assuma sua tarefa primordial de discernir os ‘sinais 
dos tempos’; e ao fazê-lo, é necessário buscar novos rumos metodológicos para o 
cumprimento da sua missão no ambiente urbano26. 
 
3 – Palavras intermediárias: O planejamento como metodologia indispensável na 
ação eclesiástica 
 
Esta demanda tem levado a igreja contemporânea a procurar métodos mais eficientes 
e itinerários melhor definidos para responder aos desafios do mundo pós-moderno27. No 
mesmo caminho, as lideranças eclesiásticas introduziram uma aproximação mais 
pertinente, onde a releitura de certas ações e a elaboração de uma práxis mais contextual 
tem sido um esforço permanente para que a organização eclesiástica funcione 
metodologicamente a contento, e à luz do grande desafio da igreja de Cristo: proclamar 
e ensinar as verdades de Jesus num mundo em constante mutação. 
Esta aproximação nasce, não apenas de uma compreensão meramente sociológica, 
mas também, e principalmente, de uma leitura bíblica mais apurada, pois há fortes 
evidencias de que o planejamento é um recurso que permeia toda a Escritura. A Bíblia 
revela e relata eventos consecutivos da realização do plano e do propósito de Deus com 
pessoas que Ele usou para executar tarefas em tempos e épocas determinadas. 
Deus fez planos, antes da fundação do mundo (Efésios 1.3-5). Planejou também os 
atos para a salvação da humanidade (Efésios 3.9-11, Genesis 3.15, Isaias 9.1-7). Além 
disso, é possível ver como o Criador estabeleceu critérios sistemáticos – ou de 
planejamento – na hora de criar tudo aquilo que conhecemos (Genesis 1 e 2). 
 
26 Douglas, S. O ministério de administração. São Paulo: Candeia, 1999, p. 11. 
27 Kessler, N. Administração eclesiástica. Rio de Janeiro: CPAD, 1989, p. 98. 
Noé, por exemplo, foi escolhido por Deus para ser uma testemunha na execução de 
um grande projeto – a construção da arca (Genesis 6. 14-21). Abraão – foi chamado para 
formar um povo, cujo plano era ser abençoado e ser uma bênção ao seu povo e aos outros 
povos. José foi usado grandemente como um exímio estrategista – ele fez um 
planejamento sábio. Moisés passou 40 anos na casa de Farão, outros 40 anos na casa de 
Jetro e finalmente 40 anos no deserto com o povo de Israel. Estes tempos caracterizam 
etapas que preparavam a caminhada. O episódio do conselho de Jetro é muito lembrado 
como exemplo de/para planejamento e organização do trabalho no reino de Deus. Josué 
foi um estrategista, que liderou o povo no cumprimento do propósito e da promessa de 
Deus para a ocupação das terras da promessa. Salomão escreveu no livro de Provérbios 
que os planos bem elaborados levam a fartura; mas o apressado sempre acaba na miséria 
(21.5). Davi caracteriza a etapa onde o povo de Israel se estabeleceu e teve paz. Neemias 
é um personagem que marca a época da reconstrução do muro e da volta dos judeus a sua 
pátria. Ele foi um planejador e desenvolveu um plano com etapas para alcançar as metas 
propostas. O profeta Jeremias fala dos planos de Deus para a Nova Aliança (31.31-34). 
O silêncio de 400 anos – período inter-bíblico – caracteriza o propósito de Deus para 
que a mensagem de João Batista tivesse repercussão e fosse impactante. 
O próprio Jesus, realizou a sua missão durante quase três anos trazendo valores e 
princípios que jamais mudariam que servem para refletir um planejamento para a 
atualidade – O que queremos e o que devemos fazer? Ele mesmo considera esta dimensão 
como algo fundamental para o cotidiano da vida: ‘Pois, qual de vós, pretendendo 
construir uma torre, não se assenta primeiro para calcular a despesa e verificar se tem 
os meios para concluí-la? Para não suceder que, tendo lançado os alicerces e não a 
podendo acabar, todos os que a virem zombem dele, dizendo: Este homem começou a 
construir e não pôde acabar’ (Lucas 14. 28-30). Também planejou e organizou o 
ministério de evangelização que os discípulos iriam fazer (Mateus 10. 5-14; Lucas 9. 1-
6). Exortou os seus discípulos a se prepararem e aguardarem a vinda do Espírito Santo 
(Atos 1. 4-8; Lucas 24. 49). Os preparou para Sua morte e ressurreição (Mateus 16. 21; 
Marcos 8. 31; Lucas 9. 22). Ele já preparou um lugar para os redimidos (João14. 2-3). 
Ordenou a preparação da páscoa (Lucas 22. 7-12). O princípio da ação produtiva – os 
talentos – na parábola, indicam a necessidade de planos para o crescimento do que foi 
recebido (Mateus 25. 14-19). Aquele que não executou nenhum plano produtivo foi 
considerado infiel! Cristo advertiu sobre a necessidade de preparação e planejamento da 
obra (Lucas 14. 28-32). As Escrituras do Novo Testamento também sinalizam o plano da 
vinda do Espírito (João 16. 7-15) e manifesta o planejamento do Espírito Santo, em 
relação aos dons (Efésios 4. 11-12). 
Na Igreja Primitiva, especificamente no livro de Atos, percebe-se uma visão muito 
clara do propósito de Deus e as metas a serem alcançadas – tanto em Jerusalém, como em 
toda a Judéia, Samaria e até aos confins da terra (1.8). O primeiro item do planejamento 
estratégico da igreja primitiva era a compaixão e o amor pelas pessoas. Sua estratégia era 
se aprofundar na doutrina, ter comunhão, orar, ajudar os necessitados e louvar a Deus (2. 
42-47). O apóstolo Paulo teve um ministério com a visão estratégica de alcançar os 
confins da terra. Também planejou suas viagens (Romanos 15. 22-29; 1 Coríntios 16. 5-
9), e as coletas (2 Coríntios 9. 1-5). O evento de Atos 6 mostra a necessidade de um claro 
planejamento e nova organização. Finalmente, as Sagradas Escrituras revelam os planos 
divinos para o futuro (2 Pedro 3. 9-13; Apocalipse 20. 1; 22.5). 
 
4 – O planejamento participativo como ação metodológica conexional na práxis 
da igreja nos dias de hoje 
 
Tendo em conta a extensão do ideário que foi apresentado nas páginas iniciais 
relacionadas ao contexto sociocultural, é necessário reconhecer que urge a construção de 
um modelo ministerial mais efetivo. Não se trata de estimular aqui uma simples adaptação 
da igreja à época na qual estamos vivendo. Esta tarefa, no entanto, deve estar centrada em 
apresentar uma alternativa metodológica, não de forma meramente científica, mas 
levando em consideração o campo ministerial tentando perceber quais os benefícios de 
um método diferenciado. No caso, nos referimos ao planejamento participativo como 
uma das tantas alternativas que são plausíveis na tentativa de operacionalizar a comissão 
a nós confiada enquanto igreja. 
O planejamento participativo é um processo de tomada de decisões sobre os 
objetivos28 que se devem atingir no futuro visando transformar uma certa realidade de 
uma maneira mais assertiva. Planejar, segundo especialistas, é deixar de improvisar, é 
ajustar as ideias e projetar o futuro. Planejar é definir o necessário. É realizá-lo sem que 
os imprevistos o sufoquem. Ao ato de se planejar damos o nome de planejamento. 
Quando se planeja algo, adota-se uma linha de direção a ser seguida, se preveem alguns 
passos e cria-se meios de avaliar se foram ou não atingidos os objetivos esperados. O 
planejamento também dá início ao processo de construção do ambiente ao nosso redor 
com as características que foram previamente estabelecidas definindo sempre qual o 
próximo objetivo a ser alcançado. O planejamento é, portanto, algo que permeia o antes, 
o durante e o depois de qualquer ação ou projeto29. 
Esta ação metodológica torna as atividades mais claras, eficientes e eficazes, além de 
dar possibilidade de ela ser realmente transformadora; e de tornar a estrutura eclesiástica 
mais leve, versátil e produtiva a serviço do reino de Deus; por isso movidos por esta 
 
28 Um ‘objetivo’ é uma descrição explícita de uma futura situação considerada como desejável. Os 
objetivos servem como orientação para guiar as organizações, para tomar decisões e para implementar 
as ações correspondentes. Os objetivos facilitam a maneira de identificar as diferentes formas de atingi-
los. Também facilitam atingir um acordo sobre eles. 
29 Barbier, J. Elaboração de projetos de ação e planificação. Porto: Porto Editora, 1996, p. 27. 
percepção, lideres eclesiásticos estão ponderando seriamente a necessidade de introduzir 
de maneira mais concreta esta metodologia na dinâmica ministerial30. 
Existem inúmeras formas de se planejar, assumidas de modos diversificados para os 
múltiplos setores da sociedade, mas para a aplicação no ambiente eclesiástico e um 
formato que parece ser mais adequado é o do planejamento participativo. Esta 
metodologia é um modelo de gestão em que as pessoas estão engajadas de modo 
fundamental, tanto na tomada de decisões como no processo de administração, até que se 
alcance o objetivo almejado31. 
O planejamento participativo é a busca de uma visão múltipla, integrada e sustentável 
de desenvolvimento. É o conjunto harmônico de sistemas, condições organizacionais e 
comportamentos gerenciais que provocam e incentivam a participação de todos no 
processo de administrar. Seus principais fundamentos são: uma estrutura adequada onde 
as pessoas podem interagir de maneira sinergética, uma cultura que valoriza a 
responsabilidade individual e coletiva e dá a todos um senso não apenas de participação, 
mas também de compromisso, e um clima favorável aos relacionamentos que prestigia o 
respeito mútuo e a valorização de todos. 
Este tipo de gestão pode ser compreendida como um ‘modelo onde pessoas estão no 
centro do processo do começo ao fim’. Significa que em seu desenvolvimento não há 
sujeitos e objetos da ação, todos são envolvidos no planejamento. Isto permite quebrar 
níveis hierárquicos e verticalizados, o que dá lugar a estruturas horizontais com a 
definição clara de políticas que possibilitem a fluidez das informações, o trabalho em 
equipe com uma melhor distribuição de responsabilidades e a democratização da tomada 
de decisões, enfatizando-se a coordenação de ações entre os diferentes setores da 
 
30 Hernandez, I. Planejamento: compromisso com a ação. Porto Alegre, Sagra, 1988, p. 5. 
31 Brighenti, A. Metodologia para um processo de planejamento participativo. São Paulo: Paulinas, 1998, 
p. 98. 
organização. Nesse sentido, trabalhar a partir de um processo participativo de 
planejamento permite maior consciência sobre a missão da organização, um melhor 
entendimento da estrutura da organização e da relação do ambiente interno com o 
contexto social, económico e político. A criação de novos instrumentos de análise e 
previsão; estabelecimento de critérios para a definição de prioridades e alocação de 
recursos; formas de aprendizado reciproco; uma melhor compreensão das dificuldades 
enfrentadas nas diferentes instâncias da organização e maior cooperação entre elas; uma 
maior cooperação entre as diferentes instâncias no sentido de obter maior eficiência e 
eficácia abrindo caminhos para novas formas de gestão,aumentando a capacidade de 
resposta às demandas tanto internas como externas; uma otimização dos recursos 
disponíveis possibilitando uma relação mais positiva entre custos e benefícios, 
diminuindo o peso dos gastos administrativos; a definição clara de funções e a articulação 
funcional e operativa entre as diferentes instâncias; uma consciência da globalidade e 
interdependência entre as diversas atividades; uma consciência da responsabilidade de 
cada um na obtenção dos resultados. 
Esta metodologia também nutre o empoderamento32. Este conceito está relacionado 
com o de potenciação. Ao exercer o poder de forma cooperativa todos se potencializam. 
Essa inter-relação se estabelece a partir da identificação de objetivos comuns e/ou 
complementares cuja realização se assegurará com a participação de todos os envolvidos 
no processo possibilitando uma maior coerência entre o discurso e a prática. 
 
32 Este termo significa ‘poder com os outros, poder em conexão, poder em relação. Esse conceito nasce 
de uma proposta de desenvolvimento sinérgico e não hierárquico, que se estabelece através de relações 
mútuas de poder entre o pensar e o agir, o decidir e o executar, assumindo como princípio que a 
efetividade de um processo está na capacidade de entender que o poder emana da responsabilidade de 
cada um e não da posição hierárquica que ocupa na organização. Todos têm um nível de responsabilidade, 
que se transforma em co-responsabilidade na tomada e execução das decisões’. Numa perspectiva de 
metodologia participativa a prática do empoderamento no interior da organização potencializa as 
diferentes habilidades e capacidades, criando condições para uma maior otimização e racionalização dos 
recursos. Em um nível mais amplo, a articulação com as diferentes instâncias da sociedade permite uma 
ampliação da capacidade de ação, uma complementariedade de experiências e especialidades, 
diminuindo custos e permitindo um trabalho com mais qualidade. 
O planejamento participativo também contempla o processo de comunicação como 
algo prioritário. Por meio da comunicação as pessoas se sentirão comprometidas com as 
decisões que se tomam. Todas as pessoas envolvidas têm ideias diferentes sobre a 
situação desejada e como atingi-la. Para chegar a um acordo todos devem ter a 
oportunidade de expressar suas ideias.33 Também é necessário informar às pessoas sobre 
os antecedentes do tema com o qual se lida e sobre os mecanismos que fazem que os 
problemas continuem. Dessa maneira, é possível procurar distintas alternativas para 
resolver os conflitos e apresentar opções novas. Quando ocorre a participação de várias 
pessoas no planejamento abre-se um leque bem maior de opções, mais experiências a 
serem passadas, diferentes olhares sobre os temas tratados. Além de permitir a ampliação 
da capacidade de ação, complementação de especialidades, até mesmo diminuindo custos 
e permitindo um trabalho com mais qualidade. 
Finalmente, o planejamento participativo não dispensa uma coordenação que vai 
exercer um papel de liderança que é o de articular e catalisar os diferentes interesses e 
potenciais, no sentido de que cada parte envolvida tenha uma forma de participação nas 
deliberações e se responsabilize pelos resultados. A liderança é incentivadora, 
dinamizadora, facilitadora do processo, tendo como principal instrumento a informação 
e a formação nos mais diferentes níveis. O líder neste caso, tem um papel protagonico na 
implantação deste modelo. Sem ele é dificílimo que qualquer proposta funcione. Em 
especial na gestão participativa, o líder é a chave para o sucesso, pois caberá a ele 
implantar uma nova mentalidade de gestão, diferente do modelo tradicional. Seu papel 
então será, em primeiro lugar, levar toda a equipe à aceitação e compreensão da gestão 
participativa. Deverá treinar a equipe, mostrando a importância de cada um nesse modelo. 
Deverá apresentar à organização as principais características do modelo e, se for o caso, 
 
33 Silveira, J. Planejamento estratégico como instrumento de mudança organizacional. Brasília: Editora da 
UNB, 1996, p. 154. 
dependendo da resistência do grupo, convencê-los de que vale a pena investir em uma 
nova metodologia de gestão. Neste processo de implantação do novo modelo, o líder 
precisará também incentivar a todos os envolvidos no processo para que persistam diante 
das dificuldades iniciais, mostrando alternativas para que todos se mantenham unidos no 
novo modelo.34 
 
5 – Ciclo normativo do planejamento participativo: 
 
Existem diferentes maneiras de organizar a participação das partes interessadas no 
processo de planejamento. Para que os projetos sejam efetivos eles devem ser manejados 
nas etapas do ‘ciclo de projetos’. Esse ciclo caracteriza-se por ser um processo 
ininterrupto de planejar, acompanhar, avaliar e re-planejar.35 
O processo normativo do planejamento participativo, parte de cinco questões 
essenciais:36 
 
a. Identificação (O que queremos alcançar?): Neste momento se inclui a 
identificação dos problemas, seus indicadores (apresentação dos dados 
quantitativos ou qualitativos que demonstram a existência do problema) e suas 
causas (descrição, de forma clara e objetiva, das principais causas do 
problema selecionado). 
b. Formulação (A que distância estamos daquilo que queremos alcançar?): 
Neste momento se realiza uma análise dos antecedentes da situação 
problemática. É fundamental fazer que os problemas a serem tratados pelo 
plano partam do seio da comunidade. Para tal será útil elaboração de uma 
 
34 Brighenti, A. Reconstruir a esperança: como planejar a ação da Igreja em tempo de mudança. São Paulo: 
Paulus, 2000, p. 65. 
35 Chiavenato, I. e Sapiro, A. Planejamento estratégico: fundamentos e aplicações. Rio de Janeiro: Campus, 
2004, p. 83. 
36 Barbier, J. Elaboração de projetos de ação e planificação. Porto: Porto Editora, 1996, pp. 98-115. 
árvore de problemas, enquanto método que mostra a relação entre a causa e o 
efeito dos problemas identificados. 
c. Exame e compromisso (O que faremos concretamente – em um prazo 
predeterminado – para diminuir esta distância?): Envolve as operações 
(seleção de uma ou mais estratégias visando resolver o problema e atingir os 
objetivos), tomando em conta as próprias possibilidades, os recursos 
necessários e a definição do prazo de execução. 
d. Implementação e acompanhamento da execução das operações 
pensadas: Refere-se ao processo de execução daquilo que foi planejado com 
o devido monitoramento em relação a eventuais intercorrências que possam 
surgir. 
e. Avaliação/revisão: Contempla os resultados esperados com cada operação, 
a avaliação da operação e, finalmente, a revisão geral de todas as operações. 
Análise dos resultados e do impacto do projeto. A avaliação deve começar 
durante a implementação, para poder tomar medidas para resolver eventuais 
problemas. Depois da implementação do projeto, a avaliação é utilizada para 
emitir recomendações para projetos similares ou projetos de continuação. 
 
 
 
 
6 – Planejamento ministerial participativo como modelo eclesiástico integrador: 
 
Como foi exposto ao longo deste ensaio, a metodologia participativa abre caminho 
de convergência entre o pensar e o agir e, com isso, a comunidade/igreja manifesta a fé 
presente na vida cotidiana. Permite coordenar ideias, ações, perspectivas e compartilhar 
preocupações e sonhos, em vez de priorizar a conformação de instâncias formais e 
estáticas.37 
No ambiente ministerial esta metodologia é caminho de conjunto, de entrelaçamento 
de sujeitos e de planos articulados, capaz de provocar mudanças de comportamentos e de 
processos. Pensar a ação ministerial à luz de um processo metodológico participativo faz 
caminhar o planejamentoe a pedagogia pastoral, superando as lacunas entre fé e vida, 
pessoa e comunidade, igreja e sociedade. 
 
7 – Palavras finais: 
 
37 Cabello, M.; Espinoza, E. & Gómez, J. Manual de planejamento pastoral. São Paulo: Paulinas, 1987, pp. 
44-52 
identificação
Formulação
Exame 
Implementação
Avaliação 
CICLO DE 
PLANEJAMENTO 
PARTICIPATIVO 
As questões apresentadas relacionados a gestão dentro da dimensão ministerial 
merecem sempre um pouco mais de atenção e de estudo na hora de serem consideradas. 
O planejamento nesta atmosfera deve tomar sempre o cuidado de não ser tecnicista. Toda 
teoria em metodologia a ser usada deve antes passar pelo amor do líder que conduz seus 
liderados. É necessário lembrar sempre que estamos trabalhando com pessoas que 
carregam consigo medos, esperanças e expectativas quanto à ação ministerial. Por isso, 
esta deve ser gestada com o ágape do cristão e crescer à luz da fé.38 
É indispensável pontuar também que qualquer método, até mesmo o de planejamento 
participativo, é frio e não contagia as pessoas num primeiro momento, mas se 
acreditarmos na força do Espírito Santo que nos move e move a igreja e colocarmos o 
amor ao trabalho pastoral inseridos na metodologia de planejamento participativo, 
conseguiremos envolver as pessoas e propor ações que sejam transformadoras. Essa ação 
transformadora será a verdadeira expressão dessa nova metodologia que o mundo tanto 
nos clama. Nosso mundo precisa urgente de ações efetivas rumo a uma sociedade mais 
justa e fraterna, e essas ações não podem mais ser pensadas da noite para o dia. 
 
38 Orfano, G. Técnica de planejamento pastoral. Petrópolis: Vozes, 2004, p. 21.

Continue navegando